terça-feira, 30 de novembro de 2010

MESMO NÃO ACREDITANDO EM BRUXAS...












A certa altura, em pleno consulado Paiva, os eleitores tomarenses souberam que ia haver um parque de estacionamento, no terreno devoluto do antigo mercado municipal, nas traseiras dos Paços do Concelho. Mais tarde, foi noticiado que a referida obra era edificada e seria depois explorada pela ParqT, uma subsidiária da Braga Parques que, em virtude do acordo assinado com o município de Tomar, ficava com o exclusivo de todo o estacionamento exterior na área urbana por 20 anos, além do já citado parque. Tudo isto decidido à revela da população e, supõe-se, com a conivência tácita da tribo dos eleitos locais, da extrema-esquerda ao PSD/Tomar, que é melhor não situar neste caso.
De surpresa em surpresa, os cidadãos que lêem a imprensa local tomaram depois conhecimento de que, em virtude de um diferendo entre as partes, tinha havido ruptura do contrato. Mais grave ainda, sem nunca se ter esclarecido qual a natureza do diferendo que levara à ruptura do acordo inicial, constatou-se a passagem à fase de tribunal arbitral, estando em causa um pedido de ressarcimento de 10 milhões de euros por parte da ParqT. Sempre à revelia dos eleitores, o executivo camarário contratou advogados de um prestigiado escritório lisboeta e exigiu igualmente uma indemnização à ParqT, com base na mesma ruptura de contrato.
Agora, após muitos meses de tribunal arbitral, com os consideráves custos daí advenientes, mas sem qualquer resultado palpável, Tomar a dianteira está em condições de avançar que a recente reunião à porta fechada do executivo tomarense, na qual nem os jornalistas habituais foram admitidos, debateu o diferendo e colheu ideias para se chegar a um acordo amigável, na base do pagamento pelo Município de um montante entre 6 e 7 milhões de euros = 1,2/1,4 milhões de contos à ParqT, mais alcavalas e despesas com causídicos, ficando a Câmara proprietária do estacionamento já em actividade. Tudo isto, como é usual, tratado à revelia dos eleitores, entre o selecto grupo social dos eleitos. Impõe-se perguntar: Que haverá de tão grave, para tanto sigilo? A população só serve para votar e pagar?
Contactos feitos entretanto por Tomar a direita,  permitem afirmar que decorrem neste momento negociações entre as partes, as quais estando já bastante avançadas, não permitem contudo, por enquanto, a obtenção de um acordo amigável. Segundo as nossas fontes, caso tal consenso se mostre impossível, regressar-se-á à fase anterior -a do Tribunal Arbitral.
Perante tudo isto, parece ser legítimo prognosticar que só depois de concluído o imbróglio, os tomarenses ficarão a saber quanto lhes terá custado. Na melhor das hipóteses?  Quanto ao já célebre diferendo causador da ruptura do contrato inicial, se calhar só com outros eleitos e daqui a alguns anos. 
Entretanto o espectáculo prossegue, obedecendo ao preceito anglo-saxónico "the show must go on!", com os cidadãos como meros espectadores e os actores da oposição, na sua totalidade, mudos que nem carpas. É claro que, como em qualquer outro circo que se preze, neste da política tomarense, também haverá pelo menos uma respeitável parelha de palhaços, ou mesmo duas, que nos abstemos de identificar, pelo respeito que nos merecem todos os escolhidos pelo povo. Será que disso se dão conta? É que um espectáculo, mesmo de longa duração, por mais de 6 milhões de euros, é obra!!!

O BENEFÍCIO DA DÚVIDA

A análise política ontem publicada no DN, com o título supra, por João César das Neves, professor de economia na Universidade Católica, contém numeroros pontos com os quais, no meu entendimento, os tomarenses vão ser confrontados em futuras autárquicas, sejam elas quando forem, e quaisquer que venam a ser os candidatos. Parece por conseguinte importante a sua leitura atenta, por todos aqueles que se interessam realmente pelo devir desta terra. Naturalmente terão o cuidado de alterar, quando necessário, os nomes das personagens e/ou dos organismos. Desejo boa leitura.

"O pior na crise actual é a falta de esperança. A decomposição acelerada do Governo põe todos a pensar em alternativas. Mas nenhuma granjeia um mínimo de credibilidade. As coisas estão mal e só se vislumbra que piorem. O mais grave não é o sofrimento. É não se ver saída.
É importante dizer que este desânimo não vem da situação real. As circunstâncias são duras mas claras. Não é difícil saber o que há a fazer. O caminho é exigente mas sem mistérios. Vivemos em décadas recentes situações bem piores de onde saímos bem. E então a desorientação e a desilusão não eram tão grandes como agora. É verdade que a geração actual tem um grau de exigência diferente, sem a capacidade de trabalho e o poder de encaixe dos seus pais. Mas quem não tem dinheiro não tem vícios, e quando não há escolha as condições depressa ensinam a saída.
Mesmo assim, temos de admitir que as dúvidas sobre o sucesso do governo, qualquer que seja, são legítimas e justificadas. Não tanto pela dificuldade da tarefa, ou falta de qualidade dos prospectivos líderes técnicos, mas devido à manutenção de condições que nos enfiam no buraco há quinze anos. Os interesses instalados, direitos adquiridos, bloqueios regulamentares e exigências processuais não mudarão  com a troca de executivo. Os grupos de pressão souberam criar contactos em todos os partidos de poder para proteger as suas benesses. A rede que estrangula a economia, se foi apertada por Sócrates e o PS, pode bem sobreviver-lhes.
Apesar disso, com novos líderes surgirá uma inegável oportunidade que não podemos desprezar. É provável que falhe, mas temos de tentar. Mesmo com políticos maus e sob influência dos lobbies, é possível um executivo diferente chegar onde este falhou. E a prova disso é...José Sócrates.
Quando surgem ministros novos, não envolvidos nas culpas da situação, sem necessidade de justificar erros antigos, livres de compromissos passados e ainda desconhecendo as manhas do poder, existem condições reais para reformas efectivas. Mais ainda se a população, assustada pelas circunstâncias, exige mudanças corajosas e está disponível para suportar os sacrifícios inerentes. E essas condições são em grande medida independentes da qualidade e cor política dos protagonistas. A situação portuguesa de 2005 constitui exemplo evidente.
Já poucos se lembram, mas há cinco anos vivia-se  por cá uma conjuntura paralela à actual. Toda a gente sabia que a crise financeira era séria e só a austeridade nos podia salvar. A culpa ficara com o PSD, que governara de 2002 a 2004, e o recém-eleito governo maioritário PS prometia medidas duras e reformas radicais, que eliminariam de vez o  flagelo do Orçamento. O executivo era composto por políticos implicados na gestão socialista da década anterior, e no falhanço que conduzira à maioria PSD/PP de 2002. Só que, passados três anos, o novo gverno aparecia como inocente, competente e empenhado. Estavam assim criadas as condições para a correcção da crise.
Estes factos são precisamente aqueles que desanimam muitos analistas. Constatamos que esta é a quarta vez, em menos de dez anos, que repetimos o mesmo cenário de crise. Apesar das promessas, as sucessivas austeridades de Guterres, Durão Barroso e duas vezes de Sócrates, mostraram-se incapazes de corrigir a situação. Pior ainda, os políticos futuros vêm da mesma cepa dos que sabemos terem falhado.
Mas dizer isto é esquecer como estivemos próximo de conseguir resolver a questão. Se Sócrates tivesse feito o que prometera, se tivesse querido mesmo controlar o défice, em vez de o tapar com impostos, se a atitude reformista fosse mais do que uma pose, se não se tivesse caído no recuo das remodelações, manipulações mediáticas e trapalhadas boçais, a nossa situação seria agora bem diferente.
As condições que Sócrates desperdiçou em 2005 e 2006 são dificilmente reproduzíveis. Além disso, circunstâncias não bastam. As qualidades dos decisores são cruciais. Mesmo assim é nosso dever, e uma posição realista, dar pelo menos o benefício da dúvida ao futuro governo."

João César das Neves, naohaalmoçosgratis@fcee.ucp.pt DN de 29/11/10, pág. 58, com os agradecimentos de a.frrebelo@gmail.com

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

RETRATOS SATÍRICOS DA CLASSE POLÍTICA


A mais recente crónica do conhecido e apreciado Comendador Marques de Correia traça excelentes retratos irónicos de conhecidas figuras política nacionais. Por nos parecer que alguns dos aspectos realçados pelo conspícuo cronista assentam muito bem em certos políticos tomarenses, resolvemos transcrever a citada crónica e publicar igualmente a ilustração que a acompanha, com os nossos agradecimentos ao EXPRESSO e ao senhor Comendador.

"Vantagens de termos connosco gente boa 
e totalmente incapaz de algo imprevisto

Onde o nosso Comendador, numa jogada magistral, mostra como este país evitou que o acaso seja padastro, a sorte seja madastra e como seria melhor se o Paulo Bento estivesse no Sporting...

Comecemos por cima, pelo Presidente. Fez-se um lindo velho, não há dúvida. Tem porte, sabe estar e uma bela dicção e pronúncia. E diz-se que estudou lá fora e não fez má figura. Compete directamente com os Chefes de Estado mais elegantes e com melhor figura no mundo. Obama não lhe leva a palma em elegância e o rei Juan Carlos não é mais distinto. Resta acrescentar que a sua senhora é um mimo e, segundo o poeta Alegre, que depois de Camões, Pessoa e Tomás Ribeiro é um dos vates que vale a pena ler e escutar, a senhora de Cavaco Silva é excelente a discutir poesia, que é sempre algo que fica bem nos salões mais selectos.
E o nosso primeiro-ministro? Um soneto! E que bem lhe ficam os fatinhos Hugo Boss -é um modelo! E atlético, tendo em vista que corre para cá e para lá, sem necessitar, meramente porque é um sportsman. E fala tão bem, se a eloquência tivesse um rosto, seria o dele. Além de ser um combatente corajoso! Está ali e não foge, como os outros! Aguenta que é serviço! Primeiros-ministros assim contam-se pelos dedos de uma mão no mundo e não há outro na História de Portugal. Por aí estamos bem servidos.
O líder da Oposição também é um homem de elevada estatura. Embora menos do estilo Hugo Boss (a sua preferência por Maconde é clara) e apesar de viver em Massamá está ao nível dos mais oleados bestuntos da nação. E um senhor, um mister, e é bonito, muito bem apessoado... Tenho reparado que as senhoras não o dispensariam em qualquer chá-canasta. Aliás, como o engº (salvo erro) Sócrates, o dr. Passos Coelho ilustra uma mesa ou um salão de convívio com todo o a-propósito.
O rapaz do CDS é um doce! O Paulo é do mais fino que pode existir -e de boas famílias! Tem uma educação refinada, daquelas que só o Colégio São João de Brito sabe dar. Além de ficar bem em qualquer sala, sendo a sua conversa variada e informada, tem um não sei quê aristocrático (quiçá o naiz) que lhe dá um porte desportivo ainda que não se mexa. O Paulo é o Paulo, é inútil dizer doutor, porque com aquela cara só podia mesmo ser doutor... Aliás como o Louçã. Tem o seu quê de padre -que digo?!- de bispo, que ele é imensamente culto. E transforma um serão num acontecimento. Qualquer coisa lhe excita a verve e quando começa a falar é um desassombro. Não se deve fazer o que ele diz, mas é muito bom a falar. Nisso, nem o Sócrates nem o Passos nem o Paulo lhe levam a palma.
Gostaria de falar do Jerónimo, mas apesar de ter um nome tão in, tão chique, temo que ele seja, por vezes, um pouco grosseiro. Mas não mais que aqueles tios que se ficaram pelo Alentejo e se dedicaram às vacas e aos carneiros e depois já não se orientam bem por Lisboa. Pois, o Jerónimo é assim. E, coitado, não é doutor, nem engenheiro...é o senhor Jerónimo. Mas é de Sousa, que é das famílias mais ilustres.
Somos pois um país feliz com as pessoas que temos Imaginem que alguma destas tinha, por assim dizer, mau feitio; que alguma delas não sabia estar; que alguma era capaz de um imprevisto...Onde estaríamos nós? Andaríamos todos à zaragata, pois já se sabe que casa onde não há pão... Mas com estes queridos é impossível! Eles fazem este país ser perfeito para quem não gosta de surpresas. Para mim, só uma coisa poderia ser ligeiramenbte melhor: era o Paulo Bento ser do Sporting, a ver se ganhávamos o campeonato. Isso é que era, de todo, imprevisto!"


                                COMENDADOR MARQUES DE CORREIA

ANTEVISÃO - CIRCUITOS FLUVIAIS TEMPLÁRIOS


Estamos em Abril de 2074. Aproveitando a circunstância de os tomarenses andarem há pelo menos um século a meter água, particularmente os autarcas eleitos -que antes não metiam água porque não eram eleitos, não tinham poderes para isso e o medo é que guardava a vinha- os administradores estrangeiros da Região Templária -nomeados pelo governo dos Estados Unidos da Europa- resolveram aproveitar. Mandaram construir e encher um canal, naturalmente chamado Canal Templário, entre o Castelo de Tomar e o Castelo de Almourol. Aqui vemos os barcos e o povo tomarense, no dia da inauguração, exactamente no local onde a nova e imponente obra de arte atravessa o Rio Nabão (entretanto tornado navegável até ao Agroal), algures a sul de Carvalhos de Figueiredo, uma das 6 freguesias urbanas de Tomar (S. João, Santa Maria, Carvalhos Figueiredo, Algarvias, Carregueiros e Santa Marta).  A foto foi tirada no helicóptero gentilmente cedido pela empresa pública municipal que explora os novos circuitos turísticos e o Convento de Cristo. É evidente o contraste entre as centenas de pessoas que assistem à passagem dos barcos e os raros turistas embarcados que participam no circuito. De acordo com informações colhidas, trata-se de uma situação meramente transitória, pois os tomarenses já sabem que dentro de alguns meses vão poder viajar nos modernos barcos a menos de metade do preço, graças à decisão alemã -via governo federal europeu- de continuar a financiar a fundo perdido os governos e as autarquias do sul da Europa, após ter constatado que, apesar das sucessivas e cada vez mais graves crises ocorridas praticamente desde o início deste século, sustentá-los ainda é o que fica mais barato. Além de irem conservando e animando as paisagens, são gente acolhedora para os alemães e outros turistas do norte europeu, cada vez mais ávidos de sol, praia, clima ameno, solidão, serenidade, silêncio, monumentos...e vinhos. Muito melhores do que as mijetas do Vale do Reno! Quanto à comida, continuam a preferir as salsichas de Frankfort em vez das carnes locais, provenientes de animais alimentados a rações com aditivos ilegais de crescimento rápido, tipo clombuterol. O costume...

domingo, 28 de novembro de 2010

IMAGENS TOMARENSES DE FIM DE SEMANA

"The St. Gregory's WC Hotel" vai-se renovando em termos de decoração a cada dia que passa. Dos arbustos, só um ainda resiste aos excrementos líquidos e sólidos ali despejados todos os dias. Os vasos servem de suporte para protestos cujo teor ninguém entende. Há também faixas do mesmo estilo. Dos três actuais moradores, dois já aceitaram ser realojados e o assunto está a ser tratado pels vereadora dos assuntos sociais. O terceiro ocupante, o mais antigo, continua a fazer exigências sem sentido. Foi-lhe proposta uma casa no Bairro 1º de Maio, mas recusou. É a segunda vez que tal acontece. Entretanto vai escrevinhando e protestanto em voz alta junto à Igreja de S. João. Mais de 40 anos passados, a guerra  colonial continua bem presente nalgumas cabeças. Infelizmente para todos.


Ali bem próximo, o belo coreto da Várzea Pequena, do século XIX, é agora cada vez mais uma inutilidade. A banda regimental foi-se, a televisão tornou bem mais raros os outrora apreciados concertos, e os tempos são outros em matéria de subsídios. E sem subsídios as bandas... Sublinhe-se o excelente trabalho de restauro, mas lamente-se o enquadramento modernaço, em seixos soltos. Se um dia destes há descontentamento em relação a alguma banda, os calhaus estão mesmo ali à mão... Porque será que mesmo com o assustador aumento do vandalismo, ainda ninguém da autarquia pensou nisso?



As duas fotos supra mostram a nova mania tomarense -as caixas de plástico nas fachadas recuperadas do casco histórico. Evidenciam que, havendo me Portugal dois tipos de autarquias -as governadas pelos eleitos e as geridas pelos funcionários- a de Tomar integra sem dúvida este último grupo. Com efeito, desde meados dos anos noventa determinada criatura resolveu usar e abusar das facilidades que lhe foram sendo concedidas, para tratar de mandar em tudo e em todos. Como tinha um feitio execrável, acabou detestada e a mudar de ares, mas o hábito-moléstica ficou. Ainda hoje, quase todos os quadros camarários, apesar de não o admitirem (não faltava mais...) agem como se os cidadãos estivessem ao serviço do município, em particular do seu executivo. Tal atitude revela-se amiúde nos serviços de urbanismo, mas não só. Ainda não há muito tempo, um munícipe antes informado de que o projecto que apresentara não podia ser aprovado como estava, caiu na asneira de ir solicitar esclarecimentos ao funcionário superior encarregado do processo. Ao ousar formular a pergunta clássica -Porquê?, a resposta veio fulminante: "Porque não me agrada!" Temos assim que, quando os projectos não são ao gosto de alguns quadros camarários, voltam à estaca zero. Agora só falta que os membros do executivo, na sua qualidade de eleitos pelos contribuintes, mandem saber quais são os gostos pessoais dos senhores chefes, e depois os mandem afixar em locais bem visíveis. Sempre irá contribuir para facilitar a vida aos requerentes de obras.
Tudo isto a propósito das horriveis e inúteis caixinhas de plástico, que pouco a pouco vão invadindo todas as fachadas da cidade antiga. São, é claro, exigência dos senhores técnicos, tendo em mente facilitar a tarefa dos esforçados funcionários encarregados de recolher as contagens. Tocar à campaínha e dizer ao que vem é cá uma estafa!
Em todo o caso, nada disto existe nas outras sedes de concelho das redondezas, a demonstrar que são na verdade governadas pelos eleitos. Porque tais caixinhas são aberrantes, inúteis e perigosas. Aberrantes porque não bate a bota com a perdigota. Se nos novos imóveis colectivos os dispositivos são sempre instalados nos vestíbulos (pomposamente designados "hall"), porque não fazer o mesmo nas modestas casinhas das ruelas multi-centenárias? Inúteis porque, mais ano, menos ano, como acaba de suceder em Évora, instalam conectores e contadores inteligentes, tornando as caixinhas objectos de museu. Perigosas, enfim, porque se uma noite destas os habituais vândalos de fim de semana se lembram de passar ao ataque...
Eu, se fosse autarca, mandava acabar com semelhante absurdo quanto antes. E se os senhores chefes não gostassem, lembrar-lhes-ia, polidamente, que em muitos casos ainda invocam as disposições do RGEU, um regulamento manifestamente inconstitucional, datado dos anos 50 do século passado, e subscrito por Oliveira Salazar, que só por manifesto desmazelo continua em vigor. Para bom entendedor...

RIR NUNCA FEZ MAL A NINGUÉM

Do Correio da Manhã - Revista, com os nossos agradecimentos
Caso não seja pedir-lhe demasiado, pode ter a gentileza de imaginar a mesma cena com outra figuração: Ao fundo a actual direcção local do PSD, eleitores, Carrão, PS, CDU, CDS, BE e Tomar a dianteira, (se não se importa). No primeiro plano, quem todos sabemos. No balão de fala, ao alto: "Estou de pedra e cal até 2013".

QUALIDADE, ESSA GRANDE ESQUECIDA

Pouquíssimas coisas acontecem por acaso, e ainda assim resultam de uma conjunto de factores, tal e qual como se tivessem sido planeadas. Por conseguinte, a qualidade lato senso daquilo que se pretende, ou acontece, é sempre o resultado da qualidade dos diversos factores desencadeantes, quer estes sejam (aparentemente) espontâneos ou induzidos por mão humana.
Para que não haja grandes dúvidas logo de início, comecemos por um caso bem conhecido -o da falta de preparação dos portugueses em geral, provocada por falta de preparação prévia, esta por sua vez causada por falta de informação, uma vez que, como é sabido, aprender é tornar conhecido aquilo que antes se ignorava. Justamente no caso da informação, o panorama português não é mesmo nada animador, havendo naturalmente uma justificação plausível para cada caso, o que não ajuda nada. Na imprensa local e regional é a falta de meios materiais e humanos, bem como a pressão dos anunciantes, sobretudo os intitucionais. À escala do país, raramente alguém o disse tão bem e de forma tão sucinta como Baptista-Bastos, homem da informação assumidamente da extrema-esquerda e sem medo de dar conta da realidade envolvente. Eis o seu ponto de vista mais recente: "A imagem de Portugal é-nos devolvida pela Imprensa que temos. Uma Imprensa acrítica, preguiçosa, tendenciosa e sempre, ou quase sempre, favorecedora de quem está no poder -ou para lá caminha." (Baptista Bastos, Jornal de Negócios, 26/11/10). 
Bem entendido, o carapuço serve a quem serve, carapuços há muitos, e fico-me por aqui sobre este aspecto, para não beliscar ninguém em vão...
Nesta área da qualidade, que implica sempre o trinómio qualidade/preço/utilidade, temos em Tomar abundantes exemplos para ilustrar a nossa crónica e confrangedora falta de qualidade, a todos os níveis e em todos os sectores. Desde logo no principal dos factores de desenvolvimento económico de uma comunidade -o empreendedorismo. Habituado a viver graças à teta estatal, directamente ou por intermédio de serviços locais, o tomarense continua a acreditar, apesar da evidente agudização da crise local, que Deus Nosso Senhor tem lá muito para nos dar, basta saber estender a mão e esperar. Poderá ser verdade, tudo depende do que se entenda por "basta saber estender a mão". Em todo o caso, empreender, arriscar, ousar, empenhar-se, inovar, aprender, sempre foram e são verbos muito difíceis de usar pelos nabantinos. Falta de qualidade na área da língua pátria, sem dúvida. Pelo menos...
Não espanta por isso que, para termos enfim um estabelecimento de venda de produtos especificamente para turistas no casco histórico, tenho sido necessário recorrer a uma associação de desenvolvimento regional, fundada e sediada alhures, impulsionada e mantida por fundos de Bruxelas. Estou a falar da "Loja do mundo rural", ali na multi-secular Rua Direita. Aquela que uma antiga cantilena do século XIX situava assim: "Avé Maria cheia de graça, a Rua Direita vai ter à Praça." Pois esse estabelecimento, explorado pela ADIRN - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte, com sede em Torres Novas, é irmão de um outro, instalado no Convento de Cristo, em dependências anexas aos claustros da Hospedaria e da Micha, fazendo concorrência à "Loja Conventual", explorada pelo IGESPAR no salão vestíbulo da Portaria Norte.
Nessas lojas, a qualidade deveria ser a preocupação dominante, quanto mais não seja porque turista descontente não volta e incita outros a não virem. E não há nada pior para um turista (falo por experiência própria) do que sentir-se enganado, defraudado nas suas legítimas expectativas. 
É por isso caricato que numa loja amparada por uma grande organização regional, por sua vez sustentada por Bruxelas, se venda aos visitantes gato por lebre, como exemplifica a ilustração. Aquelas cruzes vermelhas das canecas, inscritas num quadrado imaginário, são de que ordem de cavalaria ou outra? Alguém me sabe explicar? E porque terão a inscrição Tomar, por baixo da dita cruz?
Não tem importância? Pois, se calhar não. Mas é pena, pois com atitudes desse jaez apenas vamos contribuindo para abandalhar cada vez mais este país. Basta pensar em todos aqueles que, para se justificarem, usam logo a estafada frase feita "Para o que é, bacalhau basta!" Ao preço a que agora se compra o fiel amigo escandinavo, não será bem assim...
Num outro âmbito, a Rotunda das Obras de Santa Engrácia, obedeceu a que normas de qualidade? A ideia inicial foi uma desgraça; o projecto uma lástima; a execução uma miséria; o resultado é patusco. Só os jactinhos de água e o artificial nevoeiro central  vão custar aos contribuintes pelo menos 200 euros = 40 contos mensais de manutenção. E estarão operacionais durante quanto tempo? Em princípio, se o Lavoisier não mentiu, "As mesmas causas, nas mesmas circunstâncias exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos". A ser assim, mais cedo que tarde vamos ter outra vez entupimentos e mais entupimentos, provocados pelo calcáreo da água. Vai uma aposta?
Mas além do carácter redundante dos jactinhos de água, geralmente usados para refrescar a atmosfera no Verão, e por isso despicidendos sem remédio, posto que ao lado do rio, há toda aquela labiríntica ornamentação floral e arbustiva. Quem irá manutencionar tudo aquilo? A que preço? Teremos mesmo ficado bem servidos em termos de Qualidade/preço/utilidade?
Qualidade, essa grande desconhecida, que tantos desgostos nos provoca e tanta falta nos faz! Sobretudo na política e...na economia política.



sábado, 27 de novembro de 2010

O QUE PENSA BELMIRO DE AZEVEDO SOBRE A ACTUAL CRISE

Belmiro de Azevedo, patrão da SONAE e conhecidíssimo empresário self-made man, publicou na imprensa de hoje um texto de apoio ao candidato Cavaco Silva, com quem teve divergências graves quando foi primeiro-ministro. Concorde-se ou não com as suas posições, é sem dúvida importante saber o que pensa sobre o actual momento político o maior patrão privado do país. 
Eis os excertos que nos pareceram mais importantes:
"A actual crise económica, financeira, de liquidez  e de sustentabilidade é tão ou mais grave do que a crise política de 1975. ... ...
Está em jogo a sutentabilidade do país -simplificadamente é disto que se trata. A mera sobrevivência não nos chega. Temos que mudar radicalmente a forma como tem sido gerido e gasto o nosso dinheiro. Temos que pensar seriamente o modelo de Estado e alterar o paradigma da educação.
A aposta na "Educação para a liderança", em especial, deve se feita tanto nas universidades como nas empresas, mas sobretudo na política, onde a formação de líderes assume particular relevância e urgência. Se não tivermos a coragem de mudar, não demorará muito tempo até que chegue a próxima crise. E com ela mais um esforço pedido às empresas e aos portugueses. Mas a nossa capacidade tem limites.
O nosso défice é estrutural. Gastamos o que não temos. Nunca houve tantos desempregados, nunca a dívida pública e o endividamento externo foram tão elevados. As medidas de austeridade, apesar do optimismo das previsões do governo, vão trazer-nos uma mais do que provável recessão.
A classe política, na sua generalidade, vive mais do ruído inconsequente do que da reflexão e do silêncio. Abundam os vendedores de ilusões, que defendem soluções que seriam absolutamente trágicas para aqueles que afirmam defender. ... ... ...E muitos protagonistas não têm suficiente preparação, dependem pessoalmente dos respectivos partidos e perderam a noção da realidade. Para piorar um cenário já pouco recomendável, não existe actualmente uma maioria no Parlamento e, à excepção do orçamento, acordos políticos que garantam estabilidade governativa afiguram-se como praticamente impossíveis. ... ... ...
Há quem preveja a inevitabilidade de mais medidas de austeridade para os próximos meses, e quem acredite ser indispensável a intervenção internacional, designadamente do FMI.
Não existe futuro sem empresários confiantes e bem sucedidos. Só isso fará crescer o emprego e a produção. Mas também não existe cminho sem trabalhadores motivados e empenhados. ... ... ...
Poderá parecer uma banalidade, mas a verdade é que cada vez mais se sente que o país precisa desesperadamente de mais actos, e não de mais palavras. ... ... ...
São conhecidos os grandes desencontros que houve, no passado, entre o político Cavaco Silva e o gestor Belmiro de Azevedo. E, de qualquer modo, quem me conhece sabe que jamais escolheria esta circunstância do país para ajustar contas, ou sequer lembrar agravos. O tamanho do problema exige clareza e elevação de espírito. Vou, por isso, decididamente votar Cavaco Silva."

(A versão integral do texto pode ser lida no PÚBLICO ou no EXPRESSO, ambos de 27/11/10)

Belmiro de Azevedo, Empresário, Presidente do Conselho de Administração do Grupo Sonae

Os destaques são da responsabilidade de Tomar a dianteira e parecem-nos de suma importância para Tomar, para os tomarenses e para o nosso concelho.

MAIS VANDALISMO NA NOITE TOMARENSE



Fotografias de tomaradianteira.blogspot.com Cópia e reprodução autorizada, desde que se indique a origem.
Mais uma véspera de fim de semana e mais actos de vandalismo, desta vez na cidade antiga. Na Rua Joaquim Jacinto, amigos do alheio partiram o vidro da porta do Restaurante Baía, levando todo o tabaco que encontraram, e até o mealheiro de Natal dos filhos dos proprietários, que calculam os estragos e prejuízos em mais de 500 euros.
Na Praça de República, a tradicional ornamentação do Dia de Todos os Santos sofreu tratos de polé, sem qualquer justificação racional. Trata-se indubitavelmente de um daqueles casos da chamada violência gratuita.  De fazer mal só para satisfazer instintos condenáveis e recalcamentos não assumidos.
O facto de terem partido vasos, que para lá levaram, e derrubado painéis debaixo dos arcos dos Paços do Concelho, parece indiciar que terá havido a ideia de dar uma conotação protestária de carácter político a actos reprováveis. Se assim foi, convém que os delinquentes saibam que em democracia admite-se a crítica e a contestação, mas condena-se com todo o vigor a violência, qualquer seja a sua natureza.
Em ambos locais, cidadãos preocupados, entre os quais proprietários do restaurante assaltado, falavam da necessidade de haver mais policiamento, de se agravarem as penas previstas para tais actos e, sobretudo, da necessidade de se instalarem quanto antes câmara de vigílância que funcionem. Se forem como as do ex-estádio, que até à data só serviram para dar lucro a quem as vendeu e a quem as instalou, mais vale ficar quedo -acrescentamos nós.
Em conversa posterior com Corvêlo de Sousa, que estava naturalmente chocado com tais actos, foi referido que a autarquia já há algum tempo que solicitou autorização para o funcionamento de videovigilância em diversos locais da cidade. Acontece que uma tal Autoridade Nacional, que está legalmente mandatada para esse efeito, leva anos para despachar qualquer processo. Comprende-se assim porque continuam inactivos os dispositivos já instalados e acima referidos. Neste caso, os nossos eleitos estão isentos de culpa. 

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

EM FRANÇA: UM AUTARCA MULTIFUNÇÕES

"Aos 69 anos, Elie Zausa, há nove anos presidente de câmara (independente) da localidade de Budos, 688 habitantes, a cerca de 50 quilómetros de Bordéus, é bem conhecido. Viticultor reformado, começa o seu dia de trabalho às 7 da manhã, percorre as ruas da povoação, monta ele próprio a ornamentação de Natal, ou renova o saneamento de uma habitação camarária. Nada o assusta ou lhe escapa. "Acusam-me de gerir a autarquia com uma empresa, mas tenho muito orgulho nisso. Passa tudo por mim, porque sou legalmente responsável por tudo", diz-nos com a sua voz rouca. Só tem um ponto fraco: a contabilidade. "Nunca convém acreditar nas contas que ele faz. É sempre conveniente conferir", confirmou-nos a secretária da autarquia, Nicole Pascaud.
O autarca dirige de forma autoritária esta pequena localidade tranquila, cercada de vinhas. Não há estabelecimentos, excepto um restaurante. Todas as tentativas para implantar comércios fracassaram, e as empresas que havia, serrações e uma padaria, fecharam há mais de 20 anos. Os impostos são quase nenhuns, pois as vinhas estão isentas. Quanto ao IMI, a população é pouca e praticamente estacionária. Em dez anos apenas foram construídas 50 casas.
Contudo, o cidadão Zausa, trabalhador incansável considera-se um autarca feliz. Desde 2001 conseguiu fazer várias obras, sem aumentar os impostos locais, nem recorrer demasiado a empréstimos. Rede de saneamento (3 milhões de euros), restauro da igreja (300 mil euros), sala polivalente (400 mil euros), requalificação da antiga sala polivalente (50 mil euros), uma sala de aula (150 mil euros), reparações no edifício-sede da "Mairie" (40 mil euros) um mini-terreno de jogos para a juventude (50 mil euros), parque de estacionamento, lavadoiros, limpeza das paredes exteriores, criação de percursos para caminhadas...
Em cada caso, consegue sempre que os subsídios do governo central e/ou das entidades regionais sejam superiores a 50% e se aproximem mesmo dos 80%. O segredo de um autarca que confessa nunca se ter interessado pela aldeia durante mais de 40 anos?  "Tenho conhecimentos e astúcia; e não faço obra quando não tenho dinheiro."

Claudia Courtois, correspondente em Bordéus, Le Monde, 25/11/10
Tradução e adaptação de António Rebelo

Nota final de Tomar em dianteira

Em França não há Juntas de Freguesia. Cada localidade, por mais pequena que seja, tem o título de comuna e a sua "mairie", presidida por um "maire". O equivalente do nosso presidente de câmara. O do texto acima é "maire" eleito por um corpo eleitoral de pouco mais de 600 cidadãos. O de Paris é igualmente "maire", com os votos de mais de 5 milhões de inscritos. Mas ambos têm igual dignidade e autoridade, ostentando nos actos oficiais (por exemplo nos casamentos civis, que são sempre celebrados pelo "maire", na qualidade de oficial do registo civil) uma fita tricolor em diagonal ( um pouco como as raparigas dos tabuleiros), símbolo do seu estatuto de representantes eleitos pelo povo. Existem em França cerca de 39 mil "mairies". Porém, tanto quanto consegui apurar, nunca alguma delas se arriscou a mandar fazer uma rotunda de 515 mil euros + IVA, o preço da nova versão da do paredão-mijatório. Verdade seja dita que o país também é outro. Os cidadãos franceses têmpor vezes hábitos perigosos. Já no século XVIII -durante a Revolução Francesa- mandaram cortar a cabeça do rei e da rainha. Portanto, o seguro morreu de velho. "O medo é que guarda a vinha", reza um velho anexim bem português.

INFORMAÇÃO LOCAL, POLÍTICA, CULINÁRIA, FUTEBOL

Foto Rádio Hertz, com a devida vénia e os nossos agradecimentos.

Por favor, não se deixem impressionar pelo título. Já vão ver que é mesmo o assunto do texto. Que afinal nem é nada complicado.
É sabido que a informação local não é muito abundante na área política. Dizem que não vende e que alguns anunciantes e leitores não apreciam. Geralmente os que estão sentados à mesa do refeitório orçamental, nas suas variadíssimas cadeiras. Há, no entanto, uma notável excepção -a Rádio Hertz, cujas emissões dão muita importância ao desporto é à política local. Coisas muito diferentes? Nem tanto. De qualquer maneira, reconheça-se que as rádios têm em geral mais campo aberto do que a imprensa escrita. Os chamados anunciantes institucionais (governo, autarquias, escolas, organizações dependentes de subsídios), os mais susceptíveis e intolerantes, por razões facilmente entendíveis, não anunciam em geral nesse suporte.
Certo, certo, é que a Rádio Hertz tem vindo a desenvolver um esforço notável na área da informação política, com notíciários, debates, comentários e tertúlias. Orientação que começa a produzir os seus frutos. Na passada quarta feira, no primeiro programa da nova série "Destaques do concelho", com o vereador Luís Ferreira e o deputado municipal António Cruz, como comentadores,  aconteceu pela primeira que um eleito local mostrou estar com o seu e o nosso tempo.
Enquanto Luís Ferreira, como se compreende, destacou a importância das novas vias de comunicação IC3 e IC9 para a cidade e para o concelho, António Cruz não perdeu o ensejo. Afirmou que esses itinerários complemetares são, ou podem vir a ser, facas de dois gumes. Tanto podem servir para trazer investidores, visitantes e consumidores, como para despejar a pouco e pouco a cidade e o concelho dos seus habitantes.
Noutro passo do citado programa -que ainda não tive ocasião de ouvir na íntegra- o citado deputado municipal foi ainda mais acutilante e certeiro. Reconhecendo que Tomar dispõe de numerosos recursos susceptíveis de atraír visitantes, habitantes e investidores, assinalou com toda a pertinência que os tomarenses têm todos os ingredientes, mas não os têm sabido cozinhar. Dizendo isto, mostrou que está a acompanhar as constantes mudanças de paradigma e que já percebeu que sem ter em conta a todo o instante o binómio qualidade/preço, nunca mais vamos conseguir singrar.
O problema não é só na área económica, designadamente no turismo, ou na gastronomia. Ocorre igualmente na política, (não é certamente por mero acaso que o governo Sócrates, ou a nossa actual maioria relativa no executivo autárquico, são já cadáveres adiados e odiados), na informação e -pasme-se!- no futebol de alto nível.
Na informação nacional ou local, quem não consegue acompanhar a evolução societal, vai ficando para trás, definha e morre. Na economia e na política, é aquilo que todos sabemos, ou devíamos saber. Com blá-blá-blá de circunstância, improviso sistemático e desenrascanço como recurso, já não se vai a lado nenhum. Agora são imprescindíveis planos sólidos, vontades estruturadas e lideranças participadas mas ousadas. No futebol, enfim, o leitor vê alguma semelhança (para além de continuarem a alinhar onze de cada lado), entre o jogo miudinho, medroso e fechadinho cá atrás, de Artur Jorge, Carlos Queirós ou Jesus, por um lado, e a criatividade, a velocidade,a  audácia e a beleza, dos treinados por Mourinho, Guardiola, Vilas Boas, Paciência ou Paulo Bento na selecção?
A vida é assim. Ou nos sabemos adaptar em cada momento às novas circunstâncias, ou morremos. São os novos tempos. Nada voltará jamais a ser como dantes.

Post Scriptum
Aqui em Tomar a dianteira não somos invejosos. Até gostamos de aplaudir os sucessos alheios, quando obtidos por meios lícitos. Façam o favor de digitar no google ojumento.blogspot.com e depois no video da Oprah. Vale a pena. E vão perceber tudo, mesmo sem saber inglês. Depois não se esqueçam de comparar com a RTP, a TVI e a SIC. Obrigado!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA





COLABORAÇÃO DA PAPELARIA CLIPNETO LDA

A actualidade prega por vezes destas partidas. Obriga a mudar de estilo. Foi o que parece ter acontecido com o CIDADE DE TOMAR desta semana, forçado a usar o estilo habitual d'O TEMPLÁRIO, como se sabe adepto habitual do modelo "acidentes e incidentes". O grande tema da semana é afinal apenas a intervençao da vereadora Graça Costa, na recente reunião do executivo camarário, em que alertou para a insegurança e a falta de iluminação nalgumas artérias urbanas. No nosso entendimento, a manchete escolhida pode até vir a provocar alguma pânico entre a população mais idosa, tanto mais que a notícia não refere casos concretos de forma detalhada, mas apenas incidentes vagos. O pior que pode ocorrer nestes casos. Faltando pormenores, a imaginação faz o resto... Oxalá não tenhamos que vir a lamentar situações graves, estando fora de dúvidas que tal não é a intenção nem da vereadora, nem do jornal.
Já se sabe que as crises graves, como aquela que atravessamos, provocam sempre o aumento da criminalidade, sobretudo com objectivos económicos. Que fazer, porém? Colocar um PSP em cada rua e um GNR em cada praça? E onde estão os recursos humanos e económicos para tal?
Outro destaque de CIDADE DE TOMAR é a situação na Platex, cuja administração parece querer aproveitar a reestruturação, a efectuar na sequência do pedido de insolvência e da viabilização dela resultante, para seleccionar trabalhadores mediante critérios nem sempre cabalmente explicados. Normalmente, nestes casos são sempre os activistas sindicais e os mais politizados que pagam a factura, por serem os menos confortáveis para os administradores. Será mais uma vez o caso?

O TEMPLÁRIO foca o encerramento da FerroTemplários, que arrasta mais 36 salariados para o desemprego forçado e a polémica no Centro de Assistência Social, que gere o Lar de São José. Segundo o jornal, há vários sócios, alguns até ex-dirigentes, que não concordam com a criação de um lugar de director executivo, com uma remuneração mensal entre mil e quinhentos e dois mil euros, para o qual, segundo é afirmado, estará indigitado António Fidalgo, neste momento professor na Secundária Jácome Ratton e ex-vereador PSD na Câmara de Tomar, presidida por António Paiva.
Outro tema no jornal de José Gaio é o martírio dos moradores da Rua Professor Andrade, desde que a entrada da Escola Jácome Ratton foi mudada para aquela artéria. Dado que não podem fumar no interior do estabelecimento, os alunos vêm aos magotes para junto dos prédios, com as consequências que facilmente se adivinham. O assunto já foi exposto à direcção da escola, ao executivo camarário e à Assembleia Municipal, sem qualquer solução até agora, uma vez que estão em causa dois direitos fundamentais em conflito: Por um lado, os moradores têm direito ao sossego. Por outro lado, os alunos podem fazer o barulho que lhes aprouver durante o dia, não havendo qualquer estabelecimento de saúde nas proximidades. Sem boa vontade de parte a parte, temos demanda para muito tempo.
Ainda n'O TEMPLÁRIO, e nas páginas centrais, "Noites de fado enchem colectividades e restaurantes". Não admira, pois já no século passado se cantava "Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado." E então agora com a crise, ainda pior!

Será apenas impressão nossa, ou O MIRANTE anda mesmo a perder qualidades, no que concerne a Tomar? Esta semana, além da usual ferroada no vereador Luís Ferreira, na secção humorística Cavaleiro Andante, não temos direito a qualquer chamada de primeira página. No interior, há um terço de página sobre o caso da Platex, já referenciado mais acima, Congresso da Sociedade de Pedagogia do Desporto em Tomar, Dois jovens empreendedores de Tomar dão nas vistas, na secção Economia, e "Luís Ferreira apela à continuidade de projectos no Turismo e na Cultura". É pouco. Mas se calhar também não houve para mais. Influências natalícias e da tradicional trégua da quadra...

SINAIS POSITIVOS, APESAR DE TUDO...

Numa situação cada vez mais agreste, agora até com um frio de rachar, faz bem e até aquece o coração constatar que também há sinais positivos nesta abençoada terra. Poucos, mas lá vai havendo.
Aqui pelo blogue, coisa pouca, porém significativa,  já há leitores preocupados em saber onde começa e acaba a liberdade de informação e de opinião (ver comentários ao post "Mercado tradicional? Ou centro comercial?"). Julgamos que é muito positivo, mesmo se logo a seguir aparece uma alimária a tentar ajavardar a questão. Se calhar confundindo tomar a dianteira com alguma marca comercial na área da suinicultura.
Outro sinal bem positivo: Conquanto muito limitado noutras áreas, o nosso alcaide continua a comportar-se como um verdadeiro gentleman da carreira diplomática, mantendo o sorriso e cumprindo escrupulosamente as suas obrigações legais, nomeadamente o dever de facultar as informações solicitadas.
Igualmente na autarquia, apesar de todos os erros, defeitos e carências já conhecidos, e aqui mencionados, deve-se assinalar, por ser muito positivo, nunca ter constado nem ser do domínio público que haja por ali decisões provenientes de travesseiros ilegítimos, com já aconteceu no século passado, com graves reflexos na burocracia camarária, de então e de agora.
Último facto positivo por agora, todavia bem importante: Consta que contactados pela Rádio Hertz (cujo esforço na área da informação política merece ser aqui destacado) para novos programas de tertúlia, vários políticos locais, eleitos ou não, terão recusado os convites. Lamenta-se, considerando-se contudo como um indício muito encorajador. Significa que -finalmente- lá se resolveram a começar a ter em conta as suas limitações. Ainda bem, pois os eleitores realmente interessados pelas causas locais já começam a estar cansados de tanta patacoada. E para aprender algo é preciso previamente reconhecer a própria ignorância.
É muito pouco? Pois é. Mas demonstra que a situação vai evoluindo.  Haja esperança, que é a última coisa a morrer.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A CIDADE, O CONCELHO E O MUNDO

Em dia de greve geral, talvez valha a pena abordar alguns aspectos locais, relacionados com as liberdades e com a actual situação. É ponto assente que todos aqueles que nunca viveram fora do país e se limitam a ver o mundo através da TV, têm dele uma ideia errada, além de extrema dificuldade para aceitar a sua contínua e imparável evolução sociológica. Gostaria por isso de focar aqui três aspectos: as liberdades e a cidadania, a situação económica e a evolução a longo prazo.

1 - As liberdades e a cidadania

Por essa Europa fora, está fora de discussão que as chamadas liberdades fundamentais só fazem algum sentido quando efectivamente são utilizadas. Basta pensar, por exemplo, na liberdade de informar e ser informado, ou na liberdade de reunião. Qual a sua utilidade, quando não há ninguém para informar ou para se reunir e debater? Aqui pelas margens nabantinas, séculos de inquisição e quase 50 anos de ditadura deixaram marcas e hábitos, que nem por poderem passar algo despercebidos aos leigos são menos nefastos. 
Conformismo, intolerância e egocentrismo são três dessas verdadeiras chagas sociais tomarenses. Habituados a um dia a dia sem história, cidadãos há que ficam muito abespinhados com acções cívicas, de exercício de cidadania, em prol da colectividade. Sucede com as informações solicitadas por Tomar a dianteira, sobretudo junto da autarquia, mas não só. Alguns tomarenses parecem convencidos de que estamos a abusar das liberdades democráticas e a incomodar os eleitos. Puro engano!
Por um lado, uma Lei aprovada pela Assembleia da República, que é o órgão com legitimidade e funções legislativas, garante a qualquer cidadão o acesso a qualquer documento dos organismos públicos (governo, câmaras, empresas públicas), sem qualquer obrigação de explicar para quê. Por outro lado, é suposto que cada eleitor exerça os seus deveres cívicos, entre os quais avulta o de participação nos assuntos da comunidade. É mesmo para isso que os projectos importantes são colocados à disposição dos cidadãos, para apreciação. Assim sendo, como poderiam os eleitores exercer os seus direitos cívicos e os seus deveres de cidadania, se não pudessem ter acesso às informações que a todos dizem respeito? Afinal, todas as despesas da administração são custeadas com os nossos impostos, directos ou indirectos.
Nestas condições, quer lhes agrade ou não, os tomarenses mais formatados pelos hábitos inquisitoriais e/ou pelo meio século de regime salazarista, terão de admitir que, nos casos em que é pedida informação, por mais sensível que seja, nem o cidadão que a solicita está a abusar dos seus direitos, nem o presidente da autarquia faz qualquer favor ao facultá-la, conforme determina a lei. O cidadão cumpre o seu dever cívico, exercendo a sua cidadania. É também para ter esses direitos que paga impostos. O presidente da autarquia está a cumprir a sua obrigação enquanto eleito, sendo também para isso que lhe pagam.
Ainda restam dúvidas sobre o tema? Então aqui vai a opinião de José Junqueiro, Secretário de Estado da Administração Local: "Tudo o que é informação deve ser do conhecimento público." (Jornal i 24/11/10, página 28)

2 - A situação económica

Falo da situação económica local, muito influenciada pela nacional e internacional, mas com vida própria. No contexto actual, quanto mais se insistir no improviso e no desenrascanço, mais grave se tornará o nosso problema e mais negro o nosso futuro. Não faz qualquer sentido, num clima de generalizada penúria, insistir em obras esparsas, cuja real utilidade nunca foi demonstrada. A sua única utilidade seria a criação de emprego, o que nem sequer acontece, sabido como é que não há por estas bandas mão de obra realmente qualificada, mas desempregada. Nem empresas de construção civil com dimensão suficiente. Já houve, mas faliram, ou emigraram. Como o resto.
Nos sectores do turismo, da cultura e do desporto, neste clima de cada vez mais acentuada penúria, só fazem sentido as manifestações que pelo menos não acarretem prejuízos. Continuar a financiar eventos socialmente dispensáveis sobretudo para tentar angariar as boas graças dos eleitores, a pretexto de promoção, é um erro crasso e extremamente perigoso para o concelho, que todos teremos de vir a pagar com língua de palmo.
Até ver, a palavra de ordem deve ser: Poupar! Poupar! Poupar!

3 - A evolução a longo prazo

É agora consensual entre os economistas portugueses que, uma vez iniciada a recuperação económica, a chamada retoma, só dez anos mais tarde conseguiremos estar de novo na mó de cima. Se entretanto não forem cometidos erros, comparáveis aos que têm ocorrido. Como as previstas medidas de austeridade vão provocar recessão durante pelo menos dois anos, na melhor das hipóteses, se tudo correr bem, lá para 2022 haverá outra vez vacas gordas. Se houver! Afinal, o futuro nunca é a mera repetição do passado.
Entretanto, em cada terra, em cada família, a atitude mais conveniente será procurar governar-se o mais possível sem recurso ao Orçamento de Estado, e/ou aos fundos europeus. Isto porque cada vez haverá menos transferências, menos subsídios diversos, menos prestações sociais, menos fundos europeus e menos empregos públicos. Mais cedo que tarde, com ou sem FMI e comparsas, haverá despedimentos significativos na função pública, como já está a acontecer na Grécia, na Irlanda e em Espanha, apesar das greves, gerais ou não. É praticamente inevitável.
Agora façam o favor de não confundir a mensagem com o mensageiro, numa terra onde ter razão antes de tempo é sempre prejudicial. Tenham a bondade de não me transformar em ave agoirenta ou em bode expiatório. Digo o que penso que se vai passar. Não digo que estou de acordo. Não tenho mais culpa do que vocês por as coisas irem acontecer assim. Tratem mas é de se precaver, na medida do possível. Comecem a poupar quanto antes, se puderem. Quem vos avisa...

MERCADO TRADICIONAL? OU CENTRO COMERCIAL?


Entrevistado há poucos dias por Vítor Melenas, na Rádio Hertz, o ruralmente muito apreciado vereador e vice-presidente Carlos Carrão falou, durante perto de uma hora, sobre as vicissitudes e outras atribulações do Mercado Municipal,  dos seus comerciantes e utentes. Começou por reconhecer que nem tudo vai bem na barraquinha provisória, designadamente a potência eléctrica instalada, a falta de espaço, a pouca capacidade da máquina de gelo e a necessidade de se edificar nas traseiras uma dependência para as arcas frigoríficas. Admitiu também ser um dos responsáveis pelo encerramento compulsivo determinado pela ASAE, uma vez que já é vereador há 12 anos. Mas o mais grave veio a seguir.

Quando o entrevistador procurou indagar se a barraquinha é mesmo provisória, garantiu que sim, aproveitando logo a deixa para afirmar que vai ser construído um mercado novo. Segundo acrescentou, ainda se pensou em reparar os actuais pavilhões. Porém, visto que a ASAE pretende quase tudo novo, como por exemplo os telhados e as paredes, o executivo municipal, tendo em conta o que consta do auto de encerramento, deliberou em Julho deste ano que se fará um edifício novo, com mercado e estabelecimentos comerciais.
Noutros passos da sua intervenção, -se calhar embalado pelos seus próprios raciocínios de ex-jornalista da imprensa regional- lá foi dizendo que há também um plano de pormenor já aprovado, que prevê para o local um centro comercial ou um fórum - "chamem-lhe como quiserem". Pormenorizou que as actuais três faixas de acesso à ponte do Flecheiro,  já foram projectadas em função do centro comercial a construir, e do respectivo estacionamento. Por isso existem duas faixas no sentido descendente, uma das quais para acesso e saída do previsto fórum. Temos assim que, mais uma vez se confirma o velho adágio popular "Pela boca morre o peixe". O respeitável vice-presidente PSD, ao dizer o que disse, admitiu sem disso quiçá se dar conta, que a maioria autárquica que vem governando a câmara desde há mais de uma década, há muito que tinha resolvido não mexer nem uma palha em termos de reparações no mercado, porque desejava ardentemente o seu encerramento compulsivo, tão depressa quanto possível, como condição prévia para implementar o projectado e megalómano fórum, recorrendo a um promotor privado.
Uma outra prova do que se acaba de afirmar é que, questionado sobre o destino a dar ao mercado exterior das sextas-feiras e ao "mercado abastecedor", Carrão embrulhou-se em considerações laterais que nada esclareceram, antes pelo contrário. Ou seja, apesar de se tratar de dois problemas graves e desde há muito a aguardar soluções definitivas, a actual maioria relativa acaba de demonstrar, pela boca do seu vive-presidente e único militante do PSD, que andam completamente às aranhas. Não sabem minimamente o que fazer. Nesta e noutras áreas.
Esta ausência de soluções, ou mesmo de propostas, para problemas fulcrais da vida local, que é norma para muitos outros dossiers, leva ao adiamento sistemático das resoluções que, quando finalmente acabam por chegar, já quase nunca resolvem nada. Neste caso do mercado, Carlos Carrão lá foi admitindo, em tom contrariado, que a solução Fórum não é consensual e que agora com a crise vai ser difícil encontrar um promotor interessado. Como tem vindo a suceder com o previsto hotel de charme Santa Iria. As elucubrações fantasiosas de quem não quis nem quer ouvir os cidadãos, dão nisto. E o mais que adiante se verá! Porque muito dificilmente os tomarenses aceitarão a demolição do actual mercado, e os problemas que daí resultarão. Por exemplo: Durante a hipotética demolição, e a posterior edificação do previsto fórum, e mais tarde com a entrada em funcionamento deste, se chegar a ser construído, o mercado das sextas-feiras irá para onde? E o mercado abastecedor?
Face a tudo isto, uma vez que o senhor vice-presidente Carlos Carrão se portou galhardamente nesta entrevista, permitindo finalmente que todos os tomarenses interessados percebam o que se passou realmente com o mercado municipal, e porque foi enfim encerrado pela ASAE, Tomar a dianteira resolveu ter um gesto de gratidão para com o prestigiado autarca tomarense. Propomos ao executivo municipal e, sobretudo, ao seu presidente, que deliberem no sentido de se entregar o actual Opel Insígnia da vice-presidência ao respectivo chefe de gabinete. Para as deslocações do senhor vereador e vice-presidente Carlos Carrão, é nosso entendimento que deve o município adquirir quanto antes um Mercedes AMG, modelo 2011, já em conformidade com os novos limites de emissão de CO2, cuja fotografia apresentamos abaixo, para prévia apreciação.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

PRESIDENTE DA CÂMARA INFORMA SOBRE TELEMÓVEIS E RODA DO MOUCHÃO


Recebemos do presidente da autarquia resposta à correspondência postal e/ou via mail, oportunamente enviada. Sobre os noticiados 223 telemóveis propriedade do município, Corvêlo de Sousa indica que "A listagem que contém 223 unidades, refere-se a todas as aquisições de telemóveis que foram feitas pelo Município desde meados da década de 90. A diferença entre os equipamentos (223) e os utilizadores (132) é de 91.  Estes, na sua maioria, encontram-se descontinuados, quebrados, com baterias viciadas que não aguentam carga, e avariados. Tanto a reparação como a substituição de baterias têm custos que muitas vezes são superiores à compra de um novo aparelho.
O destino destes telemóveis, depois de abatidos ao património, é a reciclagem a efectuar por empresas especializadas.
Há ainda... ...cerca de dez telemóveis usados, que se encontram em melhores condições, para poder substituir aqueles que se avariam ainda no período de garantia, e seguem para reparação."
Sobre a oferta de colaboração para a substituição atempada da roda do Mouchão por uma nova, o autarca, "agradecendo a disponibilidade demonstrada", informa que "os serviços competentes da Autarquia -Departamento de Obras Municipais- estão neste momento a adquirir os materiais necessários, e a construção de uma nova Roda está agendada de forma a entrar em funcionamento no próximo mês de Maio."
Está portanto esclarecida a discrepância de dados, oportunamente assinalada no nosso post sobre as despesas do município com telemóveis. Simultaneamente, os oficios recebidos contradizem todas aqueles que afirmam privadamente não conseguir informações de há muito solicitadas à autarquia.
Quanto à Roda do Mouchão, de acordo com a informação de Corvêlo de Sousa, deverá estar a funcionar em Maio de 2011, por ocasião de mais um ruinoso Congresso da Sopa. (Esta última afirmação é nossa.) Só esta informação já compensa a oportuna oferta de colaboração gratuita, tendo em vista o mesmo objectivo. Agora resta aguardar. Dar tempo ao tempo.

ENTRE A ESPADA E A PAREDE

Estamos entalados entre a espada da crise e o paredão do futuro, que não conseguimos transpôr por falta de projectos adequados. Ao fim de anos de conformismo, de doce ripanço, de deixa andar que depois logo se vê, eis ao que chegámos. Fale-se com a população. "Isto está mesmo mau", "estamos lixados", "não há remédio", são agora desabafos correntes, a evidenciar a nossa fatalista costela árabe/maometana.
Temos pistas de atletismo para atletas que não há, e campos de ténis para praticantes que nunca houve. Faltam-nos ideias, planos, projectos, ousadia, audácia, capacidade empreendedora, agora que se vão esvaindo pouco a pouco os fundos europeus e as transferências do governo central, que quem menos recebe, menos pode transferir. Milagres só em Fátima, e era aqui há uns anos.
Entrementes, na política local, conforme já demonstrado anteriormente, a situação é de bloqueio. Temos seis forças em presença, três nos júniores e três nos séniores. Nos "miúdos" locais, CDU, BE e CDS lá vão fazendo pela vida no parlamento local, tendo até os bloquistas conseguido uma proeza de nível nacional. Conseguir o voto favorável do nº 2 nacional do PSD, numa moção contra um dos elementos do PS, parceiro da coligação local, convenhamos que não é para todos. E que tão cedo não voltará a acontecer.
Na liga de honra (que não temos arcaboiço para mais), PSD, PS e IpT, arrastados pela cada vez mais forte enxurrada da crise, vão-se agarrando ao que podem, procurando por todos os meios manter-se à superfície, e não mais do que isso. Ideias operativas, zero; projectos adequados ao actual contexto de crise, zero; soluções para ultrapassar a cada vez mais problemática realidade local, zero. Não admira por isso que a barca nabantina, cada vez mais fustigada pela tempestade, ameace afundar-se de vez, na irrelevância e na mediocridade.
Para lá das desculpas de cada um dos comparsas, já detalhadas em post anterior, temos de reconhecer que no quadro político actual, qualquer que venha a ser a eventual evolução, o nosso futuro é negro. Entre os eleitores mais esclarecidos nestas coisas da política e da economia, ninguém acredita que uma câmara presidida por Carlos Carrão possa vir a fazer melhor do que a actual. Mesmo com a entrada de José Perfeito, que poderia vir a herdar os pelouros de José Vitorino, em caso de ruptura da coligação. Mas, lá está, se por um lado ficaria tudo entre Josés, por outro, o velho e conhecido anexim é bem claro: "Santos da casa não fazem milagres". Até o Santo António teve de ir para Itália e de mudar de nome, para então subir aos altares. E  os tempos eram outros...
Também ninguém nas mesmas condições consegue vislumbrar qualquer vantagem na troca de parceiro de coligação. Se com os socialistas as coisas não vão bem, podendo até ir de mal a pior, como mais adiante se verá, (é só dar tempo ao tempo...), com os IpT coligados volveria logo à superfície a época dos dois mandatos de Pedro Marques, como independente em listas do PS. O ex-presidente nunca o reconheceu, mas é voz corrente que o seu desempenho nos citados cargos não deixou saudades, excepto para um pequeno grupo, cujas ideias sobre política e administração local são assaz peculiares, para não dizer clientelares.
Nestas condições, sem poderem recuar, por causa da espada da crise, nem avançar, devido ao paredão do futuro, restaria a retirada estratégica e lateral: provocar a queda do actual executivo e dar a palavra à população. Haverá ânimo e audácia para tanto? Tenho sérias dúvidas. Mas amanhã é outro dia... e tarde é o que nunca acontece.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

TURISMO -A FALSA ESPERANÇA DOS AUTARCAS

A edição de ontem do PÚBLICO inclui um artigo sobre turismo, da autoria de Raquel Almeida Correia, no qual  se dá conta dos resultados de um inquérito encomendado pelo Turismo de Portugal, feito junto dos visitantes estrangeiros. Como infelizmente vem sendo hábito, salvo raras e honrosas excepções, a autora assume um tom deliberadamente optimista, com se tudo corresse pelo melhor nessa área e neste país. É pena que não seja o caso.
A amostra, aleatória e não representativa, vale o que vale.  Apenas foram consultados nos aeroportos nacionais, sem qualquer escolha preliminar, 1072 visitantes de sete nacionalidades diferentes, 40% dos quais eram britânicos. A partir dos questionários recolhidos, os autores do trabalho sacaram uma série de conclusões cuja validade só pode ser problemática. Afirmar, por exemplo, que apenas 9% dos visitantes têm menos de 24 anos, é mais do domínio da conveniência que da realidade, pois como é sabido, os jovens viajam, sempre que possível, por estrada ou por caminho de ferro, recursos bem mais baratos que o transporte aéreo, apesar dos preços das companhias "low cost", pelo que inquéritos feitos em aeroportos...
Mesmo procurando apresentar as coisas sob um ângulo favorável, os autores do trabalho e a jornalista que dele dá conta, lá vão dizendo, contrariados, que os turistas estrangeiros contactados lamentaram o elevado custo de vida, os deficientes serviços de saúde e a falta de preservação ambiental, numa proporção superior a 50%. Outro tanto sucede com a fraca fluência dos portugueses em línguas estrangeiras. Resultante de tudo isto, mesmo condicionados pela presença de inquiridores portugueses, 6% dos visitantes disseram que não voltarão de certeza, enquanto apenas 54% dos contactados admitiu regressar de certeza, o que é extremamente fraco para uma amostragem constituída em 75% por "turistas de praia", o célebre turismo 3 esses (sol, areia e sexo), que normalmemnte rumam quase sempre para as mesmas praias.
Sem disso provavelente se darem conta, os autores do trabalho evidenciam mais uma vez as nossas insuficiências em termos de acolhimento, tanto em termos humanos (gritante falta de pessoal realmente qualificado), como de infra-estruturas de apoio (serviços de saúde, sinalização, segurança), ou na relação qualidade/preço, particularmente desfavorável, quando comparada com outros países europeus, a começar pela vizinha Espanha.
Apesar destas carências evidentes, raro é o autarca que não proclama o incremento do turismo como um dos grandes objectivos do seu município, o que em Portugal significa em geral avultadas despesas de promoção, cujos retornos muito raramente justificam os quantitativos gastos. Esta atitude resulta sobretudo do hábito adquirido desde os anos 30 do século passado, quando Salazar decidiu municipalizar as até aí "Comissões de iniciativa e turismo", dinamizadas pelos industriais do sector (hotelaria, restauração, transportes...). A de Tomar, ali junto à Mata, ainda ostenta na fachada a designação primitiva.
Com o advento da democracia e, sobretudo, com os generosos fundos europeus, tem sido um céu aberto -fazem-se as mais estapafúrdias promoções, sem qualquer preocupação de eficácia, de pertinência ou de utilidade em termos de custos/benefícios. Basta evocar o que vem acontecendo nas margens do Nabão, por exemplo com a Festa dos Tabuleiros ou com o Congresso da Sopa. Ano após ano, ao arrepio do mais elementar bom senso, são os contribuintes que arcam com uma parte dos custos das férias dos outros, uma vez que as citadas manifestações turístico-culturais, ou são onerosas mas gratuitas para os visitantes, ou são pagas, mas não cobrem os custos, nem de perto nem de longe. Numa terra cujos principais recursos são de natureza turística, é realmente estranho que não se tenha ainda conseguido inculcar hábitos de criação de riqueza nos diversos sectores implicados na recepção de visitantes. Continuamos convencidos de que DEus Nosso Senhor tem lá muito para nos dar...
Ainda recentemente, por ocasião da ida a Vigo a pretexto de se promover a Festa e a cidade, ao ser perguntado a um responsável "-Mas promover o quê e para quê?" , obteve-se o total silêncio como única resposta. Estranho na verdade, quando se sabe que a Festa dos Tabuleiros custa no mínimo 200 mil euros (40 mil contos), e que a edição deste ano do Congresso da Sopa deu um prejuízo de 37 mil euros = 7 mil e 400 contos aos cofres municipais. Mas pronto: Neste convento,  a ordem é rica e os frades são cada vez menos. Ou estarei enganado?

A ANÁLISE POLÍTICA É UMA SECA. E NÃO INTERESSA NADA!


Vivemos numa terra assim, de um país assim, numa época assim, com uma crise assim. Para a juventude, é tudo uma ganda seca. Salvo a música, o desporto nalguns casos, o sexo, a comida de plástico e a pinguita. Para os pais, a política continua a ser uma coisa apenas tolerada, "porque tem que ser". Para os jornais locais, nada de análise política, por razões conhecidas: dá muito trabalho e aborrecimentos, não há recursos para remunerar quem a faça, os anunciantes detestam, não vende, têm muito mais importância os acidentes e os incidentes, como demonstra todos os dias a excepcional tiragem do Correio da Manhã, a contrastar com a do Público ou do Diário de Notícias. Somos assim e temos sido felizes.
O pior é que o paradigma mudou. A crise mostra agora todos os dias que, com palpites e improvisações, nunca mais vamos conseguir sair da cepa torta. É preciso muito trabalho, muito empenho, muita coragem, muita audácia, muita capaidade de mudança. Começando por aceitar, finalmente e de uma vez por todas, que a inteligência não se aprende. Pode-se ir aperfeiçoando. Mas ou se tem ou não. É irremediável e não há compadrio que nos valha. Vão olhando para o Politécnico de Tomar e para o de Leiria... 
Por conseguinte, escolher em cada momento e para cada função, os melhores, os mais capazes, os mais qualificados é agora uma necessidade, não uma cedência dos instalados, e ainda menos um favor. Sobretudo na esfera política, onde tudo se ganha ou tudo se perde.
O quadro acima implicou algumas horas de trabalho, mas valeu a pena, porque não havia até agora qualquer comparativo actualizado dos resultados eleitorais, que pudesse servir de base para uma análise rigorosa da nossa situação presente. Olhando para ele, a primeira evidência é a disparidade entre Tomar e Abrantes, tão próximas e afinal tão diferentes. Uma governada pelo PSD há vários mandatos, a outra pelo PS desde o 25 de Abril. Uma com um ex-secretário de Estado, e agora ministro no actual governo, como presidente da Assembleia Municipal (Jorge Lacão); outra com um ex-secretário de Estado, que será ministro de Estado no futuro governo de PP Coelho (Miguel Relvas), salvo percalço imprevisto, que a política é sempre muito escorregadia, também como presidente da Assembleia Municipal.
Mas vamos por partes, para maior facilidade de entendimento. Lendo o quadro com atenção, cai por terra a hipótese, sempre acalentada aqui pelas margens do Nabão, de uma união de esquerda, com programa comum. Não serviria para grande coisa, visto que a junção eleitoral PS+CDU+BE, além de problemática, apenas permitiria, nas condições actuais, eleger três vereadores, roubando portanto um aos IpT. Convenhamos que tanto trabalho para eleger três vereadores, numa autarquia de sete membros, equivaleria a ensaiar várias composições para viola, a tocar atrás de um enterro.
Outra constatação contra a corrente unanimista local é que, apesar das várias proclamações mais ou menos inflamadas, as três principais forças políticas locais (PSD/PS/IpT) perderam votos em relação a 2005. Sinal de que a sua actuação anterior foi castigada pelos eleitores. No caso dos IpT, além da citada fuga de votos, cai também por terra a proclamada importância dos 4 mil e 600 votos obtidos. O cabeça de lista era o mesmo que obteve quatro anos antes quase 5 mil votos, e já fez dois mandatos como presidente da edilidade. Acontece que em Abrantes, onde o cabeça de lista independente nunca foi presidente, logo à primeira tentativa a sigla I obteve 3 mil e 800 votos. A demonstrar, entre outras coisas, que águas passadas não movem moínhos...
Duas últimas notas. Uma para assinalar a diferença abismal entre Tomar e Abrantes, no que se refere às discrepâncias entre eleições locais e eleições nacionais. É ponto assente que naquelas se vota geralmente em pessoas e nestas em siglas partidárias. A ser assim, os tomarenses andam mesmo desiludidos com os autarcas que têm tido. Basta reparar na diferença entre as votações obtidas pelos dois principais partidos nas legislativas e nas autárquicas. Em Abrantes há um relativo equilíbrio. Em Tomar há uma diferença abismal. Porque será?
A outra nota referindo que, em 2013, ou quando o actual elenco autárquico vier a cair, os políticos e os eleitores locais vão ter um problema bicudo para resolver -o facto das três principais forças políticas (as únicas representadas no actual executivo) terem de ir para as eleições queimadas até ao cerne. Porque a real situação é esta: A oposição PS+IpT é maioritária, mas os seus dirigentes nunca se quiseram entender, nem se prevê que tal possa vir  acontecer. O grupo liderado por Pedro Marques afirma que o PS, por estar coligado, é tão culpado como o PSD pela situação actual, e tem toda a razão. O PS contrapõe que, caso não se tivesse coligado com o PSD, Miguel Relvas teria feito o acordo com os IpT, e também tem toda a razão. Mas com razões deste tipo nunca mais vamos conseguir deixar de andar à deriva, ao Deus dará, ao sabor dos improvisos, num clima de desenrascanço crónico.
Resta a uns e a outros arranjar coragem para fazer o que é preciso e cada vez mais urgente -correr com esta maioria relativa, que quanto mais tempo se mantiver no poder, mais nos irá prejudicar. Tal como acontece com o governo Sócrates. Mas aí,  PP Coelho está só a aguardar que o PS tome as medidas mais impopulares e que Cavaco seja eleito, para logo a seguir calçar os patins aos socialistas. Em Tomar, Luís Ferreira e Pedro Marques estão à espera de quê? Que venham umas chuvadas de notas de 500 euros?

domingo, 21 de novembro de 2010

A CRISE PORTUGUESA VISTA POR UM JORNALISTA ESTRANGEIRO

DESEMPREGO, RECESSÃO, AUSTERIDADE: PORTUGAL DESLIZA IRREMEDIAVELMENTE PARA A POBREZA

REPORTAGEM

"É a crise sem bolhas e uma terrivel ressaca sem sequer ter havido bebedeira. Portugal afunda-se numa atonia económica, sem ter sofrido os delírios bancários da Irlanda, as loucuras imobiliárias da Espanha, ou mesmo as violentas manifestações gregas. De todos os países sobre-endividados da UE, é aquele que mais dificuldades tem para compensar as suas fraquezas recenceadas pelos analistas, com vantagens. Não está sob a ameaça de uma bancarrota imediata, mas sim sem perspectivas de retoma.
Em Lisboa, todos os interlocutores se despedem pedindo desculpa por não encontrarem o que quer que seja de positivo no horizonte. A indústria? "O nosso aparelho produtivo foi destruído pela integração europeia", lastima Carvalho da Silva, secretário geral da CGTP, a principal confederação sindical do país. Nestes últimos anos, sofrendo de falta de competitividade, Portugal assistiu ao desaparecimento dos principais exportadores. No norte, as empresas têxteis que ainda resistem vão fechando pouco a pouco, vítimas da concorrência asiática. A agricultura? "Foi igualmente laminada pela transição acelerada para o terciário", constata Fernando Rosas, historiador e ex-deputado do Bloco de Esquerda (anticapitalista).
A ajuda económica estrangeira? "Durante estes últimos trinta anos, a economia nacional nunca singrou graças ao crescimento económico, geralmente fraco, mas em virtude dos subsídos europeus", explica o sociólogo António Barreto. "Tivemos as remessas dos emigrantes, as subvenções da UE, o endividamento das famílias e das empresas, graças às facilidades de crédito proporcionadas pelo euro. Tudo isso acabou definitivamente."
Temos assim que o futuro de Portugal se resume neste momento a um ano de 2011 que vai ser "terrível", dizem os observadores. Com o desemprego que atingirá máximos históricos, superiores a 11,5%, com uma recessão que poderá mergulhar além dos previstos -0,2% do PIB, e sobretudo, com a entrada em vigor do orçamento mais rigoroso de sempre, destinado a reduzir o défice das contas públicas de 7,3% para 4,6% do PIB, até dezembro de 2011.
O governo socialista vai reduzir os vencimentos dos funcionários, aumentar o IRS e o IVA, diminuir as prestações sociais e os investimentos do Estado. Medidas que vão agravar o empobrecimento da classe média, num país onde cada vez mais trabalhadores auferem o salário mínimo de 475 euros mensais. Por ricochete, esta política vai aumentar ainda mais o número de empregos de recurso, que vão permitindo sobreviver, tal como a amplitude da precaridade, que cada vez reduz mais o emprego estável, mesmo na função pública.
Ante uma austeridade sem precedentes, reacção do mesmo tipo: uma greve geral, marcada para quarta-feira 24, convocada pelas duas centrais sindicais: CGTP, próxima do Partido Comunista, e UGT, próxima do PS, que está no poder. Carvalho da Silva diz que tem com objectivo, entre outros, "colocar o movimento sindical como uma força que pode contribuir para a renovação do sistema político."
A crise política portuguesa está com efeito intimamente ligada à agonia de uma prática do poder que muitos portugueses rejeitam. O primeiro-ministro José Sócrates (PS), em maioria relativa no parlamento, governa de forma passiva. Em 2009 conseguiu vencer as eleições, concedendo aos funcionários aumentos que agora lhes retira. Os trabalhadores estão revoltados, não só por aquilo que consideram uma traição, mas também pela incapacidade do governo para prever atempadamente o agravamento da crise, durante todo o primeiro semestre deste ano. Mentira deliberada, ou simples incompetência? Sejam quais forem as suas culpas, o governo no pode ser sancionado pelas urnas antes da eleição presidencial de 2011.
Até lá, a política portuguesa está por assim dizer vitrificada. O orçamento passou, com a abstenção do PSD (direita), encantado por deixar as medidas impopulares para os socialistas. E este joguinho entre as duas formações que alternam no poder, cada vez irrita mais os observadores. "Nada distingue as duas políticas clientelares. São dois agrupamentos de pessoas organizadas para tomar conta do orçamento do Estado", clama o sociólogo Manuel Villaverde Cabral.
"Até agora, ninguém conseguiu suscitar a adesão dos vários partidos em torno de um programa comum, que tomaria as medidas adequadas e a aplicaria com rigor", lastima António Barreto. Antigo exilado do tempo da ditadura, vê-se forçado a interrogações que julgava definitivamente ultrapassadas na história de Portugal: "Vamos ser capazes de resolver esta crise em democracia? Ou vamos acabar por recorrer a mais um governo autoritário?"


Jérôme Fenoglio, enviado especial do jornal "Le Monde" 20/11/10
Tradução e adaptação de António Rebelo

A TAL MANIA DAS GRANDEZAS...



A tal mania das grandezas, ou "Toca a gastar, que a ordem é rica, os frades são poucos e o dinheiro não é nosso." O assunto já aqui foi abordado, mas como o PÚBLICO-CIDADES de hoje publica um bom trabalho sobre o tema, resolvemos alargar a abordagem. Tal como no nosso post anterior trata-se de demonstrar, mais uma vez, apoiado em dados oficiais incontroversos, que os nossos autarcas da transitória maioria não sabem, de facto,  o que andam a fazer em termos de gastos, assim nos arrastando inexoravelmente para a ruína, ao mesmo tempo que mantêm os potenciais investidores à distância. Nenhum empresário responsável escolhe para se instalar um concelho gastador, cujos autarcas não sabem gerir capazmente os recursos disponíveis. E até pretendem realojar mais de meia centena de ciganos na Zona Industrial!
Nesta peça do PÚBLICO, das 18 capitais de distrito, só 10 gastam mais do que Tomar, que não é capital de distrito, com as iluminações desta quadra festiva. A saber: Braga/50 mil euros/150 eleitores, Bragança/52 mil euros/37 mil eleitores, Viana do Castelo/44 mil euros/ 87 mil eleitores, Porto/104 mil euros/232 mil eleitores, Coimbra/90 mil euros/128 mil eleitores, Lisboa/846 mil euros/525 mil eleitores, Setúbal/66 mil euros/ 101 mil eleitores, Faro/70 mil euros/55 mil eleitores, Funchal/60 mil euros/107 mil eleitores, Ponta Delgada/40 mil euros/61 mil eleitores.
As restantes oito autarquias capitais de distrito, não pagam iluminações, ou gastam menos do que Tomar. Assim sendo, duas conclusões são desde já possíveis: A - Em termos de despesa, Tomar integra um grupo -o das capitais de distrito- ao qual não pertence administrativamente; B - Em termos de rácio despesa/eleitores, só Bragança consegue fazer ainda pior do que nós: 52 mil euros para 37 mil eleitores.
No que concerne às restantes localidades da amostra, que gastam tanto ao mais do que Tomar, só Albufeira/70 mil euros/30 mil eleitores, capital turística do Algarve, com mais de quatro dezenas de unidades hoteleiras, consegue ser mais gastadora do que Tomar/40 mil euros/39 mil eleitores, que tem menos de uma dúzia de unidades hoteleiras e recebe anualmente menos de um quinto dos turistas daquela estância algarvia.
Conclusão: Vivá megalomania! Vivá bazófia! Vivá farronca! Vivam as afigurações! Arrota pelintra! Faz-te lorde! Até que haja quem pague...