MENTIR CUIDANDO DIZER VERDADES

Foto Rádio Hertz, com os nossos agradecimentos. 

A senhora vereadora Graça Costa tem responsabilidades. Não só por tersido eleita para nos representar, mas outrossim porque é um produto do ensino superior português, o que a integra, quer queira, quer não, no escol da sociedade portuguesa, apesar de tudo ainda bastante reduzido.  Para mais, é socióloga, sendo por isso a sua formação virada para os humanos, na sua vida em sociedade. Detém igualmente um boa experiência política, que inclui algumas excelentes intervenções, enquanto deputada municipal pelo PSD, que veio a abandonar, juntando-se mais tarde aos IpT de Pedro Marques, que a colocou em segundo lugar na lista para a câmara, nas mais recentes autárquicas.

Segundo o site da Rádio Hertz, usualmente bem informado, na última reunião do executivo municipal "A vereadora Graça Costa lamentou que a construção do polémico muro tenha obrigado ao abate de árvores centenárias." Trata-se de um óbvio caso em que alguém está a mentir, cuidando dizer verdades. Noutros termos, parece-nos fora de dúvidas que a senhora autarca, ao dizer o que disse, estava convencidíssima de que tinha razão e dizia a verdade. Puro engano, porém. Os três choupos abatidos não eram centenários, nem coisa parecida. Foram ali plantados em 1968, aquando da inauguração da ponte, que está devidamente datada em cada entrada. Tinham, por conseguinte, 42 anos, tal como os irmãos que -erradamente quanto a nós- sobreviveram. Isto porque os choupos são árvores de média duração, que devem sempre ser abatidas o mais tardar ao fim de 50 anos, sob pena de passarem a constituir perigo para os humanos, pois podem largar pernadas em qualquer altura. Basta, aliás, olhar atentamente para os que ficaram. Há ramos secos em abundância, a demonstrar que os senhores autarcas da maioria relativa, se fizeram mal foi em não terem mandado abatê-los todos, incluindo os da outra margem, de ambos os lados da ponte.

Afirmou também a senhora vereadora IpT que o abate das três referidas árvores foi provocado pela "construção do polémico muro". É mais uma dedução que não corresponde de modo nenhum à verdade. Se a senhora autarca se tivesse deslocado ao local, e observado atentamente, teria constatado que foi igualmente abatido o choupo que estava do lado oposto ao muro-mijatório, junto ao Edifício dos Cubos, por acaso o mais decrépito deles todos. Além de que, estando as obras de alvenaria terminadas, se fosse como disse, porque teriam decidido abater as árvores só agora? Não teria sido mais fácil fazê-lo antes da construção do maldito muro-mijatório e dos ridículos muretes, que têm todavia a vantagem de poder servir de assentos?

É claro que, no caso presente, o lapso de Graça Costa não tem qualquer importância prática. O trabalho está feito, restando agora substituir quanto antes TODAS as árvores abatidas naquela zona, incluíndo as da anterior fase das obras, do lado sul. O problema só é grave por aquilo que permite conjecturar. Por um lado, é significativo que os restantes membros do executivo se tenham mantido mudos e quedos sobre o assunto. Por ignorância dos factos? Por manifesto desdém, em relação à minoritária e sempre inofensiva oposição? Devido a uma mistura de ambos os componentes?

Por outro lado -e sobretudo- bem diz o povo que "cesteiro que faz um cesto, faz um cento". Por outras palavras: Em quantos outros assuntos os nossos autarcas mentem descaradamente, umas vezes sem disso terem consciência, como no caso presente,  outras propositadamente?

E depois lastimam-se e admiram-se que os cidadãos eleitores lhes concedam cada vez menos crédito. Sem trabalho árduo, sem espírito de devoção à causa pública, sem informação completa e verdadeira, sem respeito absoluto pela verdade, não há democracia que possa resistir muito tempo. Essa é que é essa!