A edição de ontem do PÚBLICO inclui um artigo sobre turismo, da autoria de Raquel Almeida Correia, no qual se dá conta dos resultados de um inquérito encomendado pelo Turismo de Portugal, feito junto dos visitantes estrangeiros. Como infelizmente vem sendo hábito, salvo raras e honrosas excepções, a autora assume um tom deliberadamente optimista, com se tudo corresse pelo melhor nessa área e neste país. É pena que não seja o caso.
A amostra, aleatória e não representativa, vale o que vale. Apenas foram consultados nos aeroportos nacionais, sem qualquer escolha preliminar, 1072 visitantes de sete nacionalidades diferentes, 40% dos quais eram britânicos. A partir dos questionários recolhidos, os autores do trabalho sacaram uma série de conclusões cuja validade só pode ser problemática. Afirmar, por exemplo, que apenas 9% dos visitantes têm menos de 24 anos, é mais do domínio da conveniência que da realidade, pois como é sabido, os jovens viajam, sempre que possível, por estrada ou por caminho de ferro, recursos bem mais baratos que o transporte aéreo, apesar dos preços das companhias "low cost", pelo que inquéritos feitos em aeroportos...
Mesmo procurando apresentar as coisas sob um ângulo favorável, os autores do trabalho e a jornalista que dele dá conta, lá vão dizendo, contrariados, que os turistas estrangeiros contactados lamentaram o elevado custo de vida, os deficientes serviços de saúde e a falta de preservação ambiental, numa proporção superior a 50%. Outro tanto sucede com a fraca fluência dos portugueses em línguas estrangeiras. Resultante de tudo isto, mesmo condicionados pela presença de inquiridores portugueses, 6% dos visitantes disseram que não voltarão de certeza, enquanto apenas 54% dos contactados admitiu regressar de certeza, o que é extremamente fraco para uma amostragem constituída em 75% por "turistas de praia", o célebre turismo 3 esses (sol, areia e sexo), que normalmemnte rumam quase sempre para as mesmas praias.
Sem disso provavelente se darem conta, os autores do trabalho evidenciam mais uma vez as nossas insuficiências em termos de acolhimento, tanto em termos humanos (gritante falta de pessoal realmente qualificado), como de infra-estruturas de apoio (serviços de saúde, sinalização, segurança), ou na relação qualidade/preço, particularmente desfavorável, quando comparada com outros países europeus, a começar pela vizinha Espanha.
Apesar destas carências evidentes, raro é o autarca que não proclama o incremento do turismo como um dos grandes objectivos do seu município, o que em Portugal significa em geral avultadas despesas de promoção, cujos retornos muito raramente justificam os quantitativos gastos. Esta atitude resulta sobretudo do hábito adquirido desde os anos 30 do século passado, quando Salazar decidiu municipalizar as até aí "Comissões de iniciativa e turismo", dinamizadas pelos industriais do sector (hotelaria, restauração, transportes...). A de Tomar, ali junto à Mata, ainda ostenta na fachada a designação primitiva.
Com o advento da democracia e, sobretudo, com os generosos fundos europeus, tem sido um céu aberto -fazem-se as mais estapafúrdias promoções, sem qualquer preocupação de eficácia, de pertinência ou de utilidade em termos de custos/benefícios. Basta evocar o que vem acontecendo nas margens do Nabão, por exemplo com a Festa dos Tabuleiros ou com o Congresso da Sopa. Ano após ano, ao arrepio do mais elementar bom senso, são os contribuintes que arcam com uma parte dos custos das férias dos outros, uma vez que as citadas manifestações turístico-culturais, ou são onerosas mas gratuitas para os visitantes, ou são pagas, mas não cobrem os custos, nem de perto nem de longe. Numa terra cujos principais recursos são de natureza turística, é realmente estranho que não se tenha ainda conseguido inculcar hábitos de criação de riqueza nos diversos sectores implicados na recepção de visitantes. Continuamos convencidos de que DEus Nosso Senhor tem lá muito para nos dar...
Ainda recentemente, por ocasião da ida a Vigo a pretexto de se promover a Festa e a cidade, ao ser perguntado a um responsável "-Mas promover o quê e para quê?" , obteve-se o total silêncio como única resposta. Estranho na verdade, quando se sabe que a Festa dos Tabuleiros custa no mínimo 200 mil euros (40 mil contos), e que a edição deste ano do Congresso da Sopa deu um prejuízo de 37 mil euros = 7 mil e 400 contos aos cofres municipais. Mas pronto: Neste convento, a ordem é rica e os frades são cada vez menos. Ou estarei enganado?
2 comentários:
Turismo?
Deixem-me rir!
O Polvo do Nabão!
Já repararam que o ferreira das farturas está armado em vereador-sombra do turismo e da cultura. Vejam as "bocas"no blog dele.
E agora,depois de ler aí algures,é que me rebolei a rir sobre o tipo se apresentar como "maçon" no currículo oficial publicado no blog.
O ferreira das farturas "maçon". Vejam bem que a crise até atingiu a Maçonaria,ao ponto de um exemplar desta qualidade lá ter cabidela.
Mas olhem que é menino para,simultâneamente,clandestinamente,ser da Opus Dei.
O f.f. é completamente híbrido,transgénico de ultima geração.
E quem serão os colegas "maçons" ou "opus" cá do burgo?
Se alguém souber e quiser dizer,teremos de reescrever a história local dos últimos 36 anos e meio?
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