SOMOS TODOS ASSIM TÃO PALONÇOS?

Copiado do semanário SOL de 30/10/10, com os nossos agradecimentos.

A pergunta impõe-se, agora que são evidentes algumas verdades elementares. As supérfluas e estapafúrdias obras na Mata e na envolvente do Convento, o insólito paredão-mijatório, o estádio transformado em campo de treinos, a ideia do hotel de charme, o lunático museu polinucleado da Levada, são  ideias e, nalguns casos, obras oriundas da mesma mente. A de um respeitável cidadão com algum mundo, mas que, nascido e criado alhures, não podia nem pode pensar como os tomarenses, ou sequer entendê-los. O tal "sentir nabantino" de que falava o saudoso Nini Ferreira. Ainda por cima, uma vez eleito, abusou nitidamente da confiança nele depositada, naturalmente com a melhor das intenções. Como sempre. Nunca consultou a população ou quem quer fosse, para procurar aferir as suas ideias. E aí reside a origem do desastre.

Os resultados aí estão, à vista de todos. Obras descosidas, uma dívida muito jeitosa, projectos mirobolantes, que se levados à prática acabarão por nos enterrar irremediavelmente. Porque os sucessores do tal político providencial são também, infelizmente, seus apóstolos. Continuam a seguir fielmente a sua doutrina. Não tanto, julgamos, por nela acreditarem. Só porque não dispõem de alternativa. E pensar é muito cansativo.

Como se os tempos não tivessem mudado, como do dia para a noite, ou do verão para o agreste inverno; como se não houvesse já exemplos de descalabro, à cabeça dos quais o fantasiado hotel de charme no ex-Convento de Santa Iria; continuam com a ideia fixa de destruir o actual mercado, para no lugar dele edificarem um fórum. Mas como? E para quê? Que privado aceitará meter-se em semelhante camisa de onze varas? Nestes tempos de penúria cada vez mais acentuada, onde estaria a clientela para semelhante extravagância? Seremos todos assim tão palonços? Não será já tempo de pensarmos em sacudir a canga dos incapazes -conquanto bons rapazes- que continuam convencidos de que nos governam?

A notícia supra dispensa mais comentários -Na capital do país, com muito mais recursos de toda a ordem, a autarquia pretende preservar e melhorar os mercados tradicionais. Numa pobre cidade periférica, em cujo Convento sempre se acrescentou em vez de demolir, uma insensata vereação nem faz nem deixa fazer. Há quatro meses que estamos sem mercado em funcionamento. Se têm começado as obras exigidas pela ASAE logo aquando do encerramento compulsivo, por esta altura já estariam concluídas. Ter-se-iam poupado os perto de 300 mil euros já gastos com a tenda e respectivo recheio. Tudo com a ideia fixa no tal fantasmático fórum paivino.

Isto na política, é cada vez mais como na música. Quando os executantes não sabem solfejo, sendo por isso forçados a tocar de ouvido, é cá cada fífia! E o povo é que paga...