Vivemos numa terra assim, de um país assim, numa época assim, com uma crise assim. Para a juventude, é tudo uma ganda seca. Salvo a música, o desporto nalguns casos, o sexo, a comida de plástico e a pinguita. Para os pais, a política continua a ser uma coisa apenas tolerada, "porque tem que ser". Para os jornais locais, nada de análise política, por razões conhecidas: dá muito trabalho e aborrecimentos, não há recursos para remunerar quem a faça, os anunciantes detestam, não vende, têm muito mais importância os acidentes e os incidentes, como demonstra todos os dias a excepcional tiragem do Correio da Manhã, a contrastar com a do Público ou do Diário de Notícias. Somos assim e temos sido felizes.
O pior é que o paradigma mudou. A crise mostra agora todos os dias que, com palpites e improvisações, nunca mais vamos conseguir sair da cepa torta. É preciso muito trabalho, muito empenho, muita coragem, muita audácia, muita capaidade de mudança. Começando por aceitar, finalmente e de uma vez por todas, que a inteligência não se aprende. Pode-se ir aperfeiçoando. Mas ou se tem ou não. É irremediável e não há compadrio que nos valha. Vão olhando para o Politécnico de Tomar e para o de Leiria...
Por conseguinte, escolher em cada momento e para cada função, os melhores, os mais capazes, os mais qualificados é agora uma necessidade, não uma cedência dos instalados, e ainda menos um favor. Sobretudo na esfera política, onde tudo se ganha ou tudo se perde.
O quadro acima implicou algumas horas de trabalho, mas valeu a pena, porque não havia até agora qualquer comparativo actualizado dos resultados eleitorais, que pudesse servir de base para uma análise rigorosa da nossa situação presente. Olhando para ele, a primeira evidência é a disparidade entre Tomar e Abrantes, tão próximas e afinal tão diferentes. Uma governada pelo PSD há vários mandatos, a outra pelo PS desde o 25 de Abril. Uma com um ex-secretário de Estado, e agora ministro no actual governo, como presidente da Assembleia Municipal (Jorge Lacão); outra com um ex-secretário de Estado, que será ministro de Estado no futuro governo de PP Coelho (Miguel Relvas), salvo percalço imprevisto, que a política é sempre muito escorregadia, também como presidente da Assembleia Municipal.
Mas vamos por partes, para maior facilidade de entendimento. Lendo o quadro com atenção, cai por terra a hipótese, sempre acalentada aqui pelas margens do Nabão, de uma união de esquerda, com programa comum. Não serviria para grande coisa, visto que a junção eleitoral PS+CDU+BE, além de problemática, apenas permitiria, nas condições actuais, eleger três vereadores, roubando portanto um aos IpT. Convenhamos que tanto trabalho para eleger três vereadores, numa autarquia de sete membros, equivaleria a ensaiar várias composições para viola, a tocar atrás de um enterro.
Outra constatação contra a corrente unanimista local é que, apesar das várias proclamações mais ou menos inflamadas, as três principais forças políticas locais (PSD/PS/IpT) perderam votos em relação a 2005. Sinal de que a sua actuação anterior foi castigada pelos eleitores. No caso dos IpT, além da citada fuga de votos, cai também por terra a proclamada importância dos 4 mil e 600 votos obtidos. O cabeça de lista era o mesmo que obteve quatro anos antes quase 5 mil votos, e já fez dois mandatos como presidente da edilidade. Acontece que em Abrantes, onde o cabeça de lista independente nunca foi presidente, logo à primeira tentativa a sigla I obteve 3 mil e 800 votos. A demonstrar, entre outras coisas, que águas passadas não movem moínhos...
Duas últimas notas. Uma para assinalar a diferença abismal entre Tomar e Abrantes, no que se refere às discrepâncias entre eleições locais e eleições nacionais. É ponto assente que naquelas se vota geralmente em pessoas e nestas em siglas partidárias. A ser assim, os tomarenses andam mesmo desiludidos com os autarcas que têm tido. Basta reparar na diferença entre as votações obtidas pelos dois principais partidos nas legislativas e nas autárquicas. Em Abrantes há um relativo equilíbrio. Em Tomar há uma diferença abismal. Porque será?
A outra nota referindo que, em 2013, ou quando o actual elenco autárquico vier a cair, os políticos e os eleitores locais vão ter um problema bicudo para resolver -o facto das três principais forças políticas (as únicas representadas no actual executivo) terem de ir para as eleições queimadas até ao cerne. Porque a real situação é esta: A oposição PS+IpT é maioritária, mas os seus dirigentes nunca se quiseram entender, nem se prevê que tal possa vir acontecer. O grupo liderado por Pedro Marques afirma que o PS, por estar coligado, é tão culpado como o PSD pela situação actual, e tem toda a razão. O PS contrapõe que, caso não se tivesse coligado com o PSD, Miguel Relvas teria feito o acordo com os IpT, e também tem toda a razão. Mas com razões deste tipo nunca mais vamos conseguir deixar de andar à deriva, ao Deus dará, ao sabor dos improvisos, num clima de desenrascanço crónico.
Resta a uns e a outros arranjar coragem para fazer o que é preciso e cada vez mais urgente -correr com esta maioria relativa, que quanto mais tempo se mantiver no poder, mais nos irá prejudicar. Tal como acontece com o governo Sócrates. Mas aí, PP Coelho está só a aguardar que o PS tome as medidas mais impopulares e que Cavaco seja eleito, para logo a seguir calçar os patins aos socialistas. Em Tomar, Luís Ferreira e Pedro Marques estão à espera de quê? Que venham umas chuvadas de notas de 500 euros?
11 comentários:
Não vale apena comparar Tomar com Leiria, a não ser para um exercício de masoquismo. É outro campeonato e lá tudo tem outro enquadramento: as estradas e auto estradas, as indústrias grandes e pequienas, o comercio de pequenas, grandes e muito grandes superfícies, os postos de trabalho e os novos residentes, a influência política (porque a "luta" é com Coimbra e Lisboa/Santarem, Barreiras Duarte diz que Leiria é um anão político!). Quanto a politécnicos, está tudo bem, mas o de Leiria já vai com quase 12.000 alunos. Em Tomar, até no recente processo eleitoral só houve listas únicas. Todos muito unidos, como sempre.
Podia ser diferente? Podia, como já foi, mas era com outras lideranças!
Pedro Miguel
Professor, não são apenas os tomarenses que andam desiludidos com os autarcas; os portugueses estão desiludidos com os políticos que nos governam!
Ferreira sabe que no dia colocar em causa a coligação com o PSD, este irá acasalar com os Independentes de Pedro Marques.
AA
"Não serviria para grande coisa, visto que a junção eleitoral PS+CDU+BE, além de problemática, apenas permitiria, nas condições actuais, eleger dois vereadores, roubando portanto um aos IpT."
A ser assim, quem ficaria com os quatro restantes?
O PSD?
..."O quadro acima implicou algumas horas de trabalho..."
Percebi bem ou é engano?
É que qualquer vivaço de 12 anos produz melhor obra em 15/20 minutos.
De resto, a "profunda" análise político-eleitoral dele decorrente é de uma superficialidade confrangedora.
Trabalhar em cenários exige saber fazer múltiplas combinações com as variáveis a "variar",nunca estáticas.
O eleitorado tem sempre reacções inesperadas a fenómenos novos,como por ex. a coligação X,Y ou Z.
O voluntarismo,o sei falar e dissertar sobre tudo,aliados ao desconhecimento real de muitas matérias,podem conduzir os mais "ilustres e dotados" a graves erros de análise e à estéril tentativa de transformar a fantasia e os desejos pessoais em realidade,mas virtual.
Os novos escolásticos andam por aí.
Olho vivo e pé ligeiro,aconselha-se!
Para anónimo em 22:14
Quando e se tiver vagar, faça-me o favor de descer da sua autocátedra de auto-suficiência e apresente-me esses tais vivaços que sabem e conseguem fazer quadros melhores do que o aqui apresentado em 15/20 minutos. Era bom era! Mas sabe muito bem que aquilo que escreve não passa da tão conhecida basófia portuguesa. Somos todos realmente extraordinários seja no que for, mas quando de trata de passar à prática...
Quanto ao seu parlapié sobre reacções inesperadas do eleitorado e coligações X Y ou Z, se calhar seria melhor ler com mais calma o que escrevi. Constataria então que, NO ESTADO ACTUAL DAS COISAS, os eleitores de 2001/2, 2005 ou 2009, de certeza que já não poderão alterar o sentido de voto nessas datas.
A sua evidente vontade de ofender, de amachucar, de apoucar, de desacreditar, forçou-me a usar estilo idêntico. Quem com ferros mata...
Sobre o olho vivo e pé ligeiro, permita-me que acrescente bom-senso e um módico de educação e de tolerância.
A.R.
Sabe o que é uma coisa chamada "Excel"?
O resto da arenga fica ao critério da análise dos leitores.
Para 23:15
Estamos a falar de coisas diferentes. Como decerto sabe, há primeiro as ideias e depois os instrumentos. Até nessa lamentável prática agora corriqueira do corte e cola, primeiro é necessário determinar o que se deve copiar e com que sequência.
Neste caso do quadro comparativo, antes de recolher os dados foi preciso seleccioná-los, e antes da selecção foi necessário estabelecer os critérios da dita, tendo em vistas os objectivos a alcançar.
Tudo isto leva o seu tempo a elaborar mentalmente, como bem sabem todos aqueles que ainda não perderam o cada vez mais raro hábito de pensar maduramente as coisas.
Concordo, todavia, que esta sua resposta foi cordata, ao contrário daquilo que eu esperava. A demonstrar que me dirijo a uma pessoa "de boa companhia".
Cordialmnente,
A.R.
REPITO
"Não serviria para grande coisa, visto que a junção eleitoral PS+CDU+BE, além de problemática, apenas permitiria, nas condições actuais, eleger dois vereadores, roubando portanto um aos IpT."
A ser assim, quem ficaria com os quatro restantes?
O PSD?"
Sr. Prof. Rebelo, ainda não respondeu! Não leu?
A sua pergunta permitiu corrigir um lapso. Deve ler-se TRÊS vereadores,onde se lia dois, como de resto se deduzia da própria redacção, pois roubando um aos IpT e tendo o PS dois...
Com três vereadores para a hipotética união de esquerda, o PSD teria outros tantos e os IpT um.
As desculpas pelo lapso.
A.R.
"A ANÁLISE POLÍTICA É UMA SECA. E NÃO INTERESSA NADA!"
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-Uma frase que define bem a mediocridade da classe politica vigente no País.
-Isto de analisar o score que cada partido tem/teve só serve para ocupar tempo a quem nao tem mais nada que fazer.
-Está mais que visto nestes 36 anos de democracia que os Partidos Politicos existem para se servirem a eles e não aos portugueses.
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