"Aos 69 anos, Elie Zausa, há nove anos presidente de câmara (independente) da localidade de Budos, 688 habitantes, a cerca de 50 quilómetros de Bordéus, é bem conhecido. Viticultor reformado, começa o seu dia de trabalho às 7 da manhã, percorre as ruas da povoação, monta ele próprio a ornamentação de Natal, ou renova o saneamento de uma habitação camarária. Nada o assusta ou lhe escapa. "Acusam-me de gerir a autarquia com uma empresa, mas tenho muito orgulho nisso. Passa tudo por mim, porque sou legalmente responsável por tudo", diz-nos com a sua voz rouca. Só tem um ponto fraco: a contabilidade. "Nunca convém acreditar nas contas que ele faz. É sempre conveniente conferir", confirmou-nos a secretária da autarquia, Nicole Pascaud.
O autarca dirige de forma autoritária esta pequena localidade tranquila, cercada de vinhas. Não há estabelecimentos, excepto um restaurante. Todas as tentativas para implantar comércios fracassaram, e as empresas que havia, serrações e uma padaria, fecharam há mais de 20 anos. Os impostos são quase nenhuns, pois as vinhas estão isentas. Quanto ao IMI, a população é pouca e praticamente estacionária. Em dez anos apenas foram construídas 50 casas.
Contudo, o cidadão Zausa, trabalhador incansável considera-se um autarca feliz. Desde 2001 conseguiu fazer várias obras, sem aumentar os impostos locais, nem recorrer demasiado a empréstimos. Rede de saneamento (3 milhões de euros), restauro da igreja (300 mil euros), sala polivalente (400 mil euros), requalificação da antiga sala polivalente (50 mil euros), uma sala de aula (150 mil euros), reparações no edifício-sede da "Mairie" (40 mil euros) um mini-terreno de jogos para a juventude (50 mil euros), parque de estacionamento, lavadoiros, limpeza das paredes exteriores, criação de percursos para caminhadas...
Em cada caso, consegue sempre que os subsídios do governo central e/ou das entidades regionais sejam superiores a 50% e se aproximem mesmo dos 80%. O segredo de um autarca que confessa nunca se ter interessado pela aldeia durante mais de 40 anos? "Tenho conhecimentos e astúcia; e não faço obra quando não tenho dinheiro."
Claudia Courtois, correspondente em Bordéus, Le Monde, 25/11/10
Tradução e adaptação de António Rebelo
Nota final de Tomar em dianteira
Em França não há Juntas de Freguesia. Cada localidade, por mais pequena que seja, tem o título de comuna e a sua "mairie", presidida por um "maire". O equivalente do nosso presidente de câmara. O do texto acima é "maire" eleito por um corpo eleitoral de pouco mais de 600 cidadãos. O de Paris é igualmente "maire", com os votos de mais de 5 milhões de inscritos. Mas ambos têm igual dignidade e autoridade, ostentando nos actos oficiais (por exemplo nos casamentos civis, que são sempre celebrados pelo "maire", na qualidade de oficial do registo civil) uma fita tricolor em diagonal ( um pouco como as raparigas dos tabuleiros), símbolo do seu estatuto de representantes eleitos pelo povo. Existem em França cerca de 39 mil "mairies". Porém, tanto quanto consegui apurar, nunca alguma delas se arriscou a mandar fazer uma rotunda de 515 mil euros + IVA, o preço da nova versão da do paredão-mijatório. Verdade seja dita que o país também é outro. Os cidadãos franceses têmpor vezes hábitos perigosos. Já no século XVIII -durante a Revolução Francesa- mandaram cortar a cabeça do rei e da rainha. Portanto, o seguro morreu de velho. "O medo é que guarda a vinha", reza um velho anexim bem português.
2 comentários:
Julgo estar mais correcta a denominação "paredão-mijatório".
Já ouvi chamar-lhe "muro das lamentações", mas penso não estar adequada, porque seria pequeno demais.
Muro da Mijação e da Cagação, que eu hei-de lá ir fazer o serviço completo logo que a oportunidade se proporcione...
Enviar um comentário