sábado, 13 de novembro de 2010

RETRATOS ANTIGOS DE UM PAÍS DE LUXO QUE, POR UM MOTIVO OU OUTRO, TODOS NÓS VISITÁMOS

O título e o texto seguinte foram copiados da Revista Única, do semanário EXPRESSO, com a devida vénia e os nossos agradecimentos.

"Onde o nosso Comendador, chato como só ele sabe ser, descreve um país imaginário onde tudo é luxuoso e fantástico -criando a falsa  e perniciosa ilusão de que é possível viver num país assim."

"Conheci um país, meus caros amigos, onde o IVA era a 16 por cento. Os cidadãos viviam contentes e satisfeitos e só tinham medo de uma coisa: que os subsídios da CEE acabassem de repente. Mas, como costumavam comentar, "amanhã não seria a véspera desse dia".
Nesse país distante -são anos que nos separam dele- era possível viver sem trabalhar. Os imigrantes, vindos de todos os lugares do mundo, trabalhavam por todos. Faziam estradas, pontes, centros culturais. E de tal modo era bom esse país que, de lugares distantes da Europa, chegavam engenheiros e médicos apenas para trabalhar nas suas obras ou amanhar  os seus jardins. Os naturais, esses, congratulavam-se com sinecuras que o Estado distribuia abundantemente. Também havia uns poucos que se esforçavam e outros que diziam que aquela vida era insustentável, mas eram raros e tinham a alcunha de "velhos do Restelo" ou de "profetas da desgraça".
Nesse país construíam-se estádios de futebol. Muitos estádios de futebol -uns monocolores, outros às pintas, outros ainda às riscas. Uns eram construídos dentro das cidades, outros nos arredores; uns para clubes de futebol lá jogarem, outros apenas para enfeitar a paisagem e permitir que empreiteiros barrigudos lucrassem com o esforço de cimento e de suor dos engenheiros da Ucrânia, dos médicos da Roménia, dos advogados da Rússia, que eram imigrantes  e capatazes de obras, ou com as migalhas dos africanos e brasileiros que também por lá andavam.
Nesse país também havia bibliotecas e centros culturais. Dizía-se -mas seria lenda- que havia vilas com mais bibliotecas do que leitores ou mesmo do que livros -porque não havia terriola que não tivesse o seu auditório, o seu museu, a sua biblioteca e os seus programadores culturais. Nesse país, quando havia obras, a que se chamavam Polis, havia festas com bombos e fanfarras a anunciar as mudanças, e só depois chegavam os trabalhadores que eram, como sempre, estrangeiros.
Mas nesse país o que mais havia era estradas e autoestradas que não se pagavam. Uma pessoa queria ir de uma terriola a outra e só tinha que decidir por que autoestrada seguiria. Chamavam-se SCUT porque eram Sem Custos para o Utilizador; o utilizador não pagava nada e podia andar por elas à vontade. Nesse país havia mesmo uma região que era aquela que no mundo tinha mais autoestradas por habitante, ou por metro quadrado, ou por outro critério qualquer. Claro que as autoestradas passavam ao lado dos estádios de futebol, porque sendo uns e outros tantos, era impossível estarem longe.
Toda a gente queria viver nesse país. Estava no pelotão da frente. E, desde que os subsídios continuassem, apenas era preciso falar de reformas, para parecer que se estava a fazer alguma. Não era mesmo preciso fazer reforma nenhuma. O país vivia à conta.
Nunca mais vi esse país. Não sei onde fica, a idade levou-me a memória. Sei que é longe, e que na minha memória a fantasia se mistura com a realidade. Nem me parece que seja possível haver um país assim, tão cheio de coisas inúteis, que se dê ao luxo de ter médicos, juristas e engenheiros a servir de criados de mesa e de operários da construção. Nem que seja possível confiar apenas em subsídios, sem perceber que eles um dia acabam. Porém, sempre que falo desse país, alguém me diz: "Espere aí! Eu lembro-me de um país qualquer assim" -e é isso que me indica que, se calhar, eu o vi tal e qual como o descrevo aqui."

COMENDADOR MARQUES DE CORREIA

Adenda de Tomar a dianteira

E eu conheci uma cidade desse país que era linda e calma, mas já não me recordo do nome . A idade! Lembro-me também que os seus habitantes eram um bocado megalómanos. Pretendiam que viviam numa cidade média, quando todos os forasteiros bem viam que não passava afinal de uma aldeia em ponto grande.
Por causa da dita mania, havia agenda cultural, dois ou três semanários, cinema todos os dias e animação todas as noites estivais, cinco autarcas a tempo inteiro, adjuntos e secretárias, telemóveis de topo e pópós de gama alta. Tudo à custa do orçamento.
Tinham até uns curiosos sanitários exteriores, com balcão de recepção e tudo, caso único no país. Pululavam as grandes obras. 500 mil euros para uma rotunda, 400 mil para uma barraca-mercado provisório, 190 mil para um caminho pedonal na horta do vizinho, 2 milhões e meio para arranjar o exterior do maior monumento lá sítio, 6 milhões para uns museus, etc. etc. Só não havia verbas para pequenas obras de manutenção. Tudo o que fosse inferior a 50 mil euros nunca era executado. Por falta de cabimentação, como diziam os entendidos.
Até que um dia, ia a dívida global já na casa dos 40 milhões de euros, ou sejam 1025 euros por eleitor inscrito, apareceu uma delegação da senhora dona Merquel, cujo porta-voz foi claro e conciso: "Acabou-se a mama! Vinte anos já chega! Recusamo-nos a continuar a trabalhar  para sustentar chulos! Têm uma semana para adaptarem o nome desta terra aos novos tempos. Aqui têm três hipóteses. Escolham uma. Tomar juízo, Tomar cautela, ou Tomar veneno, caso falhem as anteriores. Neste último caso, é favor não esquecer de providenciar antes dinheiro para o funeral. Os outros não têm culpa nenhuma das vossas asneiras ao longo de todos estes anos."

Manel Descasca - Servente de pedreiro

5 comentários:

Anónimo disse...

Gostei da forma como criou e desenvolveu o texto
Parabens

Só não compreendo, porque é que há tanto palerma na politica

Anónimo disse...

Ó Rebelo!

Não te tenho por ladrão,mas olha que és um grande farsante e CENSOR de tudo o que te cheira a crítica à tua impoluta pessoa ou aos amigalhaços xuxas que só sobrevivem sentados à manjedoura do Estado.

És um embuste dos grandes!

Mesmo que censures,ficas a saber que nunca me enganaste...

Anónimo disse...

...sic...

Anónimo disse...

Deixai-o, lentamente vai agonizando e gemendo sozinho!....

Anónimo disse...

Ele até tem um plano para salvar Tomar...mas não o mostra a ninguém...

...calculem...!!!