UMA HIPÓTESE ABSURDA

Como sempre sucede durante as crises, avolumam-se as dúvidas, a ansiedade, o temor perante o futuro, enquanto se vão procurando soluções mais ou menos miraculosas para ultrapassar as crescentes dificuldades. Em Tomar, onde a crise local começa a sobrepôr-se à nacional, devido à agora evidente carência de planos coerentes, adequados e profícuos, os cidadãos buscam com denodo hipotéticos salvadores. Ainda não interiorizaram que o problema não é de pessoas, mas de projectos. O último achado que circula por aí, sobretudo entre os funcionários públicos, é o eventual regresso de António Paiva à política autárquica. Uma hipótese estapafúrdia e absurda. Eis porquê:

1 - Paiva já fez dois mandatos + três quartos do terceiro. O seu evenual regresso não poderia portanto ultrapassar um ano. 2 - Com a nova lei, o ex-presidente não poderia acumular a sua pensão de aposentação com o vencimento. Qual seria então o seu interesse? Dedicar-se ao bem comum? Auferir as senhas de presença e outras modormias? Demonstrar aos seus detractores que continua a vencer eleições? 3 - António Paiva é um autoritário inteligente. Sabe muito bem que os tempos são outros. Mudaram radicalmente. Governou em período de farturas. Agora há cada vez mais miséria e fome. 4 - Sabe igualmente que as suas orientações tácticas e estratégicas continuam a ser seguidas religiosamente, revelando-se pouco, nada, ou mesmo escandalosamente inadequadas aos novos tempos. 5 - Tem hipóteses e preferirá certamente um lugarzito em Lisboa, como membro do governo. 6 - Se ainda assim se deixar tentar por uma espécie de "revanche" social, pode vir a prejudicar-se e a prejudicar o PSD, pois não é nada certo que consiga ganhar com maioria absoluta, e sem ela nada feito. Não é nem gosta de ser homem de negociação, pelo que em caso de maioria relativa, como agora... 7 - Estamos por conseguinte confrontados com uma hipótese absurda.

A hipótese Paiva, como a de um tal Américo, tem no entanto uma utilidade para o PSD e outra para quem goste de analisar a política local. Para o partido laranja, permite desviar as atenções do cada vez maior desgaste político da actual maioria relativa e da infeliz coligação. Para os analistas, confirma que os políticos locais ligados ao executivo já se aperceberam da necessidade de encontrar caras novas, uma vez que os actuais eleitos estão irremediavelmente queimados perante a opinião pública. E ainda só estamos em 2010. A mais de 30 meses da futura consulta eleitoral, salvo percalço imprevisto.

Mas mesmo com eventuais caras novas, não será nada fácil convencer os eleitores. Sobretudo o eleitorado urbano, que representa mais de 50% do total. Muitos já perceberam, finalmente, que o problema não é de pessoas. É de ideias, de planos e de capacidade de realização, adequados aos tempos que correm e aos que aí vêm. As obras financiadas com fundos europeus já serão coisa do passado na próxima campanha eleitoral autárquica.

Tudo aspectos que os actuais autarcas do executivo demonstram a cada passo não ter nem entender. Infelizmente para eles e para nós. Resta-nos desejar que assumam a sua irrelevância daqui até lá, e que tenham a coragem de agir em consequência. Oxalá!