Era para redigir mais uma coisita sobre a política local. De súbito, porém, veio-me à memória aquele dito popular segundo o qual "Em terra de cegos, quem tem um olho é rei". Vai daí, sabedor de que vivemos agora em República, busquei um zarolho do tempo da monarquia. Apareceu-me Camões, que só não foi rei porque não nasceu em terra de cegos. Azar dele? Ou sorte? Em qualquer caso, excelente ocasião para relembrar este soneto que, no meu modesto entendimento, merecia ser mais conhecido e tido em conta por estas paragens. Sobretudo na área política e depois de 2008, por óbvios motivos. Mas quê!
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal, ficam as mágoas na lembrança;
Do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de maior espanto,
Que não muda já como ocorria."
Luís Vaz de Camões (1524 - 1580), Sonetos
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