"Esqueçam o que a ciência política tem dito sobre declínio da participação política em Portugal. Ao contrário do que se pensa, há por aí um vigor militante que opera subterraneamente. A crer no jornal i, desde as últimas legislativas, os partidos não têm parado de conquistar militantes. Todos viram aumentar número de filiados, mas o que mais impressiona são os valores para PSD e PS. Com a vitória de Passos Coelho, juntaram-se ao PSD 9.900 novos militantes, um valor que, ainda assim, compara mal cm os 19.552 que se filiaram no PS no último ano e meio.
É interessante procurar saber o que motivou estes milhares de portugueses, numa altura em que a imagem dos partidos anda pelas ruas da amargura. Em todo o caso, esta pujança militante talvez seja, no essencial, importante para revelar como se estrutura hoje o poder partidário.
A ideia de que há uma lógica de reprodução de poder nos aparelhos dos partidos, independente do sentimento dos cidadãos não é nova. Pode mesmo ser vista como uma lei de ferro do funcionamento dos partidos: estes, para subsistirem, precisam de garantir níveis de coesão interna que requerem algum tipo de fechamento. A questão é, contudo, de grau.
No passado, umas vezes melhor outras pior, os partidos portugueses foram encontrando formas de se sintonizarem com a sociedade e com os grupos sociais que representavam. Hoje alguma coisa está a mudar. A sensação com que se fica é que o militante de base, em lugar de estar sintonizado com a sociedade, passou a estar em sintonia com o presidente da concelhia à qual pertence, criando-se assim uma bolha que separa sindicatos de voto e caciques locais do conjunto dos portugueses.
O fenómeno é particularmente visível quando pensamos no poder autárquico... ... ..."
Pedro Adão e Silva, A revolta dos Paradas, Expresso, 09/02/13, página 48
Nota final
Outro que, tal como Woody Allen, visivelmente esteve em Tomar há pouco tempo.
Os destaques são de Tomar a dianteira.
2 comentários:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
É muito interessante este artigo!
Um dado que apetece mesmo conhecer é a área de actividade destes novos recrutas. À partida parece muito positiva esta avalanche a "inundar" os partidos políticos.
Mas...., convém desconfiar.Por isso era salutar conhecer se foi escancarada uma quinta "estrada".
António Sérgio, numa carta a um poeta (Teixeira de Pascoais), dizia que padecíamos de uma educação "sentimental", que cria o "desafeto à iniciativa", pelo que no nosso País só havia quatro estradas:
"A fortuna herdada, o casório rico, as profissões liberais, o funcionalismo"(*)
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(*) "Teixeira de Pascoais- a Saudade e o saudosismo" - pág. 143 - Assírio e Alvim
A dada altura começou a haver também a carreira militar.
O texto que reproduzi em parte refere sobretudo o caso do PS em Matosinhos.
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