segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Falsa notícia

Uma folha informativa local titulou na sua mais recente edição isto: Igreja de Santa Maria dos Olivais - Pedra do pórtico da entrada principal da igreja está "doente". E logo a seguir, a encabeçar a pretensa notícia: A pedra do pórtico da entrada principal da Igreja de Santa Maria dos Olivais em Tomar está a deteriorar-se, consequência da denominada "doença da pedra", que lentamente vai destruindo as imagens na pedra.
Seguem-se, no citado texto, dois parágrafos deveras curiosos: Para além da situação ser visível, e evidenciar já um avançado estado de deterioração, vários tomarenses já se manifestaram, alguns dos quais através de cartas enviadas à Câmara Municipal a alertar para a situação. Segundo os mesmos cidadãos, é dever da autarquia tomarense informar as autoridades responsáveis -a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), que tutela o monumento, património nacional desde 1910.
Abstenho-me de nomear a folha informativa em causa. Não se trata aqui de atacar quem quer que seja. Apenas de tentar esclarecer com rigor aqueles que fazem o favor de me ler. Dito isto, não posso calar-me perante semelhante chorrilho de asneiras e de impropriedades vocabulares. Indo por partes.
Antes de mais, trata-se de uma óbvia não-notícia: Com factos verdadeiros, mas não novos nem coisa parecida. De nenhuma novidade portanto. O portal de Santa Maria, a segunda igreja mais antiga de Tomar (a primeira é a Charola do Castelo dos Templários), encontra-se no seu estado actual -irremediavelmente corroído pelo salitre- há mais de 50 anos. Prova disso é aquele bloco novo não lavrado, do lado esquerdo do portal, ali colocado para evitar a derrocada do arco, na primeira metade do século passado:

Nestas condições, os alegados cidadãos pretendem que a autarquia tomarense alerte a tutela lisboeta sobre quê?
Segue-se um manifesto abuso de linguagem (para não dizer outra coisa...) por parte do autor da notícia, que não sei quem seja e a quem não quero mal, pois decerto terá feito o melhor que sabe. Escreveu ele que a "doença da pedra" vai destruindo as imagens na pedra. Assim mesmo, com redundância e tudo. O que é totalmente falso. O salitre que deteriorou gravemente o portal, de certeza absoluta que não destruiu nenhuma imagem. Pela simples razão que o dito portal nunca teve tal coisa.
Noutro passo da "notícia", o articulista legendou Rosácea já está muito deteriorada, numa foto mostrando afinal o medalhão do tímpano do portal, com o pentáculo ou signo de Salomão (estrela de cinco pontas), realmente bastante carcomido:


Quanto à mencionada rosácea, encontra-se de perfeita saúde. E até tem uma adequada protecção anti-vandalismo, conforme mostra esta foto.


A fechar a sua peça, o articulista, que desconheço, menciona em tom crítico a implantação por ordem do pároco de corrimãos em aço inoxidável. Tem toda a razão e o meu apoio nesse ponto. Trata-se mesmo de um grave atentado contra o património que nos pertence. Mais um. Perpetrado por quem tem a obrigação moral de proteger os bens públicos à sua guarda. Mas infelizmente também neste caso se trata de uma não-notícia. Os ditos apetrechos modernaços já foram abusivamente instalados há mais de um ano. Parece-me por isso demasiado tarde para denunciar o caso. Concordo contudo que mais vale tarde que nunca!
Resumindo, que a prosa já vai longa. Salvo melhor opinião, a comunicação social nabantina não está bem, nem mostra indícios de melhoras. O que é pena. Neste triste caso do portal de Santa Maria, tenho a impressão que estão até, sem disso se darem conta, a colaborar numa campanha encapotada, tendente a justificar futuras obras marianas de reconstituição do portal. O que seria um desastre de proporções incalculáveis. Oxalá me engane.

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