quinta-feira, 31 de maio de 2012

Temas da imprensa local e regional






Começo com um recado aos cada  vez mais leitores insatisfeitos, que me têm vindo falar sobre a imprensa local. No meu entender, devem ter a honestidade e a frontalidade de escrever ou dizer isso mesmo directamente aos responsáveis dos ditos semanários. Por duas excelentes razões: A - Não faço parte de qualquer das redacções. Os textos publicados com o meu nome em CT são copiados de Tomar a dianteira, naturalmente com o meu acordo. B - Diz o povo, cheio de bom senso, que "Quem tem boca não manda soprar."
Quanto aos temas em destaque, o relevo vai com satisfação para a última página do Jornal de Leiria, onde a leitora São Fernandes usa a habitual secção "Viagens (fora) da minha terra" para louvar o trabalho cultural do Fatias de Cá, cujo motor é, como se sabe, o incansável Carlos Carvalheiro. Temos assim que aquilo que os tomarenses em geral continuam a ignorar, agrada sobremaneira a muitos visitantes. A demonstrar que estamos perante um dos raros percursos locais com estofo, fôlego, envergadura, qualidade, originalidade e modernidade. Força Carlos!
No Cidade de Tomar pode ler-se, na página 3, uma "Carta aberta ao presidente da edilidade tomarense." Nela, num estilo escorreito, o tomarense António Gabriel Cupertino Marques incita Carlos Carrão a actuar quanto antes e em diversas áreas. Infelizmente, não especifica como ou com que meios. Fica-se pelas generalidades, sem nunca descer aos detalhes práticos, ou ascender às sínteses. É pena. Mas se bem entendi, há pelo  menos a intenção de espevitar o eleito adormecido. Ou estarei a ver mal?
Mais adiante, na página 13, Mário Reis continua a tentar defender a sua dama, desta vez com uma crónica intitulada "Tomar na via para o inferno ou em desenvolvimento de marcha atrás?" Pretende que o troço do IC 3 que faz de periférico à cidade, não venha a ser portajado. Era bom era! Mas o tempo das benesses acabou e não mais voltará. Entrámos na era do utilizador-pagador, que durará enquanto houver dívida pública. Para sempre, por conseguinte. Contudo, pode o amigo Mário Reis dormir descansado, se conseguir. Tanto quanto sei, não estamos nem caminhamos para o inferno. Limitamo-nos por enquanto a andar à roda no purgatório nabantino. Cabe aos eleitores, no próximo ano o mais tardar, decidir se querem continuar assim, ir para o inferno ou tomar café no paraíso, sem terem de frequentar o café da Corredoura. Oremos, irmãos!
Nos outros dois semanários, não li esta semana nada que, no meu tosco entendimento, mereça especial referência. Deve ser da crise...
Já nem os mortos respeitam...


Respeitar os mortos é uma tradição cristã bem presente entre os portugueses. Mesmo durante a guerra em África, em circunstâncias por vezes bem difíceis, sempre houve sentido do dever, brio e empenhamento para a cumprir, dando a cada companheiro falecido sepultura digna e mantida limpa. Como na foto supra, no local de uma emboscada, junto à estrada Quibaxe/Pango, Angola, em 1964...>>>

Foto 1

Foto2

 Foto 3

 Foto 4

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 Foto 6

 Foto 7

 Foto 8

 Foto 9

Foto 10

>>> Quase cinquenta anos volvidos, 38 dos quais em democracia, na União Europeia e no país com as fronteiras mais antigas do continente e numa cidade com um monumentos Património Mundial, outrora cuidada e por isso querida e respeitada, a respectiva autarquia aproxima-se perigosamente do grau zero em eficiência e utililidade, proporcionando aos residentes e aos visitantes espectáculos confrangedores. Como o do Cemitério Antigo, onde abundam exemplos de desmazelo, de falta de brio, de deixa-andar, de esperteza saloia.
Logo antes da entrada, de ambos os lados, aquilo mais parece o arrabalde de uma esterqueira (fotos 1 e 2), com papéis, plásticos, folhas secas e congéneres. Já no interior do cemitério, há campas desconjuntadas (foto 3), montes de lixo (fotos 6 e 7), ervas daninhas (foto 8) e lixo escondido (fotos 9 e 10). Tão confrangedor que até mete dó. A provar mais uma vez que o actual elenco autárquico já não está lá a fazer nada, embora continue a receber a inerentes benesses.
Cúmulo da falta de vergonha na cara, há mesmo no canto nordeste, um pequeno sector que não se sabe se são sepulturas, se simples montes de terra (foto 5). Ou uma velha campa memoriada e sobre-elevada, transformada em suporte de plantas trepadeiras (Foto 4).
Bem dizia o almirante Pinheiro de Azevedo, nos idos de 1975 - O povo é sereno!
E os autarcas tomarenses aproveitam para abusar, acrescento eu.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

A cameleira mortalmente atingida por alguns camelos




Tal como fiz há alguns dias em relação às pinheiras da Cerrada dos Cães, alertei há dois anos para o atentado ecológico perpetrado  por operários das obras da Rotunda do Muro Mijatório, que resolveram usar o tronco de uma cameleira para fixar uma tosca bancada para armação de ferro. Escrevi então que a jovem árvore ornamental atingida não iria sobreviver muito tempo. Que era um exagero, que ia sobreviver sim senhor, que o canhestro atentado não tinha grande importância. Dois anos depois aí temos o resultado: a cameleira está a despedir-se das outras árvores, conforme se pode constatar pela quantidade de ramos já sem folhagem. Afinal, quem tinha razão? E agora quem vai pagar? Os do costume, está claro!
E por falar em razão. Pela mesma ocasião, os senhores camaristas, para acalmar o clamor público, declararam ter convocado os arquitectos autores do projecto para virem explicar qual a serventia do Muro Mijatório. Dois anos depois, os ditos arquitectos já vieram? E que explicações deram? É que a opinião pública e a publicada continuam a aguardar notícias...

Somos mesmo assim...



Quando continua em curso no país uma manhosa manobra de assassinato de carácter,  em mais uma tentativa desesperada para destabilizar um governo que está a fazer o que tem de ser feito, "because there is no alternative", talvez valha a pena ler a primeira obra de um autor para quem o desemprego inesperado constituiu uma oportunidade -a de se revelar um ficcionista de primeira água. Conseguiu com todo o mérito o Prémio Leya, de 100 mil euros e faculta aos seus leitores um excelente retrato do povo que somos. Afinal mais uma confirmação do conhecido axioma "O homem é um produto da história, mas pode fazer a sua própria história".
Apenas um pequeno excerto, para espicaçar a curiosidade de quem ler estas linhas: "Dentro do jipe, ansioso por usufruir da liberdade que lhe conferia a momentânea ausência dos dois oficiais, o soldado Jacinto Marta aproximou-se do furriel António Mendes e perguntou-lhe baixinho, com a boca quase colada ao ouvido, se achava que o tenente-coronel Spínola, antes de se pôr a mijar, tirava as luvas. O furriel António Mendes riu-se e confessou-lhe que desconhecia, por completo, o que diziam os regulamentos militares a esse respeito, e que nunca tivera o privilégio de assistir à forma como o tenente-coronel António de Spínola os cumpria. Acenderam cada um o seu cigarro". (Página 62) A cena ocorre algures no Norte de Angola, durante a guerra.

terça-feira, 29 de maio de 2012

São todos culpados

Cada dia que passa torna mais flagrante que os actuais membros do executivo camarário perderam totalmente o controlo da situação. Não há informação adequada, não há projectos, não há dinheiro, não há ordens eficazes. Entre os funcionários reina o descontentamento. Nuns casos por falta de ordens adequadas, noutros por não concordarem com o actual estado de coisas.
No que toca aos eleitos, enquanto a relativa maioria não ata nem desata, desculpando-se ora com a falta de cooperação da oposição, ora com o facto de não haver orçamento aprovado, ora com a crise, PS e IpT continuam convencidos de que vão conseguir passar pelos intervalos da chuva, de modo a aparecerem como políticos impolutos em Outubro de 2013. Grave equívoco. Caso se dessem ao trabalho de conversar com a população em geral, (e não se fiassem nos apaniguados tipo voz do dono), depressa concluiriam que também estão queimados. Os eleitores já perceberam que a triste situação actual apenas se prolonga porque as duas formações oposicionistas, embora garantam o contrário, colaboram de facto com o PSD. 
Desde logo, porque não conseguiram chegar a um entendimento, que conduzisse a eleições intercalares. Depois, porque sem a presença colaborante da oposição, que dispõe de quatro votos em sete possíveis, os  três elementos laranja teriam de optar entre cuco e mocho -submeter-se ou demitir-se. Assim, cuidando que sem intercalares vão continuar a beneficiar, até 2014 e  sem demasiados sobressaltos, das benesses do costume, ardem em lume brando e começam a exasperar uma boa parte da população, indisposta com tanta cegueira, tanta teimosia, tanta incompetência. Porque a verdade é como o azeite na água, por mais que a procurem diluir, acaba sempre por vir à superfície. E o que a presente situação mostra não é agradável para ninguém. Com tanta asneira, umas após outras, o eleitorado que não é cego nem desprovido de mioleira já ditou a sua sentença: São todos culpados! É tudo a mesma gente!

Relvas determinado na prossecução do que tem de ser feito

Após a intervenção televisiva de ontem, sobre o acordo com a Associação Nacional de Municípios Portugueses, Miguel Relvas mostrou-se agradado com o resultado alcançado numa área tão sensível e numa envolvência em que vários interesses instalados procuram minar a acção governamental, como forma ardilosa para tentar perpetuar situações nitidamente obsoletas e inconvenientes em termos de adequada governação.
O ministro referiu-nos que numa primeira linha e com carácter de urgência vão ser atendidos 23 municípios com graves problemas de tesouraria, entre os quais os ribatejanos Alcanena, Cartaxo e Santarém. Seguir-se-à um outro grupo que integrará Tomar. Reconhecendo ser particularmente melindrosa a situação financeira das autarquias em geral, vincou a necessidade de os eleitos locais mudarem quanto antes de paradigma, aprendendo a gerar valor acrescentado em vez de se limitarem a saber gerir dinheiro proveniente do orçamento de Estado.
Sobre os ataques de que tem vindo a ser alvo, que considera infelizmente normais nas democracias de tipo ocidental, admitiu ter cometido alguns erros, fruto do desgaste provocado por uma denodada acção em prol do bem comum. Confessou-se determinado na prossecução do que tem de ser feito para que o país possa retomar a senda do progresso, ao mesmo tempo que não exclui inteiramente a eventualidade de seguir a via do ex-governante socialista Jorge Coelho: abandonar a política, transitando para o mundo dos negócios, em África e no Brasil.
Acentuando que se considera sentimentalmente tomarense, lastimou que não tenham surgido até agora nas margens do Nabão nem equipas nem projectos susceptíveis de dinamizar uma renascença local, manifestando a sua disponibilidade para agir em prol da cidade e do concelho dentro da mais estrita legalidade e qualquer que seja a cor política dos actores locais.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Titanic, Tomar e os caracóis

É do domínio público que a catástrofe do Titanic resultou da crença generalizada de que o imponente paquete era inafundável. Afinal bastou um iceberg... Um século mais tarde, o mesmo está a ocorrer em Tomar. Vivemos uma verdadeira catástrofe económica e social, provocada por dois icebergs: A - O regime democrático, que não nos caiu nada bem, como demonstram os resultados práticos obtidos; e B -  A crise civilizacional, que nunca mais acaba.
Tal como a tripulação e os passageiros do luxuoso navio, que confiaram nos prodígios da técnica, autarcas e eleitores tomarenses estribam-se nos templários, na Ordem de Cristo, no Infante e nos Descobrimentos para recusarem aceitar que a outrora orgulhosa urbe está já em estado comatoso. E no entanto, basta reparar no estado do rio, na limpeza das ruas, na tenda-mercado, no acampamento do Flecheiro e nas cada vez mais gritantes carências, para concluir que infelizmente Tomar está muito doente e vamos de mal a pior. Como bem assinala o vereador Luís Ferreira no seu blogue, o executivo já nem consegue implementar anódinas deliberações votadas por unanimidade, como por exemplo o recenseamento imobiliário do município.
Mas consegue em contrapartida continuar a infernizar a vida aos infelizes munícipes que têm a desdita de necessitar recorrer aos serviços municipais. Segundo a edição electrónica do Templário, o executivo indeferiu um pedido de viabilidade para uma criação de caracóis, na Freguesia de Paialvo, com o argumento de que, em conformidade com o reles PDM ainda em vigor, se trata de actividade equiparada a pecuária, pelo que só pode ser autorizada em terrenos situados a pelo menos 500 metros de qualquer habitação. Nem mais nem menos! Na próxima vez que for encomendar caracóis, quero ver se não me esqueço: -Saia uma dose de caracóis-boi! Porque seria uma grave impropriedade de linguagem pedir uma dose de caracóis de aviário, naturalmente mais baratos que os selvagens...
Ainda assim, julgo que a patente aversão dos autarcas e técnicos superiores nabantinos, que elaboraram e/ou respeitam o lamentável PDM, pelos gastrópodes helicidas pode ter uma explicação perfeitamente racional e aceitável. É que os ditos animais rastejantes, além de andarem sempre ranhosos e com os cornos no ar (como muitos humanos), são hermafroditas. O que significa que têm os dois sexos, pelo que se interpenetram em cada acto sexual. Logo, de cada vez que possui, cada caracol é também possuído. Com éfe, bem entendido! Exactamente como tem vindo a acontecer com os respeitáveis eleitos tomarenses. Andam sempre a tentar ir à lã mas surgem cada vez mais tosquiados. É bem feito! Ninguém os mandou envergar fatiotas muitos números acima das respectivas envergaduras...
Com vossa licença, vou pastar caracóis, enquanto não chegam as próximas autárquicas. Ser industrial de pecuária tem destas servidões...

domingo, 27 de maio de 2012

Para tentar perceber a crise

Não há alternativa, Bertrand Rothé e Gérard Mordillat, Editorial Nova Vega, Lisboa 2011, 150 páginas, 15 euros

Pelo que tenho ouvido, há cada vez mais cidadãos preocupados com a crise que nos assola. Não só devido à sua inesperada duração, mas sobretudo porque não conseguem entender o que se passa. Para todos os que queiram mesmo informar-se e ficar a saber como tudo começou e onde estamos neste momento, este livrinho será muito útil. Escrito a duas mãos por autores de esquerda, quando se chega por volta da página 80 até já se sabe em que partido estarão eventualmente filiados.
Num estilo simples e muito pedagógico, explicam e documentam tudo tim-tim por tim-tim, desde antes da crise dos subprimes. Eis dois excertos: "Tal como aconteceu nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, a desforra serviu de motor a esta transformação. Salvo que -especificidade francesa- essa desforra foi antes de mais intelectual e política, e só depois se tornou económica e social. Foi posta em prática pela segunda esquerda, que daria origem ao social-liberalismo... ... Nunca mais nenhum partido de governo, com excepção do partido comunista, proporá doravante uma qualquer alternativa ao capitalismo. (Página 44)
...Caiu o Muro de Berlim. O bloco de Leste implodiu. O estado de degradação da economia soviética é visto como a prova patente de que apenas o mercado pode gerar, de forma racional, os recursos de que a população necessita, e de que a concorrência é o verdadeiro motor da economia. A partir dessa altura, quem quer que ponha reservas ao mercado ouvirá como resposta: "Mas o que é que vocês querem? O regresso ao comunismo?"
Good bye Lenine! Não há alternativa: o mercado é o único motor da história e do progresso." (Página 60)
Chegado aqui, o leitor que é da esquerda dura e que ainda não perdeu a esperança, perguntará com alguma angústia mal disfarçada: Há ou não há alternativa a isto?
Os autores fornecem duas respostas, uma ambígua outra bem clara, mas ambas alheias: 1 - "Se, para muitos, a glória for a principal finalidade da vida, o Estado pode considerar-se feliz e prosperar; se a maioria, contudo,  desejar a riqueza, o Estado definhará." Saint-Just -Fragments sur les Institutions Républicaines, página 70
2 - "Quando o governo viola os direitos do povo, a insurreição é, para o povo e para cada segmento do povo, o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável do deveres." (Artigo 35º da Declaração dos direitos do homem e do cidadão, de 1793)
Não precisamos de ir mais longe procurar a alternativa" (Página 148)
Boa leitura! Sem nunca perder de vista que somos tidos por um país de brandos costumes... Felizmente!

Abusos intoleráveis

Já em tempo de vacas gordas o pessoal gosta mais de copos e petiscos que de leituras. Então agora, em época de desgraças, ler coisas desagradáveis, nem pensar! Tentando ultrapassar tais idiossincrasias, seguem algumas fotos de ontem, assim em forma de banda desenhada. Vá lá, faça um pequeno esforço. Leia e desculpe o incómodo.

As malfadadas obras da Estrada do Convento já se arrastam há 15 meses, designadamente por causa da falência do empreiteiro anterior. Até agora nunca fora necessário (ou nunca houvera descaramento suficiente para?) vedar todas as tradicionais vias de acesso ao Convento. Aconteceu nesta altura do ano, quando começa a estação alta do turismo.. Sem qualquer respeito pela liberdade de circulação nas vias públicas, constitucionalmente garantida. Abuso intolerável portanto.



 A Calçada de S. Tiago está agora assim...


Com indicações que até eu, habituado a plantas, guias, viagens e que não me considero dos mais burros, estive mais de cinco minutos para perceber este quadro.

A Calçada dos Cavaleiros está assim. Com um detalhe pícaro...

Este painel está a meio da subida, e não à entrada...

O que leva alguns turistas mais ladinos a entrar pelas costuras...

A via principal -Estrada do Convento ou Av. Vieira Guimarães- está assim há mais de um ano.

E não se percebe porque vedaram agora a Calçada de S. Tiago, pela qual sempre se transitou, apesar das obras.




Lá em cima, junto à Porta de S. Tiago, é isto. Tudo vedado e uma indicação "Centro" em português, a apontar na direcção da periferia, de acordo com as plantas distribuídas aos visitantes nos serviços locais de Turismo. Devem pensar que por estas bandas o pessoal anda um bocado fanado da mona...

Mais adiante, junto à fachada norte do monumento, no local do futuro parque de estacionamento para 9 (!!!) autocarros, este quadro não engana. As cinquentenárias pinheiras da Cerrada dos Cães tinham mesmo raízes a mais. Fica o documento, para o caso de algumas secarem, o que me parece provável.

Concluindo por agora, resta assinalar a improvisada via de acesso ao Convento de Cristo, Património Mundial desde 1982. A funcionar há 15 meses. (Visitantes com dificuldades de locomoção, façam o favor de aguardar melhores dias, pois não há mal que sempre dure...) 
Mais palavras para quê? São artistas tomarenses!
Se fossem obras particulares, de certeza que já teriam sido embargadas há muito tempo. Dando de barato que o projecto teria sido aprovado, o que está por demonstrar. Mas tratando-se da Senhora Dona Autarquia, dona de muitas prendas e governada por caseiros de muitos predicados, como está à vista de todos...

sábado, 26 de maio de 2012

Preocupante



Por razões que só os visados poderão explicar, vive-se em Tomar desde há meses um clima pouco saudável e por isso mesmo preocupante. Vejamos.
Contrariando um hábito com pelo menos 50 anos, a autarquia não mandou fazer o tradicional açude do Mouchão, pelo que a roda (feita de novo o ano passado) não funciona. Os senhores autarcas da troika local não deram qualquer explicação; a oposição calou-se; a comunicação social nada disse.
Inopinadamente, foram retirados os bancos da Praça da República há já três semanas. Os senhores autarcas da troika moita carrasco; a oposição moita carrasco; a comunicação social moita carrasco. 
Sem qualquer noção do que sejam liberdades fundamentais, garantidas pela Constituição, um labrego cívico qualquer, com responsabilidade directiva nas malfadadas obras da Estrada do Convento -logo agora que começa a estação turística- mandou vedar todos os acessos pedonais ao monumento, menos o da Mata dos Sete Montes.
Temos assim uma situação deveras curiosa. Quando há qualquer manifestação transitória, que implique interrupção de trânsito automóvel, pedonal ou de estacionamento, a autarquia publica antes (porque a isso é legalmente obrigada) um edital dando conta da ocorrência, com data, prazo e justificação. Agora que os turistas e os habitantes da zona do Casal do Láparo ficaram -não se sabe porquê nem por quanto tempo- sem as três ligações mais usuais para o Convento e arredores, (Estrada do Convento, Calçada de S. Tiago, Calçada dos Cavaleiros), os senhores autarcas moita carrasco; a oposição moita carrasco; a comunicação social moita carrasco. Apesar de durante a noite a Mata estar fechada, o que impede a utilização da única via pedonal disponível. Será que a autarquia tenciona explicar o que se passa? Entendem os digníssimos representantes do povo que não vale a pena gastar cera com ruins defuntos? Vão distribuir helicópteros (ou pelo menos as 10 bicicletas compradas pelo vereador Luís Ferreira) aos turistas e aos habitantes daquela zona?
Tudo isto me parece muito preocupante, mas quê?! Neste momento o que está a dar em Tomar é o tiro ao Relvas. Basta ler os blogues Algures aqui e Vamos por aqui, por acaso ambos de eleitos socialistas locais, que pelo menos têm a coragem de dar a cara. Os restantes devem tomar banho com escafandro, para não se molharem...
Pobres turistas! Pobre terra! Pobre gente!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cumprindo a promessa






Ao assumir oficialmente a presidência da câmara, Carlos Carrão prometeu ir desenvolver esforços no sentido de melhorar a trágica situação local. Decorridos alguns meses, salta à vista que está a ter sucesso, pelo menos em relação ao Rio Nabão. 
Conforme documentam as fotos, Os patos que gostam de chafurdar nos limos têm agora muito mais por onde escolher. Por outro lado, o espectáculo é tão lindo que pela primeira vez desde que existe, a Roda do Mouchão, apesar de ser de origem árabe, resolveu gozar um ano sabático, uma invenção judaica, como o seu nome indica. 
Também inebriados com tanta beleza, alguns tomarenses mais ferrenhos já pensam em mudar o nome do Rio Grande de Tomar. Até já circula por aí uma nova quadra popular, por sinal bem adequada: Visite Tomar/ E o Rio das algas/ Experimente mergulhar/Que faz bem às nalgas...
Pobre rio! Pobre terra! Pobre gente!

Outras terras, mesmos males, outros usos

"Em Itália a "Geração 5 estrelas" do cómico Beppe Grillo vence em Parma

Federico Pizzarrotti, um estreante político, obteve 60% nas eleições autárquicas"


"A tarefa parecia senão impossível, pelo menos muito árdua.Tendo obtido o segundo lugar na primeira volta das eleições autárquicas intercalares em Parma (Região de Emília-Romagne), Federico Pizzarotti venceu no passado dia 21 o seu adversário de centro esquerda, tendo obtido 60% dos sufrágios. Tal como nas restantes 117 comunas sujeitas a desempate, a participação baixou em relação à primeira volta, tendo passado de 65,5% para apenas 51%.
Federico Piazzarotti torna-se assim o símbolo da "Geração 5 Estrelas", homónima do movimento fundado há três anos pelo humorista e blogueiro Beppe Grillo, que obtém a sua primeira vitória importante. Esta nova formação política, que se proclama sem estrutura, sem meios financeiros, sem chefe nem sede, exalta antes de mais os principais valores (honestidade, ecologia, transparência, participação cidadã através da Internet), mas mantém-se omissa sobre outros temas como por exemplo a economia. O movimento defende a saída do euro e rejeita a cura de austeridade do governo de Mário Monti.
"Parma vai ser a nossa Estalinegrado", previu Beppe Grillo, que na segunda-feira a seguir às eleições continuou a usar a mesma metáfora guerreira e duvidosa na sua conta twitter, convidando os seus seguidores a "conquistar Berlim", ou seja criar uma nova surpresa nas eleições legislativas, previstas para a Primavera de 2013. "Geração 5 estrelas" conseguiu eleger também o presidente da câmara em Mira (Venécia, 39 mil eleitores) e Commachio (Emilia-Romagna, 22 mil eleitores).
Esta retumbante vitória em Parma constitui um verdadeiro salto no desconhecido para a capital da indústria alimentar italiana, gabada pela sua qualidade de vida e o seu Festival Verdi. Elegendo um informático bancário de 39 anos, sem antecedentes políticos, este município próspero de 180 mil habitantes (3,6% de desempregados contra 9,3% a nível nacional), inova e volta as costas aos partidos tradicionais que a administraram nos últimos vinte anos. "Para a esquerda, convencida de que ia ganhar, é uma desilusão total", escreveu António Mascolo, responsável pela delegação local do jornal LA REPUBBLICA. "Ainda ninguém consegue imaginar as consequências do que acaba de acontecer".
Para compreender o impacto do acontecimento, há que recuar a Setembro de 2011, quando o presidente da câmara, de centro-direita, Pietro Vignale, foi forçado a demitir-se para dar lugar a um administrador nomeado pelo governo de Roma. A má gestão e a mania das grandezas de Vignali, bem como as manifestações semanais de cidadãos descontentes sob as janelas do seu gabinete, forçaram-no a abandonar, deixando um passivo de 600 milhões de euros. [Em Tomar ainda estamos só nos 80 milhões de euros de passivo, mas também só temos 40 mil habitantes. Vamos portanto no bom caminho.]
O escândalo de Parma poderia talvez ter tido outro desfecho, se não tivesse sido ampliado a nível nacional por intermédio de outros casos mais mediáticos, que não poupam nenhum sector político. O centro esquerda debate-se com o processo Lusi, tesoureiro do antigo partido da Margarida, que roubou 20 milhões de euros de reembolsos eleitorais. Na Liga do Norte, o fundador Humberto Bossi e os seus dois filhos são arguidos num processo por "desvio de fundos públicos". Do lado do Povo da Liberdade (PDL, direita), fundado por Sílvio Berlusconi, o presidente da importante região da Lombardia está a ser interrogado judicialmente sobre umas principescas férias, oferecidas por um empresário.
Foi neste contexto de crise moral e de crise económica que o Movimento 5 estrelas começou a prosperar. Enquanto Beppe Grillo atacava as "manigâncias partidárias" e a "Rigor Montis" (trocadilho com "rigor mortis" = rigidez cadavérica) os seus candidatos preparavam a sua implantação com empenhamento. Jovens e desconhecidos, com frequência diplomados e sem qualquer relação como ar louco e barbudo do seu chefe, ultrapassaram as suas lacunas mediáticas engendrando projectos concretos para cada município. Graças à Internet, estruturaram programas e constituiram equipas. Só em Parma Pizzarotti recebeu pela Internet mais de 250 propostas de colaboração cidadã.
Estes novos eleitos anti-sistema garantem estar desde já operacionais. "Estou desejoso de ver as câmara de televisão abandonarem Parma", explicou-nos logo na segunda-feira o novo presidente do município. "Quero começar a trabalhar quanto mais depressa melhor. Nos próximos dias vou reunir com os banqueiros, tendo em vista a reestruturação da dívida municipal."
Primeira consequência importante da vitória dos "grilos" em Parma, a esquerda não pode cantar vitória, quando afinal consegue escapar praticamente intacta deste primeiro escrutínio da era post-Berlusconi, apesar de apoiar a política de austeridade do governo tecnocrático de Mário Monti. Venceu em Génova (Ligúria) e em Plaisance, conservando assim as suas praças fortes, enquanto que a sua aliada Itália dos Valores ganhou em Palermo. Por seu lado, o PDL de Berlusconi confirma o crescente afundamento e a Liga Norte perdeu todos os confrontos eleitorais em que esteve envolvida.
O Partido Democrata (centro esquerda) cometeu um único erro, mas monumental, apresentando em Parma um candidato do aparelho, já presidente da província, que tinha a desvantagem de não residir na cidade. Pagou caro a sua ousadia e descobriu um novo adversário com o qual terá de passar a contar."


Philippe Ridet, Le Monde, 23/05/2012, página 5

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Na imprensa...




Eis, como habitualmente às quintas-feiras, as primeiras páginas dos semanários da zona. Para não ferir ninguém inutilmente, uma vez que a doença tomarense é crónica, limito-me a pedir aos leitores que as leiam com atenção e tirem as suas conclusões. Pela minha parte, apenas destaco duas peças, uma no TEMPLÁRIO, outra no CIDADE DE TOMAR. Aquela é sobre o regresso ao Brasil do Padre Dilceu, após três anos em Tomar. Na hora da abalada, disse coisas que quando bem interpretadas poderão não ser nada agradáveis. A começar pela citação da primeira página: "Aqui não me sinto realizado como padre". Se já nem um sacerdote lusófono se sente bem por estas bandas, que havemos de dizer nós, os tomarenses de sempre?
O outro texto é uma opinião do ex-vereador PS António Alexandre, candidato vencido numa eleição autárquica posterior. Sob o título "Tomar perdeu o comboio" ousa dar nome às coisas e colocar as pessoas nos lugares que realmente ocupam, que não são bem aqueles que julgam ocupar. Mesmo não sendo o estilo de primeira água, julgo que vale a pena ler e meditar o escrito em questão, do qual destaco a parte final: "É isto que me incomoda, indigna e faz tomar posição. Espero que o incómodo de alguns agora, que a coisa chegou longe demais, leve a uma alteração de comportamento dos partidos e dos autarcas, que se mude de página, se fale de progresso, numa época em que muitos já duvidamos do futuro, e com razão. Mas sobretudo, que não se tomem agora decisões sem estudo e ponderação, que não aumentem ainda mais esta desgraça, que tem sido a gestão autárquica em Tomar." Antes já escrevera algo bem esclarecedor sobre o seu posicionamento actual: "Quando os Presidentes da Câmara, não levam a sério estes assuntos [águas e saneamento], quando os vereadores (todos eles) não se interessam sobre este assunto... ...Vejo com apreensão o laxismo dos autarcas e dos cidadãos em geral..."
É tudo por agora. Façam o favor de estar atentos ao próximo texto.

Têm de rolar cabeças?

Na edição da semana passada do programa "À conversa com elas", na Rádio Hertz, a representante do PSD local foi peremptória: No caso das demoras na prestação de auxílio a vítimas de doença súbita, "têm de rolar cabeças". Suponho que se não tivesse nascimento tomarense e mais de 60 anos de vivência nas margens nabantinas, teria exclamado -Credo! Estamos de novo em plena fase de terror da Revolução Francesa! Assim porém, mesmo não sendo inteligente por aí além, percebi que em tomarês "têm de rolar cabeças" significa apenas "tem de haver culpados, porque estamos mesmo a precisar de bodes expiatórios". "Penso eu de que", fazendo apelo aos meus modestos conhecimentos de semântica... Que nesta bendita terra nunca se sabe.
Em qualquer caso, numa autarquia em que manifestamente as boas notícias são apenas fruto do acaso, sendo as "argoladas" a regra, pretender punir bombeiros que afinal se limitaram e limitam a cumprir ordens...quando as há, no meu entendimento releva mais da tentativa de caça às bruxas que da vontade de fazer justiça.
Falando francamente, também me parece que deviam ter rolado cabeças. Em tempo útil. Mas não eram propriamente cabeças de bombeiros, que esses fazem sempre muita falta, para o que der e vier. Agora que deixaram passar a janela de oportunidade, não vale a pena vir fazer versos à Lua, só para ornamentar a triste e trágica política tomarista. As próximas autárquicas são já ali adiante. E, como dizia o poeta espanhol Miguel Hernandez, "o futuro é o único lugar para onde podemos ir". Com ou sem cabeças a rolar...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Harvard, a melhor universidade do Mundo - Conclusão



A elite dos estudantes de Harvard tece as suas teias nos "final clubs"


"Embora continuem a ser uma especificidade dos campus universitários americanos, como por exemplo Princeton ou Yale, as sociedades secretas de estudantes tornaram-se conhecidas em França através de filmes como The Graduate (1967), com Dustin Hoffman, ou de romances como Love Story, de Eric Segal (1970).
A partir da observação feita enquanto professora na instituição, a socióloga Stéphanie Grousset-Charrière efectuou, no âmbito da sua tese de doutoramento, um inquérito sobre esses clubes de estudantes, locais misteriosos onde se forjam, se consolidam e se reproduzem as teias das elites americanas.
Em Harvard há oito principais final clubs. Muito fechados, exclusivamente masculinos e ainda muito marcados pela tradição WASP (White-Anglo-Saxon-Protestants), [os americanos pura lã], contam cada um entre 20 e 40 estudantes. Perante tal ostracismo, as raparigas tentaram criar as suas próprias estruturas. Nos anos 90, foram criados 7 clubes. Mas a experiência malogrou-se, por falta de recursos monetários e sobretudo de instalações.
Porque uma das grandes vantagens dos clubes masculinos é que eles herdaram um fortuna colossal, ao serem declarados donos dos edifícios-sedes, cujo valor foi avaliado em 2006 entre 17 e 20 milhões de dólares. São oito magnífícas mansões antigas, situadas no centro do campus, com vários salões, talha de mogno e pessoal doméstico. São representados na planta da universidade, mas sem qualquer indicação específica.
A admissão está reservada unicamente aos respectivos membros, salvo em caso de convite, mas mesmo assim só nos salões de recepção, onde têm lugar com alguma frequência festas sumptuosas. Os quartos e os andares superiores são domínio exclusivo dos membros do clube.
Não entra quem quer em tais clubes. É-se sondado após um longo processo de selecção, que dura grande parte do segundo ano. Para se ser escolhido, mais vale ser rico. Cada membro tem de pagar uma jóia entre 2 e 3 mil dólares mensais. Ser campeão nalguma modalidade desportiva constitui uma vantagem decisiva no processo de candidatura. Mas a selecção é severa e só entre 5 e 10% dos sondados acabam por ser admitidos.
O novo membro acaba por saber da sua admissão no clube graças a um cartão de convite, metido por baixo da porta do seu quarto durante a noite. Começam então os ritos iniciáticos, que são naturalmente secretos.
A selecção e o segredo são as duas traves mestras da sobrevivência destes final clubs. O próprio conteúdo dos famosos segredos, aliás frequentemente decepcionantes, não tem qualquer importância. Já a existência de tais agremiações, traça uma fronteira entre os iniciados e os outros. Para conservar o seu prestígio, os clubes cultivam uma relativa permeabilidade com o exterior: alimentam-se alguns rumores e facilita-se uma ou outra fuga de informação.
Este mundo paralelo desagrada de resto à própria direcção da universidade, que tentou sem êxito acabar com ele e agora se limita a tolerá-lo. Embora tenham perdido alguma da sua antiga importância, continuam a ser bastante influentes. Precisamente por ser assim que a alta sociedade americana -não tão meritocrática como por vezes se pretende- cultiva o seu meio."


Isabelle Rey-Lefebvre, Le Monde, 17/05/2012, página 16

Harvard, a melhor universidade do Mundo - 2

O indiano Amartya Sen, Prémio Nobel de Economia, durante uma aula em Harvard. Foto Christopher Morris/VII

Harvard e o mundo dos negócios

"Professora de civilização francesa no Departamento de Línguas Românicas, Stéphanie Grousset-Charrière praticamente não observou a ligação entre os professores de Harvard e as empresas. Em contrapartida, Stéphan Bourcieu, actual director da Escola Superior de Comércio de Dijon-Bourgogne, diplomado de Harvard, foi assistente durante um semestre no Departamento de Management da célebre universidade americana. Recorda a proximidade dos professores para com o meio económico: "As aulas eram dadas por professores muito versados em negócios e também consultores de empresas. É claro que apresentavam durante as aulas muitos casos reais." Uma das chaves mestras de Harvard, segundo afirma, "pois quando se analisam cinco ou seis casos reais por dia, adquire-se uma cultura real de empresa".
A universidade dispõe de um capital de 30 mil milhões de dólares, gerido por uma centena de profissionais, especializados nas subtilezas dos mercados financeiros. As propinas em Harvard são naturalmente bastante elevadas, da ordem de 43600 dólares anuais por cada aluno. Além disso, as contribuições voluntárias dos antigos alunos são bastante generosas. "Como contrapartida tácita de tais donativos, alguns filhos dos benfeitores beneficiam de educação gratuita em Harvard. Privilégio subtil? Ou esquema típico de reprodução social?, interroga-se Stéphanie Grousset-Charrière. Contudo, a universidade assegura vários apoios financeiros, de modo a garantir a primazia da excelência nos seus critérios de selecção. Em 2012 só 5% dos candidatos a Harvard foram admitidos.
"O que me surpreendeu foi o excelente enquadramento docente, com um professor por cada 8/10 estudantes, em estabelecimentos de 2.500 a 3.000 alunos. Os percursos académicos são muito abertos, quase à lista, com uma grande multidisciplinaridade, de que resultam currículos originais. Evita-se assim a especialização precoce de jovens de 18 anos, a quem não se exige que tenham já um projecto profissional bem definido. Referência também para os métodos pedagógicos, muito interactivos", diz-nos o director da Escola Superior de Comércio de Grenoble, Jean-François Fiorina, que visitou três dos 259 colégios de elite, que asseguram o primeiro ciclo universitário americano, concedendo os "bachelor's", equivalente às licenciaturas europeias. Baseia as suas observações sobre o Smith College, o Amherst College e o Wellesley College, onde estudou Hillary Clinton. A respectiva admissão é quase tão selectiva como em Harvard, com 10 mil candidatos anuais para entre 500 e 700 admissões.
Será possível adoptar este sistema em França? "Claro que não, responde-nos Stéphanie Grousset-Charrière. Mas reconheço ter usado nas minhas aulas em Toulouse a experiência pedagógica adquirida em Harvard, suscitando o debate e a interacção. Os estudantes gostaram e solicitaram mais exemplos concretos e maior ligação com a realidade económica e social."

Isabelle Rey-Lefebvre, Le Monde, 17/05/2012, página 16 

terça-feira, 22 de maio de 2012

Harvard, a melhor universidade do Mundo

O autor da nota prévia e da tradução, quando andou em Harvard - Boston...em 2006, durante uma visita guiada.

NOTA PRÉVIA

Numa altura em que abundam as dúvidas e interrogações sobre o nosso futuro colectivo e a qualidade do nosso sistema de ensino, pareceu-me útil traduzir uma peça sobre a Universidade de Harvard, considerada a melhor do Mundo, mesmo por entidades independentes não americanas. Foi publicada no Le Monde de 17/05/2012.


"Os segredos de Harvard, a primeira das universidades
A socióloga francesa Stéphanie Grousset-Charrière analisou o que é o ofício de professor no Campus de Boston - USA"

"Harvard é já um mito americano! Uma vez mais, em 2011, a prestigiada universidade estado-unidense voltou a liderar a tabela classificativa de Xangai. Nada mais, nada menos que 44 Prémios Nobel, 46 Prémios Pulitzer e 8 presidentes dos Estados Unidos, foram formados nesta casa. Harvard acolhe a elite intelectual do país nas suas 10 faculdades, que vão da medicina às artes e do direito aos negócios. A socióloga Stéphanie Grousset-Charrière trabalhou em Harvard como leitora = professora assistente, entre 2004 e 2008, o que lhe permitiu descobrir o interior do chamado "sistema Harvard", sobretudo quem são e como são os seus professores.
O seu processo de recrutamento colocou-a perante as exigências do estabelecimento: "A minha candidatura só foi aceite após quatro entrevistas de recrutamento, de mais de meia hora cada uma, com a respectiva directora de departamento e depois mais três professores" conta a socióloga-docente no seu livro "O lado oculto de Harvard" (La Documentation Française, 232 páginas, 19 €). A "carta de missão" que lhe entregaram depois era extremamente clara: "Em Harvard não se formam só os estudantes, mas igualmente os professores, formatando-os em conformidade com a imagem que devem ter. Não se pode estar doente. Mesmo com 39 de febre deve-se continuar a dar aulas. Deve-se andar bem vestido, sorridente, ar acolhedor e dar sempre o exemplo. Pontualidade, amabilidade, humildade, compreensão, eficácia, disponibilidade, competências, performance e rigor, são as qualidades atribuídas à personagem docente."
O ano académico começa com uma pré-abertura de uma semana de acolhimento e formação intensiva dos novos professores. A primeira aula de cada um é filmada e analisada: "Ensinam-nos a habitar o espaço, a estar à frente da secretária, a varrer com o olhar o conjunto dos alunos." Depois, durante um semestre, os professores estreantes têm aulas de ciências da educação. Aprendem a organizar aulas inter-activas, a apresentar-se, a suscitar perguntas, a usar documentos e suportes informáticos. "As aulas têm de agradar. Os estudantes não devem aborrecer-se e o professor deve interrogar-se sobre o modo como será recebida a sua aula, um aspecto que eu nunca me tinha colocado quando ensinei em França, pois só me preocupava com a matéria dada nas aulas", confessa Stéphanie Grousset-Charrière.
A seguir à pré-abertura escolar, é chegada a altura da shopping week, uma semana durante a qual os estudantes fazem as suas escolhas entre as 900 cadeiras propostas. É a altura para cada professor mostrar o que vale em termos de persuasão: "É importante ter êxito com a sua primeira cadeira e conseguir ser escolhido por um número de estudantes que justifique a sua continuidade. Caso contrário será suprimida sem qualquer hesitação." Cada professor tem de conhecer todos os seus estudantes pelo  nome usual e recebê-los individualmente no seu gabinete. "Durante estas conversas cria-se uma ligação que acaba com o anonimato, mas também e sobretudo combate-se a timidez de ambas as partes, o que os meus colegas franceses têm muita dificuldade em reconhecer. É durante estes encontros que o estudante e o seu professor se escolhem e se comprometem mutuamente a envidar os melhores esforços em prol do êxito comum."
Em Harvard, professores e alunos avaliam-se mutuamente. No final de cada semestre, os alunos que têm essa tarefa atribuem notas aos professores, os quais, caso consigam 4 ou 4,5, numa escala de zero a cinco, têm direito a um diploma, o Derek C. Bok Award, entregue durante uma cerimónia com bolos e champanhe. 
Contudo, o mais estranho para o docente francês ou europeu em Harvard é o modo de avaliação do trabalho dos estudantes. No campus de Boston a noção de média não existe. As apreciações devem ser sempre positivas e construtivas. "Nunca se devem desvalorizar os estudantes. O tom intransigente usado na Europa não faz parte do sistema americano. Não se diz, por exemplo "Isso não é verdade", mas antes "Eis um erro interessante; tentemos perceber qual a sua origem, para evitar que se repita." Vi colegas meus muito tristes por não lhes terem renovado os contratos, porque tinham sido demasiado autoritários, excessivamente categóricos, demasiado franceses, em suma."

Conclui no próximo texto.

Isabelle Rey-Lefebvre, Le Monde, 17/05/12, página 16


Visita à capoeira do conterrâneo José Carlos

A pedido do próprio, Tomar a dianteira visitou e fotografou a casa que foi atribuída pela autarquia ao cidadão José Carlos, que antes pernoitou nas retretes públicas de S. Gregório, durante três anos. Pelo novo alojamento não paga renda, luz ou água. No quintal resolveu instalar uma capoeira, por agora com 15 galinhas poedeiras e um galo. Disse para se fotografar à vontade, desde que não aparecesse nas fotos.

Aspecto actual da fachada, na Rua de Santo António.

Se alguém estiver interessado...

Átrio da habitação.

Aspecto diurno do quarto.


José Carlos, que é crente, mostra o seu presépio.

Aspecto do quintal, com a comida da criação espalhada pelo chão. Só comem fruta e legumes.

As galinhas transitoriamente dentro da habitação.

Ovos de todos os tamanhos...

"Tanta coisa, tanta coisa com a retrete lá de baixo, e afinal tanta casa vazia da câmara e tanta gente a precisar de casa. É uma vergonha!" Disse-nos José Carlos, à primeira vista pobre e mal agradecido, mas na verdade solidário com a desgraça dos seus companheiros de infortúnio.