segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Resposta a um amigo, conterrâneo e freguês


O habitual comentador que assina "Cantoneiro" é um amigo, conterrâneo e freguês. Não só por colaborar no blogue, mas também e sobretudo porque natural da mesma freguesia. Merece por isso uma resposta destacada, que aproveito para igualmente esclarecer dúvidas eventuais junto dos leitores.
As crises, sobretudo quando graves e prolongadas como a presente, são nefastas para o sistema psíquico dos cidadãos, tendendo a provocar em muitos casos confusões, baralhações e simplificações abusivas. Ainda sem fim à vista, a agora denominada "crise do euro" chega a confundir até os políticos mais experientes. Aqui há dias o brilhante sindicalista Carvalho da Silva, com dezenas de anos de experiência e um doutoramento em sociologia, caiu numa contradição sem decerto dela se dar conta.
Disse ele, numa entrevista ao Le Monde (Ver post "Despertar os cidadãos...", de 26/10/2011), que caso os portugueses não acordem para contestar as medidas de austeridade já anunciadas pelo governo, o país irá recuar 25 anos, para o nível social em que estava aquando da adesão à então CEE. "Basta ver o que está a acontecer na Grécia", concluiu. Sucede que os gregos sempre estiveram acordados e bem acordados perante a política de austeridade. Já vão na 14ª ou 15ª greve geral, já queimaram não sei quanto automóveis, já partiram centenas de montras, já feriram alguns polícias, já lesaram gravemente o turismo grego. Mas nada conseguiram em termos de anulação das medidas de austeridade, as quais, pelo contrário, foram agravadas. Logo, o exemplo de Carvalho da Silva demonstrou afinal o oposto do que ele pretendia. Opôr-se à política de rigorosa austeridade, como pretendem os sindicatos portugueses e vêm fazendo os gregos, em vez de melhorar a situação dos cidadãos em geral, tende a agravá-la ainda mais. E não se trata de uma posição ideológica minha, mas de uma simples constatação factual, amplamente mostrada na televisão.
Se até os melhores se equivocam, não espantará ninguém que o nosso Cantoneiro também navegue, neste seu infeliz comentário, em águas algo turvas, como se passa a tentar demonstrar.
Primeiro ponto: Ao contrário do sustentado, não sou um defensor deste governo, como não o fui de qualquer outro. Limito-me a procurar exercer uma cidadania activa e consciente. Apoio as medidas que considero adequadas ao contexto, mesmo que me vão à carteira, como é o caso e de que maneira. Contesto as políticas que no meu entender não são as melhores. Sempre assim fiz com qualquer poder, de qualquer partido, tanto a nível nacional como local. Assim tenciono continuar a proceder. Não contem comigo para seguidismos, tipo clubismo ou fidelidade canina. Segundo ponto: Julgo que os tomarenses e os leitores habituais deste blogue sabem há muito tempo quais são as minhas opções políticas. Dito isto, como não estou filiado em nenhum partido desde 1982, posso vir a integrar qualquer grupo que me pareça capaz de implementar as orientações necessárias para que esta nossa terra mude de rumo. Como também posso manter-me enquanto simples espectador/relator da triste situação que é a nossa. Terceiro ponto: Não me parece que esteja em marcha qualquer golpe de Estado. Temos um parlamento eleito e a funcionar; há um presidente da República igualmente eleito e na plenitude das suas funções; há um governo legal, que resulta da vontade do partido vencedor das eleições, que foram limpas, livres e justas. Que mais queremos? Facilidades? Isso foi no tempo das vacas gordas... Quarto ponto: Creio ser algo delirante essa de que PCP e BE "participam na golpada" ou que "a matilha no poder conta sempre com o seu apoio." Se nunca contou, vai contar agora? Jerónimo e Louçã tornaram-se repentinamente liberais e seguidores dos boys da Escola de Chicago? Se fosse verdade já se saberia, tamanho seria o escândalo. Quinto ponto: Principal negociador e signatário do acordo com a Troika, o PS está desde então eticamente obrigado a apoiar as medidas decretadas e a decretar pelo governo para o implementar. Trata-se de uma questão de coerência e de credibilidade nacional e externa, que muito contribuirá para melhorar a cotação do país junto dos célebres "mercados". Resta-lhe portanto abster-se ou votar favoravelmente, com preferência para esta última opção. Como referia amiúde Vítor Cunha Rego, "as coisas são o que são e não aquilo que gostaríamos que fossem".

Recortes de imprensa

Jornal de Notícias, 31/10/2011, página 49

Pois é ! Uma pessoa lê o título, a chamada de título, e fica entusiasmada. Finalmente vamos ficar a par da Europa do norte, no que toca a escolha de candidatos. Como acabam de fazer os socialistas francêses para escolher o seu candidato à presidência da república. Infelizmente o entusiasmo dura pouco. Logo umas linhas mais abaixo o secretário nacional João Ribeiro é peremptório: "As primárias entre militantes estão previstas na moção de Seguro, mas a sua abertura à sociedade "é assunto encerrado", após a derrota de Assis em congresso." Tudo perdido, por conseguinte? Talvez não.
"Questionado sobre se aquela alteração está garantida, disse que "a direcção nacional não quer condicionar o debate" e "cabe aos militantes fazer propostas". Caberá mesmo? Afinal, o PS - Tomar fez melhor já em 2009. Não abriu totalmente à sociedade -o que é desejável e mesmo inevitável mais tarde ou mais cedo- mas aceitou independentes como candidatos. Na próxima vez será forçado a andar para trás?
Convinha ficar esclarecido quanto antes, porque às vezes perde-se por um esclarecimento fora de tempo...

Jornal i, 31/10/2011, última página

Os agora já célebres candeeiros a 340 contos (1.700 euros) cada um, instalados numa das salas da Jácome Ratton aquando das recentes obras de requalificação e ampliação, continuam a dar que falar na grande imprensa. Mas esses pelo menos servem para alguma coisa, e servem bem. O director daquela escola já afirmou que espalham muito bem o fluxo luminoso e que nem sabia que eram da autoria de Siza Vieira. O raio do preço é que veio estragar tudo. E não se trata de caso único. Ainda hoje a imprensa volta a falar em despesas sumptuárias, desta vez numa escola dos arredores de Lisboa. O projecto previa lâmpadas fluorescentes com suportes suecos a 200 euros a unidade, mas a direcção da escola resolveu procurar no mercado nacional e encontrou suportes de substituição, fabricados em Portugal, a 40 euros cada...
Além destas utilidades caras, outras há que nem utilidades chegam a ser. Para não sair de Tomar, qual a utilidade da barraquinha do Mouchão? Da casa do guarda da Mata, que não tem guarda a viver lá? Da recepção anexa às novas instalações sanitárias na mesma Mata? Da iluminação, uma vez que a Mata fecha sempre ao sol posto? Dos paredões junto ao rio, na zona do mercado? Do elevador no ParqT? Das instalações para café no ParqT? Da ponte metálica Mouchão/ex-Estádio? Das obras de milhões que destruíram as bancadas e os balneários do então estádio? Dos passeios de mais de dois metros de largura na Ponte do Flecheiro, a menos de 10 metros da ponte para peões? Do sistema de energia solar instalado nos contentores do ex-estádio, cujos painéis tapam o sol uns aos outros? Das exposições temporárias no piso térreo dos Paços do Concelho? 

domingo, 30 de outubro de 2011

"A minha solução para a crise"

"Ao retirar-me os subsídios de férias e de Natal -uma forma idiota, reconheço, de pagar os trabalhadores- o governo acaba de anunciar que vai cortar 25% do dinheiro que ganho anualmente. Isto não é justo. Trabalho desde os 19 anos e nunca patrão algum teve queixa de mim: fui intérprete no ministério da saúde, tirei o curso de filosofia como estudante-trabalhadora, fui bolseira da Fundação Gulbenkian , assistente na Universidade Nova e, em 1977, doutorei-me na Universidade de Oxford, numa área, a sociologia, apenas escolhida porque o prof. Salazar a proibia, o que demonstra a pouca iluminação que habitava a sua alma e os extremos a que o temperamento pode conduzir.
Com quem todavia gostaria de falar não era com o Velho mas com o ex-primeiro-ministro, com o presidente da República, com o primeiro-ministro, com o ministro das finanças e com o ministro da educação. Ao primeiro, gostaria de lhe dizer que, após ter empurrado o país para o abismo, o mínimo que dele se esperaria era que não andasse a pavonear-se por restaurantes chiques de Paris, ao segundo de lhe lembrar que o monstro é, em grande medida, obra sua. Aos três últimos, a mensagem pode ser dada em conjunto: despeçam os funcionários que nada fazem.
Durante anos, considerei isto difícil, por imaginar que seriam usados critérios partidários. Mesmo no mundo universitário, onde pensava que se devia manter a chamada nomeação definitiva, por conferir maior liberdade de expressão, mudei de opinião. A contemplação do abismo aumentou, como se vê, a minha capacidade intelectual. O que o país precisa não é de economistas, que entendam de spreads, swaps e hedge funds, mas de alguém com imaginação sociológica. É aqui que entro.
Encontrei uma solução que gostaria de apresentar. Em vez de me cortarem um quarto do vencimento, bastaria despedir nove dos meus colegas que, ao longo dos anos, não escreveram dez linhas aproveitáveis. Já agora, talvez não fosse má ideia pôr na rua os docentes que não preparam aulas, os que faltam aos compromissos académicos, os que promovem os amigos e os que andam a "salvar" o mundo com propaganda que introduzem dentro da sala de aula.
Dir-me-á o ministro das finanças que o país se levantaria em revolta. Nada disso, garanto-lhe, sucederia. Porque há "justa causa". Bastaria pedir a estes "intelectuais" para exibirem uma prova do que, ao longo dos anos, fizeram com os milhares de euros recebidos do Estado. Se falo da Universidade é por ser o habitat que melhor conheço, mas tenho a certeza de que, por essas repartições e empresas públicas, existem casos piores.
Livre desta canga, o Ministério das Finanças poderia distribuir o dinheiro de forma mais justa. Vejamos o meu caso: com a verba dos nove colegas dispensados, eu passaria a receber uma verba idêntica à auferida pelos colegas suiços, num escalão da carreira universitária idêntico ao que ocupo, o que contribuiria para aumentar a minha alegria de viver."


Maria Filomena Mónica, Expresso, 29/10/2011, página 12

Cumplicidades...

Ele há coisas! Quem diria que em tempo de grave crise em aceleração vertiginosa, todas a formações políticas nabantinas viveriam na paz celestial, nunca levantando ondas a quem ocupa e explicitamente beneficia do poder. De tal maneira que quem de fora procure indagar da situação política local, um jornalista alógeno por exemplo, depressa concluirá que no pasa nada. Muito estranho na verdade.
Tanto mais que abundam as situações anómalas, os exemplos de falta de iniciativa, ou os resultados de erros crassos cometidos. Bem mais grave ainda, há mesmo situações duvidosas e até insofismavelmente delituosas, que ao não  serem atempadamente denunciadas configuram casos de cumplicidade objectiva. Que quando venha a haver inquérito judicial tanto abrangerá eleitos como funcionários, uma vez que todos estão obrigados a cumprir a lei e a zelar pelo seu cumprimento. Acontece até que os funcionários não devem cumprir ordens que considerem ilegítimas ou para fins manifestamente contrários ao ordenamento jurídico em vigor.
Consideremos apenas dois casos de bradar aos céus -a auditoria externa às contas do município e os recentes empréstimos. Em relação àquele, a Lei das Finanças Locais é taxativa. O executivo deve enviar para a Assembleia Municipal nomes de entidades externas, individuais ou sociedades de ROC, de entre os quais o parlamento local escolherá e nomeará um auditor para proceder à obrigatória auditoria externa anual das contas. Ora em Tomar tal nunca foi feito, apesar de a citada lei estar em vigor desde 2007. Porquê?
Se tudo está em ordem, não se entende semelhante atitude. Tanto da parte da maioria como da oposição. Se, pelo contrário, há problemas graves, todos são cúmplices, embora uns mais do que outros. Porque a ninguém restem dúvidas: mais tarde ou mais cedo terá de haver rigorosa auditoria externa. Após a qual se saberá enfim se há ou não malversões e quem delas se aproveitou. A verdade é como o azeite...
Os recentes empréstimos, votados após mais de 5 horas de Assembleia Municipal, são igualmente um assunto que pode vir a revelar-se controverso. A lei manda consultar vários bancos, deles obtendo pelo menos três propostas, de entre as quais o executivo escolherá a ou as mais favoráveis. Neste caso falou-se de 13 bancos consultados e apenas três propostas recebidas. Tudo bem, portanto? Nem por isso. Além dos membros da relativa maioria que trataram desse processo, alguém viu as alegadas 13 consultas? Alguém verificou se foram apenas 3, ou se houve sequer 3 propostas? Alguém se preocupou em indagar porque é que a Câmara de Valongo, por exemplo, obteve pela mesma altura propostas de 4,9% de spread, quando a de Tomar apenas conseguiu 7 e 7,5%? Houve o cuidado de verificar eventuais impedimentos legais entre membros da relativa maioria, por exercerem ou terem exercido funções de gerência em alguma das instituições de crédito?
Pedro Marques declarou em tempos, num dos programas "À mesa do café" que os IpT não são "bengala" de ninguém.  Ao que se tem visto, está cheio de razão. Têm sido apenas uma das canadianas da coxa maioria relativa. A outra canadiana fornecem-na os socialistas. Mas esses pelo menos têm um acordo que é público com o PSD.
O que não obsta a que, quando chegar finalmente a hora da verdade, tão culpados sejam uns como outros. Incluindo os ilustres deputados municipais, que no mínimo terão pactuado com manifestas e delituosas ilegalidades, como o tal caso da auditoria que nunca houve. Mas porquê?

sábado, 29 de outubro de 2011

"O medo de naufragar"

"António Machado, pai dos modernistas espanhóis, escreveu nos seus provérbios e cantares: Quatro coisas tem o homem/Que não lhe servem no mar/Âncora, timão e remos/E medo de naufragar. 
A quadra surge-me quando assisto a debates fundados nessa enorme prisão que encerra os homens: a ideologia. 
A um determinado modelo social e económico, como o que vigorou com sucesso depois da II Guerra, faz-se corresponder um conjunto doutrinário que se quer coerente; uma mundivivência que explica ou antecipa mesmo as necessidades sociais e políticas.
A ideologia tornou-se a âncora, o timão e os remos do debate político e cívico. Agora perante a tempestade ela não nos serve. Os modelos em que nos baseámos estão falidos e é provável jamais a eles voltarmos. O Estado Social (saúde gratuita, reformas e pensões previsíveis, direitos laborais extensos, etc.), que ninguém ousa contestar, vai terminar e qualquer outro tipo de organização demorará a ajustar-se. Por sorte ou azar, vivemos esse tempo.
Mesmo entendendo a necessidade das brutais medidas do governo, é necessário abrir pistas para o futuro. No fundo, a ideia é que é necessário voltar a crescer (como se a ideia de um contínuo e inesgotável crescimento não fosse, em si mesma, questionável). Depois, há quem exija o investimento que o crescimento futuro há de pagar; e os que defendem que primeiro é preciso arrumar a casa e pagar as dívidas, ou seja, empobrecer um pouco. Quase ninguém vai além deste binómio, como se terminado este ciclo se voltasse ao ponto em que estávamos.
Mas, sem baias, sobretudo as da ideologia, e com ousadia, ou seja, sem medo de naufragar, é curial deixar de debater apenas onde estamos, para discutir também para onde vamos.
Porque se é certo que temos de navegar à vista, não é menos certo que precisamos de saber para que porto queremos ir...e, obviamente, para que local nos está agora a levar o vento."


Henrique Monteiro, EXPRESSO, 29/2011, última página
hmonteiro@expresso.impresa.pt

Procurando responder antecipadamente aos leitores que eventualmente possam questionar a relação desta longa citação com Tomar, passo a explicar.
Na terra nabantina, estamos numa situação bem pior que a referida por Henrique Monteiro. Na capital e noutros centros urbanos, pelo menos ainda debatem ou tentam debater onde estamos. Nas margens do Nabão nem isso. A autarquia nada diz, a comunicação social pouco adianta, mas a população também nada pergunta. Nestas condições, como iniciar a discussão cordata tendo em vista esclarecer para onde vamos, levados pelo vento, e para onde queremos ir? De que maneira podemos pelo menos começar a fazer um diagnóstico rigoroso da nossa tristérrima situação? Com quem? Com que dados rigorosos, sendo certo que o executivo oculta tudo o mais que pode? Como proceder para levar as pessoas a interessar-se pelos problemas locais?
Ao que consta, a situação económico-financeira do município é já de tal forma grave, e a sua gestão tão caótica, que afinal vamos ter Corvêlo de Sousa até ao final do mandato. Face ao que está e prevendo o que aí vem, Carlos Carrão terá resolvido optar pela prudência. Já não estará interessado em ascender à presidência durante este mandato, dado não existirem condições mínimas para brilhar.
Segundo uma outra fonte, que ainda não houve ocasião para contrastar, poderá até vir a acontecer que o actual alcaide resolva a seu tempo candidatar-se a mais um mandato... dada a experiência entretanto adquirida com esta crise. Dado assente? Balão de ensaio? Simples boato? Neste desgraçada terra já quase nada me surpreende. Mesmo a terceira corrente, também já ouvida: tendo em conta a cada vez mais vertiginosa evolução da crise, a partir do segundo trimestre de 2012 podemos vir a ser surpreendidos por um singular volte-face, com Corvêlo de Sousa a renunciar por sua livre iniciativa, e Carlos Carrão forçado a assumir a presidência. Na pior altura e nas piores condições. O melhor será ir dando tempo ao tempo...

Pedido a toda a oposição

Foto Volkwagen/El País

Como eleitor pagante, humildemente vos rogo: batam o pé, debatam até mais não, escrutinem a proposta orçamental até ao tutano, proponham tudo o que entenderem, melhorem tudo o que puderem. Mas nunca tentem armar-se em carapaus de corrida, porque aí o governo ganha sempre. Basta reparar no equipamento para não ter frio nos olhos...

A "BOMBA" DA SEMANA


Em Tomar foi a notícia-bomba da semana. E o caso não é para menos. A capital templária na primeira página da grande imprensa nacional, só no tempo da monarquia e quando o rei fazia anos...que comemorava geralmente no Convento, cuja mesa era das mais fartas do reino. Et pour cause...
Acresce que desta vez a dita notícia até está muito bem acompanhada. Com a anterior e a seguinte, constitui uma magnífico trio da nossa triste situação actual. Podia até ter como ante-título "Os três gangues" - o gangue das hastas públicas de bens do Estado, o gangue das empreitadas de obras públicas e o gangue propriamente dito, mas  à portuguesa.
Quanto aos tais candeiros, o seu autor, o prestigiado Álvaro Siza Vieira, conhecido militante do PCP, não me levará decerto a mal que parafraseie o ilustre dirigente do PCF Maurice Thorez. Este, quando um dia chegou a uma reunião com o então primeiro-ministro francês general De Gaulle, num magnífico automóvel com motorista e tudo, ouviu logo das boas do célebre militar e resistente gaulês, perguntando-lhe em tom acusatório se não tinha vergonha de dirigir um partido de trabalhadores e andar em carros de luxo, com motorista e tudo. Nada incomodado, Thorez foi lapidar: "Saiba vossa excelência, meu general, que nada é demasiado bom para a classe operária e os seus representantes legítimos."
Pois parafraseando o falecido dirigente comunista, pode dizer-se, neste caso dos candeeiros, que "Nada é demasiado caro para tentar dar à juventude umas luzes do incomensurável saber actual". O pior é o resto!
E sobre os ditos 12 candeeiros a 1700 euros a unidade = 340 contos, sem ofensa ao génio de Siza Vieira, ou muito me engano ou um dia destes já podem ser comprados a 5 ou 10 euros cada...nas lojas chinesas, pois claro! E ainda bem, que a grande arte é para todos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

DIRIGENTES REGIONAIS DO PARTIDO ECOLOGISTA OS VERDES VISITAM ALAMBOR DANIFICADO





Elementos do Colectivo Regional de Santarém do PEV - Partido ecologista Os Verdes visitaram hoje pela manhã as obras da envolvente ao Convento de Cristo, para se informarem sobre a evolução do chamado "incidente alambor". Durante cerca de uma hora houve diálogo franco. Foram sucessivamente abordados o projecto, o parque para autocarros junto à fachada norte, a parte destruída do alambor, bem como as soluções dignas e possíveis, que devem passar todas pela demolição dos troços em betão já edificados, o afastamento da via ligeiramente para norte, a escavação de todo o alambor norte, a reconstituição da parte destruída e a requalificação de toda a zona.
Recorde-se que anteriormente dois deputados do PEV formularam uma pergunta ao Secretário de Estado da Cultura sobre a destruição do alambor, cuja resposta enviaram depois para Tomar a dianteira, que devidamente autorizado a publicou. Desta vez solicitaram se seria possível uma visita guiada...
Temos assim que, fora da terra continuam preocupados com o evoluir das obras junto ao Convento, enquanto os tomarenses parecem mais voltados para os jornais desportivos. E para as comezainas à custa dos contribuintes. O costume. É por essas e por outras que estamos como estamos. E vamos para pior.

Imagens da cidade, para meditar...

 Um exemplo da limpeza urbana e do civismo de alguns cidadãos de nome (clique sobre a foto para ampliar).

Parabéns a quem inventou o slogan! Que se adapta perfeitamente ao executivo camarário que temos. Não sendo mas parecendo marqueses, também aviam bem os fregueses. Estamos todos bem aviados, lá isso estamos!

Coitados dos arbustos ornamentais da Corredoura, geralmente azevinhos comprados a preços dignos da Europa do norte. Quem por ali usa lava-tudo para limpar as lojas, depois despeja  na base das plantas, julgando estar a fazer algo de útil. Dado que o lava-tudo tem uma percentagem de cloro, é como se estivessem a dar lixívia a uma pessoa e ela a bebesse...

Uma triste imagem tomarense. Em primeiro plano, a obra de alguma vândalo contestatário, com o álcool mal arrumado. Ao fundo, a máquina da Protecção Civil, estacionada em local reservado aos detentores do poder local. Um pouco acima, a galeria que deve ser das menos visitadas do país, mas custa bom dinheiro, designadamente as estadas, à custa dos contribuintes, no Hotel dos Templários, de José Augusto França, o doador da colecção de arte contemporânea, exposta ali junto ao Correio. Você já lá foi?


E aqui temos a máquina, devidamente identificada com o triângulo azul em fundo amarelo . Agora só falta saber para que serve, além das passeatas de ostentação do senhor adjunto, secretário, chefe de gabinete, ou lá o que é, do senhor vereador Luís Ferreira. Um lugar para apaniguados, remunerado entre 2 e 3 mil euros mensais. Brutos (os euros mensais, claro!). Nada de más interpretações.

 Durante mais de 120 anos -desde 1881, conforme indicado ao alto da porta esquerda- aceitaram os dejectos dos tomarenses, sem um queixume. Depois não resistiram à época das vacas gordas, dos fundos europeus, da obras de encher o olho...e das casas banho com recepção, como as da Mata. Aguardam destino. Como o ex-Convento de Santa Iria, o ex-Mercado, o ex-estádio, a ex-esquadra da PSP...

 Um aspecto muito acolhedor da Calçada de S. Tiago, principal via de acesso pedonal ao Convento, apesar de não estar sinalizada.

Agora que está esgotado o filão das rotundas, pavilhões, centros culturais, pontes, viadutos e outras obras espalhafatosas, começa-se finalmente a falar de recuperação dos centros urbanos. Tomar bem precisa, como mostra esta imagem, colhida na Rua do Pé da Costa de Cima. Aquela cujos moradores, coitados, quando precisam de ir até à porta de suas casas de ambulância ou de automóvel, por doença, ou para carregar  e descarregar, são forçados a passar por dentro do ParqT, ou a descer a rua em sentido proibido. Deve ser caso único no país. Mas ninguém protesta, que os tomarenses são gente pacata. Por isso estamos como estamos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Principais temas da actualidade local


Sinto-me agora bem acompanhado. Corajoso, frontal, certeiro e oportuno, o padre Mário disse o que devia ser dito e no local mais adequado, quando nos areópagos políticos praticamente nada de substantivo acontece. Na Igreja de Santa dos Olivais, perante o presidente e o vice-presidente da edilidade. Que agora já não poderão dizer que é só má lingua. No normal exercício do seu múnus, o pároco da cidade foi claro: "Estamos num concelho cada vez mais pobre; caminhamos para a ruína. ... ...Partilhamos pouco, dialogamos pouco, comprometemo-nos pouco, trabalhamos pouco em conjunto..." No essencial, aquilo que aqui tenho vindo a denunciar há mais de dois anos, até agora sem qualquer resultado prático. Bem haja padre Mário!
Eu, se ocupasse alguma função política provida por eleição, numa cidade cujo pároco assim pregasse na minha presença, apresentaria a minha demissão nas 24 horas seguintes. Porque todos sabemos como estamos de governação local e para onde ela nos conduz, sem disso se aperceberem. Ou agindo como se. Mas há feitios e feitios.
Cuidado porém. A situação agrava-se de tal maneira e a tal ritmo que pode bem vir a suceder (oxalá que não!) algo de menos digno e de irremediável. Cidadãos há que perante tanta soberba, tanta sobranceria, tanta auto-suficiência, tanta indiferença fingida, se sintam atraiçoados por aqueles em quem votaram e resolvam passar à agressão justiceira. Seria lamentável, mas depois do mal feito...
Ainda em CIDADE DE TOMAR, destaque para a habitual colaboração de António Freitas, desta vez sobre o video da festa de 1929 e as contas da deste ano (página 2), bem como toda a penúltima página, que tem muito que se lhe diga.

O TEMPLÁRIO destaca a redução da actividade laboral do matadouro da CITAVES, devido à falta de encomendas. É mais um sinal preocupante, num concelho cujos autarcas insistem em não tomar medidas adequadas às circunstâncias, continuando a agir como se tudo fosse pelo melhor, no melhor dos mundos possíveis. Prova disso é a outra notícia sobre a Feira de Santa Iria. No início disse-se que até havia mais feirantes, para agora se concluir que afinal era só fogo de vista.  Sentiram-se os efeitos da crise, tanto na quantidade como na qualidade da clientela.
Outro tema é a imperativa reforma das juntas de freguesia, que naturalmente os seus eleitos não desejam. O semanário dirigido por José Gaio ouviu os dois presidentes de junta das freguesias urbanas, que insistiram na sua utilidade, nem que para isso haja necessidade de as agregar a outras. Um pouco no sentido daquilo que já aqui escrevi anteriormente. Apenas duas freguesias no actual concelho. De um lado do rio, Santa Maria de Tomar, com a actual Santa Maria dos Olivais + sete. Do outro lado do rio, S. João Baptista de Tomar, com S. João + sete. A não ser assim, servindo-se do Nabão como limite administrativo natural, tarde ou nunca se conseguirá um consenso geral.
Há igualmente uma entrevista com o provedor da Misericórdia, Fernando de Jesus, e uma crónica de Sérgio Martins sobre o mesmo tema.
Noutra página, escreve-se sobre o 6º aniversário dos transportes colectivos urbanos, conhecidos por TuT, sem contudo focar o âmago do problema: Durante quanto tempo mais terá a autarquia meios para custear o défice anual superior a 300 mil euros = 60 mil contos? Ao contrário do que julgam os ilustres autarcas que temos, não é escamoteando os problemas, fazendo de conta que não existem, que surgirão soluções milagrosas. Há que conversar, dialogar, debater, saber ouvir, contra-argumentar, fundamentar, sintetizar, ceder. Governar, em suma!

Recortes da imprensa

Recorte 1
Recorte 2
Recorte 3
Recorte 4

A galinha da vizinha é sempre mais gorda que a minha, reza o velho adágio. O que me levou a ler a imprensa vizinha, para ver se sempre é mais gorda que a minha. Até uma dada altura, ainda referi aqui todas as semanas uma publicação mirantina, que é de cá e não é, à boa maneira destas bandas. Aconteceu porém que os seus donos se mostraram incomodados com as minhas citações, lembrando-me que, nos termos da lei, apenas posso referir o título e usar o link. Devem ter pensado que estaria disposto a transformar-me em lacaio deles. De forma que, a partir de então motus! O que me levou a demandar outros títulos, de outra zona mais arejada, entre outros aspectos porque se encontra mais exposta às brisas atlânticas. Falo de Leiria e do seu jornal do mesmo nome. Melhor, igual ou pior, quando comparado com os daqui? Quem se der à maçada de ler estas linhas fará o favor de decidir.
Primeira constatação: No JORNAL DE LEIRIA há muitos cidadãos a escrever. Na edição que tenho aqui ao lado, com data de hoje, contei sete cronistas, entre os quais Moisés Espírito Santo e Henrique Neto. Além do editorial, subscrito pelo seu director, José Ribeiro Vieira.
Segunda constatação: Há noticiário abundante, completo e bem redigido, através do qual é possível seguir os principais aspectos da cidade, do concelho e do distrito. Os recortes 1 e 2, mostram porque é que naquela zona, apesar da crise, continua a haver crescimento económico. Indiciam realismo, adaptação à envolvência e sentido das proporções. Nada de megalomanias, do tipo hotel de charme de quatro estrelas no mínimo e com 60 quartos... O tempo das vacas gordas, que lhes deixou a encomenda do estádio, já passou, pelo que o mesmo até está agora à venda a quem der mais...
Terceira constatação: Ao assinalar um aniversário político, procuram ir, tanto quanto possível, ao fundo da questão. Como no caso dos dois anos da actual vereação autárquica, em relação à qual publicam um balanço sucinto e imparcial (Recorte 3).
Quarta constatação: Sempre que possível, abordam os problemas com que a região se debate numa óptica comparativa, fornecendo quadros estatísticos, de forma a que os leitores possam ajuizar. Assim, o recorte 4 indica que, na proporção habitantes/médico do SNS, os leirienses já protestam mas os tomarenses e ribatejanos estão ainda pior. Só suplantados na penúria pelos alentejanos do distrito de Beja. Feitios...
Quinta e última constatação: Todas a crónicas são bastante interessantes e bem escritas, ainda que, como é normal, com estilos bem diferenciados. Por pensar que rir faz bem à alma, passo a transcrever um excerto de uma delas: "Telescópio Político - Marketing autárquico", da autoria do TOC - Técnico Oficial de Contas, Leonel Pontes (será ele que faz a obrigatória auditoria anual das contas da autarquia?): "...O bom autarca não era aquele que poupava, era aquele que fazia uma gestão de encher o olho aos cidadãos, e dizia em campanha "Caros concidadãos, eu sei bem das vossas necessidades e por isso vou mandar construir uma ponte lá em baixo." Mas eis que um munícipe mais esclarecido gritou: "Mas não passa nesta terra nenhum rio!!!". Ao que o putativo futuro presidente da autarquia respondeu: "Eu bem sei! Até já tenho isso em plano! O rio virá para a próxima campanha eleitoral!"
"E foi assim que as autarquias ancoraram as suas actividades. Na falácia, na obra fácil, no orçamento para inglês ver, no excesso de pessoal. Sem cuidarem de saber se o seu município tem sustentabilidade económica. Agora, no dizer do povo, "burro morto, cevada ao rabo". Mas a besta ainda não está morta. Está agonizante e pode salvar-se...".

Se por mero acaso, alguém em Leiria tiver a pachorra de ler estas linhas, faça-me um favor, que é ao mesmo tempo uma obra humanitária: Avise quanto antes o autor da crónica -o cidadão Leonel Pontes- para não vir a Tomar indagar da situação local. Caso contrário será decerto vítima de inevitável e fulminante AVC.

UMA VOZ INCÓMODA



Sem qualquer intuito de irritar quem quer que seja -muito menos o nosso habitual comentarista "Cantoneiro"- resolvi difundir este livro do empresário Henrique Neto por me parecer tratar-se de uma perspectiva indispensável para quem queira realmente tentar ultrapassar a crise "por cima", tendo em conta as coisas  como elas são. Trata-se naturalmente de uma obra mais virada para a indústria e a tecnologia, pois Henrique Neto foi o obreiro não só da IBEROMOLDES, que do nada passou a holding de 12 empresas com um total de cerca de mil trabalhadores, mas igualmente do extraordinário desenvolvimento dessa indústria, centrada na Marinha Grande.
Virado como sempre sobretudo para a realidade local, passo a transcrever um excerto de Henrique Neto sobre as autarquias: "O poder autárquico foi muito importante a seguir ao 25 deAbril, quando se tratava de democratizar o funcionamento das instituições e de criar novas infra-estruturas de saneamento básico, vias de comunicação e algumas estruturas sociais. Entretanto, o poder político autárquico instalou-se, rodeou-se de clientelas e de conivências, usou e abusou dos recursos -humanos e financeiros-, e chegaram a corrupção e o nepotismo.
Relativizar a questão com o argumento de que o poder autárquico é mais eficiente e mais económico, para a mesma função, do que o poder central, poderá ser verdade, mas não justifica os vícios do poder autárquico.
Na maioria das autarquias, a aliança dos autarcas com as empresas de construção e de obras públicas arruinou a paisagem portuguesa, consumiu recursos enormes, nacionais e europeus, e terá criado algumas grandes fortunas que por aí andam e se vêem sem precisar de óculos. Será esta a razão porque os governos de José Sócrates nunca aceitaram a criminalização do enriquecimento sem causa justificada. (cor de Tomar a dianteira)
Acontece também que as autarquias se habituaram, pelas razões descritas ou por mero atavismo, a serem meras comissões de obras públicas e raramente se assumem como governo do concelho. A sua relação com as empresas e a economia local é reduzida ou inexistente, e o pensamento estratégico com vista ao desenvolvimento é raro, ainda que existam exemplos positivos.
A crise económica que vivemos pode e deve ser atacada também a nível autárquico pela dinamização, a partir da sede do poder concelhio, da avaliação da situação das empresas, da identificação das suas dificuldades e oportunidades e, principalmente, pela criação de formas pedagógicas de debate e de cooperação entre os empresários. Se possível através, através da existência real nas autarquias de um pelouro do desenvolvimento económico, certamente mais importante do que a maioria dos pelouros existentes, se não de todos eles."
(Páginas 199/200)

Tenho a impressão que para se documentar no que diz respeito às autarquias, Henrique Neto terá estado em Tomar e conversado com alguns cidadãos locais...

Uma estratégia para Portugal, Henrique Neto, prefácio de João Salgueiro, Lua de papel, 1ª edição Setembro de 2011, 206 páginas, 16 euros.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Despertar os cidadãos para o exercício do poder

Foto Jerôme Prebois/Diaphana Distribution/Le Monde

Le Monde, 26/10/2011, página 22 (a foto) e 8 (o título)

Antes que surjam dúvidas no espírito de quem lê estas linhas, começo por explicar qual a ligação entre a fotografia, o título, Tomar a dianteira e Tomar. A foto é a imagem inicial do filme "L'exercice de l'Etat" - "O exercício do poder", do francês Pierre Schoeller, ao que parece uma película extraordinária, actualmente em exibição em França. Tratando-se de um filme gaulês, se algum dia chegar a ser exibido em Portugal, o leitor já sabe... Entretanto, permita-me uma pergunta mais ou menos pertinente: Porque será que mostram o rabo da rapariga em grande plano, mas cortaram o do crocodilo? Será para que exclamemos "Coitadinho do crocodilo?!"
Quanto ao título, é de uma prosa assinada por Claire Gatinois, enviada especial do Le Monde a Lisboa. A ligação com Tomar tem neste caso várias vertentes, a saber: Carvalho da Silva foi trabalhador-estudante e tem um doutoramento, tal como o autor destas linhas. Carvalho da Silva tenta despertar os cidadãos para a política, tal como Tomar a dianteira vem procurando fazer (sem grande êxito até agora, diga-se de passagem...). Finalmente, tanto o realizador do filme, como Carvalho da Silva, como o signatário  labutam pacificamente em prol de uma sociedade mais justa, num mundo mais fraterno.

"Manuel Carvalho da Silva, o sindicalista português que quer acordar os seus concidadãos"
"Almejando ser o "aluno modelo" da Europa, Lisboa multiplica os planos de austeridade"

"Não! [em português no original] Em Lisboa, desde meados de Outubro, Manuel Carvalho da Silva, 62 anos, secretário-geral da CGTP-IN, o mais importante sindicato do país, tenta habituar os portugueses a dizer "não", conforme se lê nos pequenos cartazes da sua organização que forram as paredes da capital.
Não aos planos de austeridade cada vez mais severos que os governos, de esquerda como da direita, impõem sob pressão da troika, o trio formado pelo BCE, a Comissão Europeia e o FMI, que concedeu uma ajuda externa de 78 mil milhões de euros [15,6 mil milhões de contos].  Para levar a população, até aqui demasiado dócil, a reagir àquilo que Carvalho da Silva compara a "uma forma de ocupação do território", este antigo operário electricista, agora titular de um doutoramento em sociologia, subscreveu um acordo histórico com o outro sindicato de esquerda, a UGT. Dia 24 de Novembro há greve geral, convocada por ambas as organizações sindicais. Daqui até lá estão previstas diversas acções de rua, em vários pontos do país. De acordo com a CGTP "as coisas vão fazendo o seu caminho". Talvez porque, apresentando no passado dia 17 o orçamento para 2012, o governo de centro-direita do primeiro-ministro Passos Coelho, foi ainda mais longe do que pretendiam os credores.
Em Portugal, a entrada na zona euro, em 1999, continua a ser um motivo de orgulho. Não estar agora à altura das circunstâncias seria um erro grave. O país tem de ser um "aluno-modelo", ouve-se por todo o lado em Lisboa. Após mais uma derrapagem das contas públicas, o ministro das finanças, conhecido pelas suas opções liberais, anunciou um aumento do IVA até 23% sobre os produtos de consumo corrente, um aumento de meia hora no horário semanal de trabalho (equivalente a uma redução dos salários de 7%, segundo a CGTP-IN), bem como a supressão do 13º e do 14º mês, para os funcionários e aposentados da função pública que recebam mais de mil euros mensais. Um dispositivo injusto, diz-nos Carvalho da Silva: "Estas medidas atingem sobretudo os trabalhadores, que não têm culpa nenhuma da crise!" Pior ainda, acrescenta, até podem vir a revelar-se contraproducentes.
Para este filho de agricultores, que aderiu às lutas sindicais em 1974, ano da "Revolução dos Cravos", o objectivo não é sublevar as multidões e organizar manifestações violentas, como na Grécia. Trata-se de mobilizar os cidadãos para "salvar a economia". E voltar a dar alguma esperança a uma juventude desencantada.
"Se há no país alguém que defende a economia, somos nós", insiste o sindicalista. Na sua opinião, se ninguém reagir, Portugal destruirá  o aparelho produtivo, o sistema social, e recuará 25 anos, ao patamar em que se encontrava aquando da adesão à Europa. Mantendo o sangue frio, Carvalho da Silva explica-nos que sob o efeito da austeridade, o país vai cair no precipício. A Grécia, igualmente sobre-endividada, não está a afundar-se cada vez mais na recessão, em vez de reduzir a dívida pública?
No fim de Setembro, o governo português previa uma recessão de 2,3% em 2012. Agora já fala de um recuo de 2,8%, sublinha o dirigente sindical, que teme uma contracção do PIB mais próxima de 4%. Mas haverá alternativa? O governo de esquerda, de José Sócrates, quando ainda estava no poder, adoptou igualmente medidas de austeridade. Haverá possibilidade de uma "terceira via"?
Carvalho da Silva pensa que sim. Alguns aderentes da CGTP-IN auguram-lhe mesmo um destino glorioso. Forte em economia, diplomata, próximo do Partido Socialista, "tem estofo para ministro, ou até para Presidente da República", diz-nos Giorgio Casula, antropólogo filiado na CGTP-IN "

Claire Gatinois, Le Monde, 26/10/2011, página 8
Tradução de António Rebelo/Tomar a dianteira

Começam agora as coisas sérias?

Segundo O Templário, faz dois anos que tomaram posse os autarcas tomarenses, que  nos deviam governar. Como é do conhecimento de todos os leitores, desde antes das eleições que venho contestando fortemente os protagonistas políticos da situação local. Não por puro prazer sádico, ou sequer por questões pessoais. Exclusivamente porque, tendo em conta o contexto nacional e internacional, desprovidos de programas, de ideias, de tarimba política ou de experiência de vida, logo se me tornou evidente que só nos poderiam arrastar para o abismo. Infelizmente não me enganei. O que não obstou a que me alcunhassem de todos os epítetos, afiançando que era só conversa e não passava de má lingua, de mau perder e de inveja. Ora aí temos o brilhante resultado do labor dos nossos ilustres edis!
A catástrofe tomarense e concelhia assume já tais proporções que até alguns signatários do por mim alcunhado acordo de mancebia, que tem permitido fins de mês sem preocupação para os camaristas de todas as tendências, começam a ficar nauseados. Consciente disso, a Comissão Política do PSD bem vai tentando desembarcar o nosso alcaide, mas sem êxito. Quanto ao PS, foi comendo e calando, até que Hugo Cristóvão se fartou. Largou a presidência da CP socialista nabantina, começou a distanciar-se politicamente de alguns dos seus camaradas e agora dá forte e feio no presidente do executivo. A tal ponto que até já vai avisando: "...é muito provável que brevemente venha a tecer considerações mais profundas e a agir em consequência." (O negrito é de Tomar a dianteira). Sobre os IpT e os seus dissidentes e respectivas razões, melhor será aguardar as próximas curvas, que se adivinham bem apertadas para a formação de Pedro Marques. É só esperar para ver.
Entretanto, fico naturalmente satisfeito com a atitude do ex-dirigente socialista tomarense e deputado municipal. Porque é jovem, porque vem provar que afinal não estava nem estou isolado quando critico de forma agreste os eleitos locais, mas sobretudo porque finalmente lá vamos ter alguma animação política no pestilento pântano político tomarense. Já não é sem tempo, que águas paradas não movem moinhos.

Talvez uma boa notícia...









Já aqui se escreveu anteriormente sobre as recentes declarações do alcaide tomarense acerca  da Mata dos Sete Montes (ver post "Obras para engorda"). As fotos supra permitem perceber melhor do que estamos a falar. 
Muito danificada pelo tornado, a antiga Cerca Conventual padeceu também com os trabalhos de remoção das árvores derrubadas. Efectuados com o terreno empapado e servindo-se de uma máquina inadequada, porque demasiado pesada, aquilo ficou nalguns sectores muito parecido com um campo bombardeado. Vem agora Corvêlo de Sousa informar que "O Instituto de Conservação da Natureza não tem vocação para tratar um parque como aquele que está em causa e é muito provável que a Mata integre o património da Câmara." Perante isto, várias questões se colocam: Se um instituto de conservação da natureza não tem vocação para tratar de uma parque natural, então serve para quê? Para espatifar o dinheiro dos contribuintes? E a autarquia tomarense, terá vocação para gerir a Mata? A Assembleia Municipal não terá nada a dizer? E os senhores vereadores da oposição teórica?
A sequência das referidas declarações não parece augurar nada de muito positivo: "Vamos tirar proveito dela, nomeadamente com a colocação de uma infra-estrutura fixa onde se possam produzir eventos." Que tipo de eventos? Como os do cine-teatro? Parecidos com o Congresso da Sopa? Ou com o Festival de Estátuas Vivas?
A transferência da Mata dos 7 Montes para o Município até poderá vir a revelar-se uma excelente decisão. Tudo depende do que a autarquia dela conseguir fazer, em termos de criação de valor acrescentado. Se, pelo contrário, a vier a transformar em mais um sorvedoiro do dinheiro dos contribuintes, como tem sucedido com os eventos supracitados e outros, então mais vale que fique tudo como está. Menos aquele esgoto a céu aberto, para o qual até já existe emissário, providenciado pela autarquia. Falta apenas a parte do IGESPAR. E  por falar em IGESPAR, também não se perdia nada em encarar a hipótese de transferir a gestão do Convento de Cristo para uma entidade mais próxima e mais credível. Seis euros de entrada, sem direito a visita guiada, sem uma entrada digna e sem horários adequados, se não é um caso de abuso de confiança, andará lá perto... e não dignifica ninguém.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A deflação inevitável


Tal e qual era expectável, perante as medidas corajosas e impopulares anunciadas pelo governo, aí temos o cortejo de críticas, quase todas com um toque característico -enviesadas, em vez de irem direito ao assunto. Surgiu até uma nova expressão, que se espalha como mancha de óleo: estamos perante um PREC da direita. Como se a verdadeira direita portuguesa fosse assaz afoita para se meter em PRECs.
O anúncio supra, de hoje, mostra uma das raízes da nossa actual crise, que resulta nomeadamente do excessivo peso do Estado na despesa pública. Quase 50% do PIB. Muito desse peso provém do excesso de pessoal na função pública, resultante do facto de em Portugal nunca se ter praticado o "spoil system", o método dos despojos. Trata-se da prática anglo-saxónica em que os vencedores eleitorais, logo que tomam posse, substituem os contratados anteriores por gente da sua confiança, excepto os admitidos por concurso público.
Uma vez que em Portugal nunca houve audácia para tanto, há serviços que todos conhecemos com três e mais funcionários para cada lugar. Com a agravante de se tratar, em geral, de lugares bem remunerados. Os tais tachos.
Voltando ao anúncio, uma das universidades públicas de Paris pretende contratar um Encarregado de Comunicação, que deverá assegurar a comunicação interna e externa, organizar manifestações e outros eventos, e promover a imagem e a identidade daquele estabelecimento público. Exige-se domínio do ingês, master 2 = 18/20 anos de escolaridade e grande facilidade de redacção. Tudo isto pelo ordenado fabuloso de 2.450 euros antes dos descontos obrigatórios (SS, Aposentação, IRS...).
A encarregada de comunicação da autarquia tomarense, que não trabalha em Paris nem possui um master 2 (para não dizer mais...), aufere uma remuneração superior. E como ela, dezenas de outros profissionais, só no Município de Tomar...
Significa isto que temos nalguns sectores e casos um nível de remunerações incompatível com os recursos do país. As coisas são o que são. Não adianta desculpar-se, como é costume, com as subvenções vitalícias ou com o que auferem os deputados. Num caso, estamos a falar de milhares e milhares de funcionários, nos outros, de apenas algumas centenas.
Ciente disto, o actual governo, que nunca se assumiu como de esquerda, acabou por fazer aquilo que desde 2008 se aguardava como inexorável :  o corte dos meses excedentários, repondo a normalidade europeia (excepto grega ou italiana). Trabalham 11 meses e recebem 12, em vez dos usuais 14. Ou recebem apenas 12 meses por 12 meses de descanso, no caso dos aposentados, entre os quais me incluo. O problema reside no facto de as medidas já anunciadas não bastarem para ultrapassar a crise, até porque não se trata apenas de chegar a um défice de 3% do PIB em 2013, mas também e sobretudo, de não voltar a aumentar o dito défice, ao mesmo tempo que se procurará reduzir progressivamente a dívida pública para um máximo de 60% do PIB. Difícil, difícil, difícil! De tal modo que, na impossibilidade prática de desvalorizar a moeda, resta apenas uma outra via para deflacionar os custos dos factores de produção, recuperando assim competitividade exterior: reduzir os custos com pessoal entre 30 e 40%, mediante despedimentos, não substituição dos aposentados, cortes remuneratórios ou um mix dos três. Conquanto não o deseje nem apoie, será o que vamos ter inevitavelmente a médio/longo prazo. Tanto a nível nacional como local.
Paralelamente, terá de haver acções substantivas e eficientes, no sentido de melhorar desempenhos profissionais, agora muito abaixo das normas europeias e americanas. Para já não falar das japonesas...ou das chinesas! Para não ir mais longe, em Tomar chega a ser mesmo confrangedor aquilo que se observa nos mais diversos serviços, tanto públicos como privados, salvo raras e honrosas excepções Não é só o executivo camarário que não tem qualidade política ou de gestão. O mesmo sucede com muitos outros corpos, do ensino superior à saúde e desta ao turismo ou à limpeza urbana.Um pouco por todo o lado parece imperar ainda aquele velho axioma do tempo das vacas gordas, segundo o qual "o patrão paga mal, mas lixa-se que também é mal servido". O que é só meia verdade, pois o patrão até paga bem e a tempo, sendo porém mal servido. Até já me aconteceu perguntar no turismo em Torres Novas o caminho para as Lapas, que ficam as meia dúzia de quilómetros, a uma funcionária que não me soube responder cabalmente.
Outro tanto se diga da indústria hoteleira tomarense, cujo preçário é francamente exagerado em relação à qualidade e quantidade daquilo que servem. Consequência inevitável dos inflacionados factores de produção.  Ainda temos muito que aprender. Seremos capazes? Ou vamos preferir continuar a negar a realidade e outros disparates do género? Foi a evidente falta de qualidade que provocou a derrocada dos regimes do Leste europeu...

Obras para engorda


Citado pela Rádio Hertz, Corvêlo de Sousa fez esta peculiar declaração: "...Principalmente a obra [de ligação pedonal Cidade-Convento pelo Mata, integrada na candidatura "Envolvente ao Convento de Cristo"] teve em vista duas coisas; ou seja: proporcionar que um esgoto do Convento, que vai dar ao muro da Horta dos Frades, fique ligado à rede municipal de saneamento."
Antes de mais, há aqui um problema de coerência frásica. Tal como os três mosqueteiros afinal eram 4, neste caso as duas coisas principais, afinal resumem-se a uma só -a ligação do esgoto conventual à rede urbana de saneamento. Segue-se que o presidente da edilidade não diz toda a verdade, se é que a conhece. Noutros termos: há uma parte da verdade que ele conhece mas omite deliberadamente, e outra que certamente desconhece, porque nunca foi ao local.
A parte que ele não pode desconhecer é picara, como sucede amiúde com as candidaturas a fundos europeus, em que a ganância e o exibicionismo bacôco se sobrepõem a tudo o resto. Neste lamentável caso da Envolvente ao Convento de Cristo, além do desastre alambórico e o mais que se pode ver por ali (garantimos que os paredões em betão e o previsto parque de estacionamento para 24 ligeiros, em forma de piscina americana, valem a visita!), basta dizer que a referida candidatura inicialmente era tripartida: Município de Tomar/Instituto de Conservação da Natureza/IGESPAR. Ludibriados os responsáveis do QREN-Mais centro, na altura liderado por António Paiva, o ICN e o IGESPAR retiraram-se, alegando falta de cabimento orçamental. Ficou a autarquia com o menino ao colo. Feita essa parte da obra (instalações sanitárias com recepção, caminho pedonal e arranjo da ex-casa do guarda, tudo por cerca de 200 mil euros = 40 mil contos), constata-se que o colector de esgotos domésticos, -o único que foi instalado, faltando o de águas pluviais, conforme normas europeias- não serve para nada enquanto o IGESPAR não mandar fazer a parte que lhe compete, entre a caixa de visita já instalada na Mata, e as várias instalações sanitárias e outras, dentro do Convento.
Estamos assim perante uma obra até agora praticamente quase inútil, uma vez que o seu objectivo principal, anunciado pelo próprio Corvêlo de Sousa, está por alcançar. Caso único? Pelo contrário. Todas as obras feitas até ao presente são de utilidade e prioridade duvidosas e evidenciam problemas vários. Assim, a Rotunda ainda esta semana ficou outra vez inundada e intransitável, por falta de adequado escoamento, após obras superiores a dois milhões de euros. O ex-estádio, que já teve de levar balneários ambulantes e uma mini-bancada, está agora com sérios problemas relacionados com a deficiente qualidade da relva sintética. A ParqT redundou na tragédia que se sabe. A ponte do Flecheiro exigiu a posterior construção de um acesso pedonal e de um outro para cadeiras de rodas. Ninguém sabe para que servem o Paredão da Rotunda ou a barraquinha do Mouchão, etc., etc., etc. Mesmo a tão apregoada modernização do saneamento básico e a instalação de galerias técnicas na cidade antiga, estão por concluir. Rua dos Arcos, Rua da Graça, Largo do Quental, Rua de S. Sebastião, Rua do Pé da Costa de Baixo, Rua do Pé da Costa de Cima Escadinhas do Alto da Piçarra, Rua do Teatro, Rua Dª Aurora de Macedo, dois terços da Rua Joaquim Jacinto, continuam a aguardar melhores dias. Trata-se certamente, aos olhos dos senhores autarcas, de moradores/contribuintes filhos de um deus menor. A pagarem mensalmente, no recibo dos SMAS, uma taxa de tratamento de esgotos...que não são tratados.
A autarquia estará decerto a aguardar que após 2013 Corvêlo de Sousa seja contratado ou avençado por uma das empresas adjudicatárias de obras no concelho, como sucedeu com António Paiva (tudo na mais estrita legalidade, bem entendido!), para então desencadear novas candidaturas a fundos europeus e novos empréstimos bancários para custear a parte que lhe compete. Se ainda houver fundos e bancos que vão na conversa! Porque a realidade não permite dúvidas: Em todas as candidaturas tomarenses aos fundos europeus, a principal preocupação foi engordar as contas dos respectivos adjudicatários, com frequência simples empresas/biombo de certos conglomerados de obras públicas bem conhecidos. Assim vai esta terra...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Parque de campismo: gato escaldado...

Conforme referido nos noticiários locais, a autarquia decidiu encerrar o parque de campismo em Dezembro, durante duas semanas. Escaldados por 6 anos de encerramento, na sequência de uma interrupação apenas até ao final das obras do pavilhão, os tomarenses receiam o pior, pondo a circular variadas hipóteses. A mais benigna refere que é sempre mau encerrar um equipamento público do sector turístico, dado que põe em causa valores básicos dessa indústria como hospitalidade, credibilidade, qualidade, fiabilidade e continuidade. Imagine-se um turista em autocaravana, ou um mochileiro, que resolvem vir passar o Natal em Tomar. Chegam e encontram o parque fechado. Ficam muito satisfeitos, não é assim? E vão de certeza recomendar Tomar aos amigos...
Outra versão assevera que se trata de encerrar novamente o parque, desta vez pretextando férias do pessoal e alguma manutenção, para nunca mais o reabrir.
Procurando tirar dúvidas, Tomar a dianteira esteve naquele equipamento, onde conversou com a funcionária de serviço, muito profissional e hospitaleira. Na sua opinião, o referido encerramento durante duas semanas não vai prejudicar os turistas de longa duração que agora ali se encontram, uma vez que já haviam decidido mudar-se para o Algarve e regressar a Tomar em Fevereiro ou Março. Residem neste momento no parque 15 turistas, mais um dezena de passagem, segundo informou.
Sobre a necessidade de interromper aquele serviço durante 15 dias, referiu ser muito útil para acertar as férias dos funcionários, problema assaz complicado devido ao elevado número de baixas por doença durante a chamada "estação alta". Acrescentou que também a limpeza e a manutenção vão beneficiar com o citado encerramento temporário, uma vez que haverá mais tempo e mais pessoal disponível.
Seja como for, encerrar uma estrutura turística, mesmo de forma temporária, sem previamente avisar os potenciais utentes, designadamente através dos guias e outras publicações da especialidade, constitui sempre uma machadada na supracitada fiabilidade. E sem fiabilidade...
Caso se tratasse de um empreendimento privado, sujeito às leis do mercado, o modus operandi seria decerto outro. Como é um serviço público, essencialmente custeado pelos contribuintes, pouco importa ir ou não constituindo pouco a pouco uma sólida clientela de turismo residencial de 3ª idade. Justamente aqueles que foram forçados a demandar outras paragens mais hospitaleiras, devido ao prolongado interregno e depois de durante vários anos terem constituindo uma excelente fonte de receita, tanto para restaurantes como para alguns comerciantes locais. Mas o executivo tomarense embora tenha vá falando, parece cego e surdo. Não vê a realidade local nem ouve as reivindicações dos munícipes. E os problemas vão-se arrastando.


Entretanto, no extremo oposto do burgo, outros campistas de longa duração, mas não estrangeiros, vão melhorando o seu acampamento, que bem precisa. O novo alojamento do patriarca Pascoal acaba de ser beneficiado com um pequeno alpendre, ao que tudo indica destinado à higiene matinal, uma vez que foi colocado um espelho na parede exterior.
Por falar em higiene, perante o rosário de queixas da vizinhança, qualquer que seja a nossa opinião sobre os ciganos, parece evidente que ao fim de mais de trinta anos a autarquia já teve tempo de sobra para providenciar pelo menos instalações sanitárias simples, com wc e duches. Não o fez, como tão pouco executou outras tarefas essenciais para o desenvolvimento local. Razão porque os senhores autarcas não poderão queixar-se se e quando a situação se agravar naquela zona, posto que os moradores da área começam a estar fartos dos desmandos, do barulho e do cheiro pestilencial a fezes humanas retardadas. É porém claro que quem nada oferece aos ciganos no âmbito das suas rudimentares condições básicas de vida, também nada lhes pode exigir em troca. Limitar-se a prometer de tempos a tempos o realojamento dos acampados já não basta para serenar os ânimos.

Alargar Horizontes



Na sequência do post "Paranóia e esquizofrenia", de ontem, o leitor Virgílio solicitou um comentário sobre as recentes e inflamadas declarações do senhor coronel Vasco Lourenço, um dos capitães de Abril. Perante a resposta, achou o nosso amável comentador que se confundira a árvore com a floresta. Convidado a esclarecer, disse que a árvore eram as declarações de Vasco Lourenço e a floresta as mentiras de Passos Coelho. Dado que, na minha maneira de ver, as declarações em causa são apenas um grão de areia, Passos Coelho um pequeníssimo arbusto e a realidade europeia a floresta, estamos obviamente perante visões diferentes. Se calhar causadas por óculos de lentes diferentes...
De qualquer maneira, é sempre útil alargar horizontes, fornecendo novos elementos para análise dos nossos leitores. Donde estes dois recortes. O primeiro do i de hoje, última página, assinado com as iniciais do director; o outro do Correio da Manhã, penúltima página. 

Portugal visto de fora

"Portugueses não querem ser comparados com os gregos "aldrabões"
O governo de Lisboa acaba de apresentar um novo plano de austeridade. Sindicatos com dificuldades de mobilização"


"Lisboa
Enviada especial"

"O "canudo" em Relações Internacionais, obtido há ano e meio, está em caso dos pais. Mas Catarina Tojo, bela loira de 21 anos, assinala com alguma amargura que o seu lugar não é "ali", numa das secções do El Corte Inglês, em Lisboa.
Desde há três meses que Catarina renunciou à carreira diplomática com a qual sonhava, para vir trabalhar neste grande armazém, por 550 euros mensais, um pouco acima do salário mínimo português que é de 485 euros. "Alguns meses, trabalhando aos domingos, feriados e à noite até às 23H30, consigo chegar aos 700 euros. Mas mesmo assim sou abrigada a viver em casa os meus pais."
Catarina, com o pai de 48 anos, desempregado há quase dois anos, faz parte das vítimas resignadas da cura de austeridade que o país se inflige desde há mais de um ano, pressionado pela troika e procurando reduzir a dívida pública que o asfixia.
Apesar disso e dos sucessivos apelos à mobilização dos vários sindicatos, Catarina não tenciona manifestar. "Entre o emprego e as reivindicações, há que escolher." Com uma taxa de desemprego de 12,5% e a multiplicação dos contratos temporários, os trabalhadores sabem que a relação de forças não lhes é favorável. Só os funcionários públicos podem manifestar-se sem temer represálias patronais. E mesmo assim...
Para não ter de vir a pedir nova ajuda externa -após os 78 mil milhões de euros obtidos em Maio deste ano- o governo anunciou, em 17 de Outubro, uma nova série de medidas, mais radicais ainda que as recomendadas pela troika: supressão do 13º e 14º mês para todos os funcionários e aposentados da administração pública que ganhem mais de 1000 euros mensais, aumento do IVA para 23% nalgumas categorias de produtos, até agora com taxas reduzidas, aumento de meia hora de trabalho para os salariados do sector privado, aumento dos impostos... Objectvo: economizar 7,4 mil milhões de euros em 2012, para reduzir o défice das contas públicas a 4,5% do PIB, em vez dos 8,3% actuais.
Uma ida directa para "o desastre", afirmam os dois principais sindicatos, CGTP-IN e UGT, ambos de esquerda, que decidiram convocar uma greve geral para 24 de Novembro, alguns dias antes do voto definitivo no parlamento do plano agora anunciado.
Pequenos cartazes "Não!" enchem as paredes lisboetas. "O povo tem de se mobilizar", clama Manuel Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP-IN. "É possível uma alternativa", quer ele acreditar, mesmo se o actual governo de centro-direita, no poder desde Junho, propõe mais ou menos o mesmo que o anterior, que era de esquerda. "O país está a caír no precipício, o governo vai-nos obrigar a caír de uma altura de 50 metros. Queremos limitar a queda a 20 metros", insiste Manuel Carvalho da Silva. Na sua análise, em 2012 a recessão não vai ser de 2,8%, como previsto pelo governo, mas de 4%. Se ninguém protestar, o país vai andar 20 anos para trás.
"Fazer greve custa 50 euros por dia, 100 euros dois dias", explica-nos Manuel Villaverde, que trabalha num departamento de urbanismo. Com um vencimento de 1250 euros e uma prestação mensal de 600 euros, do empréstimo para habitação, tenciona fazer greve, pois claro. Mas diz compreender os seus colegas que ainda hesitam.
Em Portugal, levar os trabalhadores a protestarem conta a austeridade é uma verdadeira proeza. O país não quer ser comparado de forma nenhuma com os gregos "aldrabões" e "indisciplinados". Tanto mais que "há um sentimento generalizado de que temos de expiar os nossos pecados", disse-nos Eduardo Paz Ferreira, professor de economia na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Todos se lembram ainda do momento em que Portugal entrou na zona euro, o "clube". Do tempo das "vacas gordas" em que choveu dinheiro. Porque a adopção da moeda única permitiu reduzir as taxas de juros e os bancos, pouco controlados, deixaram os clientes contrair um, dois, três empréstimos, para comprar habitação, automóvel e televisor plasma.
Em Lisboa, alugar um apartamento custa praticamente o mesmo que comprá-lo a crédito. Nestas condições, poucos hesitaram, mesmo se os empréstimos com taxa variável podem reservar surpresas desagradáveis. Resultado: a dívida privada aumentou consideravelmente. Representa actualmente128% do rendimento das famílias, enquanto que a dívida pública não vai além de 98% do PIB. Multiplicam-se os processos de insolvência, tanto de empresas como de particulares: 2900 no primeiro semestre de 2011 contra 3100 em todo o ano de 2010, de acordo com a COFIDIS.
Os portugueses começam agora a sentir-se culpados por terem vivido acima dos seus recursos. Mas também há muita raiva. Então e os bancos, não são também culpados? E aderindo à Europa, Portugal não terá escolhido mal?
Os fundos comunitários permitiram desenvolver as infraestruturas, mas em vez de construir auto-estradas, pontes e viadutos, não teria sido preferível desenvolver a indústria em vez do sector dos serviços? Era mesmo inevitável "obedecer" à Europa, sacrificando as pescas no quadro das quotas comunitárias? E que dizer do "caso Madeira"? Nesta região autónoma de 270 mil habitantes, a dívida pública atinge já os 6,3 mil milhões de euros.
Até agora, ninguém protestou ainda com violência, mas "se calhar as coisas estão apenas a começar", antecipa Ana Nunes de Almeida, socióloga na Universidade Nova de Lisboa."


Claire Gatinois, Le Monde, 21OUT11, página 18
Tradução de António Rebelo/Tomar a dianteira

domingo, 23 de outubro de 2011

OLHEMOS A REALIDADE DE FRENTE!!!

Desde há meses que perante o nítido agravar da crise, a todos os níveis, procuro uma frase, um parágrafo, uma crónica, um livro, capaz de explicar de forma cabal o maior problema social, económico e financeiro deste século. Li centenas e centenas de páginas, fui aprendendo, mas quanto à tal explicação, nem sinais. E de repente, encontrei! É assim para o palavroso, pelo que resolvi assinalar a parte que reputo fundamental com negrito sublinhado. Trata-se, no meu entender, de uma magnífica crónica da jornalista veterana Sylvie Kaufmann, com mais de 30 anos de tarimba, que no jornalismo como no resto ajuda sempre muito. Que aborda a situação mundial, mas cujas conclusões, mutatis mutandis, são válidas igualmente ao nível europeu, ibérico, nacional, regional e local, como adiante se verá.

"Não é costume criticar a concorrência. É mesmo muito pouco elegante. Mas o tema de capa do  Figaro Magazine deste fim de semana é tão revelador do problema francês, e o seu timing tão infeliz, que pareceu de utilidade pública dedicar-lhe algumas linhas. Tanto mais que o tema não deixará indiferentes muitos leitores do Le Monde, que após leitura desta crónica irão decerto comprar o referido periódico, reparando assim a ofensa que lhe faço. A pergunta incendiária à qual o Figaro Magazine procura responder é a seguinte: "Como pagar menos impostos?"
Que importa que estejamos na véspera da cimeira europeia de todos os perigos, à cabeceira de uma zona euro à beira da explosão, estrangulada pela dívida pública!
Que importa que os cofres do Estado estejam vazios, que as agências de notação nos mantenham sob forte pressão, que os deputados votem um imposto excepcional sobre os mais altos rendimentos!
Que importa que o presidente da república tenha declarado, no dia 18, que o destino da Europa "vai ser decidido nos próximos dez dias", ou seja, até ao Dia de Todos os Santos!
Não. O que conta é o retorno aos fundamentais: "Como pagar menos impostos?" Espertos, os gregos encontraram uma solução radical: não pagar impostos nenhuns. É exactamente por causa disso e por causa deles que estamos como estamos, desde há dois anos.
Há neste momento uma forma de recusa, nos países ditos "ricos", que consiste em não querer encarar a realidade de frente. Em recusar-se a aceitar que o recurso sistemático ao crédito e ao endividamento constitui uma lógica económica que só pode durar um certo tempo, e que esse tempo já passou. Que transitamos agora para a época do reembolso, inevitavelmente doloroso, colectivo e europeu. E que também o Mundo entrou já noutro ciclo, no qual as relações de força já não são exactamente as mesmas. Ou seja, houve uma mudança de paradigma à escala europeia e mundial, que os nossos cérebros ainda não aceitam.
Outro exemplo. A 15 de Outubro reuniram em Paris os ministros das finanças do G20, igualmente por causa da zona euro, abalada pela dívida grega. Um dos principais pontos litigiosos -que persiste uma semana depois- é a arquitectura e a envergadura do fundo europeu de salvação, oficialmente Fundo Europeu de Estabilidade Financeira - FEEF.
Recorde-se que o G20 foi institucionalizado quando houve consciência, por altura dos sobressaltos provocados pela falência do Lehman Brothers, do peso cada vez maior dos países ditos "emergentes" na economia mundial, bem como pela necessidade de os associar ao debate sobre o futuro do mundo, para além do G8, que até então determinava a chuva e o bom tempo.
Constatando em Paris o embaraço dos europeus, os países emergentes, liderados pelo ministro das finanças do Brasil, Guido Mantega, um dos obreiros, ao lado de Lula da Silva, do sucesso económico brasileiro, ofereceram a sua ajuda, por intermédio do FMI, para recapitalizar a zona euro. Estes países encontram-se numa dinâmica inversa da nossa, em termos de crescimento económico e de endividamento externo. Falando sem peias -Têm dinheiro e pretendem investi-lo.
Porquê? Porque a Europa é um mercado de 500 milhões de consumidores, essencial para o prosseguimento do seu desenvolvimento, mas também porque, no sistema mundializado, começam a preocupar-se seriamente com o impacto da crise da zona euro nas suas próprias economias.
A Índia acaba de admitir que não atingirá este ano o objectivo de uma taxa de crescimento de 8% do PIB, enquanto que  a China regista já um afrouxamento económico. Jean-Pierre Jouyet, presidente da autoridade francesa dos mercados financeiros, que apresentou a sua análise da crise actual no passado dia 20, acrescenta ainda outra razão para a atitude dos BRICS: Precisam da Europa porque não querem encontrar-se no diálogo cara a cara com os Estados Unidos. Afinal, o euro é a segunda moeda mundial de reserva, após o dólar americano, e um poderoso instrumento de diversificação monetária.
Contudo, a oferta dos BRICS foi recusada. Não pela União Europeia, mas pelos países anglo-saxónicos do G20, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Austrália, aos quais se juntou depois o Japão. Para estes países, a Europa deve resolver os seus problemas antes do reforço dos capitais do FMI. O Financial Times classificou esta reacção como a da "velha aristocracia falida", que finge não ver o paralelismo entre a redução do nível dos seus cofres e a da sua influência.
Podemos imaginar sem dificuldade o que se esconde por detrás da rejeição da oferta dos emergentes. O mesmo Jean-Pierre Jouyet evoca uma "guerra financeira" entre os Estados Unidos e a Europa, uma tese com muitos aderentes em Bruxelas. Americanos e britânicos têm neste momento os seus próprios constrangimentos de política interna. Fragilizado por uma elevada taxa de desemprego, a um ano da eleição presidencial, Obama teria muitas dificuldades em levar a questão do FMI perante o Congresso. Por outro lado, a presidente do Brasil, Dilma Roussef, lá foi dizendo que uma nova injecção de capitais no FMI deverá ser acompanhada por uma reforma da sua governança, até agora dominada pelos ocidentais.
A propósito de domínio ocidental, a edição de Outubro de L'Actuariel, o magazine dos notários, com muito menos audiência do que o Figaro Magazine, oferece aos seus leitores uma instrutiva entrevista de Guan Jianzhong, director da agência de notação chinesa Dagong e conselheiro de Estado em Pequim. Que diz ele? Que as três grandes agências de notação ocidentais praticam o método dos "dois pesos e duas medidas" para "proteger os interesses dos Estados Unidos, cuja capacidade de  reembolso da dívida pública é no entanto cada vez mais fraca." E acha pouco normal uma situação em que "são os países mais endividados que dominam o sistema de notação, fornecendo-lhe informações que lhes são favoráveis, provocando assim a acentuada degradação da relação credor-devedor."
Como se vê, em termos de mudança de paradigma, o senhor Guan não podia ser mais claro."

Sylvie Kauffman, Le Monde, 23/10/2011, página15
Tradução de António Rebelo/Tomar a dianteira