terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Regresso às mazelas tomarenses

Após alguns meses de acalmia, para que os leitores não me acusassem de andar sempre a bater na mesma tecla, eis de novo a popular secção "Mazelas tomarenses". Um repositório do melhor que há na antiga capital templária, agora a caminho de se tornar numa vila porca e mal cuidada, quiçá antes de exalar o último suspiro, enquanto terra habitada por uma comunidade humana relativamente civilizada. Ora façam o favor de apreciar:


 Ali junto ao cemitério, mesmo à ilharga da Casa Mortuária e próximo da Igreja de Santa Maria dos Olivais, quem passa a pé é presenteado com este magnífico postal urbano, sem dúvida alguma digno de qualquer grande cidade europeia. Ou estarei enganado?


 Logo adiante, após o virar da esquina do cemitério antigo, outra maravilha urbana em termos de comunicação, de oportunidade e de limpeza. O programa Polís acabou há quatro anos, com a inauguração da Ponte do Flecheiro. Desde a sua colocação que ninguém conseguiu ler este painel. Agora imagine-se a sua utilidade quatro anos decorridos...


Mais uns metros andados, nova cavadela e mais uma minhoca. Uma árvore que secou há mais de dez anos, mas continua ali, naquele talude entre o Centro de Emprego e o encerrado Mercado. Devem estar à espera que caia de madura.Oxalá não vá aleijar alguém quando tal acontecer. Porque, claro está, a autarquia não terá qualquer culpa no incidente. As pessoas é que devem ter cuidado.



 Mais cinquenta metros andados e eis-nos no alegado e propalado "Fórum augustano", situado a nascente do quartel dos bombeiros e vulgarmente conhecido por "fórum romano". Manda a honestidade dizer que até agora todos os responsáveis autárquicos "fórum" incapazes de dizer a quem "levantou a lebre" que, se "À mulher de César, não lhe basta ser séria, tem de parecê-lo", é suposto que o mesmo se exija da mulher do "augustano", uma vez que ambos são romanos. Porque assim é, já vai sendo tempo de se chegar ao período decisório, aquele do "ou cuco ou mocho". Ou quem de direito demonstra com factos, documentos, explicações e outros elementos  incontroversos, que aquilo foi mesmo uma construção romana e qual poderá vir a ser a sua utilidade prática, ou então nada mais resta que libertar o terreno de qualquer servidão. Os tempos não estão para hipóteses de hipóteses de hipóteses. Nem para habilidades do tipo "pescadinha de rabo na boca".


Junto a Modelo-Continente, que é dos locais mais concorridos da cidade, porém dos menos habitados, temos este vidrão abandonado à sua sorte. Está ali há tantos anos que o modelo até já deixou de se usar. E nunca foi sequer despejado. Apesar de estar quase cheio. Curiosidades tomarenses...


Como estes pendões do programa "POLIS - Viver Tomar", na Estrada da Serra, que já vão no terceiro mandato. E estão em melhor estado que alguns autarcas. Cujos nomes não indico, porque não sou médico. Até dá vontade de acrescentar "Polis -Viver Tomar e vê-la morrer, a cidade ideal para masoquistas." Mas se calhar estou a exagerar. No fundo o pessoal do executivo é tudo boa rapaziada. Há apenas alguns que manifestamente não têm feitio para aquilo. E os habitantes é que vão pagando. Ninguém os mandou votar como votaram. Não conheciam o anexim "Quem boa cama fizer, nela se deitará"?

Dá Deus nozes...

Hesitei entre dois títulos, por ambos me parecerem muito adequados. O que prevaleceu (Dá Deus nozes a quem não tem dentes) e "A união dos contrários". Isto porque, por vezes, até dá vontade de chorar, desde que o actual governo tomou posse. Pela primeira vez desde o 25 de Abril, estamos como tomarenses muito bem posicionados em Lisboa. E sublinho "como tomarenses". Não individualmente. Podemos por conseguinte ser ouvidos e tidos em consideração, para tudo o que seja legítimo, legal e de interesse geral.
Infelizmente, a nível local sucede exactamente o oposto. A maioria relativa, que nos devia governar se soubesse, quisesse e conseguisse, é apenas isso mesmo: maioria relativa. Como se tal não bastasse, não dispondo de táctica nem de estratégia, nem de vontade ou capacidade para as vir a ter, podia ir navegando à vista. Pois nem isso. Encalharam. Desde o início do actual mandato, ainda não conseguiram resolver um único dos grandes problemas locais. Em termos de vitórias, ficaram-se pela reabertura do Parque de Campismo. O que sendo importante, também não será para deitar foguetes e mandar sair as bandas.
A oposição representada no executivo é o que se tem visto. Se exceptuarmos a corajosa e recente ruptura da estranha mancebia por parte dos vereadores PS, cansados de tanto desprezo dos parceiros de papel assinado, contentam-se em navegar placidamente nas inquinadas águas do charco político nabantino. Quanto às outras formações políticas, representadas unicamente no parlamento concelhio, terão conseguido agora a sua coroa de glória. Uniram-se em prol de Tomar -o que se saúda e louva. Contudo, factos convergentes indiciam que não terão escolhido o melhor tema. A questão da inevitável reforma do CHMT é extremamnente melindrosa e dela depende em grande parte a sobrevivência dos três hospitais que o compõem. Não nos podemos esquecer -entre muitos outros factos gravosos- que as horas extraordinárias dos enfermeiros aumentaram mais de 300% de um ano para o outro, de acordo com o relatório 913 da Inspecção Geral de Finanças. Ou que, de acordo com as melhores práticas homologadas a nível mundial, a maternidade de Abrantes (única do CHMT) não tem condições para continuar a funcionar, visto que não realiza 1.500 partos anuais, o mínimo indispensável para "não perder a mão", conforme o normativo europeu em vigor.
Nestas condições, caso a reforma estrutural em curso venha a falhar, vários indícios apontam, não para a privatização ou venda de hospitais, mas simplesmente para o seu encerramento. Isto porque se o Estado os não puder sustentar com o actual modelo, por evidente falta de recursos financeiros, também o não poderá fazer em regime de PPP, pois não consta que os privados sejam generosos filantropos. Se não vislumbrarem hipóteses de gerar riqueza, para desta extraírem lucros, nada feito. As coisas são o que são. Implacáveis e redibitórias. Os doentes da zona terão de passar a ir para Leiria, os mais a norte; ou para Santarém, os mais a sul. 
E nada adiantará vir com longas considerações de índole sociológica, política ou moral. Não havendo dinheiro, como é o caso, todas as outras hipóteses estarão condenadas à partida. Excepto uma: que as grandes organizações fliantrópicas mundiais, tipo Cruz Vermelha, Crescente Vermelho ou Fundação Bill Gates, tenham pena de nós e venham reabrir os hospitais, a título caritativo e provisório. Mas é pouco provável.
Pelo que, no meu tosco entendimento, a conseguida união política local (a que alguns mais maldosos já chamam o "soviete nabantino"), devia abandonar quanto antes a luta em prol do hospital -que é uma causa perdida desde o início-e dedicar-se à resolução dos milhentos problemas da autarquia. A começar pela actual situação de evidente bloqueio, apenas mascarada de forma transitória pela querela hospitalar.
É certo que faltam apenas 21 meses para as autárquicas de 2013. Mas em política e numa situação de gravérrima crise para todos, um mês já parece uma eternidade, quanto mais agora 23 meses! E depois, quem nos garante que após Outubro de 2013 ainda continuaremos a estar tão bem "amparados" em Lisboa?
Vá lá! Deixem-se de bizarrias e pensem um bocadinho. Enquanto  é tempo... Lá diz o ditado que "Antes da hora ainda não é  hora; após a hora, já não é hora. Há que arrancar a tempo."

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ultrapassados pelos acontecimentos

Anabela Freitas, líder do PS local, disse na passada sexta-feira, no habitual programa da Rádio Hertz, que "Carlos Carrão renunciou ao hospital". Entendi a frase como significando que o presidente interino já está por tudo, no que se refere ao hospital. A ser assim, a dirigente socialista acertou em cheio. Creio igualmente que Carrão já está por tudo, não só em relação ao hospital, mas a todos os outros problemas do concelho. Isto porque, se a realidade é mesmo como a vejo, o agora presidente em exercício foi até muito recentemente um excelente vereador. Do tipo popularucho, modelo "Preço Certo/Fernando Mendes". O que significa comezainas/tintol, passeatas, bailaricos, subsídios, inaugurações, palmadas nas costas e por aí. Tudo à custa dos cofres municipais, que é como quem diz dos contribuintes.
Sucede que, infelizmente para ele e para todos nós, essa fase eufórica, dita das vacas gordas, finou-se e não vai ressuscitar. Sem dinheiro, sem projectos, sem ideias, sem rumo, sem mentalidade adequada e sem densidade cultural, qualquer autarca com bom senso já teria solicitado eleições intercalares e calçado os patins logo a seguir. Acontece todavia que estamos em Tomar, terra de gente obstinada até à medula. De eleitores que sistematicamente se revelam alérgicos à mudança. De cidadãos impermeáveis à dinâmica societal. Produto exclusivo de tal quadro, o agora presidente da edilidade tudo procurará fazer para durar até às autárquicas do ano que vem. Às quais tenciona candidatar-se como líder da lista laranja, justamente com esse argumento-marreta: "Eu não abandonei o barco em plena tempestade!"
Percebe-se a manobra. Falta porém apurar antes três coisas. Em primeiro lugar, nada indica que seja inevitável a aceitação pelo PSD de Carrão como cabeça de lista. Se o não quiseram em 2009, vão escolhê-lo agora, em plena crise que ele não entende sequer? Em segundo lugar, está longe de ser um dado adquirido que um "comandante" em frangalhos consiga ganhar o que quer que seja. Em terceiro lugar, quando assentar esta poeira hospitalar -o que não tardará- os problemas já aqui mencionados por diversas vezes continuarão a aguardar soluções adequadas e rápidas. O que implica o voto favorável de pelo menos uma das duas formações oposicionistas. Posto que nem ipetistas nem socialistas se mostraram até agora disponíveis para dar o braço a torcer, e ainda menos para se comprometerem pelo voto com uma maioria relativa, claramente a nadar na dramática realidade local, que saída ou saídas vai conseguir Carrão?
Tal como no mundo do espectáculo, na política é muito importante saber discernir quando está na hora de abandonar a ribalta. Desgraçadamente, amarrados às suas obstinações respectivas, os integrantes da maioria relativa e alguns outros membros do executivo, não querem aceitar que a sua meia hora de glória já foi. Nestas condições, podendo sair agora pelo seu pé, acabarão mais tarde por ser arrastados pelos acontecimentos. Sabe-se lá em que estado psíquico. E com graves prejuízos para o concelho, que é realmente o que me preocupa...

Os sintomas, as metástases e o cancro

Ponto prévio
Os tomarenses em geral, e os políticos em particular, não se dão conta das tristes figuras que fazem na região, com a sua implícita megalomania, a sua arrogância, a sua alergia à mudança e a sua obstinação. A contestação a propósito da reforma do CHMT propicia, além de outros aspectos, a possibilidade de comparar reacções e maneiras de agir. Basta contrastar a petição do post anterior com a carta aberta dos enfermeiros de pediatria do Hospital de Abrantes. Há ou não há uma enorme diferença de estilos? São ou não são quixotescos e ridículos alguns aspectos da actuação dos tomarenses?

Teria sido fácil incluir no post de ontem uma outra vertente sobre a relação entre a constestação à reforma do CHMT e a autarquia, mas o texto sairia muito mais indigesto. Foi o que me levou a destacar esse aspecto, que agora passo a desenvolver.
Além dos tópicos já antes focados, a peculiar e muito pouco habitual contestação tomarense à reforma hospitalar constitui igualmente um excelente pretexto para deixar em paz o nó do problema nabantino actual. Não digo que seja intencional; que haja contestação apenas para desviar as atenções da péssima falta de adequada actuação do executivo autárquico. Limito-me a assinalar que o senhor Jordão também escrevia prosa, convencido de que estava a poetar...
Na minha maneira de ver, a questão da reforma do  hospital de Tomar constitui -usando linguagem médica-um sintoma da grave doença tomarense. Se o presidente em exercício tivesse estado à altura das funções que exerce, teria transmitido imediatamente ao órgão a que pertence aquilo que antes lhe fora dito pela administração, e informado a AM sobre o mesmo assunto. Uma vez que preferiu ser manhoso, ocultando deliberadamente o que sabia, as consequências não tardaram. A população deixou de ter confiança nele, os vereadores sentem-se pouco à vontade e a direcção do CHMT não esconde o seu espanto incomodado. Contudo, tal comportamento não é novo. Baseia-se no tradicional "O Calado foi a Lisboa e veio e não pagou nada", que já esteve na origem da ruptura da coligação, com os vereadores socialistas irritados e cansados, por serem sempre os últimos a saber, apesar de parceiros de papel assinado.
Donde me parece legítimo deduzir que o actual executivo não passa de um cancro no organismo tomarense, que agora provocou pela sua inépcia um acesso de febre hospitalar. Esse cancro autárquico templário já teve sete metástases, estando agora reduzido a cinco, devido à corajosa atitude política dos vereadores do PS. Desses cinco tumores políticos malignos, três são da relativa maioria e dois dos IpT.
Os da relativa maioria não têm nem ideia do que possa vir a ser o futuro político em Tomar. Não têm ideias, nem projectos, nem soluções, nem vontade de procurar mudar na sua área de competência, quanto mais agora no caso do hospital. Uns só para salvar a face, outros para embolsar no fim do mês, até que seja possível, vão continuar a empatar e a irritar os tomarenses até ao final de 2013. Com o presidente provisório muito convencido de que nas eleições de 2013 (se não houver intercalares antes) vai ser trigo limpo, farinha Amparo - com Carrão à cabeça, o PSD vence com maioria absoluta. E eu vou para primeiro-ministro do Vaticano. Se entretanto o Obama me não tiver requisitado ao Paulo Portas. Nem sequer lhe passa pela cabeça (ao Carrão, claro!) que o governo pode muito bem não estar para o aturar na reforma das freguesias, na reforma dos concelhos, na redução das  chefias, na redução de pessoal, no caso ParqT, no Elefante Branco da Levada ou no problema dos ciganos do Flecheiro, por constituir um evidente, enorme, irritante e muito incómodo  empecilho. Foi um sofrível segundo na época nas excursões tintol, das jantaradas, dos subsídios, das festas, mas onde é que isso já vai!
Nos IpT, no fundo uma formação unipessoal de Pedro Marques, a situação é ligeiramente diferente. Graça Costa já terá percebido que o actual estado de coisas não poderá durar muito mais tempo. Mais cedo que tarde poderá muito bem reorientar a sua actuação política. Já o líder ipêtista continua a alimentar ilusões. Ainda não aceitou que entrou na política pelo último andar, que teve sorte e ganhou, mas que essa circunstância muito dificilmente se repetirá. Também nunca admitiu que os seus dois mandatos não deixaram saudades na maioria dos eleitores tomarenses, conforme demonstraram nas duas últimas eleições.
Nestas condições, compreende-se e aceita-se que as metástases da relativa maioria se alapem aos lugares que ocupam. Uma vez que não têm ideias nem projectos nem soluções para o que quer que seja, é natural que também assim suceda para o seu próprio futuro. Tanto individual como de grupo.
Já o comportamento das duas metástases IpT não se percebe de todo. Estão à espera de quê? Que voltem as vacas gordas? Que a relativa maioria se canse? Que os dois socialistas os convidem para umas suecadas com petisco? O povo agradecia uma explicaçãozita. E eu também.
  

domingo, 29 de janeiro de 2012

O ESTILO OURIÇO


Bastante curiosa esta petição, subscrita por todas as forças políticas com assento no parlamento nabantino, e cuja primeira signatária é do PSD. Começa por se declarar "Pela suspensão imediata do processo de reorganização do CHMT". Logo abaixo, omite a transferência  da valência de Ortopedia para Abrantes. Finalmente limita-se a exigir que a urgência passe a "ser classificada de SUMC". Afinal em que ficamos? Suspensão imediata? Reclassificação da urgência? 
Como documento a enviar para a A.R., já vi melhor, mais claro e mais coerente.

O documento acima reproduzido e o distintíssimo texto do cidadão Virgílio Lopes (que pode ser lido nos comentários ao post anterior), fornecem um excelente pretexto para estender o guardanapo. Procurarei ser o mais sintético possível.
Fui a quase todas as manifestações soi-disant pró-hospital, só falhei aquela da manhã, frente à porta do mesmo. Em todas, procurei informar-me sobre os fundamentos da contestação, que começou com o surgimento na cidade de "avisos necrológicos", não identificados, porém demasiado perfeitos e oportunos para  obra de espontâneos. Em qualquer caso, até agora está por saber-se quem convocou as manifestações, sendo contudo conhecidos os oradores espontâneos e os do costume.
Apesar da pluralidade de concentrações, quatro se não erro, apenas são conhecidas a reivindicações, afinal condensadas numa só: "suspensão imediata do processo de reforma". Acessoriamente sabe-se também que tal suspensão seria para melhor debater o problema. Mas quanto a fundamentação, alternativas, outras propostas, até agora zero.
Chegou-se até a uma situação assaz insólita: os que exigem que a administração do CHMT fundamente as suas decisões, não justificam minimamente as suas. Tal como ainda não apresentaram documento algum para demonstrar que vai haver privatização ou venda dos hospitais de Tomar e Torres Novas. Ou que indique que algum andar de alguma das unidades vai ser entregue a privados. Ou que o Hospital de Tomar está a ser tratado injustamente. Sobre tudo isto, até agora tem sido só blábláblá.
Nestas condições, é evidente que se procura fomentar a clandestinidade, o boato, a calúnia, a suspeita, o processo de intenções, a chicana política, tudo coisas aceitáveis em regimes ditatoriais, mas que a Tomar chegam atrasadas quase quarenta anos. Mesmo a transitória união política local, mais parece produto de algum cabotinismo e de óbvia manipulação política, do que da honesta defesa dos interesses do concelho. Num regime livre, aberto, tolerante e com um governo legítimo, não há razão alguma para acções clandestinas. A não ser que os reais objectivos possam não ser assim tão transparentes.
A palavra de ordem "Pela suspensão imediata do processo", que sem dúvida por mero acaso se ouviu logo no início da primeira manifestação, continua a carecer de justificação cabal, como já vimos acima, mais tem afinal filiação bem conhecida, na Itália e sobretudo na Grécia. Neste país, o governo do PASOK tem usado e abusado de palavras como suspensão, adiamento, debate, fundamentação, alterações, incapacidade, inadequação à realidade grega, e outras que tais. Tudo para protelar as medidas exigidas pela troika. De tal forma que, passados dois anos do primeiro resgate, o país mantém-se à beira do precipício, vulgo bancarrota. Segundo Bruxelas, porque as medidas propostas não foram implementadas. 
Neste momento, enquanto em Itália já não há adiamentos nem suspensões, nem debates, nem desculpas de mau pagador, (como na época Berlusconi),  mas um governo de tecnocratas, liderado por Mário Monti, um ex-funcionário da UE, na Grécia a situação é angustiante para todos. De um lado, o desacreditado governo grego, a precisar de mais auxílio externo como de ar para respirar. Do outro, a troika, o FMI e a UE, com exigências cada vez mais gravosas. Agora, para desbloquear um novo e vultuoso resgate externo, exigem: A - Acordo prévio com os credores, que permita reduzir a dívida pública actual em pelo menos 60%; B - Transferência para o Parlamento Europeu e para a Comissão Europeia da soberania grega no que concerne às finanças; C - Despedimento de 150 mil funcionários públicos em 2012, 2013 e 2014 (Há dois anos apenas propunham 50 mil despedimentos no Estado. Mas com as sucessivas suspensões...).
É isto que se pretende para Portugal e para Tomar? Ainda fará algum sentido, mais de 30 anos após o 25 de Abril, a política do "quanto pior, melhor"? "Os ricos que paguem a crise"? E se não houver ricos que cheguem?
Posso estar redondamente enganado, equivocado ou a ver mal as coisas. Mas então façam-me um grande favor: Abram-me os olhos, mostrem-me a verdade. Mas com documentos fiáveis, que de conversa estou farto. De boas intenções está o inferno pavimentado.
Para concluir, quem leu até aqui, continua sem saber qual a relação com o título. Pois trata-se de uma categoria de cidadãos em vias de extinção na Europa do Norte, mais ainda abundantes em Portugal e sobretudo em Tomar. Quando a situação deixa de lhes agradar, ou os interlocutores não se deixam ludibriar, o cidadão-ouriço faz como o animal homónimo -enrola-se e começa a picar por todos os lados. É o caso do distinto cidadão Virgílio Lopes. Com o devido respeito.  

A questão do hospital - Começar pelo princípio

 Fonte CHMT

 Fonte CHMT

Fonte CHMT

É uma lapalissada, mas mesmo assim há que escrevê-la: Na questão da reestruturação do CHMT, era pelo princípio que se devia ter começado. Mas quê! Nesta nossa querida terra, como todos sabemos, a lógica é uma batata e portanto preferimos comê-la, que com bacalhau ainda não se conseguiu melhor. Adiante.
As três infografias supra bastam-se a si próprias. Nelas se pode ver que qualquer um dos hospitais do CHMT teve ganhos e perdas, como sempre acontece numa solução negociada. Se assim não fosse, nem valia a pena ter negociado, pois negociar é ceder aqui, para conseguir ali e transigir acolá. Julgo eu...
Temos por conseguinte que Abrantes mantém-se como a unidade com maior número de camas, mas perde duas especialidades.   Torres Novas passa a concentrar Medicina interna, mas perde a Cirurgia Geral. Tomar perde Medicina interna e Ortopedia, mas passa a concentrar Cirurgia Geral, ficando como a unidade com mais valências: 7, contra 6 em Abrantes e 5 em Torres Novas.
Além disso, talvez não seja mero produto do acaso o facto de Tomar passar a concentrar Oftalmologia, Otorrino e Psiquiatria. Numa terra onde quem tem um olho, julga que é rei; onde a maior parte adora gargarejar; onde o bom-senso não é propriamente algo muito disseminado; ter cuidados médicos de proximidade para qualquer dessas três maleitas, não é pouca coisa.
Quanto aos outros aspectos, fui assistir a parte do debate ontem levado a efeito pelo BE. Estavam lá à roda de 50 pessoas, entre as quais meia dúzia de antigos alunos meus. Que saudades! O deputado João Semedo, que é médico de profissão, foi assaz claro, julgo eu. Disse compreender e aceitar a conveniência de concentrar num único hospital os serviços mais pesados e complexos. Maternidade em Abrantes, Blocos operatórios em Tomar, por exemplo. Apesar disso, alguns intervenientes, um deles médico, lá foram reafirmando que a administração do CHMT tem de justificar as opções tomadas. Estavam bem arranjados se assim fosse. Andariam meses e mais meses a alinhavar argumentos médicos, argumentos contabilísticos, argumentos demográficos, argumentos geográfícos, argumentos políticos, argumentos humanitários...e por aí fora.
Não; na realidade o que os mentores dos contestários pretendem é emperrar o processo em curso. Como sucedeu em 1974/75, com os resultados agora conhecidos de todos. Somos muito bons em chicana política. Ou não fôssemos o país do palavreado oco e bacoco.

sábado, 28 de janeiro de 2012

O que pensa a tia Merkel...


Sabem-no todos os sobrinhos felizardos: É sempre conveniente saber o que pensa uma tia rica, sobretudo quando nos vai dando algum dinheirito para extravagâncias, como tem sido o caso. A chanceler alemã Ângela Merkel, tutora de facto dos perdulários sobrinhos do sul da Europa, (e dos outros!), concedeu uma longa entrevista a seis grandes jornais europeus: LE MONDE, EL PAIS, LA STAMPA, THE GUARDIAN, GAZETA WYBORCZA e SÜDDEUTSCHE ZEITUNG. Em Berlim, no passado dia 19. Eis as passagens que pareceram mais significativas, a partir da versão francesa, do Le Monde de 26/01/12, página XII.

"No início, tratava-se de saber se na Europa não estávamos simplesmente a ser vítimas dos especuladores, dúvida que originou um debate intenso. Agora, e é o passo decisivo, conseguimos perceber quais as causas dos nossos problemas. Nestes últimos 18 meses, numerosos países desenvolveram esforços incríveis e iniciaram reformas dolorosas, o que me leva a assegurá-los de todo o meu respeito. Penso que no conjunto encontrámos um bom equilíbrio entre a solidariedade europeia e a responsabilidade nacional. Se conseguirmos aprender a lição dos todos os erros e omissões, após a crise a Europa será muito, muito mais forte do que era antes. É esta a minha convicção profunda.
... ... ...
Se somos solidários, não devemos por isso esquecer a responsabilidade de cada um. Os dois vão a par. É absurdo prometer sempre mais e mais dinheiro se não lutarmos contra as origens da crise. Em Espanha, por exemplo, 40% dos jovens estão desempregados, o que é também uma consequência da legislação do trabalho. Compreendam que não estou a criticar, pois tenho muita estima pelos esforços de reforma espanhóis. Outros países, como a Alemanha ou os Europeus do Leste, já procederam a dolorosas reformas dos respectivos mercados de trabalho. Defendo que nós, europeus, devemos aprender uns com os outros. E a Alemanha também pode inspirar-se nos outros países nalguns aspectos.
Tendo em conta os biliões de ajudas e fundos de socorro, nós alemães também devemos ter cuidado, se não queremos um dia estar esgotados. As nossas possibilidades também não são ilimitadas. E o conjunto europeu sairia prejudicado.
... ... ...
Procedo de acordo com a minha consciência. Durante trinta e cinco anos vivi num país que, graças a Deus, no fim de contas não conseguiu sobreviver, devido à sua incapacidade económica e política, que foi varrida pela sede de liberdade dos seus habitantes. Estou profundamente convencida que a Europa, com a sua democracia, os seus direitos do homem, os seus ideais de liberdade e os seus valores, tem muito para dar aos seus habitantes e ao Mundo.
Actualmente a Europa ainda representa 7% da população mundial. Se não nos solidarizarmos, a nossa voz e as nossa convicções mal se conseguirão ouvir. A minha motivação reside na ideia europeia de paz, de valores e de prosperidade. É por isso que pretendo que não nos limitemos a passar através da crise. Não quero que a Europa se transforme num museu de tudo aquilo que conseguimos no passado. A Europa que ambiciono vai conseguir inovar. Sei bem  que isso significa para muitos uma grande, grande mudança. É por isso que devemos ajudar-nos mutuamente. Se recuarmos nos nossos esforços; se formos apenas simpáticos e recuarmos nos projectos de reforma, estaremos de certeza a prestar um mau serviço à Europa.
... ... Tudo o que faço, faço-o porque estou intimamente convencida de que a Europa é a nossa grande oportunidade, uma oportunidade que devemos preservar. Sofri durante trinta e cinco anos, até ao derrube do Muro, por não poder ir livremente à Europa Ocidental. Era o meu sonho. É o meu continente. Um continente cujos habitantes acreditam nos mesmos valores que eu. Um continente com o qual podemos ajudar a modelar o Mundo. Com o qual nos podemos comprometer em relação a tudo o que assegura o futuro da humanidade: dignidade humana, liberdade de opinião, liberdade de imprensa, direito de manifestação, governança económica durável, luta contra o aquecimento global. ... ...
A minha visão é a União política, pois a Europa deve seguir a sua própria via. Devemos aproximar-nos pouco a pouco em todos os domínios políticos, porque nos apercebemos  que qualquer problema dos vizinhos tem cada vez mais a ver connosco e vice-versa. Para a Alemanha e para os europeus, a Europa é política interior.
Num longo processo, tranferiremos cada vez mais competências para a Comissão Europeia, que passará então a funcionar como um governo europeu nas competências europeias. O que implica um parlamento forte. O Conselho que reúne os chefes de governo será por assim dizer a câmara alta, o senado. Finalmente, temos o Tribunal europeu como instância judiciária suprema. Pode ser assim a configuração futura da União Política Europeia, algures no futuro, como já referi e após numerosas etapas."

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O Novo triplo A: Assumir. Advertir. Anunciar.

Numa altura em que acaba de aparecer na pista o primeiro candidato às autárquicas de 2013, urge informar os eleitores -incluindo os potenciais candidatos- que com ou sem intercalares, em 2013 o paradigma será outro. O do rigor, da transparência e dos projectos realistas.
Para todos aqueles que ainda não perceberam, ou assim fingem, que estamos a mudar de modelo de sociedade de forma vertiginosa, segue-se a tradução do recente editorial de Christophe Barbier, no L'EXPRESS. Refere-se à França, um dos grandes países europeus. Basta porém substituir França por Portugal para perceber que a nossa situação é ainda mais problemática  que a francesa. E da situação nabantina então, nem se fala. 

"O triplo A acabou, resta-nos o estilo de vida. Uma estrofe d'Arthur Rimbaud, um copo de Auxey-duresses, a aurora num roseiral. Há valores que a Standard & Poor's nunca conseguirá degradar. Mas vamos poder amanhã continuar a disfrutar, se a pobreza se abater sobre a França? Porque é disso mesmo que se trata doravante.
Do problema denunciado pelas agências de notação financeira -um verdadeiro estado de falência- ou remédios necessários -uma purga de austeridade- surgirá a mesma situação: A França exausta, insolvente, estrangulada pelas obrigações financeiras. Não será ainda a miséria e não devemos morrer de fome na rua, nem sofrer os assaltos dos saqueadores. Não estamos arruinados, estamos a ser mal geridos. Mas desta vez temos de dizer adeus para sempre ao confortável édredon do nosso conforto, o chamado modelo social francês.
Era excelente o alambique de generosidades misturadas, em forma de vasos comunicantes! Os trabalhadores pagavam para os desempregados, os de boa saúde para os doentes e os jovens para os idosos. "Engenhocado" pelos sucessivos governos o conjunto transformara-se numa central de gás com buracos em todas as canalizações, mas que mesmo assim continuava a fornecer o seu líquido solidário e os seus vapores igualitários. Agora porém vai-se acabar. Os que pagam já não chegam para financiar os que recebem.
Dos candidatos à presidência espera-se doravante o novo triplo A. A como "assumir": o modelo social morreu, fomos nós todos que o matámos. A como "advertir": a austeridade vem aí, seja qual for o vencedor. A como "anunciar": já não queremos programas, aguardamos receitas. Acabaram as propostas, venham as prescrições. A solidariedade era "uns para os outros". Agora vamos passar ao "cada um para si" da direita liberal? Ou ao "todos para o Estado" com a esquerda fiscal?
Há muitas maneiras de voltar a encher os cofres públicos, pois no nosso país há muitos mealheiros. A tradicional vaca leiteira já é só um zebu famélico, que não encontra nada para comer nos campos franceses; mas ainda há montes de leitões aptos a sofrer a austeridade, como quando vão para o matadouro. Talvez seja preciso aumentar os impostos sobre as pensões mais altas, as daqueles que tiveram sorte durante os "Trinta gloriosos" e que a agora podem muito bem dar algum dinheiro aos seus descendentes, uma vez que não foram capazes de lhes legar um país em ordem.
É sem dúvida urgente espremer um pouco mais o funcionalismo, muito capaz de acrescentar enfim a produtividade ao desempenho. É certamente indispensável convencer os ricos a estarem orgulhosos, como cidadãos, de pagar mais como contribuintes. É necessário, enfim, deixar de subsidiar os que dizem ter direito, mas continuar a ajudar os que necessitam, fazendo a impiedosa triagem dos primeiros e dos segundos.
Tudo isto vai aleijar. Tudo isto vai provocar protestos. O próximo presidente vai ter de optar entre a impopularidade e a ineficácia. Nestas condições quem quer o lugar? De certeza?

As reformas seguintes

1 - A polémica a propósito da reforma do CHMT praticamente cessou. Sem objectivos claros ou realistas, no estado actual das coisas não se vê o que dela possa resultar, qualquer que venha a ser a sua evolução. O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. No calor das concentrações, vários oradores de circunstância focaram um aspecto aparentemente consensual e irremediável: Edificar e equipar três hospitais a pouco mais de 20 quilómetros uns dos outros, foi uma asneira das grandes. Acontece que não foi. Apenas ocorreu o oposto do que se previa: a população e a economia, em vez de crescerem, como seria lógico, definharam e de que maneira. Claro que décadas mais tarde e em ambiente de desastre social, está-se mesmo a ver que FOI assim. O mesmo acontece com a crise em curso. Dentro de alguns anos, outros especialistas de café vão alcunhar-nos de asnos e coisas do mesmo tipo.
2 - Ainda que lateralmente, só um político local foi assaz ladino para pôr o dedo na ferida. Bruno Graça, do alto dos seus mais de 30 anos de actividade política, chamou a atenção para a saída de Tomar da ortopedia e da medicina interna, frisando que vão implicar a transferência de cerca de 100 funcionários qualificados e jovens. Tem toda a razão. De forma dissimulada é também isso que se está a procurar fazer, aproveitando a boleia da inevitável reestruturação justificada pelo enorme "buraco" de 160 milhões. Tenta-se compensar a perda de um em cada cinco habitantes de Abrantes, transferindo para lá postos de trabalho. O que todavia não implica taxativamente que os titulares desses empregos mudem a sua residência para a cidade à beira-Tejo. Há questões de recursos patrimoniais e paisagísticos, de qualidade de vida e de segurança, por exemplo. Em todo o caso, é óbvio que a evolução societal é cada vez mais rápida, pelo que mais ano menos ano, qualquer que venha a ser o resultado da reforma em curso, haverá novas alterações em termos de valências e portanto de postos de trabalho. Nenhuma administração responsável consentirá sustentar durante muito tempo situações em que os pacientes vivem numa zona e o hospital esteja noutra. Basta atentar nos preços do petróleo. E nesta conformidade, se Tomar conseguir dar a volta ao texto, aprendendo a gerir os seus ricos recursos...
3 - Assim ou assado, é óbvio que as próximas reformas vão ser a redução de freguesias, a racionalização das chefias nos municípios, a redução de funcionários e, já no segundo semestre, a supressão de pelo menos 60 municípios. Isto no âmbito nacional. E Tomar, como é costume, não tem opinião fundamentada sobre nenhum dos ditos processos. Depois queixam-se. 
A nível local os problemas são conhecidos, alguns até já ultrapassaram a idade do serviço militar. O mais premente neste momento será a cabimentação orçamental da indemnização de 6,5 milhões de euros à ParqT, obrigatória porque determinada judicialmente. Uma vez que nem PS nem IpT estão dispostos a suportar o ónus do voto ou da abstenção colaborante, parece-me que só um acordo de cavalheiros, que inclua uma saída airosa para o actual bloqueio político de facto, poderá solucionar o imbróglio. Esse acordo de cavalheiros deverá resultar no meu entender de uma de duas hipóteses: A - Uma efectiva partilha de poder, que o PSD já demonstrou sobejamente não estar disposto a aceitar; B - A renúncia em bloco de todos os eleitos e membros das listas para o executivo, seguida de eleições intercalares só para o referido órgão. Os dados estão lançados. Quanto mais tarde, pior maré... que a evolução não espera por nós. E cada comboio só passa uma vez em cada estação.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Principais temas da semana


 O grande tema desta semana é naturalmente a contestação à reforma do CHMT, que merece o principal destaque de CIDADE DE TOMAR. Do relato da sessão extraordinária da AM, com a habitual transmissão directa da Hertz e colunas de som na Praça da República, relevo para os ataques a Carlos Carrão, centrados no facto antes aqui denunciado de já saber muito bem o que se passava, mas nada ter transmitido aos restantes membros do executivo. Na resposta, o presidente interino lá foi repetindo que está na autarquia há 14 anos e sempre defendeu os interesses de Tomar. A dado passo acrescentou que, por muito que custe a algumas pessoas, "O PSD vai ganhar em 2013". Ignoro em que elementos se baseou para semelhante previsão. Julgo porém que nova vitória laranja pode vir a ser possível, mediante duas condições sine qua non: que o senhor Carrão não seja o cabeça de lista e que PS e IpT colaborem como habitualmente, roubando votos um ao outro.
Ainda sobre o hospital, o presidente da câmara de Torres Novas  declarou ao CIDADE DE TOMAR que se "devem deixar de lado as polémicas e todos os autarcas devem agir com serenidade, trabalhando em conjunto para reforçar a sustentabilidade do CHMT... ... a unidade de Torres Novas ficou menos rica do que a de Tomar, mas isso para mim não é determinante, nem me passa pela cabeça protestar porque perdi as urgências. Importante para mim é manter os três hospitais e, nesse sentido, devemos trabalhar todos em conjunto."


Além da polémica sobre a reforma hospitalar, O TEMPLÁRIO publica um excelente texto de J.A. Correia Pais sobre a evolução demográfica do distrito de Santarém. Graças à infografia da página 9 ficamos saber que entre 1981 e 2011, três décadas portanto, Abrantes, Alcanena, Alpiarça, Chamusca, Coruche, Ferreira do Zêzere, Golegã, Mação, Santarém, Sardoal, Tomar, Torres Novas e Barquinha perderam população, com destaque para Abrantes (-19,2%) e Tomar (-10,9%), além de outras localidades menos importantes. Em contrapartida, durante o mesmo período aumentou a população residente em Almeirim (10,5%), Benavente (78%), Cartaxo (8,3%), Constância (2,7%), Entroncamento (68,7%), Ourém (11%), Rio Maior (6,5%) e Salvaterra (16,9%).
Outro tema interessante no semanário dirigido por José Gaio vem nas páginas 16 e 17, dando a conhecer a opinião dos estrangeiros que escolheram viver na nossa cidade. Trata-se de conteúdo que devia ser distribuído aos senhores autarcas da relativa maioria (e outros). A ver se abandonavam os gargarismos do costume e se resolviam finalmente, senão a implementar, pelo menos a propor soluções para problemas que nos atormentam há décadas e não parecem incomodá-los minimamente. O realojamento dos ciganos, ou o mercado, por exemplo...


N'O MIRANTE desta semana, além da vistosa capa (Fotos de Bruno Graça e Miguel Relvas),  há as habituais piadas do Cavaleiro Andante e do Mirante cor-de-rosa ("Administração garante que não vão faltar aspirinas nem termómetros nas urgências de Tomar e Torres Novas"), bem como a magnífica crónica susbscrita por JAE, que pode ser lida em http://ultimapaginaomirante.blogspot.com

O "Vai "xá" patrão" e o hijabe argelino

A chalaça é de princípios do século passado. Quando os galegos ainda imigravam para o Porto e para Lisboa. Num certo estabelecimento de bebidas, o cliente manda vir quatro cafés. O empregado galego regista o pedido e remata com o tradicional "Vai "xá" patrão!" -Não é chá rapaz, são quatro cafés! "Vai "xá" patrão!" -Mau, mau! Tu és surdo rapaz?! Sabes preparar cafés? -Sei sim patrão. Põe-se o café no moinho, depois põe-se no coador do saco, depois mergulha-se na água a ferver... -Pronto! É isso mesmo! Traz lá então os quatro cafés... -Vai "xá" patrão! -E ele a dar-lhe! -Mas tu sabes ou não sabes fazer café?!-Sei sim patrão.  Põe-se o café no moinho...
Este exemplo de diálogo de surdos tem a sua razão de ser, pois o cliente e o empregado não falavam bem a mesma língua, mas duas variantes dela. Acontece que na variante galega do galaico-duriense -o falar que está na origem do português, do galego, do leonês e do mirandês- na variante galega, escrevia, não se usa o jota português de Juvenal, por exemplo, nem a jota castelhana de Juan, mas sim o X, como em Xuventude = Juventude, ou Xunta  em vez de Junta. Donde o "Vai "xá" patrão! = Vai já patrão!
Na urgente e indispensável reforma do CHMT e no que concerne ao Hospital de Tomar, quer-.me parecer que estamos mais ou menos na mesma. De um lado o governo e o ministro da saúde, forçados a usar uma linguagem de rigor, de poupança, de reformas estruturais, tal é o insustentável descalabro em todos os sectores, com "buracos" que vão levar anos a tapar. Do outro, os funcionários e os cidadãos, usando a linguagem do conforto, da segurança, da alergia à mudança, camuflada sob milhentas formas, que vão do "são necessários mais estudos" ao clássico "suspenda-se até melhor ocasião e melhor proposta". Da incomunicabilidade prática entre as duas partes, resultam os inúmeros e cada vez mais frequentes diálogos de surdos em todos os sectores a reformar. Freguesias, Câmaras, Hospitais, Institutos, Universidades, Empresas públicas, Direcções-gerais, etc. etc. Todos são favoráveis à mudanças urgentes e indispensáveis. Desde que para eles possa continuar tudo na mesma. Exactamente como no final da guerra na Argélia, nos anos 60 do século passado, quando os franceses se foram. Colocou-se então o problema de saber se as muçulmanas deviam ou não usar o hijabe, aquele véu para cobrir o rosto. Praticamente todos os argelinos interrogados sobre o assunto tinham a mesma opinião:  Era o que faltava, andar agora com o rosto tapado! Sou inteiramente a favor da cara descoberta. Menos a minha mulher, que já não tem idade para isso; e as minhas filhas, que não estão habituadas...
Assim estamos em Portugal. E na Grécia então...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Tranquilizantes: consumir com moderação

Imagem acrescentada por Tomar a dianteira

"Um francês em cada cinco consome em cada ano pelo menos uma benzodiazepina ou uma molécula da família", indicou a Agência Francesa de Segurança Sanitária dos Produtos de Saúde - AFSSAPS (o INFARMED francês), no passado dia 16, numa análise da situação sobre o consumo dessa classe de medicamentos com aplicações ansiolíticas e hipnóticas.
Entre 2006 e Junho de 2011, mais de 25 milhões de pessoas (60% do sexo feminino) tomaram esse tipo de medicamentos, os quais são regularmente postos em causa, porque os franceses os tomam em excesso. Fazem parte da classe dos psicotrópicos, tal como os antidepressivos e os neurolépticos.
Comercializados desde os anos 60, 134 milhões de caixas foram vendidas em França em 2010, das quais metade eram ansiolíticos (Xanax, Lexomil, Temesta, Lysanxia...) e 37,6% eram hipnóticos (Rohypnol, Noctamid...) ou aparentados (Stilnox, Imovane). Segundo as respectivas propriedades, as 22 benzodiazepinas actualmente no mercado são indicadas para tratar a ansiedade, problemas graves do sono, epilepsia e contracções musculares dolorosas. O consumo dos ansiolíticos diminui regularmente de cerca de 1,8 ao ano desde 2002, mas o dos hipnóticos mantém-se estável e bastante elevado.
No consumo de ansiolíticos, a França ocupa o segundo lugar entre os países europeus, logo a seguir a Portugal. No consumo de hipnóticos é igualmente segunda, desta vez atrás da Suécia. Acontece porém que estes medicamentos não são anódinos, comportando riscos para a saúde e efeitos negativos, assinala a AFSSAPS.
Sendo certo que tais tratamentos são indispensáveis para numerosos pacientes, refere o citado organismo oficial,  podem também provocar problemas de memória e de comportamento, alterações do estado de consciência e das funções psicomotoras. Efeitos que se agravam no caso dos pacientes idosos.
O professor Bernard Bégaud, da Universidade de Bordéus II, já manifestou nestas colunas as suas preocupações sobre os efeitos nocivos de determinados ansiolíticos (Le Monde, 24/12/10): "Cinco estudos mostram que o uso prolongado de algumas benzodiazepinas por pacientes idosos, pode favorecer o surgimento de demência do tipo doença de Alzheimer." Está a decorrer neste momento um novo estudo para confirmar tais resultados. Além disso, a AFSSAPS indica, entre outros efeitos secundários indesejáveis, um aumento das quedas susceptíveis de causar fracturas nos pacientes mais idosos.
A duração do tratamento neste grupo etário excede com frequência a que é recomendada.. Por outro lado, "o uso de benzodiazepinas propicia um risco de dependência psíquica e física, acompanhado de síndrome de privação aquando do desmame", realça a agência francesa do medicamento.
Existe igualmente uma elevada utilização problemática das benzodiazepinas, designadamente o seu uso abusivo pelos toxicodependentes. Por outro lado, os citados medicamentos podem também ser administrados sem que a pessoa saiba, ou sob ameaça, para violações, roubos...Convém ainda ter em conta que o uso da referida molécula aumenta singularmente o risco de acidentes rodoviários.
A duração de cada tratamento preocupa as autoridades sanitárias. 52% dos pacientes tomam ansiolíticos ou hipnóticos durante mais de dois anos, com ou sem interrupção do tratamento, quando de acordo com as melhores práticas, a duração recomendada é limitada a doze semanas para os ansiolíticos e quatro semanas para os hipnóticos.
Em 21,1% dos casos, a terapêutica com benzodiazepinas inclui igualmente um antidepressivo. E 21% dos doentes fizeram pelo menos uma vez um tratamento com várias benzodiazepinas em simultâneo. Neste contexto, a AFSAAPS propõe medidas para limitar o consumo e propiciar a utilização mais adequada. Receitas de segurança passam a ser obrigatórias para algumas benzodiazepinas, tal como já acontece com os estupefacientes.
Uma outra pista consiste em diminuir o tamanho e o conteúdo das caixas deste tipo de medicamentos, como forma de evitar abusos. Avisos claros vão ser enviados aos profissionais de saúde: avaliar cuidadosamente a situação, antes da primeira prescrição; limitar as posologias e a duração do tratamento; reavaliar regularmente a pertinência da terapêutica; nunca associar várias benzodiazepinas.
Finalmente, segundo a AFSSAPS, "devem ser tidas em conta as terapêuticas não medicamentosas, como a  psicoterapia".

Pascale Santi, Le Monde, 24/01/12, página 25

Fracassou a aventura contestatária tomarense





Por agora, como se pode ver nas quatro imagens acima, obtidas cerca das 16H15 de hoje, tudo parece indicar que fracassou a aventura contestatária tomarense. Sem líderes identificados, apenas conhecidos entre os raros cidadãos cuja tarimba lhes permite ler "marcas de água"; sem objectivos, sem ideias claras e sem propostas alternativas, tratou-se no meu entender de mais uma acção prejudicial para o futuro de todos nós. Conforme já aqui foi antes referido, frustrados nas suas expectativas, dificilmente os eleitores tomarenses poderão voltar a ser mobilizados nos tempos mais próximos para qualquer acção em prol da cidade e do concelho, por muito meritória que venha a ser.
Pouco a pouco, paulatinamente, todos foram percebendo não só que estávamos e estamos isolados na região, mas também que a peregrina ideia de suspender a reestruturação do CHMT não tinha nem tem pernas para andar, pois o défice das três unidades hospitalares já vai nos 160 milhões de euros. Que vão ter de ser pagos e NÃO HÁ DINHEIRO para isso. Pura e simplesmente.
As autarquias de Abrantes e Torres Novas apoiam o plano a implementar. A comunidade do Médio Tejo, cuja sede é em Tomar, também. Quem somos nós para contestar? Que alternativas temos a propor? Que soluções para o défice? Em todos os casos, insistiu-se no blábláblá, nas suspeitas infundadas, na teoria conspirativa, na implícita divisão maniqueista entre bons e maus. Como se houvesse alguma força política, ou outra, só com bons ou só com maus. O resultado aí está, para quem tenha a coragem de o assumir.
Entretanto, ultrapassado este período de diversão em relação ao essencial, os grandes problemas tomarenses  continuam a aguardar respostas adequadas. Com o caso ParqT à cabeça de uma longa lista: Mercado, Ciganos, Convento de Santa Iria, Mercado abastecedor, Nabão, Convento, Mata, Centro Histórico, Investimento, Caminho de Ferro, R.I. 15, Politécnico, Elefante Branco da Levada, Alambor. Tudo problemas complexos em permanente evolução, que não vão de certeza aguardar que os tomarenses, ou quem os representa, apareçam uma bela manhã com ideias luminosas prontas a aplicar. Tudo aponta aliás no sentido de em cada um desses processos virmos a ser "apanhados com a calças na mão", como acaba de acontecer com a reforma hospitalar, suspensa desde 2008.
Somos um povo sem emenda.

No melhor pano...

Com os políticos locais ocupados na questão do hospital, para a qual ainda não apresentaram qualquer solução alternativa (suspender a aplicação não é propriamente uma ideia brilhante, com o défice a aumentar e num país onde NÃO HÁ DINHEIRO...), a vida local continua em todos os outros sectores. Eis um pequeno filme.
Duas da tarde. Telefonema. Mãe aflita. Tenho a casa toda inundada. É um cheiro que não se pode aguentar. A minha filha teve uma menina a semana passada. Foi suturada com 45 pontos em baixo. Precisa de descansar. O senhor que é o senhorio tem de resolver o assunto.
Já no local com um artesão especializado. Constata-se entupimento dos esgotos nas caixas de visita. Tenta-se resolver com uma mangueira ligada à torneira. Sem resultado. Outra rendeira queixa-se. Tenho a sanita entupida. Estou farta de deitar baldes de água mas não desentope. (É a água que vai inundar o outro apartamento, passando pela caixa entupida). Porque é que ainda não se queixou? Para quê? Um dia destes chamei os bombeiros. Mandaram-me dois polícias.
O melhor é chamar aquele carro de desentupir dos serviços da câmara. Opinião do homem chamado para resolver o problema. Manda-se aguardar no local. Ida aos SMAS. Atendimento imediato e simpático. Não havia mais ninguém. Explicação do problema. Telefonema da funcionária para o encarregado do serviço. Informa a funcionária que vai voltar a chamar. Telefonema-resposta. Encarregado informa que não consegue contactar os funcionários da viatura.
Subida ao primeiro andar. Pedido para falar com determinado responsável superior. É favor aguardar um momentinho que está ocupado. Desistência cerca de meia hora depois. Regresso ao local do entupimento. Abertura da caixa de visita interior que não dispunha de tampa amovível. Consegue-se desentupir a muito custo. Entupimento da caixa de visita exterior. Abertura da respectiva tampa amovível. Desentupimento mais fácil. Colector mesmo ao lado.
De regresso a casa. Passagem pelos SMAS para anular o pedido de desentupimento. Leitura de mail do responsável dos SMAS que estivera ocupado. Pede desculpa e informa que estão a fazer o possível para solucionar o problema. Resposta. Agradecimentos mas já não é preciso. Não parece correcto nem aceitável que um encarregado não possa contactar com o seu pessoal a qualquer hora. Numa autarquia com mais de 200 telemóveis entregues aos funcionários.
Tem havido evidentes melhorias nos SMAS. Instalações. Atendimento. Facturação. Falta rever os preços. E sobretudo melhorar a organização interna. Com um sistema fiável de comunicação imediata. De modo a poderem acudir prontamente em caso de urgência, acidente ou tragédia. No melhor pano cai a nódoa.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Miguel Relvas não virá presidir à AM de amanhã

Tinha decidido só voltar a escrever sobre a questão do hospital na próxima quinta-feira. Todavia, a actualidade ditou as suas leis, pelo que se impõe escrever hoje. Fonte fidedigna avançou a Tomar a dianteira que Miguel Relvas não deverá deslocar-se a Tomar amanhã, em virtude de todas as quartas-feiras serem reservadas à preparação dos conselhos de ministros do dia seguinte. Acresce que, segundo a mesma fonte, a recente contestação nabantina à restruturação do CHMT é considerada nos meios governamentais como um simples "fogacho", alicerçado em suspeitas infundadas, medo atávico do futuro, apelo à inveja e muita demagogia. Dados concretos ainda estão por apresentar. E das soluções oportunamente solicitadas, nem ditos nem modos.
Em relação à suspeita de privatização ou venda dos hospitais de Tomar e Torres Novas, a referida fonte asseverou que essa hipótese nunca esteve nem está em cima da mesa. Se assim fosse, acrescentou, seria mais vantajoso construir um hospital de raíz em parceria público-privada, para mais tarde encerrar um ou dois dos existentes.
Falando da hipótese absurda que por aí circula, segundo a qual o governo estaria a beneficiar Abrantes e Torres Novas, prejudicando Tomar, a citada fonte lembrou que se trata de autarquias geridas pelo PS há vários mandatos, pelo que não se percebe qual seria o interesse dos social-democratas nessa suposta orientação, tal como carece de qualquer fundamento que o ministro da saúde esteja a prejudicar Tomar ou a tentar "despejar" o hospital de muitos dos seus recursos. No fundo, tudo indica que tais suspeitas infundadas são difundidas com a clara intenção de acirrar a tradicional inveja nabantina, impelindo os tomarenses a manifestar-se, quando afinal, segundo consta no próprio hospital, o que no fundo está em causa são aqueles clínicos com um vencimento mensal de 2000/3000 euros, e mais do dobro de horas extraordinárias, situações que agora têm os dias contados, pois o país não tem recursos para pagar a alguns especialistas 70 euros/hora, quando é possível contratar no exterior por menos de metade.
Face ao silêncio de Torres Novas e à concordância de Abrantes, vai sendo tempo de os tomarenses se convencerem que presentemente não temos prestígio político, nem peso económico, nem massa crítica, susceptíveis de tornar as nossas manifestações "audíveis" em Lisboa, sobretudo quando nos limitamos a tentar suspender, adiar, evitar, desviar, manter, anular, e o que se exige e a cidade precisa é de audácia, novas ideias, novas soluções, fuga para a frente...
Por tudo isto e por considerar evidente que a esquerda local está sem ideias e sem projecto, limitando-se a criar obstáculos para evitar que as coisas mudem, mesmo quando considera que estão mal, amanhã não irei à manifestação, pois não concordo com a suspensão de uma reestruturação que já devia ter sido implementada em 2008, quando foi decidida pelo ministro socialista Correia de Campos.
Um último tópico. Esta do PSD/Tomar contra o PSD/Governo é algo que não consigo entender, pois me parece indiciar que estarão em causa outras vertentes menos relacionadas com o CHMT. As eleições internas do próximo mês, por exemplo...

Tarde, pouco, fraco e de má vontade...

 Inicialmente, o aspecto era este: uma pequena quantidade de gravetos resultantes da poda num quintal.

Após dez dias, três telefonemas, dois mails e um post, o resultado agora é este.

As duas fotografias acima documentam um exemplo do principal problema do Município de Tomar. A evidente falta de ascendente e autoridade dos eleitos em relação aos funcionários prejudica gravemente os tomarenses e a cidade. Neste caso concreto, só passada mais de uma semana vieram recolher uma pequena quantidade de ramos. Fizeram-no de má vontade, porque foram obrigados, e isso nota-se. Deixaram uma parte, como quem diz -"Se pensam que mandam na gente, estão enganados!" Claro que agora vão alegar que não são da "varredura" e que por isso não varreram. Pois! Mas nestes últimos tempos, o funcionário da "varredura", o antigo "varredor", só por aqui tem passado uma vez por mês. E é quando passa! Resta portanto aguardar para o mês que vem. 
Mal empregado dinheiro que se é obrigado a pagar para saneamento, para tratamento de esgotos e para recolha de resíduos sólidos. Como por exemplo ramos da poda dos arbustos do pequeno quintal.
Trata-se na minha tosca opinião, de quem não conhece mundo, de uma das graves doenças do país e particularmente de Tomar. Funcionários intimamente convencidos de que os eleitores-contribuintes estão ao serviço do Estado e da autarquias, quando é (ou devia ser) exactamente o contrário. Os funcionários é que são pagos para servirem os contribuintes. Se não servem para isso, também não servem para mais nada, que gastar dinheiro qualquer um sabe. Enquanto não houver eleitos com coragem para implementar tal evidência e fazer cumprir o dever a cada um, os senhores funcionários-donos-da-autarquia vão continuar a trabalhar pouco, tarde, mal e de má vontade. Fora o resto, nalguns casos...
Claro que há notáveis excepções, por isso mesmo honrosas. Dado porém que quem cala consente, ficamos por aqui. Só alguns comem os figos, mas rebentam os lábios a todos. Como dizem os de religião judaica "Deus saberá escolher os justos, quando a ocasião se apresentar".

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Custo horário do trabalho na União Europeia

Le Monde - Géo & Politique, 23/01/12, página 3

Há dois ou três dias que ando indeciso entre escrever ou não sobre o hospital, os tomarenses, as manifestações, os argumentos e a Assembleia Municipal. Finalmente, reflexão feita, parece-me melhor deixar para quinta-feira, caso ainda me pareça oportuno. Atitude prudente, por conseguinte.
Entretanto, cuido ser útil a infografia supra, com os custos horários do trabalho nos diferentes países da União Europeia. A barra preta com os algarismos indica o custo do país indicado por baixo, enquanto o círculo mostra a variação para mais ou menos, do 3º trimestre/2011, em relação a igual período de 2010, salvo indicação diferente.
O primeiro elemento surpreendente é o facto da Bélgica aparecer à cabeça, antes mesmo da Suécia e da Dinamarca, geralmente considerados como dos mais elevados níveis de vida do Mundo. Situação que se explica com três elementos excepcionais no continente: A administração da União Europeia, os diplomatas e lóbis a ela ligados e os diamantários de Antuérpia, uma comunidade de cerca de 20 mil pessoas, que realiza 7% (em valor) das exportações belgas. Foi o que Portugal ganhou com a expulsão dos judeus, no final do século XVI. Outro dado interessante resulta da comparação entre a Grécia (17,70€/hora) e Portugal (12,17€/hora) com os gregos a desceram quase 4% devido às medidas de austeridade, mas os portugueses a subirem muito ligeiramente.
Com o custo horário do trabalho mais favorável aos investidores há nove (ou talvez onze) países, todos ex-comunistas. Por pouco mais tempo porém, se tivermos em conta os aumentos entre 2010 e 2011, a variarem de +3,6 na Letónia até + 9,8% na Bulgária. A este ritmo, não tarda muito para Portugal passar a lanterna vermelha. Mais a mais agora com a austeridade...

Mais uma de ciência...

Enquanto se aguarda que evolua a situação política tomarense, nada melhor que outro texto científico para descontrair. Neste caso, ao que me pareceu, com alguma analogia entre o mundo do infinitamente pequeno e o que se está a passar em Tomar. Ora leia...

"Uma célula matadora mutante ao assalto dos virus"
"Uma equipa francesa conseguiu ratos-cobaias mais robustos, modificando patrulheiros imunitários"

"Trata-se de uma nova pista, original e inesperada, para lutar contra as infecções virais. Tendo como alvo células da primeira linha de defesa do organismo, os linfócitos NK (Natural Killer), a equipa francesa de Eric Vivier e Sophie Ugolini (INSERM, CNRS, Universidade de Aix-Marselha) conseguiu tornar ratos-cobaias mais resistentes aos virus, mas também estimular as propriedades anti-tumorais dessas células matadoras.
Estes resultados, publicados na revista Science de 20/01, são tanto mais paradoxais quanto é certo que foram obtidos neutralizando um dos principais factores de activação dessas células imunitárias. Um pouco como se engenheiros tivessem conseguido aumentar a velocidade de um automóvel, não pela supressão dos travões, mas do acelerador!
O sistema imunitário continua portanto a surpreender os investigadores. Em 2011, três cientistas que contribuiram para revolucionar a compreensão desse sistema, foram mesmo recompensados com o Nobel da Medicina. O francês Jules Hoffmann e o norte-americano Bruce Beutler foram galardoados pelos trabalhos sobre a imunidade inata -primeira linha de defesa- e o canadiano Ralph Steinman pela descoberta das células dendriticas, implicadas na ligação entre imunidade inata e adaptativa -de segunda linha. Até então, nenhum destes três cientistas tinha ainda trabalhado com células NK, identificadas em meados da década de 70.
Com estas descobertas cruciais sobre os linfócitos, publicadas na Science, os investigadores do centro de imunologia de Marselha-Luminy e o Nobel Bruce Butler, que também subscreve o artigo, abrem uma nova brecha no conhecimento dos nossos mecanismos íntimos de defesa.
Em investigações anteriores, Eric Vivier, que trabalha desde há vinte anos com células NK, contribuiu para elucidar o papel e o funcionamento desses linfócitos matadores. São células que patrulham sem descanso no organismo, capazes de identificar as células doentes (cancerosas ou infectadas) e de as eliminar, atacando-as directamente. Secretam também mensageiros químicos, as citoquinas, que estimulam a resposta imunitária de segunda linha, pelos linfócitos B e T. "As células NK destrinçam as células normais das células doentes recorrendo a radares de superfície, que são de dois tipos: receptores-activadores e inibidores. Há um equilíbrio, instável mas constante, entre os dois, em função dos sinais recebidos, como um balanceiro", explicou-nos o professor Vivier.
Partindo dessa base, a equipa começou há três anos um vasto programa, tendo como objectivo estudar, pelo método da crivagem genética, o efeito das mutações sobre as células NK de ratos-cobaias. Até agora, 30 mil mutações pontuais de ADN foram já exploradas numa população de 4 mil cobaias. E neste oceano de mutações, os investigadores pescaram uma bela pérola: um gene cuja inactivação conduz ao aumento das performances das células NK.
"Fomos indo de surpresa em surpresa, entusiasma-se o professor Vivier. A primeira foi descobrir uma mutação que provoca não uma perda de função, que é o mais frequente, mas exactamente o oposto -um aumento dessa função. Com efeito, infectámos cobaias mutantes deste gene, com um virus equivalente ao citomegalovirus humano (CMV), não tendo acontecido nada., enquanto que as cobaias-testemunho morreram todas em oito dias."
Emilie Narni-Mancinelli, primeira signatária do artigo, repetiu depois a experiência com dois virus gripais, conseguindo o mesmo resultado: os animais mutantes tinham-se tornado insensíveis a esta infecção. Por outro lado, as células NK dos ratos-cobaia com esta mutação -que conduz ao bloqueio  de um receptor denominado NKp46- revelaram-se mais performantes para lutar contra as células tumorais. Cereja no topo do bolo, os investigadores conseguiram reproduzir os efeitos da mutação, bloqueando o mesmo receptor com anticorpos monoclonais, abrindo assim uma via inédita para tratar infecções virais.
Tencionam agora avaliar o potencial desta abordagem na prevenção das complicações infecciosas subsequentes a transplantes de medula óssea, nas quais o sistema imunitário fica muito fraco."

Sandrine Cabut, Le Monde -Science & Techno, 21/01/12, página 3
Tradução de António Rebelo/Tomar a dianteira

domingo, 22 de janeiro de 2012

Olhares cruzados sobre o cancro da próstata

Numa altura em que os tomarenses estão muito preocupados com o futuro do hospital, pareceu-me oportuno traduzir um artigo científico sobre a nova abordagem terapêutica do cancro da próstata. Apesar de saber que nesta terra a principal doença não é o cancro da próstata, mas o da apatia, da hipocrisia e do medo da  política.

                

Copiado de Le Monde, 21/01/12

"Um livro americano, cuja tradução sai esta semana em França, denuncia o abuso das prostatectomias, operações frequentemente inúteis e arriscadas, tanto para a função urinária como para a sexual."

"Tradução de um livro americano, publicado em 2010,  Poupa-me a próstata (Thierry Souccar éditions, 352 páginas, 24 euros em França e em francês), que sai esta semana em França pode vir a relançar uma vez mais o debate sobre o rastreio do cancro da próstata e o excesso de cirurgias de ablação. Nos Estados Unidos, onde todos os anos são diagnosticados 200 mil tumores deste tipo, um grito de alerta muito explícito (Invasion of the Prostate Snatchers, ou seja "A invasão dos ladrões de próstata") levantou celeuma nos media e vendeu 52 mil exemplares.
Escrito a duas mãos, por um oncologista, Mark Scholz, director executivo do Instituto americano de investigação sobre o cancro da próstata, e um paciente, Ralph Blum, que vive desde há 20 anos com um tumor cancerígeno na próstata., "este livro é portanto uma colaboração entre dois especialistas, ambos certificados; um no papel, outro no seu próprio corpo", resume Mark Scholz. Com argumentos científicos de um e pessoais do outro, ambos os autores denunciam o domínio excessivo dos urologistas e os seus excessos de intervencionismo.
Segundo Mark Scholz, mais de 40 mil das 50 mil prostatectomias totais efectuadas anualmente nos Estados Unidos não se justificam, porque "a grande maioria destes homens teriam vivido os mesmos anos sem a intervenção cirúrgica." E tais excessos são são tanto mais inaceitáveis quando, segundo diz, a percentagem de complicações é elevada. Após a ablação prostática, um em cada dois pacientes tem problemas sexuais diversos, e "só 5% declaram que as suas erecções são tão boas como antes da cirurgia. Há registo de perdas urinárias em 7% dos pacientes operados pelos melhores urologistas", diz o médico, mostrando estudos comprovativos.
Ao longo dos vários capítulos, explica as particularidades do cancro da próstata , do respectivo rastreio, e porque razão as biópsias são uma "caixa de Pandora." "Quando o seu médico de família o encaminha para um urologista, a sua primeira preocupação tem de ser a das implicações terríveis que existem no facto de se precipitar sobre uma biópsia da próstata", aconselha Mark Scholz. "A seguir é indispensável também, caso se aceite a biópsia, abster-se de aceitar qualquer tratamento irreversível, até que diminua a emoção provocada pela nova situação clínica, para se ter tempo de analisar atentamente todas as vantagens e inconvenientes da terapêutica proposta."
O oncologista faz igualmente o ponto da situação de todas as opções terapêuticas, já validadas ou ainda em fase de estudo ou experimental e destaca a nova preferência denominada "vigilância activa", protocolo preciso que pode ser proposto nos casos de certas formas  localizadas e pouco evolutivas. Alternando com a voz do especialista médico, Ralph Blum conta os seus dois decénios de convivência com o cancro da próstata. Se o rastreio quase diário do seu PSA (marcador sanguínio dos tumores prostáticos) e a narrativa das suas experiências algo extremas (medicinas muito alternativas, nomeadamente) tornam por vezes a leitura algo cansativa, o seu ponto de vista em espelho fornece elementos diferentes e bastante instrutivos.
Que se passa com o debate sobre o rastreio do cancro? "A dosagem do PSA não é si mesmo um problema, alega Scholz.  O que preocupa é a reacção exagerada dos pacientes e dos médicos, perante as informações sobre a referida percentagem. A solução não deve consistir em controlos mais espaçados, mas sim convencer os médicos a adoptar uma visão mais moderada, sempre que aconselham uma biópsia, logo que a percentagem de PSA aumenta ligeiramente. Sobretudo quando outras razões podem explicar esse aumento."
Recentemente, alguns especialistas americanos adoptaram uma posição ainda mais firme. Em Outubro de 2011, um comité independente -US Preventive Services Task Force- recomendou o abandono dos testes PSA de rotina nos homens com mais de 50 anos e de boa saúde, porque não permitem salvar vidas e conduzem a exames e tratamentos inúteis. A mais recente análise de um estudo americano englobando 75 mil homens, publicada no Journal of the Nacional Cancer Institut no princípio de Janeiro, mostra, com treze anos de recuo, que a prática anual do toque rectal e de um teste PSA não reduz a mortalidade por cancro.
Em França, onde as autoridades sanitárias nunca recomendaram o rastreio sistemático, o debate é igualmente vivo entre os defensores desta estratégia, em particular a Associação Francesa de Urologia, e os seus detractores, entre os quais algumas agremiações de médicos de clínica geral. Apesar da controvérsia, o rastreio do cancro da próstata é uma realidade em França.
Em 2007, foram feitos 5 milhões de dosagens de PSA, dos quais 3,35 milhões no âmbito de rastreios de rotina. Desde então esse número terá aumentado, chegando a 7/8 milhões anuais. Consequência: o total  de diagnósticos de cancro da próstata cresceu igualmente de forma exponencial. Passou de 13 mil em 1990 para mais de 71 mil em 2010, com o total constante de 9 mil mortes anuais.
Para o urologista Olivier Cussenot (Hospital Tenon - Paris), o actual rastreio "não organizado" não está adaptado à epidemiologia de tais cancros: "Metade das prescrições são realizadas em homens de mais de 65 anos, mas começar nesta idade não se justifica pois o tratamento dos tumores detectados não diminui a mortalidade e altera a qualidade de vida." Na sua opinião seria preferível um rastreio precoce aos 45 anos, com o objectivo de identificar os casos de risco, e depois uma simples vigilância de cinco em cinco anos.
As ablações prostáticas também aumentaram em flecha, passando de 6 mil anuais em 1998 para 26 mil e 500 em 2007. Desde então recuaram ligeiramente, para 22 mil em 2010. "Houve abusos, mas actualmente as prostatectomias estão a diminuir, apesar do aumento das formas localizadas de cancro", disse-nos o urologista já referido. É uma evolução que resulta do crescente recurso a tratamentos mais precisos e à vigilância activa."
O professor David Khayat (oncologista, CHU Pitié-Salpetrière - Paris) insiste por seu lado na necessidade de uma informação esclarecida e esclarecedora dos pacientes. Tanto para decidir um rastreio como para a escolha de uma terapêutica ou de uma vigilância activa. "A estratégia de vigilância armada, que proponho a muitos pacientes, com critérios rigorosos, permite a mesma percentagem de sobrevivência que qualquer outro tratamento, segundo os estudos", concluiu o oncologista."

Sandrine Cabut, Le Monde, Science & Techno, 21/01/12, página 3

Sempre entre os piores, nunca com os melhores

 Público, 21/01/12, última página

Expresso, 21/01/12, página 2

Estes dois recortes da imprensa de ontem mostram bem o estado a que chegámos, com esta gente que continua convencida de que está a administrar o concelho e a servir os tomarenses. É uma mania como outra qualquer, com o inconveniente de nos estar a prejudicar -e de que maneira- há mais de 14 anos. A crónica de Vasco Pulido Valente é particularmente certeira, sobretudo quando se refere às autarquias. Basta pensar no Cine-Teatro de Tomar, comprado por uma pequena fortuna da época, remodelado num estilo tem-te por aí e não caias, custa um balúrdio aos contribuintes e está fechado a maior parte do tempo. Numa cidade a definhar, num concelho de menos de 40 mil eleitores, com um passivo de 80 milhões de euros e dívidas a fornecedores de mais de 10 milhões de euros. Viva a cultura! Viva!
A pequena notícia publicada no Expresso oferece-nos outra faceta muito esclarecedora da tragédia tomarense, já com características de peixe-espada -está cada vez mais comprida e mais chata.
Em Montemor o Velho, 23 mil eleitores, 5PSD/2PS no executivo (Tomar 38 mil eleitores 3PSD/2/PS/2IpT),a autarquia decidiu confiar ao mais conhecido e prestigiado arquitecto português -Siza Vieira- o projecto de requalificação da envolvente ao castelo do mesmo nome. Em Tomar, após várias tranquibérnias, as obras da envolvente ao Convento de Cristo vão ao que parece recomeçar, mas os tomarenses continuam sem saber de quem é o respectivo projecto. Segundo as últimas aqui chegadas, aquele parque de estacionamento, tipo piscina estilo Las Vegas, ali do lado esquerdo, antes de virar para a Srª da Conceição é obra de uma estagiária. O resto será o resultado de um esquisso, produto de chefias camarárias, entregue ao empreiteiro aquando da adjudicação. A ser verdade é mais uma estranha história a juntar a um já bem longo rosário de ilegalidades. A seu tempo se verá. Por agora convirá acrescentar apenas que já no caso da Rotunda do Muro Mijatório também continua por saber quem foi o autor do respectivo projecto do muro. Apesar de oportunamente a autarquia ter convocado os dois arquitectos alegados autores daquela obra-prima, para explicarem qual a sua utilidade, até esta data nicles!
Ao invés do que ocorre na natureza, onde nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, em Tomar há pelo menos 14 anos que tudo se perde, nada se cria e nada se transforma. Continua tudo na mesma. Será a nossa sina de descendentes de templários heréticos? O senhor pároco Mário saberá e quererá explicar às ovelhas do seu rebanho, entre as quais me incluo, uma vez que fui baptizado ali em S. João?

sábado, 21 de janeiro de 2012

Começa a renascer a esperança


Muito encorajador, muito clarividente, muito consensual e muito esclarecedor este comentário do vereador Luís Ferreira, goste-se ou não, um tomarense dos quatro costados. Falta agora conhecer a posição da outra parte e das outras formações, mas por algum lado se havia de começar. Tudo bem, portanto? Ainda não. Apesar de me parecer que já estarmos na linha de partida e na boa direcção. O que não foi nada fácil de conseguir. Agora falta encontrar-se e debater, com vontade de concluir e de actuar. Tudo em prol desta nossa bem amada terra, que não pode suportar durante muito mais tempo a péssima administração da actual maioria relativa. Há 14 anos seguidos nos cadeirões do poder, os tristes resultados estão agora à vista de todos, pelo que não adiantará virem com desculpas de circunstância.
Nada, porém, de entusiasmos prematuros. Um mau acordo seria ainda pior que a actual dispersão. E um bom acordo, um acordo sólido e duradouro só pode ser conseguido se baseado numa plataforma com objectivos bem definidos, conhecidos e aceites por todos os intervenientes. Provocar eleições intercalares para o executivo é bem entendido prioritário, mas insuficiente. Há que ir mais longe, fixar metas precisas e exigentes; definir processos e caminhos para as alcançar. Num clima de união, de diálogo fraterno e de lealdade a toda a prova. Caso contrário não vale a pena. O passado recente já demonstrou que coligações em cima do joelho, mesmo com mordomias interessantes, não resistem às vicissitudes da crise actual, a maior das nossas vidas. Outro tanto sucede com as acções encapotadas, à revelia dos tomarenses, que posteriormente condicionam comportamentos políticos. Ou com manifestações sem objectivos definidos, as quais, como já aqui foi referido, só podem acabar por frustrar os participantes. Sendo certo que é nas velhas panelas que se podem fazer as melhores sopas, convém nunca esquecer que para isso é preciso saber de culinária. E não se ficar por receitas do século passado, que actualmente já não entusiasmam ninguém. Tarimba é muito bonito, mas depende do tipo de tarimba. Em Coimbra, há mais de cinco séculos que os archeiros andam na universidade durante quarenta ou mais anos, sem que alguma vez algum deles tenha chegado a catedrático...
A oposição à reestruturação do CHMT, decidida em 2008 pelo ministro PS Correia de Campos e agora a ser implementada, é um combate perdido. Tenhamos a coragem de dizer aos tomarenses que está em curso a derradeira tentativa para equilibrar em termos financeiros a difícil gestão dos três hospitais da região. Designadamente acabando com serviços duplicados ou triplicados. Caso falhe, dentro de dois anos máximo teremos um hospital privatizado em Tomar (Espírito Santo Saúde) e outro em Torres Novas (Grupo Mello). Quanto ao de Abrantes, acabará por encerrar, uma vez ultrapassado em termos de instalações e de equipamentos. É esta a situação nua e crua. Muito desagradável, é certo, mas irreversível. Com ou sem manifestações de protesto. Resta-nos tentar fazer tudo para passarmos de uma fase de declínio para uma de progresso, como acontece em Leiria, por exemplo. Só então começaremos a ter de novo condições para reivindicar e sermos ouvidos em Lisboa. Nomeadamente na área da saúde ou do ensino. Será assim tão difícil perceber isto?
A miséria é contagiosa, o progresso também, mas muito mais dificilmente. O tempo dos amadorismos e dos oportunismos já foi. Agora há que trabalhar arduamente e com honestidade, em prol da comunidade tomarense, sem preocupação de lucros individuais ou de protagonismos. No meio de tanta desgraça, saibamos ao menos ser francos, solidários e dignos. A cidade e o concelho não aguentam mais palhaçadas. Mesmo se disfarçadas de boas intenções, pois como é sabido, destas está o inferno cheio.

O Pluto e os filhos da mulher do Pluto

Os amadores de banda desenhada conhecem bem as aventuras e desventuras do Pluto, da esposa e dos filhos dela. E dele, claro! Pois no meu tosco entender, a política nabantina tem cada vez mais parecenças com as ditas personagens. Assim, os independentes locais são filhos da determinação de Luís Ferreira que, ao cabo de uma laboriosa campanha, conseguiu enxotar Pedro Marques das listas socialistas. Desta vitória pírrica vieram a resultar até agora 14 anos bem agitados. Mas isso o audacioso e pertinaz socialista não o podia prever. Certo é que, a dada altura, o líder das hostes PSD deu de frosques, rumo a paragens mais rentáveis, deixando o poder local aos seus mainatos. Cujo actual chefe executivo vai demonstrando, a cada dia que passa, que não estava minimamente preparado para a função, ao invés daquilo que me foi dito meses antes e está gravado.
Entretanto, outro chefe se queimou já, na fogueira implacável do poder local, onde só cultura, sensibilidade e boas maneiras, não chegam nem levam longe. Tanto mais que a actual e relativa maioria de plutos é por assim dizer de ilegítimos detentores do poder. Na realidade, não fora a absconça candidatura dos plutos independentes, cujas diferenças programáticas em relação aos plutos socialistas ninguém conseguiu ainda enxergar, o PS teria ganho com maioria absoluta e os plutos laranja estariam desde Outubro de 2009 no conforto da oposição solitária.
Sabedor de como o resultado dos plutos IpT fora conseguido, ciente de que um pássaro na mão vale que outra coisa noutro sítio, o mentor de toda a operação apressou-se a engodar os plutos socialistas com substanciais mordomias, deixando os outros a chuchar no dedo. Estes por seu lado nada puderam fazer na área da retorsão, pois um pluto preso pela arreata não pode ir a lado algum.
A estranha mancebia durou dois anitos. Tempo para os plutos socialistas se convenceram de que a situação local estava cada vez mais levada de um filho da Pluta. Consumaram o divórcio da dita mancebia, que nunca havia sido realmente festejada na horizontal, e esperaram para ver. Foi então que os plutos independentes demonstraram uma vez mais que poderão ser tudo menos isso -independentes. Em vez de alinharem com os socialistas numa renúncia colectiva imediata, de forma a provocar intercalares, têm-se entretido a alambicar posições, num cinzentismo confrangedor, a beneficío dos laranjas instalados.
Seguro de que os auto-denominados plutos independentes não dispõem de autonomia para provocar intercalares, o pluto-presidente-provisório vai encadeando asneiras após asneiras. A mais grave foi aquela do hospital. Depois de ter reunido duas vezes com a administração, a quem deu os ámens necessários, nem sequer teve a franqueza de informar os outros plutos do executivo. O que lhe permitiu depois garantir aos manifestantes que estava do lado deles e dos interesses de Tomar. Incomodado e surpreso com tanta falta de lealdade, o pluto-administrador-hospitalar pôs a boca no trombone. Pouco depois o pluto chefe dos independentes foi taxativo: "Temos de saber quem está a mentir", disse ele. Maneira ardilosa de virar parcialmente o bico ao prego, descarregando metade da areia da camioneta presidencial para cima do pluto-administrador. Que afinal se limitou a dizer a verdade e só a verdade. O outro pluto é que foi dúplice.
Assim vai a cidade. Mais de um mês após o fim da mancebia PSD/PS, tudo como dantes, valências hospitalares de Tomar para Abrantes. Os plutos mainatos do Paiva continuam sentados nas cadeiras do poder local, mas já não mandam nada. São assim um aparente mini-império dos sentados.
Para a história local ficará que o corajoso e oneroso gesto dos plutos socialistas, ao romperem a mancebia, foi afinal em vão, pois os plutos ditos independentes continuam a proteger os seus benfeitores laranjas. E não adiantará virem com desculpas tardias de circunstância. "Em política o que parece é" e os factos estão à vista de todos. "Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele".