Numa altura em que acaba de aparecer na pista o primeiro candidato às autárquicas de 2013, urge informar os eleitores -incluindo os potenciais candidatos- que com ou sem intercalares, em 2013 o paradigma será outro. O do rigor, da transparência e dos projectos realistas.
Para todos aqueles que ainda não perceberam, ou assim fingem, que estamos a mudar de modelo de sociedade de forma vertiginosa, segue-se a tradução do recente editorial de Christophe Barbier, no L'EXPRESS. Refere-se à França, um dos grandes países europeus. Basta porém substituir França por Portugal para perceber que a nossa situação é ainda mais problemática que a francesa. E da situação nabantina então, nem se fala.
"O triplo A acabou, resta-nos o estilo de vida. Uma estrofe d'Arthur Rimbaud, um copo de Auxey-duresses, a aurora num roseiral. Há valores que a Standard & Poor's nunca conseguirá degradar. Mas vamos poder amanhã continuar a disfrutar, se a pobreza se abater sobre a França? Porque é disso mesmo que se trata doravante.
Do problema denunciado pelas agências de notação financeira -um verdadeiro estado de falência- ou remédios necessários -uma purga de austeridade- surgirá a mesma situação: A França exausta, insolvente, estrangulada pelas obrigações financeiras. Não será ainda a miséria e não devemos morrer de fome na rua, nem sofrer os assaltos dos saqueadores. Não estamos arruinados, estamos a ser mal geridos. Mas desta vez temos de dizer adeus para sempre ao confortável édredon do nosso conforto, o chamado modelo social francês.
Era excelente o alambique de generosidades misturadas, em forma de vasos comunicantes! Os trabalhadores pagavam para os desempregados, os de boa saúde para os doentes e os jovens para os idosos. "Engenhocado" pelos sucessivos governos o conjunto transformara-se numa central de gás com buracos em todas as canalizações, mas que mesmo assim continuava a fornecer o seu líquido solidário e os seus vapores igualitários. Agora porém vai-se acabar. Os que pagam já não chegam para financiar os que recebem.
Dos candidatos à presidência espera-se doravante o novo triplo A. A como "assumir": o modelo social morreu, fomos nós todos que o matámos. A como "advertir": a austeridade vem aí, seja qual for o vencedor. A como "anunciar": já não queremos programas, aguardamos receitas. Acabaram as propostas, venham as prescrições. A solidariedade era "uns para os outros". Agora vamos passar ao "cada um para si" da direita liberal? Ou ao "todos para o Estado" com a esquerda fiscal?
Há muitas maneiras de voltar a encher os cofres públicos, pois no nosso país há muitos mealheiros. A tradicional vaca leiteira já é só um zebu famélico, que não encontra nada para comer nos campos franceses; mas ainda há montes de leitões aptos a sofrer a austeridade, como quando vão para o matadouro. Talvez seja preciso aumentar os impostos sobre as pensões mais altas, as daqueles que tiveram sorte durante os "Trinta gloriosos" e que a agora podem muito bem dar algum dinheiro aos seus descendentes, uma vez que não foram capazes de lhes legar um país em ordem.
É sem dúvida urgente espremer um pouco mais o funcionalismo, muito capaz de acrescentar enfim a produtividade ao desempenho. É certamente indispensável convencer os ricos a estarem orgulhosos, como cidadãos, de pagar mais como contribuintes. É necessário, enfim, deixar de subsidiar os que dizem ter direito, mas continuar a ajudar os que necessitam, fazendo a impiedosa triagem dos primeiros e dos segundos.
Tudo isto vai aleijar. Tudo isto vai provocar protestos. O próximo presidente vai ter de optar entre a impopularidade e a ineficácia. Nestas condições quem quer o lugar? De certeza?
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