quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Mais uma obra enguiçada

Queixam-se comerciantes da Rua de Coimbra, junto à Praça de Toiros, contra alguns detalhes das obras agora praticamente concluídas. E a coisa até pode vir a dar tourada, que o que é demais parece mal, sendo que os senhores autarcas tomarenses parece que vivem noutro mundo, numa realidade paralela, tipo socratino.
A coisa começou mal logo na questão das prioridades. Tratando-se de arranjar os principais acessos à cidade, ainda ninguém percebeu o que terá levado a autarquia a começar pela ligação a Coimbra, justamente a que menos precisava e menos trânsito nacional tem, agora que já temos os periféricos IC 3/IC 9. Logo a seguir houve aquele contratempo das faixas de rodagem. Os senhores tecnocratas pretendiam uma avenida modernaça, tipo auto-estrada, de quatro faixas. Tiveram azar. Já havia viabilidade para aquele primeiro prédio, do lado direito de quem olha para nascente, bastante avançado no solo em relação aos seguintes. Pouco habituados a tal tipo de constrangimentos, em vez de manterem as quatro faixas, com um gargalo ao chegar a cada rotunda, como se costuma fazer quando necessário, não senhor. Optaram pelas três faixas; duas para sair da urbe e uma para entrar. E depois ainda são bem capazes de se queixar quando o primeiro-ministro implicitamente convidar a emigrar...
Frequentador assíduo do local, nos meus quotidianos passeios pedestres, tenho por ali ouvido alguns miados, a indicar que haverá vários "gatos". Vamos a eles.

1 - A primeira vítima das três faixas foi a tradicional paragem de autocarro, que desapareceu: 


2 - A mesma sorte tiveram os semáforos do cruzamento Rua José Tamagnini/Rua Carlos Perreira:

Embora sem qualquer sinalização vertical ou luminosa, pode-se seguir em frente, cortar à esquerda ou à direita, em todos os sentidos. Muito prático, não haja dúvidas. Sobretudo em ocasiões de trânsito intenso.

3 - Os citados semáforos emigraram para perto. Estão agora instalados no cruzamento com as ruas Manuel dos Santos, conhecido toureiro dos anos 50, e Antunes da Silva, advogado oposicionista que também teve algumas touradas com o regime salazarista, que sempre procurou bandarilhar o melhor que sabia:



Também aqui é possível virar à esquerda ou à direita, mesmo agora que os semáforos ainda não foram ligados. Mas não se pode inverter a marcha. Por isso os comerciantes da zona se queixam, com toda a razão de resto.

4 - Na bifurcação seguinte, a do Presídio Militar, é proibido virar à esquerda, eventualmente porque o projectista já estava a ficar rabujento:



Tudo ficaria bem mais prático com umas rotundas, como pretendem os comerciantes, sobretudo nos "gatos" 2 e 3, e até no 4.

5 - Em vez das ditas e enquanto não são feitas, temos direito a alguns pormenores picarescos. Um deles é esta sinalização horizontal, com pretensões a arte moderna:

Digam lá que não fica bonito, mesmo não sendo nada corrente ?!

6 - Outro detalhe caricato é o dos dois traços contínuos, delimitando a faixa de entrada na cidade durante todo o percurso:
Os condutores que tiverem o azar de circular atrás do TUT, farão o favor de aguardar enquanto houver passageiros a entrar e a sair. Se tentam ultrapassar passam por cima dos dois traços contínuos, o que pode bem custar-lhes quase um mês de ordenado. Cuidado!

7 - É claro que mal os projectistas oiçam falar de rotundas, vão logo ser categóricos: -Nem pensar! Não há espaço suficiente para cumprir as normas em vigor. Se assim acontecer e o leito ouvir, diga-lhes para meterem a viola no saco e irem dar música para outro lado:



Quem projectou e quem aprovou esta mini-rotunda da Várzea Pequena, quando há espaço para uma muito mais em conformidade com as tais normas, agora o melhor que tem a fazer é ir dar banho ao cão. De preferência num rio longe daqui...

4 comentários:

FUNICULIN disse...

E já que se fala em rotundas não se esqueçam de colocar uma na Avenida Nuno Álvares com o acesso à Ponte do Flecheiro. Os autarcas desta cidade (será que ainda existem?)não têm vergonha no focinho (já que na cara não têm)de estarem carros parados por algum tempo ao semáforo vermelho e não haver mais nenhum outro veículo a circular nas outras vias?
Bem se podem limpar à grande cagada que fizeram, principalmente o responsável pelo trânsito na cidade de Tomar. Será que este também ainda existe? Pelos vistos também já não.

Tomar Tótó disse...

Permita-me "fugir" ao seu último tema, mais uma manifestação da incompetência tomarense. Não se pode ficar indiferente ao caso Pingo Doce. O dr. Rebelo costuma falar do "fim das farturas e das benesses". Pois parece que tal é verdade para a populaça do ordenado mínimo, da função pública, dos que recebem 1000€/mês e dos ricaços que ganham 2000. Estes são os que "vivem acima das nossas possibilidades", no dizer dos eruditos que vão à TV. Mas há outros. O sr. Sores dos Santos, segundo homem mais rico de Portugal que ganha dinheiro como merceeiro, vendendo prod. alimentares aos pobres e menos pobres, transferiu para outro Pais a sede do negócio para pagar menos imposto. Um escândalo sem limite. Curioso fazer isso num governo PSD-CDS. Está mais à vontade agora do que com o Governo anterior? Que o dito merceeiro dizia mal de Sócrates, lá isso dizia. E mandava o seu funcionário António Barreto fazer coro!
Haja vergonha!

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Um artigo do jornal El Pais de hoje que aconselho aos leitores, especialmente aos autarcas e militantes partidários. Muito interessante.

Entrem com este url:

http://politica.elpais.com/politica/2012/01/04/actualidad/1325668648_071654.html

Ricardo Capêlo disse...

Sr. António Rebelo, aproveito para fazer um pequeno reparo (não me leve a mal) no que respeita aos semáforos de que falou neste post. É que, ao contrário do que refere no ponto 3 - "Os citados semáforos emigraram para perto. Estão agora instalados no cruzamento com as ruas Manuel dos Santos e Antunes da Silva", este último cruzamento já os possuía muito antes das obras terem iniciado. Ou seja, os semáforos que existiam no cruzamento da Rua José Tamagnini emigraram sim, mas para paradeiro desconhecido à maioria dos tomarenses. Quem sabe se não foram acompanhar os postes cujo destino o Sr. Rebelo questiona no post seguinte "Um gato a arranhar..."?