terça-feira, 30 de abril de 2013

Informação e infografias

Quem de algum modo tem acesso à imprensa internacional não ignora que a sua congénere portuguesa não é propriamente uma maravilha. Pelas razões conhecidas, à cabeça das quais aparece sempre a falta de meios. Seja. Mas há meios e meios. Se é óbvio que o jornalismo de investigação é bastante oneroso e por isso dificilmente compatível com as fracas receitas da comunicação social portuguesa, casos há em que se trata apenas de falta habilidade e de hábitos de trabalho. Atente-se neste exemplo.
Na sequência das declarações de Guilherme Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas, sobre a elevada carga fiscal que atormenta os portugueses, o Correio da Manhã de hoje publicou esta infografia, na página 7:

EUROSTAT - CM

Dando de barato que todos os dados são homogéneos e comparáveis (o que não é evidente), a verdade é que qualquer leitor terá a maior dificuldade em concluir o que quer que seja por comparação, mesmo sabendo que a coluna da esquerda se refere ao IRS ou equivalente, e a da direita ao IRC ou equivalente. Contudo, trabalhando um pouco mais os dados facultados pelo EUROSTAT, a mesma infografia torna-se bastante mais explícita e por isso muito mais fácil de interpretar:

EUROSTAT - CM - Tomar a dianteira

Ligando entre si as duas posições de cada país, obtêm-se três grupos-tipo no contexto europeu: Um grupo verde, composto por dez países (Suécia, Dinamarca Holanda, Finlândia, Áustria, Eslovénia, Reino Unido, Irlanda, Chipre e Letónia), nos quais as taxas de IRC são muito inferiores às do IRS, tornando-se assim mais competitivos para o investimento gerador de postos de trabalho.
Um grupo vermelho, que integra doze países (Alemanha, Grécia, França, Luxemburgo, Itália, Malta, R. Checa, Estónia, Eslováquia, Hungria, Roménia e Lituânia), onde acontece o oposto. As taxas de IRC são no contexto europeu menos competitivas que as de IRS.
Finalmente um grupo azul com cinco países (Bélgica, Portugal, Espanha, Polónia e Bulgária), onde impera o equilíbrio posicional entre os dois tipos de imposto, mas que convém subdividir em 3 +1 + 1: Bélgica, Portugal e Espanha, por esta ordem, no topo da tabela; Polónia na 19ª posição e Bulgária como lanterna vermelha.
Estes são os factos. A intenção era demonstrar que, por por vezes, com um pouco mais de habilidade e trabalho, uma infografia pode tornar-me muito mais legível e portanto atractiva em vez de rebarbativa. A partir daqui, cabe a cada leitor sacar as suas próprias conclusões. 

Centro e periferia



O Bairro da Estrela Polar, a obra mais recente de Francisco Moita Flores, constitui um bem documentado panorama sobre as relações entre o centro e a periferia, entre Lisboa central e Lisboa marginal. Para os mais lidos, trata-se de uma admirável ampliação actualizada e mais aprofundada da conhecida Crónica dos Bons Malandros, de Mário Zambujal. Num português de primeiríssima água, (que não merece a meia dúzia de erros de concordância detectados, a pedir revisão urgente), o ex-inspector da Judite, conseguiu aqui um extraordinário argumento para um filme, ou uma curta série televisiva, sobre o Portugal actual, visto a partir da periferia e pelos olhos dos rejeitados pela boa sociedade alfacinha.
Seguem alguns excertos, a título de acepipes. Para aceder ao resto da opípara refeição, basta ir a uma livraria e desembolsar à volta de 16 euros, ou aérius, como usam algumas personagens do reputado escritor alentejano, digno sucessor do Eça.

"-Quem te comprou isto foi uma imobiliária. Os otários compram a estes amigos e assim toda a gente lucra com o negócio. Aquilo que ganhaste hoje é muito mais importante do que o lucro que obtivemos. Conquistaste uma encomenda. Agora, não vais ao banco. Pedes um avanço de compromisso à imobiliária e depois destas vivendas outras virão.
Passaram alguns anos para descobrir que o fiscal [da câmara] era também sócio da empresa que lhe comprava as vivendas. Ele e o seu director [de departamento], que aprovava projectos à velocidade da luz. Chamavam-lhe esquema." (Página 85)
"-Olha-me para isto. Seis chatas e ao todo cinquenta euros! Cartões de crédito, de multibanco, de débito. Dinheiro, nada! Cinquenta euros ao todo. Assim não se pode ser carteirista, é uma profissão em vias de extinção?! Não conheço nada disto. ...Está tudo de pantanas." (Página 250)
" -Até amanhã François!
-E ponha-me os ladrões a roubar a sério. Quem rouba de tudo, nada lhe faz proveito. É por isso que Portugal está como está. Maus ladrões, maus gestores, maus políticos." (Página 304)

domingo, 28 de abril de 2013

Leituras






Desemprego na Europa

Le Monde, 26/04/2013, página 3

Dois grandes grupos: um periférico = > 10%, outro central = < 9%. O grupo ultraperiférico = > 14% inclui Chipre, Eslováquica, Espanha, Grécia, Irlanda, Letónia e Portugal.
No que concerne a Portugal, é previsível um aumento do desemprego logo a seguir às eleições autárquicas de Outubro próximo. Não só porque o governo já anunciou despedimentos na função pública, mas também e sobretudo porque nalgumas autarquias a situação tornou-se insustentável. E sem contra-argumentação credível, dado que, enquanto médicos, professores, juízes, polícias, etc. fazem falta, nas autarquias locais, quanto menos administrativos e chefes, menos burocracia e mais facilidades para os investidores.
Basta atentar neste exemplo, já que apresentado antes: Caldas da Rainha > 16 freguesias, 44 mil eleitores, dívida de 4 milhões de euros, população a aumentar, de acordo com o INE, 3 chefes de divisão; Tomar > 16 freguesias, 38 mil eleitores, dívida de 38 milhões de euros, população a diminuir, de acordo com o INE, 2 directores de departamento + 9 chefes de divisão.
Há chefes e funcionários a menos nas Caldas? Ou evidente excesso de uns e de outros em Tomar? Porque será que a população tomarense desce, enquanto a caldense sobe?
O presidente (PSD) das Caldas da Raínha é o mesmo há sete mandatos...

sábado, 27 de abril de 2013

Contradições socialistas e inevitáveis consequências

Numa cidade abandonada. Tomar, por exemplo...

Após alguns dias, o meu preclaro amigo e credenciado socialista local Hugo Cristóvão publicou no seu blogue a minha resposta a um escrito dele, bem assim a sua cautelosa contestação. Nesta, diz o eleito rosa, a dado passo: "Quer tudo isto dizer que não é preciso mexer nas instituições e na estrutura do Estado, readaptar serviços, repensar algumas funções, acabar com muitos desperdícios e terminar de vez com as impunidades de quem gere mal o que é dos outros? Claro que não, mas isso é outra conversa..."
Infelizmente, vergonhosamente, para expiação dos nossos piores pecados enquanto contribuintes, há mais de três décadas que "isso é outra conversa...". Atitude que já nos arrastou para o atoleiro onde estamos, sem saber como dele sair. Com uma agravante: sem nunca o admitirem explicitamente, por razões óbvias, os auto-designados fundadores do regime, não satisfeitos com o facto de terem fechado a sete chaves o sistema eleitoral, assim fazendo que praticamente fora dos partidos não há salvação, ainda têm a distinta lata, o descaramento e a pouca vergonha de se considerarem donos da República. Até o em tempos tolerante laico Mário Soares, do alto dos seus 80 e muitos, se recusou a estar presente na A.R., decerto por pensar que a actual maioria, sendo embora legal, não é legítima. Como se houvesse os votos de primeira categoria -os do PS + restante esquerda- e outros, que serão uma espécie de refugo.
Desta triste mentalidade resultam situações curiosas, que na Europa do norte seriam do domínio da comédia, mas como estamos no sul... Apenas um triste exemplo, de humor negro portanto:
A nível nacional, o líder socialista chamado Seguro, tal como o Isaltino também é Morais, apesar das suas lamentáveis posturas perante a justiça, de que já foi magistrado; o líder Seguro, dizia eu, tenta fazer dos pés e das mãos para fingir que quer derrubar um governo legal e legítimo, com maioria absoluta num parlamento livremente escolhido pelo povo português. Nesse sentido, para o PS, tudo quanto o governo tem feito, ou já anunciou que vai fazer, está errado. Apesar de reiterar que respeita o entendimento com a troika e de até agora não ter explicitado quaisquer medidas alternativas, limitando-se a insistir que "Há outro caminho". Qual, não se sabe. Nem ele especifica qual seja.
Enquanto isto, aqui em Tomar, uma minoria da mesma cor do governo, finge dirigir a autarquia há quase quatro anos, até agora sem a menor oposição eficaz da oposição maioritária PS + IpT. O que mostra a grande contradição socialista. Ao mesmo tempo que em Lisboa recusa o consenso com um governo maioritário, que está apenas a aplicar as medidas impopulares do entendimento com a troika, subscrito pelo anterior líder PS, aqui nas margens do Nabão nem sequer se revela capaz de chegar a consenso com os IpT para derrubar uma minoria PSD, liderada por alguém que nunca foi eleito para tal cargo, e que manifestamente apenas está para se governar e não fazer ondas. É assim que pretendem vir a vencer as autárquicas?
Acresce que a candidata PS, Anabela Freitas, escolhida nas condições de todos conhecidas, teve pelo menos uma oferta de colaboração desinteressada: Um projecto articulado, credível e realista e um cabeça de lista não carreirista, que caso vencesse com maioria absoluta cumpriria o mandato, com maioria relativa caberia ao PS decidir, e em caso de derrota renunciaria a tomar posse, deixando assim o caminho livre aos seguintes da lista, mas mantendo a sua colaboração, se julgada conveniente. Nunca teve sequer direito a uma resposta, mesmo negativa. Assim vão longe! É só esperar até Outubro.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Sem teleponto o artista mostra o que vale

Semanário SOL, 26/04/2013, página 28. Fonte: Markdata

Com as calças do meu pai, também eu era um homem! (Popular)
Apanha-se mais depressa um aldrabão que um coxo. (Popular)
Pode-se enganar toda gente durante algum tempo e alguns durante toda a vida. Mas é impossível enganar toda a gente durante toda a vida. (Abraham Lincoln)
Dá tempo ao tempo, que o tempo dar-te-à todas as respostas. (Provérbio árabe)
Que bem prega Frei Tomás. Oiçam o que ele diz, não olhem para o que ele faz. (Popular)

Até os americanos se admiram com tanta fartura...


É verdade! Somos tão perdulários, tão estoira-vergas, tão esbanjadores que até já somos notícia por isso mesmo nas colunas do prestigiado Wall Street Journal, uma das bíblias financeiras mundiais. Interessa-lhe? Então faça favor de ler os 3º, 4º e 5º parágrafos da primeira coluna. O seu inglês é curto? Também o meu, mas ainda assim posso traduzir-lhe este último ( e só esse, para evitar rbéubéus, rnhónhós e quejandos): "Um hospital na cidade de Tomar, com 40 mil habitantes, pagou em 2011 210 mil euros em horas extraordinárias a médicos, para manter em funcionamento durante a noite e aos fins de semana a urgência médico-cirúrgica. Durante os períodos referidos, o referido serviço foi usado apenas três vezes, declarou-nos o Dr. Vasco".
Caso único de esbanjamento de dinheiros públicos, que explica muito parcialmente o astronómico aumento dos custos do SNS, de mais de 1.000% entre 1975 e 2012? Era bom era! Infelizmente, por estas bandas, pratica-se sistematicamente a gestão à nabantina, também conhecida por caça ao voto ou compra de consciências. Exemplos?
Ainda recentemente o presidente Carrão informou que os dois parques de estacionamento cobertos provocaram o ano passado um prejuízo de cerca de 80 mil euros, dos quais 7 mil se referem a energia eléctrica para alimentar o ar condicionado dos Paços do Concelho, instalado no ex-ParqT, vá-se lá saber porquê! 
Na área dos transportes, o mesmo senhor Carrão declarou, todo ufano, que os TUT - Transportes Urbanos de Tomar, reduziram o prejuízo em 77 mil euros. Seja. Mas mesmo assim custaram aos contribuintes a bagatela de 240 mil euros = 48 mil contos. Mais de mil escudos por habitante do concelho! Não seria melhor acabar com semelhante regabofe, que prejudica gravemente os taxistas, comprando cadeiras de rodas eléctricas e/ou bicicletas para os mais carecidos? Ficava muito mais barato e era melhor para a saúde de muitos que gostam de andar de cu tremido à custa dos outros.
Na mesma linha, o autocarro do município anda sempre num badanal.  O antecessor, que podia e devia ter sido dado à troca, acabou na mãos do União de Tomar. O actual, não há festa nem dança onde não vá a Constança. À borla. Os felizes utentes, como se diz em burocratês, apenas liquidam (quando liquidam) o combustível e as horas extraordinárias do motoristas, (ignoro se com ou sem IVA e factura).
E o desgaste de material, nomeadamente pneus, óleo, revisões, manutenção e amortização? E os prejuízos causados por exemplo à FATIMACAR - NABANTUR, que é a principal lesada, mas apesar disso continua a pagar as suas contribuições e impostos? E a ideia assim inculcada nas pessoas de que é possível viver à custa do orçamento, naturalmente alimentado pelos outros?
O mais extraordinário é que a oposição maioritária vai-se calando e, como diz o povo, "quem cala consente". E quem consente concorda. Percebe-se. Como se trata de comprar votos, todos querem. O  essencial é continuar com a bola nos pés, mesmo sem marcar golos desde há anos. Ora gaita para gente assim! Acham que... mas isto já lá não vai com achismos. Nem coisa parecida!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Mais uma forte machadada nas balelas da esquerda

Le Monde, 24/04/2013, página 3 - Fonte EUROSTAT

À esquerda a tabela em % dos défices públicos em 2012. Portugal está num vergonhoso quarto lugar, só ultrapassado pela Espanha, Grécia e Irlanda. Do lado direito, também em %, o crescimento económico previsto para 2013. Pior do que nós só a Eslovénia, Chipre e a Grécia.
Perante estes dados, quem pode acreditar em palavras de ordem do tipo "Há outro caminho" "Mudança" "Derrubar este governo" ou "Fora com a troika"? Como dizia o outro: Há mar e mar, há viver e sonhar!
Ainda não convencida/o? Então faça favor de continuar a leitura. Verá que não será tempo perdido:

"A Europa empanada preocupa o mundo inteiro"

"O velho continente já abrandou a austeridade pela calada. Agora carece de outros recursos eficazes para relançar a economia"

"Análise - Washington - Enviado Especial"

Os 188 ministros das finanças e respectivos governadores dos bancos centrais, reunidos na capital americana de 18 a 21 de Abril, mostraram-se inquietos perante a depressão que afecta a economia europeia. Não tanto devido à anunciada redução do PIB de 3%, após um recuo de 0,6% em 2012, mas sobretudo por causa do persistente marasmo económico. Temem que alastre ao resto do mundo, devido a um eventual afrouxamento do comércio e dos investimentos mundiais.
Porque a Europa, nomeadamente a Zona Euro, já devia ter retomado o crescimento. A regularização das contas avança em todos os países, a ritmos comparáveis ao que foi realizado aquando das crises da dívida, que se sucederam ao longo dos anos 90 e 2000, na América Latina, na Ásia ou em África. As reformas institucionais já foram decididas, quer se trate da união bancária ou do reforço da solidariedade económica e financeira. Os bancos foram também recapitalizados grosso modo. As taxas de juro são baixas. Portanto, em teoria pelo menos, não há qualquer avaria na economia do Velho continente.
E daí? E daí, há a avaria: vai-se instalando um circulo vicioso. As reduzidas margens de valor acrescentado das empresas levam-nas a não admitir novos empregados. O desemprego vai chegar aos 11% na Europa "avançada", em 2013 e 2014. Por isso, a procura é incerta, mesmo nos sectores em desenvolvimento. Perante um quadro tão sombrio, que augura um aumento dos risco de crédito, os bancos emprestam o menos possível, o que prejudica sobretudo as PME, principais criadoras de emprego.
"Se me oferecessem um lugar de ministro das finanças na Europa, não aceitaria de modo nenhum, porque continuo a não saber quais as medidas para ultrapassar a depressão", exclamou um dos "mestres" da economia mundial presente em Washington.
Afrouxar a consolidação orçamental, ou seja reduzir a austeridade? Olli Rehn, comissário europeu para os assuntos económicos, foi claro durante a reunião: "Vou dizer-vos um segredo. O ritmo de ajustamento orçamental na Europa já afrouxou desde 2012." Exactamente metade entre 2012 e 2013.
Bruxelas aceitou a ideia de conceder à França ou à Espanha prazos mais longos para conseguirem cumprir os critérios de Maastricht. Actualmente, a diferença de rigor entre os Estados Unidos e a zona euro já não é a que se julga. A austeridade europeia implica uma dieta 50% inferior à de uma América que vai ver o seu crescimento amputado este ano de 1,5 pontos.
Segundo remédio mágico: relançar a máquina económica pela procura [exactamente o que pretendem a CGTP e o PS segurista]. Actualmente só a Alemanha, a Noruega e a Estónia estão  em condições de adoptar essa via, sem contribuir para degradar ainda mais a competitividade europeia já enfraquecida. É pouco. Na Alemanha os salários recomeçaram a subir mais que nos países vizinhos. A proximidade de eleições legislativas, lá para o final do ano, deverá confirmar o fim do rigor salarial, com a aparecimento altamente simbólico do salário mínimo.
Terceiro recurso: A redução das taxas de juro do BCE. Várias vozes alemãs já disseram que uma tal facilidade será possível se a situação o vier a exigir, e caso não haja risco inflacionário. Mas uma tal redução terá de ser apenas simbólica, uma vez que a taxa de referência do BCE já é baixa: 0,75%
Quarto medicamento: Reformas estruturais para desbloquear energias e diminuir os défices. A reforma do mercado do trabalho, a simplificação dos procedimentos administrativos, o aumento  da idade da reforma, ou fim de alguns monopólios (taxis, farmácias, notários) levam anos e anos para dar frutos visíveis.
A doença de que sofre a Europa terá assim de ser procurada alhures, mais precisamente na falta de confiança. Os indicadores da atitude dos consumidores e das empresas estão em queda há mais de um ano. Os actores económicos europeus não acreditam no futuro porque os responsáveis comunitários ou nacionais não lhes explicam claramente porquê, como e até quando o saneamento económico e o relançamento vão prosseguir.
Ninguém arrisca afirmar em público que a austeridade já afrouxou este ano, com receio de assustar os mercados e tornar problemáticos os financiamentos das dívidas soberanas. O que conduziu ao resultado caricato de debater o afrouxamento da austeridade, entretanto já reduzida, mesmo em Inglaterra, bem como ao aumento da tentação populista de um relançamento orçamental pelo proteccionismo.
 Mas como acusar a opinião pública de cada país de se refugiar numa clara negação da realidade, quando se sente abandonada aos seus fantasmas em plena tempestade, por dirigentes europeus afásicos e imediatistas? Com tal negação, corre-se o risco de perpetuar o medo do futuro, a desconfiança em relação às empresas, a recusa da mudança e a "panne" do crescimento. A crise económica da Europa mais não é afinal que outro aspecto da sua crise moral e política."

Alain Faujas, Le Monde, 24/04/2013, página 3

Quarenta anos de Abril

Salgueiro Maia (copiado do blogue O Jumento)

Bem sei; por enquanto são só 39. Mas como as próximas autárquicas serão em 2017, salvo algum inopinado percalço, e tendo em conta que "candeia que vai à frente, alumia duas vezes", vamos a isto! Em jeito de balanço, impõe-se a pergunta sacramental: Estamos melhor ou pior que em 74?
Cada um fará o favor de responder a si próprio. Quanto a mim, estamos muito melhor. Tanto a nível individual como colectivamente. Contudo, a cidade vai de mal a pior e o concelho sofre por tabela. Culpa dos audazes e honestos capitães de Abril? Da democracia em que felizmente vivemos? Olhe que não! Olhe que não! Enquanto tomarenses residentes, somos apenas um bom exemplo da cantiga célebre de António Variações -"Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que  as paga, o corpo é que as paga!". Nem mais nem menos!
A esta distância, está fora de dúvidas que os operacionais de Abril agiram por dever de cidadania. Não para se amanharem, para governarem a vidinha, ou para melhorar os fins de mês. Salgueiro Maia, Ramalho Eanes, Melo Antunes, Marques Júnior, Vítor Alves, Costa Braz e tantos outros, aí estão ou estiveram para o demonstrar.
Infelizmente, tanto no país em geral como em Tomar, cedo apareceram as chamadas moscas do coche, os aproveitadores, os autoproclamados "políticos", em busca de melhores rendimentos mensais. Neste risonho rincão nabantino, temos de reconhecer que os resultados não têm sido nada brilhantes. Pelo contrário. No meu tosco entendimento, até agora os tomarenses elegeram muito poucos cidadãos, desses que assumem os seus deveres de cidadania, e demasiados aproveitadores. Procurando aleijar o menos possível, limito-me a assinalar quatro cidadãos impolutos, daqueles que nunca procuraram directa ou indirectamente ordenhar a teta política: Amândio Murta, Vasco Pena Monteiro, António Rosa Dias, Manuel Bento Baptista. E todos os outros?, questionará quem me lê. A maioria procurou governar a vidinha. Melhor ou pior, consoante o contexto e a teta disponível. Há até pelo menos um caso, bem conhecido, de quem vive exclusivamente da política local há 16 anos, infelizmente para todos nós com resultados desastrosos.
Esboçado a traços largos o passado e o presente, como vai ser em Outubro? A verdade, tal como eu a vejo, é a que segue.
Dos candidatos já anunciados, há apenas dois com alguma noção da realidade actual: Bruno Graça e Ivo Santos. Infelizmente para eles e para nós, nem um nem outro têm por assim dizer qualquer hipótese de vir a ser eleitos. Se graças a um improvável golpe de sorte conseguissem tal feito, conviria logo a seguir separá-los. Enquanto Bruno Graça concorre apenas por dever de cidadania e para contar espingardas, Ivo Santos é mais homem de negócios, com tudo o que isso implica. De resto, a eleição de ambos ou de qualquer um deles, nada mudaria no seio do executivo, como bem demonstrou em tempos o desempenho de António Rosa Dias como vereador.
Quanto aos outros candidatos, convém começar por destacar pela positiva João Simões -um verdadeiro gentleman na política local, que sempre tem agido por dever de cidadania- e Anabela Freitas, que ainda merece o benefício da dúvida, apesar de já ter cometido uma série de erros, entre os quais se destaca o seu apoio implícito às evidentes balelas de Seguro e do PS. Como se com uma dívida pública que já ultrapassa os 123% do PIB houvesse alguma política simultaneamente alternativa, sensata e realista, à que está a ser seguida pelo actual governo. Trata-se portanto e apenas de tentar intrujar os eleitores para conquistar votos, o que é inaceitável e perigoso em democracia, como bem mostra o triste espectáculo italiano.
Restam o PSD e os IpT, em relação aos quais seria supérfluo pôr mais na carta. Os eleitores tomarenses, não sendo propriamente grandes expoentes políticos, também não são inteiramente desprovidos de massa cinzenta. Assim sendo, pelo andar da carruagem já aprenderam a conhecer os passageiros, sabendo por isso muito bem o que a casa gasta. Tanto num caso como no outro.
De forma que, tem cada vez mais razão o Variações: "Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que as paga, o corpo é que as paga!" Com uma hilariante particularidade tomarense. Muitos eleitores dão caroladas na parede ao votar, mas depois andam por aí a queixar-se dos "galos". Como se a gente tivesse alguma culpa...

25 de Abril sempre! Com muita cidadania.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A propósito das quimeras seguristas

"Alemanha isolada na sua linha dura"

"Rumo a "outra política" europeia?" 

"Há cada vez mais dirigentes protestando para que a Europa modere o dogma imposto por Berlim de um retorno rápido ao equilíbrio das contas públicas, que a mergulhou na recessão"
Os ministros das finanças da Alemanha e da França

"Se continuam a insistir ainda resolvo pagar-lhes a viagem de comboio para o Bundestag (parlamento alemão), disse-nos um conselheiro de Pierre Moscovici, (ministro das finanças francês), farto do oportunismo político dos que defendem "outra política", como Arnaut Montebourg. Não dizem mais do que aquilo que já estamos a pedir aos nossos parceiros europeus, acrescenta a mesma fonte. E que não é nada fácil de obter. A França pede mais tempo para conseguir baixar o seu défice público para 3% do PIB, sem afundar a economia na recessão, duvidando consegui-lo sem crescimento. A Alemanha porém, apoiada por alguns países do norte, como a Finlândia ou a Áustria, repete sem cessar que crescimento e consolidação orçamental não são coisas contraditórias.
Wolfgang Schäuble, ministro das finanças alemão, voltou a repeti-lo junto do secretário do tesouro de Barack Obama, que fez uma viagem de ida e volta para com ele trocar impressões. O motor do crescimento económico será a procura dos consumidores, pelo que, nos países com tal capacidade, serão úteis medidas de apoio à procura, disse Jack Lew. Em vão. O consenso de Berlin, explicou-nos Jacques Cailloux, economista de Nomura, substituiu  o inflexível consenso de Washington, em nome do qual o FMI impunha a austeridade e as privatizações na América Latina e em África, nos anos 90 do século passado. Pouco importa portanto que a Europa se afunde na recessão. Antes das eleições legislativas alemãs de Setembro, nada levará Berlim a transigir. Apesar de estar cada vez mais isolada. Tanto o FMI como a OCDE, numerosos economistas e personalidades como Georges Soros, pedem à Europa que reveja a sua política. A disciplina orçamental era um factor importante para a saída da crise do euro, quando os países deixaram de poder financiar-se nos marcados, mas já não estamos nessa fase, declara o economista alemão Fabien Zuleeg, do think tank European Policy Centre, com sede em Bruxelas. Chegou a hora de olhar para as outras pistas para resolver a crise.
Se calhar, a Europa devia inspirar-se, como acaba de admitir sibilinamente Mário Draghi, presidente do BCE, naquilo que se está a fazer nos Estados Unidos, ou mesmo na Japão. Estes dois países, proporcionalmente muito mais endividados e deficitários que a zona euro no seu conjunto, não sofrem com a mesma receita de austeridade. É verdade que os Estados Unidos se comprometeram a equilibrar as suas contas, mas muito lentamente. O objectivo declarado visa estabilizar o ratio dívida pública/PIB até 2017 o que, graças ao gaz de xisto e à retoma cíclica da economia, é algo muito mais moderado do que aquilo que se pratica agora na Europa. sublinha Sylvain Broyer, economista de Natixis.
Sobretudo, a Reserva Federal Americana, com o apoio do Tesouro público, comprou massivamente as dívidas de risco na posse da banca, saneando assim rapidamente o sistema financeiro, o qual se encontra agora de novo com capacidade para emprestar às empresas. O que continua a não suceder na Europa do sul, onde o investimento não pode arrancar.
Quanto ao novo governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, acaba de anunciar um programa massivo de recompra de dívida pública, o que permite que Tokyo não se preocupe com o seu défice público abissal. Trata-se de uma política arriscada. Ou até perigosa. Em qualquer caso, é uma experiência radical que destoa. E dá à Europa infectada um ar de nítida falta de audácia.
No entanto, pela calada, a zona euro adapta-se. Pouco a pouco, a Alemanha tolera o aumento dos salários e fala-se já em baixar os impostos. Paralelamente, a conta gotas, a Grécia, a Espanha, Portugal, a Irlanda, e em breve a França, a Holanda ou a Eslovénia, conseguem mais tempo para equilibrar as suas contas. Mas para ir mais longe, há que ultrapassar a desconfiança -que continua a ser muito forte- da Europa do norte em relação à do sul. Aquela não acredita na firmeza desta para reduzir a dívida pública e restabelecer a sua competitividade. Uma desconfiança que pode muito bem vir a focar-se na França. Razão mais do que suficiente para manter a linha das reformas estruturais e da austeridade orçamental."

Sophie Fay, Nouvel Obs, 18/04/2013, página 30

Por uma nação europeia

"É tempo de acabar com a Europa dos zombis, dos tecnocratas cinzentões e dos eleitorados fantasma.  A da decisões inexplicadas e das legitimidades por encontrar. É tempo de acabar com esta Europa a fingir, mantida pelos seus dirigentes: andam sempre a gabá-la, mas recusam-se a dela fazer outra coisa além de um aglomerado de nações.
Apesar disso, quando apresentar dentro de dias o plano de austeridade francês, Pierre Moscovici (ministro das finanças) compromete o nosso país e a sua própria reputação, muito mais do que quando assina a lei de finanças anual. Neste segundo caso, o ministro sabe que as hipóteses económicas são arriscadas, mas trata-se apenas do produto da relação de forças e do póquer mentiroso que é a política. Já no primeiro caso, Moscovici tem consciência de não ter direito ao mais ou menos, nem ao bluff, nem à especulação. Se a França não respeitar os seus compromissos, se fizer batota ou decepcionar, estará sob a ameaça da tutela de Bruxelas. Como um governador civil que assume as rédeas de um município em bancarrota, a União Europeia vai passar a supervisionar os países em dificuldade para honrar as suas obrigações. Vai haver protestos contra tal perda de soberania? O surpreendente não é que tenham receio, mas que se mostrem surpreendidos. Que fizeram os nossos governantes, desde há quarenta anos, com essa soberania, senão usá-la para aumentar a dívida pública e agravar o desemprego? Por conseguinte, a futura supervisão não significa menos soberania, mas mais responsabilidade.
Que o federalismo venha de cima, produto da crise, mais que da vontade, não constitui uma preocupação, desde que venha acompanhado de um gémeo democrático: mais poder para a Europa mas mais legitimidade também. Duas reformas são já possíveis e necessárias. A primeira consiste em eleger o Parlamento Europeu por meio de listas continentais: 754 nomes representando famílias políticas homogéneas, programas para toda a União e as diversidades retiradas dos seus vincos nacionais. Depois, este Parlamento verdadeiramente europeu dará posse a uma Comissão, a qual será realmente um governo europeu.
Em plena crise, o mundo abandona a Europa país após país; a Europa deve portanto ripostar, mostrando que é una e indivisível. Que os eleitos comecem a comportar-se como Europeus e os eleitores segui-los-ão!
Para lá chegar, a segunda reforma é salutar, urgente...e disponível. Trata-se de uma ICE - Iniciativa cidadã europeia, lançada por Catherine Colonna, ex-ministra delegada para os Assuntos Europeus, e Philipe Cayla, presidente da Associação Europeus sem fronteiras. Tem como objectivo atribuir o direito de voto aos cidadãos dos 27, em qualquer país da UE onde estejam a residir, para todas as eleições. De tal forma que um francês residente em Munique possa votar nas eleições legislativas alemãs, ou um checo a viver em Limoges possa votar na próxima presidencial francesa. Este federalismo de base é a Europa dos povos. É o triunfo do político sobre a tecnocracia, uma vez que a união dos Estados rumará à fusão das populações.
Para obrigar a Comissão Europeia a debater tal proposta, é necessário conseguir em toda a UE um milhão de assinaturas electrónicas, até Janeiro de 2014. Europeus convictos, para que a União Europeia se transforme na nação europeia, ponham-se já à frentes dos respectivos computadores e subscrevam!"
Christophe Barbier, L'Express, 17/04/2013, página 3

Para subscrever: http://ec.europa.eu/citizens-initiative/REQ-ECI-2012-000030/public/index.do?initiativeLang=fr 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Infografias europeias

Custo salarial da mão de obra + TSU e outros impostos relativos ao emprego, em empresas com mais de 9 empregados, excepto agricultura e função pública, em 2012, na União Europeia.

Lendo atentamente a ilustração supra, publicada no L'Express de 17/04/2013, mas cuja fonte é o EUROSTAT, fica-se bastante perplexo. Os nove países da UE em que o custo da mão de obra é inferior ao de Portugal foram todos governados durante mais de quarenta anos por partidos comunistas. Qual a explicação para semelhante anomalia, quando é certo que a CGTP até pugna pelo aumento do salário mínimo, apesar da crise?

Percentagem de possuidores de habitação própria na Zona Euro. Banco Central Europeu. Dados de 2010. Excepto Finlândia, Grécia, Holanda (2009) e Espanha (2008).

Conhecidos estes dados assaz inesperados, fica-se a entender melhor a irritação dos países da Europa do Norte. São de longe os mais ricos, mas ao mesmo tempo aqueles em que menos habitantes são proprietários das suas habitações.

A teimosia da desagradável realidade

O meu prezado amigo socialista Hugo Cristóvão, um dos melhores políticos do reduzido e pobre alfobre nabantino, teve a gentileza de me brindar, com uma dedicatória que encabeça o seu texto O caminho único, a ler aqui. Respondi-lhe logo a seguir, por meio de um mail, que ele poderá publicar se assim o entender.
Entretanto tive o gosto de ler a magnífica prosa de Jean Daniel, fundador do NouvelObs, cujo tema vem mesmo a propósito para convencer Cristóvão de que não estou sozinho no alegado caminho único. E que não tenho culpa alguma de que a realidade seja tão desagradável e teimosa.



                                          

"A salvação pela repartição equitativa"

"Durante a guerra de 1939/45, Albert Camus dizia que lhe doía a Argélia, onde nascera e crescera. Poderíamos dizer agora que nos dói a França, mas também a esquerda. E teríamos razão pois tanto uma como a outra mudaram profundamente. As sondagens e os inquéritos, que são agora a única verdadeira voz do povo, confirmam que os franceses se preocupam com o desemprego, o futuro dos seus descendentes, o ensino, a segurança e a saúde. E como lhes pedem ao mesmo tempo que se pronunciem sobre a transparência dos rendimentos dos políticos, ou sobre o casamento homosexual, enquanto os seus representantes se injuriam uns aos outros, não se pode dizer que lhes seja fácil refugiar-se na esperança de dias melhores. Ora é mesmo aí que mora o essencial da nossa angústia. Os nossos pais pensavam conhecer os seus inimigos e dispor dos meios para os combater com eficácia. Mas desde a perda de poder e de prestígio da Igreja, do descrédito do marxismo e da crise da escola laica que os refúgios da esperança e da luta se desvaneceram.
Que fazer então? Os melhores dos nossos economistas, quer estejam de acordo ou se oponham,  duvidam todos, ou da eficácia das medidas de austeridade em perspectiva, ou da capacidade de François Hollande para as implementar. 
Ainda muito jovem, tive o ensejo de conversar com Pierre Mendès-France, nessa época ainda bem longe de deter a autoridade intelectual que hoje se lhe reconhece. Após a aulas de economia política que conseguia dar, quase sempre absconsas, mas que o tornavam tão feliz, acabava por dizer que "No fim dos fins, quando se quer praticar o governo do possível, para o qual é necessário dirigir-se à Nação, expondo-lhe toda a verdade e todas as obrigações daí resultantes para cada cidadão, a norma deve ser sempre a igualdade absoluta na repartição dos sacrifícios." E  insistia no termo "repartição", com um fervor quase eclesiástico. Todos os seus amigos conheceram este número, que temiam.
Esta noção de repartição, de partilha,  bem como a inspiração que a acompanha, não deveriam assustar o presidente actual. Podem por exemplo ajudá-lo a não se arrepender de tentar acabar com os paraísos fiscais. É o símbolo dos símbolos. Uma audácia nesse sentido dividiria os seus inimigos. Há que dramatizar a crise para facultar algo de patético à partilha.
Há um outro ponto que desejaria destacar, apesar de ser bastante delicado para os jornalistas. Perante a avalanche de polémicas, o que mais me irrita não são os informadores, os quais muito profissionalmente tentam mostrar-nos que nada têm a ver com o que relatam. Cumprem assim o seu papel e se assim não procedessem, provavelmente seriam criticados. Em contrapartida, podem detectar-se nos comentadores todas de formas de ironia e de desencanto, assim como quem não quer a coisa. Os franceses ficam assim reduzidos a brincar com o declínio da França, a entristecer-se com os seus sucessivos insucessos e a descobrir com complacência no seu espelho a perspectiva de um naufrágio que julgavam reservado a outros povos. O humor é indispensável para tornar menos solene o trágico, e o Estado deve abster-se de tentar moralizar. Mas por outro lado poderia também abster-se de  por vezes desmoralizar, apresentando propostas legislativas inconvenientes ou supérfluas. Tanto mais que, nesses casos, os estrangeiros, sobretudo os nossos vizinhos, não perdem a ocasião de se mostrar impiedosos.
Actualmente ouve-se por todo o lado rejeitar a França, imenso receptáculo da incompetência, da desordem administrativa e da cegueira, que caracterizam a construção europeia. Ignoro qual o futuro dessa maravilhosa empresa. Na realidade a mais bela que um grupo de nações tenha jamais empreendido, sem ainda ter conseguido realizá-la, há que admiti-lo. Houve impérios, federações, confederações, uniões tribais de toda a espécie, mas nunca existiu, de acordo com os meus amigos historiadores, um conjunto de nações escolhendo livremente, e sem qualquer recurso à força, a construção de uma tal utopia."

Jean Daniel, Le Nouvel Observateur, 18/04/2013, página 3

Pois é. Se houvesse mesmo outras vias, além da agreste austeridade, decerto que o experiente Jean Daniel ou os seus colegas jornalistas de esquerda já disso teriam dado conta. Mas não. Só o inefável Seguro e o delinquente Animal Feroz insistem em oferecer aos portugueses uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Quimeras atractivas como brindes eleitoralistas.
Aqui fica portanto, uma vez mais, a minha posição: No estado actual das coisas, quanto a mim não existe qualquer alternativa realista e consensual à politica de austeridade. Donde resulta que, caso houvesse uma queda do governo, o que viesse a seguir seria obrigado a implementar exactamente a mesma política de rigorosa austeridade. Tal como sucederá de resto em Tomar com o vencedor de Outubro próximo, seja ele quem for. É um discurso de direita? É provável. Mas pelo menos não procura adaptar a realidade aos meus desejos.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Uma via a considerar...


Nunca tinha considerado tal hipótese, mas pronto. Admito que seja uma via a considerar. Pelo menos como simples hipótese de trabalho. Falo do Elefante Branco da Levada. Como até agora ainda ninguém conseguiu explicar em detalhe o que lá querem deveras fazer, nada impede que a recém-criada Associação dos ex-trabalhadores de Fábricas Mendes Godinho ali possa vir a ter a sua sede, bem como instalações para acomodar dignamente o espólio da empresa, que como se sabe faliu por excesso de chefes e falta de índios.
Na mesma linha de orientação, conviria a seguir restaurar as instalações e nelas instalar as associações de trabalhadores das seguintes empresas tomarenses falidas: Adega Cooperativa de Tomar, Colégio Nun'Álvares, Fábrica de Papel de Porto de Cavaleiros, Fábrica da Fiação de Tomar, Fábrica de Papel da Matrena, Fábrica de Papel da Marianaia, Fábrica do Álcool de Porto da Lage, Fábrica de Resina, Serração Freitas Lopes, Aviário Barca Nova, Portas Valdourém, Matadouro Regional do Ribatejo Norte...
Uma vez concluídas com êxito tais recuperações e instalações, tudo pago pelos contribuintes, através do orçamento camarário como é costume, será tempo de planear a instalação no Convento de Cristo da Associação dos descentes dos freires da Ordem, bem como de implementar a adequada musealização dos Paços do Concelho, devolutos desde que o município de Tomar, entretanto exausto financeiramente, foi pelo governo integrado no novo concelho do Entroncamento e vizinhos.
A minha sugestão é que se instale no piso térreo o museu da Associação dos antigos eleitos e funcionários da autarquia nabantina, com o respectivo espólio. No primeiro piso seria a sede da Delegação em Portugal da União Europeia, encarregada de subsidiar as associações portuguesas de empresas e entidades públicas falidas. No segundo piso poderia finalmente instalar-se com dignidade o espólio reconstituído do Museu Municipal João de Castilho - Legado João Martins de Azevedo, com algumas peças agora a decorar os gabinetes dos senhores eleitos. 
É uma via a considerar. Pelo menos enquanto a mentalidade tomarense dominante continuar tão distante da realidade europeia, como a Ilha da Páscoa da costa Chilena (quatro horas e meia de avião). Mas somos obrigados a viver com aquilo que temos e com o que nos falta...
Vou já comprar lenços de papel, que só me apetece é chorar.

Uma imbecilidade monumental


Todos conhecemos várias imbecilidades, tanto na cidade como no concelho. Mas a da Envolvente ao Convento de Cristo é de longe a maior delas todas. Até à data, que tendo em conta os candidatos já conhecidos, o futuro promete. Repare-se. Quanto a oportunidade e pertinência, vai contra a actual tendência europeia, que postula o afastamento do trânsito e do estacionamento de todos os monumentos e áreas históricas urbanas. Por questões de poluição, de protecção do património e de respeito pelos peões. Quanto a utilidade, como mostra a foto, tirada o mês passado, 50 lugares para ligeiros e 10 para autocarros, em três parques diferentes, é mais ou menos a mesma coisa que um estádio de 10 mil lugares, em três bancadas diferentes, para um Barcelona-Real Madrid, por exemplo.
Dirão alguns grunhos locais, sobretudo os alaranjados, que como os parques vão ser pagos, a afluência e a permanência serão mais limitadas. Admitamos. Mas então surgem dois outros problemas: Onde irão estacionar os que não couberem nos parques e os que não quiserem pagar? Qual o método de cobrança que está previsto? Um cobrador para cada parque? Parquímetros?
Por razões óbvias, esta última hipótese é a mais provável. Mas nesse caso, quem fiscaliza os que se baldam ao pagamento? E que fazer a quem estacione ao longo da estrada, ou nos terrenos anexos, como já se vê na foto, quando os meses de Verão ainda vêm longe? E quanto à segurança? Há a certeza de que os amigos do alheio não aproveitarão o carácter periférico da zona para, aproveitando a noite, embarcarem os parquímetros?
Além de toda esta problemática, a dita obra de mais de 2 milhões de euros já provocou os seguintes estragos: Destruição da anterior rede de saneamento, que ia do largo do turismo à Calçada dos Cavaleiros a qual tinha pouco mais de dois anos. Queda das velhas pinheiras da Cerrada dos Cães, com uma única excepção. Destruição de cerca de 20 metros quadrados do alambor templário, do século XII. Incómodos consideráveis a milhares de visitantes, particularmente a centenas de profissionais de turismo, que agora detestam vir a Tomar. Abate de algumas árvores. Perda de um sentido de trânsito para pesados, na Estrada do Convento.
Tudo isto apenas para construir umas instalações sanitárias acanhadas, uma cafetaria que apenas poderá ser rentável durante dois ou três meses e um posto de transformação para a EDP, em condições que terão de ser esclarecidas, uma vez que se trata de uma empreitada pública e de uma empresa agora privada.
Face a tanta asneira, julgo que ninguém sai ileso. A maioria relativa porque avançou com semelhante desconchavo, os técnicos porque não tiveram coragem para assinalar os erros crassos, a oposição maioritária, porque como habitualmente se ficou a dormir na forma, a população enfim porque não esteve para se maçar, protestando.
E não me venham outra vez com estafada desculpa de que digo mal de tudo. O que vocês queriam era que eu dissesse bem do que todos vemos que está mal. Não contem comigo para fazer da cara cu. Está mal, está mal! Punam-se os responsáveis!

domingo, 21 de abril de 2013

Ou diploma ou nada

No seu habitual suplemento semanal, o LE MONDE de ontem publica um longo texto sob o título supra. Nele escalpeliza a particularidade francesa que consiste em considerar os diplomas do ensino superior como substitutos dos antigos títulos de nobreza. Dada a extensão da prosa, decidi traduzir e publicar apenas os quatro últimos parágrafos. Para ver se umas cabecitas que por aí andam a solicitar os votos do pessoal começam finalmente a PERCEBER QUALQUER COISITA SOBRE O MUNDO EM QUE VIVEM, QUER QUEIRAM QUER NÃO...

"Actualmente todos os empregos, incluindo os menos qualificados, exigem diplomas. Pior ainda: Estão fechados para quem os não tenha. "Um estudo do CEREQ (Centro de Estudos e de Investigação sobre as Qualificações profissionais) demonstrou que, quando um empresário recruta alguém para um posto de trabalho menos qualificado, mesmo procurando só uma pessoa fiável, com bom relacionamento e boas qualidades morais, tudo características não diplomáveis, acabará por seleccionar um diplomado, porque lhe ficará praticamente pelo mesmo preço", sublinha Marie Duru-Bellat (Le mérite contre la justice, Les Presses de Sciences-Po, Collection Nouveaux Débats, Paris, 2009). Com tal comportamento, as empresas francesas mais não fazem que alimentar o círculo vicioso diploma = trabalho remunerado.
Semelhante situação provoca nos estudantes do superior reacções sem ilusões. Para o seu livro Os Estudantes e o mérito. Para que serve ser diplomado? (La Documentation Française, Paris, 2011), Elise Tenret, socióloga da educação e professora na Universidade de Paris 9 - Dauphine, entrevistou 766 estudantes do ensino superior: mais de 45% sabem que um diploma é essencial para triunfar na vida, mas para 41,4% dos mesmos, a importância do diploma na procura de um emprego é excessiva. Isto porque a vontade, a motivação, a simpatia ou ainda a capacidade de adaptação não constam dos diplomas. Este sentimento de inadequação contribui sem dúvida para aumentar a ansiedade dos jovens, quando se aproximam a entrada no ensino superior e depois no mundo laboral, decisivas para o resto das suas vidas.
Numa altura em que o diploma reina sem partilha no mundo do trabalho, há no entanto outras formas de acesso às qualificações académicas, as quais vão fazendo o seu caminho timidamente. É o caso da validação universitária da experiência, que permite conceder parte ou a totalidade dos créditos para a obtenção de um diploma. "É a clássica sucessão formação académica > diploma > emprego, lentamente instaurada ao longo do século passado, que assim é posta em causa. Doravante é possível começar pelo emprego ou pela actividade cívica e só depois chegar ao diploma", sublinham Mathias Millet e Gilles Moreau, na sua obra La société des diplômés, La Dispute, Collection Etats des lieux, Paris, 2011.
(Vem muito a propósito relembrar aqui o enorme escândalo despoletado pela descoberta de que uma universidade portuguesa tinha validado a experiência política e profissional de Miguel Relvas, para lhe conceder parte dos créditos de um "canudo", quando afinal por essa Europa fora... Até o animal feroz frequenta Sciences Po - Paris, sem que para tal tenha efectuado o difícil exame de admissão. Porque terá sido? E porque é que ninguém fala no assunto? O que em Paris é prática corrente, em Lisboa é uma actividade delituosa, que até provoca a demissão de um ministro? Somos mesmo muito pequeninos. Videirinhos, dizia o Eça, que escrevia em francês traduzido.)
Um facto parece incontroverso: sendo cada vez mais abundantes, os "canudos" serão também cada vez menos distintivos e em qualquer caso insuficientes para seleccionar candidatos ao emprego. Há de resto já outros critérios de selecção, por assim dizer indispensáveis: actividade cívica e/ou humanitária, experiência de vida, por exemplo. O gigante sueco do móvel e da decoração, IKEA, já há alguns anos que selecciona para as suas lojas a partir, não do currículo e da competência académica, mas do saber fazer, do saber estar e do saber ser. Tudo coisas para as quais não existe qualquer "canudo".

Nathalie Brafman, Le Monde - Culture & Idées, 20/04/2013, página 7

É o que eu não me canso de dizer: Na política como na vida em geral, convém ter Mundo. Mas quem consegue convencer umas pessoas cuja capacidade intelectual nem lhes permite entender,  por comparação, que são muito fraquinhas?

Preciosismos


À entrada do Mercado Municipal, encerrado há anos por falta de obras. Perante a nova realidade autárquica transitória, resta mandar gravar "E a de S. João Baptista também". Os contribuintes pagam tudo. Que remédio!
(E não fique para aí a pensar "Este gajo diz mal de tudo!" Considere a hipótese oposta: "Este gajo limita-se a mostrar o que não está mesmo nada bem nesta desgraçada terra." Ou acha que estamos tão mal só por causa das minhas críticas anódinas? Sejamos pelo menos coerentes. Afinal as críticas não têm importância nenhuma, ou pelo contrário têm muita influência no actual pântano local?
Fico-lhe desde já muito agradecido por ter feito o esforço de pensar mais um bocadinho.)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Formações de aviário

Le Monde, Universidades e Grandes Escolas, 18/04/2013, página 12

Os meus queridos conterrâneos são conhecidos em geral por serem teimosos que nem burros velhos. Alguns até conseguem ser as duas coisas -obstinados e jumentos. Julgando viver num casulo que idealizaram, detestam tudo o que não corresponda às suas peculiares preferências. Assim, quando ainda antes do 25 de Abril, concluídos os meus estudos universitários em Paris, fui dar aulas para Ourém, logo por ai se espalhou a ideia benemérita de que os meus diplomas, e tal...
No fundo, o que estava e continua em causa é o facto de eu não pensar como a generalidade dos tomarenses, e de não ter frequentado o prestigiado ensino superior português, sobretudo o Politécnico de Tomar, bem como uma enorme dor de cotovelo, por não terem conseguido, nem eles nem a sua descendência, seguir esse mesmo caminho. Vai daí, nada como uma caluniazita. Até o velho Estaline já ensinava: "Caluniai camaradas; caluniai, que sempre vai ficando alguma coisa." O resultado está à vista. Mesmo em Tomar, com gente tão inteligente, a política aparece cada vez mais como um misto de pocilga e de jardim infantil, afastando os mais capazes. O que não me surpreende nada.
A título de esclarecimento, a ilustração supra indica as 50 melhores licenciaturas francesas em economia. Todas em universidades, uma designação que naquele país é exclusiva dos estabelecimentos públicos. Aquela que frequentei - a Universidade de Paris VIII- está no ângulo central superior esquerdo. Por conseguinte no ensino profissionalizante, reflexivo e de abertura. O resto nem vale a pena traduzir, que o extraordinário entendimento nabantino já terá permitido perceber. E ver tudo, menos a carteira. Valha-nos isso!

Especialistas em anti-jogo

Não sou grande apreciador de futebol, mas gosto de ver um bom jogo. Daqueles com grandes selecções e/ou grandes clubes. Contudo, como estamos num país de especialistas em futebolês, onde as televisões dedicam ao alegado desporto-rei pelo menos dez minutos em cada noticiário, quando não mesmo a abertura, há que adaptar-se.
Infelizmente para nós, espectadores, o nosso futebol não é bem bem o do Real, nem mesmo o da selecção alemã. A equipa de todos nós parece ter sempre como objectivo principal "segurar a bola", de forma a tentar evitar que o adversários a possam jogar. Somos por conseguinte, mesmo na maior parte dos clubes, especialistas de anti-jogo. Por isso, a maior parte das vezes, os resultados voam tão baixinho Provamos na prática aquele dito popular "Nem coiso nem saem de cima...", no caso, nem jogam nem deixam jogar.
Ponhamos os olhos na nossa peculiar e tristérrima estagnação política nabantina. Logo a seguir ao confronto de 2009, o então mentor do PSD local, em minoria relativa e por isso com medo de vir a ficar sem a posse de bola, coligou-se com a uma das duas equipas adversárias. A coisa durou mais ou menos dois anos. Após os quais, para surpresa dos menos atentos, o anti-jogo tem continuado nas calmas. Os laranjas continuam de posse da bola, mas não empreendem qualquer grande jogada, não só por medo de vir a perder o esférico, mas sobretudo por não saberem em que direcção, até onde e para quê avançar.
Têm sido bem sortudos, pois as duas equipas adversárias que poderiam -se associadas- roubar-lhes a redondinha, também nunca mostraram qualquer interesse em ir por aí. Foram fingindo que tentavam desarmar o adversário, mas era só teatro, como agora está bem à vista de todos. E a tragicomédia nabantina continua, custando-nos cada vez mais caro, em euros, em atrasos de toda a ordem e em oportunidades perdidas.
Vem aí mais um grande dérbi local -as autárquicas de Outubro. Alguns jogadores já andam em exercícios de aquecimento, os treinadores agem na sombra e fala-se em transferências surpreendentes. Como se nesta bendita terra gualdina ainda houvesse algo susceptível de surpreender os observadores mais atentos. Seja como for, um facto é incontroverso -quanto a objectivos, programas, projectos, tácticas e estratégias, até agora zero. Assim, em Outubro próximo, quem lá for meter o papel na urna, apesar de tanta desilusão, não vai escolher qualquer projecto de futuro, pois é coisa que não há. Apenas ajudará a determinar quem ficará com a posse da bola, eventualmente até 2017. É pouco e frustrante? Pois é, mas a vida por estas paragens sempre foi e continua a ser um constante recomeço. Pois se até o presidente Carrão declara que tenciona "continuar com o mesmo espírito de missão...cujo resultado global é positivo", está tudo dito. Ou não?!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Fique descansado...


Após ter anunciado há semanas que a câmara ia reduzir as chefias, em conformidade com as novas determinações da tutela, Carlos Carrão parece ter-se arrependido. Soube-se esta semana que afinal ficam os mesmos nos mesmos lugares com as mesmas retribuições. Em linguagem militar, voltou-se à primeira forma. O que significa 2 directores de departamento e 9 chefes de divisão para 38 mil eleitores. A título comparativo, com 44 mil eleitores Caldas da Rainha tem apenas 3 chefes de divisão. E o presidente da câmara (PSD) já ocupa o cargo há 27 anos. Uns pacóvios, os caldenses! Ainda não aprenderam a esfolar cabritos! Os nabantinos é que sabem! Saia um das Caldas, dos de cinco litros -tinto!- para o pessoal!
Então e a foto acima, vem a que propósito, perguntará com razão o leitor impaciente? Pois lá vamos.
Apesar de tanto chefe e da cada vez mais notória falta de índios, sobretudo na salubridade urbana, vulgo limpeza, durante a recente poda dos choupos junto à moagem, houve desastre. Ninguém avisou os trabalhadores de uma empresa privada que deviam proteger o murete, revestido a granito. Vai daí, uma pernada, decerto descontente por ter sido cortada, perdendo assim o lugar fez o trabalho que se vê na foto. É no que dá as árvores não votarem. Caso contrário, nem haveria poda uma vez que, como no caso das chefias, quanto mais pernadas mais votos. Digo eu...
Pouca coisa? Pois é. Tanto mais que, como se sabe, a ordem é rica e os frades são cada vez menos. Os que pagam, quero eu dizer. Caso isolado? Olhe que nem tanto.
Alí na esquina da Rua do Pé da Costa com a Joaquim Jacinto, está uma boca de incêndio a entornar água desde há perto de um mês. Já lá fui com uma chave adequada, mas nada consegui por não ser só falta de aperto. De modo que me desloquei ontem aos SMAS e avisei as senhoras da tesouraria. Até aproveitei para acrescentar, em tom jocoso, "Bem sei que a água está barata e a câmara é rica, mas mesmo assim não há razão para se estragar." -"Fique descansado", disseram-me depois de terem tomado nota e agradecido com toda a correcção.
24 horas passadas, continuo descansado. E a boca de incêndio continua a verter. Abençoada terra! Tem muitos chefes, uns eleitos outros cooptados, mas todos justificam largamente aquilo que auferem. Assim é que é!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Enquanto por aqui se insiste em viver do maná governamental...

Foto adicionada por Tomar a dianteira

"Chambord procura atrair mais visitantes para rentabilizar a exploração"

"O auto-financiamento  é o objectivo para 2019"

"Imagine uma floresta tão grande como Paris intra-muros, com a maior cerca da Europa. É a Tapada Nacional de Chambord, cuja integridade e unidade económica  foram preservadas desde a sua fundação pelo rei François I "no meio do deserto", em 1519.
Mas o mais célebre dos palácios do Vale do Loire engloba também uma povoação com uma centena de habitantes, com arrendamentos comerciais e um parque de estacionamento muito lucrativo, bem como uma mata rica em veados e javalis. Tudo para ser adequadamente administrado e rentabilizado.
Diplomata de carreira e ex-conselheiro cultural em Berlim, Jean d'Haussonville foi nomeado em 2010 director geral de Chambord, com um mandato de cinco anos, e acaba de apresentar o seu projecto estratégico (2014-2019), o que acontece pela primeira vez. O principal objectivo é atingir o auto-financiamento, que passou de 69,5% em 2006 para 81,4% em 2012. "Não é uma ideia fixa", esclarece d'Haussonville, mas é muito pertinente, tendo em conta a grande necessidade de investimento em Chambord, actualmente da ordem dos 2,5 milhões de euros anuais, dos quais 1,7 milhões para o palácio. A ideia de base é que as ajudas do Estado sejam orientadas para os investimentos necessários, e não para as despesas de funcionamento.
Sem a extinção das caçadas presidenciais, em 1995, e a transformação do monumento em Estabelecimento Público Industrial e Comercial - EPIC, em 2005, d'Haussonville não teria podido apresentar agora semelhante ambição.
Em 2011 teve início  uma terceira fase discreta de restauro (após as de 1890 e 1980), que visa uma das quatro torres com as respectivas varandas e as obras de arte adjacentes. Mas Chambord são também 50 construções classificadas, entre as quais sete pavilhões florestais, pontes, uma igreja e uma capela, tudo em plena mata.
O projecto estratégico engloba vários eixos de desenvolvimento. O primeiro são os eventos culturais e artísticos, com exposições, e pretende acabar com a falsa ideia de que "Chambord é um palácio vazio", quando na verdade tem 4.500 obras de arte. Quantitativamente, pretende-se atingir o milhão de visitantes anuais, em vez dos actuais 775 mil. Para atrair mais visitantes, pensa-se restaurar os jardins exteriores e as zonas de transição para a mata.
Outro eixo é a área do turismo, com o aumento da capacidade de alojamento, que passará para 120 camas. Além dos dois albergues rurais, há dois outros programas hoteleiros em estudo, prevendo-se a inauguração em 2015 de um hotel de luxo, com vista para o palácio.
Está também previsto valorizar a mata e a reserva nacional de caça, com vários programas científicos europeus, que vão permitir o estudo da rica fauna selvagem existente em Chambord."

Alain Beuve-Méry, Le Monde, 13/04/13, página 12 

Um atentado contra a saúde pública?





As duas primeiras ilustrações acima parecem mostrar que os excelentíssimos autarcas que temos se estão a preparar pela calada para virem a atentar contra a saúde dos consumidores, que somos todos nós. O estado da tenda/mercado provisório, cujo preço de compra teria permitido uma requalificação geral do edifício, está num estado miserável. Entretanto prosseguem as obras, naquele ritmo pachorrento que é timbre da autarquia.
Tudo indica portanto que ainda antes das eleições de Outubro o presidente Carrão vai tentar reabrir o mercado tradicional. Se é essa a ideia, bem pode arranjar outra quanto antes, que esta é um nado morto. O velho edifício tem uma cobertura de amianto, já com mais de 30 anos e em avançado estado de degradação, como mostram os sucessivos remendos. Como o amianto é cancerígeno e está proibido pela União Europeia desde 2005, não parece razoável pensar que a ASAE irá autorizar a reabertura, sem que antes mudem todo o telhado em questão. O que não vai ser nada fácil nem barato.
Mesmo dando de barato que a ASAE, eventualmente bem untada com óleo laranja, consentisse tal crime, haveria logo uma providência cautelar, solicitando o imediato encerramento do mercado. Com fundamento no facto de os três pavilhões nem sequer terem forro, pelo que as fibras que se vão desprendendo das placas degradadas caem directamente em cima de frutas, legumes, peixe, carne e alimentos preparados. As fibras de amianto, uma vez ingeridas junto com os alimentos, ou pela respiração, provocam cancro das vias respiratórias, conhecido em termos médicos por asbestose ou amiantose. É isso que a câmara pretende?

terça-feira, 16 de abril de 2013

Sim senhora!!!

Até à data e tanto quanto sei, a única candidatura que já vai fazendo campanha é a da socialista Anabela Freitas. E de que maneira! Nesta edição mais recente do seu Infomail, acertou em cheio. "Mudança para Tomar - Augusto Barros concorre pela mudança", lê-se no folheto. Pois reconheço que nunca foi tão verdade: Até o próprio candidato começou por mudar-se dos IpT para uma lista PS.


Outra novidade assaz curiosa e muito convivial pode ver-se nesta ilustração:


Anabela Freitas parece ter decidido incluir na sua promoção a do seu adversário Rui Costa, como se sabe cabeça de lista PSD à mesma freguesia. Resta agora saber se o candidato laranja ousará fazer outro tanto. Mas lá que era bonito, era sim senhor!
E já agora uma pergunta: Afinal A agenda da mudança é a da candidata PS? Ou a do trio Carlos Cabral/Rui Costa/Zeca Pereira?

Hortas camarárias florescentes

É recorrente. Mal sucede algo um pouco fora do normal, aparecem logo honrados cidadãos a queixar-se, na mira de eventuais ajudas europeias, via governo português. Desta vez são os agricultores, argumentando que as abundantes chuvas invernais lhes não permitiram fazer as sementeiras e estragaram muitas culturas. Em anos anteriores aconteceu o oposto: a seca queimou sementes e culturas.
Aqui em Tomar nada disso aconteceu, pelo menos este ano e na linda cidade do Nabão. As magníficas e verdejantes hortas camarárias aí estão para o provar. Eis três exemplos urbanos. Um na freguesia de S. João Baptista, na Rua de Leiria, dois na Santa Maria dos Olivais, na Estrada da Serra.
Sem os magníficos autarcas que escolhemos, dada disto seria possível!




segunda-feira, 15 de abril de 2013

Há autarcas e autarcas

Diário de Notícias, 15/04/2013, página 17

Porque será que a Câmara de Tomar nunca apresentou uma proposta assim, quando já por diversas vezes se agitou a hipótese de privatização do Hospital? Para não fazer ondas? Porque está apenas para os fins de mês confortáveis? Porque daria muito trabalho e seria uma maçada?
E em relação ao Convento de Cristo, agora que já não existe o IGESPAR, o que impede a autarquia tomarense, como representante legítima da população, de reivindicar a gestão turística operacional do monumento? Consideram normais as sucessivas tropelias que por lá se vão cometendo? 
Reza um conhecido dito popular que "Quem não se sente, não é filho de boa gente".

Escândalos no turismo cultural - 3

Façamos com nas séries americanas: Antes do 25 de Abril havia no Convento de Cristo cinco funcionários, todos com a categoria de guardas e vencimento mensal da ordem dos cinco euros. Tinham apenas um dia de descanso semanal, que não podia ser ao domingo ou num feriado. As entradas no monumentos eram gratuitas, o horário alargado e todos os visitantes eram acompanhados.
E agora, quarenta anos volvidos, com o Convento já Património da Humanidade há 30 anos?


Como se pode ler, consultando a página oficial do IGESPAR, que ainda existe na Net apesar de o organismo já ter sido extinto, sob a chancela "Governo de Portugal - Secretário de Estado da Cultura", praticam-se algumas barbaridades, autênticos ultrajes à República e aos seus cidadãos. Eis uma selecção:

1 - Visitas guiadas só mediante marcação prévia e em grupos de 15/20 pessoas? Onde é que já se viu coisa semelhante? Para que servem afinal as 37 pessoas que lá estão colocadas?
2 - Visitas privadas num monumento do Estado, fora do horário de funcionamento, a 12 euros por cabeça + pagamento das horas extraordinárias aos funcionários? Com factura ou sem factura? Com IVA ou sem IVA? Os funcionários também liquidam depois o respectivo IRS? Ou é tudo "por baixo da mesa"?
3 - Visitas escolares com "marcação prévia em função da disponibilidade do serviço". Os funcionários estão lá a fazer o quê, durante o horário normal de abertura ao público?
4 - Encerrado em 1 de Janeiro, no Domingo de Páscoa, no 1º de Maio e no Dia de Natal? Então nesses dias não há visitantes, alguns vindos de centenas ou até de milhares de quilómetros? O Estado não é laico?
5 - O que pensa o Município sobre tudo isto e muito mais? O importante é não fazer ondas? E a oposição? A que se deve tanto silêncio?

Uma nota final, que mostra bem a pouca vergonha a que já se chegou naquele monumento. Os fotógrafos profissionais locais (que pagam as suas contribuições e impostos pontualmente) estão proibidos pela respectiva directora de trabalhar dentro do Convento e mesmo nos jardins da entrada. Como se aquilo fosse uma propriedade privada!
Por quanto tempo mais vai o governo consentir que se prolongue tão lamentável estado de coisas? É assim que pretendem incrementar o turismo cultural?

domingo, 14 de abril de 2013

Escândalos no turismo cultural - 2

Na sequência do escrito anterior, palavra puxa palavra, pensei no nosso Convento. Que apesar de não estar a saque e de ser de Cristo, também não estará muito  na graça de Deus. Ora faça o favor de ler:


Se o nome do proprietário que lhe arranjaram merece uma boa gargalhada de todos os tomarenses, aquela dos horários não passa de uma autêntica bosta. Encerrado ao sábado e ao domingo? Onde é que foram desencantar semelhante informação? 
Perante uma informação errada, susceptível de "roubar" alguns milhares de visitantes anuais, uma vez que quem a consulte no Google não virá nos habituais dias de passeio, qual a atitude das instâncias locais? Os sucessivos autarcas PSD alguma vez se interessaram pelo Convento, que fica a 150 metros dos Paços do Concelho? E os do PS? E os IpT? E a esquerda pura e dura? Parece-lhes normal que, por exemplo, a tão propagandeada ligação pedonal pela Mata não sirva agora para nada, dado que o portão junto ao lagar está encerrado há meses, o mesmo sucedendo com o da Torre da Condessa? Ninguém toma posição? E afirmam que o turismo é um dos eixos do desenvolvimento económico local? Tenham vergonha!

Escândalos no Turismo Cultural


Correio da Manhã, Revista Domingo, 14/04/2013, página 61

A expressão não é minha, mas do Fórum Económico Mundial: "Se bem explorado, o turismo pode vir a ser o petróleo de alguns países desprovidos de ouro negro." Nesta envolvência, até dão vontade de chorar algumas das numerosas situações anómalas, verdadeiros escândalos na área do turismo cultural. O primeiro reside no facto de termos vários jornais de referência, para depois se constatar que afinal é o Correio da Manhã -tido por tabloide = popularucho- a abordar muitos problemas fundamentais para o nosso devir colectivo. Como por exemplo, segundo escândalo, a dramática situação do Forte da Graça, em Elvas. Património da Humanidade desde 2012 e pertencente ao Estado. Está a saque desde há anos, por evidente desleixo das entidades governamentais (ver ilustrações supra). Um escândalo que nos envergonha.
Consciente do valor monumental em perigo e das suas potencialidades na área do turismo cultural, o município de Elvas (PS) está disponível para ali investir cinco milhões de euros. Falta o acordo do governo. Outro escândalo. Estão à espera de quê?
E qual é a triste situação de Tomar, na mesma matéria? Será o tema do próximo artigo.

Crescimento porque esperas?!

"Dinheiro baratinho"

"O imperador Akihito é mesmo azarento. Apesar da era Heisi, inaugurada pela sua entronização, prometer a "confirmação da paz", foi nessa mesma data que começou a descida aos infernos do Japão.
Em três décadas de pósguerra, o país transformara-se no primeiro exportador do planeta. As empresas japonesas compravam Hollywood e os especialistas previam a sua próxima acessão ao primeiro lugar mundial, humilhando assim uma América com a sua indústria devastada.
Bastou então um grão de areia monetário para comprometer tudo. Foram os acordos do Plaza, em 1985, entre os Estados Unidos, o Japão, a RF Alemã, a Inglaterra e a França que, pretendendo instituir uma concertação internacional na área do controlo dos câmbios, provocaram uma queda brutal do dólar em relação ao yen. Esta repentina desordem monetária teve um efeito indirecto: provocou um repatriamento em massa dos capitais japoneses investidos nos Estados Unidos, que vieram investir-se na bolsa e no imobiliário nipónico, provocando uma das maiores bolhas da história económica. O drama do dinheiro fácil que alimenta as mais loucas especulações. Houve bens imobiliários no bairro chique de Ginza, em  Tóquio, que encontraram compradores a mais de 700 mil euros o metro quadrado!!!
Os dez anos que se seguiram à explosão dessa bolha foram marcados por um crescimento nulo e por uma deflação mortífera dos preços. O país esgotou-se. Gastou mais de um bilião de dólares (768 mil milhões de euros - o resgate da troika a Portugal é de "apenas" 78 mil milhões), numa dezena de planos de relançamento, sem qualquer efeito para além de aumentarem exponencialmente uma dívida pública gigantesca, cujo reembolso absorve agora 25% do orçamento do Estado. Chama-se a isso a década perdida. A seguinte não foi mais risonha. Tão deprimente como o feitio neurasténico das princesas imperiais. O total global das despesas anuais em bens e serviços está hoje ao mesmo nível de há vinte anos.
O novo primeiro ministro Shinzo Abe, um político muito experiente, viu-se portanto praticamente forçado a agir forte e feio. O seu plano prevê não só mais um investimento colossal e reformas estruturais de liberalização da economia, tudo coisas já experimentadas sem êxito no passado recente, mas sobretudo um nova política monetária de uma agressividade sem precedentes. Com um objectivo simples: conseguir em dois anos uma inflação de 2% em vez da actual deflação de 0,5%.  O Banco do Japão foi assim constrangido a imprimir yens às toneladas. Um esforço duas vezes mais importante que o dos Estados Unidos, já por si bem generoso. Se a manobra resultar, a inflação sobe, o PIB aumenta, alimentados pelo consumo, e a queda do yen estimula as exportações, o que por sua vez aumenta as receitas fiscais e por conseguinte a hipótese de reembolsar a dívida pública.
Se falhar, quer dizer...: A inflação provoca um aumento das taxas de juro, o qual desencadeia a explosão de uma dívida fora de controlo. O risco é também, como em 1985, que este oceano de dinheiro fresco vá alimentar sucessivas bolhas, as quais por sua vez rebentarão num mundo agora bem mais conectado que naquela época. Um pesadelo ao quadrado.
É por isso que Europeus e Americanos estão extremamente atentos à manobra de Shinzo Abe. Todos optaram pelo laxismo monetário, arma derradeira para enfrentar a crise e voltar a dar um pouco de ar a economias em risco de morte por asfixia. Os Estados Unidos já assim fazem há largos meses, a Europa idem, mas de forma tão tímida que não satisfaz ninguém e parece apostada em pavimentar  a via para uma década perdida à la japonesa. Mas a Europa não é o Japão e a política económica é uma arte toda feita de equilíbrio e de improvisação."

Philippe Escande, Le Monde, Eco&Entreprise, 09/04/2013, primeira página
As cores para destacar e as partes a azul são de Tomar a dianteira

Coitada da esquerda! Coitado do Tó Zé Seguro! Coitada da Anabela! Estão como o imperador do sol nascente: Não têm mesmo sorte nenhuma!