terça-feira, 30 de abril de 2013

Centro e periferia



O Bairro da Estrela Polar, a obra mais recente de Francisco Moita Flores, constitui um bem documentado panorama sobre as relações entre o centro e a periferia, entre Lisboa central e Lisboa marginal. Para os mais lidos, trata-se de uma admirável ampliação actualizada e mais aprofundada da conhecida Crónica dos Bons Malandros, de Mário Zambujal. Num português de primeiríssima água, (que não merece a meia dúzia de erros de concordância detectados, a pedir revisão urgente), o ex-inspector da Judite, conseguiu aqui um extraordinário argumento para um filme, ou uma curta série televisiva, sobre o Portugal actual, visto a partir da periferia e pelos olhos dos rejeitados pela boa sociedade alfacinha.
Seguem alguns excertos, a título de acepipes. Para aceder ao resto da opípara refeição, basta ir a uma livraria e desembolsar à volta de 16 euros, ou aérius, como usam algumas personagens do reputado escritor alentejano, digno sucessor do Eça.

"-Quem te comprou isto foi uma imobiliária. Os otários compram a estes amigos e assim toda a gente lucra com o negócio. Aquilo que ganhaste hoje é muito mais importante do que o lucro que obtivemos. Conquistaste uma encomenda. Agora, não vais ao banco. Pedes um avanço de compromisso à imobiliária e depois destas vivendas outras virão.
Passaram alguns anos para descobrir que o fiscal [da câmara] era também sócio da empresa que lhe comprava as vivendas. Ele e o seu director [de departamento], que aprovava projectos à velocidade da luz. Chamavam-lhe esquema." (Página 85)
"-Olha-me para isto. Seis chatas e ao todo cinquenta euros! Cartões de crédito, de multibanco, de débito. Dinheiro, nada! Cinquenta euros ao todo. Assim não se pode ser carteirista, é uma profissão em vias de extinção?! Não conheço nada disto. ...Está tudo de pantanas." (Página 250)
" -Até amanhã François!
-E ponha-me os ladrões a roubar a sério. Quem rouba de tudo, nada lhe faz proveito. É por isso que Portugal está como está. Maus ladrões, maus gestores, maus políticos." (Página 304)

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