sábado, 30 de abril de 2011

COM QUE ENTÃO ERA SÓ MÁ-LÍNGUA!!!

Jornal i, primeira página, 30/04/2011
Jornal i, páginas 26 /27, 30/04/2011

Desde 2009 que Tomar a dianteira vem alertando para o comportamento errático da actual maioria relativa, no que se refere nomeadamente à gestão orçamental. Em vez de facultarem informações atempadas, verdadeiras e completas aos eleitores, os senhores autarcas têm-se refugiado no sigilo e nas meias tintas, cochichando por aqui e por ali que "Aquilo é só conversa" "A habitual má-língua", "Não sabem o que dizem" "Iluminados profetas da desgraça" e outras do mesmo estilo. Tudo isto enquanto continuavam a adjudicar obras grandiosas, algumas de utilidade muito duvidosa, que agora não têm dinheiro para pagar. Assim sendo, só os eleitores mais distraídos poderão ficar surpreendidos por ser o próprio secretário de estado da administração autárquica a admitir que a situação é grave e que a falência de alguns municípios é iminente. Na verdade, em terras de gente conservadora, retrógrada e semi-analfabeta (para ser benevolente), é sempre mau ter razão antes do tempo. Ainda assim, Tomar a dianteira não vai deixar de dizer o que tem de ser dito, quer agrade, quer incomode. 
A título complementar, esclarece-se que só no distrito de Santarém há já cinco municípios com a corda ao pescoço, com fortes hipóteses de falência antes do final deste mandato, em 2013, ou até já em 2011. São eles, por ordem alfabética, Alcanena (4 PS, 2 Ind., 1 PSD), Ourém (4 PS, 3 PSD), Santarém (7 PSD, 2 PS), Tomar (3 PSD, 2 PS, 2 Ind.) e Torres Novas (5 PS, 1 PSD, 1 CDU). De todas estas autarquias, só na de Tomar é que há um vereador com um Opel Insígnia novo e para todo o serviço, que o executivo está a pagar em regime de leasing, certamente por não o poder liquidar a pronto. E cinco membros do executivo a tempo inteiro. E mais de 200 telemóveis distribuídos pela autarquia a eleitos e funcionários, entre os quais quatro a de mais de 800 euros cada um. Ele há coisas! 
Questionado sobre este assunto, um autarca da actual coligação admitiu a falta de liquidez e o risco de falência do município tomarense, acrescentando que, de qualquer forma, "Corvêlo de Sousa vai continuar a manter-se impávido e sereno, aparentemente deleitado a assistir ao descalabro, tal como Nero contemplando o incêndio de Roma. Não por mal. Apenas por estar convencido que a sua prestação como autarca é algo de qualidade excepcional."
Há eleitos assim. E quem neles votou, agora não tem de que se queixar. Resta-lhes aguardar pelas próximas autárquicas e então escolher melhor. Se houver por onde.

UM LIVRO APAIXONANTE E INQUIETANTE


Não tenho ilusões, que a idade já não o permite. Escrevo sobre uma obra que só está ao alcance de uma ínfima minoria -a dos francófonos. Ainda bem representada a nível nacional (Carrilho, Barreto, Rosas, Medeiros Ferreira, Soares, Pacheco Pereira, Eduardo Lourenço...), em Tomar nem sei se ainda haverá meia-dúzia. Esperemos.
Trata-se da edição de bolso do livro do economista Daniel Cohen (que alguns julgam poder vir a ser um futuro Nobel) A prosperidade da deformidade, cujo formato original causou furor em França, tendo vendido mais de 70 mil exemplares, sucesso inimaginável para um agreste trabalho de história económica, já vai na segunda edição de bolso...a 6 euros e 95! Até parece que estamos em Portugal!
Para todos os que não vão conseguir lê-lo, pois dificilmente virá a ter uma versão portuguesa, aqui fica a apresentação da contra-capa: Este livro espantoso é uma viagem. Uma viagem através do tempo e do espaço. Uma viagem inquieta. Assediada por uma pergunta: Como e porque é que o Ocidente, que  conseguiu arrancar a humanidade do reino da fome e da miséria, acabou a sua viagem no suicídio colectivo das duas guerras mundiais? Qual é a deformidade escondida que paulatinamente aniquilou a Europa? A questão continua actual. O mundo ocidentaliza-se cada vez mais rapidamente: irão as tragédias europeias repetir-se, na Ásia e alhures? Poderá o planeta evitar um novo desastre, desta vez ecológico? Tal como a crise financeira relembrou, uma incerteza de ordem sistémica paira sobre o capitalismo: sabe para onde vai? para onde arrasta a humanidade?
Aliando erudição e pedagogia, concisão e sentido das fórmulas eficazes, Daniel Cohen descreve-nos a história da humanidade. Um livro apaixonante.

Lida e relida a obra, eis o que me parece ser o extracto do sumo da matéria. 
Porque implodiu a URSS? Por causa da Gorbachov, da perestroica e da glasnost, como é sabido. Mas qual foi a causa próxima desse encadeamento da factos? A guerra virtual. Quando Reagan anunciou aquilo que ficou conhecido como o projecto da "guerra das estrelas", os dirigentes russos perceberam que tinham perdido a corrida aos armamentos. E desistiram. O resto é do domínio público.
E porque caiu o muro de Berlim? Porque implodiram os regimes ditos socialistas na Europa? Como foi possível a democracia em Espanha? Qual a razão do sucesso do 25 de Abril, com menos de 800 militares impreparados para aquela tarefa?
Segundo o autor, a partir de determinada complexidade, qualquer estrutura, dos grandes impérios às pequenas localidades, começa a não responder aos comandos, esboroando-se de forma lenta mas inexorável.
Precisamente o que está a ocorrer, tanto no país como sobretudo em Tomar.
Haverá solução? Julgo que sim. Com os tomarenses. Se eles quiserem. O que não parece ser o caso. Por enquanto?

sexta-feira, 29 de abril de 2011

SEREMOS UM PAÍS DE PANCRÁCIOS? OU IMITAMOS MUITO BEM?

Que eu saiba, em nenhum outro país da Europa ocidental alguém cairia na asneira de equiparar factos e meras hipóteses. O que não obsta a que neste belo rectângulo à beira-mar abundem comentários desse tipo, tanto na blogosfera como na imprensa escrita. Explicitando, trata-se de escrever que Sócrates, enfim, pois, é assim, mas infelizmente PPCoelho não tem envergadura, não parece estar à altura, está mal acompanhado, etc. etc. etc. 
Pois discordo totalmente! Uma coisa é elencar os actos de teimosia, as asneiras, as mentiras por omissão, as fantasias e as atitudes menos sensatas de Sócrates no exercício das suas funções. Outra, muito diferente e de nítida má-fé, consiste em culpar o líder da oposição, tendo como base apenas um lamentável processo de intenções, de tipo claramente estalinista. Num caso, parte-se dos erros já cometidos e da atitude nitidamente autista e fantasista do primeiro-ministro ainda em funções. No outro, pensa-se que, insinua-se que, acredita-se que, faltando sempre a prova indubitável de que assim é, pela simples razão de que ainda não aconteceu. 
Uma vez que qualquer comentador -jornalista ou não- já terá ouvido falar com certeza  no imperativo democrático de conceder a cada político o benefício da dúvida, tanto antes como após a sua eleição, tanta insistência em comparações espúrias factos/hipóteses só pode ter uma origem: a bem rodada e oleada central de propaganda ao serviço de José Sócrates, o político que é em simultâneo o maior artista português de teleponto. Agora só falta saber se o eleitorado se deixará manipular mais uma vez, induzido por promessas quiméricas, que não têm em conta a dramática situação de Portugal em termos de endividamento externo. Resposta a 5 de Junho.

PROGRAMA DE RÁDIO "À MESA DO CAFÉ" - 17

Como habitualmente aos sábados, das 11 ao meio-dia, amanhã irá para o ar mais uma edição - a 17ª- da iniciativa conjunta Rádio Hertz/Tomar a dianteira "À mesa do café". Desta vez o convidado é Luís Ferreira, vereador eleito pelo PS e membro destacado da sua Comissão Política. (Há até quem afiance que é ele o patrão de facto...) Ocasião para se falar do país e da cidade, num contexto por assim dizer caseiro, uma vez que o convidado é comentador na Hertz às quartas-feiras.
A conversa será transmitida em directo, podendo o público presente intervir, se assim o desejar, bastando para isso que assinale previamente essa intenção.

O PONTO DE VISTA QUE FALTAVA...PARA EQUILIBRAR A BALANÇA

Jornal de Negócios, 29/04/2011, página 2

quinta-feira, 28 de abril de 2011

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA


Além do tema já destacado esta manhã, no post "Por isso estamos cada vez pior", O MIRANTE desta semana inclui mais duas peças sobre a nossa cidade, ambas da responsabilidade de Elsa Ribeiro Gonçalves.  A da capa, com a foto do mordomo João Victal é naturalmente sobre a Festa dos Tabuleiros, a Festa Grande de Tomar, ocupando toda a página 4. Segundo o entrevistado, "O essencial da Festa dos Tabuleiros não pode mudar". Uma constatação susceptível de congregar senão todos os tomarenses, pelo menos a maior parte deles. Desde que antes se defina com todo o cuidado o que é e o que não é essencial. Porque na verdade o que alguns tomarenses, respeitadores da tradição e sinceros admiradores da festa pretendem, é alterar a organização do maior evento turístico do concelho, de forma a que deixe de ser um poço de despesas e passe a constituir uma importante fonte de receitas. Trata-se portanto de uma evolução inevitável, tendo em conta a envolvência orçamental, apenas faltando determinar se o conseguiremos fazer de motu próprio ou, pelo contrário, forçados pelas circunstâncias, sendo um dado adquirido que as verbas autárquicas não são elásticas, nem há para os municípios qualquer fundo europeu de resgate. Trata-se de uma temática a debater fraternalmente após a festa. Por agora desejam-se os maiores êxitos a João Victal e a todos os que o secundam, por amor à tradição.
Quanto à outra peça, está na página três, tendo por título "Festa dos Tabuleiros de geração em geração", com uma bela foto de meia página.

N'O RIBATEJO, como já vem sendo habitual, nada sobre Tomar, excepto uma referência na manchete:  "Uma máquina de cortar pedra, um carro eléctrico de gelados, uma máquina para fazer pranchas de surf...São apenas alguns dos projectos desenvolvidos para empresas pelo laboratório criado pelo Instituto Politécnico de Tomar"...em Abrantes! De referir que até à data ainda ninguém julgou útil explicar aos tomarenses o ou os motivos que levaram o dito laboratório científico para Abrantes. Aguardemos!

N'O TEMPLÁRIO, a peça mais importante da semana parece-me ser o editorial assinado pelo director, José Gaio, com uma corajosa tomada de posição, intitulado "Pior do que decidir mal, é não decidir". Uma arreigada tradição tomarense, que já bastas vezes arrastou pacatos cidadãos-investidores para "secas" superiores a cinco anos. O que não impede os senhores autarcas de agora virem propugnar a recuperação do património urbano da cidade antiga.
Em tempos recuperei quatro imóveis, tendo acabado por perder a paciência, dado que o projecto seguinte era sempre bem mais complicado e oneroso do que o anterior, vá-se lá saber porquê. Ceio que o mesmo terão decidido outros tomarenses, deixando cair os prédios velhos. Os resultados estão à vista, o que parece não ser suficiente para alterar o modus operandi de eleitos e técnicos superiores do município, intimamente convencidos de que os cidadãos estão a disposição da autarquia, quando é exactamente o oposto que devia acontecer -A câmara é que deveria estar ao serviço dos cidadãos e de toda a comunidade concelhia, mas infelizmente não está, o que se nota cada vez mais.

"Vendam o Convento de Cristo como título da dívida pública aos chineses, para estar sempre aberto!" titula António Freitas, na página 15 de CIDADE DE TOMAR, ilustrada  com turistas a saltar a muralha da Porta de S. Tiago. Pois tem toda a razão, penso eu. E o estilo sarcástica parece ser mesmo o mais adequado para abordar uma questão afinal bem patusca. Enquanto os comerciantes, hoteleiros e restaurantes, insistem em queixar-se que os turistas visitam o Convento mas não descem à cidade, o principal monumento da urbe encerra às 17 e trinta de Outubro a Maio, e às 18 e trinta de Junho a Setembro. Além disso, está encerrado entre as 12H30 e as 14HOO, bem como no primeiro de Janeiro, na Sexta-feira santa, no Domingo de Páscoa, no 1º de Maio e no Natal. Os visitantes que se marímbem!
É claro que tudo isto é feito sem antes ter pensado nas eventuais consequências negativas, tanto para os visitantes como para a cidade. Tomemos o caso de grande parte dos turistas estrangeiros. Munidos dos mais variados guias, resolvem visitar Tomar porque aqui há um monumento classificado pela UNESCO como Património Mundial, coisa assaz rara em Portugal, apesar de tudo. De acordo com as próprias indicações dos citados livros de viagem, muitos chegam a Tomar ao fim da tarde, depois de terem visitado Nazaré, Alcobaça, Batalha e Fátima. Com encontram o Convento de Cristo encerrado, dão o assunto por arrumado, indo jantar e pernoitar alhures. Se, pelo contrário, o monumento tivesse horários mais adequados ao turismo moderno, até às 20H30 no Verão, por exemplo, os mesmos visitantes não só pagariam as suas entradas como jantariam e dormiriam em Tomar, podendo até frequentar outro comércio local. Mas quê! Como bem diz o povo "Quem não sabe, é como quem não vê!"
Até hoje, que se saiba, nunca os senhores autarcas (tanto os da maioria como os da oposição) reclamaram junto do IGESPAR horários mais consentâneos para os turistas e mais convenientes para a economia local. Deve ser porque estamos muito bem assim! Os malandros dos turistas é que são uns desavergonhados, sem consideração nenhuma por esta "Cidade Templária"...

MESMO NÃO ACREDITANDO EM BRUXAS...


Estou como dizem os nossos vizinhos castelhanos: Não acredito em bruxas, mas lá que as há, há! Conhecem os tomarenses o rol de vicissitudes da Rotunda do Muro-Mijatório. Após meses e meses de obras caóticas e altamente incomodativas, quando todos pensavam que terminara o martírio, catrapuz! -o pavimento começou a abater do lado nascente. Mas recentemente, houve até uma ruptura junto à moagem, com a água a jorrar junto ao passeio.
Decorridos algum tempo após as reparações provisórias, vieram agora os operários para as definitivas, ou pelo menos por eles consideradas como tal. E começaram exactamente pela citada fuga junto à moagem, em primeiro plano na foto. A seguir ocuparam-se da parte mais chegada à Casa dos Cubos, que levou uma camada nova e por enquanto está impecável. Digo por enquanto, pois ainda com a obra em curso, houve mais uma ruptura no mesmo local da anterior, mas desta vez com a água jorrando em três sítios diferentes, no início da passagem para peões. Enquanto fui buscar a máquina fotográfica e regressei, apareceu o funcionário dos SMAS (ao fundo, do lado esquerdo), que fechou a água.
Não é por nada, mas se eu fosse autarca, ou da empresa adjudicatária das obras, tentaria arranjar maneira de alguém vir benzer a rotunda. Podia ser que assim pudéssemos finalmente ficar todos descansados. Caso contrário...

POR ISSO ESTAMOS CADA VEZ PIOR...

Foto O MIRANTE

Abre-se uma excepção à usual Análise da imprensa regional -geralmente à quinta-feira à noite- para dela destacar a manchete desta semana do semanário  O MIRANTE. Que bem merece. No país e na terra do "respeitinho é muito bonito", com tudo o que isso implica, é sempre um prazer ler alguém que tem a ousadia de falar claro e urinar a direito, em português usual; de chamar os bois pelos nomes, em vernáculo; de mostrar o peito às balas, em linguagem de antigo combatente; de ser assertivo, em "convenientês"; ou de ser "um pessimista crónico e má-língua compulsivo", em "autarquês/tomarensês".
Mas vamos ao começo. Natural das Cabeças/S. João Baptista, criado em Tomar, o nosso conterrâneo Manuel Oliveira formou-se em Coimbra. Tem casa em Tomar e nela passa muitos fins de semana, mas trabalha sobretudo em Santarém, porque na sua terra natal não o souberam acarinhar. Já aconteceu a muitos outros e vai continuar a ocorrer. Por isso estamos cada vez pior.
Entrevistado pela jornalista Ana Santiago, Manuel Oliveira foi sintético e frontal "O Serviço Nacional de Saúde é mal gerido e não tem viabilidade... ...Seja qual for o partido que vá governar o nosso país, por muito boa vontade que tenha, não tem maneira de manter o Serviço Nacional de Saúde tal como está." Quem ouviu Sócrates ontem na Tv, ficará agora com um falso dilema na mente: Qual dos dois estará a mentir? O médico ou o político?
Tendo-lhe a jornalista perguntado, referindo-se ao hospital privado agora em construção na capital ribatejana, "Mas porquê em  Santarém e não em Tomar, de onde é natural?", Manuel Oliveira manteve a frontalidade: "...Cheguei a falar com o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Tomar, para nos alugar as instalações do antigo hospital, onde trabalhei. Queria criar lá uma unidade do género. Criaram-me dificuldades"... 
A entrevistadora acrescentou: "Ao contrário de Tomar, Santarém acolheu bem o projecto..." Nova posição assertiva do clínico nosso conterrâneo: "O Dr Moita Flores foi excepcional. Colaboraram sempre, não ultrapassando a lei, mas agilizando a aprovação das coisas. Ainda bem que foi assim. É uma desgraça o que se passa e muitos municípios deste país."
"É a tradicional má-lingua tomarense", argumentarão os senhores autarcas cá do burgo. Especialistas em pôr-se a jeito, em dar caroladas na parede, depois ainda têm a distinta lata de se lastimarem, por terem as respectivas cabeças cheias de "galos". Triste sina Severina, ter nascido e crescido nas margens do Nabão!
E tudo isto num semanário editado fora da terra, que a imprensa tomarense, se não continua açaimada, pelo menos imita muito bem. Apenas velhos hábitos? Neste caso, para quando a mudança?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

OLHAR E NÃO VER, ESCUTAR E NÃO OUVIR

Faz-me impressão e causa-me algum mal-estar ouvir José Sócrates arvorar-se em defensor do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, da actual situação do mercado laboral, das reformas e da função pública em geral, quando sabe muito bem -ou devia saber- que devido à política desastrosa que seguiu, agora não há dinheiro que permita financiar todas essas coisas. Por outras palavras, insiste em enganar os portugueses, levando-os a crer no impossível: a manutenção do Estado Social tal como o conhecemos até aqui. Na verdade, qualquer que venha a ser o partido vencedor das próximas eleições, com ou sem maioria absoluta, o seu programa de actuação nada terá a ver na prática com as promessas de circunstância avançadas durante a campanha eleitoral. PS ou PSD, isoladamente, emparceirados, ou cada um coligado com o CDS, serão forçados a implementar todas as medidas decididas pela troika, entre as quais não figurarão de certeza reformas visando melhorar o Estado Social. Pelo contrário, como se compreende. Se a política seguida pelo governo PS nestes últimos anos arrastou o país para a inevitável bancarrota, caso falhe a ajuda externa União Europeia/FMI, não se concebe sequer que seja possível continuar a trilhar o mesmo caminho. Sócrates está por conseguinte transformado num político populista que tudo promete para tentar manter o lugar que agora ocupa.
Custa-me escrever isto, mas tenho um compromisso com a verdade, tal como eu a vejo. E não estou só. Longe disso. O próprio Manuel Maria Carrilho, militante socialista e ex-ministro da cultura, lamentou ontem publicamente que o actual primeiro-ministro se limite a declarações de pura propaganda, totalmente desfasadas da realidade. Há, de resto, várias contradições no discurso de Sócrates. A principal parece-me ser esta: Se o PS proclama que, vencendo as eleições, manterá e aperfeiçoará todas as vertentes do Estado-providência tal como existe neste momento, então porquê as gravosas medidas de austeridade, já em vigor ou ainda a implementar? Puro sadismo? Quem é que ainda acredita que é possivel vender o rebanho e continuar a ordenhá-lo? Pensará o primeiro-ministro que os portugueses são parvos? Que os nossos credores acreditam no milagre da multiplicação dos euros? Que os membros da troika não vêem um boi à frente dos olhos? Que vai ser possível continuar a fazer de conta, a fingir, como aconteceu com algumas medidas dos sucessivos PECs?
No próximo dia 5 de Junho à noite saberemos as respostas. Entrementes, convém abordar tais questões, não porque possamos realmente alterar ou sequer influenciar o que quer que seja a nível nacional, mas sobretudo para alertar os tomarenses para o pântano local. Os nossos queridos autarcas usam a arma do silêncio, tal como Sócrates se serve do teleponto, mas a situação nabantina é, no meu entendimento, ainda pior que a do país. Não só porque, como já aqui escrevi anteriormente, o país tem a hipótese do resgate externo e o concelho nem isso, mas também e sobretudo porque o actual elenco camarário vai continuar em funções (com uma ou outra mudança) até finais de 2013 e aí já não haverá salvação possível. Teremos perdido o último barco para o futuro. Estaremos então definitivamente condenados ao declínio, à irrelevância, a transformarmo-nos pouco a pouco numa vetusta aldeia da terceira idade no interior do país, eventualmente a integrar noutro concelho, algures nos próximos 25 anos. Oxalá esteja a ver mal! Mas estarei mesmo enganado?

COM JOVENS ASSIM TOMAR TEM FUTURO?


Fiando-se apenas na paisagem tradicional tomarense, a impressão não é mesmo nada boa no que se refere a cidadania, intervenção cívica, vanguardismo. Os tomarenses em geral apreciam mais o futebol e a comida do que propriamente o activismo político. Há porém a nossa juventude, ou pelo menos uma boa parte dela, que afina por outro diapasão, dando mostras de que, apesar da passividade doentia dos adultos, Tomar pode vir a ter futuro. Depende sobretudo deles.
Convidado a assistir a uma sessão sobre os problemas ambientais do planeta, lá estive no início e gostei do que vi e ouvi. Por isso, como forma de encorajamento, aqui fica o registo do evento, com conselhos básicos para se ser um cidadão consciente e um bocadinho mais verde.

RODA NOVA, TUDO BEM?

Foto 1 - A nova roda do Mouchão
Foto 2- Rama de pinheiro para fechar o açude
Foto 3 - O eixo em madeira exótica
Foto 4 - Local da Roda do Hotel
Foto 5- O canal e os apoios onde assentavam as chumaceiras do eixo da roda

Graças ao excelente trabalho dos carpinteiros ao serviço da autarquia, já temos uma roda nova no Mouchão. Quase pronta para funcionar ainda antes do próximo Congresso da Sopa, no próximo dia 7 de Maio. Logo por azar no mesmo dia da Bênção das Pastas dos estudantes do IPT. Há que ter paciência. Não se pode acertar em tudo...
Quanto à nova roda, quase tudo impecável. Foram até ao detalhe de mandar repor os tradicionais 64 alcatruzes, do tempo em que a água do rio ainda servia para regar todos os canteiros do Mouchão, excepto os mais centrais. Mais tarde, com o advento da rega por aspersão, alguém entendeu que se tratava de um sistema antiquado e mandou desfazer as tradicionais regadeiras em terra batida. Pela mesma ocasião retiraram metade dos alcatruzes, ficando a roda a funcionar com apenas um por cada pá, ora o da esquerda, ora o da direita, uma vez que a água por eles trazida voltava logo para o rio, sem qualquer utilidade portanto.
Se calhar, digo eu, não seria má ideia ir pensando em restabelecer o antigo sistema de rega, mais económico e amigo do ambiente. Um excelente exemplo de aproveitamento da energia limpa, para mostrar aos alunos. Mas deve ser pedir muito...
Embora fazendo votos sinceros para que tudo corra pelo melhor, que de vergonhas já estamos mais do que fartos, há na nova roda um detalhe que é uma incógnita. Refiro-me ao eixo. (Foto 3) O anterior, que se partiu, obrigando assim a fazer uma roda nova, era em carvalho do norte. Por razões ainda por apurar, este que agora instalaram é em madeira exótica. Aguentará? Quando aqui há tempos fiz a pergunta aos responsáveis, foi-me dito que sim, porque ia ser tratado em Almeirim, em conjunto com os restantes elementos da roda, naquela empresa que trata e fornece postes para a vinha. Oxalá assim aconteça mesmo!
Aquando da construção do Hotel dos Templários - 1ª fase, no final da década de 60 do século passado, decidiu-se e bem instalar uma roda ornamental idêntica à do Mouchão, o que foi feito. Infelizmente, alguém teve então a ideia de inovar, simplificando a armação do açude tradicional, a qual exigia e exige bastante mão-de-obra. Nesse sentido, fez-se no leito do rio uma sapata em betão, já com as cavidades para as estacas, que assim se colocavam e retiravam muito mais facilmente. Correu tudo muito bem até que se constatou algo nunca previsto. Contrariada no seu percurso usual, a água do Nabão começou a escavar uma profunda cavidade por debaixo das fundações da parte poente da Estalagem de Santa Iria. A solução encontrada consistiu em desmontar o açude, que não voltou a ser armado. Sem uso, a roda viria a ser retirada mais tarde, tal como aconteceu com os barcos de recreio do hotel. Restam as ruínas do empreendimento, infeliz por causa de uma inovação insuficientemente ponderada. (Fotos 4 e 5). Donde a minha apreensão em relação ao novo eixo...

ANTÓNIO PAIVA TINHA RAZÃO...



António Paiva tinha razão: Tomar é uma cidade em franco progresso, rumo a um futuro risonho. A prova disso é que em dois dias já é o segundo engarrafamento de se lhe tirar o chapéu. Como em qualquer outra grande cidade europeia! Neste caso a dar razão igualmente ao Lavoisier, que postulou há dois séculos que "as mesmas causas, nas mesmas circunstâncias exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos". Por conseguinte, já ficam os tomarenses em geral e os digníssimos autarcas em particular, devidamente elucidados. Proibição de trânsito na Ponte Nova = engarrafamentos por toda a cidade antiga.
Nos idos anos da revolução, cantava-se que "O Alentejo precisa de alguém que saiba mandar!" Quase quarenta anos volvidos, Tomar está na mesma -precisa de alguém que saiba mandar. Ou pelo menos que não caminhe sistematicamente ao lado dos sapatos. É para quando?!?!

terça-feira, 26 de abril de 2011

BONS RESULTADOS: EIS O QUE NOS FALTA!

José Mourinho e Pep Guardiola/Foto Claudio Álvarez/El País
Para usar uma conhecida frase do saudoso capitão Salgueiro Maia, o post anterior mostra bem "o estado a que isto chegou". O que só surpreenderá quem nunca tenha andado por além-fronteiras, nem tenha acesso aos media estrangeiros. Todos os outros sabem bem qual a principal maleita deste país e desta terra nabantina -muita conversa mas pouca obra e de fraca qualidade. Muita argumentação, mas bons resultados nicles. E num mundo que muda cada vez mais aceleradamente, ou sim ou sopas, ou cuco ou moucho, ou coisas ou sais de cima, dando lugar a outros. No desporto, na indústria, no comércio ou nos serviços, só os resultados contam. Bons resultados. Qualidade, rapidez, eficácia, simpatia, êxito, é afinal aquilo que todos buscamos. Daí que por uma vez ouse entrar num mundo que me é estranho -o do futebol profissional.
Faço-o porque Mourinho é, julgo eu, o melhor exemplo de um homem que se preocupa sobretudo com os resultados a alcançar e com os meios para lá chegar. Tudo o que ele diz ou faz, visa exclusivamente essas duas metas.
Há quem diga que tem tido muita sorte, que as equipas por ele dirigidas não brilham, que ganhar assim afinal até pode ser fácil. Para que os leitores possam construir a sua própria opinião, segue-se a tradução integral do artigo assinado por Diego Torres, no EL PAÍS de 25/04/2011, páginas 37/38, naturalmente com a devida vénia.

PODER ABSOLUTO
A conquista da Taça do Rei frente ao Barça foi mais um passo de Mourinho, na sua luta para dirigir o Real Madrid em todos os aspectos, submeter os jogadores e mandar mais do que o presidente.

"No regresso a Madrid, José Murinho passeou-se no corredor do avião, com o peito inchado e com um tímido sorriso de satisfação. Na passada quinta-feira, já de madrugada, o técnico do Real Madrid acabava de levar a equipa à conquista da Taça do Rei, o primeiro título do clube nos últimos três anos. No aeroporto de Valência, os seus jogadores olhavam-no atentamente, enquanto afirmava, categórico, "Isto é futebol! Isto é futebol!"
Ao mesmo tempo, os seus ajudantes iam resumindo entre os membros da caravana madrilista a ideia concebida pelo seu líder. -Em certa medida, o Barça é uma invenção da imprensa. Em termos de competição, não é realmente uma equipa confiável.
Desde uma semana antes que Mourinho bombardeava a equipa com slogans destinados a convencer todos os seus jogadores de que a posse de bola não era necessária. Que evitar o jogo complicado no meio-campo era essencial para superar a primeira linha de pressão azulgrená.
Chutem para a frente! repetia.
Para ele, esse pontapé longo em profundidade, mais ou menos expedito, era a solução final. O instrumento definitivo para pôr a nu as carências do adversário, acabando com a sua hegemonia. Assim, antes da final no Mestalla, em Valência, durante as suas numerosas palestras tácticas, tanto colectivas como individuais, foi repetindo a expressão com esse tom místico que emprega nas suas intervenções: A despachar! Pontapé longo!
Mourinho sabia que estava a tentar passar uma mensagem ao arrepio da cultura vigente. Sabia que o seu plano de acção encontraria resistências na maior parte dos seus jogadores, gente orgulhosa, educada em campeonatos onde predomina a velha crença  segundo a qual os grandes jogadores devem procurar ter a iniciativa mediante a posse de bola, porque esta é a chave do êxito. Por isso, logo depois de erguer a Taça do Rei, esforçou-se para lhes recordar a todos que ele tinha razão. Que há outras maneiras de jogar. E que os que se limitam a despachar bolas merecem ser considerados honrados jogadores de futebol.
Os seus jogadores insistem que, tacticamente, Mourinho não lhes ensinou nada de novo. Não é um Sacchi nem um Guardiola, dizem, porque para pôr uma equipa a funcionar com o esférico é preciso tempo e ele prometeu resultados imediatos. Asseguram que é extremamente minucioso na confecção do esquema defensivo, mas que, uma vez recuperada a bola, as suas consignas são algo limitadas contra equipas que se fecham atrás. Mas dão-lhe muito valor, antes de mais pelo seu método muito avançado de preparação física, sempre com a bola, com adaptações às circunstâncias naturais do jogo. Vem logo a seguir a sua intuição para detectar os pontos fracos do adversário e propor soluções fáceis para os aproveitar. Em terceiro lugar, gabam a sua capacidade para convencer as pessoas a empenharem-se nos seus objectivo, a troco de protecção. É neste aspecto que Mourinho usa grande parte da sua energia mental. É a vertente propagandística da sua obra. Para a completar, tem necessidade de exercer  também as funções de director de comunicação "de facto" e de manager. À excepção de Casillas, nenhum jogador do Real Madrid presta declarações sem a sua autorização prévia.
Sabedor de que os futebolistas se tornam bastante mais receptivos quando sabem que quem lhes fala controla as suas carreiras, o técnico acumulou poder. Desde que chegou a Madrid, Mourinho tem vindo a conquistar prerrogativas que até então sempre foram exclusivas dos presidentes. Começou por pedir a renovação do contrato de Pepe. Não foi ouvido. Reclamou a contratação de Hugo Almeida. Foi ignorado. Após o 5/0 em Camp Nou, começou a dar mostras de alguma ansiedade. Em 19 de Dezembro, aquando da ida a Sevilha, provocou uma crise. Antes de denunciar perante a imprensa uma conspiração da arbitragem, com dados escritos na mão -aproveitando a presença de um dirigente do clube no balneário- encenou um perda de auto-controlo perante os jogadores. -Vocês dizem que este é um senhor clube e afinal é uma merda! Estou-me cagando para o senhorio! E agora ide dizer ao presidente! Vou de férias e se querem mudar, aproveitam que eu já não voltarei!
Ofendido, o presidente Florentino Perez encarou a possibilidade de o destituir. No dia seguinte, durante a refeição de Natal, pegou no microfone e mandou-lhe um raspanete em código.
-Há aqui pessoas que se julgam competentes para qualquer empresa. Não se dão conta de que o Real Madrid é a maior delas todas. Nem todos são capazes de a dirigir. A pressão que aqui se sofre não é para toda a gente. Alguns enlouquecem.
Em vez de se acalmar, na primeira reunião privada que teve com o presidente, Mourinho fê-lo sentir a pressão que antes fora invocada: -Nem eu sou o treinador que o senhor esperava, nem o senhor é o presidente que eu julgava.
Temendo vir a completar outra temporada sem títulos e convencido pelas sondagens do prestígio de Mourinho entre os adeptos, que o consideram um ídolo, o presidente acabou por ceder e contratou Adebayor. Logo a seguir, antes do derbi, Mourinho reuniu o plantel e anunciou a sua estratégia: -Não sou hipócrita. No final da temporada, ou sai o Valdano ou saio eu. Nem o posso ver. Se ficar, salvo no marketing  e no básquete, serei eu o principal responsável pela gestão desportiva. São vocês que têm a chave. Se conseguirem um título, eu fico e o Valdano vai-se embora. Se perderem, ele fica e eu vou-me embora. Daqui para a frente vou observar quem está com a equipa e quem não está.
Os líderes do balneário sentiram-se apertados. Numa reunião, um deles até chegou a dizer em voz alta: Joga com a nossa vontade. Transforma-nos em seus cúmplices. Se corremos e conseguimos títulos, dirá ao presidente que estamos com ele e contra Valdano. Se temos um dia mau, passamos a ser seus inimigos.
Após vários anos sem ganhar títulos, convencidos pela necessidade de salvar os contratos e o prestigio, os jogadores, cheios de medo, limitaram-se a cumprir as ordens do treinador. A Taça do Rei, conquistada no Mestalla, em Valência, foi o primeiro troféu no historial de Florentino Perez desde 2003. Significou também o triunfo do treinador a todos os níveis. O poder absoluto para José Mourinho."

Nota final
Dizem os beirões que nunca viram um castanheiro dar nêsperas, mesmo enxertado. Dizem os alentejanos que quem quer bolota -trepa, mas que até há quem goste de pão com ranho. Diziam os latinos "Res non verba" = Actos, não palavras! Saúdo os bons entendedores...

UMA TARDE DE EPISÓDIOS LAMENTÁVEIS



Sucedem-se nesta desgraçada terra as mais variadas situações, que seriam cómicas se não fossem lamentáveis. Esta tarde aconteceu com o trânsito na cidade antiga. Com obras a decorrer ao cimo da Rua da Graça, junto à Mata, o trânsito circulava por uma única faixa, mas circulava. O que não acontecia noutras ruas. A causa dos engarrafamentos situou-se na rotunda. Os trabalhadores encarregados de reparar as mazelas antes ali ocorridas, acharam que o mais prático para eles era encerrar ao trânsito a Ponte Nova. Dado o seu nível de educação, não se podia esperar mais. Como por exemplo intuir as consequências dos seus actos.
Devia ter havido nesta altura, senão mesmo muito antes, instruções normativas provindas de quem de direito -naturalmente o senhor autarca com o pelouro em questão. Devia, mas não houve nada. O trânsito praticamente imobilizou-se em longas filas, na Rua da Graça, na Levada, na Ponte Velha, na Av. Torres Pinheiro e na Rua Direita. Houve então situações de enervamento, com condutores a buzinarem e a praguejar. Vários autocarros de turismo, tanto nacionais como espanhóis, acabaram por chegar ao Convento já após o encerramento, devido à longa espera nas filas de trânsito.
A situação só começou a melhorar quando os guardas de um carro-patrulha da PSP resolveram deslocar-se à Ponte Nova, onde intimaram os trabalhadores (da mesma empresa que tão bom trabalho ali fez anteriormente) a abrirem pelo menos metade das faixas de rodagem. Foram prontamente obedecidos, tendo o trânsito recomeçado a fluir. 
No rescaldo, as perguntas que surgem são pelo menos estas: No fim de contas e perante mais esta lástima, temos  cinco-autarcas-cinco, a tempo inteiro e bem pagos para quê? Só para enfeitar? E não haverá maneira de evitar semelhante vergonha? (Para quem ainda saiba o que isso é...)

PARALELISMOS

Talvez por ter estado uns bons anos fora e lá ter sido formado, há coisas na política portuguesa que nunca mais consegui voltar a entender. Apesar de já ter regressado definitivamente há mais de quatro décadas. Incapacidade minha, portanto. Em todo o caso, bem gostaria que alguém me explicasse a actuação POLÍTICA do PC e do BE, na dramática situação em que o país se encontra, e com ele todos nós. Proclamando-se ambas as formações representantes e defensoras dos trabalhadores e dos pequenos e médios empresários, o que terá levado os respectivos dirigentes a recusarem encontrar-se com os representantes da troika FMI/BCE/UE? Temor de que viessem a ter falta de argumentos?
A situação é tanto mais insólita quanto é certo que Carvalho da Silva, militante comunista e secretário-geral da CGTP, uma central sindical cujas inclinações políticas são por demais conhecidas, não teve qualquer dúvida em responder favoravelmente ao convite que lhe foi formulado por aquela delegação. E não consta que o tenham tratado mal...
Tão pouco consigo entender o posicionamento de Francisco Louçã, líder do Bloco de Esquerda, uma formação mista  trotsquistas/maoistas, com características de facção académica de um partido comunista. Reputado professor catedrático de economia, com obra publicada e tudo, como consegue ele debitar e acreditar que -sendo as coisas aquilo que são- há neste momento uma solução para o país, que não inclua a ajuda externa? Que Jerónimo de Sousa, operário metalúrgico documentado caso a caso pelos quadros do partido, se perca por esse caminho das soluções milagrosas, sem contudo as explicitar, entendo. Quem faz o que pode, a mais não é obrigado. Mas o catedrático de economia Francisco Louçã, com franqueza! Tinha e tem -julgo eu, pobre ignorante, a estrita obrigação ética de não contribuir para baralhar ainda mais os eleitores portugueses, já a braços com uma complexa realidade, que de todo não compreendem.
Outra posição intrigante e cada vez mais patológica é a da relativa maioria autárquica tomarense. Vivemos em democracia e somos europeus. Estamos, por conseguinte, num país livre, que respeita as liberdades fundamentais. Uma dessas liberdades é o direito à informação, na sua dupla vertente de informar e ser informado, de resto consignado na Constituição da República e posteriormente regulamentado. Resulta assim assaz original -para não usar outro termo- que os ditos autarcas tomarenses tenham, pelo menos desde o início deste mandato, um comportamento dúplice. Por um lado, gastam uma pipa de massa com técnicos de comunicação. Por outro lado, sonegam informações requeridas à meses, não respeitando sequer a lei em vigor, nem os pareceres legais já levados o seu conhecimento.
De forma desavergonhada, mandam elaborar e publicar um caríssimo boletim mensal laudatório, mas esquecem-se de comunicar, mesmo à própria oposição, os números reais da situação contabilística actual do município, de forma completa e isenta. Com que intuito? Se já nem o próprio Sócrates -que nessa arte tem créditos firmados- consegue enganar os portugueses como dantes, como querem os laranjas locais continuar a intrujar os tomarenses por omissão?
A única explicação plausível que encontrei para tão estranhas atitudes, tanto a nível nacional como local, é que, embora sem o admitirem publicamente, todos os referidos dirigentes já concluíram estarmos perante uma situação para eles sem remédio, pelo que decidiram passar à política da "terra queimada". Quem vier a seguir, se vier alguém, que se governe. Será? Pelo menos parece. E em política... 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

POR VEZES O ASSÉDIO RESULTA...

Por vezes o assédio resulta, nomeadamente na área política. Provocado por Tomar a dianteira, o vereador Luís Ferreira resolveu actualizar no seu blogue os números antes publicados, referentes às finanças do município. Fica-se assim a saber que, em todos os parâmetros mencionados, o horizonte é cada vez mais sombrio. O prazo médio de pagamento aos fornecedores da autarquia, que em Junho de 2010 era de 103 dias, passou para 122 dias no final de Março 2011. Em tempo de crise, esperar 4 meses para receber, é uma eternidade.
As dívidas a fornecedores vão por aí acima. Eram de 10 milhões 423 mil euros no final de Janeiro, mas já tinham subido para 11 milhões 899 mil euros em Março 2011. Qualquer coisa como um aumento superior a 11% em apenas 90 dias.
Por razões ainda por explicar, nem o vereador socialista nem a autarquia julgaram até agora útil justificar a utilização do hipotético valor global do património do município para mascarar a dívida quase galopante. O rácio Património/Dívida global, que era de 32,9% no final de Janeiro, já vai nos 34%, no final de Março. Mais 1% ao mês, é obra, quando se fala de um património (estimado não se sabe por quem nem quando) na casa dos 110 milhões de euros, uma autêntica quimera, por ser evidente que ninguém no seu juízo aceitará dar um cêntimo que seja por quaisquer bens da autarquia. Por uma razão simples: ou não facultam receitas, ou estas são insuficientes para cobrir as despesas de manutenção.
Resta a questão dolorosa, aquela que é o tutano do problema autárquico actual. Qual o total dos cortes nas transferências para o Município? Qual a percentagem de redução das receitas próprias, desde 2008? Qual o rácio receitas próprias  realmente arrecadadas/dívida total? Qual a afectação das transferências recebidas?
A política do faz de conta, da contabilidade criativa e dos orçamentos empolados, que praticamente permitiam e escamoteavam tudo, mostram agora a sua vertente perversa. Uma vez que a crise vai continuar a agravar-se durante pelo menos mais quatro ou cinco anos, mais tarde ou mais cedo os senhores autarcas da relativa maioria vão ter de abrir finalmente os armários, permitindo que os eleitores venham a perceber então qual é a real dimensão da tragédia tomarense. Provocada por cidadãos obcecados com o estatuto, o penacho, as aparências; mas sem envergadura ética, sem capacidade política, sem vivência e sem bagagem técnica para desempenharem capazmente os lugares a que se candidataram.
Quanto mais tarde arranjarem coragem para dizer a cruel e dolorosa verdade aos tomarenses, pior será para todos -eleitos e eleitores.

OITO FOTOS DE UMA IDA AO CONVENTO...

Ontem peguei na máquina fotográfica, meti-me mentalmente na pele de um turista  a chegar a Tomar e, naturalmente, procurei ir até ao Convento a pé. Foi uma complicação dos diabos. Com a estrada nacional vedada e a Calçada de S. Tiago muito escondida, subi a Calçada dos Cavaleiros. No entroncameto com a estrada nacional, o aspecto é este. Ainda tentei ladear, para ir à Ermida da Conceição, mas depressa concluí que me esquecera das galochas. E eu a pensar que estava a visitar um cidade europeia de um pais da União Europeia...
O panorama do dito acesso à capela é este. Visitas a pé ao de automóvel? Era bom era! Façam o favor de voltar cá, lá para o fim do ano. Ou, em melhor ainda! em 2012. Se entretanto não houver outras obras, o que é pouco provável. Os europeus do norte já começaram a perceber a jogada.
Restava a Calçada dos Cavaleiros, que os autores do projecto das obras em curso resolveram rebaptizar como Calçada de Santo André, vá-se lá saber porquê. Pois se a dita até começa próximo da Fonte de S. Gregório, que virá fazer o André por estas paragens? 
Conforme mostra a fotografia, também aqui há um problema: o caminho está cortado, apesar de não haver qualquer indicação anterior.
Procurando bem, lá acabei por encontrar, do lado esquerdo de quem sobe, um passadiço de estilo vietnamita, como facilmente se deduz, ideal para meninas e senhoras de tacão agulha. Se alguma vier a mergulhar na piscina anexa, onde é que terá de ir pagar o banho?
Na nulticentenária Cerrada dos Cães, agora rebaptizada pelos mesmos projectistas do Santo André como "Terreiro de Gualdim Pais", se o espaço para estacionar já estava reduzido a metade desde a instalação do estaleiro da construtora adjudicatária....
agora acrescentaram mais uns montes de inertes e outros materiais. Dá a ideia que o fundamental é mesmo afastar dali os carros dos turistas. Mas onde é que querem que eles vão aparcar?
Descendo pela Calçada de S. Tiago, deparei-me mais a baixo, junto ao local onde estava antigamente a sirene dos bombeiros, com mais este mini-muro mijatório...
Como diria o diácono remédios: "Não habia nexexidade!!!

domingo, 24 de abril de 2011

ELEITOS, DÍVIDAS E ATITUDES

No próximo sábado -salvo qualquer imprevisto- terei o gosto de conversar, durante cerca de uma hora, com o vereador do PS Luís Ferreira. Poderia portanto guardar o que segue para essa ocasião. Entendo, contudo, que cada coisa no seu sítio. O debate de ideias aqui; a conversa amena no próximo sábado.
É sabido que não tenho o vereador da protecção civil na conta de lorpa. Pelo contrário. Estranho por isso o seu posicionamento em relação à dívida camarária. Como habitualmente, acaba de publicar dados referentes a 31 de Março, o que é louvável. Fica-se assim a saber que a autarquia já deve quase 35 milhões de euros = 7 milhões de contos; está a pagar aos fornecedores a 3 meses e meio, o que é indecente em tempo de grave crise; apenas dispõe de uma folga de menos de 2,5 milhões de euros = 500 mil contos, para novos empréstimos; a dívida global continua a aumentar regularmente e há encargos de monta a honrar. Só para a Bragaparques são 7 milhões de euros, que ninguém vislumbra de onde poderão surgir. Somando-lhe as obras do Convento, da Estrada de Coimbra e da Levada...é só fazer as contas, como disse o outro.
Face a tudo isto, em vez de decidir acabar com a coligação, entregando "a criança" aos progenitores, o vereador socialista dá a ideia de procurar dourar a pílula, considerando que os eleitores são cegos, para não dizer palonços. No seu blogue vamosporaqui.blogspot.com, a concluir os dados supra-enumerados, conclui com esta pérola: a dívida global da autarquia passou num mês de 32,97% para 33,5% do seu património. Sucede que, em termos contabilísticos de POCA, apresentar semelhante rácio é tentar tapar o sol com uma peneira, ou lançar areia para os olhos dos incautos. Na realidade, do propalado património camarário, num total anunciado de 110 milhões de euros (avaliado por quem?), apenas 3 bens poderão vir a interessar ao sector privado: a rede de água, a rede de esgotos e a recolha do lixo. Com uma condição draconiana, que consiste em acabar com os SMAS e com os SHL, herdando a autarquia todos, ou a maior parte dos funcionários, por razões óbvias, que por isso mesmo me dispenso de enunciar, para não ferir ninguém. O resto, sobretudo nas actuais condições de mercado, não vale um chícharo. Pelo contrário!  Há até bens, como o Bairro 1º de Maio,o campo de jogos, a Senhora dos Anjos, Santa Iria ou os pavilhões, por exemplo, que ninguém quer, mesmo de borla. Por conseguinte, tendo em conta outrossim que regra geral só paga com património quem é penhorado, não parece totalmente honesto nem sequer adequado publicar rácios com tanto de insólito como de inútil. Basta pensar no que seria o governo resolver publicar o rácio dívida pública/património do Estado, em vez de dívida pública/PIB. Havia de ser bonito, havia!
O que interessa certamente, tanto aos eleitores como aos credores, é conhecer a evolução das receitas da autarquia, nas suas duas grandes componentes -transferências e receitas directas. Porque é com receitas que se pagam as dívidas. Não com património praticamente inegociável. Mas isso, nem a autarquia nem o eleito socialista publicam. Sabe-se inclusivé que a câmara de Santarém recebeu em 2010 menos 1,4 milhões de euros de transferências, por causa dos PEC, tendo as suas receitas directas baixado 40% em relação a 2009, segundo declarações recentes do presidente Moita Flores. Quanto a Tomar, nicles! Um silêncio de chumbo. O costume. Os eleitores que vão pagando e que se calem!
Qual será a situação real? Em 2010, quanto recebeu a menos a autarquia tomarense, em termos de transferências? As receitas directas totais atingiram que montante? Quanto estava orçamentado? Qual a percentagem de redução em relação ao ano anterior? Com as despesas a aumentar, as receitas a descer drasticamente e praticamente sem acesso  ao crédito bancário, que de resto também não há, devido à crise, como tenciona a relativa maioria vir a honrar a assinatura do Município? Tencionam vir a declarar a insolvência? Se afirmativo, quando?
Já lá vai o tempo em que era possível ocupar os lugares sem desempenhar de forma cabal as inerentes funções, contando com a aquiescência do eleitorado, vítima da sua ignorância e da parca informação que havia. As coisas mudaram. Agora há que escolher. Ou coisam ou saem de cima quanto antes. Para não vos vir a acontecer algo parecido com aquilo que amanhã se comemora... 
Conforme demonstra a História, alapar-se aos lugares nunca foi boa política.

Á MESA DO CAFÉ - 16

Foto Rádio Hertz

Antropólogos, politólogos e outros especialistas do comportamento dos grupos humanos (ia a escrever dos rebanhos humanos, mas corria o risco de ser mal interpretado), costumam destacar em cada comunidade as criaturas alfa, de todas as outras. Na verdade, o axioma é "machos alfa", o que na circunstância me pareceu perigoso, despropositado e pouco educado, tratando-se de uma jovem senhora numa sociedade entranhadamente machista, porque em muitos aspectos estática e até retrógrada. Tudo isto para chegar ao tutano do assunto: A 16ª emissão do programa conjunto Rádio Hertz/Tomar a dianteira, À mesa do café, revelou, julgo eu, uma criatura medularmente tomarense, ribatejana e alfa. Refiro-me a Graça Costa, ex-militante PSD, agora vereadora eleita na lista dos IpT.
Documentada, bem informada e a demonstrar boa formação universitária, (tendo sido aluna de MEC, uma das "cabeçorras" deste país), foi sem qualquer dificuldade que expôs as suas ideias e decisões, elencando de forma aliciante e consensual as conhecidas mazelas tomarenses. Sobre a sua desvinculação do PSD, negou tê-lo feito por não lhe ter sido atribuído um "tacho", ou por ânsia de protagonismo. Agiu assim por se sentir a mais entre os laranjas, revelando ter sido penoso intervir nas sessões partidárias, sabendo de antemão e constatando na ocasião que apenas a fingiam ouvir por delicadeza e por condescendência.
Referiu também ter ponderado bastante antes de aceitar o convite para integrar a lista dos independentes a cujo grupo, disse a dado passo, não se sente ligada por laços indestrutíveis. Os termos foram outros, mas a ideia pareceu-me essa.
Sobre a apagada e vil tristeza tomarense, atribuiu-a sem qualquer hesitação a toda uma série de erros e más vontades, em geral resultantes do nosso cada vez maior alheamento do mundo exterior. O conhecido e lamentável autismo nabantino. No seu entendimento, uma das formas susceptíveis de alterar as coisas para melhor, seria um diálogo profundo e fraterno entre todas as forças políticas locais, sem  apriorismos, mas com um roteiro detalhado. Converge assim com o líder local do PS, Hugo Cristóvão, outra criatura alfa e tomarense, a quem também auguro um grande futuro na política local, se para tanto souber revelar ousadia, uma vez que "audaces fortuna juvat". Ou com o programa "Praça Pública", da Rádio Cidade de Tomar, cuja ideia fundadora parece ter sido a de implementar um diálogo interpartidário local. Infelizmente, a julgar pelas transcrições que tenho lido, e sem nunca o ter ouvido, por estar à mesma hora em directo na Rádio Hertz, infelizmente, dizia, parece ser mais uma série de monólogos, do tipo partir pedra ou serrar presunto, julgo que por falta de adequado roteiro previamente aceite pelos intervenientes.
Foi também sem surpresa e com satisfação que constatei a sintonia de Graça Costa com muito daquilo que aqui venho escrevendo, designadamente no que concerne a resultados eleitorais. A promissora autarca concordou que, sendo o eleitorado concelhio maioritariamente social-democrata, o PSD pode cometer todos os erros e mais alguns que estará sempre condenado a vencer (com ou sem maioria absoluta) enquanto subsistir a candidatura separada dos IpT e do PS, ambos com inoportunos e prejudiciais  ódios pessoais  e  à conquista dos mesmos eleitores. Bem dizia o Variações: "Quando a cabeça não tem juízo..." Só que neste caso o corpo é todo o concelho de Tomar que, como bem mencionou Graça Costa, já foi grande. Ainda poderá voltar a ser? Depende de todos nós. O primeiro passo parece-me consistir em abandonar a basófia, o faz de conta, a subserviência, a hipocrisia, o conformismo a auto-suficência, a postura altaneira. Vasta tarefa! Mas a Graça pareceu-me no bom caminho, com a sua franqueza corajosa e singela.

sábado, 23 de abril de 2011

A CONFRANGEDORA DESGRAÇA DO COSTUME...



Estes dois excertos foram copiados do suplemento FUGAS do PÚBLICO de hoje. Neles podemos constatar como as coisas vão de mal a pior neste país. Em dois sectores diferentes - na imprensa de referência e nas autarquias. . Comecemos por aquela. Sendo correcto e extremamente útil escrever sobre a "Rota das Judiarias", falta-lhe o neste caso modificador (ou adjectivo) essencial: portuguesas. Porque é disso que se trata afinal. E também há judiarias em Espanha, por sinal até mais importantes e monumentais do que as nossas. Vem a seguir o estranho título "À procura de Sefarad em Portugal", logo seguido de "rota sefarad".
Tudo isto denota iliteracia, incultura, impreparação, incompetência. Bem sabem os leitores o que é "Sefarad"! 
E o o texto, de resto bem escrito, também não explica. O leitor sabe do que trata? Não, pois não? Então tome nota que Sefarad, para judeus = Al Andalus, para maometanos. Razão porque todos os judeus peninsulares, que no reinado de D. Manuel foram forçados a converter-se ao catolicismo ou abandonar Portugal -muitos já antes expulsos de Espanha- espalhando-se até Antuérpia, Amsterdam, Berlim, Bordéus ou Esmirna, são ainda hoje designados por sefarditas ou sefardim, mesmo em Israel, que partilham com os judeus do oriente europeu, os asquenazes ou asquenazim.. Por conseguinte, caso não fôssemos basicamente um país de incompetentes, inchados pela basófia, a designação adequada para a citada rota seria "Rota Sefardita Portuguesa". Porque tivemos muitos e infelizes compatriotas sefardim, sem todavia jamais termos integrado o Al Andalus, a Andaluzia. Temos o Al Garb e já não é mau.
Passando às autarquias e respectivos dirigentes, o texto do jornalista António Marujo, embora em linguagem algo perifrástica, não é mesmo nada meigo para Corvêlo de Sousa e seguidores: "Obras de recuperação já pensadas tardam em começar e o aspecto [da sinagoga] não é o mais cuidado. Luís Vasco, 73 anos, guardião do edifício desde há 27 anos, tem pena que ninguém vele melhor por esta memória da presença judaica em Portugal. ... ...Não fosse o zelo de Luís Vasco e da mais recente Associação dos Amigos da Sinagoga de Tomar, e o museu estaria hoje ainda em piores condições."
Convenhamos que, como cartão de visita, numa reportagem de índole turística, não é mesmo nada abonatório. E o jornalista até poderia ter acrescentado "Isto numa autarquia que desde há anos esbanja milhões em obras despropositadas e descontextualizadas, mas parece não ter umas míseras centenas de euros para mandar rebocar as paredes da Sinagoga, que é propriedade camarária". Só lhe ficaria bem, ao jornalista, não fora o caso de habitarmos num país em que a maior parte dos habitantes tem uma costela galega: Adoram estar ao mesmo tempo de bem com Deus e com o diabo, como bem denota o anexim galego "Deus é bom e misericordioso, mas o diabo também não é mau."
Uma vez que os senhores autarcas nabantinos insistem na quimera da má-língua, como argumento para tentar refutar as críticas cada vez mais numerosas de que são alvo, um pouco à maneira socratina, aproveito mais este triste episódio relacionado com a sinagoga para "despejar o saco". Na verdade, no que me toca, não se trata tanto de má-língua, mas sobretudo de sinceridade e frontalidade. Sabedor de que a maior parte da população está inibida de dizer o que pensa, sob pena de poder vir a sofrer represálias, chamei a mim essa ingrata tarefa de cidadania, uma vez que os alvejados terão alguma dificuldade em retaliar.
Para obstar a que subsista qualquer dúvida sobre o que penso dos actuais membros do executivo, assumo que, na minha opinião e em termos políticos, à excepção de Graça Costa e, em certa medida, de Luís Ferreira, nenhum dos outros tem envergadura, capacidade, competência ou sequer ideias para poder desempenhar as funções que exerce. Não sabem nem estão já em idade de aprender. Para isso seria necessário que alguém lhes tivesse ensinado a aprender, o que não aconteceu, devido ao modelo "sebenteiro" usado em Portugal. Agora, epistemologicamente, é demasiado tarde. Há coisas que nunca mudam!
António Paiva tinha carisma, capacidade de liderança, competência técnica, uma formação universitária diferente e algumas ideias, ainda que erradas. Por isso conseguiu, num primeiro tempo, "endireitar" uma "máquina" que bem precisava, conduzir alguns a "calçar os patins" e obter chorudos fundos europeus. Depois foi vítima do deslumbramento, da notória ausência de uma oposição capaz e do facto de -sobretudo por estas bandas- o exercício do poder ser um poderoso afrodisíaco, dando origem às desgraças que todos conhecemos.
Ao contrário de Paiva, os actuais edis, salvo as excepções citadas, não mostram qualquer um dos referidos predicados. É certo que também não "metem a mão na gaveta". Todavia, como aqui há semanas referiu um dos fundadores do PPD local, agora PSD, "ser desonesto não é só meter a mão na gaveta. Ocupar um lugar que não se consegue desempenhar minimamente, por evidente falta de qualidades, é uma desonestidade e uma intrujice." Aqui fica escrito, para memória futura. Para quando, eventualmente, uma outra maioria possa ter a coragem de tirar os esqueletos dos armários. Já tarda!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

GRAFITEIROS EM ACÇÃO

Os grafiteiros, essa praga do mundo moderno, de que tanto se queixam os proprietários de imóveis, também já vão atacando em Tomar. Por um lado, é lamentável e dá mau aspecto à cidade, além de acarretar despesa para os senhorios e/ou para os contribuintes. Por outro lado, porém, permite aos seus autores desabafar e aos cidadãos em geral constatar quais os problemas que preocupam os mais jovens.

Neste caso, por exemplo, quem desenhou e pintou se calhar não se dá conta de que também está a ser manipulado pela ideologia dominante.

Afinal em que ficamos? A poesia vende-se? Ou está na rua? A ser este o caso, onde pode ser lida, ouvida ou constatada?

Está bem visto! Mas era capaz de ser bem mais útil, pelo menos num primeiro tempo, atribuir um diploma de cidadão a cada engenheiro. Naturalmente após um bom curso de formação cívica, finalizado com uma avaliação exigente. Evitar-se-iam assim muitas desgraças de toda a ordem por esse país fora. Nunca é tarde para arrepiar caminho!
Não havia necessidade! Para quê nesta altura uma desratização do edifício dos Paços do Concelho? Agora que o queijo começa a escassear, os passeios comezaina+tintol+bailarico deram o berro  e só há sopas uma vez por ano, os ratos do costume já estavam de abalada.
Mais uma despesa despropositada da autarquia. Irra, que não acertam uma!

PROGRAMA DE RÁDIO "À MESA DO CAFÉ"


Como acontece cada sábado, amanhã entre as 11 e o meio-dia vai para o ar mais um programa "À mesa do café", uma iniciativa conjunta Rádio hertz/Tomar a dianteira. Desta vez a convidada é a vereadora IpT Graça Costa e a conversa terá lugar no Café da Avozinha. Situação social, com destaque para o desemprego, política autárquica, o momento político na cidade e no País, eis alguns dos temas a abordar com a autarca independente.

A VERDADE SOBRE AS INTENÇÕES DA TROIKA

Foto Hamilton/REA/Le Monde

Quase todos culturalmente desligados do mundo europeu, os jornalistas e repórteres lisboetas simulam esfalfar-se na busca incessante de novidades, oriundas dos peritos estrangeiros que doravante vão governar o país de facto. É triste e lamentável ver na TV aquela maralha toda, assediando os recém-chegados representantes dos nossos credores, quando é óbvio que estes nada lhes dirão. Nem eles nem os seus chefes. Pelo menos até 6 de Junho. Por razões óbvias. O ataque à nossa crónica crise não é um daqueles derbys do futebol, com abundantes comentários antes e depois. Os jornalistas é que, vivendo numa sociedade onde o futebol até "abre" telejornais, estão lamentavelmente convencidos disso. Sem se darem conta.
Quem não anda neste mundo por ver andar os outros, sabe que a citada troika é liderada pelo FMI, tal como este é governado por DSK - Dominique Strauss-Kahn, militante e dirigente socialista francês, enarca, presidente de câmara, deputado e ex-ministro da economia e finanças, virtual candidato vencedor das presidenciais francesas, (caso se apresente), de acordo com a sondagens, naturalmente com os mandatos suspensos, em virtude das funções supranacionais para as quais foi escolhido. Tal como é sabido que, para as questões sensíveis, o usual porta-voz do FMI/DSK é o seu amigo de longa data, companheiro nos bancos da ENA - a elitista Escola Nacional de Administração, que forma a fina-flor da alta administração gaulesa- e seu camarada no PS francês, Olivier Blanchard, agora economista-chefe do FMI.
Puro produto da alta meritocracia francesa, republicano convicto e devotado servidor da causa pública, Blanchard conhece bem todos os códigos de conduta e todos os matizes da comunicação. A informação parisiense refere amiúde que sabe usar a litota -aquilo a que por aqui se designa por subentendido, ou linguagem perifrástica. E qual é, neste momento, a posição do FMI em relação a Portugal e à crise em geral, através das palavras do seu credenciado economista-chefe?
Bom estratega e excelente diplomata, respondeu à primeira questão de uma recente entrevista respeitando escrupulosamente a arte da guerra. Antes de qualquer ofensiva da infantaria, blindada ou não, é crucial um uso intenso da artilharia pesada: "Temos razões de inquietação em relação aos Estados-Unidos, por não disporem de um plano credível, a médio prazo, para reduzir os défices orçamentais. O debate entre os dois grandes partidos, que terminou a 8 de Abril, com a adopção de um plano de austeridade de 39 mil milhões de dólares (27 mil milhões de euros) é insuficiente." Colocado assim no seu lugar o santuário do capitalismo mundial, onde de resto começou a crise, passou então à Europa e aos "países periféricos".  Modo subliminar de transmitir aos respectivos dirigentes que, se até os ultra-poderosos Estados-Unidos levam puxões de orelhas, é evitado continuarem a armar ao pingarelho. Farão o que lhes for imposto. E negociações, só para a fotografia! 
Se Sócrates não fosse, enquanto primeiro-ministro e secretário-geral do PS, um autista cego e surdo, Portugal pouparia muito tempo e evitaria muitas desgraças, que a obstinação nunca deu bons resultados.
"Os países europeus da periferia não vão conseguir salvar-se unicamente com sacrifícios orçamentais. Uma vez que não podem desvalorizar, por integrarem a moeda única -o euro- vão ser forçados a aumentar a produtividade, a baixar os salários, ou ambas as coisas.
O que supõe reformas estruturais, sobretudo no mercado laboral. Há que acabar com os contratos a prazo e os vitalícios. O que supõe também reformas no mercado dos bens, pois muitos sectores protegidos têm uma muito fraca produtividade. Em Portugal, por exemplo, o sector imobiliário é de uma grande ineficácia, dada a ausência de economias de escala, porque o excesso de regulamentação impede a constituição de um parque homogéneo.
O efeito destas reformas levará o seu tempo a fazer-se sentir. Antes que se vejam os respectivos resultados, os países em causa vão continuar a ter muitas dificuldades para se financiar nos mercados. Em qualquer caso, é absolutamente necessário que, tal como no resto da Europa, que se arrasta a 1,5% de crescimento e é forçada a efectuar reformas dolorosas, os países periféricos compreendam que os seus esforços terão ser prosseguidos durante muitos anos."
Mais claro do que isto é difícil. Nada a negociar. Sabemos muito bem o que devem fazer. Vamos obrigar-vos a fazer, sem vos pedir opinião. Vai ser doloroso, angustiante e muito longo. Tem de se acabar com a actual regulamentação do mercado do trabalho. Suprimir os contratos colectivos de trabalho. Liberalizar as actividades e as profissões agora legislativamente enquadradas. Desbloquear as rendas, os contratos de arrendamento e os despejos. Reduzir salários. (Anulando o 13º e o 14º mês, reduz-se entre 16 e 17% o rendimento anual) Aumentar o horário de trabalho. Reduzir drasticamente a função pública.
Vasto programa! Mas que só será tornado público a totalidade, bem entendido, após as eleições de 5 de Junho. Caso haja coragem política para tanto, por parte dos vencedores da consulta eleitoral. Depois será apenas questão de definir a respectiva calendarização. Quem cuidava poder continuar a viver à custa do orçamento de estado, bem pode ir arranjando outra mentalidade. Mais adequada aos novos tempos. Caso contrário vai ter problemas sérios! Não é verdade, senhores autarcas nabantinos?

(A entrevista de Olivier Blanchard, da qual foram copiadas a citações a azul, pode ser lida na íntegra em lemonde.fr, por quem saiba francês)

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA




Esta semana, papinho cheio em termos de curiosidades na imprensa da região. Deve ser por causa da Páscoa e respectivas amêndoas. No RIBATEJO, nada sobre Tomar, para não variar, mas dois casos curiosos. Na página 5, um depoiamento de Francisco Moita Flores, presidente da câmara escalabitana, sobre a actual crise, conforme ilustração supra, logo seguido de outro do padre Aníbal Vieira, também identificado como presidente da câmara santarena.  Dá vontade de exclamar "Com dois presidentes, um dos quais mais próximo de Deus, e mesmo assim estão a braços com um défice de 85 milhões de euros! Isto é que vai uma crise!"
Outro destaque no mesmo semanário é a carta de despedida do ministro Jorge Lacão aos ribatejanos. Após mais de 30 anos a liderar de facto os socialistas do distrito, o ainda presidente da Assembleia Municipal de Abrantes acabou por ser vitima do seu próprio veneno, confirmando o velho anexim "Quem com ferros mata, com ferros morre". Após ter driblado inúmeros militantes locais ao longo dos anos, alguns dos quais preferiram abandonar o PS, Lacão acaba de ser escorraçado da lista de deputados por Santarém. E diz na sua carta que sempre foi partidário de uma reforma "no sentido da maior personalização e responsabilização dos mandatos, numa relação de maior proximidade entre eleitos e eleitores." Poderá ser verdade. Porém, tudo aponta em sentido contrário. Quando alguém durante uma negociação aceita livremente que o candidato de Tomar vá em 4º lugar, para depois o colocar em 9º, obviamente que está a tentar transformar os militantes dedicados das secções em simples capachos das instâncias ditas superiores. Num partido com a sigla PS é uma vergonha. Que ninguém pratique o mal, à espera que lhe façam bem! Como agora se vê...




Dois temas importantes n'O MIRANTE: uma referência elogiosa a Corvêlo de Sousa (ver ilustração sublinhada a vermelho) e a carta de um leitor. Sobre a encomiástica opinião àcerca do autarca tomarense, JAE tem toda a razão. O presidente nabantino pode dizer-se que é exactamente o oposto daquele político brasileiro do século passado, que proclamava "Eu roubo mas faço!", durante a campanha eleitoral. De Corvêlo dir-se-á que "Não rouba mas também não faz, excepto obras despropositadas." Herança do mandato anterior? Será concerteza. No entanto, convém considerar ninguém é obrigado a aceitar heranças na vida comum, quanto mais agora na política!
"Os assuntos de Tomar têm de ser tratados por "especialistas", diz o leitor tomarense Luís Ribeiro, que elenca uma série de disparates na gestão camarária nabantina, desmentido assim a velha desculpa de que os críticos abusam da má-língua. Também aqui convém citar um provérbio bem conhecido: "O mau dançarino diz sempre que o chão é torto." "Um compromisso de honra com o seu povo"? No caso de Tomar, estamos perante um novo estilo de ironia?



Uma notícia ultrapassada e outra incompleta, no CIDADE DE TOMAR desta semana. Aquela refere-se à dívida da autarquia. O título devia ser "Dívida ascendia...", uma vez que o montante de 32,7 milhões se refere a 31 de Dezembro passado. Entretanto, de acordo com declarações do vereador Luís Ferreira, na Rádio Hertz, o total do défice é agora de 35 milhões de euros, aumentando em média cerca de 800 mil euros por mês. Onde é que isto vai parar? Boa pergunta! Onde é que tencionam conseguir verbas para liquidar a dívida? Pergunta melhor ainda, à qual ninguém sabe responder.
No caso da outra notícia, o "press release" que transcreve já está ultrapassado. Num mail chegado a Tomar a dianteira, a organização camarária diz aguardar 6 mil visitantes. O que se compreende. De acordo com os preços praticados o ano passado, 6.000 x 8 = 48 mil euros de receita. Despesa: sopas 70x200 = 14 mil euros; adereços 5 mil euros; promoção 12 mil euros; mão de obra e transportes = 3 mil euros; donativo ao CIRE 5 mil euros. Total da despesa 39 mil euros. Lucro estimado para 6 mil visitantes = 9 mil euros. Há apenas dois óbices: 1 - Como conseguir atrair em tempo de crise 6 mil mastigantes? Se fosse à borla... 2 - Como acomodar, mesmo em pé, 6 mil pessoas em menos de 2 mil metros quadrados de área útil?
Palavreado é barato!



O amigo licenciado José Gaio esta semana conseguiu assustar-me. O título "Domingo há coroas..." acima reproduzido,  provocou-me engulhos, uma vez que nunca tal ouvira constar desde 1950. Incomodado, fui perguntar a um membro da comissão central da festa, que me sossegou. Com ou sem chuva, haverá desfile das coroas, como manda a tradição. Eventualmente com uma ou outra interrupção durante o percurso, caso as bátegas sejam mesmo fortes.
Quanto à outra notícia, mais palavras para quê? A senhora Isabel Bastinho é categórica -avistou um crocodilo na albufeira do Castelo do Bode, e não um exemplar qualquer. Decerto o pai de todos os sáurios da albufeira e do país, dado que ela diz ter o animal "dois metros" Um aligator americano, por conseguinte. Só nos faltava mais esta. Já tínhamos os pássaros de bisnau e as aves de rapina, cada um com a sua gamela; pelos vistos faltava-nos uma fera...