domingo, 31 de outubro de 2010

RECICLAGEM DE POLÍTICOS

Nota prévia: O texto seguinte é um pasticho ou, para se entender melhor, uma deliberada imitação da carta aberta do Comendador Marques de Correia, na Revista Única - Expresso, de 30/10/10, com a devida vénia e os nossos agradecimentos. Os nomes foram todos alterados e são da exclusiva responsabilidade de Tomar a dianteira.

O que consta aí por todos os lados é que estes políticos não prestam, não valem nada. Que é preciso mudá-los quanto antes. Pois bem, não há nada contra, desde que cada um dos eleitores tenha a noção da primeira lei de Lavoisier -na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Por isso, temos o dever cívico de tudo reciclar, de forma a nada perder e tudo transformar, mesmo o que parece já não ter préstimo, noutros objectos com valor para a nossas vidas. Longe vão os tempos do desperdício, em que nos podíamos dar ao luxo de maltratar o planeta em que vivemos. Agora sabemos que tudo deve ser separado e reciclado, antes de deitarmos para o lixo -ou, se preferirem, para reciclagem. Só os autarcas nabantinos é que ainda tiveram este ano a coragem de organizar e pagar um passeio-comezaina-tintol para centenas de eleitores séniores, transportado em 17 autocarros...no Dia Europeu sem Carros. Era preciso ter lata, e tiveram-na.
Após esta espécie de longo parêntesis, volvemos ao princípio da narrativa. O que consta por aí é que estes políticos não prestam, que têm de ser reciclados. E nós respondemos: pois bem, mas em que ecoponto deitaremos cada um? Pois é essa a questão que hoje vamos, convosco, tentar resolver.
Comecemos pelos mais antigos, as chamadas tartarugas política locais: Miguel Relvas, Pedro Marques e Carlos Carrão.  Já frequentam os Paços do Concelho há tantos anos que se calhar o melhor seria podermos continuar a beneficir da sua reconhecida experiência. Mas se entendem que é melhor reciclá-los, deixem-nos dizer-vos que são claramente seres macrocelulares e orgânicos. Parece-nos, igualmente, que têm qualquer coisa de polimérico (de homérico, de certeza que não) e de sintético. O que faz deles plásticos. E, sendo plásticos,  estão claramente destinados ao ecoponto amarelo. Portanto, não se esqueçam, por favor - Miguel Relvas, Carlos Carrão e Pedro Marques, contentor amarelo. Se assim o entenderem, já se vê.
Corvêlo, Rosário, Vitorino e Graça Costa, já foram reciclados pelo menos uma vez. Uns da esquerda para a direita, outros no sentido inverso. Apesar disso, ainda têm alguma utilidade. Por exemplo para garantir a maioria ao PSD, ou para fingir que há oposição. No entanto, se a vossa intenção é substituí-los por alguém que tenha mais mundo e seja susceptível de inaugurar outra política mais promissora, não devem ter qualquer dúvida sobre o local onde colocá-los. Concordarão decerto que cada um deles tem uma capa externa, que protege o respectivo miolo. Mas por detrás do miolo, como se tem visto, há ainda uma capa interna, que é aquilo que os protege de serem desmiolados. Por conseguinte, perante tal quadro, não há qualquer dúvida científica de que estes nossos queridos autarcas são cartão e, caso devam ser deitados fora, o seu destino é  o recipiente azul. Agora vejam se não se enganam. Relvas, Carrão e Marques no amarelo; Corvêlo, Rosário, Vitorino e Graça no azul!
Resta saber o que fazer a Luís Ferreira. À primeira vista, ainda tem bastante energia para continuar a funcionar, ainda que mal, por mais uns tempos (tal como acontece com o seu secretário-geral). É essa energia, aliás, que deveremos ter em conta, no caso de nos querermos ver livres dele e reciclá-lo. Do ponto de vista analítico-científico, não restam dúvidas de que se trata de um gerador de reacções espontâneas, quer o consideremos como galvânico, ou como voltaico. Não temos a certeza, apesar do já conhecido, que Ferreira seja do tipo primário (não recarregável), ou secundário (recarregável), mas parece-nos que, caso não sejam tomadas as devidas precauções e venha a ser descartado sem os devidos cuidados, se poderá tornar bastante pernicioso para o ambiente. Eis porque, caso queiram deitar fora o vereador das farturas, o devem fazer, com todos os devidos cuidados, num pilhão devidamente autorizado pela ASAE.
E aqui tendes, para jamais vos esquecerdes: Relvas, Carrão e Marques no amarelo; Corvêlo, Rosário, Vitorino e Graça no azul; e Ferreira no pilhão, porque nunca fiando. Perguntais: e os outros?  Os outros é onde quiserdes. Não têm reciclagem possível.

     Comendador Malaquias Cachorro, Conde de Bota Abaixo

TRAVAUX PUBLICS ORANGE À LA MODE DE TOMAR

Os amáveis leitores desculparão o  título em francês. São influências da "nouvelle cuisine", que isto ainda não há como ir às origens. Traduzindo para uma língua não obstante ainda parecida com a que usaram Camões e António Vieira, embora por vezes não pareça, temos "Obras públicas laranja à moda de Tomar" (como decerto já tinham percebido). O que significa obras públicas caríssimas, de utilidade duvidosa ou nula, de execução demasiado longa, em geral mal feitas e/ou mal acabadas.
Guiados pelo texto supra, assinado pelo legalmente primeiro de todos nós até 2013, se assim o entender, lá fomos, ontem à tardinha, como se fora a primeira vez.
Desilusão! Primeira cavadela, primeira minhoca! Como não houve aquilo a que se pode chamar uma tromba de água, nem coisa parecida, logo à entrada saltou-nos à vista que o sistema de escoamento está longe de ser eficaz, ou sequer adequado. À mínima chuvada a água salta para o pavimento, que o mais tardar no fim do inverno estará ainda menos praticável do que antes das obras ditas de requalificação. Basta olhar para a fotografia com atenção. Ou, melhor ainda, deslocar-se ao local.
Aqui um exemplo entre tantos daquilo que se acabou de escrever. Esta valeta não tem qualquer escoamento, a não ser para o terreno junto às mesas e bancos de madeira, agora ali instalados, que por este andar vão chegar ao Verão com os pés podres.
Para amenizar um pouco. Quando por ali passámos, um casal de meia idade, certamente vindos de outras paragens, pois não os reconhecemos, olhavam com atenção para esta miniatura de moai, que vemos no primeiro plano, enquanto a senhora tacteava na parte de cima. -É um candeeiro, minha senhora. O dispositivo de iluminação está virado para baixo... -Muito obrigada. Julgávamos que era um marco para pedir socorro, como aqueles das auto- estradas. Continuámos o nosso caminho. Cinquenta metros andados olhámos para trás, buscando enquadramento para mais uma foto. Estava a senhora de cócoras, a ver se confirmava que era um poste de iluminação... Desconfiados, estes portugueses, que a vida não está para brincadeiras.
Aqui temos a piscina, que à mínima chuvada se forma no terreiro de acesso à Torre da Condessa, cujo portão  dando passagem para o castelo continua fechado, pelo que o caminho agora requalificado, afinal não leva a lada nenhum. Por enquanto?
Mais acima, um dos esgotos do convento, por acaso o que serviu de  argumento para toda a obra, uma vez que corria para a mata ao ar livre. Afinal, concluída a requalificação continua na mesma. A secção do colector agora instalado demonstra não ser suficiente para absorver os efluentes. Bastou uma pequena chuvada para deitar fora e alagar a tosca obra.

Outro exemplo de obras mal feitas. A água da valeta deixou de correr por onde devia, porque a passagem depressa ficou entupida com a areia do pavimento.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado. E neste caso até é em simultâneo surpreendente e decepcionante. No caso das obras da rotunda, já deu para perceber que aquele empreiteiro não tem pessoal com experiência à altura daquela obra, que por isso não deve estar acabada antes do fim do ano. E sem ponta de qualidade. Mas aqui na Mata havia quem esperasse mais. É que a empresa adjudicatária, a  AQUINO S.A. até dispõe nos seus qudros de pelo menos um engenheiro muito competente -António Paiva, ex-presidente da câmara de Tomar, com maiorias absolutas, autor da ideia que esteve na origem do projecto. Mas se calhar esteve e está-se nas tintas, para não dizer outra coisa.
E assim vamos tendo, um pouco por todo o lado nesta terra, o mesmo tipo de obras. Mal enjorcadas e mal acabadas. O empreiteiro apenas está interessado nos lucros e está-se cagando para o resto. Os trabalhadores querem é o ordenado, e estão-se cagando para o resto. A fiscalização quer é dias passados, e está-se cagando para o resto. Os autarcas, enfim, querem é as remunerações e vantagens principais e acessórias, e estão-se cagando para o resto. Quanto aos cidadãos, querem é paz e descanso, e estão-se cagando para o resto.
Com todos a cagarem-se para o resto, depois ainda se admiram de estarmos atascados em merda? Estavam à espera de quê? Então não vêem que, mesmo nas obras modestas, como esta da Mata, os colectores são demasido pequenos?

sábado, 30 de outubro de 2010

MUNICÍPIOS RICOS E MUNICÍPIOS POBRES


Esta local, copiada do Correio da Manhã de ontem, com os nossos agradecimentos, notícia um curioso acontecimento. A câmara de Silves (30 mil eleitores, 7 membros no executivo -3 PSD, 3 PS, 1 CDU) deliberou pagar só 25 almoços às personalidades, entre as quais o ministro da administração interna, aquando da inauguração do novo quartel da GNR. Os soldados e graduados da corporação foram forçados a pagar 2,80 euros por cada lanche, comido no quartel pela mesma ocasião.
Admitindo que cada almoço tenha custado 40 euros no máximo, a despesa da autarquia ficou-se pelos mil euros. Caso tivesse convidado igualmente os soldados, sargentos e oficiais daquela força, teria pago no máximo mais dois mil euros, por 50 almoços. O que significa que a autarquia pretendeu poupar tal soma.

Trezentos quilómetros mais a norte, mas no mesmo país, uma autarquia de 38 mil eleitores e um executivo municipal de 7 membros (3 PSD coligados com 2 PS + 2 IpT), resolveu enviar a uma feira a Vigo (Galiza - Espanha), uma representação de cerca de 50 pessoas em dois veículos, mais um pavilhão que terá custado cerca de 20 mil euros, segundo consta e ainda não foi desmentido pela autarquia. Tudo numa acção de promoção da festa dos tabuleiros 2011.
Temos portanto que, no Algarve, um município PSD procura poupar quanto pode, enquanto no centro do país, outra autarquia PSD esbanja dinheiro em actividades de retorno praticamente nulo. Com uma agravante assaz caricata: A delegação tomarenses inclui gaiteiros e tamborileiros, certamente porque ninguém se lembrou que a origem das gaitas de foles, e por conseguinte dos gaiteiros é exactamente a Galiza, cuja população descende dos celtas, os inventores da coisa. De forma que, se um dia aqui recebermos uma delegação galega com tabuleiros à cabeça, não se admirem. Amor com amor se paga!
Embora os nossos reis sempre tenham usado o título "de Portugal e dos Algarves", era suposto que a república tivesse acabado com tal divisão. Puro engano. A norte do Tejo, nas margens do Nabão, gastam-se mais de 20 mil euros sem qualquer problema. Na província mais a sul, para poupar 2 mil euros no máximo, membros da GNR foram forçados a pagar o próprio lanche, em dia de festa de inauguração. A diferença que faz habitar num município rico, ou num pobre! Enquanto no município rico as taxas e outras alcavalas não são nada para brincadeiras, no município pobre, em Silves, espera-se que sejam mais meigos para com os cidadãos. Até porque cobram e arrecadam o produto das entradas no castelo. Em Tomar, como é sabido, os 6 euros de cada entrada no Convnto vão direitinhos para a conta do IGESPAR - Lisboa.
Mas pronto! Tudo isto não passa de mero desabafo, pois o futuro dos tomarenses será bem mais risonho, segundo se deduz do editorial assinado por Corvêlo de Sousa, na edição de Novembro do Boletim Informativo Municipal. Oxalá!

RESULTADOS DA NOSSA SONDAGEM


Antes da análise dos resultados, a experiência entretanto adquirida torna necessário e indispensável um curto esclarecimento. As sondagens valem o que valem. Tudo depende da pertinência da amostragem, da formulação das questões e da competência dos analistas. No caso da blogosfera, sendo certo que cada conta só pode votar uma vez, não há qualquer amostra seleccionada previamente, e nada impede a acção militante junto de amigos e conhecidos, no sentido de clicarem no item pretendido. Dentro destas condicionantes, também não faz sentido ser contra o termo sondagem, preferindo o de inquérito, uma vez que são sinónimos, podendo-se até adicionar-lhes, aos sinónimos,  pesquisa, investigação, inquirição, indagação...
A nossa mais recente sondagem conseguiu 227 votos, mais 10 em relação àquela em que se perguntava se preferiam mudanças na autarquia, ou eleições autárquicas atecipadas. Dado que em geral, aquando de cada consulta eleitoral, se constatam cerca de 50% de abstenções, esta nossa consulta está em conformidade com a estatística da google, que nos credita entre 500 e 600 visitantes regulares por dia (24 horas).
Parabéns ao Bloco de Esquerda, ao PSD e, sobretudo, à CDU, que conseguiram mobilizar os seus militantes e/ou simpatizantes. A CDU poude assim demonstrar mais uma vez que para militância e mobilização popular, não há como eles, graças à longa e profícua experiência do PCP. Mas nada de ilusões. Os 23% obtidos significam apenas o acabado de referir, não prenunciando, no nosso entender, qualquer subida eleitoral em futuras consultas locais. E daí, nunca se sabe!
Nota positiva também para o PSD, que, causticado por vários mandatos bastante criticados, consegue apesar disso e do actual clima de descrença, um resultado que não deslustra. Já o PS e os IpT, continuam a ser os irmãos siameses da política autárquica nabantina. Não conseguem ganhar nem descolar um do outro. Tal como ocorreu nas autárquicas de 2009. O que significa que cada um atrapalha o outro. Como no caso dos irmãos siameses.
Conquanto inferior ao verificado na anterior  pesquisa sobre eleições antecipadas (73%), o total dos votos "de protesto" -BE+CDU+Branco+Outros+Nulo- continuam a somar uma confortável maioria absoluta, neste caso = a 60% dos votos entrados. Parece-nos ser um facto a ter em conta pelos nossos políticos, pois evidencia o largo descontentamento popular, igualmente patente no fraco resultado conseguido pelo PS.

Nota final: Alguns dos nossos seguidores sugeriram-nos uma sondagem sobre putativos candidatos à Misericórdia de Tomar. Trata-se, como se sabe, de uma instituição multi-secular, com estatutos muito próprios, algo obsoletos no mundo actual, designadamente no que concerne à admissão de "irmãos". Tratando-se de "uma eleição fechada" em que apenas podem eleger e ser eleitos os membros da seleccionada irmandade, não faria sentido solicitar e tornar pública a preferência dos leitores de Tomar a dianteira, a esmagadora maioria dos quais não é "irmão" daquela "Santa casa".

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SEMANÁRIO "O RIBATEJO" É NOSSO AMIGO




É uma frase feita que "quem não tem amigos, morre pobre". Ainda bem, porque esta adorada terra nabantina tem muitos amigos, e numerosos trunfos para alcançar um futuro brilhante. 
Cidade limpa e airosa, não faltam estacionamentos gratuitos para autocarros de turismo em pleno centro. Sanitários modernos e funcionais, também gratuitos, há-os praticamente por todo o lado. E depois, come-se bem, ao preço da chuva no inverno, para não dizer da uva mijona, que é demasiado reles. A visita ao Convento é gratuita e sempre acompanhada por guias de elevado gabarito. Os potenciais investidores têm ao seu dispor um gabinete especializado, com toda a documentação necessária, pronta a ser transferida para os seus computadores pessoais, bem como funcionárias habilitadas e sorridentes, sobretudo na área económica e de marketing.  Quanto ao acolhimento em geral, todos os visitantes partem daqui desvanecidos com tanta simpatia, e já amargurados pela saudade. 
Não espanta por isso que o semanário O Ribatejo, editado em Santarém, mas propriedade do Grupo Lena, no qual Miguel Relvas costuma mandar publicar os editais a convocar as sessões da Assembleia Municipal, nos trate geralmente com muita amizade e deferência.
Desta vez, noticiando os cortes nas verbas a transferir pelo governo para as autarquias, em 2011, grafou esta admirável e ternurenta frase: "Olhando para o mapa, nota-se que os quatro municípios do distrito com maior expressão demográfica -Santarém, Ourém, Abrantes e Torres Novas- sofrem cortes superiores a um milhão de euros." Só para não pertubarem o sono dos nossos autarcas e o nosso, tiveram a gentileza de esquecer esta nossa amada aldeia, que por acaso até entraria logo a seguir a Ourém e antes de Abrantes, de acordo com o total de eleitores inscritos. Quanto não vale uma doçura assim? Que até nos volta a poupar na série de seis municípios logo a seguir, que já engloba os executivos com cortes inferiores a um milhão de euros, tal como o nosso? É nestes detalhes que se ficam a conhecer os verdadeiros amigos.
Obrigado senhor Joaquim Duarte. O seu semanário é uma maravilha de jornal. Faz tudo para não criar incómodos desnecessários aos leitores tomarenses. Incluindo, neste caso, o uso da denominada "verdade criativa". Bem haja pois! Só é pena aquela enumeração do lado direito, onde já consta Tomar, e que era perfeitamente escusada. Mas pronto; tratou-se certamente de um lapso. Acontece aos melhores.

COLIGAÇÃO 3+2: E AGORA?!?!?

Edifício da antiga Comissão de Inciativa e Turismo, depois Comissão Municipal de Turismo, ultimamente quartel general do vereador Luís Ferreira. No primeiro andar, a janela de canto renascença que pertenceu à residência de Frei António de Lisboa, o tomarense António Moniz da Silva, frade jerónimo formado em Espanha, confessor de D. João III, Dom Prior, inquisidor local e reformador da Ordem de Cristo. A janela fazia parte de um prédio que se situava no local onde agora está a Tipografia Gouveia, na esquina Rua de S. João/Rua dos Moínhos, no ângulo nordeste. Quase 500 anos mais tarde, ei-la no gabinete de Frei Luís Ferreira, tomarense, ex-prior, motor e inquisidor do PS local, confessor de vários reizinhos que não vem agora ao caso nomear.

O QUE VEM A SEGUIR...

O recente episódio político local, cujo ponto culminante foi a diplomática retirada dos pelouros da cultura e do turismo ao vereador Luís, não passou afinal de mero espectáculo. Como escreveu Lampedusa, era necessário mudar qualquer coisinha para que tudo possa continuar na mesma. Exactamente o que está a acontecer (ver o post "Políticos ufanos..."). Os dirigentes do PSD local local apressaram-se a anunciar em conferência de imprensa o seu primeiro triunfo post-eleitoral, mas entretanto já se devem ter dado conta de que afinal, não só continua tudo na mesma em termos práticos, como a situação política tomarense se tornou bem mais complexa. E delicada para ambos os partidos.
Tudo na mesma em termos práticos, porque como já aqui se escreveu, Luís Ferreira vai continuar a actuar, através do pessoal que colocou em lugares-chave e das estruturas e métodos de trabalho que implementou. Ninguém acredita que Corvêlo de Sousa venha a alterar o que quer que seja.
Com a situação política tomarense bem mais complexa, porquanto a) -Agora tornou-se evidente que tanto os eleitos do PSD como os do PS estão ligados apenas pelo dinheiro ao fim do mês e pelas benesses acessórias; b) - A coligação mantém-se tal como se nada tivesse acontecido; c) O PS vai tentar demolir eleitoralmente o PSD, que vai procurar fazer exactamente o mesmo. Já se diz até, pelas bandas socialistas, que "vão ser três anos a ferro e fogo". Com os tomarenses feridos e a arder, claro está. d) -A CDU, que nunca brinca em serviço, já declarou ser escandaloso manter um vereador a tempo inteiro com um único pelouro. E tem toda a razão, pois uma autarquia fortemente endividada e sem uma política eficaz, que mantém cinco autarcas a tempo inteiro, bem pagos, com telemóveis, secretárias, adjuntos, automóveis, gasolina, despesas de representação e ajudas de custo é algo de incongruente, insustentável e inadmissível. Uns a apertar e outros a alargar cada vez mais o cinto, é algo intragável, mesmo em ditadura.
De acordo com o primitivo itinerário, oportunamente estabelecido pelos dirigentes do PSD local, esta retirada de pelouros foi apenas um incidente imprevisto e sem consequências, para além do espectáculo mediático. Continua por alcançar o final previsto para a primeira etapa -a renúncia de Corvêlo, a promoção de Carrão e a entrada de Perfeito, após a qual aconteceria então a pretendida ruptura da coligação. Nestas condições, tudo indica que a equipa liderada por José Delgado, (que conta com pelo menos um bom estratega), vai agora procurar encontrar um atalho, como na informática. Quer-nos parecer que o próximo orçamento municipal pode ser essa via mis rápida, rumo ao objectivo final. Bastará conseguir, alegando a absoluta necessidade de cortar despesas, que se reduza o número de vereadores a tempo inteiro, se retirem cartões de crédito, telemóveis, computadores e automóveis já distribuídos, se suprimam lugares de secretários, adjuntos, chefes de gabinete e etc. Porque a lei apenas permite tais benesses. Não diz que são obrigatórias.
Caso nada consigam fazer de substantivo aquando da elaboração e posterior votação do orçamento para 2011, restará aos actuais dirigentes laranja seguir o sábio e prático conselho do velho cabo de corneteiros do 15: "Quem sabe tocar, toca. Quem não sabe, passa a corneta a outro, que não há cornetas para todos."

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA

Antes de entrar propriamente na análise da imprensa local e regional hoje publicada, seja-nos permitido, a título introdutório, um acepipe burlesco, hoje ocorrido, e cuja autenticidade garantimos.
Merecem-nos todo o respeito como cidadãos, mesmo se com eles nem sempre estamos de acordo, tanto os autarcas como os que fazem os jornais locais e regionais. O que segue não é, por conseguinte, contra ninguém. Trata-se apenas de relatar um episódio patusco, simples produto do acaso.
Esta tarde, num dos postos de venda de jornais da cidade, um respeitável cidadão comprou um diário e, após leitura dos outros títulos expostos, pegou num exemplar de Cidade de Tomar, (que como se sabe é vendido já dobrado ao meio, ao contrário dos outros dois) e mostrando a metade acima reproduzida, pediu à pessoa que estava no atendimento: -"Não tenho aqui os óculos e não consigo ler as letras pretas; pode-me dizer onde foi que estes dois vigaristas enganaram o pobre homem?." Muito supreendida, a empregada lá lhe explicou que as duas fotografias nada tinham a ver com a notícia da tarja azul. Aqui fica o registo, com uma saudável gargalhada, saudando o acaso, que por vezes provoca cada coisa!


Com se constata pelas ilustrações, a manchete de Cidade de Tomar é por assim dizer idêntica à dos outros dois semanários, o que se compreende. Na usual pasmaceira local e num ambiente de crise, a simples perspectiva da ruptura da coligação entusiasmou as hostes. Mas foi mais uma vez apenas fogo de vista. De resto, nenhum dos três jornais explicou a envolvência, que permitiria em simultâneo situar no tempo e reduzir às suas reais proporções aquilo que de facto aconteceu até agora. Convém, no entanto, referir que a imprensa local dispõe de meios escassos, que em geral não permitem o jornalismo de investigação, o qual de resto só lhe poderia causar problemas com os anunciantes. Estamos num país e numa terra assim. Eis porque regra geral os leitores só têm direito ao clássico trio "o quê? quando? onde?". Nunca ao quinteto "o quê? quando? onde? como? porquê?" A tal falta de contexto, de perspectiva ou de envolvência, que impede o total entendimento das coisas.
Alé da manchete, há uma entrevista de página inteira ao novo presidente do Politécnico de Tomar, que se limita a debitar banalidades usando frases feitas. Sobre recrutamento, qualidade, perspectivas de futuro, nada. Nem sequer a posição do IPT sobre os vizinhos IPS e IPL, um dos quais acabará inexoravelmente por o fagocitar, com ou sem ajuda do governo.
Igualmente a não perder, a habitual Crónica de Campanha, de Mário Cobra, esta semana muito bem esgalhada e sobre os infelizes hóspedes da pousada S. Gregório.
A última página do jornal da Praça da República é ocupada com a notícia "oficial" das obras da chamada "Envolvente do Convento de Cristo", no valor global de 2 milhões e 300 mil euros. Delas apenas nos parecem úteis a rede de saneamento, o arranjo das duas calçadas de acesso e os sanitários na Cerrada dos Cães. O resto é dinheiro deitado à rua, como de resto já vem sendo hábito, numa autarquia com uma dívida global já superior a 31 milhões de euros e sem ter quem lhe empreste mais. Normalmente, tendo em conta o agravamento da crise, terá de haver cortes severos no orçamento para 2011. Mas onde e como?

O Mirante tem a notícia mais completa sobre a retirada dos pelouros a Luís Ferreira, uma foto do presidente do IPT na primeira página, uma página inteira sobre o mesmo e o rasgado elogia de JAE ao Doutor Eugénio de Almeida. Compreende-se que assim seja, pois o politécncio tomarense sempre foi um excelente anunciante do semanário sediado na Chamusca.
Na página três, uma expressiva e excelente fotografia da recente Procissão da Padroeira, que Elsa Gonçalves descreve  noutra página.
Com Luís Ferreira já "castigado", O Mirante não perde mesmo assim a ocasião de parodiar a ida à Galiza, na costumeira secção Cavaleiro Andante. A mesma onde, sob uma foto-passe de Miguel Relvas, se pode ler esta bela frase informativa: "A ruptura anunciada da coligação entre PSD e PS na Câmara de Tomar calha numa altura sensível do calendário político..." Alguém aqui em Tomar deu pelo anúncio de semelhante coisa?
Provisoriamente encerrado o caso Luís Ferreira, Rosa do Céu e a sua reforma antecipada voltam ao seu usual papel de bombo da festa d'O Mirante. Os jornalistas salariados têm por vezes tarefas bem ingratas...

O Templário noticia na página 2 a vinda de Lobo Antunes a Tomar, em 13 de Novmbro, data que nos parece aziaga, por ter sido num dia 13 que prenderam os templários, que morreu o Gualdim Pais, que se travou a batalha de Aljubarrota, e que nasceu um dos nossos administradores. Vejam lá, vejam!
Na página 4, o caso Luís Ferreira, que entretanto foi de férias. Na 5, os cada vez mais numerosos assaltos e furtos em Tomar, na 7, os necessitados que recorrem à Cáritas, na 11, o seminário de Manuel Gandra sobre os templários, na 13, a transferência do mercado, várias vezes anunciada mas ainda não efectivada.  A vida do professor Ludovico Rosa ocupa as páginas 16 e 17, enquanto o arquitecto Costa Rosa, brioso aficionado, faz na página 18 a resenha da corrida de toiros por ocasião da feira, cujos bichos bravos eram afinal "de aviário", segundo escreve. Triste sina a desta desgraçada terra. Agora já nem os touros são como antigamente...
Uma foto de António Paiva, em início de liderança política a nível local, vem na secção Pelourinho, página 36. O que aconteceu nos anos seguintes já é do conhecimento geral. Tem razão o povo quando recomenda que nunca se devem  colocar todos os ovos debaixo da mesma galinha.

SOBRE ORÇAMENTOS

Do blogue o jumento, com a devida vénia e os nossos agradecimentos.

A propósito das discussões sobre o orçamento, e também da questão tomarense dos pelouros, já nos tínhamos lembrado dos saudosos tempos do "-Eu mijo  mais alto qu'a ti. -Mas eu mijo mais longe! -E a minha é mais comprida qu'a tua! -E a minha é mais grossa! -E os meus são maiores! -E os meus são mais negros!!! Agora esta dos piretes, confessamos que é do mesmo tipo, mas ainda melhor.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

PSD/TOMAR: DIRIGENTES UFANOS PERANTE A COMUNICAÇÃO SOCIAL





Apesar da reduzida presença de militantes, uma vez que o encontro com a informação se realizou à hora a que quase todos estão no seu posto de trabalho, (ou no emprego), estavam visivelmente ufanos os dirigentes locais do PSD, durante a conferência de imprensa que convocaram. O que se compreende. Tinham para anunciar o primeiro triunfo no caminho estratégico oportunamente definido (ver o nosso penúltimo post), posto que Corvêlo de Sousa acedeu finalmente a afastar (com punhos de renda) o vereador Luís Ferreira da cultura e do turismo. Resta saber, -o que só irá acontecer com o tempo- se estamos mesmo perante uma indubitável vitória da nova direcção laranja, ou se, pelo contrário, obtiveram o chamado triunfo pírrico, em que são afinal os vencidos que acabam por vencer,  na etapa final.
Para já, a notada ausência de Carlos Carrão, único militante social-democrata no actual executivo, bem como profundo conhecedor da mentalidade e dos meandros locais, não parece augurar nada de bom. É claro que o vereador laranja vai apresentar um excelente alibi, mas isso não invalida que se tenha tratado igualmente de uma atitude ditada pelo seu reconhecido olfacto político. Ou será que a presença de apenas (salvo erro) três presidentes de junta do PSD também foi um acaso fortuito?
Moderado e manifestamente apaziguador, o presidente José Delgado nunca usou vocábulos como impôr, obrigar, forçar ou exigir. Limitou-se a um consensual "aconselhar", para definir a sua acção, em nome da comissão a que preside, junto do presidente Corvêlo de Sousa. Quer finalmente resolveu aceitar os ditos conselhos. Procedeu, todavia,  de tal forma que, ou muito nos enganamos, ou a política definida por Luís Ferreira para os dois pelouros que agora perdeu, vai continuar a ser seguida durante meses e meses, como se ele ainda lá continuasse Talvez mesmo até que subsista a coligação, a qual só acabará quando deixar de haver pelouros a tempo inteiro para os vereadores PS. Isto porque há acordos e protocolos que não convém denunciar, pessoal que não se pode mandar embora, e procedimentos que são difíceis de substituir. Sobretudo por quem já demonstrou sobejamente ser uma excelente pessoa, exímia na arte da diplomacia, mas carecer em absoluto de capacidade de gestão ou de liderança.
Nestas condições, é nosso entendimento que o vereador agora afastado vai continuar de facto a dirigir as duas áreas em causa, limitando-se o presidente a assinar de cruz em vez dele.
E até pode vir a acontecer que seja melhor assim, naquela linha de que "há males que vêm por bem". Como é sabido, desde o caso dAquele que morreu na cruz, é ponto assente que nunca convém arranjar mártires, seja qual for a causa. Com todas as suas qualidades e defeitos, uns pessoais, outros endémicos na comunidade humana onde nasceu e vive, Luís Ferreira pertence ao lote daqueles que praticamente nunca passam despercebidos, estejam onde estiverem, façam o que fizerem. Com feitio de líder nato, conquanto com traços de autosuficiência e megalomania, típicos dos tomarenses, salvo honrosas excepções, deixa o seu rasto indelével por onde quer que passa. Faz obra. Boa , menos boa ou má. Ninguém, respeitando a verdade, o pode acusar de se manter mudo e quedo, a deixar correr o marfim. Assim sendo, os dirigentes social-democratas não tardarão a perceber que o grande problema da actual autarquia, ao contrário do por eles repetido, nunca foi Luís Ferreira, nem o PS, nem sequer os independentes, ou mesmo a restante oposição, mas simplesmente os próprios eleitos pelo partido, que não sabem nem vêem para onde estão a ser arrastados, dado que, exceptuando obras cada vez menos adequadas à cidade .e às circunstâncias, não dispõem de qualquer "folha de estrada", boa ou má. E tal carência paga-se com língua de palmo, o mais tardar em 2013. Há dúvidas?

VEREADOR LUÍS FERREIRA PERDE CULTURA E TURISMO

Está afixado nos Paços do Concelho, e será publicado em toda a comunicação social local e regional, o despacho de Corvêlo de Sousa que "despromove", de facto, o vereador Luís Ferreira. No seu usual estilo muito diplomático, o presidente do município tomarense assinou um novo despacho pelo qual delega no referido autarca socialista apenas o pelouro dos bombeiros, protecção civil e CIAC, em regime de tempo inteiro, anulando explicitamento o despacho anterior. Luís Ferreira deixa portanto de dirigir as áreas da cultura e do turismo, em conformidade com o exigido pela estrutura local do PSD, na sequência de uma curiosa moção sobre o mesmo tema, apresentada na Assembleia Municipal pelo Bloco de Esquerda, e aprovada de forma assaz surpreendente com o voto de qualidade de Miguel Relvas.
Fontes contactadas por Tomar a dianteira assinalaram que se trata de mais uma etapa no percurso há meses definido pelos novos dirigentes da seccão tomarense do PSD,  rumo ao objectivo final -Fim da coligação, Carrão presidente, Perfeito vereador.
Apesar dos nossos esforços nesse sentido, ainda não nos foi possível obter a posição do PS local, por indisponibilidade dos contactados.

ENTREMEZ POLÍTICO NABANTINO

Foto copiada do site "O Templário", com os nossos agradecimentos.

Numa altura de grande incerteza a nível nacional, tanto em relação à eventual aprovação do orçamento, ou à rejeição do mesmo, como no que toca às consequências gravosas nele previstas, os cidadãos anseiam naturalmente por notícias animadoras, optimistas, que lhes demonstrem estarmos numa situação difícil, mas a caminho de dias melhores. A tal luz ao fundo do túnel... Neste contexto nacional, os tomarenses têm todos os motivos para se lastimar de que não têm sorte nenhuma. Não só padecem da turbulência lisboeta, como vão arcando com uma realidade local assaz peculiar.
Desde o seu início, em Outubro do ano passado, que aqui foi escrito ser a actual coligação PSD/PS um mero casamento de conveniência, em que o "pai da criança" estava sem base eleitoral na altura do precipitado parto, mas depois veio a recuperar um lugar de projecção nacional, que já ocupara anteriormente. Daqui resultou que os recém-consorciados acentuaram deste então as suas mútuas desconfianças, uma vez que sempre foram e continuam a ser acérrimos adversários. Dois galos para o mesmo poder, numa frase curta.
Temos assim sido presenteados com actuações políticas em que tanto os laranjas como os rosas vão fazendo o estrito mínimo para assegurar a manutenção do casamento, ao mesmo tempo que procuram desacreditar o mais possível o outro cônjuge. Enquanto Corvêlo de Sousa têm sido sempre a sombra de Luís Ferreira em todos os actos públicos, os eleitos socialistas nunca deixaram de criticar asperamente os social-democratas.
Neste quezília permanente, o PSD tem estado na mó de baixo, designadamente por duas razões principais. Por um lado, dos seus três membros do executivo, apenas um (Carlos Carrão) é militante. Os outros são independentes, com todas as virtudes e defeitos desse estatuto. Estão portanto os laranjas em inferioridade numérica perante os dois militantes e dirigentes PS José Vitorino e Luis Ferreira. Por outro lado, o clima entre os três eleitos PSD parece não ser o mais adequado a um correcto desempenho dos cargos que ocupam. Como entender de outra forma que quatro meses após o encerramento compulsivo do mercado, a tenda provisória, que já vai em quase 300 mil euros, ainda não esteja a funcionar? Será que o vice-presidente Carrão, responsável pelo pelouro dos mercados e feiras, -interessado em substituir Corvêlo de Sousa logo que este renuncie-, tem feito o melhor que sabe para acelererar a entrada em funcionamento da tenda? Ou estaremos na fase de "quanto pior, melhor para mim"?
Neste enquadramento de enormes incertezas e horizontes muito sombrios, os novos dirigentes do PSD/Tomar prosseguem a sua política, definida logo após a eleição, a qual tem por objectivo final acabar com a coligação, forçar a renúncia de Corvêlo de Sousa, colocar Carlos Carrão na presidência e José Perfeito na vereação. Nessa perspectiva, caiu-lhes que nem sopa no mel o chamado "incidente Lobo Antunes". De tal forma que logo decidiram aproveitá-lo como pretexto, e até conseguiram que uma insólita moção do BE, contra Luís Ferreira, merecesse o voto decisivo e favorável de Miguel Relvas, justamente o "pai da criança", que entretanto terá resolvido entregá-la para adopção, dados os evidentes problemas de saúde e o seu novo estatuto, entretanto recuperado, de figura nacional.
Após várias tentativas infrutíferas para que Corvêlo retirasse os pelouros da Cultura e do Turismo a Luís Ferreira, consta agora que terão finalmente conseguido a sua anuência. Está marcada uma conferência de imprensa para esta tarde, às 15 horas, na sede da Rua da Fábrica, durante a qual, em princípio, será anunciada a referida "despromoção" do vereaor socialista. Há, contudo, grandes e fundadas dúvidas sobre o que os representantes da comunicação social irão ouvir. Eis algumas das hipóteses, todas prováveis, porém algumas mais plausíveis que outras: A - Luís Ferreira fica sem os pelouros citados, mantendo os bombeiros, a protecção civil e o tempo inteiro, podendo até vir a herdar mais um ou dois pelouros "para o calar", continuando tudo como até aqui; B - Corvêlo recusa-se a aceder às exigências do PSD, invocando as suas competências e o seu estatuto de independente, o que levará os laranjas a retirarem-lhe a confiança política, pondo em causa a aprovação do orçamento municipal para 2011; C - Cansado e farto de tanta luta intestina, o actual presidente renuncia, deixando o lugar para Carlos Carrão, que poderá ou não romper a coligação, seja agora, seja mais tarde.
Qualquer que venha a ser o resultado final desta manobra, que é por assim dizer um entretém, um entremez político para distrair os cidadãos do essencial, será então a vez dos socialistas esclarecerem a sua posição. Optarão pelo conforto e pela carteira, como até aqui? Ou pela coerência e pela coragem, tendo em conta o futuro? A resposta não tardará.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

ÀS CEGAS RUMO AO FUTURO

Nota prévia

Se não acreditasse que os tomarenses são gente capaz de devolver a esta terra o estatuto que já foi o seu, nunca teria decidido participar neste blogue, ou nas diversas iniciativas para que tenho sido solicitado. Acredito que são capazes, como creio igualmente que já nas próximas eleições (o mais tardar em 2013) a música será bem diferente da habitual em tais circunstâncias. Se assim não acontecer, então sim, deixarei de acreditar nos meus conterrâneos e calar-me-ei sem remédio, em termos de expressão escrita pública. Afinal a minha modesta acção aqui é apenas de dedicação à causa pública e totalmente gratuita para a colectividade.
Aos que me apontam como pessimista militante, quero dizer que não me reconheço nesse estatuto. Prefiro nitidamente o de realista, sempre apoiado em factos, verificáveis por qualquer cidadão interessado. Se a realidade concelhia não é nada alegre, bem pelo contrário, e se não convém a alguns, a culpa não é minha, mas dos que se mantêm sistematicamente impávidos e serenos, porventura esperançados em passar entre os intervalos da chuva. Para depois se armarem em moscas do coche, quando e se as coisas vierem a melhorar de forma substancial. Nunca vi tantos democratas juntos nesta terra, como entre 26 de Abril e 2 de Maio de 1974. É verdade!
UMA TRAGÉDIA COM DATA MARCADA

Vimos nos dois textos anteriores, escritos por estrangeiros imparciais, que a crise económica se vai manter em Portugal durante pelo menos mais cinco anos, com crescimento nulo, ou até recessão, desemprego elevado, ultrapassando os 20% entre os jovens, e mais medidas de austeridade, com novos e obrigatórios apertos de cinto, que poderão passar, por exemplo, pela supressão do 13º mês e pela redução do total de freguesias e de câmaras municipais.
Constatámos igualmente que a generalidade dos portugueses terá de mudar de estilo de vida, não sendo mais possível continuar a viver a crédito, como sucedeu sobretudo até 2008, pois já estão atascados em dívidas até às orelhas.
Neste contexto, a situação da autarquia tomarense, (mesmo abstraindo as manobras neste momento em curso), não augura nada de bom, ou sequer de razoável. Com uma dívida global de 32 milhões de euros, que vai aumentando a cada mês que passa; sem poder recorrer ao crédito bancário, dada a presente crise na obtenção pela banca portuguesa de fundos exteriores; com funcionários em excesso, que custam mensalmente 642.900 euros, ou seja 9 milhões de euros anuais para a totalidade dos vencimentos; a braços com a previsível e acentuada redução de receitas em todas as origens; o município vai ser obrigado a efectuar cortes drásticos na despesa. E quanto mais tarde o fizer, mais gravosos serão esses cortes. Tal como sucedeu agora, devido ao optimismo despropositado de José Sócrates.
Mas o que torna a situação do nosso município particularmente dramática, não é tanto a crise e as suas consequências, que afinal também são sentidas em todos os outros concelhos. O que nos prejudica seriamente é que nem a actual maioria, nem a oposição, dispõem de qualquer projecto táctico ou estratégico, devidamente articulado e adequado à nova conjuntura, que nos indique um caminho, por estreito que seja, para ultrapassar semelhante conjuntura adversa. Mais grave ainda, tal plano não existe, nem os eleitos dão mostras de o saber ou sequer querer fazer.
Recorde-se que na memorável reunião que abordou a questão da funcionalidade do paredão-mijatório, ficou claro que o actual executivo, no seu todo, aprova coisas cujos detalhes ignora algumas vezes, ou até quase sempre. Foi evidente na citada sessão que nenhum dos sete magníficos se deu conta da existência do tal monstro de cimento aquando da aprovação. E isso sucedeu porque nesta terra qualquer um se julga omnicompetente; sabedor de tudo e mais alguma coisa. Não tendo por isso nem o estofo, nem a humildade, nem a franqueza de admitir a sua ignorância e solicitar os esclarecimentos necessários. Credo! Seria um verdadeiro sacrilégio, que desonraria a nobre classe dos eleitos, casta muito acima dos comuns mortais que somos todos os eleitores.
Essa mesma falta de estofo, de humildade e de franqueza, impede-os de admitirem que não têm quaisquer planos,  porque não sabem como se fazem nem sequer estão dispostos a aprender. Habituados ao desenrascanço ao longo da vida, ainda não perceberam que a crescente complexização das coisas já não se compadece com improvisos, desenrascanços, jeitinhos,  ou outros paninhos quentes.
O que acaba de ser escrito em relação ao executivo vale também -infelizmente- para todos os membros da Assembleia Municipal, conforme veio confirmar a recente sessão extraordinária.  Gastar duas horas e quarenta, trinta e duas intervenções e cinco mil euros, para tudo continuar exactamente na mesma; não se ter logrado sequer uma única intervenção indicando um possível caminho; só mesmo aqui em Tomar. Onde a mentalidade dominante até produziu um recente comentário neste blogue, em que o seu autor se queixa de que nunca falamos dos problemas dos jovens. Mas de que estará ele à espera para o fazer? Nunca terá ouvido dizer que "Quem tem boca não manda soprar"? Ou julga-se ainda no tempo dos senhores e dos servos?
Triste idiossincrasia a nossa...

ENDIVIDADOS ATÉ ÀS ORELHAS

Vimos no post anterior o que vamos ter nos próximos cinco anos -crescimento anémico, próximo do zero, na melhor da hipóteses, ou até recessão,  desemprego na casa dos 10% em termos gerais, de mais de 20% entre os jovens, falências e mais medidas de austeridade, provavelmente já em 2011. Vejamos agora o que disse aos seus leitores o catalão Francesc Relea, amigo e profundo conhecedor de Portugal, correspondente em Lisboa do conceituado periódico espanhol de referência EL PAÍS.

"O endividamento é uma doença endémica em Portugal, afectando não só os depauperados cofres públicos, como também uma grande parte das famílias. Cerca de 630.000 titulares de créditos bancários, 13,7% de um total de 4, 6 milhões, estão já em incumprimento, segundo os dados mais recentes difundidos pelo Banco de Portugal.
A maior parte destas dívidas pertencem ao segmento de crédito ao consumo, mas incluem igualmente créditos hipotecários (habitação) e outros empréstimos a particulares. Globalmente, os portugueses devem 155.000 milhões de euros aos bancos.
Dívida, crescimento raquítico e falta de competitividade, são as três maleitas de que padece a economia portuguesa. O problema reside no facto de as perspectivas não convidarem de modo nenhum ao optimismo. De acordo com as mais recentes projecções do Fundo Monetário Internacional - FMI, Portugal vai manter-se no "carro-vassoura" das economias do planeta durante os próximos cinco anos. Traduzindo em números, isso significa um Produto Interno Bruto - PIB a crescer em média 0,9% ao ano, uma percentagem apenas superada negativamente pela Venezuela (0,7%) e pela Grécia (0,2%).
Com semelhante desempenho, o desemprego vai manter-se elevado, à volta de 10,8% em 2015, segundo o FMI. Entre 2000 e 2009, a economia portuguesa cresceu a um ritmo anual de 0,9%, o nono índice mais baixo em todo o Mundo.
E é de toda a prudência ter em conta que os dados do FMI ainda não englobam as consequências eventuais das mais recentes e gravosas medidas de austeridade."

Para terminar com uma nota de optimismo, após esta resenha digna de um velório, registamos um pequeno excerto das recentes declarações do professor Stéphane Garelli, um suiço especialista em Economia Internacional e Competitividade das Nações, docente na IMD International Business School de Lausanne e director do Fórum Mundial de Davos.

"É uma situação difícil que vivemos desde a segunda guerra mundial, mas reagir só com pessimismo não é a melhor opção.. Os problemas estão aí e têm de ser resolvidos. Penso que na Europa temos bons argumentos para podermos ser bem sucedidos. ... ... ...
Acho que Portugal tem estado a perder a oportunidade de usar mais adequadamente as suas ligações históricas com a África e a América Latina, para desenvolver as suas exportações. Julgo ser absolutamente imprescindível. É bom ter negócios com o resto da Europa, mas agora o crescimento vem de outras regiões. ... ... ...
Vocês têm excelentes contactos, boas empresas, bons bancos, boas companhias de telecomunicações, por exemplo. Por isso, penso que há algumas ligações naturais que deveriam ser melhor exploradas. Vale mais exportar para países que crescem 10% ao ano, do que para outros que se ficam pelos 2%. ... ... ... É IMPORTANTE TER UMA ESTRATÉGIA. TÊM DE DEFINIR PARA ONDE DESEJAM IR E ENCONTRAR/ESCOLHER ALGO EM QUE POSSAM SER BONS, QUE TENHA A VER CONVOSCO, COM AQUILO QUE VOCÊS PODEM FAZER MELHOR DO QUE NINGUÉM."


(Maiúsculas finais a negrito da responsabilidade de Tomar a dianteira, por nos parecer que o autor se está a dirigir particularmente aos tomarenses...)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A DÉCADA PERDIDA DE ITÁLIA E PORTUGAL

Alícia Gonzalez - El País

"O principal desafio macroeconómico das economias desenvolvidas para a próxima década, é procurar evitar que mergulhem noutra década perdida." Foi esta a advertência que o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, fez a todos os seus colegas, na reunião de Verão realizada todos os anos pela Reserva Federal dos Estados Unidos, em Jackson Hole (Wyoming). E sobram-lhe razões para o que disse, tendo em conta o que aconteceu nos últimos 10 anos.
Durante esta década, exceptuando Haiti,  Itália e Portugal foram os países que menos crescimento acumularam a nível mundial, com respectivamente 2,43% e 6,47%. Seguem-se o Japão (7,30%), a Dinamarca (7,74%) e a Alemanha (8,68%). Sendo certo que quando as economias alcançam um determinado nível de desenvolvimento, o seu ritmo de crescimento afrouxa, o que mostram estes dados, sobretudo em relação a Itália e Portugal, é um modelo de crescimento em forma de L, que agora surge como a principal ameaça para o conjunto das economias consideradas ricas, entre as quais a espanhola, que todavia termina esta década com um crescimento de 22%, o que a coloca numa boa posição entre os países desenvolvidos.
O modelo de crescimento em L é geralmente conhecido nos meios académicos como "estancamento económico", definido como um longo período de crescimento próximo de 0%, desemprego elevado, e fraca procura ou excesso de produção.
Quando a teoria económica fala de década perdida, fá-lo em função da experiência japonesa nos anos 90. Nessa altura, a segunda economia mundial enfrentou um período de baixo crescimento e desemprego elevado, por não ter efectuado correctamente o processo de saneamento do sistema financeiro e a redução do endividamento da economia. É claro que no caso do Japão é mais correcto falar de duas décadas perdidas.
Mas não se trata só de um fenómeno ligado ao nível de desenvolvimento alcançado. Se assim fosse, a primeira economia do mundo seria a que menos crescimento teria registado durante esse período, quando mesmo se moderado, o seu PIB teve um incremento acumulado de 17,77%.
O prémio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, alertou em várias ocasiões sobre o risco que corre a economia estado-unidense, de vir a sofrer o acontecido no Japão, caso não adopte políticas apropriadas para ultrapassar a crise financeira. Em Janeiro passado, Krugman afirmou que "apesar da baixa dos juros [os japoneses foram os primeiros a fixar a taxa interbancária em 0%], o Japão nunca logrou uma recuperação real. Teve despesa pública suficiente para evitar a recessão, mas não a necessária para gerar uma recuperação. Quanto às forças privadas do mercado, nunca dispuseramn de tantas facilidades para permitir a retirada dos estímulos públicos. O grande problema é que as recuperações posteriores a uma crise financeira dependem quase sempre das exportações, que é algo impossível numa crise mundial sincronizada. "A não ser que se comece a exportar para Marte", disse Krugman com ironia.
Japão, Itália e Portugal têm em comum o padrão de crescimento em L, que se traduz num círculo vicioso da economia, e que muitos economistas atribuem à ausência de uma política fiscal restritiva, de controlo das despesas públicas e de redução do endividamento. Os números dão-lhes razão. A dívida pública italiana ronda os 130% do PIB, em Portugal está nos 80%, atingindo 217% no Japão, segundo dados do FMI. Para o professor Rafael Pampillón, a falta de competitividade e de maleabilidade dos mercados citados explica a ocorrência de um crescimento tão débil durante tanto tempo, análise que é partilhada pela Comissão Europeia.
Nas suas previsões para o Outono, Bruxelas adverte que "problemas estruturais persistentes, que provocaram  um aumento insatisfatório da produtividade, já haviam enfraquecido a economia italiana muito antes da crise global". Quanto a Portugal, a Comissão Europeia admite que "desde princípios dos anos 2000, que Lisboa vem registando um fraco crescimento económico, bastante abaixo da zona euro, caracterizado  por uma persistente baixa produtividade, uma competitividade erosinada, aumento do desemprego e considerável défice exterior. A crise actual veio exacerbar essas debilidades, e alguns desses desiquilíbrios estão a ser corrigidos de forma demasiado lenta e incompleta."  Tanto  os analistas do FMI como os da OCDE apoiam o diagnóstico da Comissão Europeia.
Stephen King, economista-chefe do banco HSBC, argumenta no seu recente livro "Perdendo o controlo" que as principais economias desenvolvidas se dirigem inexoravelmente para o modelo japonês."O Ocidente é incapaz de reactivar as suas economias porque não aprendeu as lições do Japão. A primeira e mais óbvia é evitar provocar uma bolha gigantesca. Essa ameaça foi ignorada. Em vez da prevenção, tanto os políticos como as instituições preferiram argumentar qu o Ocidente era diferente.... ... ...
Certo é que, apesar das colossais quantidades de dinheiro injectado na economia, o crescimento nunca mais dá mostras de arrancar com vigor. É claramente o caso dos Estados Unidos, que se depara com a necessidade de compra de títulos do tesouro pela Reserva Federal, para tentar reactivar o crescimento. Isto com uma taxa de desemprego próxima de 10%, que a sociedade americana não está preparada para manter de forma prolongada. Mas a ameaça está aí: que o modelo económico de Itália, Portugal e Japão acabe por se converter na nova realidade para os países desenvolvidos.   

(Negritos de Tomar a dianteira)

CASTANHADA QUENTE


Para Castanha Quente:

A ilustração supra é uma montagem feita com três dos seus magníficos comentários aqui recebidos, os quais tenho a intenção de mandar encaixilhar, para pendurar na modesta redacção de Tomar a dianteira. Antes, porém, pareceu-me útil publicá-los com algum relevo, visando dois objectivos: 1 - Dizer-lhe que os outros foram para o lixo, por uma questão de elementar decência; 2 - Confrontá-la (o) com o aspecto e o cheiro daquilo que defeca. Com se faz às criancinhas, para ver se têm emenda.
Como neste caso julgo ser provável que estejamos entre adultos mais ou menos civilizados, gostaria que respondesse a algumas perguntas, que considero muito pertinentes. Não por escrito, nem para publicação. Apenas de si para sí.  A - Seria capaz de me dizer o que consta dos comentários enviados, cara a cara, olhos nos olhos, perante uma assistência numerosa? B - Seria ao menos capaz de assinar por baixo de cada um?
Uma vez que os enviou sob anonimato, tenho todo o direito de supor que a sua resposta a ambas as perguntas acima é negativa. Assim sendo, qual ou quais os motivos para insultar gratuitamente quem apenas procura fornecer aos tomarenses matéria para pensar? Não gosta daquilo que tem lido? Pois não venha a este blogue. Ou então diga isso mesmo, mas procurando fundamentar. Nada de patetices, como as acima reproduzidas.
Num destes seus escritos, de resto assaz patuscos, para não dizer pior, consegue alinhar quatro insanidades em três linhas. Reconheça-se ser muito difícil fazer igual ou melhor na arte da maledicência? Se eu fosse mas é trabalhar, diz você. E o que julga que tenho andado a fazer? A dar milho aos pombos, na Praça? A dar comida aos peixes e aos patos, no Nabão? "Em vez de andar a brincar à política", prossegue vossa senhoria. Mas saberá realmente o que é a política, para a partir desse conhecimento discernir o que é a sério do que é a brincar? Ou está só a divertir-se com os leitores da sua pobre prosa? "Área em que já está ultrapassado", insiste você pesadamente. Tem a certeza do que afirma? Baseia-se em quê? Que autoridade cívica, política, académica, ou outra,  tem você para classificar os seus compatriotas? Tem algum mandato de origem divina, como os nossos reis de antanho?
Finalmente, o cúmulo da desfaçatez: "o país estava bem melhor". Pode saber-se em quê, como e porquê? Que relação poderá existir entre os meus humildes escritos, num ignorado e provinciano blogue, e a cada vez mais problemática situação do país?
Concluindo. Podia tecer-lhe várias considerações sobre distúrbios comportamentais, paranóias difusas, feitios de ditador, almas de lacaios, recalcamentos,  e por aí adiante. Não vale a pena, porque iria ofender você (para usar uma construção frásica brasileira) e não surtiria qualquer efeito. Peço-lhe apenas um favor, bem do fundo do coração -Deixe de frequentar o blogue ou, no mínimo, deixe de me apoquentar com as suas obscenidades. Que não me incomodam nem pouco nem muito, pois quem já andou numa guerra a sério, fica definitivamente, ou perturbado, ou calejado para o resto da vida. Mas fazem-me perder tempo com vacuidades,  e é pena.
Cordatamente, apesar de tudo,

António Rebelo

AO CONTRÁRIO DOS CHINESES E DOS AMERICANOS

Ao que nos foi dito, o post anterior contém três pontos pouco transparentes -a questão do Fundo Social Municipal, o IRS transferido e a alusão ao muro do futuro, intransponível por invisuais. Adimitindo que assim seja, e por incapacidade nossa, vamos lá então tentar esclarecer os três casos.
1 - Parece-nos claro que, se um concelho cuja população total é apenas a terceira maior do distrito, consegue a segunda maior comparticipação social do governo, isso significa que a pobreza aqui é bem mais acentuada, em termos quantitativos e não só. O que nos leva ao raciocínio seguinte: Habituados desde há séculos a que outros decidam por eles, os tomarenses vivem em permanência na expectativa de que alguém lhes providencie tudo aquilo de que precisam -alimentação, vestuário, calçado, emprego, cuidados de saúde, educação para os filhos. Em suma, a típica mentalidade mendicante, no mau sentido do vocábulo. Aguardam que lhes distribuam peixe, em vez de irem à pesca. Só porque dá menos btrabalho?
Os resultados estão à vista. Temos cada vez mais "pedintes" e menos contribuintes. Até os chineses já perceberam que cada qual tem a estrita obrigação de tratar da sua vida e de preparar o futuro, não estando atido à boa vontade da colectividade, seja ela qual for.
 De acordo com os cadernos eleitorais actualizados, Santarém (54.488 eleitores inscritos) e Ourém (43.907 eleitores inscritos) têm mais população do que Tomar (38.724 eleitores inscritos). Nestas condições, como se explica que, no quadro das transferências de IRS, Tomar apareça antes de Ourém? Dado que o total transferido é sempre  uma percentagem igual para todos os concelhos, temos que, apesar de mais numerosos (+ 5.183 eleitores inscritos), os oureenses pagam menos IRS do que os nabantinos. O que tem uma explicação fácil, julgamos. Enquanto Ourém conta com variadíssimas PME industriais, e com o comércio de Fátima, Tomar é, cada vez mais, só função pública e equiparados. Pagos pelo Estado, os funcionários liquidam o IRS à cabeça. Pelo contrário, trabalhando na área privada e num país que cada vez sobrecarrega mais os contribuintes, ao mesmo tempo que lhes vai rateando as contrapartidas, pequenos e médios empresários vão-se esquivando ao fisco tanto quanto possível. Donde o desfasamento nos totais finais distribuídos.
3 - Uma vez que o Estado é e continuará a ser forçado, desde o exterior,  a emagrecer muito acentuadamente, está-se mesmo a ver que o futuro do concelho tomarense não é  nada brilhante. Pelo contrário. Somos assim uma espécie de concelho "comunista", encravado numa zona geográfica capitalista... 
Noutros termos, os chineses já há muito intuiram que a livre iniciativa individal,  controlada com mão de ferro, é a melhor forma para crescer economicamente. Assim chegaram à situação actual -um regime dito comunista (partido único, sindicato único, ideologia única...) com uma economia capitalista a crescer exponencialmente, cujo principal combustível é o lucro máximo. 
Em contrapartida, os tomarenses beneficiam de todas as liberdades fundamentais (pluralismo partidário, pluralismo sindical, pluralismo ideológico, liberdade de reunião...), mas recusam-se a aproveitá-las para edificar a sua própria vida. Preferem a protecção do "pai-Estado", que paga mal mas exige pouco e nunca despede. Somos, por conseguinte, o exacto oposto da China. Temos um regime livre mas uma economia de Estado. 
3 -  O muro do futuro, é algo mais complexo, posto que se trata de prospectiva e, já dizia o outro, "a previsão é algo muito difícil, sobretudo quando se trata de prever o futuro". Ainda assim vamos tentar. Imagine o leitor a fronteira México/Estados Unidos, uma barreira praticamente instransponível de milhares de quilómetros. Para os mexicanos e outros emigrantes latino-americanos, além daquela barreira é o futuro. Onde pensam estar o futuro deles. Por conseguinte, procuram todos os meios possíveis para a ultrapassar. Uns conseguem, outros são forçados ao regresso, outros ainda morrem. Mas cada um deles tinha à partida uma ideia, um plano, um projecto, mais ou menos adequado, mais ou menos elaborado, mais ou menos eficaz, para ultrapassar a dita barreira. Porque sem esse tal vademecum, esse relativo salvo-conduto, nem chegariam a sair de casa.
Em conformidade com os seus projectos, uns passam, como turistas pelos normais postos fronteiriços, outros saltam a barreira, outros usam túneis, outros viajam escondidos em camiões de carga. Ultrapassada a fronteira, cada qual vai à sua vida, dando continuidade ao plano previamente elaborado.
Acontece que esta situação é a de cada um de nós perante o futuro. Ninguém sabe o que está para além do muro do nosso presente, mas há uns que sabem menos de que outros. Há os que sabem que o muro do futuro, como qualquer outra fronteira, pode ser atravessado, seja pelas passagens normais, seja pelas clandestinas, bastando para o franquear elaborar um bom plano.
Só os tomarenses, sobretudo os autarcas, é que aparentemente ainda não perceberam que assim é. Comportam-se como se o futuro mais não fosse do que uma repetição do passado. Sem quaisquer planos enquanto comunidade, vão dando cabeçadas no muro que nos separa do que aí vem, à espera de quem lhes venha resolver os problemas. É, pois, uma pena não haver bancos junto do citado muro, pois a espera vai ser bem longa. Ao contrário dos chineses, ainda não perceberam que "o poder" não consegue resolver os seus próprios problemas, quanto mais agora os dos cidadãos.
Como costumam dizer os católicos: "Fia-te na Vírgem e não corras, verás o trambolhão que apanhas."

domingo, 24 de outubro de 2010

EXCELENTES NOTÍCIAS!


Este post ainda esteve para ser no habitual estilo pessimista, alarmista, catastrofista mesmo. Todavia, para quê tornar o horizonte ainda mais sombrio, e as pessoas ainda mais carrancudas? O melhor é mesmo seguir os preceitos dos amigos Hugo Cristóvão e Luís Ferreira, bem como o exemplo do nosso primeiro-ministro, que consegue de forma sistemática transformar qualquer malogro num grande êxito. Portanto, corações ao alto, pensamentos positivos, haja esperança e coza o forno.
De acordo com fontes idóneas, o projecto de Orçamento de Estado para 2011, agora em discussão com o PSD, destina as seguintes verbas para o nosso concelho: Transferências para as 16 freguesias - 768.647 euros (5º lugar no distrito); PIDDAC concelhio (Plano de investimento e despesas de desenvolvimento da Administração Central) - 418.703 euros = 143.703 euros para reparações no Palácio da Justiça + 275.000 euros para a Escola D. Nuno Álvares Pereira; Fundo de Equilíbrio Financeiro Corrente = 4.551.241 euros; Fundo de Equilíbrio Financeiro Capital = 3.034.160 euros; FEF Total = 7.585.401 euros (5º lugar distrital); Fundo Social Municipal (pré-escolar e 1º ciclo básico) = 692.449 euros (2º lugar distrital); Comparticipação municipal no IRS cobrado = 1.144.827 euros (2º lugar distrital); Total geral = 9.422.827 euros (5 lugar distrital).
Temos assim boas razões para estarmos esperançados e optimistas. Por um lado, ainda conseguimos o 5º lugar no distrito, em termos de transferências totais. Podia ser bem pior! Por outro lado, estamos em 2º lugar distrital na percentagem de IRS cobrado. A mostrar claramente que a quase totalidade dos sujeitos passivos do concelho é paga pelo orçamento de estado, pelo que não pode fugir ao fisco. Mais uma garantia de um futuro cada vez mais risonho para todos. Pelo menos enquanto o governo conseguir honrar atempadamente as suas obrigações.  Por outro lado ainda, estamos no 2º lugar distrital no que toca ao Fundo Social Municipal, sinal das muitas carências familiares que por aí há. Também podia ser muito pior. E tudo aponta no sentido de que ainda virá a ser. Não percamos a esperança, em relação ao 1º lugar na categoria.
Em termos gerais, no estado actual das coisas, o município vai receber em 2011 menos 886 mil euros. Para já. Vá lá, vá lá! Do mal o menos. Reduzir as transferências vai obrigar a adoptar um regime de emagrecimento, que só poderá fazer bem a uma administração obesa.
Entrementes, o Diário de Notícias publicou hoje o mapa supra, com indicação dos 97 concelhos que em 2011 não receberão qualquer verba do PIDDAC, o que representa 34,7 dos municípios do continente, ou seja, mais 24,7% em relação ao ano em que estamos, com apenas 69 câmaras sem PIDDAC. De assinalar que em 2006 apenas 2 municípios foram excluídos do referido programa de investimento. Com tal progressão, é bem provável que em 2012 Tomar também já não receba qualquer PIDDAC. Mais uma boa notícia, por conseguinte, uma vez que mais cortes = maior poupança = menor obesidade = mais saúde.
Com um pouco de sorte, até poderá ocorrer que os nossos simpáticos autarcas, -tendo em conta as cada vez mais constrangedoras limitações orçamentais- decidam finalmente parar para pensar, aproveitem para auscultar a população, e concluam que o melhor é abandonar, pois quanto mais tempo continuarem nos poleiros, mais prejudicarão o concelho, no qual também habitam. E como são pessoas inteligentes...
Como podem constatar, esperança e optimismo não nos faltam. O futuro vai ser bem negro e, sem projectos devidamente estruturados, quem nos governa insistirá em bater no muro intransponível que ele constitui para invisuais. Estamos contudo seguros de que os nossos admiráveis autarcas nunca esquecem que "quem não sabe, é como quem não vê". Aguardemos, portanto, com paciência, optimismo e alegria, já que tristezas não pagam dívidas.

SOBRE FINANÇAS, POLÍTICA, CEGUEIRA e PARANÓIA

Um popular anexim reza que "Não há pior cego do que aquele que não quer ver". O imparável agravamento da crise económica nacional e local vai mostrando, de forma cada vez mais evidente que, contas feitas, é capaz de não ser bem assim. Leia-se este excerto da jornalista São José Almeida, n'A semana política, texto de análise política, publicado ontem, 23/10/10, na página 36 do PÚBLICO, um jornal dito de referência: "...O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos (17 de Outubro de 2010) diz coisas extraordinárias. "É quase uma insaciabilidade dos mercados a medidas de austeridade desta natureza", constata..., concluindo que, se houver mais exigências dos mercados, não tem soluções: "Eu não vejo muito mais por onde ir".
Antes de tudo, salta à vista o fosso entre a posição da jornalista, "se houver mais exigências dos mercados, não tem soluções", e a do ministro: "Eu não vejo muito mais por onde ir." Por outras palavras, "ainda restam algumas vias, mas não muitas". Há portanto nítido desfazamento entre o dito e o interpretado pela profissional de informação, cuja deontologia profissional obriga, contudo,  a não modificar a realidade à sua guisa. Será que não quis ver isso? Ou, pior ainda, está convencida de que ela é que viu os que os outros não conseguem enxergar?
Ainda na mesma linha, é algo difícil perceber onde reside o carácter de "coisa extraordinária", na frase "É quase uma insaciabilidade dos mercados a medidas de austeridade desta natureza", dita por um reputado economista, para mais ministro das finanças." Está na própria natureza de qualquer mercado serem os seus operadores ávidos, insaciáveis, sôfregos, jamais fartos, uma vez que a busca do lucro máximo é o combustível que os move. Seja qual for o mercado. Mesmo o das ascensões no interior dos partidos políticos. Incluindo os que dizem representar os trabalhadores. Por conseguinte, achar extraordinária uma coisa afinal comezinha e banal, revela mais um caso em que a jornalista crê estar a ver, quando afinal...
Outro aspecto em que a jornalista assume uma curiosa postura, é na evidente e injustificada tentativa de diabolização dos mercados. Basta atentar na chamada de título, cuja segunda interrogação tem ainda outro óbice. Nem sequer pode  ser considerada um exemplo de bom português, mesmo enquanto "língua chã": "O que é e quem representa os mercados? Por que ninguém fala o nome dos novos senhores do mundo?"  Perguntas inadequadas, no mínimo para nós portugueses, porquanto mesmo no caso de se virem a conhecer respostas satisfatórias a ambas a perguntas, a nossa situação não se alteraria um milímetro. Na verdade, o que esta prosa deixa subentender é que estamos perante uma deliberada conspiração contra os portugueses, urdida nos meios da finança internacional. A habitual maneira de estar e de agir dos portugueses, com nítidos contornos de paranóia colectiva -a culpa é sempre dos outros, que andam a perseguir-nos sem qualquer razão.
Exactamente o que vem acontecendo em Tomar, onde os senhores autarcas também cuidam estar a ver bem, quando garantem que a situação financeira do munícipio é boa e recomenda-se. Ou que estão a governar bem, apesar do que dizem os críticos locais, conhecidos especialistas da má-língua, que no fundo andam apenas a perseguir os honrados e competentes eleitos, para ver se lhes roubam os lugares. A tal paranóia difusa...
Seguindo o raciocínio implícito da jornalista, o Brasil, que herdou a nossa língua, os nossos costumes e a nossa idiossincrasia, foi durante anos uma excelente "presa" para os mercados. O FMI, às ordens dos Estados Unidos, foi chamado a intervir uma série de vezes. Até houve ditadura militar durante anos e tudo. Eis senão quando, um intelectual formado e formatado na Europa -Fernando Henrique Cardoso-, e um ex-operário metalúrgico e sindicalista, dos autênticos, daqueles que nunca abandonaram as bases nem a linguagem dos trabalhadores -Lula da Silva-, solucionaram o problema, sem grandes programas teóricos nem alarido mediático. Limitaram-se a governar no sentido de o país viver de acordo com os seus recursos próprios, foram pagando a dívida externa consoante as possibilidades, e, uma vez liquidadas as dívidas, acabaram por emprestar somas elevadas ao próprio FMI, naquilo a que os brasileiros chamaram "a vingança dos ex-caloteiros". Desde então, alguém ouviu dizer que os tão falados e amaldiçoados mercados financeiros se meteram ou pressionaram o Brasil? É o metes! Embora não marxistas, os dirigentes dos grandes operadores financeiros, nunca esquecem o que Marx constatou -quem tem dinheiro, tem poder. E o que vale para o Brasil, vale para qualquer outra entidade com relativa autonomia financeira -dos governos às câmaras municipais. O resto são balelas e baladas para embalar o pessoal.

sábado, 23 de outubro de 2010

A NOSSA RESPOSTA A "ALGUMAS PERGUNTAS"

Foi um amável leitor-comentador deste blogue que recomendou a leitura da longa peça supra. Lida e relida, confesso não ter ficado nada encantado. Tratando-se de uma jornalista profissional experiente, julgo que o texto-resumo da semana podia e devia ser bem mais percutante. Ao invés, está-se, quer-me parecer, perante algo muito semelhante à recente sessão extraordinária da Assembleia Municipal de Tomar. E bem na linha do que ocorre em geral neste país e nesta cidade: Há imensos atiradores e todos se fartam de disparar mas, de forma voluntária, nem um só acerta na "mouche". Nem lá perto. Faltará ainda identificar cabalmente o alvo? Ou será mesmo falta de pontaria? 
Neste caso, anda-se nitidamente à roda do pote, dissertando sobre "os mercados", "este orçamento de Estado" e o pretensamente enigmático sorriso de Mira Amaral. 
Quanto às perguntas subsequentes, bastava ter a coragem de nomear o âmago do problema, para elas fluirem naturalmente, como meras evidências. E o âmago do problema é este -Nem o governo, nem os cidadãos, conseguem viver sem recorrer ao crédito, sendo que esse crédito tem de vir do exterior, devido às carências internas em matéria de massa monetária em circulação. Dito isto, Mira Amaral sorria porque, sendo presidente de um banco, devia pensar para com os seus botões -"Deixa-os pousar que a gente logo conversa". Sobre aos mercados, sempre se estiveram e continuarão a estar-se nas tintas para tudo o que possamos pensar ou dizer, enquanto não pudermos prescindir da sua boa vontade. Por isso podem continuar a impôr os seus ditames, sem estados de alma. Sempre na linha de que "O nosso negócio são números."
Além da dita falta de acutilância, a análise política da semana começa como uma citação, quanto a mim algo obtusa, do líder da CGTP Manuel Carvalho da Silva. Segundo a jornalista, o dirigente sindical "propôs uma medida alternativa ao actual pacote de cortes na despesa com serviços e prestações sociais, nos salários dos funcionários públicos e aumento de IVA, incluídos no Orçamento de Estado para 2011: que os accionistas de um grupo específico de empresas aceitassem entregar ao Estado os lucros que recebem durante apenas seis meses. ... ...só esta medida serviria para recolher cerca de 85% do valor que o governo se propõe arrecadar com as medidas incluídas no OE para 2011."
Uma pessoa lê, relê, volta a ler, e tem dificuldade em acreditar. Mas então Carvalho da Silva, com uma longa experiência de sindicalista e de dirigente sindical, doutor por uma prestigiada instituição, ainda ousa lançar uma hipótese digna dos anos 50 do século passado? E essa hipótese abstrusa é depois citada na imprensa de referência, como uma coisa fora de série? Este pobre país está mesmo pelas rua da amargura...
No fim de contas, os tais accionistas entregariam ao Estado 50% do seu rendimento, em virtude de quê? Não é verdade que todos somos iguais perante a lei?  Que nos guiamos pelo princípio "um homem, um voto"? Não é verdade que usamos as mesmas estradas, as mesmas ruas, os mesmos hospitais, os mesmos recintos desportivos, os mesmos parques e as mesmas praias? Então porque raio há uns que são obrigados a entregar 20, 30, 40 ou 50% dos seus rendimentos ao Estado, e outros que nada pagam?! Excluindo, obviamente, as crianças, os estudantes, os velhos, os doentes, os incapazes e os desempregado involuntários,  é evidente que não existe qualquer justificação plausível. Tal como seria injusto confiscar metade dos dividendos aos accionistas, que já pagaram antecipadamente os impostos devidos, recebendo apenas o remanescente.
Nestas condições, é meu entendimento que a estranha sugestão de Carvalho da Silva tem mais a ver com demagogia, inveja, pseudo luta de classes, do que com uma honesta contribuição para a resolução da nossa crónica crise. A qual, infelizmente, só poderá ser ultrapassada quando decidirmos viver apenas e só com aquilo que temos, por pouco que seja. Há séculos que o povo murmura algo parecido com "Quem cabritos vende, e cabras não tem; certamente lixa alguém."
Tudo isto que acabo de alinhar é puro reaccionarismo? Será. E a crise? E a curiosa hipótese avançada por Carvalho da Silva?  Quem viria a beneficiar com a repentina fuga de todos os capitais estrangeiros investidos entre nós, provocada pelo tal confisco de 50%? Os trabalhadores? Ou quem persiste em manipulá-los com ideias demagógicas?

O OPTIMISMO, BILL GATES E A BOFETADA GERMÂNICA

De acordo. O título é algo estrambótico, ou extravagante, caso prefiram por ser mais simples, mas trata-se de vos inculcar a vontade de ler até ao fim.
O meu amigo Hugo Cristóvão acha que sou demasiado pessimista, tipo velho do Restelo, alegando que no fundo as pessoas precisam de quem seja optimista e lhes vá dando alguma esperança. Afinal, por outras palavras, a mesma posição de Luís Ferreira, quando escreveu, aqui há tempos, nunca ter visto um general pessimista ganhar uma batalha. Podia, naturalmente, contrapor-lhes o optimismo patológico do dr. Pangloss, a imortal personagem criada por Voltaire, há mais de dois séculos, em "Cândido ou o optimismo", mas o diabo do livro é bem capaz de ser difícil de encontrar (e até de ler...) por estas bandas, em versão portuguesa. Podia, também, apontar-lhes o conhecido pessimismo de José Mourinho, nas vésperas da partida da selecção nacional para a África do Sul. Onde sucedeu precisamente o que ele previra, de modo pessimista.
Prefiro, todavia, ir pelo lado dos Estados Unidos, citando uma personagem nada optimista, mas tão realista que conseguiu em pouco tempo, partindo da base, chegar o topo, sendo agora um dos homens mais ricos do mundo, e dedicando-se à filantropia. Estou a referir-me a Bill Gates, o ex-CEO da Microsoft e seu principal accionista. Que caminho foi o seu?
Estudante em Harvard, a mais prestigiada universidade mundial, onde só entram os melhores entre os melhores, resolveu abandonar os estudos a meio percurso para seguir a sua paixão -a programação informática. Em poucos anos, conseguiu um sucesso estrondoso, tornando a sua empresa líder mundial no ramo. Pois bem, que diz ele aos jovens que pretendem subir na vida? Isto: "1 - A vida não é nada fácil. Habituem-se a esta ideia. 2 - A sociedade não está nada preocupada com a vossa auto-estima. Espera apenas que façam alguma coisa de útil por ela, antes de vos sentirdes bem perante a vossa consciência. 3 - Vocês não irão ganhar 5 mil dólares  (4 mil euros) mensais logo à saída da universidade. Nem serão directores de uma empresa, com carro à porta e telefone à disposição. Antes têm de conseguir comprar o vosso próprio telefone. 4 - Se acham que os vossos professores são exigentes e chatos, esperem até terem um chefe. Ele nunca terá  pena de vocês. 5 - Vender coisas velhas, ou trabalhar nas férias para arranjar dinheiro, não fará cair os vossos parentes na lama. Os vossos avós têm uma outra expressão para isso. Chamam-lhe oportunidade. 6 - Se fracassarem, não culpem os vossos pais. Os erros foram vocês que os cometeram. Aprendam com eles. 7 - Antes de vocês nascerem, os vossos pais não eram tão críticos e chatos como agora. Só ficaram assim desde que têm de pagar as vossas despesas, lavar-vos a roupa e ouvir-vos dizer que são ridículos, ultrapassados e cavernículas. Antes de reivindicar a salvação do planeta, procurando reparar de alguma maneira os erros da geração dos vossos pais, será melhor começarem por limpar e arrumar os vossos próprios quartos. 8 - A vossa escola eliminou a distinção entre vencedores e vencidos, entre bons alunos e maus alunos. Mas a vida não é nada assim. Na escola vocês chumbam e têm sempre mais uma oportunidade até passarem. Não tem nada a ver com a vida real, cá fora. Se errarem, o patrão não renova o contrato. Portanto, tratem de acertar logo à primeira. 9 - A vida quotidiana não está dividida em perídos, com férias no final de cada um. Fora da escola não vão ter o Verão livre, sendo também pouco provável que os vossos colegas de trabalho ajudem a cumprir as tarefas no final de cada período. 10 - A TV não é a vida real. Na vida de todos os dias, os cidadãos têm de largar o bar ou o café e irem trabalhar arduamente.  11 - Tratem de ser simpáticos com os vossos colegas "marrões", aqueles que vocês geralmente consideram uns cromos. Há uma elevada probabilidade de um dia os virem a ter como patrões ou chefes."
Bill Gates - Uma vida - Traduzido a partir da versão francesa.
Após uma longa citação de um texto "made in USA", fica bem, para contrabalançar, uma referência a um autor português. Neste caso o economista e conselheiro de estado Vítor Bento, com uma grande vantagem para os eternos descrentes, com tendência para exclamar que "Isso não lembra ao careca!". É que Vítor Bento é mesmo careca! Diz ele que, "Apesar de partilharem um desígnio comum, os membros do processo de integração [europeia] não renunciaram às suas próprias funções de preferência social. ... ... ...Assentes nos respectivos percursos e experiências, essas funções consubstanciam uma espécie de contrato social empiricamente entretecido em cada sociedade, fazendo parte do substrato cultural que define a sua identidade. ... ... Assim, apesar do voluntarismo integrador que as foi aproximando, cada sociedade continuou a expressar, na sua via e na gestão política quotidiana, as preferências sociais que lhe são culturalmente mais naturais.
De um lado, a frugalidade, o rigor, a disciplina e a preocupação com a sustentabilidade a longo prazo, tudo caractrísticas da cultura germânica. Do outro lado, o pendor mais hedonista, o "deixa andar", o "depois logo se vê", e a maior elasticidade no cumprimento de regras e compromissos, tudo traços típicos da cultura latina. Pelo meio, algumas variantes destes dois pólos.
(Vitor Bento, O nó cego da economia, página 130. Sublinhado nosso.)
Apenas posições de Vítor Bento, ou de Cavaco Silva através dele, como já foi dito por um comentador aqui no blogue? É possível. Mas então como interpretar a notícia, nos telejornais de ontem, sobre a Auto Europa? Uma grande empresa com operários portugueses treinados por alemães, e um director português idem, idem, anuncia um aumento de salários de 3,9% para todos, precisamente na altura em que o governo aumenta impostos,  corta vencimentos e outras regalias, enquanto os patrões em geral anseiam fazer o mesmo, logo que possam. Não estaremos perante a conhecida bofetada germânica com luva branca? Não será, afinal, uma maneira prática e muito pedagógica de nos transmitir, a nós, latinos empedernidos, a nova versão da velha máxima de Frei Tomás? Em qualquer caso o significado é evidente: Que bem pregam os Frei Tomás! Não liguem ao que eles dizem. Façam com a gente faz!
Estes germânicos perderam a guerra, mas estão a ganhar a Europa. Pelo menos a do norte. A outra, depois logo se vê!