sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A VERDADE INCOMODA SEMPRE...E ENTÃO AGORA!


A julgar pelos comentários aqui chegados, alguns dos quais foram logo dirigidos para o classificador redondo, o post desta manhã aleijou bastante. Pedimos desculpa, mas não era nossa intenção espetar a faca em plena ferida  (infectada, ainda para mais). Ocorreu apenas que as coisas são como são, no nosso entendimento, sendo conveniente deixá-las escritas em tempo útil. Para o que der e vier.
Logo a seguir, lemos esta local, hoje difundida na página 27 do PÚBLICO. Nela podemos constatar três factos importantes: 1 - O turismo industrial no nosso país continua quase totalmente dependente de centros de decisão -os grandes operadores- sediados no estrangeiro, com elevado poder de negociação; 2 - A época áurea do turismo em Portugal, particularmente no Algarve, já foi; 3 - A manifesta falta de elasticidade mental dos empresários hoteleiros (de alguns, pelo menos) faz com que, julgando defender os seus interesses e os do país, estejam na realidade a prejudicar Portugal e a prejudicar-se. Vejamos mais em detalhe.
Só os de fora do mercado turístico real ainda pensam que basta contactar os potenciais clientes através da publicidade, forçosamente descontinuada, devidos aos elevados custos. Os profissionais sabem desde sempre que há, em cada país emissor, dois ou três grandes operadores, com elevados meios para promoção, que controlam todo o mercado, à excepção de alguns nichos minúsculos, explorados por outsiders. Tais operadores conseguem, graças aos seus catálogos, campanhas publicitárias e viagens-brinde oferecidas aos minoristas, fazer e desfazer a tendência em cada estação.
A local supra significa que dois dos maiores operadores mundiais resolveram retirar-se de Portugal, para já durante a estação baixa, com forma de retaliação contra a intransigência negocial dos hoteleiros algarvios. Como é do conhecimento geral no meio turísticos, as "nuitées" algarvias são 20 a 25% mais caras em relação às espanholas, quando a qualidade é igual ou inferior. No que se refere a Marrocos, Tunísia, Senegal, Turquia, é melhor nem falar.
Forçados a reduzir os seus preços habituais entre 10 e 20%, devido à crise persistente, os operadores procuraram repercutir uma parte do que deixaram de ganhar nos preços hoteleiros. Nos outros países, assim aconteceu, com alguns protestos, mais de forma que de conteúdo. Pelo contrário, os hoteleiros algarvios, escudados no seu estatuto de membros da UE e usando da sua tradicional arrogância, recusaram-se até agora a dialogar. Os resultados aí estão. Já perderam os clientes para a época baixa e, obstinados, resolveram avançar pela via judicial, onde podem acontecer duas coisas: ou ganham, mas nunca mais conseguem receber a tal diferença de 5%, ou perdem e limitam-se a pagar as despesas. Em ambos os casos, os operadores só voltarão a comercializar Portugal quando o incidente já estiver esquecido. Será isso que pretendem?
Quanto a Tomar, seria de todo o interesse que os senhores autarcas lessem o texto acima, sobretudo este trecho: "A região algarvia vive, nesta altura, a chamada época alta do golfe -que contribui para atenuar os efeitos da sazonalidade- mas este ano, sublinha, "as coisas estão muito mal". As empresas que se dedicam ao aluguer e gestão de apartamentos e vivendas de turismo, "estão a fechar a porta e a entregar as casas aos proprietários."
Em tão sombrio contexto numa grande região turística como o Algarve, fará algum sentido tentar iludir os eleitores tomarenses com hipotéticos investimentos e grandes projectos hoteleiros e de golfe, designadamente na zona dos Pegões? E que tal descer à terra, regressar à realidade, tentar encontrar soluções para as coisas tal como elas são? Com balelas e mais balelas não vamos longe!
Para os usuais discordantes, que  são sempre bem vindos, desde que não se abriguem atrás dos seus óculos partidários, aqui vai, à guiza de conclusão,  uma frase cruel do humorista Ricardo de Araújo Pereira: "Portugal não é bem um país, é um mau negócio. É demasiado caro para aquilo que oferece." O mesmo se pode dizer de Tomar. E os turistas já há muito que perceberam isso. Os nossos autarcas é que fingem que ainda não entenderam. Dá-lhes jeito!


1 comentário:

Anónimo disse...

A hotelaria portuguesa é,a seguir aos bancos e seguradoras,o sector de actividade que está habituado a um regabofe de lucros e de fuga - "legal" e ilegal - ao fisco.

No caso particular do Algarve, e em relação aos PORTUGUESES,têm uma política autênticamente discriminatória e "xenófoba".

Se praticassem,para os portugueses,as tabelas que praticam para os estrangeiros,teriam uma taxa de ocupação bem diferente.

Merecem bem vir a sofrer dificuldades que só resultam da sua arrogância,pesporrência e desprezo pelos seus compatriotas.

Talvez venham a aprender alguma coisa...Talvez...