Nota prévia
Se não acreditasse que os tomarenses são gente capaz de devolver a esta terra o estatuto que já foi o seu, nunca teria decidido participar neste blogue, ou nas diversas iniciativas para que tenho sido solicitado. Acredito que são capazes, como creio igualmente que já nas próximas eleições (o mais tardar em 2013) a música será bem diferente da habitual em tais circunstâncias. Se assim não acontecer, então sim, deixarei de acreditar nos meus conterrâneos e calar-me-ei sem remédio, em termos de expressão escrita pública. Afinal a minha modesta acção aqui é apenas de dedicação à causa pública e totalmente gratuita para a colectividade.
Aos que me apontam como pessimista militante, quero dizer que não me reconheço nesse estatuto. Prefiro nitidamente o de realista, sempre apoiado em factos, verificáveis por qualquer cidadão interessado. Se a realidade concelhia não é nada alegre, bem pelo contrário, e se não convém a alguns, a culpa não é minha, mas dos que se mantêm sistematicamente impávidos e serenos, porventura esperançados em passar entre os intervalos da chuva. Para depois se armarem em moscas do coche, quando e se as coisas vierem a melhorar de forma substancial. Nunca vi tantos democratas juntos nesta terra, como entre 26 de Abril e 2 de Maio de 1974. É verdade!
UMA TRAGÉDIA COM DATA MARCADA
Vimos nos dois textos anteriores, escritos por estrangeiros imparciais, que a crise económica se vai manter em Portugal durante pelo menos mais cinco anos, com crescimento nulo, ou até recessão, desemprego elevado, ultrapassando os 20% entre os jovens, e mais medidas de austeridade, com novos e obrigatórios apertos de cinto, que poderão passar, por exemplo, pela supressão do 13º mês e pela redução do total de freguesias e de câmaras municipais.
Constatámos igualmente que a generalidade dos portugueses terá de mudar de estilo de vida, não sendo mais possível continuar a viver a crédito, como sucedeu sobretudo até 2008, pois já estão atascados em dívidas até às orelhas.
Neste contexto, a situação da autarquia tomarense, (mesmo abstraindo as manobras neste momento em curso), não augura nada de bom, ou sequer de razoável. Com uma dívida global de 32 milhões de euros, que vai aumentando a cada mês que passa; sem poder recorrer ao crédito bancário, dada a presente crise na obtenção pela banca portuguesa de fundos exteriores; com funcionários em excesso, que custam mensalmente 642.900 euros, ou seja 9 milhões de euros anuais para a totalidade dos vencimentos; a braços com a previsível e acentuada redução de receitas em todas as origens; o município vai ser obrigado a efectuar cortes drásticos na despesa. E quanto mais tarde o fizer, mais gravosos serão esses cortes. Tal como sucedeu agora, devido ao optimismo despropositado de José Sócrates.
Mas o que torna a situação do nosso município particularmente dramática, não é tanto a crise e as suas consequências, que afinal também são sentidas em todos os outros concelhos. O que nos prejudica seriamente é que nem a actual maioria, nem a oposição, dispõem de qualquer projecto táctico ou estratégico, devidamente articulado e adequado à nova conjuntura, que nos indique um caminho, por estreito que seja, para ultrapassar semelhante conjuntura adversa. Mais grave ainda, tal plano não existe, nem os eleitos dão mostras de o saber ou sequer querer fazer.
Recorde-se que na memorável reunião que abordou a questão da funcionalidade do paredão-mijatório, ficou claro que o actual executivo, no seu todo, aprova coisas cujos detalhes ignora algumas vezes, ou até quase sempre. Foi evidente na citada sessão que nenhum dos sete magníficos se deu conta da existência do tal monstro de cimento aquando da aprovação. E isso sucedeu porque nesta terra qualquer um se julga omnicompetente; sabedor de tudo e mais alguma coisa. Não tendo por isso nem o estofo, nem a humildade, nem a franqueza de admitir a sua ignorância e solicitar os esclarecimentos necessários. Credo! Seria um verdadeiro sacrilégio, que desonraria a nobre classe dos eleitos, casta muito acima dos comuns mortais que somos todos os eleitores.
Essa mesma falta de estofo, de humildade e de franqueza, impede-os de admitirem que não têm quaisquer planos, porque não sabem como se fazem nem sequer estão dispostos a aprender. Habituados ao desenrascanço ao longo da vida, ainda não perceberam que a crescente complexização das coisas já não se compadece com improvisos, desenrascanços, jeitinhos, ou outros paninhos quentes.
O que acaba de ser escrito em relação ao executivo vale também -infelizmente- para todos os membros da Assembleia Municipal, conforme veio confirmar a recente sessão extraordinária. Gastar duas horas e quarenta, trinta e duas intervenções e cinco mil euros, para tudo continuar exactamente na mesma; não se ter logrado sequer uma única intervenção indicando um possível caminho; só mesmo aqui em Tomar. Onde a mentalidade dominante até produziu um recente comentário neste blogue, em que o seu autor se queixa de que nunca falamos dos problemas dos jovens. Mas de que estará ele à espera para o fazer? Nunca terá ouvido dizer que "Quem tem boca não manda soprar"? Ou julga-se ainda no tempo dos senhores e dos servos?
Triste idiossincrasia a nossa...
3 comentários:
Permita-me a sugestão deste tema para análise do Prof.Rebelo e Dr.Sergio Martins, interessante, até porque é contra-corrente actual.
Há afinal outras soluções
http://economico.sapo.pt/noticias/empresarios-querem-descontar-apenas-3-para-a-seguranca-social_102714
.html
Alice Marques
Minha cara Alice Marques felicito-a pela sua iniciativa.
Há sempre soluções. É preciso é procurá-las e trabalhá-las. Como diz um texto sagrado:"Procura que encontrarás".
Os empresários portugueses, como todos os portugueses, têm tendência a ver a àrvore e nunca a floresta.
Economistas e empresários propõem no estudo que se diminua a Taxa Social Única (TSU), paga pelas empresas, dos 23,75 para 3,75%.
Repare no que eles dizem: esta redução drástica dos custos do trabalho em 20% equivalem "a uma desvalorização cambial na ordem dos 15%".
O binómio dominante em Portugal é sempre ou baixos salários ou desvalorização cambial. Quanto à melhoria da productiviade e da competitividade pelo progresso tecnológico e pela organização das empresas e da sociedade os portugueses dizem nada.
O regime salazarista viveu dos baixos salários, mas criou um sistema de Segurança Social, que a democracia quer destruír. A partir de 1977 entrou-se no sistema de desvalorização cambial deslizante, como forma - transitória - de manter os nossos produtos competitivos, só que, o transitório passou a definitivo, como é hábito entre nós. Em 1990, aquando da decisão de se avançar para a moeda única europeia, a Ordem dos Economistas avisou que esta impunha um câmbio fixo, sem desvalorização, o que seria dramático para a economia portuguesa, assente em produtos tradicionais, que sem desvalorização não seriam competitivos. A partir daí reforçou-se a ideia: como não se pode desvalorizar a moeda desvalorizam-se os custos do trabalho. Melhorias de produtividade, organização e competitividade, nada.
O estudo que propõe as medidas de redução da TSU aponta para o modelo dinamarquês. Mas repare. Enquanto em Portugal se fala de Taxa Social ÚNICA, na Dinamarca a Taxa Social é adoptada aos sectores. Como diz o estudo, os jornais, o imobiliário, a saúde e serviços bancários estão isentos de IVA, ficando as empresas que os produzem sujeitas a uma Taxa Social (TS) mais elevada. Ou seja a TS não é ÚNICA, como o é para os rígidos portugueses. Depois, a TS liga-se com o IVA, como em muitos países da Europa, onde existe o IVA social que contribui para o sistema se Segurança Social, como na Alemanha. Só que, este sistema exige uma reestruturação total do sitema fiscal português, do Ministério das Finanças, da Função Pública (com despedimentos em massa), e da mentalidade dos empresários e da população portuguesa. Passar a TSU de 23,75% para 3,75% sem alterar todo o modo de vida nacional é reptir o passado.
Ser civilizado e estar entre os países desenvolvidos exige maturidade, uma coisa que os portugueses não têm.
Sempre à sua disposição.Cumprimentos.
SÉRGIO MARTINS
Para Alice Marques - 2.
Depois de ter escrito o cometário anterior li, no espaço de poucos minutos (ver horas dos comentários), duas informações internacionais que me chegaram dos meus contactos.
1 - sobre a humilhação Britânica;
2 - sobre a contra-revolução francesa.
Ambos são apresEntados como alternativa ao modelo social europeu.
No Reino Unido vão ser despedidos meio milhão de Funcionários Públicos, o que induzirá ao despedimento de mais meio milhão de trabalhadore no privado. Tudo para aquele país manter o crédito internacional, o nível das taxas de juro e da taxa de cãmbio.
Em França hoje vive-se o princípio do prazer, e o mOdelo francês serve de inspiração para toda a Europa.
Em Portugal, O Governo e o PSD não chegaram a acordo sobre o Orçamento de EStado. Aparentemente. Mas, provávelmente já chegaram a acordo sobre os PEC para os próximos anos, que terão de ser dolorosos.
Como já o escrevi. Primeiro amansar os espanhóis. Depois deixar passar a agitação em França e as presidenciais para a presidência da República em Portugal. Por fim, dar aos portugueses aquilo que eles mais gostam, sofrimento.
Quanto ao modelo escandinávo. Aquilo é outro mundo. E como já escrevi, deve-se muito à forte presença do nazismo nas sociedades escandinavas, o que assusta os liberais, democratas e outros mais.
Cumprimentos.
SÉRGIO MARTINS
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