UMA EXCURSÃO À GALIZA?

Segundo o nosso prezado conterrâneo António Freitas, jornalista e alviobeirense/tomarense, apaixonado pela vida e pela sua terra, haverá uma luzida representação nabantina na próxima EXPOGALAECIA, a realizar em Vigo-Espanha, de 29 de Outubro a 1 de Novembro. Sexta, Sábado, Domingo, e o feriado de Todos os Santos. Sabem-na toda, os nossos amigos galegos. De acordo com a mesma fonte, o objectivo tomarense é a promoção da edição 2011 da Festa dos Tabuleiros. Em tempos de cada vez mais acentuada penúria, estamos assim perante um típico caso de tautologia. Promover a Festa Grande para quê? -Para promover a cidade. Mas promover a cidade para quê? -Para promover a Festa. E nunca mais saímos deste círculo vicioso. Mas é pena, lá isso é!

Lendo atentamente o cartaz, dois detalhes saltam à vista: A - "Salón de Turismo, Gastronomia y Artesania de Galícia y Norte de Portugal" (negrito e cor azul da autoria de tomaradianteira). Agora Tomar também passou a estar integrada na região norte de Portugal? B - "...le proporcionará numerosas ventajas a expositores y visitantes profesionales." Que vão os ocasionais amadores tomarenses fazer para um ambiente de profissionais? Que vão os tomarenses oferecer como hipótese de negócio, uma vez que, segundo o programa acima, "Se harán intercambios comerciales que generarán negocios entre los professionales de los sectores presentes en la feria."?  A Festa dos Tabuleiros? Mas que interesse poderá ter para os operadores turísticos, os fabricantes de pacotes TI, os agentes de viagens ou os transportistas, uma manifestação ocasional que se realiza apenas de 4 em 4 anos, e em data incerta? Os profissionais de turismo trabalham todos os dias, todas as semanas, todos os meses, para honrar os encargos que têm. Para eles só interessam hipóteses de negócio que sejam no mínimo anuais e em data fixa, de forma a integrá-las na respectiva programação sazonal, consoante as características e  a data do evento. Tal como tem vindo a ser organizada, a Festa Grande de Tomar apenas interessa, fora do concelho e da comunidade tomarense da saudade, a turistas em regime livre e, num ou noutro caso, a grupos excursionistas organizados por amadores. Em termos de turismo indusrial é irrelevante e sem qualquer interesse.

Os tomarensistas, pouco ou nada viajados, apaixonados pela sua terra e pela sua Festa Grande, tem todas as dificuldades deste mundo para entender que as coisas mudaram. Já não são o que eram. E nunca mais voltarão a ser. Cada comboio só passa uma vez em cada estação. Houve um tempo em que os Tabuleiros eram um cortejo de oferendas, a pretexto da pagã e ultrapassada festa das colheitas, visando matar a fome aos mais pobres, enquanto se procurava implicitamente inculcar na comunidade o mito do 5º Império, o Império do Espírito Santo, com fartura gratuita para todos. O Jones transformou-a num monumental "beija-mão" a autarcas nomeados pelo regime ditatorial, portanto não legitimados pelo voto popular.

Hoje em dia, nem cortejo de oferendas, nem 5º Império, nem "beija-mão" de que os autarcas já não necessitam, dado que ungidos pelo sufrágio livre, directo e universal. Promoção da cidade e do concelho? Mas promoção de quê, quando, para quem e para quê?

Que fazer então? Ousar, antes mais nada, adaptar-se ao tempo em que se vive. Tal como já não há ninguém no concelho que ande, em tempo normal, de barrete na cabeça ou botas cardadas, também os nossos recursos, entre os quais avulta a Festa dos Tabuleiros, devem ser actualizados, afinal a melhor (e a única?) maneira de os preservar. Como? Isso já é assunto para outra altura e noutro local. As ideias estão cada vez mais caras no mercado da promoção... pelo que, quem realmente as sabe gerar, guarda-as para os momentos considerados mais oportunos. Entretanto, que viva a festa no seu modelo organizativo actual! Enquanto houver dinheiro cdos contribuintes para a fazer, claro! Como dizia o meu avô, no século passado, "A Ordem é rica e os frades são poucos". Ainda será o caso?