sábado, 16 de outubro de 2010

A ARGENTINA, PORTUGAL E TOMAR

Já aqui foram apresentados diversos textos sobre a crise a nível nacional, aos quais bastava mudar as designações e cargos para obter textos sobre a realidade tomarense. Hoje vamos ainda mais longe. Trata-se de ir mudando os locais e os dirigentes, para transitar do caso argentino ao português, e deste ao tomarense. Tudo numa linguagem simples, ao alcance de todos.
Álvaro dos Santos Pereira, nascido em Viseu, em 1972, é doutorado em economia e professor da mesma disciplina na Universidade Simon Fraser, em Vancouver, no Canadá. Na Revista NS, inserida no DN de hoje, publicou um curto e excelente artigo, tendo por título "Portugal será uma Argentina?". Eis a sua transcrição integral, com a devida vénia e os nossos agradecimentos, ao autor e ao DN.
"Um dos exemplos da economia mais paradigmáticos dos erros e dos excessos da política éconómica, é-nos dado pela Argentina, no século XX.
Nas primeiras décadas desse século, o país experimentou um forte crescimento económico, sendo encarado como um verdadeiro caso de sucesso.. No entanto, contrariamente ao previsto, todo esse sucesso foi arruinado nos anos seguintes por uma série de más políticas, que condenaram o país a décadas de desempenho económico medíocre. As coisas começaram a descambar nos anos 30, quando o mundo viveu sob a Grande Depressão. Como a Argentina era um país exportador, o proteccionismo desse período desferiu um rude golpe na sua economia. Porém, apesar de alguma volatilidade, as coisas não estavam a correr mal, até que o popular e populista Juan Perón chegou ao poder. Perón apresentou-se como um grande modernizador, um líder que levaria o país definitivamente para o seio das nações desenvolvidas. Como? Investindo em infra-estruturas, aumentando a carga fiscal dos malvados dos empresários e dos agricultores, melhorando os salários dos trabalhadores e promovendo uma política de investimentos em sectores campeões nacionais.
As consequências de tais políticas foram desastrosas. Os défices orçamentais acumularam-se, a dívida pública explodiu e a competitividade da economia foi arruinada.
A Argentina nunca mais recuperou. Ainda hoje, várias décadas depois, a Argentina sofre por causa das más políticas de Perón.
Nós também já temos o nosso Juan Perón. Esperemos é que não venhamos a sofrer o mesmo destino da Argentina."

Não é preciso grande esforço mental para perceber a que Juan Perón se refere Álvaro Pereira. Em relação a Tomar, uma vez que, quase de certeza, nem nunca ouviu falar de nós, não seria capaz de mencionar os três grandes líderes locais, solidariamente responsáveis pela nossa triste sina actual. Mas os tomarenses sabem bem de quem estamos a falar. De Pedro Marques que, sem experiência política prévia, se deixou deslumbrar pelo poder e pelas suas facilidades, tendo dado início aos aumentos da água e das taxas locais, ao mesmo tempo que alargou muito consideravelmente o quadro de dirigentes autárquicos intermédios, que só a crescente burocracia justificava, como agora é consensual. Do seu sucessor António Paiva, grande entusiasta dos fundos comunitários para obras de duvidosa ou mesmo nula utilidade, que agora temos de pagar com língua de palmo. De Corvêlo de Sousa, que continua a guiar-se pela "cartilha Paiva", recusando-se a entender que a envolvência económica internacional, nacional e local mudou totalmente, da relativa fartura para a absoluta penúria. 
Onde iremos parar? Depende dos tomarenses, pois uma coisa é certa -Quanto mais tempo durar a actual maioria, mais grave será a nossa situação económica e social. E mais difícil será implementar soluções tendentes a inverter o nefasto rumo da cidade e do concelho. Basta pensar naquilo que acaba de suceder a nível nacional.
Se Sócrates não fosse tão obstinado, as adequadas medidas de austeridade teriam sido impostas em Maio passado. Como nada foi feito, devido à doentia teimosia do primeiro-ministro, aí as temos, menos de seis meses decorridos, mas muito mais gravosas do que teriam sido então. E, de qualquer forma, insuficientes, pois excepto o governo e os seus apoiantes, ninguém está a ver como será possível algum crescimento económico com tais medidas nitidamente recessivas. E sem crescimento económico, ou aumenta o défice, ou aumentam os impostos, ou ambos. Desgraçadamente.

13 comentários:

Anónimo disse...

Não esquecer que a Argentina foi um dos maiores fracassos da "ajuda" do FMI, originando uma catástrofe social gigantesca. Ainda hoje os argentinos evitam falar desse período. Portugal foi dos poucos casos de sucesso rapido, nos anos 80,do FMI. Os economistas não o dizem, mas por corporativismo.
O nosso Peron chama-se Cavaco (o da nova economia e dos novos empresários) e deixou umas imitações.
Localmente, parece certo os cavaquitos que indicou.
Pedro Miguel

Anónimo disse...

Não esqueçam os 48 anos de salazarismo que,pela falta de liberdade,pela mentira,pela opressão,pela violência,tornaram os portugueses meio-acéfalos,conformados,contemplativos,inertes...

Leiam a carta aberta do Capitão Henrique Galvão a Salazar(editora Esfera do Caos - 2010)e compreenderão melhor muitos fenómenos e vergonhas do Portugal de hoje.

Infelizmente,o problema é mais sério e mais profundo do que uma mera extrapolação da situação da Argentina para Portugal e para Tomar.

Acreditem!

Ou melhor,leiam,pensem e actuem!

Anónimo disse...

O Miguel Relvas disse nas televisões, a propósito do Orçamento do Estado para 2011, que o povo ia passar fome. Muito bem, está dentro do sonho dos portugueses: ser enganado, viver mal e passar fome.
Hoje, na Rádio Renascença, a deputada pelo PSD, Maria José Nogueira Pinto, disse que o Sócrates mentiu aos portugueses, e que o Passos Coelho ainda não teve a sua oportunidade de mentir. É esta a democracia. Como disse o Churchill: um político que não minta é irresponsável.
Que venha o FMI, para cortar nos subsídios, na ajuda aos mais desfavorecidos, e que enriqueça os mais ricos... estrangeiros.
Portugal será pior que a Argentina, a Grécia e outros.
Padeira de Aljubarrota

Anónimo disse...

Pergunto a mim mesmo o que é que o Salazar tem a ver com a situação actual de Tomar e o caso do assalto ao Santa Maria? Andam a ver filmes a mais e a fazer menos....como de costume. Pensem um bocadinho antes de alvitrar disparates.
O Polvo do Nabão!

Anónimo disse...

Tomar está desgraçadamente sem rumo. Primeiro foi o Amandio Murta, depois foi o Pedro Marques; a seguir veio o Paiva e por último caíu-nos o Corvelo. Azar dos azares.
O primeiro andou perdido. O segundo andou a amanhar-se. O terceiro tentou destruir a identidade tomarense. O actual persegue apenas o caminho que o há-de conduzir à REFORMA. Em qualquer dos casos são gente sem vergonha.
Será que Tomar merece melhor?
Onde estão os tomarenses?
Os presidentes que tivemos no pós 25 de Abril não foram lá colocados pelos tomarenses?
Os tomarenses queixam-se?
Os tomarenses estão preocupados com o encerramento do mercado?
Os tomarenses estão preocupados com aquele monstro contemporâneo conhecido por MIJADOURO?
Se o PSD e o PS não têm respostas, onde estão as respostas dos IpT?
A última Assembleia Municipal foi confrangedora quanto à ausência de políticos com dimensão naquele órgão. E esta análise é transversal a todas as forças políticas que lá se encontram representadas.

Anónimo disse...

Não é de admirar que a ultima Assembleia tenha sido má: os melhores tribunos que por lá passaram nos últimos anos saíram: Bruno e Trincão para casa e Graça e Ferreira para a câmara.

Anónimo disse...

Para o Polvo do Nabão :

Tenha sempre bem presente que a ignorância,além de má conselheira,é arrogante.

A relação entre Salazar e Henrique Galvão é muito,mas muito mais do que o episódio do Santa Maria.

Modere-se e,sensatamente,não fale sobre o que não sabe e desconhece de todo.

Pocure informar-se,conhecer a história contemporânea e depois,fundamentadamente,com humildade,dê a sua opinião.

Entendidos?

Anónimo disse...

Para o anónimo das 00h e 4m. Continuo a perguntar O que é o que o Cmdte Henrinque Galvão e o Prof. Salazar têm a ver com Tomar? Se é um douto esclarecido porque não me esclareçe a mim e aos sequiosos leitores. Gostariamos pois de saber dado que tudo se esconde e a responsabilidade ainda mais.Se é o tal "douto sabedor" como se afirma, acho que aqui é uma excelente oportunidade para o fazer. Aceita o desafio? Que me diz? Explique. Quanto a ignorância a minha é grande mas a sua penso que será muito maior!
A Bem da Nação!
O Polvo do Nabão!

Anónimo disse...

AlHENRIQUE GALVÃO [1895-1970] nasceu no Barreiro, concluiu estudos na Escola Politécnica, seguiu a carreira militar. Foi apoiante de Sidónio Pais, participou como cadete no golpe de 28 de Maio de 1926, venerou Oliveira Salazar ("Ninguém conhece melhor o amo que o seu criado de quarto", disse um dia], teve cargos públicos (direcção da Emissora Nacional, foi responsável pela secção colonial da Exposição do Mundo Português em 1940) participa e organiza a Administração das Colónias [foi em 1934 deputado por Angola, depois governador de Huíla e Inspector da Adm. Colonial] - foi escritor com uma vasta bibliografia, tendo deixado alguns dos mais belos livros sobre a vida colonial, a fauna, a zoologia e a caça africana [veja-se, p. ex. o incontornável "Ronda de África, Outras Terras, Outras Gentes, Viagens em Moçambique", II vols; e o "Da Vida e da Morte dos Bichos", V vols].

Afasta-se da ditadura salazarista (a questão em torno dos Estatuto dos Indígenas é crucial), aparece apoiando a candidatura presidencial de Quintão Meireles, conspira nos anos 50 contra o Salazar [surge relacionado com uma presumida insurreição ou intentona contra a ditadura, denominada Intentona da Rua da Assunção, em 1952 – cf. A História da PIDE, Irene Pimentel, pp. 224-227] e é por isso preso pela PIDE e, consequentemente, expulso do exército. Por várias vezes detido nas cadeias Salazaristas, em 1959 consegue uma fuga espectacular do Hospital de Santa Maria (onde se encontrava hospitalizado e vigiado pela PIDE, por transferência da cadeia de Peniche), tendo-se refugiado, posteriormente, na embaixada da Argentina (12 de Maio), seguindo depois para a Venezuela.

É então (1959) que publica uma "Carta Aberta a Salazar", que é, de facto, uma apreciação brilhante, invulgarmente sarcástica e poderosa sobre o ditador e o Estado Novo, edição essa rapidamente apreendida pela PIDE, mesmo após várias tentativas de circulação. Ao que parece saiu uma edição via Venezuela (1960), mas os exemplares da edição coeva são hoje muito raros.

Henrique Galvão continua a sua luta, radicaliza-se, aparece em 1961 como principal instigador do assalto conseguido [levado a cabo pela DRIL, de que fazia parte, tb, Jorge Sottomayor] ao paquete Santa Maria [denominado logo por “Santa Liberdade” - ver AQUI], combate que fazia parte da "Operação Dulcineia" contra o regime (via tomada de Luanda), depois é co-organizador da "Operação Vagô”, de que fez parte o desvio do avião da TAP que vinha de Casablanca. Torna-se, portanto, uma figura de destaque na luta anti-fascista em Portugal, marcando novos caminhos e acções de luta contra a ditadura. Morre em 1970, em São Paulo (Brasil), só e muito desamparado de Portugal e pelos portugueses.

Aliás caro senhor intelectual de meia tigela aqui lhe deixo a relação que agora se compreende mas não se vê a sua relação a Tomar. Ou é o unico a ver uma relação. Será que nos considerava indigenas? Seria isso? Como vê, não é o unico a estudar e gostaria que comprovasse o seu aviltante disparate. E noto o seu apelar À violência militante, e isso chegou a algum lado? Obviamente que não, como o obviamente demito-o.
O sr. devia ler era a História de Portugal, mas ao longo dos séculos e logo compreenderia. Que tal a História dos Municipios e Poder Local, já a leu? Creio que não, mas ai de mim querer ultrapassar a sua tão douta inteligencia por tão burro que sou.
Aprenda!
O Polvo do Nabão!

Anónimo disse...

Para o Polvo do Nabão :

Acalme-se...que não sou,nem pretendo ser "douto" em nada!

Sou um cidadão comum,interessado em observar e compreender a realidade que o rodeia,mas que nunca julga ou classifica os outros nos modos e termos com que me alvejou.

Não me conhece,não percebeu o sentido do meu post mas,autoconvencido não sei de quê,vai de "disparar" forte e feio.

Que culpa tenho eu que não seja capaz de enxergar que se pode ler a realidade actual à luz de relidades históricas anteriores e verificar como certas situações "se repetem" em enquadramentos diferentes?

Que culpa tenho eu que pense que a corja que nos suga não tem paralelo em situações históricas passadas,quase que reproduzidas por decalque?

Que culpa tenho eu que você não tenha lido,nem mostre qualquer interesse em ler a Carta Aberta do Capitão(e não Cmdte) Henrique Galvão a Salazar?

Ou estará à espera que eu lhe reproduza a obra aqui?

Tenha paciência,mas há muito tempo que deixei de dar pérolas a recos...e de aturar insolências de videntes de filmes com alvitrantes disparates...

Preocupe-se em percerber as "coisas" e,SOBRETUDO,o porquê das "coisas".

Entendidos?

Anónimo disse...

Por acaso já a li. E continuo a não vislumbrar nada que relacione com Tomar. O que eu penso que pretende dizer é que hoje em dia estamos no mesmo patamar de sociedade subjugada e explorada, mas por outras correntes politico económicas. Se é isso que pretende dizer, totalmente de acordo. Com o caso de Tomar sobre o assunto a unica coisa que se pode dizer é que se encontra, como todas as outras cidades, concelhos e freguesias, no aviltrante estado de futura penuria, ambiguidade, e instabilidade, que caracterizou a vida das pessoas comuns desse tempo.
Vidente não, visionário. Envio-lhe aqui parte da carta.
Entendido? Passe bem.
O Polvo do Nabão!
Tem aqui a biografia do sujeito do qual é un fã incontestado.~

HENRIQUE GALVÃO [1895-1970] nasceu no Barreiro, concluiu estudos na Escola Politécnica, seguiu a carreira militar. Foi apoiante de Sidónio Pais, participou como cadete no golpe de 28 de Maio de 1926, venerou Oliveira Salazar ("Ninguém conhece melhor o amo que o seu criado de quarto", disse um dia], teve cargos públicos (direcção da Emissora Nacional, foi responsável pela secção colonial da Exposição do Mundo Português em 1940) participa e organiza a Administração das Colónias [foi em 1934 deputado por Angola, depois governador de Huíla e Inspector da Adm. Colonial] - foi escritor com uma vasta bibliografia, tendo deixado alguns dos mais belos livros sobre a vida colonial, a fauna, a zoologia e a caça africana [veja-se, p. ex. o incontornável "Ronda de África, Outras Terras, Outras Gentes, Viagens em Moçambique", II vols; e o "Da Vida e da Morte dos Bichos", V vols].

Afasta-se da ditadura salazarista (a questão em torno dos Estatuto dos Indígenas é crucial), aparece apoiando a candidatura presidencial de Quintão Meireles, conspira nos anos 50 contra o Salazar [surge relacionado com uma presumida insurreição ou intentona contra a ditadura, denominada Intentona da Rua da Assunção, em 1952 – cf. A História da PIDE, Irene Pimentel, pp. 224-227] e é por isso preso pela PIDE e, consequentemente, expulso do exército. Por várias vezes detido nas cadeias Salazaristas, em 1959 consegue uma fuga espectacular do Hospital de Santa Maria (onde se encontrava hospitalizado e vigiado pela PIDE, por transferência da cadeia de Peniche), tendo-se refugiado, posteriormente, na embaixada da Argentina (12 de Maio), seguindo depois para a Venezuela.

É então (1959) que publica uma "Carta Aberta a Salazar", que é, de facto, uma apreciação brilhante, invulgarmente sarcástica e poderosa sobre o ditador e o Estado Novo, edição essa rapidamente apreendida pela PIDE, mesmo após várias tentativas de circulação. Ao que parece saiu uma edição via Venezuela (1960), mas os exemplares da edição coeva são hoje muito raros.

Henrique Galvão continua a sua luta, radicaliza-se, aparece em 1961 como principal instigador do assalto conseguido [levado a cabo pela DRIL, de que fazia parte, tb, Jorge Sottomayor] ao paquete Santa Maria [denominado logo por “Santa Liberdade” - ver AQUI], combate que fazia parte da "Operação Dulcineia" contra o regime (via tomada de Luanda), depois é co-organizador da "Operação Vagô”, de que fez parte o desvio do avião da TAP que vinha de Casablanca. Torna-se, portanto, uma figura de destaque na luta anti-fascista em Portugal, marcando novos caminhos e acções de luta contra a ditadura. Morre em 1970, em São Paulo (Brasil), só e muito desamparado de Portugal e pelos portugueses.

O que é que isto tem a ver com Tomar?

Anónimo disse...

Foi pena o comentador do blogue não ter colocado o meu comentário com a carta de Henrique Galvão para todos nos continuarmos a perguntar qual a razão deste personagem e do Prof. Salazar terem uma relação com Tomar.
Pelo lado de Salazar ainda via o General Oliveira que muito fez pelo Concelho, sobre Henrique Galvão desconheço. Será que deixou uma barcaça no rio?

O Polvo do Nabão!

Anónimo disse...

REPITO,para o Polvo do Nabão :


Dar pérolas a recos?

Huga-se!!

Era o que mais me faltava...