quarta-feira, 30 de junho de 2010

A PERSISTENTE E DOCE EUFORIA


O que mais me surpreendeu, ao retornar às margens do Nabão, foi a persistência de uma espécie de doce euforia, bem como a insistência em obras de tipo invertebrado e incongruente. Indo por partes.
Quando por essa Europa fora o clima económico é cada vez mais pesado, e a nível nacional o pessimismo dos cidadãos não cessa de crescer, aqui pela terra nabantina parece ir tudo bem, muito obrigado. Animação gratuita, festas para todos os gostos, cerimónias peculiares no municipal cine-teatro, espectáculos todos os fins de semana na Praça da República, até meados de Setembro, etc. etc. Quem está a ver mal, no fim de contas? Os pessimistas, que têm o péssimo hábito de olhar para o futuro, tendo em conta o passado? Ou os optimistas por conveniência pessoal, que insistem em gastar o que não têm, suputando que alguém há-de vir a pagar?
Nos idos do império romano, era norma entreter a população, dando-lhe pão e circo. Vinte séculos mais tarde, pelo menos em Tomar, estamos cada vez mais virados em exclusivo para o circo. Um circo onde ainda por cima todos os palhaços se julgam ricos, só porque administram parte dos impostos dos involuntários espectadores e financiadores.
Outra faceta curiosa são as obras esparsas adjudicadas pela autarquia, sem que alguém saiba de ciência certa porque foram decididas ou para que vão servir. Basta quedar-se um bocado ali pela Rotunda Alves Redol. Desde o 25 de Abril, já vamos na terceira série de emissários de esgoto, na quarta versão da rotunda e no terceiro arranjo à volta da Casa dos Cubos. E tudo indica que não vamos ficar por aqui. Pois se ainda se continua sem saber para que vai servir o já célebre paredão-mijatório, será preciso dizer mais?
Entretanto, foram adjudicadas as obras do arranjo exterior do Convento de Cristo, que para além de novas casas de banho, recepção e pavimentação do actual parque de estacionamento, não me parece que se possam recomendar. Desde logo porque não fazem parte de qualquer plano previamente elaborado, que defina a sua utilidade presente e futura. Além disso, falava-se, na primeira versão a que tive acesso, em + dez lugares para autocarros e + 32 lugares para ligeiros, o que já era bem acanhado, nos tempos que correm. Mas o pior ainda estava para acontecer. A versão que vai ser mesmo implementada apenas contempla 6 ou 7 lugares para autocarros e 21 lugares para ligeiros. Como estrutura de acolhimento de uma monumento Património da Humanidade, quem projectou e quem aprovou uma coisa assim está, (sem se dar conta?), a brincar com a realidade e a reinar com os eleitores.
Como se tudo isto não fosse já demasiada asneira junta, a presente maioria de circunstância continua a fazer finca-pé no Museu da Levada, um biscatezito para 9 milhões de euros, assim à primeira vista. O Museu da Cortiça da Fábrica do Inglês (ver ilustração supra), no Algarve, custou 12 milhões, teve uma média de 90 mil visitantes por ano, e mesmo assim faliu. Talvez não fosse má ideia estudar devidamente este caso, em vez de insistir em nova descoberta do caminho marítimo para a Índia... A história é sempre impiedosa para com os simplórios.

HÁ DIZER POR DIZER, HÁ DIZER E FAZER...

De novo na terra-mãe, lemos estes dois excertos, que não resistimos a transcrever. Conseguirão os nossos leitores identificar os respectivos autores? Damos uma pequena ajuda: Ambos são grandes admiradores de Tomar. Um proclama esse facto sempre que lhe dá jeito; o outro nunca o menciona, por ser discreto e sincero. Eis os referidos trechos:

"Não basta proclamar "lugares-comuns" nem repetir à exaustão a lista de remédios que já todos conhecemos. Se a isto não adicionarmos determinação e coragem na realização de reformas estruturais, nada do que é necessário fazer será efectivamente feito.
É um facto que há muito trabalho pela frente, que os enunciados são grandes e os cadernos de encargos pesados. Mas há acima de tudo que olhar para a realidade e para a atitude de cada um de nós, não apenas sob o prisma da lista programática, mas sob a lente de um conjunto de valores e de princípios, que nos anos mais recentes estiveram ausentes na política portuguesa. Sem esses valores de exigência, de seriedade e de rigor, nenhum caderno de encargos poderá ser cumprido com a eficácia que a situação exige e os cidadãos merecem."

Excelente, não é verdade? Agora só falta passar à prática...

"O governo vai ter que diminuir os vencimentos e o número de funcionários públicos, o montante de todas as pensões, os orçamentos de muitos organismos públicos e o número destes organismos; vai ter que cortar drasticamente nas consultorias técnicas que faz no exterior; e no número de gabinetes, de assessores, de adjuntos, que são centenas ou milhares de pessoas. Vai ter de cortar muito profundamente."

Não está mesmo a ver quem são os autores de tais afirmações? Então, para não sermos acusados de algum sadismo, aqui vai. Este último, que anuncia como inevitáveis as piores catástrofes para todos os que dependem dos dinheiros públicos, é o reputado sociólogo, formado em Genebra e antigo ministro da agricultura, o socialista António Barreto. O outro, pleno de coragem e de boas intenções é o grande amigo de Tomar Miguel Relvas, ex-(?) treinador e conselheiro principal do executivo tomarense. Quem diria, hã?

FINALMENTE O RECOMEÇO! QUE ESTOPADA PARA ALGUNS!!

Ultrapassado o diferendo com a PT (que durou só 9 dias!), façam o favor de abrir alas. Sem tambores nem trombetas, de pantufas, para os que pensam que somos demasiado brandos; de tamancos, para quem proclama que só sabemos demolir; regressa Tomar a dianteira. Devidamente arejado, que aquilo na Estação do Oriente é cá uma ventania...
E começamos por apresentar o nosso relatório de viagem. Cinco noites em Roma, quatro em Nápoles. Aqui, o clássico bilhete postal romano: o Coliseu, visto a partir da Via dos Fóruns Imperiais. Nenhuma relação, mesmo vaga, com aquela encrenca nas traseiras dos bombeiros...

Ir a Roma e não ver o Papa, dizem ser uma heresia. Não tivemos essa sorte. Mas percorremos a Praça de S. Pedro, aproveitando para visitar a Basílica. No dia seguinte, logo às 7 da manhã, fila para visitar os museus vaticanos e a Capela Sistina. Duas horas de espera e 15 euros depois, conseguimos entrar. Valeu a pena!
Seguiram-se S. João de Latrão, Castelo de Santo Ângelo, Fonte de Trevi, Praça de Espanha, Tivoli, Vila Adriana, Vila d'Este, Via Ápia, Catacumbas e Óstia Antiga. Tudo por conta própria, de metro, de autocarro... Na foto, um dos 400 guardas suiços do Vaticano, com farda desenhada por Miguel Ângelo.

Após 75 minutos de TGV (Freccia Rossa), descemos em Nápoles. Visitas ao Vesúvio, a Pompeia, a Herculano, a Paestum e a Ischia. Come-se bem e não é nada caro. Há lixo aos montes, mas nem sombra de insegurança. Mesmo à noite. A composição fotográfica é deles.

Aqui temos a cratera do Vesúvio, cuja lava cobriu Pompeia e Herculano no ano 73 da nossa era. A foto foi tirada de helicóptero e não é da autoria de Tomar a dianteira.

Outro tanto acontece com esta fonte priápica, primitivamente no jardim da Casa dos Vetti, em Pompeia, actualmente num dos museus de Nápoles. Exactamente! Quem tinha sede, bebia por onde você está a pensar. Outros tempos... Ou nem tanto?

terça-feira, 29 de junho de 2010

ESCLARECIMENTO E APELO AOS LEITORES DE TOMAR A DIANTEIRA

No regresso da digressão por terras transalpinas, verificou-se que Tomar a dianteira deixara de ter telefone fixo e ligação internet, na sequência de actuações que reputamos comercialmente pouco ortodoxas por parte da PT. Apesar de inumeráveis contactos telefónicos, com reclamações, pedidos de esclarecimento e solicitações de nova ligação, ou restabelecimento da anterior, nove dias mais tarde ainda continuamos a aguardar. Na Europa Ocidental e em 2010!
Já temos linha telefónica (com novo número), mas quanto a internet, nicles! Como não padecemos de paranóia, nem acreditamos em bruxas, vamos limitar-nos a dizer que nos parece algo bizarra esta longa expectativa. Se alguém da honorável PT nos ler, vejam lá se nos podem dar uma mãozinha!
Apresentamos a nossas desculpas aos que habitualmente nos seguem, pedindo-lhes paciência. Afinal, não será por mero caso que tanto o país como a cidade estão como estão. Tal como graças a este imbróglio conseguimos compreender o que leva a espanhola Telefónica a oferecer soma choruda para se ver livre da PT na brasileira VIVO. Realmente, com parceiros mentalmente coxos, nunca se conseguirá ir muito longe. 10 dias para restabelecer uma ligação à internet, indevidamente suprimida, mostram cruamente como é e como trabalha a principal operadora portuguesa de rede fixa. É o que temos.

António Rebelo

sábado, 12 de junho de 2010

DE ABALADA PARA VER MUNDO E AREJAR IDEIAS

Após o mercado de sexta-feira. Nota-se que há crise. Não se deve vender quase nada. Os papéis, cabides e embalagens deixados pelo chão fora são apenas uma manifestação de protesto contra o facto de a Câmara não poder cobrar taxas por desleixo. Pretende um honrado comerciante cumprir as suas obrigações cívicas e não o deixam! Já viram isto?!

Mais uma vez de abalada; mais uma vez para terras transalpinas, divididas em fatias, para mais fácil digestão cerebral. Após Veneza, Vicenza, Verona e Pádua; Florença, Siena, S. Gimignano, Pisa e Assis. Agora vai ser Roma, Vaticano, Capela Sistina, Et Deo Fiat Lux (Se a Ford, a Mercedes ou a Toyota ainda não conseguiram substituir a FIAT no conhecido dístico) e arredores, seguindo-se Nápoles e outros domínios da Máfia. A original, que há por aí muitas outras. Verificar se sempre é verdade que "Capri c'est fini!" Ou será só música, como por estas paragens do Nabão?
De maneira que, podem os nossos conterrâneos, sobretudo os senhores autarcas, funcionários e dirigentes associativos, começar a respirar fundo, para acalmar. Até ao próximo dia 22 será um descanso para todos, incluindo para quem faz Tomar a dianteira. Se tudo correr bem. SE tudo correr mal, estará resolvido de vez o problema da má-língua, que tem vindo a impedir a tradicional harmonia entre os tomarenses e, sobretudo, o notável progresso local.
Façam o favor de gozar mais esta folga, mas tratem de não abusar. Tomámos a dianteira para evitar a enxurrada de Julho-Agosto, conscientes de que até 2013 ainda há muita escrita para fazer, pelo que importa evitar o mofo, limpar as teias de aranha e caminhar sempre pelo menos meia hora à frente do futuro.

Saudações cordiais para todos,

Tomar a dianteira

sexta-feira, 11 de junho de 2010

AS TAIS PRIORIDADES...


Duas imagens do 3º mundo. Na de cima, uma janela que já conheceu melhores dias, parcialmente disfarçada por um contentor. Na de baixo, uma capela cujo telhado parece estar a necessitar de urgente reparação. Onde se situam estas duas desgraças? Em África? Na Ásia, mais precisamente em Goa? Na América Latina?
Nada disso, caro leitor. As duas fotos foram tiradas este mês, algures na Europa Ocidental. Mais precisamente em Tomar. A capela é a do cemitério velho e a janela sem vidros a da sua sacristia.
Temos assim uma autarquia da União Europeia que gasta alguns milhares de euros anuais com excursões e comezainas, mas agora mostra não ter algumas centenas de euros para reparar o telhado e substituir a janela. Que rica gestão dos dinheiros públicos! Que magnífica definição de prioridades! Sendo certo que o Estado é laico, como a autarquia deve ser, tal desmazelo deverá todavia ter outra explicação, bem mais simples. Em Portugal, os mortos por enquanto ainda não votam, ao contrário do que costuma acontecer em terras do mezzogiorno italiano, controladas pela honorabili societá.
Há até um dado curioso. Já por diversas vezes, o pároco de Tomar critica em voz alta os cidadãos que continuam na conversa enquanto passa o caixão com o defunto, não se dando conta estar ele próprio a fazer outro tanto... para além de, em contrapartida, não constar que alguma vez se tenha queixado junto de quem de direito, das péssimas condições de conservação do templo funerário do cemitério mais antigo da paróquia. Porque será? Oiçam o que eu digo, não olhem para o que eu faço? Ou "que bem prega Frei Tomás; façam o que ele diz, não olhem para o que faz"?
Resta esclarecer um ínfimo detalhe, que o feitio manuelino de muitos tomarenses será bem capaz de achar estranho. Trata-se da implícita comparação entre, por um lado, as excursões e comezainas, custeadas pela autarquia e, pelo outro lado, a penúria de meios, quando se trata de fazer simples obras de manutenção de um templo. O paralelismo tem a sua lógica, visto que o vereador com o pelouro dos cemitérios é o mesmo que habitualmente acompanha (com muito sucesso...) as monumentais excursões e respectivas comezanas. Aqui fica o antecipado esclarecimento. Uma vez mais, nada na manga, tudo em cima da mesa. Como sempre deveria ser...

SERIA PIOR A EMENDA QUE O SONETO...

Homem do povo, com uma adolescência excessivamente árdua, economista reputado, político experiente, estrangeirado, o senhor presidente da República conseguiu, no seu discurso do Dia de Camões, (que era zarolho, mas via muitíssimo bem e compreendia o mundo do seu tempo...), uma raríssima proeza -acertar na mosca a 500 metros, sem mira telescópica. E com um só tiro; neste caso com uma só e curta frase: "A situação é insustentável." Tem toda a razão, o senhor presidente. E nunca o senhor conseguiu dizer tanto, com tão poucas palavras. Infelizmente, quiçá por motivos que todos conhecemos, (divisão de poderes, próxima eleição presidencial, divergências no seio de cada partido...), ficou-se Sua Excelência por aí. Não ousou ir até ao fim do seu raciocínio. Não tirou as conclusões que se impunham.
Com a sua bem conhecida e extraordinária agilidade intelectual, que lhe permite quase sempre intuir o que aí vem e o que dizer, para continuar a flutuar, fazendo lembrar amiúde o desaparecido "Chico o rolha", o senhor primeiro-ministro demarcou-se imediatamente do discurso presidencial. "Não concordo com insustentável; a situação é difícil, como em todos os outros países, mas não é insustentável", declarou.
Puro engano, o do senhor primeiro-ministro. (Dando de barato que acredita naquilo que diz...) Primeiro, porque sendo verdade que a situação é grave em todos os países, menos nos
emergentes, (do BRIC, por exemplo), a situação portuguesa é bem mais desesperada, nos dois principais sentidos da palavra insustentável: A - insustentável = não se consegue manter por muito mais tempo, porque é insuportável, em termos políticos; B - insustentável = que não se consegue alimentar, por falta de recursos materiais. No caso, por carência absoluta de quem persista em conceder crédito, apesar de...
Este raciocínio levar-nos-ia muito mais longe, mas as questões nacionais estão fora do âmbito deste blogue, salvo quando e só enquanto têm implicações no contexto concelhio tomarense. Como enquadramento macro lato senso. Porque, convém nunca o esquecer, já havia uma crise tomarense, muito antes da crise mundial e nacional. As vicissitudes mundiais mais não têm feito que agravar as doenças locais. Até por isso, é pena que o presidente Cavaco Silva se tenha ficado pelo excelente diagnóstico, recusando-se a indicar qualquer terapêutica credível e eficaz. Aquela da grande unidade em prol da nação terá sido só para mobilar, porque cai sempre bem e renderá muitos votos em futura consulta, caso decida avançar, como tudo indica.
A nível local, a conjuntura ainda consegue ser mais grave do que a nível nacional. Por aqui, nem há líderes com realismo entre os eleitos, nem se faz qualquer diagnóstico certeiro, nem existe qualquer hipótese de plano B, quase de certeza porque também não existe plano A. Pior ainda: quando alguém se arrisca a emitir análises e hipóteses de solução, é imediatamente acusado de invejoso, má-língua, oportunista e incapaz apenas preocupado em arranjar tacho. Mesmo quando é claro que o visado disso não tem qualquer necessidade, como está agora a ocorrer com Sérgio Martins. Compreende-se. É muito mais fácil injuriar ou tentar desacreditar vilipendiando do que tentar corrigir de forma serena e fundamentada. Não é inteligente quem quer, nem o saber projectar o saber dizer e o saber fazer, se aprendem de um momento para o outro. Já o Garcia da Horta, há quase 500 anos, afirmava que "a experiência é a verdadeira madre das cousas"...
Ainda assim, sabedores de que em política a perseverança é uma qualidade, a teimosia um defeito e a obstinação uma doença, pensamos que talvez valha a pena arriscar mais uma curta apreciação do presente imbróglio local.
Face a um poder local que manifestamente está cada vez mais longe de cumprir os mínimos olímpicos, (já se diz por aí que devia haver uma reciclagem rápida para autarcas em funções, do tipo daqueles cursos de formação que se faziam nas colónias portuguesas para chefes de posto e administradores de circunscrição...), é natural que haja, ou venha a existir, a tentação de remediar quanto antes. No mínimo, de conseguir evitar o agravamento do evidente desastre. À boa maneira portuguesa, o mais provável é que se venha a optar pelo remendo, a solução possível, o compromisso. Seria um erro crasso. Tal como não adiantaria colocar pensos rápidos numa perna de pau carunchosa, também neste caso seria perder uma oportunidade que dificilmente se voltará a apresentar, ficar-se pelas meias-tintas. Porque o ponto é este: A actual maioria relativa, em termos políticos, não tem política, não tem líder, nem tem equipa; joga cada qual para si, num tabuleiro e a um jogo que só o próprio conhece, quando conhece... Se não é assim, parece. E em política, o que parece...
Perante isto, qualquer político atento fará a si próprio a pergunta clássica -Que fazer então? A resposta não podia ser mais simples: Fazer como aconselhava o secretário do senhor de La Palisse, de saudosa e sempre recordada memória. Começar pelo princípio, continuar pelo meio e acabar no fim. Pois vamos então a isso. No princípio: Contar espingardas e agir em consequência. No meio: Apresentar alternativas, tendo em conta o apurado anteriormente. No fim: Implementar a alternativa mais adequada ao novo contexto que resultou dos passos anteriores. É o que se designa, em qualquer parte do Mundo, por política com princípio, meio e fim, sempre com uma pequena (quanto mais pequena melhor) réstea de improviso. O tal golpe de asa...
Em termos mais simples e de forma sintética -Se for possível tirar partido do evidente e assanhado antagonismo das duas formações minoritárias, indo para eleições intercalares, condição sine qua non para arrumar a casa, há que enveredar por esse atalho quanto antes. Já que as ditas não quiseram ou não souberam aproveitar os trunfos que tinham na mão, uma vez contados os votos...Haja quem arrisque, que a sorte ajuda sempre os audazes!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

IMAGENS TOMARENSES DE UM DIA FERIADO

Como bem sabem todos os da indústria hoteleira, a ASAE não perdoa. Porta dos sanitários directamente para a cozinha, ou para a sala de refeições, dá multa, ameaça de encerramento compulsivo e obras obrigatórias para sanar a anomalia. Outro tanto acontece com a autarquia. Projecto com porta de sanitários para a cozinha ou para a sala de refeições, é projecto rejeitado. Ainda bem que assim é! Em nome da higiene e da saúde de todos nós !
Infelizmente, parece que há locais de serviço público, propriedade da autarquia, que estão acima da lei. Basta reparar na ilustração supra: refeitório e sanitários porta com porta. Ou melhor: vão ao lado de vão, uma vez que as respectivas portas estão sempre abertas. Podia e devia existir um painel divisório, mas não era a mesma coisa. Assim as moscas deslocam-se mais facilmente de um local para o outro. E as comidas devem ficar decerto mais apetitosas, pois não consta que alguém já se tenha queixado de tão insólita situação. Brandos costumes tomarenses? É bem capaz! Ou simples desmazelo, acompanhado do clássico "oiçam o que eu digo, não olhem para o que eu faço"? Realmente é só má-língua!

Outra situação cada vez mais anacrónica e problemática - A ausência de parques de estacionamento devidamente equipados e em locais adequados, para autocarros de turismo. Os infelizes visitantes bem procuram, mas onde estão as mesas e bancos? Os sanitários? As sombras? Os estabelecimentos? A água corrente? A sinalização? É muito mais simples continuar com a mesma música de sempre: "vamos apostar no turismo de qualidade, no turismo cultural". Pois, pois! E eu ainda hei-de ser cardeal. Pelo menos, que o objectivo é o Papado! Em termos de intenções haja grandeza. Mesmo que tudo venha a dar em nada!

Nunca tinha reparado. O edifício do centro de emprego tem, no piso térreo poente, dez portas, sem qualquer acesso exterior. Será só para enfeitar? Para admirar a panorâmica sobre os telhados e o castelo? Ou o projecto executado não era para ali?

A sul, o aspecto é este...

ou este. A norte é melhor nem falar! Trata-se de uma íngreme ribanceira, que já não vê limpeza há meses. A nossa deputada Anabela Freitas, que é da casa, não poderia abordar o problema, numa das suas intervenções na A.R.? Aproveitava para agradecer à autarquia tomarense e à sociedade Tomarpolis o evidente cuidado posto no arranjo da envolvência do Centro de Emprego. Que só nos envergonha. E até poderá levar alguns desempregados a pensar que procuram fazer tudo para se verem livres deles.

DEVIA SER ASSIM DEVIA, MAS...

Cada vez mais consistente em termos de informação, o blogue vamosporaqui, do cidadão agora vereador a tempo inteiro Luís Ferreira. Agora até parece ter iniciado um início de prestação de contas, de tudo aquilo que tem feito. Parece-nos estar no bom caminho, pois nas sociedades realmente abertas é assim que se procede -nada na manga, tudo na mesa, à disposição de quem queira consultar e/ou debater. O pior é que nem todos os eleitos, mesmo os mais melómanos, aceitam afinar pelo mesmo diapasão. E então quando se trata de executantes pertencentes a bandas diferentes, ocasionalmente reunidas para uma série de concertos, a coisa agrava-se singularmente...
Se no acordo ficou estipulado que cada vereador disfruta de amplas liberdades, assim como nos estados federados, tudo bem. Caso contrário, vai ser muito complicado e quanto mais para a frente pior. Isto porque, na ausência de planos tácticos e/ou estratégicos, com já está amplamente provado, cada um dos intervenientes terá uma crescente tendência para ir implementando o que lhe for parecendo mais útil para a sua futura recandidatura. Vai daí...
O verdadeiro nó górdio da política nabantina é o facto de, qualquer que seja a evolução até 2013, ambas as formações do arco do poder local e nacional se apresentarem ao eleitorado totalmente gastas e, por conseguinte, a precisar de séria recauchutagem. Conseguirão fazê-la a tempo? Será extremamente difícil, vai bulir com muitos interesses, mas vale sempre a pena tentar. Até lá, resta aos tomarenses comprometidos com o futuro da sua terra incrementar a sua participação cidadã, a qual deverá pautar-se sempre, no nosso entender, pela honestidade e pela franqueza. Os tempos vão de mal a pior para os admiradores do Nicolau...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA

COLABORAÇÃO DA PAPELARIA CLIPNETO, LDA.

Após leitura atenta dos periódicos hoje chegados às bancas, pareceu adequado publicar a ilustração supra. Pelo menos assim já se poderá dizer que, além do porco a andar de bicicleta, há também o elefante a andar de monociclo. E esta hein?
Quanto à imprensa regional, em vez das usuais fotos, aqui vão todos os títulos de cada uma das primeiras páginas. Assim já os leitores ficam com um panorama completo da situação nesta região do país que temos. E, espera-se, a perceber o que nos levou a incluir a foto do ladino elefante equilibrista.
O MIRANTE faz manchete, a toda a largura da primeira página com "Tramagal mobiliza-se para organizar comemorações do Dia do Dador de Sangue". Seguem-se "Sair do Povoense para o Benfica foi dos piores erros que cometi", "Centros Escolares de Ourém concluídos até Setembro de 2011", "Autarquias não assumem danos causados durante as largadas e entradas de toiros", "Recolha de sangue nas instalações de O Mirante", "Escola Alerta com o sorriso que veio de Fátima" (com foto a cores) e "Animação e teatro de rua são atracção principal das festas da Barquinha - "Barquinha Non Stop". Sem comentários, que é melhor.
O TEMPLÁRIO contenta-se com quatro títulos primopagistas. Ei-los: "Jovem morre em acidente - Emoção no adeus a Ricardo"(com duas fotos); "Trabalhadores da Platex rejeitam proposta"(com foto); "Eugénio de Almeida único candidato à presidência do Politécnico" (com foto); "Skaters querem rampas em cimento".
Se em relação aos trabalhadores da Platex ainda se consegue ficar a saber que votaram contra porque a parte patronal apenas lhes pretende pagar 35% do valor em dívida e só garantir a continuidade da relação laboral a 125 dos 200 parados, no que concerne ao candidato para o IPT, nicles. É licenciado? Mestrado? Doutorado? De que Universidade? Em que ano? Com que apreciação? Possui experiência pedagógica? Adquirida onde, para além do IPT? Tem um projecto para o IPT? Se afirmativo, quais são os pontos principais? Tudo questões por agora sem resposta, apesar do "press-release" recebido e publicado. Para um candidato único, convenhamos que é pouco comum.
Finalmente, CIDADE DE TOMAR alargou-se esta semana. A sua manchete "Nova estação da CP e "Docas" no Flecheiro - Dois grandes projectos anunciados que não foram concretizados", ocupa metade da primeira página, com duas fotos em fundo. Seguem-se "Segundo os Independentes por Tomar actual situação da autarquia é grave, à deriva e desorganizada", "IPT - Eugénio de Almeida candidato à presidência" e "Casa Viera Guimarães está já a ser preparada para funcionar como sede da Festa de 2011".
Salvo melhor e mais fundamentada análise, tudo isto aponta na direcção da usual atitude dos portugueses nesta altura do ano. Chegado o mês de Junho, mesmo com a chuva, mesmo com a crise, mesmo com as medidas de austeridade, já começa a cheirar a férias, a feijoadas, a cervejame, a tardes passadas na areia e na horizontal. Os raros assuntos que normalmente andam depressa, passam a andar devagar, a muito devagar, a muito devagarinho e finalmente a parados. Há mais vida para além do trabalho! Ou como dizia um conhecido tomarense no século passado "E um homem não é de pau....50 escudos!"

MUDAR PARA TUDO CONTINUAR NA MESMA?

Como habitualmente, terá passado despercebido o "chapéu" da notícia publicada no post anterior, referente ao Município de Beja. E todavia, esse simples início é no mínimo tão importante como todo o restante conteúdo. Isto porque, à boa maneira portuguesa, parece ter havido a preocupação de abrir a delicada questão do défice municipal da capital do Baixo Alentejo com uma réstea de esperança. O tal sebastianismo, profundamente entranhado em cada um de nós. Porque, sejamos directos e objectivos. Com a população a diminuir e a envelhecer, com as restrições provocadas pelas medidas de austeridade que já estão anunciadas e pelas que o hão-de ser, onde espera o executivo de Beja, ou o de Tomar, ou outro qualquer, conseguir um aumento de receitas? Em lado nenhum. Trata-se apenas de tentar animar a malta, tendo em vista as próximas eleições e a perpetuação das ideias segundo as quais "isto" há-de melhorar, pelo que há necessidade de mudar qualquer coisinha para que tudo possa voltar ao mesmo, diria o Lampedusa.
Em relação à produção e troca nas nossas sociedades, há pelo menos três grandes enfoques possíveis, cada um com as suas vantagens e óbvios limites. O primeiro é o dos gestores, tendência vinda dos USA no último quartel do século passado, que só mais tarde aportou por aqui. São os chamados operacionais, que procuram conduzir as coisas à maneira militar, com muitas receitas préfabricadas, prontas a usar. Quando falham, o que acontece com alguma frequência, ficam muito surpreendidos e nunca admitem de facto que o malogro foi provocado por eles próprios.
Os segundos são os autodesignados especialistas de ciências económicas. Igualmente de origem norte-americana, o seu calcanhar de Aquiles reside no facto de cuidarem convictamente ser a economia não uma ciência social, com todas as inerentes limitações, mas uma ciência exacta, pelo que basta encontrar as equações adequadas a cada conjuntura para, matematizando, sacar a melhor solução possível. São, entre outros, os arautos da muito gabada escola de Chicago, que foram apanhados com a calças na mão e levaram com um valente duche gelado ao explodir a presente crise. Até o oráculo Greenspan, da Reserva Federal Americana, verdadeiro papa dos apóstolos do liberalismo, acabou por meter a viola no saco. Para já...
Finalmente, no terceiro grupo, os aprendizes de economia política, sobretudo europeus, que lá vão estrebuchando, na busca de remédios, nem que sejam apenas analgégicos, nesta primeira fase, para as maleitas económicas que nos afligem. Tarefa longa, complexa e por enquanto inglória, pois apenas se deparam com hipóteses de cura ainda mais dolorosas que as doenças em questão. Destas, a principal, que condiciona todas as outras, é a inadequação do chamado modelo
social europeu ao novo contexto das trocas a nível global.
Durante os primeiros trinta anos após a segunda guerra mundial, foi possível um contínuo e elevado crescimento económico, facultado pela reconstrução, pelas matérias-primas baratas, o equipamento das famílias e, sobretudo, a liderança tecnológia e política da Europa e dos Estados Unidos. Desta fase dos chamados "trinta gloriosos", veio a resultar o supracitado "modelo social europeu", algo não totalmente homogéneo, mas com característica comuns: férias pagas, emprego com direitos, auxílio em caso de desemprego, abono de família, assistência médico/hospitalar tendencialmente gratuita, escolaridade obrigatória gratuita, valorização anual dos salários reais, alojamentos sociais, assistência social etc. Tudo isto, mais a cultura, a televisão pública, os transportes e o património, entre outros, fortemente apoiados pelo orçamento estatal, graças a elevadas taxas de impostos directos e indirectos. Apenas um exemplo elucidativo: em Nova Iorque, o IVA é de 13% por cento (acrescentado na caixa, mesmo no caso dos consumidores finais, o que quer dizer que não figura nos preços marcados em cada produto), que os nova-iorquinos já acham um exagero... Em contrapartida, os suecos liquidam em cada compra 25% de IVA. Sem pestanejar, porque beneficiam de serviços públicos numerosos, eficazes e de qualidade.
Tudo isto para concluir da forma seguinte. Desaparecidas as matérias primas baratas, a superioridade tecnológia da Europa e dos Estados-Unidos, a supremacia política e militar, deixou de haver, salvo em raros casos, como no Canadá ou nos países escandinavos, condições de sustentabilidade para o aludido modelo social europeu. Vamos, por conseguinte, ter de mudar, quer queiramos, quer não. E quanto mais tarde começarmos, quanto mais devagar andarmos, mais difícil vai ser.
Todos somos mais ou menos conservadores nalguns aspectos. Todos gostamos sempre mais daquilo que já foi do que das coisas que estão para vir. Por isso, vamos tentando remendar, em vez de comprar novo. Nas dramáticas circunstâncias actuais, sobretudo em cidades do interior como a nossa, na política há duas tentações a evitar, custe o que custar: A - Criar falsas expectativas; B -Mudar qualquer coisinha para ver se tudo volta ao que já foi.



terça-feira, 8 de junho de 2010

MAIS CASOS DA CRISE

(Clicar sobre a notícia antes de a ler).

Na sua edição de hoje, o Público publicou, na página 25, esta local de Beja. A capital do Baixo Alentejo tem actualmente 31 mil eleitores inscritos. O concelho de Tomar tem 39 mil. Quanto à dívida bruta (ou bruta dívida?) -fornecedores+banca- não há assim grande diferença. Mesmo sem incluir a previsível indemnização à ParcT.
De forma que, embora Beja seja lá longe, se calhar o melhor será irmos pondo as barbas de molho, para o que der e vier. Como todos sabemos, nestas coisas, quanto mais tarde, pior maré. Ou, numa outra versão, igualmente campestre, "Quanto mais o carneiro recuar, maior será a marradela." E pouco ou nada adiantará continuar a negar as evidências. Sempre que se espanta a realidade, esta regressa a galope.

Enquanto os alentejanos procuram fazer frente com alguma coragem, intensificam-se os ventos agrestes na paisagem económica internacional. Leia-se este pequeno resumo da entrevista dada por Nouriel Roubini ao diário gaulês Le Monde (edição de 8 de Junho de 2010, página 16).
"Nouriel Roubini, professor na Universidade de Nova Iorque, é um dos raros economistas que previram a tempestade financeira de 2008. Convidado a participar na Conferência de Zermatt (Suiça) sobre o tema "Humanizar a mundialização", aceitou falar-nos sobre a actual crise do euro.
-Mencionou há pouco tempo o possível "rebentamento" da zona euro. Mantém esse prognóstico?
-Esse risco existe. O problema principal da União monetária, para além dos défices excessivos, é o facto de alguns países terem perdido competitividade. Um dos meios para a restaurar consiste em renunciar ao euro, regressando às moedas nacionais -dracma, peseta ou escudo.
Se assim não procederem esses países serão obrigados pelas circunstâncias a reduzir os salários, o que provocará uma recessão. Optar pela solução alemã, de reestruturar o aparelho produtivo, levará demasiado tempo. Como última possibilidade, a única opção para evitar o "rebentamento" da zona euro e recuperar competitividade, é provocar o mergulho do euro. Chegou a valer 1,50 dólares e já desceu para 1,20. Pode continuar a descer até à paridade com o dólar. O Banco Central Europeu (BCE) deve assumir as suas responsabilidades, adoptando uma política monetária de compreensão.
...............................................................................................................................................................................................
............................................................................................................................................................................-Nos Estados-Unidos, o seu país, deram-lhe a alcunha de Dr Fatal (Dr. Doom) por causa do seu pessimismo. Tem alguma boa notícia para nos anunciar?
-Não sou o Dr. Fatal, mas antes o Dr. Realidade. É que não se trata de ser pessimista ou optimista. Apenas de analisar os factos. E quase tudo o que tenho anunciado, infelizmente veio a acontecer.
A boa notícia é que, perante a crise mundial, há uma reacção política. Por outro lado, se o Norte continua em crise, a economia é mais robusta nos países emergentes. Assiste-se ao deslizamento da economia do Oeste para Leste, da Europa e dos Estados-Unidos para a Ásia, do G7 para o G20."
Entrevista de Claire Gatinois. Resumo e "tradaptação" de António Rebelo.

CONTINUA A VIA DOLOROSA RUMO AO CALVÁRIO

Esta é a ilustração da manchete do suplemento Negócios do jornal espanhol EL PAÍS, de domingo passado. Nem valerá a pena verter para português. Quem ler com um mínimo de cuidado, perceberá sem qualquer dificuldade. E quem não conseguir, tão-pouco entenderá o resto. De maneira que... Além da manchete, o aludido diário dedica-nos o editorial + três páginas densas, com o cabeçalho genérico "Primeiro plano".
Dado que seria fastidioso traduzir, ou mesmo publicar como está, a integralidade da matéria, escolhemos o último parágrafo do editorial, intitulado "Debilidades portuguesas".
"Tal como Espanha, Portugal tem boas razões para seguir à letra as instruções de austeridade fiscal, dadas pelos membros da eurozona com maior capacidade para dar avales. Sem a ajuda do megafundo destinado a estabilizar o mercado de obrigações da dívida pública, aprovado na madrugada de domingo 9 de Maio, a economia lusa, tal como a espanhola, teria ficado à mercê das convulsões do mercado de títulos. Mas, igualmente como em Espanha, a aplicação do plano de austeridade fiscal não vai garantir um rápido nem imediato crescimento económico. Pelo contrário. A única contrapartida a esse sacrifício é a possibilidade de que um maior esforço conjunto acabe por se traduzir numa maior coordenação estável das políticas económicas. Em mais passos na direcção de uma estrutura verdadeiramente federal na União Europeia, que deverá ser particularmente explícita no domínio fiscal. É a condição sine qua non para a continuidade da zona euro e, em todo o caso, para que no seu seio não se desenvolvam tentações excluidoras ou diferenciadoras, em função da sustentabilidade das finanças públicas. Também neste ponto, os interesses dos dois vizinhos coincidem, pelo que seria desejável que se traduzissem em melhores práticas e planos conjuntos."
Duas páginas mais adiante, concluindo a sua análise do tecido produtivo português, o catalão Francesc Relea, correspondente em Lisboa do supracitado diário espanhol, escreve: "Em contrapartida, o sector do calçado modernizou-se e tem sido capaz de manter capacidade competitiva face aos rivais espanhóis e italianos. O sector perdeu empregos, mas graças à criação de marcas próprias consegue exportar 1.200 milhões de euros anuais. Assim é Portugal, um país que combina modernidade e arcaísmo."
Como que fazendo-se eco do colunista catalão, o economista João César das Neves, numa análise intitulada "Um sorriso à portuguesa" (Página 62, DN, 7/6/10), diz a dado passo: "Mas essa conjuntura internacional, mesmo séria, é apenas uma circunstância agravante numa dinâmica fatal. Portugal tem um terrível vício estrutural, que se agrava há 15 anos: a despesa do Estado sobe sempre mais que a receita. Não é um desacerto ocasional, mas um afastamento crescente e imparável. Esse desvio explosivo criou o endividamento descontrolado, o estragulamento das empresas e as dificuldades de competitividade, de desenvolvimento e de emprego.É aí que está o problema. (o vermelhito é nosso)
Onde está Portugal escreva-se Tomar, e onde se lê Estado, ponha-se câmara. Volte-se a ler e ficar-se-á a saber porque estamos como estamos. E vamos de mal a pior.
A próxima estação da Via sacra tem por nome "Indemnização à ParqT". Quando é que o executivo vai arranjar coragem para revelar aos tomarenses a decisão do Tribunal Arbitral? Já estamos em Junho, que diabo!
Entretanto, em nome da União Europeia, declarou ontem à noite que os PECs um e dois são realmente excelentes, mas não flutuam ; são insuficientes. Teremos, por conseguinte, um PEC III, nitidamente mais agressivo, em Julho ou Agosto. Seguir-se-á outro, ainda mais agreste, durante o primeiro semestre de 2011. Mau tempo em todo o país. Vendaval com muitos estragos nas margens nabantinas. Desilusão profunda para os nabiços. Quem vos mandou votar assim? Já viram nalgum lado semear nabos para colher alhos?

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O FULANISMO CRÓNICO

Pouco a pouco, contrariando hábitos enraizados desde há muito, lá vamos conseguindo debater algumas questões locais, o que é excelente. Porque sem diálogo, como acontecia antes de 2008, pouco ou nada se pode alcançar.
Dito isto, um excelente comentário recebido hoje, apresentou um problema deveras interessante, ao mesmo tempo que suscitou involuntariamente (ou não?) outro. Aquele refere-se à circunstância de Luís Ferreira ser muito atacado, sobretudo porque tem a coragem de nos honrar com as suas opiniões assinadas, o que, convenhamos, é extremamente raro entre os nabiços. E então entre os eleitos, nem vale a pena falar.
Eis senão quando, esse mesmo comentário, provocou outrossim as crónicas reacções de fulanização, o que se lastima. Ao que alegam tais fulanistas, o autor do citado texto, comentando a injustiça feita a Luís Ferreira, será ele próprio. Será? Não Será? O anonimato permite estas situações e ainda bem! Afinal, o mais importante deve ser sempre a mensagem e nunca o mensageiro. Portanto, seja ou não o próprio a destacar-se e a vitimizar-se, vamos à situação em si.
É conhecida a norma dos publicitários e marqueteiros modernos, segundo a qual, pouco importa que digam bem ou que digam mal; o importante é que falem da pessoa. Nesta linha, reconheça-se uma vez mais, que o actual vereador da cultura tem pelo menos essa enorme qualidade -destaca-se dos seus homólogos pelo diálogo e pela voluntária participação nos (raros) debates informais de cidadania. Significa isso que temos político? Que temos autarca? Que temos líder? Ainda é cedo para poder responder de forma cabal.
Na política, como de resto em qualquer outra actividade, há duas situações impossíveis -fazer tudo bem e fazer tudo mal. Donde deriva o conhecido anexim "Só não erra quem não faz". Nesta contingência, os eleitores mais chegados a estas coisas têm tendência para elaborar, mesmo de modo implícito, uma espécie de contabilidade sobre os eleitos. De um lado o deve, do outro o haver. Ou, se preferirmos uma modernice WASP (white, anglo-saxon and protestant), de um lado os outputs, do outro os inputs. Depois é só comparar, adicionar, subtrair e tirar as suas conclusões.
Fui dos primeiros e dos raros a escrever, de cara destapada, muito daquilo que penso, não só de Luís Ferreira, como de todos os outros autarcas em funções. Julgo estar por isso em boa posição para, nesta altura do campeonato, tentar descrever o estado da coligação 3+2, com especial incidêndia em Luís Ferreira.
Tal como os americanos perderam a guerra do Vietnam quando a televisão e os jornais mostraram um oficial sul-vietnamita a executar à pistola, a sangue-frio, um presumível vietcong, também o Bloco de Leste perdeu o confronto com os Ocidentais quando foi erguido o Muro de Berlim, que mais tarde permitiu a Kennedy o célebre "Ich bin a berliner!" Nesta mesma linha de raciocínio, os actuais autarcas do executivo camarário também já perderam irremediavelmente as futuras autárquicas. Em virtude de que factos? A seu tempo se saberá.
Em todo o caso, neste triste e estranho contexto,como em qualquer outro, continua a haver três grandes níveis de actuação, a saber: A -Assuntos correntes; B -Assuntos tácticos; C-Assuntos estratégicos. Manda a verdade dizer que, no âmbito do primeiro, o mais fácil e corriqueiro, as coisas têm melhorado a olhos vistos, sobretudo, mas não exclusivamente, nas áreas tuteladas pelo PS. Infelizmente, confirmando aquilo que sempre aqui disse, quanto aos dois outros níveis, de longe os mais importantes, porque condicionantes do nosso devir colectivo, nem ditos nem modos. Não havia nem há quaisquer planos devidamente articulados, susceptíveis de reverter a nossa evidente e acelerada decadência, rumo à irrelevância. Estou a exagerar? Desmintam-me se fazem favor.Mas de forma fundamentada. Com factos verificáveis. De blábláblá de ocasião estamos todos cada vez mais fartos...
Pelo que, uma vez mais, se impõe uma conclusão, que enunciei bem antes da pretérita campanha eleitoral -Os autarcas são todos excelentes pessoas, bons cidadãos, querem todos o melhor para esta terra, e esforçam-se por acertar. O pior é o resto!

UMA VEZ MAIS OS FUMOS DA ÍNDIA...

Foto 1 -Aspecto geral do esburacado parque de estacionamento da Cerrada dos Cães (erradamente designado "Terreiro de Gualdim Pais", por causa daquela mania tão portuguesa e tomarense de alindar as coisas.) A foto foi tirado ontem, Domingo, 6 de Junho. Agora imaginem como vai ser em Julho e, sobretudo, em Agosto, com as previstas obras de requalificação a decorrerem. Os visitantes vão levar de Tomar recordações para toda a vida. Ai vão, vão! E não serão nada boas! Aceitam-se apostas!

Foto 2 - Vista geral do complexo edificado Convento de Santa Iria (primeiro plano) e Colégio Feminino (ao alto). Do lado esquerdo, entre os dois conjuntos, a Igreja de Santa Iria (na qual se não pode nem deve mexer), o Café Santa Iria, um outro local comercial e duas casas de habitação, que não fazem parte do lote a adjudicar. Bastante complexo, como se pode ver. E depois ainda há o Nabão e o solo rochoso... E querem milhão e meio à cabeça? Brincalhões!!!, exclamava o saudoso professor Valente.

Foto 3 - É neste local, (ao alto, em cinzento), situado entre a central eléctrica (do lado direito) e o antigo refeitório da Mendes Godinho (do lado esquerdo), que pretendem instalar os serviços administrativos, técnicos, de apoio e de recepção do futuro complexo museológico da Levada. Estacionamento para ligeiros e autocarros? Ligações entre os três núcleos previstos (Moagem, electricidade, fundição)? Circuitos de visita? Adaptação das instalações para a circulação de grandes grupos de visitantes (25/50 pessoas)? Largada e recolha de visitantes? Pessoal técnico de museologia e de informação turística? Gestão, manutenção e actualização? Currículo do gabinete e do arquitecto Chuva na área dos museus e do turismo interior e receptivo? Financiamento para tudo isso, sobretudo após a conclusão da grande obra?
Pouco ou nada se sabe. Dizem os estrangeiros, com muita razão, que os portugueses descobriram o caminho marítimo para a Índia e depois cansaram-se. Não admira. O objectivo eram os fumos da Índia, de que fala Camões, pelo que não havia nada previsto para o "day after". Que o digam os sucessivos vice-reis, sobretudo Albuquerque. E aconteceu o mesmo com o Brasil, cujo "achamento" foi manifestamente uma grande maçada, que não estava nada prevista. Basta referir que só 25 anos após tal achamento -e já com outro rei- se efectuou a divisão em capitanias, tendo sido nomeado o primeiro governador-geral, Tomé de Sousa...
Mais de 500 anos decorridos, continuamnos iguais ao que sempre temos sido -Quais projectos, quais tácticas, qual estratégia! Prá frente é que é o caminho! Depois logo se vê! O caminho faz-se andando! (Não é Luís?)
Infelizmente, os tempos são outros. Implacáveis. Sem qualquer réstea de piedade para os que se revelem incapazes de "dar o corpo à curva". Agora!

domingo, 6 de junho de 2010

IMAGENS TOMARENSES DE FIM DE SEMANA

Os passageiros deste autocarro tiveram sorte... e um motorista com coragem e com paciência. Mas quantos terão passado como cães por vinha vindimada, por não terem onde estacionar? Não ter sorte é uma coisa. Não querer ter sorte, é outra bem diferente. A nossa autarquia tem feito o possível para que a sorte a desampare.

Só más notícias? Nem tanto assim. Assinalamos com muito gosto que as guardas da ponte pedonal do Flecheiro foram reparadas, com varões de cobre e tudo; que o murete da Calçada dos Cavaleiros idem e, sobretudo, que o Lar de S. José fez um óptimo trabalho na sua antiga sede. Mandou limpar toda a encosta e proceder ao restauro do velho albergue nocturno de 1938, que se vê na fotografia. Estão de parabéns, porque aquilo agora já não envergonha ninguém. E até conseguimos saber, privadamente, que se prontificam a negociar com a autarquia a abertura e manutenção de uma parte das referidas instalações, para nelas alojar com carácter permanente alguns casos sociais bem conhecidos, a começar pelo Sousa das retretes de S. Gregório. Oxalá a autarquia, que já foi avisada, saiba estar à altura das suas missões. Afinal, o inquilino dos urinóis até está a ocupar ilegalmente uma propriedade do município, argumento suficiente para ser despejado e realojado, tudo naturalmente com dignidade e respeito pelos direitos fundamentais da pessoa humana.

O IGESPAR é que volta a não acertar! A maquinória das visitas virtuais continua avariada, que o mesmo é dizer que ela própria é virtual. No mesmo jardim do nosso Castelo dos Templários, este dispositivo de informação turística é uma verdadeira maravilha. Por razões que nos escapam, em vez de colocarem a planta ao alto, como seria correcto e corresponderia à orientação real, optaram pela horizontal. O resultado é magnífico -são poucos os turistas que ficam a perceber alguma coisa daquilo, o que não surpreende, visto que a própria planta (em baixo, do lado esquerdo), indica que o norte fica...a sudoeste! Nem mais!


Muito típicos e castiços, estes dois aspectos da multicentenária Calçada de S. Tiago. Até apetece utilizar as fotos para fazer cartazes, com a legenda "Visite Tomar -Património da Humanidade- Ruas e Calçadas castiças, limpas e cuidadas. Há mais de 500 anos!"
Valha-nos Nossa Senhora da Agrela, que não há Santa como ela!

A HERANÇA QUE VAMOS DEIXAR


O agradável diálogo escrito, aqui travado ontem com um anónimo comentador, levou-me a concluir que há leitores convencidos de que Tomar a dianteira deve ter, com toda a certeza, objectivos escondidos. Ou seja: "O gajo, a escrever daquela maneira, anda de certeza à procura de qualquer coisa. Só pode!" Vai daí, aventam as mais variadas hipóteses -inveja, ódio, ganância, mau perder, teimosia, mau feitio, espírito de contradição, anarquista, etc. etc. Pois desiludam-se, caros patrícios! Nada disso constitui para mim combustível para a caminhada. Apenas estou cada vez mais envergonhado com o que vai acontecendo nesta terra, com o que vejo por aí, com a miserável herança que vamos deixar aos nossos descendentes, que mereciam melhor sorte. E procuro cumprir a promessa feita, aquando da minha derrota da eleição interna do PS. Disse na altura, e mantenho: "Não me vou calar." Seria agora condenável abandonar a contenda política, pois faria como aqueles que critico. Mentiria, e isso recuso-me a fazer! Seria incoerente, e isso só por inadvertência.
Por falar em incoerência, fará algum sentido, em termos de coerência política, que o PSD procure provocar a queda do governo, porque o primeiro-ministro mentiu ao parlamento, no caso da TVI, quando aqui em Tomar, a câmara de maioria laranja não tem feito outra coisa desde a campanha eleitoral? Fará algum sentido recusar uma coligação a nível nacional, após se ter coligado aqui em Tomar, onde a situação ainda é mais grave? Fará algum sentido continuar na autarquia, quando é evidente que já não governam, nem têm quaisquer planos para o futuro?
Aguardam o fim da crise? O regresso do tempo das vacas gordas? Cuidam que o tempo volta para trás? Admitamos, só em termos de hipótese teórica, que tal possa acontecer. Resolvido o imbróglio ParqT, resolvido o imbróglio da Rua da Fábrica, resolvido o imbróglio do Centro Escolar de Casais, resolvido o imbróglio da Escola Nun'Álvares, resolvido o imbróglio do Convento de Santa Iria/Colégio feminino, resolvido o imbróglio dos arranjos exteriores junto ao Convento, resolvido o imbróglio da Várzea Grande, resolvido o imbróglio do Paredão-mijatório, resolvido o imbróglio do previsto elefante branco da Levada, qual será o caminho rumo ao futuro? Esgotadas as obras, que planos têm? Com que objectivos?
Terão razão os nossos descendentes se e quando constatarem ter recebido a herança dos séculos e dos cegos, pois como é sabido, não há piores cegos do que aqueles que não querem ver. É o caso!

sábado, 5 de junho de 2010

AUTARQUIA TOMARENSE NA CHINA

Escrevemos aqui recentemente sobre a obesidade e a crise (Ler "A obesidade e a crise" de 3/6/10). Já depois, a edilidade tomarense, cada vez mais apoquentada com a crescente adiposidade e o subsequente rombo nas finanças locais, que a crise está a transformar numa gigantesca cratera, resolveu empreender uma viagem ao extremo-oriente, em busca de duas formas de auxílio: A - Investimento tendente a facultar alimentação para o mamute municipal, que cada vez come mais; B - Receitas da farmacopeia oriental para rigoroso emagrecimento do paquiderme autárquico.
Aqui temos a autarquia nabiça, em todo o seu esplendor, durante um intervalo das conversações com as autoridades de Pequim. Aquilo do periódico em chinês é só para a fotografia... Já os jornais em português sabe Deus, quanto mais agora em mandarim!

COLIGAÇÃO 3+2 - O PRINCÍPIO DO FIM?

Com respeito, consideração e amizade por todos, que certamente procuram fazer o melhor possível por esta terra, pensamos que apenas há, no actual executivo autárquico, quatro cabeças políticas, de diferentes gabaritos. Não será certamente consensual; todavia, as coisas são o que são; não o que gostaríamos que fossem.
Começando pelas senhoras, como mandam as boas maneiras, Rosário Simões, um peso-pesado eminentemente cerebral mas com uma imagem social difícil, parece farta até à raíz dos cabelos, tudo indicando que apenas aguarda o final deste mandato, seja lá quando for, para se dedicar a outras tarefas cívicas. E não levará saudades, salvo talvez em relação aos mandatos anteriores em que o presidente era outro e a governação diferente...
Graça Costa já deve andar a fazer contas à vida, pois inteligente como é, depressa terá concluído que com a liderança excessivamente directiva de Pedro Marques, a sua actuação está votada à irrevelância, tanto mais que o PSD nunca partilhou nem partilha as decisões. Ou se concorda integralmente com eles, ou nada feito. Futuro político muito problemático.
Carlos Carrão lá vai fazendo o seu caminho, aproveitando com muita habilidade as suas capacidades e as suas competências autárquicas, em estreita e calculada combinação. O seu universo são as freguesias e a terceira idade. Falta saber se será suficiente para atingir a sua meta natural -a presidência da edilidade, para a qual, salvo melhor e mais fundamentada opinião, não nos parece ter arcboiço, o mais tardar no próximo mandato.
Luís Ferreira, finalmente. Goste-se ou não, é extremamente activo, tem ideias e grande capacidade de liderança, conquanto presuma em excesso, e careça de bases teóricas sólidas. Percebeu que as coisas autárquicas vão de mal a pior, e que está a ser implacavelmente marcado por Corvêlo de Sousa, pelo que a infeliz coligação tem os dias contados, o que o levou a abrir as hostilidades, tentando esticar a corda para segurar os lugares. A peça que acima reproduzimos, (copiada do blogue vamosporaqui.blogspot.com), é uma verdadeira declaração de guerra. Não ao grupo Relvas/Paiva/Corvêlo, com quem se comprometeu por escrito, mas à nova direcção laranja local, onde pontifica, entre outros, o filho de Jaime Lopes, certamente não por mero acaso.
Sem poder voltar a candidatar-se, o actual presidente da Junta de Freguesia dos Casais, berço do vereador Carlos Carrão, acalenta um sonho lindo: continuar a mandar na junta por intermédio do filho e ascender a vereador, numa lista ganhadora. Encabeçada por José Delgado, ou por Carlos Carrão, uma vez que a imagem de António Paiva tem empalidecido muito nos últimos tempos.
Sabedor disto e consciente também de que os sucessores de Relvas na liderança local andam a fazer planos, nos quais o PS não entra, nem como simples remendo, Luís Ferreira resolveu sacar da artilharia. Afinal, terá pensado, isto deve ser como no futebol, onde a melhor defesa é sempre um bom ataque. Para a actual maioria relativa do PSD, nitidamente sem treinador desde que Relvas se assumiu com nº 2 do PSD e Ministro de Estado no próximo governo laranja, tudo indica neste momento que começou a via dolorosa, rumo ao monte onde as cruzes já há muito foram erguidas pelo eleitorado tomarense. O tempo político nunca perdoa!

sexta-feira, 4 de junho de 2010

REMÉDIOS DOLOROSOS

Total de funcionários públicos no nosso país, em milhares, entre 1979 (372 mil) e 2009 (675 mil)

Com título supra, publicou a revista francesa L'EXPRESS (650 mil exemplares por semana), uma reportagem sobre a actual situação portuguesa, assinada por Axel Guildén. Com a devida vénia e os nossos agradecimentos, publicamos a seguir a "tradaptação" desse trabalho jornalístico.

"Nunca é agradável quando nos apelidam de porcos. Mas é essa a ofensa que fazem nos dias que correm aos portugueses, cujo país -mais conhecido internacionalmente pelos seus pratos de bacalhau- é sistematicamente associado ao acrónimo inglês PIGS = Portugal, Itália, Grécia, Spain (Espanha). Porcos, portanto. Para variar um pouco, os países europeus com as finanças geralmente mais desiquilibradas, são também designados por alguns analistas como "países do clube Med" (alusão a um conhecido clube de férias francês, com dezenas de aldeias de férias espalhadas pelo Mundo, uma das quais em Pedras d'El-Rei -Algarve). "Sobre temas tão sérios, deviam evitar a difusão de tais preconceitos, refere com alguma irritação o deputado e ex-ministro José Lelo, responsável pelas questões internacionais no Partido Socialista. Não é porque somos um país com muito sol que nos sentamos à sombra da bananeira. Pelo contrário, desde há cinco anos que o governo socialista vem procurando reduzir as despesas do Estado", acrescentou o mesmo parlamentar.
É verdade. Desde 2005, o total de funcionários públicos passou de 750 para 675 mil. Mas foi insuficiente. Em 2009 o défice atingiu o record de 9,4% do PIB. Por isso se tornou indispensável um plano de austeridade sem precedentes, anunciado no passado dia 14 por José Sócrates. Objectivos principais: Restaurar a cedibilidade internacional do País...e reduzir o défice em 5 pontos até ao final de 2011. Um desafio considerável. Nunca até agora os portugueses foram forçados a apertar tanto o cinto. Mesmo a política de rigor do governo socialista de Mário Soares, levada a cabo a partir de 1983, sob a estrita vigilância do FMI -que na altura se instalou em Lisboa- foi apesar de tudo menos severa.
Na prática, os grandes projectos de obras públicas, como o novo aeroporto de Lisboa ou a 3ª travessia do Tejo, vão ser congelados. O imposto sobre as mais-valias vai aumentar 2,5%, enquanto o IRS aumentrá 1%, ou 1,5% para os rendimentos mais altos. A função pública perderá mais 73 mil lugares até 2011 e os subsídios sociais serão reduzidos. Quanto ao IVA, todas as taxas serão aumentadas em 1%, incluindo sobre os produtos essenciais.
"É um programa injusto e violento, porque atinge sobretudo os pobres e os reformados", disse-nos, indignado, Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP, que organizará uma manifestação nacional de protesto no dia 29 de Maio. De facto, os mais vulneráveis serão duplamente atingidos: pelo aumento do IVA sobre os bens básicos e pela retenção salarial na fonte de mais 1%. É grave, num país em que o ordenado mínimo é de 475 euros e os pobres são às centenas de milhares.
Assim, um milhão de pessoas idosas vivem com 300 euros mensais, enquanto dois milhões de portugueses ganham menos de 420 euros mensais. Os 17 Bancos Alimentares contra a fome, entre os quais o de Lisboa, que é o maior de Portugal e o mais importante da Europa, alimentam diariamente 285 mil pessoas necessitadas, o que corresponde a 2,5% da população.
"A pobreza sempre foi muita em Portugal, declara Isabel Jonet, presidente da federação dos referidos bancos. Porém, acrescenta, desde há dois anos que se observa um novo fenómeno. Cada vez mais pessoas que estão empregadas mas não conseguem pagar as prestações da casa ou os créditos ao consumo, vêm pedir-nos ajuda."
Risco de explosão social? "Os portugueses não são os gregos, referiu-nos um diplomata europeu colocado em Lisboa. Aqui não existe tradição anarquista e os conflitos sociais são sempre pacíficos. Segundo me disseram, parece que aquando da revolução dos cravos, que provocou a queda do regime de Salazar, os blindados paravam nos semáforos!"
Nota-se o conformismo, como se os portugueses aceitassem desde há muito a necessidade de "emagrecer o mamute". Logo que chegou ao poder, em 2005, José Sócrates lançou um ambicioso programa de reorganização do Estado, destinado a modernizar a arcaica função pública. Em 5 anos, 75 mil lugares e 187 organismos públicos, ou mistos, (num total de 568), foram suprimidos. Uma pequena revolução cultural foi desencadeada com a abertura das Lojas do Cidadão, onde foram agrupados os serviços de cerca de 40 administrações diferentes: impostos, telefone, electricidade, seguros, segurança social, serviços de emprego, ajuda à criação de micro-empresas, etc.
"Coisas que antes demoravam duas ou três semanas, resolvem-se agora em dois ou três dias", garante-nos Luís Bento, um dos teóricos da reforma do Estado. O IRS pode agora ser entregue pela internet e os novos cartões do cidadão, que são ao mesmo tempo bilhete de identidade, identificação fiscal ou cartão de utente (e talvez, dentro em breve, cartão de eleitor) vieram substituir os clássicos bilhetes de identidade.
Para os funcionários públicos, a factura da reorganização do Estado vai ser elevada. "Começámos por aplicar a regra de uma contratação para substituir cada duas saídas, diz-nos Luís Bento, mas foi insuficiente. Agora teremos de passar a 1 por cada 5, e até se calhar 1 novo funcionário por cada dez que passam à reforma."
Esta autêntica terapia de choque é acompanhada pelo desmantelamento do estatuto dos funcionários e das vantagens adquiridas. Em pleno cento de Lisboa, o Liceu Camões -onde estudou Durão Barroso, o actual presidente da Comissão Europeia- 70 professores titulares, num total de 170, anteciparam recentemente a sua aposentação, para beneficiarem de condições mais vantajosas. Foram substituídos por professores contratados (ou eventuais), cujo estatuto, nitidamente mais precário, será doravante a norma. "Têm de concorrer todos os anos, para conseguirem um lugar em função das necessidades, sem qualquer garantia de estabilidade geográfica", lamenta João Jaime, director da escola supracitada.
No outro extremo da cidade, João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), declara-se pouco ou nada impressionado pelos esforços reformistas levados a cabo a partir de 2005. "São reformas cosméticas. Logo em 2007, Sócrates travou o seu programa para preparar a reeleição em 2009." Na sua opinião, o primeiro-ministro não é tão corajoso como José Rodriguez Zapatero, o seu homólogo espanhol, que acaba de reduzir em 5% os vencimentos de todos os funcionários. "É uma questão de cultura, acrescenta. Os espanhóis sempre foram mais radicais do que nós. Repare na colonização. Os espanhóis dizimavam os seus inimigos. Nós não. Repare nas corridas de toiros. Os espanhóis matam os toiros na arena. Nós não."
Entretanto, a oposição aproveita para espetar as suas garrochas no morrilho do governo. O PSD, de centro-direita, decidiu apoiar o pacote fiscal do governo, que é minoritário no parlamento desde as eleições de 2009. Mas trata-se de um mero acordo pontual, válido só até 2011. Para já, os sociais-democratas acabam de ultrapassar o PS nas intenções de voto e ameaçam provocar eleições antecipadas em 2012. Miguel Relvas, número 2 do PSD, disse-nos meio a sério, meio a brincar, "Se Sócrates aguentasse até 2013, seria uma verdadeira negação de todas as teorias conhecidas da ciência política."
Oposição preparada para a batalha eleitoral, fraco ou mesmo nulo potencial de crescimento económico, as núvens negras acumulam-se no horizonte. Previsão da mau tempo para os porcos."

Axel Gyldén, L'Express de 26/05/10
Nota prévia e tradaptação de António Rebelo

A MÚSICA DO COSTUME...

Seria mentiroso e hipócrita se escrevesse que o comentário supra me deixou indiferente. É claro que gostei. É bajulador? Será. Mas fez-me bem à alma. Como toda a gente, fico contente ao constatar que há quem aprecie o meu trabalho em prol da comunidade tomarense.Muito obrigado ao autor...e adiante que já se está a fazer tarde.

Giro, catita, jeitoso, bonito, espectacular, sensacional, e por aí adiante, são adjectivos (ou modificadores, para dar um ar moderno) tipo armazém. O seu campo semântico é tão amplo que cada um arruma lá o que quer. Quanto à opinião segundo a qual o melhor é aguardar a conclusão da obra, trata-se da costumeira música laranja, para tentar ganhar tempo e tornar as asneiras irreversíveis.
Neste caso do estranho paredão, o problema reside em ambas as faces, e não apenas na que está virada a sul. Conforme se vê nesta ampliação do painel que foi colocado junto ao edifício dos cubos, do lado virado para a rotunda, o terreno ficará em declive, o que atenuará a monstruosidade. O mesmo acontecerá com a pequena pirâmide que ainda lá falta, mas se vê muito bem no desenho. E do lado norte, afunilado e virado para a moagem? Sempre fica para mijatório masculino, ou para mulheres corajosas e desinibidas?
O que se vê do lado esquerdo do desenho não é nada tranquilizador. Aquele rectángulo preto só pode ser uma de duas coisas -ou uma abertura no piso térreo da moagem, ou um portão de quinta. Como não é crível que ousem esventrar a moagem, (mas nunca se sabe, que nesta terra tudo é possível, no domínio do absurdo!) vamos ter certamente um portão de quinta. Comentários para quê? São os arquitectos e os autarcas que temos. Parafraseando Beresford, a propósito da tropa portuguesa, "...é com eles que vamos ter de fazer a guerra, porque não há outros." Pelo menos até novas eleições autárquicas!

Aquando da construção daquela enorme cagada que é o paredão do Flecheiro, fui das poucas vozes a levantar-se contra semelhante enormidade. Paguei as custas. Invejoso, mau feitio, ressabiado, má língua, eterno descontente, nunca concorda com nada, fora as ofensas à minha mãe e à fidelidade da minha mulher. Quando viram que mesmo assim as críticas fundamentadas e de boa-fé continuavam e tinham cada vez mais acolhimento junto do eleitorado, sacaram da costumeira música dos conselheiros de comunicação e imagem -"Vamos esperar que tudo esteja concluído. Vão ver que vai ficar muitio bonito e espectacular. Com esplanadas, bares, muita animação, vida nocturna..."
As obras já acabaram há um ano. O resultado é esta incrível larada. Cidadãos sem acesso automóvel aos seus pertences, becos se jeito nenhum, bancadas fantasmagóricas...e um belo mijatório lá ao fundo, no extremo norte.
Bares? Esplanadas? Animação? Beleza? Onde? Quando? Excepto o bar Duplex, que já lá estava antes e a taberna Treinador, o resto é um lúgubre deserto, tanto diurno como nocturno, com a maior parte das construções desocupadas e/ou em ruínas.

Aqui temos o resultado de mais uma ideia luminosa do autarca da época, que se lembrou de mandar abrir uma travessa, que vai morrer na tal fantasmagórica e perigosa bancada. Qual a sua serventia? Concluída a empreitada, nem sequer a promessa de edificar um muro de protecção foi cumprida. Ficaram os ferros e este triste panorama, digno de um daqueles filmes neo-realistas italianos dos anos 5o do século passado. Só falta incluí-lo nos circuitos turísticos de visita à cidade. Como testemunho da miséria local. Tanto física como sobretudo intelectual.

Entretanto, na margem oposta, a vida continua. Três dias por semana é assim. Um autêntico mercado da idade-média. Sem instalações sanitárias, sem organização, sem conforto, sem ficalização...e agora sem taxas, pelas razões conhecidas. E a ASAE lá vai simulando que não vê nem ouve nada.
Tomar tem sido assim nos últimos anos. De um lado esbanjam-se milhões, em obras de prioridade e até de utilidade duvidosa. Do outro, onde pulsa a economia local, cada qual que se desenrasque. Nem sequer tinham previsto uma passagem para os peões, enquanto que aquela entre a avenida e o mercado, destinada ao trânsito rodoviário, não passa de um reles remedeio. O estacionamento junto à Várzea Pequena é outro nado-morto. Tanto dinheiro gasto, para lugares de estacionamento ocupados gratuitamente durante semanas a fio. E os autocarros de turismo sem terem onde estacionar para que os turistas possam visitar a cidade antiga e os seus jardins... O que não fazia falta nem era prioritário, fez-se. O que fazia e faz realmente falta, continua por fazer.
Nestas condições, não contem comigo para dançar ao som dessa música do tipo "vamos esperar pela conclusão..." Mas cada qual fará como entender! Desde que depois não se venham queixar que os enganaram outra vez!

António Rebelo

quinta-feira, 3 de junho de 2010

A OBESIDADE E A CRISE

Paulatinamente, a obesidade vai-se transformando na pandemia do mundo actual, sobretudo na Europa do Sul e na América do Norte. No nosso país, basta observar as ruas das grandes cidades, as escolas, os estádios, as salas de espectáculos. Por todo o lado, são cada vez mais numerosos os cidadãos de muito larga circunferência abdominal
Quando, ocasionalmente, se fala com desses obesos claramente patológicos, as conclusões são quase sempre as mesmas -"Eu por acaso até nem abuso; como pouco e tenho cuidado com aquilo que como. E faço exercício, não tanto como desejaria, mas vou fazendo. Devo ter qualquer problema hormonal, que me faz engordar em demasia, mesmo sem comer." Apesar desta música de circunstância, sabemos bem que a obesidade resulta sempre de um excesso de nutrientes em relação às necessidades do organismo. Como sabemos também que a continuada ingestão de carnes, molhos, gorduras, fritos e açúcares, tudo associado à falta de exercício, está na origem da maior parte das maleitas que acabam com o martírio da obesidade, levando os pacientes para os cemitérios.
Acontece que, embora menos evidente, a obesidade pandémica também vai alastrando na política. Apenas um exemplo, a nível nacional: Há na A.R. 230 deputados, para cerca de 10 milhões de habitantes. Um por cada grupo de 43.478 eleitores. Agora imaginem que a França, com os seus 62 milhões de habitantes, tinha proporcionalmente o mesmo número de eleitos na Assembleia Nacional. Teríamos um parlamento francês com 1450 parlamentares. Uma enormidade, não era? Por isso se contentam com 570, ou seja um deputado para 110.500 habitantes... O que daria um parlamento português com mais ou menos 90 deputados. Não seriam suficientes?
A nível local então, o abismo ainda é maior: O Município de Tomar, por exemplo, tem um executivo composto por sete eleitos, cinco dos quais a tempo inteiro. Um vereador por cada 5.572 eleitores; um tempo inteiro para cada 7800 eleitores. Agora faça o leitor o mesmo cálculo para o Município de Paris, com os seus 5 milhões e meio de habitantes... Isto para já não falar no caso inglês ou norte-americano, cujo modelo social e político é regido por outros princípios, diferentes dos nossos.
Excessivamente adiposa em termos de eleitos, a autarquia tomarense, tal como as suas congéneres em maior ou menor grau, consome demasiado para aquilo que na realidade produz. Com os seus quase 600 funcionários, um por cada 65 eleitores, está cada vez mais obesa, mas nem por isso consegue cumprir cabalmente as funções básicas que lhe estão confiadas, forçando a crescente contratação externa de bens e serviços (11 milhões 317 mil euros, previstos no orçamento deste ano). Daqui resultará inevitavemente, mais cedo ou mais tarde, o colapso provocado por uma doença originada pela obesidade: diabetes, cancro, AVC, enfarte... A não ser que os eleitos tenham a coragem de iniciar uma severa cura de emagrecimento, a começar por eles próprios, agora que a austeridade veio para ficar e vai ser cada vez mais drástica.
Ao admitir implicitamente, há uns dias, que a autarquia afinal tem cada vez mais dificuldades orçamentais, ao contrário do que ele próprio afirmara anteriormente, Corvêlo de Sousa teria agido bem melhor se tivesse aproveitado a ocasião para denunciar a manifesta obesidade da "pacaça tomarense", naturalmente provocada pelo excesso de consumo. Ficaria assim em muito melhor posição para enfrenter os dolorosos tempos que aí vêm.
Dirão os optimistas crónicos que a obesidade autárquica também tem as suas vantagens. Pois tem sim senhor! Dá emprego a muito gente. Conjuntamente com o Estado, são as únicas grandes empresas do concelho em termos de emprego. Como em todo o Alentejo... O pior é que, tal como acontece com os medicamentos, o facto de a autarquia ser albergue para tanta gente, também tem os seus inconvenientes, os tais efeitos secundários. Que são cada vez mais numerosos e mais óbvios. Provocam a necessidade da maiores recursos, o que implica taxas e licenças mais elevadas; complicam desnecessariamente o circuito burocrático; tornam cada vez mais lenta a máquina administrativa, são cada vez mais repulsivos para os potenciais investidores.
Noutros tempos, tudo isto passaria despercebido. Agora, com a comunicação electrónica, as boas estradas e os automóveis, os cidadãos andam pela região e até fora dela, aproveitando para comparar os preços, a qualidade, a limpeza urbana, a segurança, o tipo de atendimento, as obras, o que dizem as pessoas... depressa concluindo que nos concelhos limítrofes se vive melhor e com menos dinheiro, uma vez que os comerciantes tomarenses, tal como todos os seus colegas de todo o país, têm o hábito lamentável de repercutir nos preços ao consumidor os custos integrais antes assumidos. E como as alcavalas tomarenses são sempre bastante mais altas, sobretudo por causa da aludida obesidade...
Acresce que, na área da construção civil, dado que os senhores empresários do ramo são praticamente todos do tipo "self made man", "tarimbeiros", para usar um vocábulo nosso, não estão nada habituados a calcular preços de custo e subsequentes percentagens de lucro. Limitam-se, em geral, a perguntar ao contabilista avençado em quanto é que ficou o prédio, uma vez concluído. Depois fazem contas de papel e lápis: dividem o custo total pelo total de apartamentos, com uma ou outra correcção em função do tamanho de cada um, e pronto. Obtido o preço de custo de cada unidade a comercializar, no tempo das vacas gordas multiplicavam por dois e tínhamos o preço final, mais desconto, menos desconto. Agora, com as tais comparações e as consequências da obesidade ambiente, tudo incluído no preço praticado, a construção civil praticamente parou em Tomar. Até um prédio pertencente a uma sociedade controlada por um vereador a tempo inteiro, está há meses a aguardar acabamentos. E com compradores enrascados, porque entretanto venderam os apartamentos onde residiam e agora vêem-se forçados a aguardar melhores dias em casa de familiares. É a crise. Que continuará a agravar-se enquanto os senhores autarcas da circunstancial maioria não tiverem a coragem necessária para desencadear uma rigorosa política de emagrecimento autárquico.
Nos primeiros mandatos após o 25 de Abril, nem o presidente tinha secretária pessoal, quanto mais agora assessores. Hoje em dia, é o que se sabe. E que todos nós andamos a pagar, para benefício de uns poucos. Por isso há cada vez mais cidadãos a votar com os pés. Até quando?