terça-feira, 23 de outubro de 2012

PAUSA PARA REFLEXÃO

Não, não me cansei, não desisti, não tenho dificuldades de escrita. Apenas começam a faltar temas, uma vez que a situação tomarense quanto mais evolui, mais está na mesma: a piorar de dia para dia. Nestas condições, após 2926 escritos, 83 seguidores, 354.984 visualizações de páginas, 12.438 em Setembro, média de 415 por dia e 502 visitas ontem, tudo isto desde Novembro de 2008, julgo chegada a ocasião para uma pausa de reflexão.
A crise, afinal e infelizmente, veio para ficar, o que implica que o pior ainda está para vir. Tanto a nível nacional como local. Donde a necessidade absoluta de mudar de modelo de vida e de referencial teórico, abandonando imperativamente toda a tralha ideológica do século passado, que nos arrastou para onde estamos. Num país e numa cidadezinha onde se continua a confundir o mensageiro com a mensagem; onde quando se advoga a inevitabilidade de reduzir quanto antes a função pública em pelo menos 30%, se acusa o mensageiro de inimigo dos funcionários, em vez de indagar dos porquês da proposta; escrever com liberdade de pensamento é cada vez mais desconfortável.
Apesar dos sucessivos desmentidos oficiais, de todas as crises nacionais agora existentes na Europa dos 27, a nossa é a mais parecida com a grega. Tal como em Atenas, o nó do problema é a crescente dívida pública e a incapacidade política para a estabilizar, quanto mais agora para a reduzir. Por isso, os arautos da revolução para um dia destes, maoistas, trotzquistas, outros marxistas-leninistas, castristas, guevaristas, anarcas e quejandos, vão gritando por aí "fora com a troika", "não pagamos", "não ao pacto de agressão" "gatunos" e outros mimos de fino recorte literário e alto coturno político.
Para eles e a título de ilustração sobre a previsíveis consequências de não honrar os nossos compromissos, declarando-nos em bancarrota, aí está o exemplo argentino. Em 2001, o governo de Buenos Aires deixou de gerir a sua gigantesca dívida externa. Declarou insolvência. Seguiram-se anos de enormes dificuldades, de distúrbios urbanos, de desemprego em massa e de fome. Mais equilibradas as coisas, onze anos mais tarde, noticiava o EL PAÍS do passado domingo, a fragata LIBERTAD, navio-escola da armada argentina, está num porto do Gana, arrestada à ordem de um credor americano de 218 milhões de euros, da tal dívida pública ainda por pagar. A bordo estão cadetes, tripulação, instrutores e convidados, num total de 200 pessoas. Segundo o referido diário, a despesa diária ascende a 50 mil dólares, estando por saber até quando, uma vez que o governo argentino se recusa a liquidar as dívidas em causa. É isto que querem para Portugal?
Não, pois não? Então vão-se preparando para ainda maiores sacrifícios e crescentes dificuldades. ´É muito desagradável admiti-lo. A verdade porém é que estamos em termos politico-económicos naquela fase bem conhecida dos médicos cirurgiões. Perante um pé diabético e a obstinada oposição do doente à indispensável amputação, acabam por se apiedar, protelando a intervenção. Tornam assim inevitável a breve prazo, não a amputação do pé, mas a de toda a perna, sob pena de óbito. Assim estamos. No país e em Tomar. 
Pensem bem no que querem realmente. E se tiverem tempo, leiam ou releiam "Autárquicas 2009 - A quadratura do círculo" de 30 de Novembro de 2008. É só procurar do lado direito do ecrã.
Até um dia destes.

domingo, 21 de outubro de 2012

VIVÓ PROGRESSO !!!

Foto 1 - Instalações sanitárias da Mata, com três volumes. O primeiro, à direita, é a recepção -que até agora nunca serviu- com acesso simples e para deficientes.

Foto 2 - Futura cafetaria do parque de estacionamento da Cerrada dos Cães, junto ao Castelo dos Templários. No chão, as condutas de ar condicionado, agora em fase de instalação. Observe-se a fraca espessura da parede do lado esquerdo, bem como o tecto em pladur, ambos sem qualquer protecção térmica.

Foto 3 - Aspecto das casas de banho, instaladas no subsolo da cafetaria mas igualmente com acesso pelo exterior, já com a conduta de ar condicionado colocada.

 Foto 4 - Aspecto actual da cafetaria. O foto foi obtida ontem de manhã.

Crise? Troika? Austeridade? Sacrifícios? Que é isso? Aqui há alguns anos, com os socialistas no poder, o então ministro da cultura Manuel Maria Carrilho -um reputado filósofo, reconhecido internacionalmente- resolveu mandar fazer no ministério umas instalações sanitárias com ar condicionado, para seu uso pessoal. Foi um escândalo. A imprensa pegou no caso como cão que ferra uma perna e o infeliz governante só não teve que pedir desculpa e mandar demolir porque entretanto, como sempre sucede, a coisa caiu no esquecimento, ultrapassada por outras tramóias bem mais graves.
Vai-se a ver, anos volvidos e com o PSD no poder, constata-se que afinal o ilustre intelectual mais não fez que anunciar o futuro, como costumam  fazer todos os filósofos que se prezam. Pelo menos em Tomar, esta bela cidade outrora orgulhosa e limpa, mas agora porca e envergonhada.
Após o brilhante achado das casas de banho à entrada da mata, com uma imponente recepção, dispendiosa mas absolutamente inútil, a autarquia nabantina deu mais um passo corajoso rumo ao futuro e à sociedade socialista. A futura cafetaria da Cerrada dos Cães, bem como as respectivas instalações sanitárias no subsolo, terão ar condicionado, apesar de nem as paredes nem a cobertura terem sido convenientemente isoladas. Agora também já é tarde. Coitado do futuro concessionário -se houver algum com tendências suicidárias...- caso não desligue aquilo tudo, só conseguirá ganhar para a bucha vendendo os cafés e as bebidas em geral ao preço dos combustíveis. E mesmo assim...
De qualquer maneira, eis mais uma prova de que ninguém consegue parar o progresso. Nem a dívida da autarquia! 
Resta aguardar a conclusão das obras, para então verificar se instalaram igualmente torneiras, autoclismos, secadores e iluminação com sensores de movimento. Bem como em cada sanita um dispositivo para lavar, secar, desinfectar e perfumar o respectivo, como já se usa nos modernos 5 e 6 estrelas dos Emiratos.
É dos livros que na futura sociedade socialista "a cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas possibilidades."  No caso presente, para clientes de caca, obras de caca. Aprovadas por autarcas de... capacidade muito reduzida para entender aquilo que estão a votar.
Se tem remédio? Claro que tem! O dinheiro é que já se foi. Vivó progresso! Amen!

sábado, 20 de outubro de 2012

A zona euro e as ovelhas ranhosas

Numa altura em que se agudiza a crise social, devido à discussão do orçamento mais gravoso desde há muitos anos, valerá a pena saber como vão as relações entre a troika e o governo de Atenas, outra ovelha ranhosa da zona euro. Ao mesmo tempo que "Em Helsínquia, tanto os intelectuais como os cidadãos comuns têm sempre uma solução, mais ou menos evidente, para esta crise: "É simples; façam como nós!", disse-nos um universitário. Por outras palavras, apertem o cinto, façam as reformas necessárias, recapitalizem os bancos em dificuldade, obrigando-os a assumir os custos via nacionalização. Os mais extremistas aconselham mesmo a Grécia e Portugal a abandonar a zona euro, como por exemplo Vesa Kanniainen, professor de economia política, muito solicitado pela comunicação social, que já concedeu 55 entrevistas sobre o tema.
A saída do euro destes dois países (note-se que a Irlanda não é mencionada) seria, segundo o mesmo professor, uma maneira como outra qualquer de emendar os erros de construção da moeda única, que "destruiu a disciplina", permitindo aos países obter empréstimos a baixo custo, apesar das sucessivas derrapagens orçamentais. Há também vozes mais raras a considerar que a melhor solução é a saída da Finlândia, antes que a crise arruíne o país."

Claire Gatinois, Le Monde, 19/10/2012, página 2


"Os dirigentes da zona euro já não consideram a Grécia um caso perdido"


"O governo grego e a troika chegaram a um entendimento de princípio para desbloquear mais 31,5 mil milhões de euros de ajuda externa."

"Não se trata ainda de uma nota positiva, mas também já não é um Mau. A Grécia deixou de ser considerada "o veneno" da zona euro e o seu primeiro ministro deve sentir-se agora mais à vontade no Conselho Europeu de 18 e 19 deste mês, em Bruxelas.
O acordo sobre as medidas de austeridade não foi ainda totalmente finalizado entre o chefe de governo Antonis Samaras e a troika. Num comunicado comum, datado de 17 de Outubro, a Comissão Europeia, o BCE e o FMI indicam contudo que chegaram a acordo sobre as "medidas essenciais", deixando para as equipas locais a finalização das negociações.
Este comunicado coloca assim um ponto final no folhetim das tensas negociações entre o governo grego e a troika, que se arrastam desde o verão, nomeadamente sobre a flexibilização  do mercado laboral. Entretanto, os sindicatos continuam furiosos e apelam à greve geral para 18 de Outubro, primeiro dia da cimeira europeia. Mas esta cólera dos gregos já não será estigmatizada. O estado de espírito europeu mudou em relação a Atenas.
Angela Merkel, antes tão dura, saudou os esforços já feitos pelo país, após a sua visita de 9 de Outubro. Apesar das cruzes gamadas que acompanharam o seu curto périplo, a chanceler alemã não se cansa agora de defender a Grécia. E não está sozinha. A directora geral do FMI, Christine Lagard, que ainda há pouco tempo reservava a sua compaixão para a Nigéria, reconhece agora que é melhor deixar a Grécia "respirar".
Parece fora de dúvidas que ninguém tem interesse em provocar uma nova crise, num momento em que é necessário gerir um plano de ajuda à Espanha. O que todavia não explica tudo, segundo Michalis Vasileiadis, economista do centro de reflexão IOBE, em Atenas. "Conseguimos progressos reais. Estas declarações são o reconhecimento dos nossos esforços", acrescentou, lembrando que o défice grego de 15,6% do PIB, em 2009, deve baixar para 6,6% até Dezembro de 2012 (7,5%, segundo o FMI). Sobretudo, concluiu, o clima político mudou. Com uma coligação de três partidos no poder, bloquear medidas de austeridade e outras reformas tornou-se muito complicado. "O governo tem agora bastante mais credibilidade."
Os analistas independentes reconhecem que as coisas evoluem. Numa nota de 15 de Outubro, os especialistas do banco Crédit Suisse observam que "o orçamento grego está "grosso modo" nos carris". A competitividade melhorou: após as reduções salariais massivas e as reformas laborais, o custo do trabalho "apagou quase totalmente o aumento verificado desde a entrada na zona euro", afirmam os analistas. Alguns indicadores económicos, como a produção industrial, são menos maus desde há alguns meses.
A Grécia ainda não está livre de problemas, longe disso. Em Janeiro começará o sexto ano consecutivo de recessão, a taxa de desemprego é enorme (25% da população activa), os capitais continuam a sair e as empresas a emigrar. A entidade grega Coca-Cola está cotada na Bolsa de Londres e paga os impostos na Suiça. O grupo grego de produtos lácteos FAGE mudou o domicilio fiscal para o Luxemburgo. Carrefour, Saturn, Crédit Agricole e Société Générale, ou já sairam ou estão para sair do país.
"Não é melhor, mas também já deixou de piorar", resumiu Michalis Vasileiadis, que espera que a mudança de tom dos dirigentes europeus e do FMI se traduzirá num alongamento suplementar de dois anos, para que o país possa cumprir os objectivos do défice fixados pela troika. E que depois será implementado um plano de investimentos. "Precisamos de dinheiro, mas também e sobretudo de esperança", declarou um quadro de uma empresa pública grega."

Claire Gatinois e Alain Salles, Le Monde, 19/10/2012, página 19

Mazelas tomarenses


Cada vez mais apertados pela crise, os portugueses insistem de modo crescente naquilo que, como qualquer outro povo do sul da Europa, melhor sabem fazer -dissertar sobre qualquer tema, por mais complexo que seja. Como se cada cidadão fosse um especialista de renome internacional. Nesta onda, não surpreende que se sucedam por estas bandas eventos sobre turismo. Conferências, congressos, colóquios, reuniões, simpósios, seminários, turismo e desenvolvimento, turismo e economia, turismo e património, turismo e gastronomia, turismo e saúde, turismo indústria da paz, a lista é cada vez mais longa.
Claro que se trata de actividades louváveis e proveitosas, desde que tenham continuidade na vida de todos os dias. Infelizmente não tem sido o caso. O que nos coloca na curiosa situação que seria a de cirurgiões especialistas em conferências sobre cirurgias várias, todavia incapazes de operar doentes. Exagero? De modo nenhum. É comum os turistas queixarem-se de que não conseguiram arranjar maneira de visitar a cidade e o Convento devidamente acompanhados por quem saiba explicar. E também já aconteceu terem feito visitas guiadas cuja qualidade não deixou saudades...
Não é a primeira vez que aqui se chama a atenção para a necessidade imperiosa de melhorar significativamente a qualidade do acolhimento, sob pena de estarmos condenados a prazo. Mesmo com excelente material impresso de apoio, cada visitante descontente é um poderoso veículo de contrapropaganda, como mostra, por exemplo, o facto de o total anual de visitantes do Convento de Cristo estagnar há vários anos, salvo em 2011, graças aos tabuleiros.
A foto que encima este texto testemunha o que sucedeu com o tão badalado caminho pedonal Cidade-Convento pela Mata, que custou uma pipa de massa. Alguns meses apenas após a respectiva abertura ao público, parte da sinalização está assim. O sol comeu as letras e a rama da oliveira fez o resto. E os pobres turistas andam à nora, apesar de não serem burros. Qualidade precisa-se! E vergonha na cara! Quem sabe toca! Quem não sabe que passe a corneta a quem saiba!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Saladas da Santa Iria





Quatro aspectos da edição deste ano da multicentenária Feira das Passas, que já foi uma referência na região, pela genuinidade dos seus produtos e respectivos preços. Destaque para o saibro lavrado e o candeeiro decrépito, na primeira foto; a curiosa arrumação das bancas, na segunda; uma vista do conjunto, na terceira, ; e o esgoto provisório das casas de banho temporárias. Se fosse um particular a fazer semelhante coisa, a câmara multava-o logo e a ASAE não perdoava. Esgoto com coliformes fecais a céu aberto?! Nem pensar!!! Mas tratando-se da Comissão da Feira de Santa Iria...

Quem se dê à pachorra de ouvir as queixas dos comerciantes da parte antiga da cidade, sabe que as queixas são muitas, que o negócio vai de mal a pior. Entre elas, avulta a de que os turistas/visitantes/clientes não vêm até ao centro, nomeadamente por falta de estacionamento gratuito. Procurando remediar a problemática situação na medida do possível, o vereador Luís Ferreira determinou que a Feira das Passas fosse instalada na Praça da República. Assim se fez, salvo erro durante dois anos. Este ano porém, alguém -que não se sabe quem tenha sido- viu a coisa de outra maneira e decidiu que ao lado da Igreja de S. Francisco é que era bom.
Vereadores contactados garantiram a Tomar a dianteira que nunca o executivo debateu tal problemática. Deve ter sido por conseguinte a Comissão da Feira da Santa Iria, presidida pelo vereador Perfeito, a mãe da criança. Baseada em quê, eis o que falta apurar. Tal como a legalidade da referida comissão, que até tem autonomia financeira, mas salvo erro nunca submeteu as suas contas ao crivo da Assembleia Municipal. Está mal! 
Nalguns cafés da cidade pode ler-se "saladas várias". A autarquia está na mesma. Só em relação à Feira de Santa Iria já temos a mudança inopinada da Feira das passas, o diferendo com a Rádio Hertz e a eventual ilegalidade da comissão.
Tudo isto sob a égide de um presidente por substituição, que indica no seu currículo "Dr. Carlos Carrão, Licenciatura em Economia (inc.), Possuo uma vasta experiência autárquica, que se deu início (sic) como secretário da Assembleia de Freguesia de Casais, entre 1985 e 1989." (Colóquio sobre património e turismo, Centro Cultural da Barquinha, 20/21 de Outubro, IPT, CPH, ITM, Município da Barquinha, CV dos participantes.)

A CHAGA DA EMIGRAÇÃO

Dieter Biskamp/O Jumento

Mais um grupo de portugueses da geração mais bem formada de sempre emigrando para a África do Norte. Ou será antes um grupo de africanos procurando por todos os meios chegar à Europa?

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Análise da imprensa regional de hoje

"Câmara de Tomar quer aderir ao PAEL à revelia da Assembleia Municipal", titula "O MIRANTE" na primeira página. Trata-se de mais uma bizarria do presidente Carrão, que assim mostra estar disposto a cumprir a lei só quando tal lhe convenha. Por este caminho, ainda agora a procissão vai a sair da igreja, uma vez que o PS já anunciou o recurso à via judicial, enquanto os IpT preferiram o protesto escrito. A triste verdade é que, com atitudes deste tipo, surgimos cada vez mais como os calhordas políticos do distrito. Como mostra este excerto da habitual secção "Emails do outro mundo": "Os presidentes das juntas de freguesia de Tomar estão a ser apontados como os maus da fita por terem abandonado a reunião da assembleia municipal na altura em que se votava o recurso a um empréstimo destinado a pagar os calotes da câmara aos fornecedores, É uma injustiça muito grande. Acusações destas não podem ser feitas de ânimo leva. Há que investigar. Saber o que realmente aconteceu. Não terão saído todos ao mesmo tempo para fumar, por exemplo? Não terão saído todos ao mesmo tempo para irem à casa de banho? Segundo sei, antes das reuniões políticas há sempre uns amigos que reúnem para petiscar. Será que o coelho à caçador tinha tempero a mais??!!! É por estas e por outras que eu já não acredito muito na objectividade jornalística. Então cabe na cabeça de alguém que os senhores autarcas tenham saído de propósito, fazendo com que a câmara não possa pagar e os fornecedores fiquem com as barbas de molho??!! Ná...não é possível."


CIDADE DE TOMAR também refere o caso do PAEL na primeira página, preferindo contudo fazer manchete com a bênção da nova imagem da padroeira Santa Iria. Realmente, com a crise que por aí alastra a olhos vistos, mesmo a menos de 40 quilómetros de Fátima não se perde nada em rezar aos santos da casa, que não fazem milagres, diz o povo. Os leitores interessados nas peripécias do PAEL têm na página 4 o comunicado dos IpT e "O que os tomarenses precisam de saber", subscrito pelo vereador Luís Ferreira.

Quase dois anos depois de o assunto ter sido abordado nestas colunas, O TEMPLÁRIO destaca em manchete "O escândalo dos telemóveis" na câmara de Tomar. Culpa do jornal? Se calhar não. É muito possível que só agora tenha conseguido obter a relação das despesas sumptuosas com um dos brinquedos para adultos mais difundidos no Mundo. Digo isto porque, aquando da solicitação de Tomar a dianteira, a autarquia só respondeu quando instada pelo poder judicial a fazê-lo. Feitios... Quanto ao sumo da questão, então como agora saliência para o clima de mais a mim, mais a mim, que leva a que nenhum eleito se queixe porque todos vão comendo à mesa do orçamento. Uns mais, outros menos; uns assim, outros assado. E a troika minoritária lá vai sobrevivendo.
Nas páginas 8 e 9, respectivamente, Mário Cobra e Luís Pedrosa Graça fazem o elogio fúnebre do conterrâneo Fernando Patrocínio, que nos deixou aos 79 anos.
Destaque também para a crónica de Hugo Cristóvão, a criticar forte e feio os laranjas locais e cujo título dispensa mais comentários: Mentirosos!

HÁ MESMO OUTRO CAMINHO ???

"Afinal não são assim tão maus..."


"O governo socialista está mesmo atado de pés e mãos pelos seus dogmas, como se lê na imprensa de centro-direita? Eis uma tese no mínimo muito difícil de defender, que resulta mais do partidarismo que do exame sério da política em curso. O ministro da administração interna segue uma política de segurança bastante afastada dos supostos preconceitos da esquerda pura e dura. A negociação em curso com os parceiros sociais tem como objectivo já anunciado ampliar, mediante um compromisso patronato/sindicatos, a adaptação do mercado de trabalho às novas realidades. Numa palavra: flexibilizar. Contra a corrente de um certo discurso de esquerda, o governo socialista já admitiu que o custo do trabalho é um elemento importante na competitividade francesa. Uma inesperada fuga de informação -ou terá sido propositado?- vinda da presidência da república, indica que Hollande está em vias de transferir para os impostos directos uma parte  da TSU patronal, tendo em vista reduzir os custos de produção.
Para muitos economistas, o governo socialista está mesmo a ir demasiado longe. A austeridade imposta aos franceses pode prejudicar o crescimento económico. E é verdade que, dada a ausência de uma retoma europeia, a redução dos défices pode muito bem arrastar-nos para o círculo vicioso da recessão. Tradicionalmente, logo que a esquerda conquista o poder, começa por cantar "Le temps des cerises". Desta vez, começou pelo tempo dos caroços. Onde é que está a falta de iniciativa, a moleza?
A política agora em vias de implementação só poderá surpreender os que não lêem os textos e esquecem os itinerários. O verdadeiro projecto de François Hollande, herdeiro de Mitterrand mas filho ideológico de Jacques Delors, é a introdução em França da política de compromisso social, tão frequente no resto da Europa. Apoiar a produção, redistribuir pelos impostos: o hollandismo é afinal uma social-democracia. O que não constitui uma garantia de sucesso, tanto mais que ainda estamos na fase das intenções e dos projectos. Mas indica um rumo.
Durante décadas, a direita lamentou que a esquerda francesa não acompanhasse as suas primas mais realistas da Europa do Norte. Está agora a fazê-lo. Estão à espera de quê, para aplaudir?"

Laurent JOFFRIN, editorial, Nouvel Observateur, 11/10/2012, página 3

O editorial de Laurent Joffrin tem quatro partes. A tradução refere-se às duas últimas.

NOVA VALÊNCIA NA ÁREA DO LAZER

Turismo de emagrecimento em Portugal


Sofre de obesidade mórbida? Tem problemas de peso? Pretende readquirir o seu perfil de juventude? Gostaria de gastar muito menos em alimentação? De comer menos? Não consegue controlar o apetite?
Escolha Portugal para viver! Traga as suas economias.  Gaspar, o nosso especialista em emagrecimento, trata-lhe do resto. 
Também pode optar pela Coreia do Norte ou Cuba. Com vários inconvenientes porém. É muito mais longe. O clima não é tão ameno. Os vistos são difíceis. E há campos de trabalho! A escolha é sua.
Boa sorte!

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

HÁ GOSTOS PARA TUDO...

L'EXPRESS, 10/10/2012, página 69

Complicar é que está a dar

A partir do momento em que se tornou claro que PS e IpT não pretendiam provocar a queda da relativa maioria, mas apenas impedi-la de governar, complicar é que está a dar. A mais recente chicana é o muito badalado caso do PAEL, vulgo empréstimo. Como se sabe, a oposição tencionava votar contra de forma unida, mas o vereador Vitorino furou o compromisso socialista e a deliberação foi aprovada, seguindo para a AM. Tal como antes já sucedera com as despesas de representação para os directores de departamento e chefes de divisão, em que Pedro Marques votou a favor e Graça Costa se absteve , tal como os socialistas.
Uma vez na AM, a tradicional ausência de frontalidade continuou a dominar. Aproveitando a geral ignorância política e a subsequente inépcia da mesa, o presidente Carrão fez como se fosse membro do parlamento local. Em vez de cumprir a lei, limitando-se a responder aos pedidos de esclarecimento dos parlamentares, lançou-se numa longa intervenção política, que meteu chantagem e tudo o mais. Sabendo o que a casa gasta, os presidentes de junta PS e IpT (uma anomalia num órgão legislativo e de fiscalização, visto que são executivos e portanto sempre parte interessada), colocados por assim dizer entre o martelo e a bigorna, abandonaram a sessão antes da votação. Resultado: pedido de empréstimo aprovado por 15 votos a favor e 13 contra, estando presentes 28 deputados municipais. Aprovado portanto? Pois não senhor! A Lei das Autarquias Locais, que rege nesta matéria, estabelece que nos empréstimos de médio/longo prazo, que envolvam dois ou mais mandatos, a respectiva aprovação exige uma maioria absoluta dos eleitos em efectividade de funções (nº 8 do artº 38º da Lei 2/2007), o que implicaria neste caso 19 votos favoráveis, uma vez que a Assembleia conta com 37 membros.
Apesar disso, ao que afirmou apoiado em pareceres jurídicos capazes, Carrão decidiu avançar na mesma e solicitou o empréstimo de 3,6 milhões de euros (uma ninharia para quem governa, visto tratar-se de dinheiro dos outros). Resposta por assim dizer imediata do PS: Vamos recorrer ao Tribunal Administrativo de Leiria, pedindo a impugnação do acto.
Temos assim mais uma chicana local. Nada impede o tribunal de Leiria de demorar meses a decidir. É mesmo o mais provável, tendo em conta a usual morosidade da justiça portuguesa. Entretanto, Carlos Carrão poderá vir a conseguir o almejado empréstimo, tendente a melhorar a imagem da relativa maioria laranja junto do eleitorado nabantino, se tal ainda é possível, e até pagar aos credores "preferenciais". Não há outra solução viável, alegarão os do PS e IpT. Mas há! Antes de mais, o presidente Carrão está legalmente impedido de solicitar o empréstimo até que a acta da AM seja aprovada. Como é usual nestas coisas, a decisão só é válida após ratificação escrita. A seguir, lá diz o povo que "mais vale um mau acordo que uma boa demanda". Na circunstância, seria mais rápido, mais lógico e mais consensual requerer a realização de uma sessão extraordinária da AM, para debater e resolver o imbróglio. Ainda não é tarde. Caso o não façam, ficará no seio da opinião pública tomarenses a ideia segundo a qual é cada vez mais evidente que, em Tomar, entrámos no reino da cachopice...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Recomeçaram os conclaves partidários

A conferência de imprensa do PS, que teve lugar ontem à noite na sua sede, veio confirmar a tendência reinante dos últimos tempos no microcosmo partidário nabantino. Recomeçaram os conclaves. Como sabemos, o vocábulo designa a reunião de cardeais que usualmente se fecham à chave = con clave, para escolherem o papa, ficando incomunicáveis até à decisão final e proibidos de relatar o sucedido, sob pena de excomunhão.
Pois está a suceder o mesmo nas agremiações políticas da urbe. Os seus dirigentes e quadros vêm-se reunindo para preparar as autárquicas 2013, sem que posteriormente se venha a saber oficialmente o que por lá se passou. Há sempre umas fugas, mas só para íntimos e iniciados, a coberto do mais rigoroso anonimato, que delas não podem dar conta, sob pena de perderem a "fonte". A reunião do PS não fugiu à tradição. Tinha um ponto da Ordem de Trabalhos para debater o assunto, mas Anabela Freitas nada disse sobre o tema na citada conferência. Ou pelo menos a comunicação social presente nada comunicou.
Compreende-se que assim suceda. Impera ainda em Portugal, sobretudo em Tomar e nas terras pequenas, a centenária crença de que "o segredo é a alma do negócio". Um axioma que contraria em absoluto a vivência democrática a qual, como facilmente se entende, pressupõe a total transparência e logo a ausência de segredos. Mas adiante, que é o que vamos tendo.
Qualquer cidadão adulto e responsável sabe que tem de viver de acordo com as suas posses. Grosso modo, em conformidade com aquilo que ganha. Caso assim não proceda, vai vendendo património, contraindo dívidas e pedindo empréstimos. Trata-se, como salta à vista, de uma situação transitória, que só poderá prolongar-se até que haja credores dispostos a arriscar. Os quais credores vão aproveitando a prodigalidade do devedor para lhe sacarem juros cada vez mais altos... Tal é neste momento a situação do país e da maior parte das autarquias.
No que concerne a Tomar, há uma dívida à volta dos 40 milhões de euros e um mastodonte burocrático que trabalha mal, trata mal os munícipes, nem sempre obedece aos eleitos e custa anualmente bastante mais do que as receitas que aufere. O que nos arrastou para a situação em que estamos: uma cidade outrora florescente, bela e orgulhosa, mas agora escalavrada, suja e a definhar. Donde as cautelas dos partidos e outras formações políticas. Terão percebido (finalmente?) que com rebéubéu de circunstância e paninhos quentes não saímos da cepa torta. O que os leva a frequentar cafés, tertúlias, outras reuniões e congressos, em busca da esmeralda perdida: uma ideia global que permita resolver um rol de problemas, daqueles de assustar o mais calmo dos cidadãos: Pagamento da dívida, problema do mercado, desmantelamento do acampamento cigano, Elefante Branco da Levada, Bairro 1º de Maio, Bairro Sra. dos Anjos, drástica redução de funcionários, começando pelos dirigentes, Gestão do Complexo Castelo/Convento/Pegões/Mata, limpeza e requalificação de todo o troço urbano do Nabão, questão do hospital, decadência do Politécnico... 
Perante tal filme de terror, compreende-se que qualquer pretendente a candidato coce várias vezes a cabeça antes de avançar. Sobretudo se for jovem, pretender fazer carreira e não tenha ideias precisas sobre que fazer, como fazer, com quem fazer, onde fazer e para quê fazer. É a vida, diria o Guterres, que enquanto governante revelou um apurado sentido de oportunidade. Que pena que os políticos locais o não tenham herdado!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

HÁ MESMO OUTRO CAMINHO ???

"Agressão sem pacto"

"Não é agradável, mas é preciso dizer que as propostas da extrema-esquerda, PCP, BE e CGTP, são um disparate. Rejeitar o "pacto de agressão", como lhe chamam, e renegociar a dívida iria não reduzir a austeridade, mas aumentá-la imenso.
Isto não significa impedir essas forças de afirmarem o que quiserem e, muito menos, sugerir punição por fazê-lo. É preciso cautela, porque elas estão sempre prontas a fazer-se de mártires, acusando de antidemocrático quem se atreva a criticá-las. Ninguém as quer perseguir. São movimentos legítimos, que devem ser levados a sério e avaliados pela seriedade do que defendem. Têm todo o direito de dizer o que quiserem, tal como existe o direito de livremente as comentar.
É evidente que têm toda a razão em repudiar a austeridade. Aliás nisso estão como todos os partidos e orientações. Ninguém em Portugal gosta ou deseja sacrifícios. O facto de a sua rejeição ser mais sonora e violenta não significa maior desaprovação, só menos cortesia.
O que os distingue é a forma como reagem aos sofrimentos que afectam todos. Se rejeitássemos a dívida externa e abandonássemos os credores teríamos, é claro, um benefício imediato, eliminando os juros e ónus dessa dívida. Mas o que nos levou a pedir ajuda externa pouco teve a ver com isso.  A causa aflitiva vinha de os mercados se terem fechado a novos empréstimos, impedindo os financiamentos de que o Estado precisa para sobreviver. O problema dos países em dificuldades financeiras, como o das pessoas, é menos o que já devem do que aquilo que precisam de continuar a pedir emprestado.
O pacote de ajuda aprovado a 17 (Econfin) e 20 (FMI) de Maio de 2011 trazia consigo 78 mil milhões de euros até final de 2013, quase metade da nossa dívida pública directa à data do acordo. Esse enorme empréstimo de último recurso foi feito com condições, a famigerada austeridade, porque é preciso resolver o desequilíbrio que gerou a situação.
Aliás, o mais irónico é que a austeridade pouco tem a ver com a dívida. Ela serve para curar o défice, uma sangria que teremos de resolver, haja ou não dívida. Rejeitar juros e reembolsos não curaria a doença, só adiaria os sintomas.
Se Portugal, como querem essas forças, tivesse rejeitado as condições, o efeito seria uma travagem brusca do financiamento externo, ficando o país entregue à sua sorte. Isso daria uma austeridade maior e imediata. O que a troika quer que façamos em três anos, teríamos de o fazer de um dia para o outro, por absoluta falta de fundos. Nesse caso, as pensões e salários públicos entrariam em ruptura, perdendo não dois, mas muitos meses. Os impostos seriam elevados muito acima do que se prevê que venham a subir. Haveria cortes brutais em todos serviços e sistemas públicos.
Isso não é o pior. Enveredando por um caminho de rejeição das suas responsabilidades internacionais, o nosso país tornar-se-ia então um pária mundial, junto com Irão ou Coreia do Norte, pior do que a Grécia. Ganharíamos amigos em certos cantos do mundo, mas à custa do corte com os nossos parceiros e aliados, queda dramática das exportações, investimentos e outros fluxos. Era o colapso.
Assim, as propostas que esses movimentos apregoam com tanto afinco constituem, em poucas palavras, um disparate monstruoso., que qualquer pessoa sensata coraria de sugerir. Não estão em causa opções ideológicas, que raramente têm efeito na contabilidade e nas finanças, mas simples bom senso. Isto são coisas evidentes, que todos entendem.
Sendo assim, porque razão pessoas inteligentes propõem tais ideias de cabeça erguida? Precisamente porque sabem que ninguém as seguirá. Fingindo ter alternativa, que realmente não existe, capitalizam todo o descontentamento a seu favor, enquanto a "troika de direita" (PS, PSD, CDS) paga a despesa política de salvar o país. Por detrás de uma máscara de linha doutrinal está, realmente, um descarado oportunismo. Os outros que façam o que é preciso, debaixo de uma impiedosa chuva de insultos, enquanto eles aproveitam para subir nas sondagens à custa da desgraça nacional."

João César das Neves, professor de economia na Universidade Católica, naohaalmoçosgratis@ucp.pt Diário de Notícias, 15/10/2012, página 54
A cor azul, para destacar, é de Tomar a dianteira.

Coitado do Gaspar?

Tomar a dianteira chegou lá através de Vamos por aqui, o blogue do vereador socialista Luís Ferreira, mas é possível ir directamente, clicando aqui. Segundo o "Dr. Hugo Costa, assessor económico da Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República e deputado municipal de Tomar" (Luís Ferreira dixit no seu blogue), "Temos um governo em que o Ministro das Finanças é um dos economistas minoritários que acredita que o "pão e água" para todos é solução. Um burocrata da Bruxelas que deseja vingar o novo estilo de vida da sociedade portuguesa, onde uma classe média começava a florescer.
Friedmann, figura central da doutrina liberal ou Hayek encontram aqui o seu grande discípulo, mas um discípulo algo invertido devido à sua loucura fiscal. Hayek certamente diria que Vítor Gaspar tinha encontrado o caminho da servidão do povo português."
Só nos faltava mais essa! Além de extremamente exigente em matéria fiscal, Gaspar é "algo invertido"? Ou não foi isso que o dr. Hugo Costa pretendeu insinuar? Nesta segunda hipótese, será que o ilustre assessor na A.R. e deputado municipal socialista também está convencido de que o vocábulo "desabrochar" significa "retirar o dito da cavidade bucal"? A pergunta faz todo o sentido, pois se a resposta for afirmativa, é óbvio que o nosso querido conterrâneo teria todo o interesse em frequentar com aproveitamento aulas de reciclagem de português, sobretudo na vertente "pragmática linguística". A melhor e mais rápida solução susceptível de evitar novos equívocos semânticos. 
Aqui fica a sugestão, naturalmente amigável, dado que o saber não ocupa lugar e devemos ser sempre uns para os outros.

domingo, 14 de outubro de 2012

DIFERENDO VITORINO/PS

Em Tomar, a tradição ainda é o que era


Quem ainda aguarda que "haja sangue" no caso José Vitorino/PS, bem pode perder qualquer esperança. Tirar o cavalinho da chuva, como é uso dizer-se em linguagem coloquial. Tomar a dianteira sabe que o assunto foi debatido na reunião da CPC da passada sexta feira, com a participação do vereador indisciplinado. Após ampla e franca troca de argumentos, em que o vereador Luís Ferreira terá sido apontado como "espoleta" do caso, foi decidido que: A - A presidente da CPC, Anabela Freitas, dará amanhã uma conferência de imprensa, durante a qual esclarecerá o inesperado incidente; B - Luís Ferreira vai continuar a ser o porta-voz oficial do PS no executivo, o que constitui uma evidente desautorização do ex-cabeça de lista socialista; C - Vitorino vai cumprir o seu mandato até ao fim como vereador socialista, a menos que entenda renunciar, ou desvincular-se do PS.
Temos assim que mais uma vez imperou a tradição. Como é sabido, as mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos, disse o Lavoisier. Sucede que em Tomar, em matéria de gestão, é praticamente obrigatório proceder como habitualmente. Respeitar os costumes. Quando surgem problemas, em vez de tentar resolvê-los com coragem e o mais rapidamente possível, não senhor! Dissimula-se escamoteia-se, disfarça-se, protela-se, procura-se ganhar tempo. No limite, enquanto os credores forem na conversa, tudo bem...
Fiação, Matrena, Porto de Cavaleiros, Mendes Godinho, Adega, Matadouro, e muitas outras mais pequenas, faleceram vítimas dessa doença chamada falta de coragem, quando os respectivos credores se fartaram de esperar. Neste momento e sob os nossos olhos, Autarquia e IPT vão também escorregando na rampa final, rumo ao cemitério da História, porque aquilo que produzem não justifica o que gastam, que  no caso da autarquia é bem mais do que aquilo que recebe. Apesar disso, os respectivos responsáveis e núcleos duros continuam a garantir que vai tudo bem, não havendo razão para alarmes, muito menos para alterar o que quer que seja.
Se no caso do IPT a solução posterior é relativamente fácil, uma vez que as instalações são excelentes para albergar qualquer outro estabelecimento de ensino superior, naturalmente melhor gerido e com muito mais transparência; no que toca à autarquia, a música é outra. Quer queiramos, quer não, trata-se  do governo do concelho e da cidade, pelo que não se pode simplesmente encerrar e substituir por outro modelo mais eficaz. Nestas condições, uma vez que as formações políticas locais representadas no executivo e todas sentadas à mesa do orçamento, embora uma mais que as outras, não atam nem desatam, que fazer? 
O PSD nabantino acha natural continuar a apoiar os dislates da actual troika laranja. O PS -como acima se noticia- resolveu começar a assobiar para o lado, quando confrontado com a revolta de Vitorino "por razões de consciência", segundo o próprio. Que aceitou ser cabeça de lista numa candidatura a um órgão onde tinha graves assuntos pendentes como empresário desde pelo menos 2004, um ano antes de aderir ao PS, que até agora tem achado tudo muito consensual e transparente. Quanto aos IpT, no caso escandaloso das despesas de representação, o seu líder votou a favor, sem explicar porquê, mas Graça Costa absteve-se, situação anómala que tão pouco mereceu qualquer esclarecimento público. Tal como já acontecera com as renúncias sucessivas de Fernando Oliveira, Rosa Dias, José Soares e Jorge Neves. São demasiadas deserções em pouco tempo e numa formação com tão poucos aderentes. Mas pronto. Respeitam a tradição local, tal como os outros. Quando menos agitação melhor. É urgente não fazer nada. 
Enquanto os credores forem na conversa, estamos bem servidos estamos!

Não desanimem!

Cidadãos meus companheiros na Escola da Várzea Grande têm-me confrontado com o seu desânimo em relação à situação política local. Lastimam-se que não vêem perspectivas animadoras, que não há até agora candidatos fiáveis, que quanto a líderes e a projectos, o melhor é nem falar. Enveredam depois pela senda pretendida: "Fizeste mal em desistir; tens ideias; tens capacidade; estás livre; tens Mundo; já não precisas de fazer carreira; podes por isso cortar a direito; não te fica bem renunciar assim sem mais nem menos à tua obrigação de cidadania, ao teu dever cívico... ..."
De acordo; está tudo muito bem. Todavia, aquilo que aqui escrevi e foi interpretado como uma desistência, pode resumir-se numa curta frase: Desisto por falta de condições. Noutros termos: Não contem comigo para aventuras serôdias, do tipo movimento independente ou frente ampla, tendo como único objectivo realista animar a malta. Seria totalmente idiota e já há a nível local animadores de pista que chegam e sobram.
A minha desistência teve também outro objectivo -o de sossegar as luminárias do costume, que não se enxergando, mas julgando compreender a cidade e o Mundo, atribuem aos outros os seus próprios defeitos, pelo que se estavam a sentir incomodadas. Julgando-se fadadas para altos vôos, essas criaturas procuram afastar por todos os meios quem cuidam que lhes pode roubar os lugares a que pensam ter direito. Podem estar sossegados: não quero roubar o lugar seja a quem for. Avancem, convençam, ganhem, tomem posse, governem. É disso que a cidade precisa, que todos precisamos. Mesmo as ditas luminárias. Cá estarei para me rir ou para chorar, consoante as circunstâncias. Não esqueçam porém que costumo ser um bocadinho agressivo e cáustico quando sou forçado a chorar...
Se são dirigentes partidários, tomarenses por inteiro, e após meteram a mão na consciência, ou no que dela resta, concluírem que seria conveniente trocarmos ideias em prol do futuro desta terra querida, contem comigo. Basta marcar a data, o local, a hora e os temas a abordar. Privadamente, bem entendido. Espectáculo só posteriormente, no caso de...
Em termos simples e directos: caso achem conveniente e consigam convencer-me a partilhar uma última empresa política local, a noiva não ficará no altar por falta de comparência do noivo. Não se sintam porém constrangidos. Não ficarei mesmo nada zangado se puder continuar tranquilamente a escrever em Tomar a dianteira, como mero espectador atento e infelizmente pagante. Eis quanto!

sábado, 13 de outubro de 2012

Azáfama encapotada

Embora encapotada, por razões atendíveis, vai por aí grande azáfama nas hostes políticas. Buscam-se ideias, planos e candidatos credíveis. Tarefa hercúlea. Não pela razão apontada à mesa do café -a falta de candidatos a candidatos- mas exactamente pela oposta: há sempre excesso de pretendentes a candidatos. Sobretudo numa terra como Tomar, onde a experiência demonstra que os residentes terão decerto muitos qualidades, entre as quais não figuram contudo a humildade, o realismo ou a capacidade de se auto-avaliar. Donde têm resultado os tristes episódios que todos conhecemos, lastro do nosso evidente e dramático afundanço.
Se ao menos houvesse humildade em vez de megalomania, já não seria nada mau. Evitaria que muitos, pouco bafejados pelos dotes intelectuais, armassem ao pingarelho, simulando ser carapaus de corrida, quando nem a petingas congeladas chegam. A continuarmos como até aqui, julgo que estaremos perdidos a breve trecho, porquanto a crise ainda não tem fim marcado e a situação da autarquia é a que sabemos. Para além da dívida global, não consegue sequer assegurar a gestão corrente com os recursos disponíveis, o que implica mais empréstimos ou reformas corajosas. Quanto antes, que as receitas vão diminuindo à medida que as despesas vão aumentando, se nada for feito entretanto.
Simular, fingir, fazer de conta, improvisar, desenrascar, foram verbos muito conjugados ao longo dos anos de vacas gordas e maré cheia. Agora que as vacas estão cada vez mais magras e a maré cada vez mais baixa, sucede todos os dias o descrito pelo investidor americano Warren Buffet: "É na maré baixa que vê quem andava a tomar banho nu." A armar ao pingarelho, que é como quem diz a tentar intrujar o próximo. Mas tudo tem um fim.

Carta póstuma a um querido amigo

À memória do cidadão exemplar Fernando Patrocínio

A última vez que falei contigo, Fernando, foi na ponte velha. Tu vinhas para cá, para a antiga cidade dos vivos, eu em sentido oposto, rumo à antiga margem cemiterial. Agora, como bem sabes, tudo mudou. A cidade praticamente é do lado de lá, não sendo preciso dizer o resto. Quando aí nos cruzámos estava longe de imaginar que seria a vez derradeira. Mas foi. Ontem soube pelo portal d'O TEMPLÁRIO que nos deixaras para sempre, durante a noite. Em posição fetal, disse a tua filha mais tarde.
Fui ao teu funeral. Simples e humilde como tu. Saiu da capela do cemitério velho -decrépita como a sociedade tomarense e a própria povoação. Sem sacerdote, que tu não terias gostado que o chamassem. Entre cinquenta e cem pessoas a acompanhar-te rumo à última morada. Todos os previsíveis e alguns inesperados, que me abstenho de melhor referenciar. Esteve o senhor presidente da câmara e uma vereadora.
Na hora do adeus final, falou a tua filha, falou o Trincão e falou o Faria. Palavras sentidas. Houve aplausos. Mas nenhum dos três mencionou o que me parece básico: foste toda a vida um democrata sincero e iconoclasta, à moda de antes do 25 de Abril. E passaste pelos calabouços da PIDE, tendo sido abarbatado pelos seus esbirros quando tranquilamente jogavas xadrez, no Paraíso, com o Carlos Loures da Gulbenkian, outro combatente pela liberdade desde antes de 74. É portanto da idade, Fernando. Eram ainda putos nessa altura...
Para surpresa minha, e cuido que da maior parte dos presentes, após as orações fúnebres supra referidas, um conterrâneo aproximou-se com um grande rectângulo de tecido rubro, que lançou na tua campa. Acto contínuo, o coveiro municipal desceu à cova, ajeitou o pano, saiu, benzeu-se e deitou a primeira pá de terra...
Decerto, cumprindo a tradição, o nosso comum amigo e ilustre conterrâneo Luís Maria fará uma lutuosa com outro gabarito, como só ele sabe. Tu mereces. Como poucos.
Entretanto, até um dia destes, meu querido conterrâneo. 
Descansa em paz!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Como nos vêem em França

O suplemento Argent do diário Le Monde, de 11 do corrente, propõe aos seus leitores aplicações de capital no sector imobiliário em Marrocos, Grécia, Espanha, Portugal e Brasil. Eis a tradução da peça referente ao nosso país:


Em Portugal os preços também baixam drasticamente

Em Lisboa o preço por metro quadrado é, em média, seis vezes mais barato que em Paris

"Com tanto sol como a vizinha Espanha, Portugal acumula vantagens para quem pretenda adquirir uma residência secundária. "Há trinta voos diários entre a França e Portugal, onde o custo de vida é 25% mais barato", explica-nos Carlos Vinhas Pereira, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa, com sede em Paris. Outra vantagem: os preços imobiliários caíram cerca de 30% nos últimos três anos, devido à crise. Sobre-endividados, os portugueses são forçados a entregar as casas aos bancos credores. "Só em 2011 houve oito mil bens imobiliários penhorados", informou Vinhas Pereira. Para recuperar o capital emprestado, os bancos revendem os bens entretanto penhorados em saldo.
Na extremidade sul do país, no Algarve, alcunhada  de "Côte d'Azur" portuguesa, devido ao clima e às muitas praias de areia fina, alguns apartamentos e vivendas têm sido sido vendidos 30 a 40% abaixo do preço de mercado. Vivendas recentes de 200 metros quadrados e com piscina estão à venda por 300 mil euros.
Houve também grandes baixas de preços na costa oeste, mais autêntica, que se estende de Lisboa ao Porto. Um apartamento num prédio de gama alta, situado próximo do mar, custa em geral 1.400 euros o metro quadrado.
Lisboa, a capital do país, não é excepção. Os preços do imobiliário são seis vezes mais baixos que em Paris. Há apartamentos para restaurar a dois mil euros/metro quadrado em pleno centro da cidade, na Baixa, no Chiado ou em Alfama. Mas convém acrescentar mais 1.500 euros/metro quadrado para os apartamentos já renovados. "Em Lisboa, arrendar um T1 mobilado todo ano, menos duas semanas de férias, faculta um rendimento anual garantido de 4%", informou Pascal Gonçalves, director comercial de Maison au Portugal.
Em qualquer caso, convém contratar um advogado para evitar dissabores, pois os processos administrativos são geralmente complexos. Mesmo se não falar português, não precisa de contratar um tradutor. A Embaixada de França em Portugal faculta no seu portal Internet uma lista de advogados francófonos.
Incluindo todas as taxas obrigatórias, as despesas de aquisição situam-se geralmente entre 12 e 15% do valor da compra. Caso arrende o apartamento, com ou sem móveis, o rendimento obtido pagará 28% em sede de IRS, após dedução das despesas de conservação e do IMI. Montante que não será imputado no IRS francês."

E. Lan, Le Monde - Argent, 11/10/2012, página 8

Nota: A percentagem de IRS indicada no texto é da responsabilidade de Tomar a dianteira. A do original era de 16,5%, manifestamente desactualizada à luz do orçamento de Estado para 2013.
Na porta de um estabelecimento comercial da Rua Infantaria 15

Ora aqui temos uma excelente ideia para iniciar a resolução de alguns problemas tomarenses, que se arrastam há décadas. Numa altura em políticos mais sérios, experientes e competentes já têm a coragem de dizer publicamente que sem líder não vamos lá, para começar uma boa solução seria aplicar o anunciado no aviso a alguns órgãos e serviços. Naturalmente mandando os respectivos titulares (eleitos ou funcionários) para casa, com a remuneração por inteiro. Os tomarenses constatariam então que a vida pode ser muito menos complicada e os problemas resolvidos muito mais rapidamente, enquanto eleitos e funcionários chegariam à conclusão que, salvo poucas excepções, fazem tanta falta como a fome ou a febre tifóide. O que os poderia levar finalmente a descer do pedestal onde se julgam instalados, mudando de comportamento, de forma a tratarem de igual para igual todos os cidadãos. Como sempre deveria ser, mas não é. Quanto ao erário público, ficaria beneficiado em muitos milhares, graças à poupança de água, luz, papel higiénico, telemóvel, fixo, internet, papel, tonner, toalhas, limpezas...
Em resumo, ganharíamos todos; ganharia o país. Vamos a isso? Ontem já era tarde!

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Análise da imprensa regional de hoje

Abro com uma local ambivalente. Por um lado, bem triste para Tomar, pois é mais uma machadada no prestígio nabantino que já houve. Por outro lado, uma satisfação para os caxarienses, que passam a poder apanhar o SUD e o LUSITÂNIA na própria terra, quando até agora tinham de ir a Chão de Maçãs ou a Pombal.


 JORNAL DE LEIRIA, 11/10/2012, página 13




O tema recorrente desta semana parece ser a manifesta falta de liderança política. O MIRANTE titula que "Falta de um líder político em Santarém provoca guerra", tendo necessitado a intervenção da PSP em plena Assembleia Municipal. No CIDADE DE TOMAR António Alexandre afirma que "Assim não vamos lá", acrescentando a dado passo que "falta a Tomar um líder que a partir da câmara e da cadeira de presidente, saiba usar as nossas potencialidades e saiba moderar os vários interesses, aproveitando tudo o que temos. É isso que nos faltou e falta." Noutra página do mesmo semanário, António Cupertino, que não tenho o prazer de conhecer, cita Fernando Pessoa, escrevendo a seguir que "Um homem para liderar uma câmara como a de Tomar, e ser seu presidente, deveria ter saído do molde em que se fizeram os nossos maiores. Devia conhecer a História, a Geografia e os Homens que fizeram a Cidade que serve."
Um ponto comum, portanto: falta de liderança. Uma lacuna que me parece ser praticamente impossível de preencher nos próximos tempos. Por duas ordens de razões. Uma é o progressivo fechamento dos partidos, que a nível local não me parece que sejam um grande viveiro de líderes, por motivos de todos conhecidos. Quem sabe pensar e pensa de forma autónoma, não consegue suportar durante muito tempo a disciplina partidária, num contexto de crescente mediocridade, sendo que aos independentes não são facultadas hipóteses de encabeçar listas partidárias, salvo raríssimas excepções. Exemplo: Há quatro anos ainda consegui participar na eleição interna do cabeça de lista socialista, que felizmente perdi. Este ano nem isso é já possível, de acordo com o novo normativo interno, entretanto engendrado e aprovado pela maioria segurista.
A outra série de razões tem tudo a ver com a particular idiossincrasia dos tomarenses. Ser líder supõe ter um ascendente intelectual, cultural, político, reconhecido pelos seus concidadãos. Sucede que, infelizmente, os tomarenses se consideram em tudo os melhores do mundo, pelo que não reconhecem qualquer primazia ou ascendente a quem quer que seja. Donde a triste constatação segundo a qual os nossos conterrâneos são muito difíceis de aturar. Não só por se considerarem sempre os maiores, apesar de a realidade demonstrar o contrário a maior parte das vezes, mas também e sobretudo por terem um comportamento "soviético": consideram que "eles"= Estado, governo, autarquia, devem facultar ensino, educação, assistência médica, desporto, cultura, emprego, segurança, saneamento, e por aí fora. Tudo à borla e com qualidade. Cuidam também que só têm direitos, sendo os deveres para cumprir pelos outros. Com fregueses assim, quem quer ser prior de semelhante paróquia?
Uma nota final para a crónica de António Lourenço dos Santos, provável futuro cabeça de lista do PSD, segundo o que se vai ouvindo por aí, cada vez com mais insistência. Vem n'O TEMPLÁRIO e critica asperamente o comportamento da oposição, ao chumbar o PAEL na Assembleia Municipal, prejudicando assim gravemente uma série de empresas credoras, cansadas de aguardar que o Município lhes pague o que deve há longos meses.
Entretanto o assunto perdeu acutilância. Segundo a Rádio Hertz, apesar do chumbo, o executivo acabou por solicitar o empréstimo, uma vez aconselhado pela respectiva associação. A política é amiúde assim: muita parra e pouca uva. Sobretudo quando paradoxalmente andam todos à procura de um líder.

Tendo em vista as autárquicas 2013 - 2

Foto O MIRANTE
As sessões da Assembleia Municipal são cá uma seca! Com a agravante de apenas haver garrafinhas de água para molhar a palavra. Se houvesse outros líquidos mais animadores, até a votações passavam logo a ser diferentes!


Abstive-me de fazer prospectiva no escrito anterior, pois não era essa a intenção. Acontece contudo, que o futuro é o único sítio para onde podemos ir, de boa vontade, indiferentes, arrastados ou empurrados pelos circunstâncias. Com ou sem planos; com ou sem líderes à altura da situação. Como bem sabem os que vivem por estes lados, infelizmente por aqui o pior é sempre o mais provável. Basta atentar um bocadinho no executivo e na assembleia que teoricamente nos deviam governar desde 2009, mas que...
Pois para a próxima consulta quer-me parecer que as perspectivas não se apresentam para já nada brilhantes. Nem para lá caminham. No estado actual das coisas, que em princípio pouco deverá variar até Outubro 2013, uma vez que os tomarenses repudiam maioritariamente a evolução, repetido sempre os mesmos erros, que depois atribuem aos outros (Quem é que hoje admite que votou com entusiasmo em António Paiva, três vezes seguidas? Poucos ou nenhuns, não é assim? E no entanto o homem teve amplas maiorias absolutas, que lhe permitiram agir como um ditador, sem o ser), o melhor que nos poderá acontecer será uma cópia do que existe, ainda que eventualmente com outras caras: 3 PSD, 2 PS, 2 IpT. Muito aquém -ia a escrever "exactamente o contrário"- daquilo que nos convinha. Mas há pior.
A presente cavalgada solitária e por isso quixotesca de Carlos Carrão face à atitude firme da direcção local dos laranjas, que o exclui como candidato do partido, deixa antever que poderemos vir a ter de escolher em 2013 entre quatro listas de peso sensivelmente equivalente. Todas com actuais e futuros eleitos: PSD, PS, IpT, ICC, sendo ICC o hipotético acrónimo de Independentes Carlos Carrão. Caso tal venha a suceder, adeus hipóteses de reverter a actual trágica situação que é a nossa. Se com 3-2-2 já ninguém se entende, imagine-se o que será um executivo tipo 3-2-1-1, integrando tarimbeiros conhecidos mas sem rasgo e noviços cheios de ilusões, mas carecidos de capacidade de liderança e de arcaboiço político.
A menos que, como parece indiciar a foto supra, venha a haver uma convergência independente, congregando dissidentes rosas e dissidentes laranjas. No meu tosco entendimento, seria pior a emenda que o soneto, como mostra o actual desaguizado Vitorino (ex-vereadorPSD)/PS. Mas em Tomar já pouco ou nada me surpreende. Em qualquer caso, o actual presidente da edilidade não tem qualquer hipótese de ganhar, mas pode evitar que o PSD ganhe, tal como os IpT contribuiram para a derrota do PS em 2009, sacando-lhe votos. Parafraseando Vasco Pulido Valente, isto está a ficar cada vez mais perigoso!
À cautela, já providenciei no sentido de irem arejando e aprontando a casa que temos em Caxarias (Ourém), onde já habitei durante alguns anos. É outro clima, outra gente e não fica numa cova.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mais turistas penitentes

Foto António Freitas

Somos um concelho médio, mas rico em ocorrências insólitas. Não é preciso grande esforço para encher páginas de jornal. O pior é que nem sempre é pelo melhor motivo, como é desejo de quem escreve.
Três de Outubro. Dia de Assembleia Municipal extraordinária, nos Paços do Concelho. Subindo as escadas, um casal de turistas ingleses (que depois vim a saber que estavam instalados no Hotel dos Templários) pergunta-me onde é a Art Gallery, a galeria de arte em linguagem cá da terra. Foi grande a minha surpresa, pois ignorava que houvesse tal coisa nessa nobre casa, onde "o povo é quem mais ordena", ou pelo menos assim se lê nos azulejos. Valeu-me na circunstância uma deputada municipal, que me informou ser no r/c.
Uma vez ali, os turistas bateram com o nariz na porta, apesar de o horário afixado -com o timbre dos "serviços de museologia", uma designação bem pomposa- indicar que devia estar aberta. Quando já se dirigiam para a tesouraria municipal, vendo-os andar assim a modos que em penitência, de Herodes para Pilatos, tive pena e decidi ajudar. Pedi esclarecimentos às funcionárias sobre a estranha situação. Explicaram-me que havia um protocolo com o Politécnico, que usualmente destacava alguém para ali, mas parece que o referido protocolo entretanto findou, pelo que a galeria de arte ultimamente tem estado encerrada.
Transmiti aos visitantes, que lá se foram Corredoura abaixo, com aquele ar tipicamente britânico de quem já viu de tudo e mais alguma coisa. Lamentável! Se é para estar fechada, ao menos suprimam a informação "galeria de arte", nos folhetos distribuídos aos turistas. Não enganem quem nos visita. Coloquem na porta em letras gordas Encerrado, Cerrado, Fermé, Chiuso, Closed.
Pobre terra e pobre gente, que enche a boca com turismo, mas que não vê, não quer ver, não compreende sequer o que é prestar serviço, informando capazmente os visitantes. Cabe até perguntar se não seria melhor dar outras directrizes ao pessoal autárquico afecto ao turismo, ou mesmo entregar esses serviços a uma empresa de outsourcing. Ficava mais barato e os turistas desejariam regressar, ao invés do que acontece agora, pois a pesada herança sociológica dos funcionários públicos do ramo já provocou retornos menos positivos. Com este do casal de ingleses, perdidos na escadaria dos Paços do Concelho.
Cabe porém ao comandante -neste caso o presidente da Câmara- disciplinar as tropas e mandar retirar o horário afixado. No mínimo!

António Freitas

Tendo em vista as autárquicas 2013

Ainda falta um ano. Mas as próximas autárquicas já mexem. Em muita coisa. Com muita gente. Torna-se por isso básico e por assim dizer imprescindível tentar balizar o caminho. Assim como se costuma fazer nas montanhas onde neva bastante: colocando postes de ambos os lados, para indicar os limites da estrada. Vamos a eles. Aos postes, claro!

1 - As autárquicas 2009 confirmaram o já antes constatado: Em Tomar, salvo improvável terramoto eleitoral, fora da trindade PSD/PS/IpT não há hipótese de aceder ao executivo.
2 - Já houve em tempos um vereador CDU, mas não terá deixado saudades, pelo menos a ajuizar pelos resultados eleitorais mais recentes.
3 - Salvo acordo prévio com os IpT, ou erros crassos do PSD, o PS praticamente não tem hipóteses de vencer.
4 - A situação política nacional e local é tão sombria que o vencedor das autárquicas 2013, se quiser ser sincero, apenas poderá prometer aos tomarenses "sangue suor e lágrimas", tal como fez Churchill durante a segunda guerra mundial.
5 - Sangue, porque muitos vão perder rendimento, emprego, mordomias várias. Suor, porque todos os empregos tenderão a ser postos de trabalho e os instalados nunca souberam o que isso é. Num emprego estafam-se verbas dos contribuintes. Num posto de trabalho gera-se mais-valia. Lágrimas, porque vão ser muitos os dramas pessoais, dada a quantidade de gente que continua convencida de que a crise é apenas passageira e depois tudo voltará a ser como já foi. Era bom era! Mas não passa de falácia.
6 - Sem lugares para distribuir, sem dinheiro para liquidar dívidas antigas e sem grandes hipóteses de reverter a situação rapidamente, convém que o futuro vencedor seja alguém tipo batedor/conquistador, com grande arcaboiço psíquico e intelectual, com Mundo e praticamente sem nada a perder, o que exclui à partida os mais jovens, os emocionalmente frágeis (lembrar caso Corvêlo) e os que pretendam vir a fazer carreira.
7 - Os problemas magnos são conhecidos: dívida, ciganos, mercado, rio, investimento, PDM, polvo burocrático, ligação Convento/Cidade, excesso de funcionários, projectos fecundos. Quaisquer que venham a ser as decisões adoptadas em cada um deles, muitos serão os prejudicados = descontentes, o que significa que o presidente de câmara estará "queimado" bem antes de ter cumprido sequer metade do mandato. Portanto, quem desejar fazer carreira, qualquer que ela seja, tem todo o interesse em agir em conformidade desde já.
8 - Seria um erro trágico e de consequências imprevisíveis caso os futuros candidatos se obstinassem a considerar que "há sempre dinheiro, basta saber procurá-lo". Esse tempo acabou. Doravante cada presidente de câmara terá de aprender a governar-se com os seus próprios recursos. As esmolas de Lisboa tenderão a ser cada vez menores e com tendência a acabar.
9 - Tendo em conta o que antecede, é pouco provável que em 2013 venham a aparecer tantas listas como em 2009. Se assim for, ainda bem. Em plena tragédia e estando em causa o nosso futuro enquanto cidade sede de concelho, do que menos precisamos é de animadores de pista e outros cabotinos com sede de protagonismo.
10 - Cuidado com o facilitismo, o improviso e o desenrascanço. É por causa deles que estamos como estamos e vamos para onde vamos, em marcha cada vez mais acelerada.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Tudo boa gente. O pior é o resto

Acabo de tomar conhecimento (graças à Rádio Hertz, que noticiou o facto às seis e um quarto) de que a JSD-Tomar emitiu um comunicado, apelidando de "acto de irresponsabilidade" de toda a oposição a recente votação que rejeitou o recurso da autarquia ao PAEL. Consideram igualmente os jovens social-democratas que os argumentos avançados pelos opositores ao empréstimo são "falaciosos e demagógicos". O citado comunicado adquire ainda mais peso na paisagem política local, ao saber-se que o respectivo porta-voz foi o jovem Tiago Carrão, como é evidente sem qualquer comunidade de interesses com o actual presidente do executivo, o homónimo Carlos Carrão, posto que nesta terra -como todos bem sabemos- cada qual pensa pela sua cabeça. Ganda terra, onde é tudo boa gente.
Antes estivera a ouvir e ver mais um pouco do recente Congresso de Tomar, em boa hora gravado em vídeo e colocado na Rádio Cidade de Tomar. Começou a falar um docente do IPT, que à boa maneira portuguesa, em vez de se limitar a fazer perguntas, resolveu estender o guardanapo, avançando a sua opinião sobre o estabelecimento público onde exerce. No começo ainda tive esperança que finalmente alguém "de dentro" tivesse a coragem de admitir o cada vez mais evidente e oneroso fracasso daquela casa, testemunhado anualmente no diminuto número de candidaturas. Cuidei que iria revelar reuniões docentes, seminários mistos e conselhos pedagógicos, tudo com o objectivo de apurar as maleitas e tomar medidas susceptíveis de as remediar.
Pois não senhor! Fiquei a saber que, por assim dizer, vai tudo bem no melhor dos mundos, como diria o Pangloss. Houve poucas candidaturas porque não somos capital de distrito; mesmo com poucas candidaturas, os alunos do IPT deixam anualmente milhão e meio de euros na economia tomarense; haverá outros recrutamentos que usualmente compensam estas duas primeiras fases; há gente que não tem cuidado com a boca, prejudicando gravemente o IPT com críticas infundadas; a própria autarquia não tem feito o suficiente, etc. etc. etc.
Currículos ultrapassados? Cursos a rever? Métodos de ensino a actualizar? Comunicação a melhorar e incrementar? Recrutamento a aperfeiçoar? Componente prática a reforçar? Cooperação a desenvolver? Isso é que era bom! O problema é dos críticos. Uma cambada de invejosos, que apenas pretendem achincalhar um respeitável  e muito conceituado estabelecimento de ensino superior, bem como todos quantos nele trabalham com grande esforço, em prol da cidade e do concelho
Como provam os excelentes resultados entretanto conseguidos pelos docentes que a dada altura passaram pela política local. Ou estarei uma vez mais a ver mal?
Ganda terra, onde é tudo boa gente. O pior é o resto.

Um dos dois está errado

Foi notícia a nível internacional que no Brasil, onde o voto é obrigatório, 140 milhões de eleitores foram às urnas, para eleger a vereação de cinco mil e quinhentas cidades. Em Portugal, onde o voto é livre, nas autárquicas de 2009, 5 milhões e 500 mil leitores, de um universo de apenas 9 milhões e 400 mil inscritos, foram às urnas para eleger os autarcas de 4.260 freguesias e só 310 câmaras municipais. A diferença é de tal ordem que não pode deixar de levar a pensar um bocadinho na nossa vida política. 140 milhões de brasileiros elegem  os gestores de cinco mil e quinhentas cidades, enquanto apenas 5 milhões e meio de portugueses escolhem os gestores de 4570 autarquias?!? São os nossos irmãos do Atlântico sul que têm autarquias a menos? Ou somos nós que temos autarquias a mais?

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cada vez pior...

Excluindo os seus próprios eleitos, é minha convicção que praticamente mais ninguém acredita ainda no actual executivo minoritário. Nem os eleitores, nem os restantes eleitos, nem o próprio PSD local. Há boas razões para isso. A oposição não se cansa de acusar a troika reinante de não informar, não negociar, não dialogar. Com os resultados que todos conhecemos. As obras da Levada estão paradas. Não há dinheiro para liquidar meio milhão de euros = 100 mil contos, em dívida há mais de seis meses. Mas também não há projecto capaz. Rebocadas as paredes e quase refeitos os telhados, ninguém sabe o que se deve seguir. As obras do edifício do turismo municipal estão concluídas há meses, mas o mesmo continua fechado. Não há disponibilidade orçamental para pagar o equipamento. As obras do Convento vão prosseguindo, em regime de pára-arranca-pára, igualmente à falta de projecto idóneo e completo.
Entretanto, o orçamento para 2012 continua por aprovar, tudo apontando no sentido de vir a acontecer o mesmo ao de 2013...
Perante tanta desgraça, é cada vez mais insistente nos meios urbanos a pergunta em tom agastado: Mas afinal, que estão eles lá a fazer? Responda quem souber!
Como se tudo o que antecede não bastasse e sobrasse, surge agora um novo episódio assaz ridículo, que mostra à evidência a bandalheira que parece reinar nalguns sectores da autarquia, cujos actores até auferem vencimentos bem acima da média da função pública. No cartaz da Feira de Santa Iria, editado pela comissão homónima, lê-se que a multi-centenária Feira das Passas desta vez será instalada no terreiro antes ocupado pela Messe de Oficiais. Porquê? Quem tomou a decisão? Com que base? Ninguém sabe.
Certo, mesmo certo é que no Boletim informativo de Outubro, editado pelos serviços de comunicação da autarquia, se pode ler que a citada Feira das Passas terá lugar, como habitualmente, na Praça da República. Em que ficamos, afinal? Terreiro da Messe? Praça da República? Ambos?
Perante semelhante cacofonia noticiosa, uma de duas: ou a comissão da Feira de Santa Iria faz o que entende e não passa cartão à autarquia; ou o pessoal da comunicação autárquica não tem tempo nem disposição para rever com cuidado os textos que manda para a tipografia que imprime a revista. Seja qual for a resposta, está mal! Tal como a bandeira às avessas na câmara de Lisboa, indicia desleixo, falta de brio profissional, carência de empenhamento. E os eleitores-pagantes não merecem semelhantes agravos, que só nos envergonham.
Como dizia o velho corneteiro do 15: Quem sabe, toca! Quem não sabe, passa a corneta a outro, que não há instrumentos para todos!

Sobre "Óculos ideológicos", uma achega de Cristo

Para os prezados amigos Luís Ferreira e Rosa Marques, com votos de boa leitura e uma pequena observação: Se padeço mesmo de miopia em relação à bondade da política de esquerda em geral e do PS em particular, reconheça-se pelo menos que não sou o único, nem coisa que se pareça. E como em democracia, a maioria tem sempre razão, mesmo quando está enganada...


Jornal i, 08/10/2012, página 13

O mal os remédios e as bulas

Num curto intervalo, tivemos direito a dois congressos; um em Tomar, outro em Lisboa; este das ditas esquerdas. É natural. Padecemos da mais longa crise de que há memória, por alguns já apelidada de mal do século ou doença terminal do capitalismo. Acossados e assustados, os das classes ditas liderantes, ou com pretensões a tal, sentiram necessidade urgente de congregar ideias, tendo em vista vencer o monstro. Adoptaram a démarche médica: observação e anotação de sintomas, diagnóstico da maleita e prescrição medicamentosa integrada em determinada terapêutica. Foi a isso que se assistiu, embora em escala diversa, na capital do país e na capital dos templários. 
Tudo bem, portanto? Infelizmente não.
Como é tradicional, mesmo excluindo as usuais "moscas do coche", os cabotinos que apenas procuram algum protagonismo, tanto junto ao Tejo como nas margens do Nabão, vários foram os congregados que olvidaram ao que vinham. Limitaram-se a debitar evidências banais, mais para se ouvirem que para convencerem, omitindo o essencial: ir para além dos sintomas. Idealmente até pelo menos à prescrição.
Outros foram realmente mais profícuos. Apresentaram comunicações por assim dizer limpas, integrando sintomas. diagnóstico, terapêutica e "receita". Infelizmente, mesmo estes congregados ou congressistas serão de parca utilidade para a ultrapassagem do monstro, apesar da indiscutível qualidade das suas prestações. Simplesmente porque, ainda que acertando com a origem dos sintomas, com o diagnóstico, com a terapêutica e com a "receita", nunca tencionaram estar à cabeceira do doente quando se tornar necessário explicar aos enfermeiros de serviço como devem proceder. O tal modus faciendi, que quase sempre é omitido, dado que no ensino português se ensina a saber dizer, não a  saber fazer. Não terá sido por mero acaso que logo a seguir ao 25 de Abril a esquerda pura e dura resolveu abolir o ensino técnico-profissional, promovendo as até então escolas comerciais e indusdriais em liceus. No papel, claro. Destruir é fácil, mas edificar algo perene é outra história... 
Sem a bula que obrigatoriamente acompanha todos os medicamentos, mas que infelizmente nunca é lida pelos que nos governam, não poucas vezes a terapêutica mais não faz do que agravar a doença, provocando autênticas catástrofes económicas e sociais. É o que está a acontecer neste momento em Tomar. A troco de confortável remuneração, pessoas desconhecidas dos tomarenses elaboraram um documento de trabalho, que agora se constata ser um perfeito disparate. Quando já pouco ou nada se pode fazer para superar os estragos entretanto causados, porque o dito projecto nunca foi sequer apresentado aos eleitores ou aos eleitos, quanto mais agora debatido. Apesar disso, as obras nele propostas foram sendo realizadas, um pouco ao acaso, justamente por faltar a tal bula indicando o modus faciendi. Os resultados aí estão à vista de todos. Esse execrável documento -uma das causas da nossa presente desgraça- dá pelo nome pomposo de "Tomar 2015 -  Uma nova agenda urbana". Um desastre, digo eu. Por falta de bula, explicando como proceder. Mas também por excesso de ganância e falta de escrúpulos.

domingo, 7 de outubro de 2012

A verdade a que temos direito

Vai por aí um clamor generalizado contra o aumento de impostos, com Paulo Portas a dizer que terá de haver uma redução da despesa pública que permita baixar o esforço fiscal dos portugueses. Compreende-se. Após anos e anos de vida airada, a altura de pagar as facturas é sempre extremamente dolorosa.
Tomar a dianteira, que também gostaria de pagar muito muito menos impostos (quanto menos melhor!), procurou e conseguiu obter documentos oficiais fidedignos sobre o estado real e actual das contas públicas portuguesas. Documentos que já foram distribuídos aos deputados e aos media, mas que, apesar disso, ainda aguardam a desejável difusão. Os senhores jornalistas não deixarão decerto de esclarecer os motivos de tal silêncio. A quem convém?
Entretanto, os ditos documentos mostram consideráveis reduções na despesa pública e infelizmente também na receita, devido à recessão, bem como o aumento do chamado "serviço da dívida", que em 2012 ascende a 7,5 mil milhões de euros, muito próximo da dotação do Ministério da Saúde, que é de 8 mil milhões de euros. (Figura 3)










É possível e desejável reduzir ainda mais os gastos do Estado? É sim senhor! No meu modesto entendimento, não vislumbro qualquer utilidade para os dois submarinos, uma fragata e todos os aviões de caça, tendo em conta a relação custos/benefícios no actual contexto de catástrofe orçamental. Para nos defendermos de quê e de quem? Para atacar o quê? Para impressionar que inimigo ou inimigos?
Quanto à área política, urge pegar na ideia do PS de redução dos deputados, fixando um total inferior a 99, que chegam muito bem. E aproveitando para repescar a reforma da Lei Eleitoral, antes rejeitada pelos socialistas, no sentido de reduzir drasticamente os eleitos locais. Já para 2013!
Em época de crise, convém proceder de forma a que todos façam sacrifícios, repartidos o mais equitativamente possível.
Ou estarei a ver mal, por viver tão longe de Lisboa?

MERCADO 1900: Porque estamos como estamos








Está neste momento a ter lugar na Praça da República, em Tomar, mais um Mercado 1900, uma feliz iniciativa levada a cabo anualmente pelas colectividades concelhias ligadas ao folclore. Consiste numa reconstituição fiel de um mercado dos alvores do século vinte, exactamente no mesmo sítio onde ele tinha então lugar, estando já a ascender à categoria de tradição. As fotos acima são bem elucidativas do esforço desenvolvido, a que os visitantes/consumidores costumam corresponder à altura. Trata-se portanto de algo a manter, a ajudar e a melhorar.
Com o o único intuito de contribuir para a melhoria qualitativa da iniciativa, passa-se a relatar uma experiência de hoje, garantindo que é totalmente verídica. Os nomes e os produtos foram omitidos, por estar em causa apenas o aspecto comportamental. 
-Quanto custa isto?
-Olhe, ainda não sei se é à dúzia ou ao quilo.
Virou costas. O potencial cliente aguardou alguns minutos e depois zarpou para outra banca. Quase meia hora mais tarde voltou.
-Então quanto é que custa isto, já sabe?
-Está ai escrito na tabuleta.
-Pese-me três quilos, se faz favor.
-Só mais daqui a um bocado; ainda é cedo.
O cliente afastou-se novamente, indo comentar com um amigo. -O mercado só começa às 11 e meia, disse-lhe este.
Foi novamente à banca.
-Pese-me lá agora os três quilos.
Começou a colocar figos num dos dois pratos de uma antiga balança de agulha ao meio. No outro já tinha posto dois pesos de ferro fundido, um de dois, outro de um quilo. 
-Isso não vai caber aí. Se calhar é melhor ir buscar sacos de papel.
-Agora pese só um quilo de cada vez, que o saco não deve aguentar com mais peso.
Assim fez, o cliente pagou, agradeceu e despediu-se.
Mas foi mal atendido. Se fosse alguém menos paciente, ter-se-ia ido embora logo da primeira vez. Deviam ter-lhe dito: -Queira desculpar, mas o mercado só abre a partir das 11,30.
Falta de experiência, falta de treino prévio, falta de ensaio geral, dão origem a falta de qualidade, a falhas e a situações caricatas. Tal como sucedeu com a bandeira nacional içada de pernas para o ar no mastro de honra da Câmara de Lisboa, no dia comemorativo da implantação da República. Também por falta de treino, falta de ensaio geral, falta de qualidade. A  velha mania portuguesa do recurso sistemático ao desenrrascanço, que depois logo se vê. 
Também por isso, estamos como estamos. E sem indícios de qualquer melhoria nessa área.