domingo, 31 de julho de 2011

BANDARILHEIROS BANDARILHADOS

Foto 1 - A notícia da Hertz
Foto 2 - Estaleiro no prolongamento da Rua Fernando Lopes Graça

Foto 3 - Outro aspecto da mesma via


Foto 4 - Aspecto do prolongamento da Rua 13 de Fevereiro, a partir do Intermarché

Foto 5 - Outro aspecto do mesmo aterro

Foto 6 - Alargamento da Rua Fernando Lopes Graça

Foto 7 - Prolongamento da Rua 13 de Fevereiro, no sentido poente/nascente

Foto 8 - Extremidade actual da Rua 13 de Fevereiro

Foto 9 - Prédio da Rua de Coimbra

Foto 10 - Ligação improvisada entre a Rua Lopes Graça e a 13 de Fevereiro
É sabido que em todas as sociedades livres a normal refrega política faz de cada actor, consoante as circunstâncias, atacante ou atacado. Contudo, só na Península Ibérica, por razões óbvias, se usa a metáfora taurina de bandarilheiros e bandarilhados, naturalmente com o devido respeito por todos os intervenientes. Trata-se de linguagem metafórica e nada mais.
A notícia acima reproduzida resulta curiosa a vários títulos. Devido aos intervenientes, em virtude das insólitas respostas dadas pelo presidente da autarquia e por causa da altura em que aparece tal acusação ao departamento de urbanismo da autarquia.
Devido aos intervenientes, porquanto quem siga com um mínimo de atenção as peripécias da política local, percebe imediatamente que se trata de mais um episódio da luta de galos Pedro Marques/José Vitorino, desta vez com aquele a bandarilhar e este a ser bandarilhado. A origem remota desta compita?!? O facto do líder dos IpT agir sempre como se estivesse num nível superior em relação aos restantes eleitos, uma vez que só ele já foi presidente da edilidade. Pouco impressionado com tal circunstância, bem como por outros motivos do domínio público, Vitorino proibiu os funcionários do seu pelouro de mostrar quaisquer processos a Pedro Marques, salvo ordem sua em contrário. Pedro Marques não gostou mesmo nada e começaram as hostilidades. Agora atacas tu, agora ataco eu.
No caso presente, é muito estranho que só após quase um ano os IpT tenham reparado no que tem acontecido junto ao Hospital. Na verdade, o que ali está é o estaleiro da obra da Rua de Coimbra (Fotos 2 e 3), bem como vários aterros, feitos com as terras provenientes das obras referidas (Fotos 4, 5, 6 e 7). Há até agora uma ligação entre os prolongamentos das Ruas Lopes Graça e 13 de Fevereiro (Foto 10).
As atabalhoadas declarações de Corvêlo de Sousa, em resposta a Pedro Marques, são duplamente caricatas. Não explicam nada e evidenciam total desconhecimento do que acontece por aquelas bandas. Pior ainda, o presidente entrou a defender Vitorino, sem sequer citar o nome deste, por saber muito bem qual o real alvo do ataque -O prédio da Rua de Coimbra (foto 9) propriedade de uma sociedade da qual Vitoríno é sócio maioritário. A relação entre os dois assuntos -os aterros e o prédio- reside no facto de haver suspeitas de que os arranjos exteriores do referido edifício foram feitos pela empresa adjudicatária da renovação da via, como moeda de troca para poder agir à vontade no que concerne ao depósito de entulhos. Será verdade ou não, mas Vitorino meteu a cabeça na boca do leão, uma vez que deve conhecer bem o multi-secular dito "À mulher de César não lhe basta ser séria. Tem de parecê-lo também."
Sobre as pretensões de Pedro Marques no que se refere a consulta de processos, parece ter razão num aspecto pelo menos: No departamento tutelado por Vitorino acontecem por vezes coisas do arco da velha. A título de exemplo, ainda aqui há tempos, estava o processo do Açude Pedra (com outra designação oficial) em consulta pública, desloquei-me ao serviço competente e pedi para o consultar. Colocaram sobre uma secretária perto de um quarteirão de pastas e disseram-me que era aquilo. Guiado pelas directivas europeias, de execução obrigatória, procurei e consultei a pasta com o índice/directório, após o que solicitei determinada pasta, que faltava. Uma funcionária disse-me logo que essa pasta só podia ser consultada mediante requerimento prévio. Pedi-lhe que consultasse o seu chefe, o que foi feito, tendo este mantido a mesma posição. Manifestei então o desejo de falar com o vereador Vitorino, tendo-me sido dito que estava de baixa por doença. Acatei, retirei-me, mas não esqueci. Uma pasta de um processo em consulta pública a ser consultada unicamente mediante requerimento prévio, que eu saiba, só em Tomar! E por enquanto!
Resta acrescentar que os terrenos ocupados pelo estaleiro e pelos entulhos, (ou pelo menos uma parte deles), pertencem a um habitual e generoso apoiante dos IpT, que muito provavelmente não os terá emprestado a título gracioso. Ou estarei outra vez a ver mal?
A política tomarense está cada vez mais esdrúxula.

sábado, 30 de julho de 2011

Resposta a dois comentários

Respondo a dois comentários, que o leitor fará o favor de ler (se ainda o não fez), clicando no final do post "Fotos de fim de semana, para ver e pensar...", desta manhã. O primeiro acusa-me, em tom neutro, de "estar a dar corda ao ego". Conquanto não tenha sido o caso, uma vez que se tratou apenas de demonstrar a determinado leitor bronco que, ao contrário do que pensa, não me incomoda nada ser apodado de "Vincennes Paris VIII", pois estou até muito satisfeito com tudo o que lá aprendi, que muito foi. Donde a fotografia das actuais instalações, com estação de metro à porta ("Saint-Dennis Université") e a designação oficial, após a mudança ocorrida nos anos 90 do século passado: "Université Paris 8 - Vincennes-Saint-Dennis". O livro que tenho na mão é apenas o directório da universidade, actualmente com 35 mil estudantes, em letras, artes e ciências humanas.
Dito isto, se por mera hipótese demonstrativa estivesse mesmo "a dar corda ao ego", como foi escrito, qual seria o problema? É algo proibido na sociedade tomarense? Creio que não, uma vez que até a parvoíce tem livre curso nas margens nabantinas. O que me leva a não entender de todo qual a intenção do comentário em causa.
O outro comentário é de gabarito nitidamente superior, o que se compreende, pois o seu autor, Cantoneiro da Borda da Estrada, teve a amabilidade de se identificar pessoalmente e em tempo oportuno, mantendo contudo o seu usual pseudónimo, prova de confiança que lhe agradeço.
Parece-me haver duas questões diferentes no citado texto: 1 - A minha eventual candidatura à autarquia em 2013; 2 - A força política "apadrinhante", caso me venha a candidatar.
Quanto ao primeiro ponto, mantenho e reforço o já aqui dito e redito anteriormente. A minha posição em relação a uma eventual candidatura autárquica em 2013 é idêntica à que assumi no século passado perante o serviço militar obrigatório e a guerra em África. Como tinha de ser, cumpri o meu dever cívico para com o país, com empenhamento e espírito de missão. No caso das futuras eleições autárquicas, se tiver de ser, candidatar-me-ei, farei campanha e se ganhar procurarei desempenhar as funções o melhor que souber, tendo sempre em mente, primeiro os interesses da comunidade tomarense e só depois os meus. Em qualquer caso, podem os eleitores tomarenses estar absolutamente seguros de que nunca lhes mentirei. Direi sempre a verdade, por mais dura ou adversa que possa ser. E procurarei manter bem vivo um elevado espírito de missão. Os que foram militares e "fizeram" a guerra, sabem a que me estou a referir.
Sobre as forças políticas tomarenses actuais e as eventualmente presentes em 2013, creio que o amigo Cantoneiro está a encarar mal o problema. Já Camões dizia, há mais de quatro séculos, que "Todo o mundo é feito de mudança/Tomando sempre novas qualidades." E até concluiu o soneto, com este admirável terceto: "E, afora este mudar-se cada dia,/Outra mudança faz de mor espanto,/Que não se muda mais como soía." O vocábulo caiu entretanto em desuso, mas é mesmo numa situação homóloga que nos encontramos: As coisas já não mudam como soía, como era costume. Mudam cada vez mais rapidamente e os tomarenses não parecem disso dar-se conta.
Toda esta prosa para fundamentar uma afirmação forte, que requer ainda outra curta digressão. O conhecido especulador americano Warren Buffet, interrogado sobre as crises em catadupa, avançou com uma metáfora, feliz porque muito adequada: "É quando a maré baixa que se descobre quem andava a tomar banho nu." Exactamente o que está a acontecer aos membros do presente executivo municipal tomarense. Representando três forças políticas diferentes, têm vindo a revelar-se afinal um executívo perfeitamente homogéneo, para geral infelicidade dos tomarenses.
Todos afirmaram durante a campanha eleitoral de 2009, ainda em clima de euforia e num mar de optimismo, mas já com a maré a descer, que sim senhor, que tinham projectos, planos, ideias e soluções adequadas para o concelho. Ou seja, que estavam equipados com os indispensáveis fatos de banho para entrar no mar ainda relativamente calmo da crise. Vai-se a ver, passados que são dois anos anos, a maré já baixou o suficiente para que se possa constatar que mentiram aos eleitores de forma deliberada. Afinal estavam e estão nus. Apesar de alguns insistirem no evidente embuste. Não têm fatos de banho, que o mesmo é dizer projectos, planos, ideias, soluções, capacidades, para resolver o que quer que seja. Para além das obras de questionável utilidade, onde estão as soluções para o Mercado Municipal, o Mercado Abastecedor, o Bairro 1º de Maio, os acampamentos ciganos, o Parque de Campismo, o rio Nabão, o turismo, o Convento, o Flecheiro, a monumental dívida à ParqT, já a contar juros de mora, o investimento, ou a ex-Fábrica de Fiação?!?!
Nestas condições, salvo melhor e mais fundamentada opinião, parece-me que no Outono de 2013, a questão central não vai ser a da força política"apadrinhante" de cada candidato, mas sim a separação muito nítida entre os usuais intrujões ou vendedores de ilusões e os que têm mesmo soluções novas para velhos problemas, a propor aos eleitores.
Parafraseando o herói de uma conhecida telenovela brasileira, a dada altura muito popular em Portugal -"Estou certo?! Ou estou errado?!" Os eleitores decidirão, se vier a ser caso disso, no que me diz respeito.

Mais ilustrações de fim de semana...





Mais um percurso pedestre até ao Convento, aproveitando o descanso dos trabalhadores. Tudo na mesma como a lesma. Excepto um pequeno melhoramento: já há passagem para peões, na Calçada de S. Tiago e na dos Cavaleiros. Quanto ao resto, a preocupação do costume. A Calçada de S. Tiago, que devia ser prioritária por razões evidentes, continua como sempre esteve -uma miséria. As obras lá continuam, no meu entender pouco ou nada adequadas ao local. Paredões altíssimos para um parque de estacionamento de...20 automóveis, não lembrava a ninguém, mas lembrou aos projectistas. Porque terá sido? Para facilitar a vida aos turistas; não se está mesmo a ver?!
E aquele muro de suporte quase no meio da estrada, não está uma maravilha?! Podiam ter terraplanado a pequena encosta, mas não era a mesma coisa. E ficava mais barato...


Entretanto, cá em baixo, no pomposamente designado "Núcleo Histórico", após anos e anos de reclamações, sugestões, alvitres e pedidos, lá acabou por aparecer um pequeno painel de sinalização na extremidade poente da Rua Joaquim Jacinto. Está incompleto, faltando-lhe a indicação da distância e a de percurso para peões, mas mesmo assim já é um avanço -enorme e que se saúda com alegria- numa terra em que a maior parte dos habitantes, incluindo alguns autarcas, preferem morrer de sede ao lado de uma fonte, só para não terem a maçada de virar a cabeça.

PÚBLICO - FUGAS, 30/07/2011, página 4

Pela mesma altura, a menos de 50 quilómetros daqui, os leirienses já perceberam que com obras espalhafatosas e de utilidade duvidosa não se vai a lado nenhum. Que o essencial não é atrair turistas, mas agir de modo a que gastem o mais possível. Que com ou sem crise, o tempo das vacas gordas já lá vai e não volta, pelo que é urgente e indispensável criar riqueza. E poupar o mais possível.
Aqui em Tomar continuamos a insistir em iniciativas que só dão prejuízo, tipo Estátuas Vivas e Congresso da Sopa. Com a agravante de que quem critica é logo apodado de má-língua e de profeta da desgraça, quando não pior.
Nas próximas autárquicas logo veremos quem tem razão. Mas entrementes ainda faltam muitos meses de cada vez maior penúria e angústia, para quem vive do seu trabalho. Infelizmente.

Fotos de fim de semana, para ver e pensar...


"O Estado mija-nos em cima. A comunicação social diz que está a chover."

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Bombeiros de castigo até ao meio-dia

Foto 1
Foto dois
Foto 3
Foto 4
Foto 5
É uma sucessão de situações tomarenses, registadas esta manhã, por volta das nove horas. Vou limitar-me a relatar factos, documentados nas fotos supra.
Um dos comentários enviados para Tomar a dianteira e lidos esta manhã, afirmava que a Cerca estava fechada e assim iria continuar, quiçá de forma definitiva. Por me parecer que tal não correspondia à realidade, peguei na máquina fotográfica e fui verificar, com a intenção de aproveitar também para fotografar os 4 ciprestes, plantados entre as novas instalações sanitárias e o muro da entrada da cerca, que já secaram, por nunca terem sido regados. (Foto 1)
Já no interior da Mata, constatei que os sanitários estão abertos e até estavam a ser limpos na altura da fotografia (Foto 2). Um cidadão ali presente informou-me que durante os cortejos parciais da recente Festa dos Tabuleiros as ditas instalações entupiram. Respondi-lhe não me admirava, porque com tanta cagança por todo o lado... Retorquiu-me que em tempo normal as retretes de pouco servem, pois por falta de sinalização só os habituais frequentadores do local é que sabem que existem. O costume, afinal...
Antes, logo à entrada, reparara nos dois carros de bombeiros estacionados do lado esquerdo, entre os portões e a antiga casa do guarda. (Foto 3) Como estavam muito bem alinhados, deduzi que se tratava de um piquete de prevenção, o que considerei uma excelente ideia nestes abrasadores dias estivais. Até me deixei pensar como seria bom ter os três tanques (Cadeira d'El-Rei, Grande e Frades), devidamente cheios, para qualquer eventualidade e como forma de conservação. Mas estranhei haver dois carros, quando um chegava perfeitamente.
Dirigi-me a um dos bombeiros, sentado ali ao lado e em amena cavaqueira, no sentido de confirmar que se tratava efectivamente de um serviço de piquete. A resposta foi pronta, completa e cordial: -Não senhor! Estamos aqui de castigo até ao meio-dia. Foi o senhor segundo-comandante Tarana que nos mandou para aqui, a mim e aos meus colegas que estão ali em cima (foto 5), por estarmos sentados cá fora, à frente do quartel; e as ordens são para ser cumpridas!
Aqui fica o registo, que cada qual interpretará como melhor puder e entender.

OLHAR TOMAR A AFUNDAR-SE...

Foto Rádio Hertz, com os agradecimentos de TaD

O sempre bem informado site da Rádio Hertz reportou ontem mais uma bronca camarária, com o próprio presidente Corvêlo de Sousa a tentar impedir um jovem munícipe queixoso de expor os seus problemas. Os leitores que pretendam ler todos os detalhes disponíveis farão o favor de digitar Rádio Hertz e enter, que isto de procurar caçar os leitores da concorrência nunca é nada bonito.
Aqui, o que agora nos importa é realçar que, ao longo dos anos, maiorias de autarcas da qualidade que todos conhecemos, quase sempre ajudados por oposições mais interessadas no penacho e no fim do mês do que nos interesses da população, transformaram a autarquia numa série de capelinhas, cada uma com o seu quintal, quintalinho ou quintaleco. Tudo com contornos de características assaz mafiosas, em todo o caso substraídos à normal vigilância cidadã.
Este "Escândalo Olhar Tomar", agora despoletado por um jovem  mas corajoso participante e difundido pela Rádio Hertz, é paradigmático, pois mostra um pouco de tudo: rivalidades pessoais, fragmentação forçada de competências, contratações a dedo, fuga ao fisco, retaliações, acordos por baixo da mesa e tentativas várias de silenciar quem pretenda denunciar comportamentos condenáveis à luz do código penal. Nas suas grandes linhas, trata-se de rivalidades entre "patrões" efectivos de alguns dos muitos quintalecos autárquicos. Com a retirada de pelouros a Luís Ferreira, Rosário Simões herdou o turismo e uma parte da cultura, enquanto Carlos Carrão abichou a outra parte, que juntou à cultura, ao desporto, aos mercados, aos cemitérios,às freguesias, aos serviços urbanos e À MUSEOLOGIA, que já detinha, uma vez que o presidente Corvêlo de Sousa não tem pelouros a seu cargo.
A Museologia é, de facto, o quintal exclusivo do distinto arquitecto José Faria, oficialmente adjunto de Corvêlo de Sousa, mas na realidade uma "encomenda" herdada do mandato anterior, que também já oficiou no turismo e na cultura, tendo vindo a ser afastado por conduta menos ortodoxa, tipo Sofitel Nova Iorque. Conforme já foi referido, o vereador responsável pelo sector é Carlos Carrão, sendo porém do domínio público que o notável arquitecto quer, pode e manda. (O que se compreende...). Neste momento, tanto quanto é possível descortinar no intencional e cerrado nevoeiro que reina na autarquia, considera-se todo poderoso no Museu dos Fósforos, no Núcleo de Arte Contemporânea, nas exposições temporárias, no desmantelado Museu João de Castilho, cujo espólio foi em parte guardado e em parte distribuído por várias dependências camarárias e no Museu do Brinquedo, que não há meio de ultrapassar o estado de "gemas". Não se sabe bem porquê, dirige igualmente o programa "Olhar Tomar", basicamente um acordo entre a câmara e o Centro de Estudos de Arte e Arqueologia do Instituto Politécnico, dirigido pela ilustre professora doutora Salette da Ponte, no âmbito do qual todos os anos, durante a estação alta, são colocados jovens nos diversos monumentos da cidade, como forma de os manter vigiados e abertos para os turistas. Claro está que a autarquia atribui anualmente um generoso subsídio que, entre outras coisas, serve para pagar aos tais jovens, cujos métodos de recrutamento e selecção, se os houve ou há, nunca foram tornados públicos. O tal intencional e cerrado nevoeiro, muito frequente no Vale do Nabão durante todo o ano. E com tendência para se agravar, graças à comprometedora complacência da oposição que temos.
Numa outra vertente, não se entende que sendo o serviço atribuído aos jovens o de atenderem os turistas, eles sejam recrutados, dirigidos e pagos pela museologia e por um departamento arte e arqueologia. Sobretudo quando se sabe que existe na mesma instituição  um departamento de turismo cultural. Tal como não faz sentido que o Museu Abraão Zacuto dependa do pelouro do turismo, havendo o pelouro da museologia. Como se tudo isto não bastasse, avulta o facto de o arquitecto José Faria, que ninguém elegeu para qualquer lugar, ter sido acusado de repetidas tentativas para silenciar críticas, a tal ponto que o supracitado jovem afirmou não ter desabafado antes por medo. Perante tão evidentes atropelos à lógica, à coerência, à legalidade e à democracia, a oposição que temos vai continuar a comer e calar?

Para já, Pedro Marques afirmou "recusar qualquer aproveitamenpo político nesta situação", o que não parece augurar nada de novo nem de bom. Ó sorte, por onde andas tu?!?!

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Análise da imprensa regional desta semana


Por um daqueles praticamente insondáveis mistérios sociológicos, quando por essa Europa fora os jornais que sobrevivem são os que menos praticam o jornalismo de "ocorrências diversas", o chamado "estilo tabloid", em Portugal, sobretudo na imprensa regional, ocorre exactamente o oposto. Os leitores gostam, os jornalistas adoram, o estilo expânde-se. Mas não é o único caso de estranheza. Há pelo menos mais duas situações insólitas, aguardando que sociólogos e cientistas políticos para eles encontrem uma explicação convincente. Refiro-me ao PCP, que obtém eleição após eleição a melhor percentagem de votos de todos os homólogos da Europa Ocidental, bem como à atitude dos portugueses face à crise. Parece não ser nada com eles. A tal ponto que os visitantes estrangeiros se mostram bem mais preocupados do que nós com o nosso devir.
Retornando ao jornalismo de "fait-divers", também chamado de "faca e alguidar" ou de "valeta", esta semana CIDADE DE TOMAR apenas inclui uma peça digna de registo, no que se refere à grave e complicada situação local. Na secção "Entrevista de Verão", Luís Pedrosa Graça conversou no Café Paraíso com Aurélio Lopes, um tomarense há décadas emigrado no Brasil, que regressa a Tomar duas vezes por ano, para matar saudades. Instado a opinar sobre esta nossa terra, foi simples e frontal: "Parada. Morta não. Gente viva! Mas eu vou descendo a Corredoura, à noite, e não vejo ninguém. Quem devia mandar, manda fraco e sem entusiasmo." Má-língua, comentarão uma vez mais os capatazes locais. Só? pergunto eu.
Três textos merecem referência e cuidada leitura no TEMPLÁRIO hoje publicado: a crónica de Ernesto Jana, a de Carlos Carvalheiro e a curta reportagem sobre uma tomarense idosa, moradora nos Bacelos, às portas da cidade, que se viu obrigada a improvisar um passadiço com uma tábua, para poder entrar em casa sem molhar os pés no "puré" de uma fossa que esgotou há muito a sua capacidade de armazenagem. Acontece no primeiro ano da segunda década do século XXI, numa terra que neste momento gasta mais de seis milhões de euros num museu que tudo indica estar destinado a uma morte prematura. Cansada de esperar por uma solução, a anciã ter-se-á deslocado à reunião de câmara desta quinta-feira, para reclamar uma providência. Entretanto, para os leitores, fica o título do jornal: "Esta é a vergonha que tenho à porta de casa". Desde Abril passado. Há três meses, por conseguinte.
Cidade parada. Quem devia mandar, manda fraco e sem entusiasmo. Mais de três meses para resolver o problema de uma fossa que transborda, numa terra em que 40% do que pagamos pela água da rede diz respeito a saneamento; não há nada que não aconteça aos tomarenses. Até O MIRANTE se vê forçado a atacar e logo em manchete: "Lixo e falta de segurança marcam Verão na praia fluvial do Agroal. É uma das praias fluviais mais concorridas da região. No Agroal o rio Nabão divide os concelhos de Ourém e Tomar e as diferenças são notórias no tratamento do espaço público em cada uma das margens." Agora adivinhe o leitor qual a margem mais abandonada. Para ajudar, apenas posso referir que a água do Agroal faz bem à pele e não ao cérebro, sendo igualmente de ter em conta que os oureenses têm acesso preferencial à água benta de Fátima, que lhes fica no concelho. Podendo parecer que não, é um contributo a nunca esquecer. Digo eu...

Atribuir a outros os nossos pecados

O agora vereador a tempo inteiro Luís Ferreira mantém o louvável hábito de procurar manter contacto com os eleitores. Recebendo-os sem necessidade de marcação, informando ou opinando oralmente e por escrito, na imprensa local, na rádio e no seu blogue vamosporaqui.blogspot.com. Já foi dito, mas repete-se com todo o gosto, por ser raro e procurando obstar a que alguns usuais e distintos comentadores venham outra vez acusar-me de questões pessoais, ressabiamentos e quejandos.
Numa das suas mais recentes publicações no citado blogue, Luís Ferreira expressa, nomeadamente, as seguintes opiniões: "Hugo Cristóvão... ...não tem medo de ter opiniões, como alguns dos cidadãos que nos querem governar fazem repetidamente, procurando agradar a "gregos e a troianos".
"... sei que Hugo Cristóvão fará, a partir de 2013, como vereador, eleito pelo PS, se o desejar."
Daqui se pode deduzir, julgo eu, que: 1 - Hugo Cristóvão está em rota de progressivo afastamento do PS local, nauseado com algumas das suas posições e actuações, conforme aliás já referiu, por outras palavras; 2 - Luís Ferreira, assumindo-se implicitamente como timoneiro do socialismo local, procura segurar Cristóvão, dando-lhe graxa ao ego e tentando abichá-lo com um hipotético lugar no futuro executivo; 3 - No "mundo ferreirista" e por razões óbvias, está já excluído que Cristóvão possa vir a ser cabeça de lista à Câmara na próxima consulta eleitoral; 4 - Imitando o seu homólogo Carlos Carrão, Luís Ferreira resolveu atribuir a Hugo Cristóvão um cargo que ainda depende da vontade a manifestar pelos eleitores em Outubro de 2013 (o que não me parece muito bonito em termos democráticos) e naturalmente da vontade do próprio ex-presidente da CPC local; 6 - Assim procedendo, o vereador socialista denota algum nervosismo e ansiedade, o que se entende perfeitamente, pois com o crescente agravamento da conjuntura política, tanto a nível nacional como local; com o PS agora na oposição  e "atado" pelo memorando de entendimento que assinou; com a dívida do município aumentando a olhos vistos e sem soluções para os cada vez mais numerosos imbróglios locais (ParqT, Mercado, Ciganos, Bairro 1º de Maio, Elefante Branco da Levada, etc. etc.); e finalmente com uma mancebia política que só funciona quando o PSD dela necessita,  é cada vez menos certo que o actual bombeiro-mor concelhio possa continuar a exercer as funções de vereador a tempo inteiro no próximo executivo. Situação assaz desagradável para quem entretanto se habituou ao "bem bom". 7 - É  a esse nervoso miudinho e ao facto de se encontrar a veranear algures em Espanha que se deve atribuir, cuido eu, a insólita afirmação " Hugo Cristóvão... ...não tem medo de ter opiniões, como alguns cidadãos que nos querem governar fazem repetidamente, procurando agradar "a gregos e a troianos". Porque vinda de onde vem tem o seu quê de pitoresco, sabendo-se que Luís Ferreira foi o principal progenitor e é outrossim o principal beneficiário do inesperado "amiganço" como o PSD local, base da sua prosperidade pessoal presente. E depois, os outros é que procuram agradar a gregos e a troianos?!?! Em todo o caso, mesmo tendo em conta que, sobretudo na política, as coisas nunca são a preto e branco, fácil é constatar que esses tais cidadãos pouco corajosos segundo Luís Ferreira, pelo menos não andam a dormir com o inimigo, como forma de acesso à apetitosa e farta gamela municipal.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Os do norte e nós

Jornal de Notícias de 27/07/2011, páginas 16 e 17

Ficamos assim algo ofendidos quando alguém do norte, como por exemplo Pinto da Costa, fala em tom depreciativo dos "mouros", aqueles que nasceram e habitam a sul do Mondego. A verdade, porém, é que são nítidas algumas diferenças comportamentais, nomeadamente no que se refere à autonomia individual, ao empreendedorismo e à dependência do Estado, directamente ou através do poder local.
As duas ilustrações acima documentam um caso preciso e actual: A Feira Medieval, que se realiza todos os anos em Santa Maria da Feira, nos terrenos em redor do castelo. Mostram antes de mais como se faz boa comunicação, facultando aos jornalistas documentação adequada, completa e atempada. Informam depois que, procurando fazer face à crise, em vez de ficarem atidos ao orçamento camarário ou do estado, resolveram começar a cobrar entradas. Explicam, finalmente, que estas coisas devem ser anuais e devidamente actualizadas em cada edição, pelo que o ideal é uma Empresa Municipal. Não para a transformar em mais um armazém de funcionários, que ninguém sabe ao certo para que servem, em que há vários chefes para cada índio, mas com poucos e bons. Constantemente avaliados através dos resultados conseguidos. Como no futebol, por exemplo.
Claro que a sul do Mondego a música é outra e o ritmo diferente. Cultiva-se sobretudo o espírito tribal e a aversão à inovação. É fundamental que nada mude, em nome de uma pretensa tradição, nalguns casos de resto bem recente, como forma de manter a todo o custos as posições que tanto trabalho deram a alcançar. Há lá alguma coisa melhor nesta vida do que pavonear-se, barrete ao ombro e cinta preta,  num cortejo a que assistem muitos milhares? E aquela feira de vaidades que é o Cortejo do Mordomo? E os lugarzinhos sentados para a bênção e o erguer dos tabuleiros? E os convidados políticos?  E o suculento "buffet froid" para 500 convidados, em tempo de crise? E as argoladas e outras aselhices, antes, durante e depois do cortejo, que transformam um evento de promoção, num caso de aversão para muitos visitantes?
Custa caro, dá sempre prejuízo e tem fraco impacto no mercado turístico, devido à estranha periodicidade? É verdade!  Mas podia ser de outro modo com a actual organização "amadora", efectivamente controlada por uma transitória maioria autárquica, que nem tem planos nem procura consegui-los? Claro que não! Tudo evolui neste mundo e neste país, mas a orgulhosa cidade que outrora foi capital templária teima em mudar o menos possível e só quando já não pode ser de outra maneira. 

Bom proveito a todos, que eu não tenho estômago para tal comida.

Fora de tempo...

Dizia-me ontem um concidadão que, com toda a certeza, por este caminho ainda vamos ter saudades de António Paiva. Poucas horas mais tarde, o nosso prezado comentador "Cantoneiro da Borda da Estrada" lamentava que Bruno Graça não seja vereador. Isto na mesma semana em que se soube ter a autarquia colocado à discussão pública o novo regulamento de atribuição de subsídios e outras ajudas às colectividades concelhias. Ponto comum aos três factos: os recursos proporcionados pelos contribuintes e a sua afectação.
Temo bem que tanto os simples cidadãos antes referidos como os senhores autarcas,  sem disso se darem conta,  estejam naquela desconfortável situação de Charles Chaplin nos Tempos Modernos : após horas e horas, dias e dias, semanas e semanas, meses e meses, obrigado a repetir os mesmos gestos, exigidos por uma máquina da cadeia de produção, já no regresso a casa continuava em plena rua a repetir os ditos gestos, como se ainda estivesse frente à máquina. Trata-se, como decerto o precavido leitor já intuiu, do conhecido caso dos "movimentos reflexos". Os tais que repetimos por assim dizer sem disso nos apercebermos. A força do hábito.
Dado que os intervenientes citados ou vivem no concelho ou são tomarenses, ou ambos, arrisco uma segunda metáfora no mesmo âmbito. Houve tempos em que, importante cidade de guarnição, Tomar era o mercado natural para muitos produtos consumíveis da ampla região envolvente. Um desses apreciados produtos era o "Queijo das Areias", com origem na zona envolvente da povoação do mesmo nome. Com o passar dos anos, deixou de haver pastores, rebanhos e queijeiras por aquelas bandas, mas como Tomar também deixou  de ser o tal importante centro militar, quase ninguém se deu conta da alteração, uma vez que eram, por assim dizer,  exclusivamente os oficiais do exército aqui residentes que tinham acesso ao referido manjar.
Tenho-o dito de múltiplas maneiras, desde o primeiro post deste blogue, mas nunca será demais repeti-lo, uma vez que as três ocorrências antes referenciadas denotam o usual comportamento tomarense -pensar e agir como se o presente e o futuro mais não fossem que uma repetição do passado. No caso presente, não está em causa que António Paiva tenha conseguido imenso dinheiro europeu para as obras que idealizou e estão à vista de todos. Ou que Bruno Graça tenha desenvolvido ao longo dos anos um admirável trabalho associativo na Gualdim Pais. Ou que os distintos autarcas nabantinos devam manter actualizado um regulamento de ajuda às colectividades. Apenas se pretende vincar que as condições envolventes que tornaram possível a actuação do anterior presidente da câmara de Tomar, a louvável obra de Bruno Graça na Gualdim Pais, ou a atribuição de bastas ajudas e facilidades às muitas e variadas entidades ditas sociais, culturais, recreativas e desportivas, pura e simplesmente deixaram de existir. E muito dificilmente voltarão a surgir, mesmo num futuro longínquo. É portanto imperioso e urgente encontrar outro rumo, outros recursos, outra maneira de pensar as coisas. Quanto mais tarde os eleitores e os dirigentes locais perceberem e aceitarem esta nova e extremamente adversa realidade, pior será para eles e para todos nós. Porque podemos ser acérrimos adversários da chuva e do frio, sem que tal posição tenha ou possa vir a ter qualquer influência nas convencionadas "estações do ano". É a vida, exclamou o outro.

Candeia que vai à frente...

Poderá ter parecido prematuro o post anterior, uma vez que as próximas autárquicas apenas vão ter lugar em Outubro de 2013. Em democracia há liberdade de opinião (e ainda bem!), o que não implica ter sempre razão. Neste caso da futura escolha de cabeças de lista, afirmar ser ainda demasiado cedo parece-me ignorar três coisas: 1 - Que na política portuguesa-sobretudo em Tomar- há apenas dois andamentos -muito devagarinho e parado; 2 - Que ainda ninguém sabe qual o ordenamento jurídico exacto da futura consulta eleitoral -idêntico ao das anteriores? O candidato mais votado escolhe um executivo homogéneo e do seu agrado?; 3 - Que as outras duas formações actualmente representadas no executivo podem muito bem vir a decidir, a qualquer momento, organizar também uma eleição primária, aberta ou não a todo o corpo eleitoral concelhio, para escolha do melhor cabeça de lista, pelo que, nestas coisas políticas como no resto, "candeia que vai à frente, alumia duas vezes". Tal como nas filas de espera -Primeiro chegado, primeiro atendido.
Em relação a este terceiro ponto até já há pelo menos um indício importante nesse sentido. Nas declarações à Rádio Hertz, no primeiro programa "À mesa do café", Miguel Relvas foi claro. Disse ser importante e indispensável que os partidos se abram à sociedade civíl. O que de resto foi feito e está bem visível no actual elenco governativo, no qual vários independentes ocupam lugares de primeira linha.
Cabe naturalmente aos filiados e aos órgãos eleitos de cada formação política encontrar as melhores formas de melhorar o funcionamento da tão dolente democracia representativa a nível concelhio e nacional.  A recente eleição de Anabela Freitas, ainda que perfeitamente transparente, mostra bem a pobreza franciscana que reina entre os próprios socialistas nabantinos, fruto de variadíssimos percalços, entre os quais avulta a muito contestada mancebia política de conveniência no seio do actual executivo autárquico. Que dos apregoados 400 inscritos na secção de Tomar do PS, apenas 100 = 25% do total tenham considerado útil exercer o seu direito de voto, não augura nada de bom para a refrega eleitoral de Outubro de 2013. Mas ainda há tempo para trilhar novos caminhos. Oxalá haja também audácia suficiente!

terça-feira, 26 de julho de 2011

AUTÁRQUICAS 2013: Começaram as grandes manobras

A recente e folgada eleição de Anabela Freitas, como sucessora de Hugo Cristóvão (que a apoiou) marcou o início das grandes manobras preparatórias das eleições locais, previstas para finais de 2013. Inteligente, trabalhadora, boa oradora e profissional competente, a nova líder do PS tomarense poderá vir a acrescentar à política tomarense três condimentos que bastante falta lhe têm feito: realismo, intuição feminina e amabilidade maternal. Claro que, como acontece com todos os outros políticos, dirigentes partidários ou não, também tem handicaps terríveis, no cerrado microcosmo político nabantino. Dois, sobretudo: a estranha mancebia PSD/PS, que nunca criticou, e o facto de ser considerada em geral como "pau mandado" de Luís Ferreira, mentor do PS local e seu companheiro "no civil". Resta saber como e se os vai conseguir ultrapassar, ou pelo menos esbater.
Em qualquer caso, a nova líder concelhia dos socialistas já demonstrou estar atenta à realidade local e consciente do grave momento que atravessamos. Em recentes declarações à Rádio Hertz, disse ter duas prioridades: a preparação das autárquicas de 2013 e a abertura do PS à sociedade, incluindo aos que nem são filiados ou simpatizantes do partido.  Trata-se, quanto a mim, de uma excelente escolha, que poderá vir a proporcionar óptimos resultados, se implementada com garra, com coragem, com abertura total e, naturalmente, com inquestionável transparência.
Abrir o partido à sociedade em geral, incitando os cidadãos eleitores geralmente alheados da política partidária a participar de modo activo e decisivo, eis a mais recente tendência por essa Europa fora, face aos novos desafios colocados pela ruptura civilizacional que estamos a viver. Em França, que nestas coisas costuma ir sempre uns passos mais à frente desde Julho de 1789, o PS já organizou e vai realizar eleições primárias, destinadas a escolher o candidato a apoiar pelos socialistas nas presidenciais do próximo ano. Até aqui nada de novo, uma vez que já nas eleições anteriores houve primárias no PSF. A novidade reside no facto de, desta vez, nelas poderem votar todos os cidadãos eleitores, incluindo os que não são sequer simpatizantes, desde que no acto de votar mostrem o cartão de eleitor e o bilhete de identidade (ou equivalentes), cujo número será registado para evitar fraudes eventuais, e paguem um euro para ajudar às despesas com o escrutínio.
Parece-me uma ideia excelente, tanto para o PS como para as outras formações políticas locais que venham a ter a coragem de também a adoptar. Teria a enorme vantagem de associar  desde o início os eleitores à escolha dos candidatos, acabando assim com a usual "selecção interna em circuito fechado", cujos lamentáveis resultados são conhecidos de todos. E que nem sequer se podem considerar inesperados, porquanto no âmbito do método usado até agora, em que só votam os elementos dos órgãos partidários, o que se escolhe não é a competência, a audácia, a honestidade ou a efectiva capacidade de liderança, mas apenas a fidelidade canina aos chefes partidários. Como de resto é patente em Tomar.
Conseguirá Anabela Freitas, graças às qualidades que todos lhe reconhecem, coragem para acabar com semelhante espartilho, indigno da actual realidade sociológica? 2013 é já ali adiante...

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Leituras para o tempo quente

Com o tempo quente (em todos os sentidos!) que aí vem e com muitos conterrâneos impedidos de ir de férias, por falta do "respectivo". Com outros ainda, infelizmente, com demasiado tempo livre por não conseguirem encontrar um posto de trabalho, pareceu-me útil indicar alguns livros. Daqueles que podem, em certos mas raros casos, vir a constituir um bom investimento, em vez de uma despesa.
Começo com Medina Carreira, no seu habitual estilo directo e desassombrado, desta vez interrogado por Eduardo Dâmaso. Um curto excerto, à guisa de aperitivo: "No que respeita às pessoas, esses partidos não têm agido da forma mais conveniente, porque permitiram a concentração, nos seus "aparelhos", de muitos que carecem de quaisquer atributos para a acção política."

Outra obra actual, "do beato César das Neves", como costuma escrever um empederdino comentador deste blogue. Logo na apresentação, o autor cita o grande economista austríaco Joseph Schumpeter: "Há dois tipos de pessoas de quem desconfio: arquitectos que garantem construir barato e economistas que garantem dar respostas simples." Aqui em Tomar (e se calhar noutras cidades) convém acrescentar mais dois tipos, a ouvir com extrema cautela: Os políticos que garantem ter projectos sólidos para governar e aqueles que apodam César das Neves de "beato", sem nunca sequer o terem lido.
Ora aqui está um livro excelente, sobretudo para aqueles comentadores sempre a acusar os outros de parcialidade, seja porque mais isto, seja porque mais aquilo. Trata-se de um verdadeiro e rico "cozido à portuguesa com todos", sob a forma de entrevistas. Que até "passaram" na TV, mas que você não teve tempo e/ou  pachorra para ouvir. Como pode ver, há para todos os gostos, de Soares dos Santos, um dos grandes "merceeiros" do país, até ao sindicalista Carvalho da Silva, o eterno secretário-geral da CGTP. Falta o "bispo" Louçã?!?! Pois falta. Por alguma coisa será. Provavelmente pelo seu conhecido e nunca desmentido excesso de realismo.
Para todos os que afirmam gostar de história, mas detestar  as obras em vários volumes, bem como as posições de José Hermano Saraiva "que até foi ministro de Salazar" (como se uma coisa tivesse alguma coisa a ver com a outra...), aqui fica uma outra história concisa de Portugal. Mesmo assim com 724 páginas + anexos, tudo por 15 euros. Um pequeno excerto, a título de "mise en bouche", como dizem os gauleses:
"Além do Direito, outro vasto campo em que o iluminismo desempenhou papel decisivo foi o da cultura em geral e o da educação organizada em particular. O atraso do sistema português de ensino era acentuado por todos aqueles que o comparavam com o de países estrangeiros. Portugueses que viviam lá fora ou haviam viajado demoradamente pela Europa tiveram papel de relevo em apontar os seus muitos defeitos e em preparar a sua revisão total. Estes estrangeirados, como se lhes chamou com certo desprezo, foram em grande número, e enorme a sua contribuição no fomento do progresso cultural. Podiam bem comparar-se com os humanistas do século XVI, que estudaram fora do país. Houve-os diplomatas, residentes em vários países, exilados políticos, oficiais do exército, ou simples turistas." (página 376)
Que a natural bondade do leitor me permita uma pergunta bem intencionada: Será que as coisas mudaram  assim tanto desde então?
Outro livro a não perder é este de Ha Chang, um oriental ocidentalizado, como o seu nome claramente indica. Ainda para mais professor na Universidade de Cambridge, o que não está ao alcance de qualquer candidato. Uma outra visão das coisas, fundamentada ainda por cima.
Em relação aos tomarenses, com um involuntário presente logo na capa: Uma ilustração de um dos nossos autarcas, em meditação assaz profunda. Apesar de ainda lhe restar muito pescoço, caso decida aprofundar a reflexão, que o concelho e a cidade bem precisam... Com urgência, uma vez que sem planos coerentes não se consegue chegar a lado nenhum.

domingo, 24 de julho de 2011

Mais uma forte machadada no orgulho tomarense


Acicatado pelo conselho do distinto vereador Carrão, que preconiza que se mantenha o orgulho tomarense mesmo perante coisas que não correram bem ou que estão mal, apressei-me todo o ufano a ler a revista do DN de hoje. E o caso não era para menos: "mostramos-lhe mil coisas, ideias, projectos, marcas e empresas
portuguesas que são motivo de orgulho nacional".
Afinal trata-se de mais uma falsa promessa. Duplamente falsa até. Porque, em vez de mil coisas, ficaram-se pelas 212, vá-se lá saber porquê; mas também porque não falam de Tomar nem de qualquer motivo tomarense. O melhor que conseguiram arranjar foi o Infante D. Henrique e os Descobrimentos, como todos sabemos de muito longe a maior empresa portuguesa de sempre. Inicialmente financiada com os dinheiros da tomarense Ordem de Cristo, começaram por originar dívidas que ainda andavam a ser pagas no reinado de D. Manuel I, meio século mais tarde.


Infelizmente, até o ínclito infante de Avis é maltratado, ao aparecer representado pelo que parece ser um vice-rei da Índia, mais precisamente Afonso de Albuquerque. Os leitores farão o favor de ajuizar. Ou seja, a qualidade dos colaboradores da imprensa portuguesa de referência parece melhorar a olhos vistos. Deve ser da crise!
Entretanto, Tomar foi injustiçada uma vez mais, apesar de haver tantos cidadãos a promover a cidade. Pois mesmo assim nada! Céu das Algarvias, Lúria, Casa das Ratas, Fatias de Tomar do Henrique das Estrelas, Bolos de Cama do Pepe, caracóis do Fernando, o cão, o gato e o rato da Janela do Capítulo, o Gigante Adamastor, o perfil do Gualdim, o Cristo em estilo Miguel Ângelo...nada mereceu a atenção dos ilustres periodistas. O azar do costume. Ou será apenas mais uma consequência de não haver por estes lados qualquer projecto bem urdido desde há mais de um século, nem profissionais competentes e com missões bem definidas?!

E Tomar?!?!


Com a crise internacional sem dar sinais consistentes de que estará para breve um retoma durável, e a crise nacional ainda sem atingir o seu ponto culminante, que como na Grécia só ocorrerá, paradoxalmente, uma vez implementadas todas a medidas impostas pela troika, Tomar continua a afundar-se a um ritmo cada vez mais sustentado. Prova disso mesmo, são o deliberado alheamento dos cidadãos e as reacções diversas de influentes cidadãos eleitos para os órgãos autárquicos, que nos deviam governar se...
O deliberado alheamento dos cidadãos nota-se bem, nomeadamente na menor compra de jornais locais e no facto de terem renunciado ao que se escreve nos blogues citadinos. Tomar a dianteira passou em pouco tempo de quase 600 consultas de página por dia, para as 195 de ontem. Efeito das férias, bem entendido, mas igualmente o usual comportamento tomarense, consistindo em "enfiar a cabeça na areia" e passem muito bem! Literalmente: quem não sabe é como quem não vê, e vice-versa.
Paralelamente com tais negacionistas, que preferem ignorar a situação problemática que todos vivemos, em vez de tentarem agir no sentido de a melhorar, outros há que têm o mérito de publicar o que lhes vai na alma, pese embora uma ou outra "argolada". Hugo Cristóvão publicou no seu blogue alguresaqui.boguespot.com a foto supra, que legendou como "liberdade", tendo igualmente reproduzido um poema que vale a pena ler e meditar.
No meu entender, tanto a foto como o poema indiciam sem margem para dúvidas as agruras da actuação política do cidadão e eleito Cristóvão, praticamente impotente perante imbróglios que lhe desagradam e que sabe nefastos para a urbe. Aqui fica o registo singelo, para que saiba que pelo menos um cidadão há que percebe o enorme esforço psíquico feito enquanto dirigente e eleito socialista, sobretudo nestes últimos 18 meses, por razões bem conhecidas no microcosmo político nabantino.
Inversamente, também há autarcas acomodados, o que se percebe por duas ordens de factores. Por um lado, sendo maioria, já demonstram à saciedade não dispor de quaisquer planos minimamente adaptados à conjuntura, pelo que não adiantaria preocupar-se, uma vez que crêem não haver soluções alternativas e mais profícuas. Por outro lado e sobretudo, porque ocupam cadeiras do poder bem remuneradas, pelo que "enquanto dura, vida-doçura". Lá para Outubro de 2013, que é já ali adiante, é que vai ser o delas!
Entretanto, tentando dar ânimo às suas desalentadas tropas, o que se compreende e se aceita, o autarca Carlos Carrão escreveu esta maravilha, no seu recente e incrível texto "Tomar está de parabéns", publicado em ambos os semanários locais: "...Devemos ter sempre orgulho da nossa cidade e do nosso concelho, mesmo que existam coisas que correm menos bem ou mesmo que achemos que estão mal." Quem diria que, mais de 40 anos após a morte de Salazar, um eleito ousaria neste país servir-se da sua bem conhecida parafernália discursiva, na qual sobressaiu a data altura o muito conhecido "Orgulhosamente sós!"
Sabendo que o vereador Carrão até é boa pessoa e que procura cumprir o melhor que pode e sabe, cuido que só o transitório cansaço pode explicar semelhante "fífia", para usar um termo musical. Razão porque peço licença para lhe lembrar que a obrigação de qualquer político democrata honesto (como considero apesar de tudo ser o caso), mormente quando investido de funções executivas de responsabilidade, não deve consistir em ter orgulho disto ou daquilo, nem tão pouco em procurar dourar a pílula ou camuflar toscamente a desagradável realidade envolvente, como vem sendo feito pela circunstancial e problemática maioria camarária. Deve, isso sim! procurar agir sempre no sentido de corrigir o que está mal e melhorar o que já está bem. Porque neste mundo, a realidade humana nunca é estática. Ao contrário do que alguns intentam fazer crer...

sábado, 23 de julho de 2011

Portugal e a Grécia fora do euro?

Andrew Harrer/Blomberg/Le Monde

Keneth Rogoff é professor de economia na prestigiada Universidade de Harvard, ex-economista do FMI, autor do êxito de vendas "Desta vez é diferente: oito séculos de loucura financeira" (Parsons 2010, em inglês USA) e especialista das crises  financeiras. Numa entrevista hoje publicada no diário parisiense Le Monde, proferiu palavras graves, pondo em causa a continuação de Portugal e da Grécia na zona euro. Seguem-se os excertos mais significativos da sua intervenção, que em Portugal jornais e televisões só deverão difundir lá para segunda ou terça-feira. Eventualmente numa tradução tão boa como a das recentes declarações de Robert Murdock perante a justiça inglesa. Tendo dito que era o dia mais humilhante da sua vida, em português apareceu "o dia mais humilde da sua vida". Convenhamos que "humilhante" =  que humilha, rebaixa ou vexa, não é o mesmo que "humilde" = modesto, simples, obscuro, pobre, medíocre, respeitoso, acatador, tudo qualificativos que não assentam de modo algum no multimilionário Murdock. Mas o ensino do português está como está e os resultados aí estão. Como bem sabe qualquer agricultor, mesmo de poucas letras, "só se colhe aquilo que antes foi semeado".
 Ainda não foi desta que a Europa conseguiu resolver a crise...
Por enquanto tomaram apenas as medidas indispensáveis para ganhar tempo. Algumas semanas, em relação aos mercados. Continua a faltar a solução radical, determinante. Os dirigentes europeus nem sequer evocaram claramente a situação de Portugal ou da Irlanda. Até onde se poderá apoiar a Itália? Qual o futuro do euro? Vão ou não criar uma união fiscal? Todas estas dúvidas continuam sem resposta. O que foi dito e feito é apenas mais um passo, o mínimo para evitar uma derrocada iminente.
Na sua opinião, o que falta fazer?
A crise só será ultrapassada quando se conseguir reduzir drasticamente a dívida grega, provavelmente na ordem dos 70%.  E as da Irlanda e de Portugal também, embora em menores proporções. A Espanha e a Itália necessitam de ir ainda mais longe no saneamento das suas finanças. Quanto à Alemanha e à França, vão ser forçadas a recapitalizar os respectivos bancos, que bem necessitados estão. Com urgência. Os stress tests de 15 de Julho não estiveram de modo algum à altura da situação. Teria sido necessário forçar os bancos a recapitalizar-se "massivamente". O malogro da operação mostra o problema de "governança" da Europa.
O euro continua em perigo?
Há claramente o risco de que a Grécia, tal como Portugal e sem dúvida outros países, devam sair provisoriamente da zona euro. O que não impedirá o euro de continuar a existir. Foi talvez demasiado ambicioso aceitar a adesão ao euro de certos países, que teriam necessitado de mais algum tempo. Mas o núcleo da união monetária, constituído pela Alemanha e a França, continua muito sólido.
Não terão os planos de austeridade gregos, concebidos em grande parte pelo FMI, contribuído para agravar ainda mais o problema?
Teria sido necessário encarar desde o princípio uma reestruturação da dívida grega, mas os europeus não queriam sequer ouvir falar de incumprimento. Para países como a Grécia, Portugal ou a Espanha, com um crescimento quase nulo, o nível de endividamento não é sustentável. Por conseguinte, respondo negativamente. O FMI não é culpado. Limitou-se a fazer o que a Europa lhe pediu e que constitui talvez o seu único erro. Foi a Europa que fez um diagnóstico errado.
No seu livro, descreve as múltiplas falências de Estados ao longo da história. Desta vez é diferente?
A verdadeira pergunta é a seguinte: Pode um país sobreviver a uma falência? Tanto para a Grécia como para Portugal, a melhor solução consiste seguramente em anular uma grande parte das respectivas dívidas, para que possam retomar o crescimento. O que não seria de modo algum o fim do mundo.
A falência de um Estado é afinal algo de bastante banal e sabemos como gerir o problema de uma reestruturação. Mesmo que a pertença à zona euro obrigue a rever alguns detalhes.

Declarações recolhidas por Claire Gatinois e Marie Vergès/ Le Monde, 23/07/2011, página 11

Infelizmente é só uma aberta

Foram muito bem recebidas, porque extremamente oportunas e agradáveis para todos, excepto para os especuladores e as agências de notação, as medidas decididas na mais recente cimeira europeia de emergência. Até os famosos mercados corresponderam favoravelmente. E o caso não é para menos. Redução de 1,5% nos juros e duplicação do prazo de reembolso dos empréstimos, equivale praticamente a oferecer a um pedinte no período de descanso um ano de alimentação gratuita no restaurante de qualidade mais próximo.
Proclama o povo, na sua milenar sabedoria, que "Quando a esmola é grande o santo desconfia", pelo que convém examinar a nova situação, sem dúvida mais favorável, com todas as cautelas. Será finalmente o princípio do fim da crise? Claro que não. Trata-se apenas de mais um remendo, num pneu já cheio deles. Vistas as coisas detalhadamente, o problema de fundo mantém-se e agrava-se de dia para dia. Estado, Regiões, Empresas Públicas, Empresas Municipais, Empresas Mistas, Câmaras, Freguesias, continuam a gastar bastante mais do que as receitas efectivamente entradas nos cofres. Tanto em Portugal como em toda a Europa do sul. Sempre usando como justificação a estafada frase feita "Alguém há-de pagar!"
O problema é que ninguém paga afinal. Não por má vontade, mas apenas porque o tempo em que era "sempre a somar" foi-se, dando lugar ao actual "é sempre a diminuir", excepto no que concerne aos impostos e outros pagamentos obrigatórios.
Em Tomar, apesar da aparente normalidade, as coisas vão tão mal ali pela Praça da República que até já há pelo menos um caso em que o uma família modesta vive um sério drama, basicamente causado por desleixo, desinteresse e incompetência dos senhores autarcas. Trata-se de um salariado que não recebe há meses (nem sabe quando ou se alguma vez virá a receber) porque a sua entidade patronal continua a aguardar que a autarquia cumpra o acordo que assinou em tempo oportuno. Que agora não consegue honrar por falta de "cabimento orçamental", que é como quem diz "verbas disponíveis". Que culpa tem o infeliz empregado que assim aconteça?
Neste como em cada vez mais casos, a actual e relativa maioria, com a conivência de jure ou de facto dos outros membros do executivo e da maior parte da AM, vai empatando, empatando, empatando, empatando. Para quê? À espera de melhores dias? Procurando apenas mamar quanto mais tempo melhor?
Sendo indiscutivelmente positivas, as recentes decisões tomadas em Bruxelas representam apenas uma curta aberta na persistente tempestade internacional, uma vez que permanecem e se agravam os factores na origem desta. Além de que era praticamente obrigatório agir como foi feito. Em termos políticos, faria algum sentido o duo Merkel-Sarkozy conceder ao governo grego -que é de esquerda- novas e evidentes facilidades (alargamento do prazo de reembolso, juros mais baixos, eurobonds), indispensáveis para evitar a bancarrota, recusando-as aos correlegionários irlandeses e portugueses? 
PP Coelho tem todos os motivos para estar contente, sendo no entanto forçado a não cantar de galo e mesmo a continuar a imposição de medidas drásticas na capoeira lusitana, que de resto delas bem precisa. Aqui em Tomar então, nem se fala! Ainda ontem, tendo havido um acidente aqui numa obra, em que um operário se sentiu mal e caiu. Apareceram duas ambulâncias, com quatro socorristas e o carro patrulha da PSP, com dois cívicos. Houve interrupção de trânsito na Rua Direita durante mais de meia hora, após o que a vítima lá seguiu para o Hospital, numa das ambulâncias. Duas horas mais tarde, 5 pessoas, cada uma com um dossier na mão, ainda debatiam o assunto no interior da obra, uma delas com um desses coletes fluorescentes ostentando a legenda "Autoridade para as condições de trabalho". Como é que um país com gente assim poderá alguma vez ultrapassar a crise?!

Sobre o "Princípio de Peter"

A propósito do comentário ao inacreditável texto do distinto autarca Carrão, publicado em ambos os semanários da urbe, interrogam-se alguns leitores, menos versados nestas coisas da política e da sociedade, no sentido de saber da pertinência do título usado: "Mais um vítima do Princípio de Peter".
O "Princípio de Peter" é um postulado de origem norte-americana, resultado da análise atenta do que ali ocorre, nomeadamente nas grandes sociedades anónimas. Estabelece que qualquer cidadão sobe na hierarquia da sua ocupação até fatalmente atingir o nível da incompetência total. Donde resulta que, regra geral e universal, tanto nas empresas, (CGD, por exemplo) como na política, os mais antigos acabam sempre em lugares de prateleira, onde nada de útil fazem, mas muito bem remunerados e artificiosamente designados por "não executivos", presidentes, membros do conselho de vigilância, senadores, etc. etc. O que se compreende perfeitamente. Por um lado, convém evitar tanto quanto possível que, por incompetência, continuem a malbaratar os negócios da casa. Mas por outro, não convém despedi-los, pois sabem demasiado e poderiam ser tentados a trocar por patacos a sua volumosa e demasiado comprometedora bagagem...
É assim o mundo em que vivemos.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Diagnosticar a doença para a seguir propor uma terapêutica eficaz


Acabo de receber este comentário, cujo estilo simples e directo me "diz" que é genuíno. Que não se trata de mais uma brincadeira de um engraçado qualquer, a tentar dar nas vistas enquanto se  abriga na barraca do anonimato. Um comportamento canino, corriqueiro por estas bandas. Respondo por isso de boa vontade e no meu jeito peculiar -frontal e sem floreados inúteis.
Seria mesmo um desafio importante conseguir geminações com cidades prestigiadas, caso houvesse alguma hipótese de as urbes convidadas poderem vir a responder afirmativamente. Acontece, infelizmente, que nenhuma o faria nas circunstâncias actuais. Não por má vontade, mas simplesmente porque Tomar, no estado actual das coisas, está um pouco para Toledo, Aigues Mortes, Jerusalém ou Paris, como um pedinte SDF (sem domicílio fixo) para moradores na Lapa ou na Quinta da Marinha. Quando muito dar-lhe-ão ocasionalmente algumas esmolas, mas evitando custe o que custe serem vistos na sua companhia.
Quem quereria nesta altura figurar no placa de geminações, colocada junto à câmara de uma cidade esventrada pelas obras, sem acessos dignos ao principal monumento, sem estruturas adequadas ou sequer vontade de as vir a implementar, sem sinalização, sem guias capazes, sem casas de banho, enterrada em dívidas até às orelhas e sem soluções para pagamento das mesmas, ou indícios de as vir a encontrar???
Ante tal rol de carências, asneiras e chagas, elaborar e implementar um plano para geminar Tomar com Toledo constituiria apenas mais uma diversão bem ao estilo tomarense, cujos adeptos adoram nadar em potes de iogurte, navegar e pescar em águas passadas, discutir a doença após a morte do paciente ou trancar as portas após a casa ter sido assaltada.  
Que não se julgue, contudo, igualmente à boa maneira nabantina, estar eu a tentar escapulir-me à tarefa. Para mim seria ao mesmo tempo um prazer e um entretimento, pois tudo o que os leitores fazem o favor de ler neste blogue, que não seja copiado, é escrito sem rascunho prévio; directamente e sem pausas. Por conseguinte...a dificuldade não reside na prévia elaboração mental e subsequente versão escrita. Trata-se, isso sim, de renitência provocada pela antevisão de que seria um trabalho inútil e até prejudicial para o futuro de Tomar enquanto comunidade humana.
Salvo melhor opinião, fundamentada, pois claro!, é meu entendimento que, mais tarde ou mais cedo, quem quiser iniciar a recuperação local terá de, antes de mais, descer do pedestal da sua pretensa auto-suficiência, ouvir os outros com humildade, aceitar opiniões adversas e colaborar na elaboração do prévio diagnóstico da doença e suas causas próximas ou longínquas. Só na fase seguinte será profícuo tentar estabelecer uma terapêutica susceptível, no estado actual dos conhecimentos, de vir a erradicar a maleita. Insistir em debates do tipo daquele agora em curso no Facebook, sobre a triste prestação da TVI durante o cortejo dos tabuleiros (ver post de logo à noite), equivale a chover no molhado ou a chorar o leite derramado, quando como é bem sabido, o que já não tem remédio, remediado está.
Alguma vez os tomarenses em geral ousarão assumir-se como cidadãos responsáveis e participantes nos problemas da sua cidade? Continuam a acreditar em milagres e em homens providenciais? Eu não. Mas sozinho só faço o que que posso.

Singela referência a um escol


Anabela Freitas, Graça Costa, Laura Rocha e Rosário Simões são ao mesmo tempo a vanguarda da participação cívica feminina a nível concelhio e o verdadeiro escol, todas as categorias incluídas, da política local. Só não irão tão longe, ou pelo menos tão rapidamente, porque todas pecaram aos olhos da inquisitorial "opinião pública" nabantina. Na área pessoal, na área política, ou em ambas, cada uma conseguiu arranjar coragem para, quando julgou indispensável, "dar o salto", assumir a mudança e mudar de "camisola". Na vida pública e/ou na privada. Sucede que a boa consciência tomarense, visceralmente avessa à mudança autonomizante e arreigadamente alérgica à crítica, nunca aceitou ou vai aceitar semelhantes atitudes de lesa-tradição. Convém dizer isto, não só para mitigar futuros dissabores das cidadãs em épigrafe, mas também e sobretudo para melhor se entender o que aí vem em termos de "embrulhada política" local.
Dito o que antecede, que é o principal, força-me a conjuntura a referir um involuntário erro de Graça Costa, que apenas referencio e procuro corrigir pelas consequências que pode vir a ter para a credibilidade de algum ou alguns projectos locais. Consta da notícia acima reproduzida (Cidade de Tomar de 21/07/2011, última página) a declaração da vereadora IpT, referindo ser importante "requalificar o templo sefardita mais antigo da Península Ibérica." Reconhecendo embora a total pertinência da recomendação, forçoso é esclarecer que a Sinagoga de Tomar, ou mais precisamente o que dela resta, sendo eventualmente o templo hebraico mais antigo de Portugal (se considerarmos que o de Castelo de Vide mais não é do que uma modesta casa de habitação que servia para celebração religiosa), não é o mais antigo da Península, nem pode ser comparado vantajosamente com as sinagogas toledanas Del Tránsito e de Santa Maria la Blanca.
Conforme o leitor, interessado ou não por estas coisas do património herdado, pode conferir nas ilustrações seguintes, a Sinagoga del Tránsito data do século XIV e de Santa Maria la Blanca do século XII. Muito mais antigas por conseguinte do que templo judaico da Rua Nova, que datará na melhor das hipóteses do primeiro quartel do século XV.
É nestas e noutras matérias da mesma natureza que se pode constatar a diferença que faz ter ou não ter Mundo. Porque, sendo extremamente fácil, uma vez que ao alcance de uma série de cliques no computador, conseguir qualquer informação, convém nunca esquecer que, regra geral, para se encontrar é preciso saber antes aquilo que se procura. Que o mesmo é dizer, no que ao património concerne, ter conhecimento anterior suficiente para fundamentar uma dúvida.
Aqui fica o esclarecimento.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Análise da imprensa regional desta semana


Muita e excelente leitura no Cidade de Tomar hoje publicado.  Além do  inacreditável  texto subscrito pelo vice-presidente Carrão, também difundido no TEMPLÁRIO e já comentado no post anterior, destaque para as duas peças subscritas por António Freitas, nas páginas 8 e 20, ambas sobre problemas graves ocorridos aquando da festa dos tabuleiros. Na página 12, Hugo Cristóvão publica um comovedor adeus à presidência do PS local, admitindo a dado passo que "Os políticos tomarenses com responsabilidades públicas nos últimos anos, escolhidos pelos tomarenses, têm sido globalmente maus, muito maus é certo, e eu sinto algum desconforto em poder ser confundido com eles e essa é uma das razões do meu actual cansaço com a política." Perante tão franca e singela confissão, resta-me agradecer ao Hugo a sua excelente ajuda. Doravante ninguém poderá afirmar, respeitando a verdade, que sou o má-língua de serviço. Pois se até o subscritor do acordo da transitória mancebia PSD/PS já admite publicamente sentir-se algo agoniado...a situação parece complicar-se singularmente. A dois anos da próxima consulta eleitoral e num contexto de acentuado agravamento da crise nacional e local.
Outro texto a ler sem falta é a declaração de regresso em força à política activa do ex-vereador socialista António Alexandre. Está na página 16 e pode bem prenunciar reclassificações várias no tabuleiro político nabantino. Finalmente, nas páginas 18 e 19, António Freitas aborda, respectivamente, o excesso de emplastros integrados no cortejo dos rapazes e a participação da freguesia de Alviobeira na festa dos tabuleiros.

O TEMPLÁRIO publica de novo um suplemento ilustrado sobre os tabuleiros, a última entrevista de Luis Santos e três peças de notável prosa. Fernanda Leitão comenta, na página 15, a sua visita sentimental às margens nabantinas, mais de 30 anos após a sua ida precipitada para o Canadá. E comete um erro creio que involuntário: Não foi o "Manel Bento o autor e fundador  do Congresso da Sopa", mas sim o já falecido Manuel da Silva Guimarães, como é do conhecimento geral na urbe. Bento Baptista foi sim o continuador do evento, de resto com muito brio e sucesso. E sem procurar obter dividendos pessoais.
Segue-se, na usual prosa burilada e percutante, a semanal crónica de J. A. Godinho Granada, desta vez sobre a Festa Grande de Tomar. Atente o leitor neste belo naco: "Espantosa a actuação de um ser assexuado que dá pelo epíteto de Castelo Branco, transmitida pela TVI, perante o gozo de uma assistência meio divertida, meio incrédula. Há gostos para tudo..." Boa malha, Dr. Granada!Vale também a pena ler, como sempre, o comentário mais político-económico de Sérgio Martins, intitulado visões e que vem na página 22.A concluir, a velhinha "À esquina da Praça" sobre "Bolas brancas e pretas", numa escrita rica e rara, proporcionada pelos mais de 50 anos de tarimba jornalística do tomarense de adopção o amigo Appio Sottomayor.

N'O MIRANTE, destaque para a pose nitidamente evangélica de Corvêlo de Sousa,  a declarar-se acima das guerras partidárias e disposto a levar o mandato até ao fim. Conseguirá? É que sempre são 6,5 milhões de euros a liquidar só à ParqT, com um juro de 4% enquanto tal não ocorrer. Dado que a banca já fala em spreads de 5% e o BCE não empresta a menos de 2,5%... é só fazer as contas, como disse o Guterres certa ocasião. Pessoalmente, inclino-me mais para o boletim metereológico: Céu permanentemente muito nublado; chuva intensa e ventos fortes no vale nabantino, susceptíveis de arrastar autarcas mesmo que muito bem alapados. É a crise...
Na sua habitual colaboração "E-mails do outro mundo", o ultra-astuto Serafim das Neves vai directo ao assunto: "Tal como não ponho as mãos no fogo pelas caldeiradas políticas, mais instáveis que nitroglicerina, que coabitam nos executivos das câmaras de Tomar e de Vila Franca de Xira.  PS e PSD juntos a remar para o mesmo lado é quase tão contra-natura como ver Pinto da Costa a aplaudir o voo da águia Vitória. Mas mais bonito será se essas alianças interesseiras chegarem até ao final do mandato autárquico. Estou curioso para ver a argumentação na campanha eleitoral, com o PS em Tomar a dizer mal da maioria PSD de que fez parte... ...Jogar em dois tabuleiros sempre foi um exercício arriscado e muitas vezes acaba mal." Exactamente o que tem vindo a ser dito e redito, aqui em Tomar a dianteira, com o estatuto de mera maledicência, já se vê!
Apenas duas locais sobre Tomar, nesta edição d'O RIBATEJO. Uma sobre a comemoração dos 90 anos da Sinagoga como monumento, outra referindo a "Recuperação do Museu João de Castilho", que arranca em Agosto. É pouco mas não se conseguiu mais, que a época não vai para excessos, um correspondente local tem os seus custos e o Grupo Lena não está propriamente a nadar em dinheiro. Ao que se ouve dizer por aí...