Não vá dar-se o caso de haver cidadãos persuadidos de que as PPP e outros escândalos só acontecem em Portugal, o melhor é facultar informação actualizada sobre outros países europeus. Para já, sobre a Grécia, ainda mais encalacrada do que nós. O que não é nada fácil!
A multiplicação dos escândalos de corrupção perturba a coligação no poder em Atenas
A semanas do voto crucial do futuro plano de austeridade, uma investigação do ministério das finanças aponta ex-ministros como suspeitos de corrupção
"O primeiro ministro grego solicitou ao seu ministro das finanças, no passado dia 22 de Setembro, que transmita à justiça a lista de 32 nomes de políticos cujas contas bancárias, investigadas pela brigada financeira do fisco, SDOE, incluem movimentos de fundos suspeitos. O procurador do supremo tribunal vai encontrar-se, na segunda feira 24, com os inspectores da brigada, para iniciar o inquérito sobre o que para já se considera como "enriquecimento estranho".
Segundo um jornal de centro-direita, as suspeitas visam nomeadamente sete ex-ministros, quatro do PASOK (socialistas) e três da Nova Democracia (centro-direita). Estes últimos são, segundo o semanário dominical Real News, o actual presidente do parlamento e ex-ministro da defesa, e dois ex-ministros do governo conservador de Costas Caramanlis (2004/2009), o da cultura e marinha merxcante e o dos transportes e da cultura.
Segundo o mesmo semanário, a investigação incide sobre casos de "compra de imóveis e branqueamento de capitais". Os três arguidos negaram no passado domingo os factos de que são acusados e ameaçaram com o recurso aos tribunais contra todos os que os difamarem. A SDOE anunciou na passada primavera que ia passar a pente fino as contas bancárias de 500 personalidades políticas. Esta lista de 32 suspeitos é um dos primeiros resultados desse inquérito.
A inclusão na lista do presidente do parlamento embaraça o actual governo de coligação, semanas antes de um voto dos deputados sobre as novas medidas de austeridade, que continuam a ser discutidas com a troika. O actual presidente ascendeu a esse lugar após a vitória da Nova Democracia nas eleições legislativas de 17 de Junho. O seu antecessor, um outro deputado da ND, só presidiu durante 24 horas, pois o parlamento saído do escrutínio de 6 de Maio reuniu-se apenas para se dissolver, após constatar a impossibilidade de conseguir uma maioria estável. Mesmo assim, o efémero presidente deu que falar ao atribuir um bónus de dois milhões de euros aos empregados, para comemorar o escrutínio, tendo aproveitado também para mandar contratar a sua filha pelos serviços de apoio ao parlamento.
Os nomes de Liapis e Vulgarakis aparecem ligados a outros escândalos. Liapis, primo direito do ex-primeiro ministro Costas Caramanlis, foi citado no escândalo Siemens, mas nenhuma das personalidades políticas do Pasok ou da ND chegou a ser acusada no âmbito deste caso, revelado pela justiça alemã, que mostrou ter havido quadros da Siemens que pagaram "luvas" a vários políticos gregos.
A comissão parlamentar de inquérito então constituída não conseguiu chegar a acordo sobre a responsabilidade de cada um dos envolvidos. A imunidade parlamentar e os prazos de prescrição tornam extremamente difícil acusar antigos ministros.
Quanto a Vulgarakis, foi implicado no escândalo Vatopedi, uma operação de troca de terrenos entre o governo de Caramanlis e o Convento de Vatopedis, no Monte Athos, que se suspeita tenha beneficiado os frades e prejudicado o governo. A mulher de Vulgarakis foi a notária encarregada da citada troca, enquanto que o seu sogro era o advogado dos frades. O prior da abadia, o abade Efraim, passou vários meses em prisão preventiva, até ser libertado sob caução. Veio depois a ser susbtituído na sua cela da penitenciária de Korydallos, nos arredores de Atenas, pelo ex-ministro socialista da defesa Akis Tsohatzopoulos, que continua em prisão preventiva, suspeito de branqueamento de capitais e "luvas", na compra de submarinos alemães e mísseis russos. As suas actividades delituosas enquanto ministro já prescreveram, pelo que o trabalho dos inspectores se limitou a constatar que as suas contas bancárias, incluindo as da sua família, (a sua mulher, a sua filha e um primo estão já em prisão preventiva), revelaram transferências suspeitas, designadamente para sociedades offshore.
Os inspectores adoptaram a mesma técnica para seguir os movimentos financeiros de vários responsáveis políticos. A espectacular prisão de Akis Tsohatzopoulos, ex-adjunto de Andreas Papandreou -o fundador do Pasok e pai do ex-primeiro ministro Georges Papandreou- permitiu pôr fim a um tabu da vida política grega: nunca antes se vira um ministro ser preso."
Alain Salles, Le Monde, 25/09/2012, página 6
Esta sucessão de ocorrências -submarinos, luvas, offshores, familiares, enriquecimentos estranhos, prescrições, imunidades...- levou-me a pensar noutros países. Mas deve ser defeito meu, ver prevaricações por todo o lado. Ou não?