domingo, 30 de setembro de 2012

Mazelas tomarenses

A convite de uma estimada conterrânea, resolvi ir de passeio até ao Casal das Atalaias, ali a norte da cidade antiga, entre a Estrada de Leiria e a Capela de Nª Srª da Piedade. Procurando evitar grandes subidas e matar dois coelhos com a mesma cajadada, fui pela Estrada do Convento, Casal do Láparo, Cruz de Santo António e Estrada de Leiria. No exterior do Convento assisti a mais uma situação confrangedora, a relatar num próximo escrito. Devemos ser a única cidade do país, além de Fátima, onde os turistas se transformam em penitentes. Mas aqui, nesta Capital Templária, visivelmente contrariados.


No desvio para os Pegões, os Brazões e a  a Longra, o aspecto é este. Há mais de cinco anos. A denotar empenhamento da autarquia, no sentido de dar à cidade um aspecto geral que não nos envergonhe aos olhos de naturais e visitantes. Ou estarei a ver mal?




Já no Casal das Atalaias, estas três fotos dispensam grandes comentários. Em plena Freguesia Urbana de S. João Baptista, os passeios mais parecem os de qualquer aldeia perdida no sertão africano. Nem o da rampa de ligação ao Centro Histórico escapa. Querem que os peões transitem por onde?





Além da manifesta falta de limpeza e de manutenção dos passeios, a estrada municipal está como testemunham estas duas fotos. Numa freguesia urbana, frequentada por turistas!



Junto à capela, outrora um excelente miradouro, agora o horizonte é este. Será assim tão complicado podar a vegetação de tempos a tempos?


A indicação toponímica já lá está: Nª Senhora da Piedade. Falta só acrescentar "ajudai-nos, pois se não fordes vós..."

sábado, 29 de setembro de 2012

Caso Vitorino já começou a produzir estragos

A rebeldia do vereador José Vitorino, que se recusou a seguir as indicações de voto do PS, partido em que é militante e em cujas listas foi eleito, já começou a produzir estragos. Um presidente de junta do PS, questionado por Tomar a dianteira, foi peremptório: "É assim que se perdem eleições!" Por outro lado, no novo programa de debate dos sábados de manhã, na Rádio Hertz, tendo o socialista António Alexandre, ex-vereador e membro do secretariado local, referido que já como vereador do PSD José Vitorino foi uma desgraça, o representante dos IpT aproveitou a ocasião para frisar que também o PS tem alguma culpa no sucedido, rematando com uma pergunta fatal: "Se o PS já sabia que Vitorino tinha sido antes uma desgraça como vereador social-democrata, porque voltaram a escolhê-lo, desta vez para cabeça de lista?"
Numa altura em que as coisas não estão nada fáceis para ninguém, mas muito menos para os laranjas locais, esta bronca socialista doméstica vem mesmo a calhar. Indicia que também pelo lado dos rosas há descontentamento e algumas divergências, quando estamos a um ano da próxima consulta eleitoral, salvo imprevisto, que em política nada é certo até acontecer.
É verdade que os socialistas nabantinos ainda estão muito a tempo de solucionar o incidente de maneira airosa, o que não é fácil, posto que muito depende do estado de espírito do próprio Vitorino, ao que consta bastante deprimido ultimamente. Se, alegando razões de saúde, decidir facilitar as coisas, renunciando ao lugar e abandonando o partido, os estragos serão mínimos, mas anda assim com relevo em termos eleitorais, ao demonstrarem que o PS local errou na escolha de candidatos em 2009. Se, pelo contrário, resolver mesmo assim medir forças, insistindo na sua desconfortável posição, o que é muito provável, então com alguma probabilidade vamos ter uma novela de faca e alguidar, com cenas canalhas e tudo. Sim, porque a eleição interna de 2009 foi devidamente organizada e preparada por Luís Ferreira, no seio da Comissão Política. Por conseguinte, enquanto membro do mesmo órgão estatutário, José Vitorino detém informação em primeira mão, cuja difusão pode não ser nada favorável para o PS tomarense, a acreditar nalguns boatos que por aí circularam a dada altura. Falta apenas saber se o agora dissidente arriscará ou não pôr a boca no trombone. É do domínio público que tanto José Vitorino como Luís Ferreira fazem parte da maçonaria, entidade que não prima pela informação atempada das suas actividades e deliberações... 
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos da telenovela "Desespero na hostes socialistas".

Futeboladas na política local

Somos, como se sabe, uma grande potência futebolística. Nunca ganhámos nada de jeito, perdemos com a Grécia uma final e até já empatámos com o Luxemburgo; mas pronto! Somos uma grande potência! Onde em tempos um grande clube despediu o Mourinho, por considerar que era mau treinador. Não espanta por isso que a política esteja cheia de especialistas de futebol, quase sempre também treinadores de bancada. Vai daí, volta não volta transferem para a arena política práticas da relva futebolística.
Acaba de acontecer na Assembleia Municipal de Tomar. A oposição, por uma vez unida, votou maioritariamente uma Moção de censura ao presidente e à mesa. Leu bem: uma Moção de censura. Na qual acusam o presidente que alguns elegeram de ser o responsável pelo triste estado a que isto chegou e, sobretudo, embora não o admitam, de estar a falhar na outra equipa que também treina em Lisboa. Agindo assim, PS, IpT, CDU e BE branqueiam de facto a incapaz troika executiva tomarense, apesar dos sucessivos e graves erros que vem cometendo. Em simultâneo, procuram sacudir a água do capote, uma vez que em tempo oportuno se mostraram incapazes de provocar a queda do executivo, seguida de eleições intercalares, apesar de disporem de todas as condições para isso. Mostraram assim estar tolhidos pelo receio de que o eleitorado os mandasse dar um volta...
Meses mais tarde, ei-los que descobriram o prego com a cabeça do outro lado: Se a equipa está a jogar mal, a culpa é do treinador. Implicitamente: A equipa executiva até é boa, o treinador é que não presta. Vantagem desta posição: Pôde ser aprovada sem perigo, pois não tem qualquer consequência prática. É uma moção inócua, só para dar espectáculo e portanto ir entretendo o pagode. Numa altura em que os senhores civilizados da grande metrópole, ungidos pela graça do Espírito Santo, decidiram descer às berças para tentar explicar aos indígenas calhordas como se pode desenvolver o povoado. 
No fundo, tudo cidadãos respeitáveis e bem intencionados, mas que não se enxergam nem conseguem entender um mundo em mudança cada vez mais acelerada. Os resultados aí estão para o provar. 
Pobre terra! Pobre gente!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Mudar mentalidades enquanto é tempo

"Os socialistas não gostam dos empresários, mas a França também não!"

"Em França, entre as personalidades admiradas pelos franceses há cantores, humoristas ou futebolistas (cada vez menos), mas não há empresários. E o recente caso de Bernard Arnault, que pediu a nacionalidade belga, ainda veio agravar mais a situação. É certo que um punhado de patrões salariados destruíram, por egoísmo ou avidez, a imagem da profissão junto da opinião pública, com as suas remunerações indecentes. Mas nos Estados Unidos, onde o êxito empresarial e a popularidade se confundem, Steve Jobs e Bill Gates sempre foram muito acarinhados.
Na Alemanha, os operários sabem que a prosperidade das empresas é o seu melhor aliado. A lucidez da opinião pública acompanha sempre a abertura da economia ao exterior.  Inversamente, quando predomina a função pública, a compreensão daquilo que gera a prosperidade de um país é sempre mais fraca. Segundo um inquérito mundial do Instituto Globescan, a França bate todos os recordes. 70% dos franceses ignoram que são as empresas que criam riqueza! Assim sendo, pode dizer-se que o governo Hollande é "normal": projecta a opinião maioritária, ao não testemunhar uma ternura particular pelos empresários.
A raízes do mal mergulham muito profundamente na História e, apesar da progressão dos conhecimentos económicos, a aversão pelas empresas não diminui com o tempo, antes pelo contrário. Qual é nesta área a responsabilidade do sistema educativo? Um think thank de inspiração liberal, o IREF, vai publicar em breve um estudo sobre a maneira como são apresentados os actores económicos nos manuais escolares.
Os resultados, que apresentamos em exclusividade, não deixam margem para dúvidas. A empresa ocupa em geral apenas uma dezena de páginas em 400. É uma entidade abstracta, que procura maximizar os ganhos de maneira diferente, consoante esteja em situação de monopólio ou de concorrência pura e perfeita. O seu criador é invisível. Não se apresenta nenhuma história pessoal de um empresário. O papel do empresário e da empresa na criação de riqueza é quase sempre ocultado. O mercado e a mundialização são apresentados segundo um ponto de vista crítico, porque tendem a falhar. Inversamente, o Estado é sempre apresentado como o actor económico principal, porque é o "regulador indispensável". A palavra "social" é o vocábulo mais utilizado. Em lado algum se menciona o perigo do "excesso de Estado" ou de viver à custa do Estado.
Nenhum dos manuais consultados insiste nos elogios à economia planificada -como acontecia ainda há seis anos atrás- mas todos acentuam excessivamente a importância dos impostos e da redistribuição. Cita-se Keynes por tudo e por nada, em detrimento dos economistas liberais. Os textos são com frequência pessimistas (a concorrência, por exemplo, é sempre "selvagem") e ideologicamente tendenciosos. A noção de risco nunca aparece, excepto quando se trata do risco de crédito, para mencionar os caloteiros! ... ...
Claro que os alunos fazem doravante estágios descoberta nas empresas. Mas uma experiência como a da associação Empresa e Progresso deveria ser generalizada. Os seus dirigentes acompanham a par e passo alunos do 10º ano que estruturam um projecto, inventam um produto, fazem um plano de negócio, pensam na comercialização, tendo por objectivo experimentar na prática a dificuldade de criar, de contratar, de trabalhar e de ganhar dinheiro produzindo riqueza."

Christine Kerdellant, L'EXPRESS, 19/09/2012, página 61

E em Portugal, como será? Tremo só de pensar no assunto. Tanto mais que Jacques Attali (economista, ex-conselheiro de Mitterrand) é muito claro, na mesma edição do L'EXPRESS, página 28: "É indispensável favorecer a mobilidade social e geográfica, tal como a economia do conhecimento. Deve começar-se logo no primeiro ciclo do ensino básico, mesmo sabendo que os frutos só virão cinquenta anos mais tarde. E depois há uma coisa fundamental que deve ser mudada. Em França, tal como na religião católica, a riqueza é vergonhosa. Pelo contrário, para o protestantismo e o judaismo, é a pobreza que é vergonhosa. No primeiro caso, acusam-se os que criam riqueza e admira-se, com nostalgia, a riqueza acumulada. No outro, como acontece na sociedade norte-americana, considera-se que ter êxito é um sinal da graça divina."
Ora toma!

Luís Ferreira tem razão

Por muito que isso incomode José Vitorino e os seus apoiantes, na inoportuna bronca provocada pelo PAEL, mais precisamente quando o ex-cabeça de lista e actual vereador PS votou a favor e o outro representante socialista no executivo votou contra, a razão está do lado de Luís Ferreira. Isto porque, sendo ambos militantes do mesmo partido, estão naturalmente obrigados a seguir as suas normas, desde que previamente debatidas, votadas maioritariamente e comunicadas em tempo útil. Foi o caso. Os órgãos legítimos do PS determinaram que o voto socialista seria contra o PAEL. José Vitorino disse imediatamente que votaria a favor, indo portanto contra a orientação do partido em cujas listas foi eleito. Devia por isso ter esclarecido logo que o fazia a título pessoal, por discordar da orientação do seu partido, sujeitando-se implicitamente às eventuais consequências.
Em vez disso, num alarde de algum marialvismo político, acusou o seu companheiro de lista de  usurpar competências, ao ler uma declaração de voto classificada como posição oficial do Partido Socialista. Anunciou até que vai recorrer ao poder judicial tendo em vista anular o citado documento, caso Luís Ferreira não o altere em em tempo útil. Está equivocado!
Nesta lamentável trapalhada, que podia muito bem ter sido evitada, não prestigia mesmo nada quem a desencadeou e terá decerto consequências a curto, médio e longo prazo, José Vitorino julgou ser aquilo que não é - um cidadão livre-  a partir do momento em que aceitou encabeçar uma lista partidária, tendo assinado um compromisso de honra, nos termos do qual está obrigado a acatar as decisões dos órgãos do partido, nomeadamente a disciplina de voto. Agora que cometeu esse erro, originando o escândalo político subsequente, resta-lhe ter a coragem de ir até às últimas consequências, fazendo o óbvio -renunciar ao cargo que ocupa e abandonar o partido, ou manter-se como vereador, mas como independente. E definitivamente ferido de asa, pois pouco ou nada acontece por mero acaso, na política como no resto. O que leva as pessoas a perguntar o que lhe terá sido prometido em contrapartida do seu voto. É triste e reles, mas é assim que funciona. Estamos em Portugal, onde a democracia nos foi servida de bandeja pelos militares de Abril, e em Tomar, uma terrinha cuja população poderá ter os seus defeitos, mas nunca constou que fosse canhota. Ou muda. Basta olhar para os sucessivos resultados eleitorais...

Já foi vendido o comboio turístico

Os empresários tomarenses representados por Ivo Santos chegaram finalmente a acordo com a ACITOFEBA, adquirindo o comboio turístico por um montante pouco acima dos 30 mil euros. A notícia foi-nos confirmada pelo próprio presidente da entidade vendedora, o tomarense Francisco Faria. Aproveitou para mostrar as instalações da agremiação, agora dotada com consultório para o exercício autorizado de medicina do trabalho.
Respondendo a Tomar a dianteira, confirmou que havia uma proposta superior, que todavia implicava a saída de Tomar daquele equipamento, o que não agradava nem à ACITOFEBA nem ao executivo municipal, que foi consultado a esse propósito. Referiu igualmente que a venda do comboio se efectua por a direcção da colectividade ter concluído carecer em absoluto de vocação para a actividade turística.
No actual ciclo, o comboio efectuará as últimas viagens no próximo domingo. Depois irá ser manutencionado, reparado e requalificado (orientação dos assentos, estofos, ventilação, sistema de som...), prevendo-se que retome o serviço antes da próxima primavera, com novos percursos. Quanto ao actual condutor, Francisco Faria informou que irá ser indemnizado nos termos da lei e despedido, devido a supressão do posto de trabalho. Ainda não foi possível contactar os compradores para indagar se tencionam contratar o mesmo motorista, tendo em conta a sua experiência de dez anos, uma excelente mais-valia nesta época de desemprego e de improvisos...

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Análise da imprensa regional de hoje




Começo por convidar o leitor a clicar aqui ou aqui para tomar conhecimento da bronca política de hoje, com traços de poder vir a ser uma das grandes fracturas políticas locais. Dado assim o alarme, passemos então à imprensa regional de hoje.
Lendo a manchete de CIDADE DE TOMAR fica-se com a ideia de que, se têm caído dois tetos em vez de um, logo pensariam que seria apenas um problema de falta de soutien. O acordo ortográfico tem destas coisas. Dos outros temas de primeira página, destaque para o Congresso internacional de turismo Cultural e religioso e para o 1º Congresso de Tomar. Este, a ter lugar já nos próximos sábado e domingo, no auditório da biblioteca municipal, indica como cabeça de cartaz José Gomes Ferreira, subdirector de informação da SIC, ao que parece tomarense nascido em Vale da Laje (Serra). Digo isto porque não me recordo de alguma vez o ter lido ou ouvido sobre Tomar. Seria portanto uma excelente ocasião para ir ouvi-lo, não fora o caso de não me convidarem, assim indicando que não me querem lá. Pois seja feita a vossa vontade, que sempre detestei mundanidades.
No TEMPLÀRIO, além dos habituais acidentes e outros incidentes, noticia-se que "Congresso de Tomar promete", sem todavia indicar o quê, pois José Gaio sempre foi bastante prudente. Há também duas boas crónicas, uma de Luís Graça, sobre o mais recente livro de J. Godinho Granada, outra subscrita por Ernesto Jana, a dissertar sobre o já referido congresso, a cujos participantes desejo as maiores venturas, pois nunca fui nem sou de represálias. Mas há quem seja. Feitios, diria o saudoso Raul Solnado.
"Ler livros e jornais em papel é melhor para o ambiente que usar computadores e iPads", diz Rui Sant'Ovaia, professor no IPT, entrevistado pelo MIRANTE. O melhor será ler, que a justificação é assaz longa e pareceu-me  pouco convincente.

A desgraça continua e acentua-se

JN, 27/09/2012, suplemento

Concluída a segunda fase de colocações no ensino superior, a desgraça continua e acentua-se no que concerne ao Instituto Politécnico de Tomar. O que é cientificamente normal. As mesmas causas, nas mesmas circunstâncias exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos. Na mesmo sentido, pode-se acrescentar que, mantendo-se as mesmas causas, mas agravando-se as condições exteriores, como está a acontecer, os efeitos tendem a agravar-se também.
Nesta segunda fase sobraram 135 vagas na escola de gestão, 190 na escola de tecnologia de Tomar e 68 na de Abrantes, num total 393, o que corresponde a mais de metade do total de vagas anuais oferecidas. Cinco cursos não conseguiram qualquer candidato nesta segunda fase. É obra!
Perante isto, que concluir? Que os instalados naquele estabelecimento escolar, custeado com os nossos impostos, estão a prejudicar duplamente Tomar. Porque não cumprem cabalmente as missões que normalmente lhes incumbem, mas igualmente e sobretudo porque, assim procedendo, evitam que outros o possam fazer com mais qualidade.
Infelizmente, em vez de encararem a triste situação em que se encontram com coragem e sem preconceitos, ousando renovar, inovar, arejar, corrigir, auscultar, não senhor. É muito mais fácil continuar com o amiguismo, o compradrio, os concursos com fotografia só para inglês ver, os currículos ultrapassados, as opções obsoletas, os docentes menos capazes, tudo num ambiente de fortaleza cercada, suavemente instilado em toda a comunidade laboral. Quem não é da casa ou dela não diz bem, é contra a casa, logo um invejoso, um ressabiado, um inimigo. O pior é o resto.
Porque será que, por exemplo, os alunos de Ourém, um concelho já mais populoso do que Tomar, ao terminarem o secundário, optam sempre por Leiria, Coimbra ou Lisboa, e nunca por Tomar? Será por causa do clima? Ou porque Tomar fica numa cova e, vítima de incompetentes, está cada vez mais atascada na irrelevância e na miséria cultural? 
Má-língua, o gajo do Tomar a dianteira, não é? Calhando, é ele que anda a dizer aos candidatos por esse país fora para não escolherem Tomar...

Deserções em plena batalha

A batalha cada vez mais violenta que se trava em Tomar contra os novos ventos da história já começou a produzir deserções em pleno campo de batalha. Em pelo menos dois casos, os desertores transitórios até se bandearam com o inimigo. Na recente parvoice do abono das despesas de representação, Graça Costa absteve-se, mas terá feito constar que pretendeu votar contra, assim beneficiando a troika laranja e, naturalmente, irritado Pedro Marques, cuja idiossincrasia se não adequa de forma nenhuma com tais atitudes. Agora, segundo a Rádio Hertz, foi a vez de José Vitorino. Pela primeira vez neste mandato, juntou-se à relativa maioria, votando favoravelmente mais um pedido de empréstimo, enquanto Luís Ferreira e os IpT votaram contra.
Considero que, tanto num caso como no outro, se trata de baixas para as futuras listas a apresentar às eleições de 2013. Claro que tanto socialistas como independentes virão com a habitual música: somos uma formação política democrática, com pessoas que pensam pela sua cabeça e são livres de votar como entenderem... Pois! Mas o facto é que houve ruptura pública, atitude imperdoável no nosso acanhado microcosmo político. Pelo que José Vitorino e Graça Costa se podem considerar desde já fora de combate. É pena, pois todos fazem falta para tentar desatolar a carroça tomarense, cada vez mais atascada.
A Assembleia Municipal tem agora de discutir e votar pelo menos duas "batatas quentes". No caso das despesas de representação, creio que o bom senso acabará por imperar, graças aos votos conjugados de PS, IpT, CDU e BE, visto que é absolutamente imoral aumentar lateralmente quem já tem vencimentos confortáveis, quando a esmagadora maioria dos funcionários tem as remunerações e progressões congeladas. Só se os presidentes de junta também já tiverem sido habilmente pressionados...
No caso do pedido de empréstimo, o comportamento da troika executiva só pode trazer água no bico. Numa autarquia que se poderá queixar de tudo menos da falta de funcionários de secretária, porque será que não houve tempo para preparar e distribuir  TODA a documentação indispensável ao debate do assunto? Não convinha? Há esqueletos nos armários que ainda não convém expor? Consideraram que mais vale colocar a AM perante o facto consumado, obrigando-a a decidir numa matéria  parcialmente desconhecida?
Se por improvável acaso, que as chantagens são muitas, vier a constitui-se uma maioria contra a aprovação do empréstimo, por falta de informação suficiente, que irá fazer a relativa maioria? 
Muito provavelmente continuar a receber pacatamente os seus vencimentos, como até agora. Com um ou outro alarde por aqui e por ali, para fingir que ainda governam, quando afinal apenas se governam.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Não vá dar-se o caso...

Não vá dar-se o caso de haver cidadãos persuadidos de que as PPP e outros escândalos só acontecem em Portugal, o melhor é facultar informação actualizada sobre outros países europeus. Para já, sobre a Grécia, ainda mais encalacrada do que nós. O que não é nada fácil!

A multiplicação dos escândalos de corrupção perturba a coligação no poder em Atenas

A semanas do voto crucial do futuro plano de austeridade, uma investigação do ministério das finanças aponta ex-ministros como suspeitos de corrupção

"O primeiro ministro grego solicitou ao seu ministro das finanças, no passado dia 22 de Setembro, que transmita à justiça a lista de 32 nomes de políticos cujas contas bancárias, investigadas pela brigada financeira do fisco, SDOE, incluem movimentos de fundos suspeitos. O procurador do supremo tribunal vai encontrar-se, na segunda feira 24, com os inspectores da brigada, para iniciar o inquérito sobre o que para já se considera como "enriquecimento estranho".
Segundo um jornal de centro-direita, as suspeitas visam nomeadamente sete ex-ministros, quatro do PASOK (socialistas) e três da Nova Democracia (centro-direita). Estes últimos são, segundo o semanário dominical Real News, o actual presidente do parlamento e ex-ministro da defesa, e dois ex-ministros do governo conservador de Costas Caramanlis (2004/2009), o da cultura e marinha merxcante e o dos transportes e da cultura.
Segundo o mesmo semanário, a investigação incide sobre casos de "compra de imóveis e branqueamento de capitais". Os três arguidos negaram no passado domingo os factos de que são acusados e ameaçaram com o recurso aos tribunais contra todos os que os difamarem. A SDOE anunciou na passada primavera que ia passar a pente fino as contas bancárias de 500 personalidades políticas. Esta lista de 32 suspeitos é um dos primeiros resultados desse inquérito.
A inclusão na lista do presidente do parlamento embaraça o actual governo de coligação, semanas antes de um voto dos deputados sobre as novas medidas de austeridade, que continuam a ser discutidas com a troika. O actual presidente ascendeu a esse lugar após a vitória da Nova Democracia nas eleições legislativas de 17 de Junho. O seu antecessor, um outro deputado da ND, só presidiu durante 24 horas, pois o parlamento saído do escrutínio de 6 de Maio reuniu-se apenas para se dissolver, após constatar a impossibilidade de conseguir uma maioria estável. Mesmo assim, o efémero presidente deu que falar ao atribuir um bónus de dois milhões de euros aos empregados, para comemorar o escrutínio, tendo aproveitado também para mandar contratar a sua filha pelos serviços de apoio ao parlamento.
Os nomes de Liapis e Vulgarakis aparecem ligados a outros escândalos. Liapis, primo direito do ex-primeiro ministro Costas Caramanlis, foi citado no escândalo Siemens, mas nenhuma das personalidades políticas do Pasok ou da ND chegou a ser acusada no âmbito deste caso, revelado pela justiça alemã, que mostrou ter havido quadros da Siemens que pagaram "luvas" a vários políticos gregos.
A comissão parlamentar de inquérito então constituída não conseguiu chegar a acordo sobre a responsabilidade de cada um dos envolvidos. A imunidade parlamentar e os prazos de prescrição tornam extremamente difícil acusar antigos ministros.
Quanto a Vulgarakis, foi implicado no escândalo Vatopedi, uma operação de troca de terrenos entre o governo de Caramanlis e o Convento de Vatopedis, no Monte Athos, que se suspeita tenha beneficiado os frades e prejudicado o governo. A mulher de Vulgarakis foi a notária encarregada da citada troca, enquanto que o seu sogro era o advogado dos frades. O prior da abadia, o abade Efraim, passou vários meses em prisão preventiva, até ser libertado sob caução. Veio depois a ser susbtituído na sua cela da penitenciária de Korydallos, nos arredores de Atenas, pelo ex-ministro socialista da defesa Akis Tsohatzopoulos, que continua em prisão preventiva, suspeito de branqueamento de capitais e "luvas", na compra de submarinos alemães e mísseis russos. As suas actividades delituosas enquanto ministro já prescreveram, pelo que o trabalho dos inspectores se limitou a constatar que as suas contas bancárias, incluindo as da sua família, (a sua mulher, a sua filha e um primo estão já em prisão preventiva), revelaram transferências suspeitas, designadamente para sociedades offshore.
Os inspectores adoptaram a mesma técnica para seguir os movimentos financeiros de vários responsáveis políticos. A espectacular prisão de Akis Tsohatzopoulos, ex-adjunto de Andreas Papandreou -o fundador do Pasok e pai do ex-primeiro ministro Georges Papandreou- permitiu pôr fim a um tabu da vida política grega: nunca antes se vira um ministro ser preso."

Alain Salles, Le Monde, 25/09/2012, página 6

Esta sucessão de ocorrências -submarinos, luvas, offshores, familiares, enriquecimentos estranhos, prescrições, imunidades...- levou-me a pensar noutros países. Mas deve ser defeito meu, ver prevaricações por todo o lado. Ou não?

Se ainda há dúvidas...

PÚBLICO, 26/09/2012, página 18

Irritados com as notícias inconvenientes difundidas por Tomar a dianteira, mas falhos de ideias, os instalados cá da aldeia arranjaram um argumento de recurso: "é só má-língua". Será mesmo?
Sobre os altos preços da água fornecida pelos SMAS-TOMAR, se ainda há dúvidas, aqui temos -na ilustração supra- a prova real. Pior do que nós, com tarifas mais altas, apenas 7 entre os 309 concelhos:  (a vermelho no mapa) Torres Vedras, Covilhã, Aveiro, Valongo, Matosinhos, Vila do Conde e Vila Real. Todos bem maiores que o de Tomar. Aqui na zona estamos mesmo no pódio dos preços altos, com Ourém e Abrantes.
Uma curiosidade sádica: os lisboetas consomem água em grande parte ida do Castelo do Bode, mas pagam-na mais barata do que nós. Para alguma coisa há-de servir a capitalidade...
Não temos mesmo sorte nenhuma...

Em marcha atrás

Antes do 25 de Abril, quando havia censura prévia, sempre a autarquia tomarense elaborou e mandou publicar na imprensa local o resumo da acta de cada sessão. Depois, com a total liberdade de informação, é o que vê. Informação autárquica detalhada? Que é dela? Há um caríssimo boletim informativo mensal (se não me engano agora suspenso), mas só publica o que convém a quem controla o poleiro. Estamos assim à mercê dos cada vez menos representantes da imprensa que assistem aos chatérrimos conclaves autárquicos, bem como à episódica boa vontade do vereador socialista Luís Ferreira, que de tempos a tempos lá vai sacando das entranhas do monstro e publicando algum material interessante.
Desta vez somos contemplados com informação algo detalhada sobre os calotes municipais. Lendo aqui, fica-se a saber que o "calote oficial" é de 35 milhões de euros= 7 milhões de contos. Falta agora saber o montante da dívida real, ou seja, calote oficial + calotes no armário, por razões assaz conhecidas. Do calote oficial, destaque para quatro parcelas: Rodoviária do Tejo, Instituto superior técnico, Areal editores e SMAS Tomar.
A Rodoviária do Tejo está a arder com 743 mil euros = 149 mil contos, provenientes do défice da exploração dos TUT - transportes locais. Sabido como é que nas circunstâncias actuais aquele serviço custa aos contribuintes cerca de 80 mil contos anuais, não se percebe a passividade dos senhores autarcas, que nem suspendem o serviço, nem reduzem as carreiras, nem aumentam os preços, se calhar à espera que a dada altura, no próximo inverno, chovam euros, de preferência em notas de quinhentos, para não cansarem muito os rins a apanhar do chão...
No fundo, no fundo, estão apenas a procurar ficar bem na fotografia, tendo em vista as próximas autárquicas. Quem vier a seguir que resolva o problema!
A Universidade Técnica de Lisboa - Instituto Superior Técnico tem a receber 300 mil euros = 60 mil contos, facturação de trabalho realizado para o PDM e que agora não tem cabimento orçamental, o que significa que bem podem esperar sentados. É do domínio público que o PDM, mal alinhavado no tempo de Pedro Marques, é por assim dizer um processo maldito, ao qual nunca mais ninguém conseguiu dar a volta.
Outra vítima é a Areal editores, credora de 190 mil euros = 38 mil euros, supõe-se que de livros para a biblioteca municipal, ou para as escolas, ou ambas, vá-se lá saber, uma vez que a autarquia tudo faz para esconder despesas e outros actos...
Finalmente, os SMAS - Tomar aguardam um acerto de 100 mil euros = 20 mil contos, desde 2011, ficando por saber se de água, saneamento ou obras. Em todo o caso, esta dívida "interna", por assim dizer, permite pensar que estamos perante um caso de gato escondido com o rabo de fora: Se não há dinheiro para pagar aos SMAS, como se explica que, pelo menos oficialmente, a autarquia nada deva à EDP, mesmo com o ar condicionado dos Paços do Concelho, os pavilhões e os projectores do ex-estádio?
Ou muito me engano ou estas contas são do mesmo tipo do célebre submarino do Solnado -muito bonitas e bem feitas, mas não flutuam!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Garotices na autarquia


No post Agrava-se a polémica, de 23 do corrente, abordou-se o dislate de quatro eleitos do executivo ao votarem favoravelmente o pagamento de despesas de representação a três directores de departamento e nove chefes de divisão. Um acréscimo mensal de despesa da ordem dos 2.800 euros, numa altura em que o funcionalismo público vê congelada a sua progressão na carreira, negados os aumentos e agravados os impostos.
Nessa mesma reunião, os quatro vereadores da oposição apresentaram e aprovaram uma proposta no sentido de recomeçar a compra de jornais e revistas para a biblioteca municipal. O insólito da situação foi o voto contra da troika laranja, sem qualquer efeito prático porque minoritário. E daí, é bem possível que venha a servir para boicotar a deliberação. Com semelhante tropa, tudo é possível.
Temos assim uma indesmentível garotice, num contexto particularmente delicado para a cidade e o concelho. Eleitos que se julgava serem minimamente sensatos, votam numa mesma sessão duas enormidades:  a favor de um acréscimo mensal de despesa de 2.800 euros, mas contra 140 euros mensais para a compra de jornais e revistas. Mostram assim que estão às ordens dos técnicos superiores da autarquia, ao mesmo temo tempo que se estão marimbando para os eleitores mais modestos, que usualmente liam os jornais diários e revistas na biblioteca municipal.
Com atitudes como estas e tendo como horizonte apenas os fins de mês e as próximas eleições, os actuais sete magníficos, uns mais outros menos, correm o risco de transformar o executivo nabantino em algo de tão patusco que dificilmente alguém com envergadura moral, intelectual e política ousará apresentar-se ao sufrágio popular em 2013. Isto porque, a todos os níveis, há sempre duas hipóteses extremas: pessoas que dignificam os lugares e lugares que dignificam as pessoas. Neste momento, é minha opinião, fundada no ocorrido nestes três anos, que a presidência  do executivo nabantino não prestigia de modo algum o seu titular, que por sua vez também não prestigia o lugar. Todos sabemos porquê.
Cabe à direcção local social-democrata agir no sentido de pelo menos tentar limitar os estragos, sem o que pode muito bem vir a perder as futuras eleições locais. Será isso mesmo que a actual troika laranja pretende? Se não é, pelo menos assim parece...

Trezentos milhões sem cartão de cidadão

Futuros eleitores num sessão de Barack Obama, no Wisconsin, em 22/09/12. Foto Reuters/K. Lamarque.

Justiça federal americana avalia lei eleitoral da Carolina do Sul

"Um tribunal federal de Washington examinou no passado dia 24 uma lei eleitoral da Carolina do Sul invalidada pela administração Obama, que a considera discriminatória, porque impõe aos eleitores desse estado de maioria republicana a obrigação de apresentar um documento de identidade com fotografia, antes de votar. A lei foi suspensa pelo governo federal, cujo acordo prévio é obrigatório para todos os estados do sul que tenham uma tradição de discriminação racial.
O governo da Carolina do Sul recorreu, pedindo que a nova lei, que exige a apresentação de uma carta de condução, um bilhete de identidade militar ou um passaporte para votar, possa estar em vigor já na eleição presidencial de 6 de novembro. Nos Estados Unidas da América não há bilhete de identidade, nem cartão de cidadão, nem cartão de eleitor.
A administração Obama considera que os eleitores das minorias, que votam maioritariamente democrata, não têm sequer, na maior parte dos casos, certidão de registo de nascimento, o que torna a emissão de um documento de identidade com fotografia muito complicada e cara.
Ontem, último dia da audiência judicial, três juízes federais perguntaram ao advogado do estado sulista se a resolução do diferendo não podia ficar para 2014. "Tencionam forçar-nos a tomar uma decisão ainda para 2012?", perguntou o juíz John Bates, alegando que "já não resta muito tempo para conseguir obter um documento de identidade com fotografia." Por seu lado, o juíz Brett Kavanaugh afirmou que existe "um fosso racial indiscutível" entre os eleitores que têm documentos de identidade e aqueles que nunca tiveram.
O advogado do estado da Carolina do Sul, Christopher Bartolomucci, alega que a lei tem por fim "combater a fraude eleitoral", estando por demonstrar o  seu "efeito discriminatório". "95% dos eleitores inscritos já têm os documentos de identidade necessários, e os outros podem ainda obtê-los, gratuitamente e com rapidez", acrescentou.
O advogado do governo federal, Mathew Colangelo, sublinhou que "os constrangimentos de deslocação através do Estado para se conseguir tal tipo de papéis são muito mais difíceis para os negros do que para os brancos. Não tenho qualquer dúvida de que a lei foi votada com fins discriminatórios, pelo que não pode estar em vigor nas eleições de novembro próximo."
Aguarda-se a decisão do tribunal para o próximo mês. Leis semelhantes foram votadas favoravelmente no Texas, na Geórgia, na Pennsylvânia e no Indiana, estando algumas delas já bloqueadas pela justiça."

lemonde.fr, 25/09/2012, 03H12

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Hollywood num arrabalde parisiense

O grande sonho de Luc Besson finalmente inaugurado em Saint-Denis


"Sabe dizer-me onde é a Cidade do cinema? À saída do metro Carrefour Pleyel, em Saint-Denis, às portas de Paris, os dois homens e a senhora de lenço branco respondem, perplexos: Andamos a procurar onde é a Segurança Social... Um pouco mais longe, junto à Torre Siemens, lá está uma indicação, cor de laranja fluorescente. Fica ao fundo de uma rua pedonal, com prédios modernos de escritórios de ambos os lados.
Cá está a imensa construção industrial, que já foi central térmica e que Luc Besson sonhava desde 2000 reconverter em algo "único na Europa", onde se pudessem realizar filmes de A a Z. A inauguração teve finamente lugar no passado dia 21. Na fachada, em grandes letras brancas, os nomes dos dois principais parceiros financeiros deste vasto conjunto, que custou 170 milhões de euros: Caisse des Dépôts [banco] e Vinci [concessionária de auto- estradas e outros equipamentos, presente em 120 países, emprega 183 mil pessoas].
A Cidade do cinema são antes de mais os Estúdios de Paris, num total de nove, com superfícíes entre os 600 e os 2.000 metros quadrados, que podem ser utilizados em conjunto ou à unidade. Mas não só. Há escritórios, um auditório e a Escola Nacional Superior de Cinema Louis Lumière, que se mudou de Noisy le Grand para aqui. Para os que não completaram o 12º ano, Luc Besson, o realizador de Nikita fundou aqui outra escola de cinema, que será frequentada gratuitamente por 60 alunos, sem qualquer exigência de diploma prévio.
Na grande nave, Luc Besson recebe Patrick Braouzec, presidente da comunidade inter-municipal, que aproveita para lamentar a ausência da ministra da cultura. Em estreita colaboração, o conhecido realizador e o ex-comunista renovador, agora na Frente de esquerda, conseguiram ao longo de dez anos vencer dificuldades, obter financiamentos, desbloquear problemas, etc. etc. etc. A obra criou 86 empregos de inserção, mas não se sabe quantos engenheiros-chefes de estaleiro foram entretanto sendo despedidos pelo produtor Luc Besson/EuropaCorp...
O que lá vai, lá vai. O problema agora é outro: Como vão os Estúdios de Paris conseguir atrair as grandes produções, quando estas se deslocalizam, afastando-se de França por causa do Fisco? "Quando fazemos visitas guiadas aos estúdios com os americanos, batem palmas e felicitam-nos. Mas logo a seguir perguntam onde nos situamos no crédito de imposto, em relação à Inglaterra e à Hungria. Com um tecto de 4 milhões de euros de crédito de imposto, a França torna-se ridícula", diz-nos Didier Dias, produtor e gestor dos Estúdios de Paris. Ao seu lado, o presidente do Centro Nacional de Cinema e da imagem animada, Eri Garandeau, concorda: "Estamos a trabalhar num projecto de alargamento ilimitado do crédito de imposto. O Ministério das Finanças só terá a ganhar, numa perspectiva de retoma produtiva. As filmagens americanas na Europa geram anualmente dois mil milhões de euros. Desse total, apenas 2 a 5% ficam em França. A Inglaterra arrecada 50%".
A funcionar desde Junho, os Estúdios de Paris já receberam a equipa de Taken 2, e a segunda parte dos Schtroumpfs, bem como o próximo filme de Luc Besson, Malavita, que ocupa nesta altura o maior dos nove estúdios, mais precisamente o Estúdio 5. Mas o  acesso estava proibido e guardado por seguranças tipo guarda-vestidos, o que nos impediu de encontrar Michèlle Pfeiffer na respectiva cafetaria..."

Clarisse Fabre, Le Monde-Culture, 23/09/2012, página 19

Como estamos em época de crise, com gente em princípio à procura de saídas para o atoleiro nabantino, talvez ajude saber que por toda a parte há cidadãos a esgadanhar-se para governar a vida. Mesmo nos grandes países outrora prósperos... Mas só com blábláblá não vamos lá! De maneira nenhuma. Faltam ideias fecundas. E aceitar de uma vez por todas que não se resolvem problemas novos com receitas velhas. 

TURISMO - Esse gigante pouco conhecido

LE MONDE - GEO & POLITIQUE, 24/09/2012, página 7

Está marcado para sábado e domingo o Congresso de Tomar, uma iniciativa que se saúda, pelo que representa como esforço para tentar reverter a trágica situação tomarense. Os seus ilustres participantes estarão decerto capazmente documentados sobre os temas a debater, pelo que este texto apenas tem por ambição motivar os leitores, mediante informação imparcial e de elevada qualidade. Parecendo que não, é muito importante numa terra que, como dizia amiúde Nini Ferreira, "é madrinha para metecos, mas madrasta para os seus filhos". Sobretudo para os que decidiram ficar-se por estas bandas após terem conhecido um bom pedaço do mundo, acrescento eu. A que propósito? Sem querer ferir susceptibilidades à flor da pele, diria que, com a aproximação das autárquicas, começam a aparecer pela urbe nabantina aqueles seus filhos legítimos, naturais ou adoptivos que elegeram outras paragens para viver, trabalhar, pagar impostos e votar, mas  sentiram agora vocação de pastores evangélicos deste rebanho de incréus. Que, entre muitas outras evidências, não acredita residir no fomento do turismo a salvação da cidade e do concelho. Apesar do extraordinário corredor Nazaré - Alcobaça - Batalha - Fátima - Tomar (que se percorre em menos de uma hora), proporcionado 'pelo IC9.
A ilustração supra, intitulada "O turismo mundial estimulado pelos países emergentes", mostra o extraordinário desenvolvimento da indústria turística mundial, observado em 2011 (últimos dados estatísticos conhecidos). Os montantes indicados referem-se a milhares de milhões de dólares americanos (1 dólar americano = 87 cêntimos de euro). Temos assim sucessivamente, da esquerda para a direita e de cima para baixo, os seguintes conjuntos: Repartição das despesas turísticas; Origem das receitas do turismo; Evolução das despesas turísticas, sem transportes; Despesas turísticas totais, incluindo transportes; O turismo internacional na tabela mundial das exportações; Países com maiores receitas turísticas; Países europeus nos dez primeiros destinos turísticos mundiais.
Uma nota final: "Entre as causas do desenvolvimento do turismo internacional, avulta o impressionante crescimento das despesas de brasileiros, russos, indianos e chineses." Os organismos locais de turismo sabem ao menos quantos turistas destas nacionalidades visitaram Tomar o ano passado? 
Contrastando com a boa saúde do turismo mundial, o total de visitantes do Convento de Cristo vai-se ficando pelos 150 mil há vários anos, tendo subido para 168 mil apenas em 2011, devido à Festa dos Tabuleiros. Porque será?

domingo, 23 de setembro de 2012

Sucessos autárquicos...

Noticia a Radio Hertz que a celebração do Dia Europeu SEM Carros em Tomar foi um sucesso. Ainda bem. É contudo notório que tal êxito já era previsível, tratando-se de um dia europeu SEM. Com efeito, os tomarenses já estão bem habituados a ruas SEM limpeza, taxas e licenças SEM dó nem piedade, uma burocracia SEM paralelo na zona, obras SEM pés nem cabeça, pavilhões SEM as medidas regulamentares, parques de estacionamento praticamente SEM clientes, campo de jogos SEM bancadas e SEM balneários, atendimento público SEM categoria, a barraquinha do Mouchão SEM qualquer utilidade conhecida, o mercado SEM solução, a tenda que o substitui SEM ar condicionado, as obras da Levada e do Convento SEM andamento, as do turismo municipal SEM data prevista para a inauguração, o município SEM dinheiro, funcionários municipais SEM vergonha nenhuma, eleitores SEM informação adequada e SEM vontade de perguntar, a cidade SEM instalações sanitárias e SEM estacionamento conveniente para autocarros na parte antiga, sinalização SEM qualidade, eleitos SEM programa e SEM rumo definido, congressos SEM especialistas em desenvolvimento, Convento SEM visitas acompanhadas, futuro mandato autárquico SEM perspectivas, Assembleia Municipal SEM golpe de asa, formações políticas locais SEM candidatos alternativos, crise local SEM culpados assumidos, acampamentos do Flecheiro SEM fim à vista, Bairro 1º de Maio SEM requalificação a curto prazo, Festa dos Tabuleiros SEM figurino organizativo alternativo...
É longa a lista de mazelas e maleitas incompatíveis com a nova sociedade agora em acelerada estruturação. Pode-se até imaginar um mote publicitário do tipo "Visite Tomar - Capital templária SEM sorte nenhuma". Até quando? Ainda SEM data-limite? SEM dúvida...

Agrava-se a polémica sobre os subsídios de representação

Apesar do silêncio dos jornais e das rádios locais -ou se calhar por isso mesmo- a polémica sobre os subsídios mensais fixos, atribuídos a alguns funcionários superiores pela autarquia tomarense, alarga-se e agrava-se. Recordemos os factos. O blogue alguresaqui, do socialista Hugo Cristóvão, levantou a lebre, logo seguido por tomaradianteira: Na mais recente sessão do executivo autárquico, foi aprovada a continuação do subsídio mensal fixo de representação, de 311 euros para cada um dos três directores de departamento e de 194 euros para cada um dos nove chefes de divisão. Votaram a favor de tão polémica decisão os três eleitos da relativa maioria (Carrão, Rosário e Perfeito) e o líder dos IpT Pedro Marques, (que quando julga útil vai garantindo que os IpT "não serão bengala de ninguém"...). Abstiveram-se os dois vereadores do PS e Graça Costa dos IpT.
No actual contexto político local, nacional e europeu, topa-se à légua estarmos perante uma deliberação imoral e até ofensiva dos bons costumes, por assim dizer uma descarada falta de respeito pelos desempregados e outros desprotegidos. Há por isso grandes hipóteses de vir a ser chumbada na Assembleia Municipal do próximo dia 28 e oxalá que assim venha a suceder, para ver se os tomarenses começam finalmente a convencer-se de que o mundo está a mudar rapidamente, exigindo de todos um módico de juízo e cabeça fresca.
Naturalmente incomodados com a inconveniência dos blogues locais e sobretudo com a hipótese de virem a perder a habitual mama mensal que nada justifica, "os doze magníficos" (com três mais magníficos que os outros nove), procuram contra-argumentar. Compreende-se. Quem não se sente, não é filho de boa gente, diz o povo. Um deles, devidamente identificado, avança a seguinte situação:
"Defendem aqueles que estão contra a atribuição desse subsídio que os dirigentes da CMT não a representam em nada, e que por isso não faz sentido atribuir-lhes esse complemento. Deixo a pergunta: "Se a Lei define como momentos importantes e decisivos para a vida duma autarquia, a aprovação dos instrumentos fundamentais, como são o Orçamento/Grandes Opções do Plano e ainda a aprovação dos Documentos de Prestação de Contas, porque são pagas senhas de presença aos senhores deputados municipais que não fazem isso há dois anos?"
Aqui fica a pergunta. Aguardam-se as respostas dos visados, a começar naturalmente pelo prezado amigo Hugo Cristóvão, que primeiro levantou a caça...

sábado, 22 de setembro de 2012

Não se entende qual a razão


PÚBLICO, 22/09/2012, páginas 10/12

Parafraseando um saudoso conterrâneo jornalista, "Chega-nos a notícia que" há eleitos enxofrados com o facto de se duvidar das anunciadas 100 mil pessoas no recente Festival de Estátuas Vivas. Não se entende porquê. Por um lado, como é sabido, só a dúvida metódica é fecunda, concordam todos os que se habituaram a usar o cérebro de forma adequada todos os dias. As certezas só geram problemas. Por outro lado, até convém à organização que haja dúvidas fundamentadas, não vá dar-se o caso de para o ano haver saudades dos 100 mil visitantes...que afinal nunca cá estiveram antes, meio caminho andado para afirmar que se não fossem as entradas pagas...
Mesmo que um órgão local de informação tenha noticiado que "Tudo aponta para que 100 mil pessoas tenham assistido ao festival", a verdade é exactamente a oposta -nada aponta que tenham estado mesmo em Tomar os alegados 100 mil espectadores.
Convém relembrar que quem primeiro avançou com o total fabuloso de 100 mil pessoas foi O MIRANTE, que todavia não forneceu qualquer informação sobre o método usado para chegar a tal conclusão, eventualmente menos inocente do que à primeira vista possa parecer.
As duas ilustrações acima, copiadas do PÚBLICO de hoje, permitem perceber quão complexo é o problema da contagem de multidões, mesmo em concentrações estáticas, como as cerimónias religiosas em Fátima, ou em manifestações compactas. Agora imagine-se no caso de múltiplos polos de atracção, como aconteceu em Tomar. A segunda ilustração faculta além disso elementos que permitem perceber porque nunca estiveram em Tomar 100 mil pessoas. Para evitar acusações de parcialismo e quejandos, faça o favor de ir ao "google maps", centre-se na zona Rua Marquês de Pombal/Corredoura/Praça da República, obtenha a superfície desse conjunto, divida esse total por 4, para ter em conta a evidente descontinuidade entre os diversos polos, e multiplique finalmente por dois (visitantes por metro quadrado). Que total conseguiu, em números redondos? Pois é! As aparências iludem. Também por isso estamos como estamos, porque se o malabarista político Sócrates não tem confiado na sua certeza de que a economia mundial ia continuar a crescer, e que a crise não passava de um pequeno e inofensivo sobressalto, outro galo nos cantaria agora. Mas a megalomania, o ilusionismo político e os bolsos à espera de se encher falaram mais alto...

Está em estudo...


E à terceira edição, ao que parece, fez-se luz. Carlos Carrão, Rosário Simões e Eduardo Mendes já confirmaram que está em estudo a alteração do modelo do Festival de Estátuas Vivas até agora em vigor. Aceitam finalmente que haja entradas pagas, embora falando de "preço simbólico". Metido assim o dedo na engrenagem dos novos tempos, é pouco provável que consigam ficar-se pelo aludido preço simbólico, pois são múltiplos e complexos os problemas a resolver, resultantes da cobrança de entradas: como vedar o recinto, como controlar eficazmente as entradas e saídas de visitantes e moradores, modelo dos bilhetes, locais e formas de aquisição, preços, respectiva contabilização rigorosa, imperativa devido à inevitável cobrança de IVA e posterior entrega ao Estado... Com tudo isto, se a preço for mesmo simbólico, o produto das entradas não vai chegar sequer para pagar as novas despesas. E se é para consumir ainda mais verbas orçamentais, então mais vale estar quietos.
É muito fácil escrever "Tudo aponta para que a 3ª edição do Festival de Estátuas tenha atraído a Tomar cerca de 100 mil pessoas." Trata-se de fraseado pronto a usar e que rigorosamente ninguém está em condições de contradizer. Contudo, vários comerciantes contactados concordaram ter feito negócio "mas nada que se pareça com 100 mil pessoas; nem metade." No mesmo sentido, tomarenses de raiz, daqueles que ainda se lembram dos jogos com os grandes, quando o União estava na 1ª divisão nacional, também não concordam com os ditos 100 mil "nem coisa parecida". Acrescentam que "O estádio levava 15 mil pessoas antes do Paiva ter mandado destruir as bancadas e nesses jogos estava sempre à cunha. Antes e depois dos jogos aqui na cidade a gente quase não se podia mexer. E eram só 15 mil pessoas. Agora imagine quase sete vezes mais. Esta malta nova não sabe o que diz. Têm a mania das grandezas. São os mesmos que apregoam 500 mil pessoas nos Tabuleiros; como se isso fosse possível..."
Em que ficamos afinal? 100 mil? nem metade? muito menos? A resposta é importante e a ter em conta quando se estuda o problema das entradas pagas. Quanto mais não seja porque há uma ordem de grandeza a respeitar. Seria puro desperdício mandar imprimir 50 mil bilhetes e depois vender menos de 10 mil. Tal como seria lastimável ter mandado fazer apenas 15 mil e depois não chegarem para as encomendas. Urge por conseguinte estudar bem o problema, o que não se afigura nada fácil com o  executivo que temos, quando se constata nomeadamente que, graças à habitual boa vontade de Pedro Marques, conseguiram uma maioria circunstancial para aprovar a manutenção do pagamento mensal das despesas de representação aos técnicos superiores da autarquia, mesmo quando não houve quaisquer despesas desse tipo, mas continuam sem orçamento aprovado para este ano, numa altura em que já devia estar em discussão o de 2013. Se nada conseguirem antes de Janeiro, vão entrar em ano eleitoral com duodécimos de 2011? Os tempos não estão para malabarismos contabilísticos e outros, mesmo feitos por técnicos com direito a despesas de representação, que recebem mas não fazem.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Quando houver vagar...



Várias vezes aqui se tem protestado contra a falta de instalações sanitárias e o encerramento das poucas existentes. Sem grande resultado, diga-se em abono da verdade. De momento apenas as da Mata, com recepção e tudo, estão à disposição dos visitantes, ao que consta nem sempre minimamente limpas. Pois agora chegou a altura de solicitar o inverso: que a autarquia acabe quanto antes com a instalação sanitária para caninos e felinos, que existe há vários anos na parte poente da Rua Dª Aurora de Macedo (Ver fotos supra). O local tem um uso tão intenso e um cheiro de tal ordem que até o pessoal camarário da limpeza já se queixa: "Assim não dá. É todos os dias a mesma vergonha. E ninguém vê isto?" Têm toda a razão, pois trata-se de uma rua do tão badalado "Centro Histórico", por acaso das poucas que ainda não beneficiaram de obras pagas com fundos europeus, bem como das mais habitadas do casco antigo.
Uma vez que a actual maioria relativa parece muito empenhada em mostrar obra, talvez não fosse má ideia despachar para ali os calceteiros que, com poucos recursos, depressa resolverão o problema. Quando houver vagar, claro, pois todos sabemos bem quanto se esforçam em geral todos os funcionários autárquicos.

MEDROSOS OU MERDOSOS?

Foi a grande dúvida filosófica desta manhã. Não percebe porquê? Então faça o favor de clicar aqui. Já clicou? Já leu? Já teve tempo de digerir? Qual é agora a sua opinião? Medrosos? Merdosos? Ambos? Depende? De quê?
Uma vez que estamos em maré de interrogações, o melhor é continuar: Qual a utilidade de semelhante votação, nesta altura do campeonato, sabendo-se que os beneficiários não passam, na sua maior parte, de cadáveres adiados, qualquer que venha a ser a evolução local? Como se explica o voto favorável de Pedro Marques, o líder da "gente que resolve"? Resolveu começar desde já a angariar votos? E a abstenção de Graça Costa, numa rara atitude divergente em relação ao seu chefe político? Já começa a estar farta da política local? Porque será que os vereadores socialistas se abstiveram, em vez de votarem contra? Influências aventaleiras? Se você viesse a ser presidente da câmara, quantos directores de departamento manteria em funções? E chefes de divisão? Como tentaria resolver a complicada situação financeira da autarquia, com as receitas a diminuir drasticamente e um buraco de quase 40 milhões, sempre a subir?
Já respondeu a todas as questões? Então agora cante comigo: Tudo isto existe! Tudo isto é triste! Tudo isto é fado! (Mas FADO com as vogais trocadas.)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Análise da imprensa regional de hoje




Semana agitada em Tomar, esta que caminha agora para o fim. O principal tópico foi o suicídio ocorrido no Castelo dos Templários, noticiado pelos três semanários, com uma pequena curiosidade. N'O MIRANTE, se nos fiarmos só no título, na página 4, ficamos com uma ideia errada sobre a triste ocorrência: "Mulher morre após cair nua da muralha do castelo de Tomar". Na verdade, a vítima não caiu; lançou-se, como bem referem os outros dois semanários.
Outro título bastante curioso e propício à galhofa vem na primeira página do CIDADE DE TOMAR: "Médico da urgência básica de Tomar sofreu corte no pénis e foi assistido no Hospital de Santa Maria" Vai-se à indicada página 29 e constata-se ser afinal uma notícia saída na edição do passado domingo do Correio da Manhã, na qual se dá conta de que um médico foi agredido no pénis por uma rapariga de 19 anos, com a qual vivia em comum numa vivenda do concelho de Santarém, sendo frequentes as brigas entre ambos. Assim sendo, a pergunta surge inevitável: Se como médico da urgência básica, teve o pénis golpeado, isso significa que, se fosse da urgência cirúrgica, tinha ficado sem o respectivo?
Ainda no mesmo semanário, destaque para mais uma crónica política do ex-vereador socialista António Alexandre, na página 23, alertando os dirigentes partidários locais para a urgente necessidade de mudarem as suas práticas, sob pena de total descrédito a curto prazo. "Até as pessoas de Tomar querem outra atitude, outro caminho, outro futuro. ... ...Os que governam foram sem dúvida os maiores culpados, mas também as oposições têm algumas culpas, pois nem sempre estiveram à altura dos interesses de Tomar." Tiros certeiros e com destinatários conhecidos, mesmo antes da vergonha ocorrida hoje na reunião da autarquia, assunto a tratar no próximo escrito.
Além do tema já desenvolvido esta manhã, (Ver post A vera origem da nossa desgraça) O TEMPLÁRIO publica abundante reportagem fotográfica sobre o Festival de estátuas vivas, o suicídio no castelo templário e um acidente mortal, no qual perdeu a vida um jovem, por coincidência da mesma aldeia da suicida.
Abstenho-me de considerações mais detalhadas sobre o recorde mundial de imobilidade, conseguido durante o referido festival, bem como a respeito da estátua vencedora, como se sabe "O inferno". Bastará citar a chalaça entretanto já ouvida dezenas de vezes: "Estátuas vivas numa cidade morta, só em Tomar!"

A vera origem da nossa desgraça

O TEMPLÁRIO, 20/09/2012, página 6

Parafraseando Clemenceau, "Se querem resolver o problema, resolvam; caso contrário nomeiem uma comissão". Em Tomar, no caso do Festival de Estátuas Vivas, estamos praticamente na mesma: Se querem resolver o assunto, resolvam; caso contrário mandem fazer um estudo. Segundo esta notícia do Templário, o presidente Carrão declarou que "com ou sem financiamento, a Câmara defende a continuidade do Festival de Estátuas Vivas". Tradução em português corrente: É ano de eleições, por isso vamos avançar, que depois logo se vê e os contribuintes pagam sempre tudo, de uma maneira ou de outra.
De seguida, o autarca aventa duas novas e eventuais fontes de financiamento, por sinal ambas dependentes de Bruxelas, tal como o QREN, que financiou integralmente as três primeiras edições. São elas a Rede de Cidades Medievais e a ADIRN. Só depois Carrão anota a hipótese de entradas pagas. "Mesmo a um preço simbólico", acrescenta, que é como quem diz, para tentar calar os contestatários.
E aqui temos a vera origem da nossa desgraça colectiva. Produtos de determinado tipo de ensino -ou da falta dele- autarcas e outros políticos especialistas em ideias gerais demonstram a cada passo ter o cérebro formatado de certa maneira, nele não cabendo outra concepção da sociedade que não seja a de pessoas e instituições sustentadas pelo Estado. Como nos governos de socialismo real que ainda subsistem. É triste, mas é o que temos. E depois lastimam-se perante o estado a que isto já chegou, quando o pior ainda está para vir.

Incongruências

É do conhecimento geral que a oposição, liderada nuns casos pelo PS, noutros pela CGTP e companhia, vem usando de técnicas de contestação que se julgavam definitivamente ultrapassadas, uma vez que delas nunca resultaram melhorias na vida das populações. Pois não senhor. À falta de melhores opções, eis-nos novamente naquilo que se pode apelidar de política hipócrita. Lê-se aqui que os socialistas são a favor da reforma autárquica, mas contra esta reforma; a favor de uma lei que responsabilize os autarcas na área financeira, mas contra a lei dos compromissos; a favor da reforma da lei eleitoral, mas contra a reforma cozinhada pelo governo... Em resumo, estão sempre numa posição semelhante à da Intersindical: são sempre contra o novo e portanto a favor do que está, contra o qual no entanto votaram anteriormente.
Se estivessem de boa fé, genuinamente preocupados com as populações e com o país, adoptariam um método que tem dado e continua a dar excelentes resultados por essa Europa fora, sobretudo lá mais para o norte. Como não há reformas perfeitas, aceita-se a implementação daquelas que já foram decididas, procedendo-se depois à sua correcção, consoante os problemas entretanto detectados. É o chamado pragmatismo, que tanto assusta a esquerda que temos. Eles lá sabem porquê.
Outro caso de evidente hipocrisia é o da autarquia tomarense. Desgovernada por uma maioria relativa, sem planos, nem ideias, nem autoridade ética, encontra-se totalmente controlada por uma camarilha instalada no seu seio, conhecida de todos os eleitores mais envolvidos nestas coisas. Requerimentos que lá caiam, por mais simples que sejam, levam anos a despachar. Há até casos de comédia, como o daquele projecto de instalação de ar condicionado, numa rua da cidade antiga, indeferido passados 13 anos...
Sabedores de tal estado de coisas, cidadãos mais interessados em governar a sua vida, criar riqueza e viver sem ter de aturar chatos profissionais, que criam dificuldades por cima das secretárias, para depois venderem facilidades por baixo das mesmas, procuram navegar à vista. Só que aqui em Tomar quem mais ordena é o polvo municipal.
Investidores estrangeiros compraram há algum tempo a Ilha do Lombo, as Limas Tomé Fèteira, em Vieira de Leiria, e estiveram também interessados no ex-Convento de Santa Iria. Com ligações a um ex-autarca, após constatarem que não era possível encarar a duplicação do Arco de Santa Iria, para cima, para o lado ou em túnel, de acordo com informação prestada nos serviços respectivos, desistiram do Convento de Santa Iria e concentraram-se na Ilha do Lombo. Não contaram com os longos e poderosos tentáculos do polvo autárquico, que acaba de conseguir mais uma brilhante vitória -as obras em curso foram embargadas por não terem projecto. Numa altura de tão grave crise, embargar um empreendimento que visa o desenvolvimento do turismo local e assegura postos de trabalho, é o pior sinal que se pode dar aos outros potenciais candidatos ao investimento. Mas contenta todos aqueles membros da nomenklatura que, sabendo-se já condenados, procuram fazer tudo para não morrerem sozinhos.
Pobre terra! Pobre gente!

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Com tantas certezas...

Correio da Manhã, 19/09/2012, página 25

Com tantas certezas alardeadas pelos políticos agora na oposição, até cheguei a duvidar da bondade da minha dúvida metódica. Cada vez que lia ou ouvia a palavra de ordem do PS "Há outro caminho", ficava muito incomodado por ninguém conseguir levar o secretário Seguro a esclarecer qual, como, quando, por onde, com quem, ao mesmo tempo que encarava a hipótese de me deslocar a um próximo comício PS para fazer a singela pergunta "Qual é afinal o outro caminho, camarada Seguro?"
Andava eu nesta angústia quando finalmente tive o prazer de encontrar as declarações que acima se reproduzem. Felizmente não estou só na pradaria, aqui em Tomar Oeste. Até no Conselho de Estado há quem também duvide muito da existência real do tal caminho. Tanto mais que, entretanto, o secretário Seguro veio hoje garantir na TV que a acentuada descida de juros, verificada na mais recente colocação de dívida pública portuguesa, se fica a dever ao anúncio da eventual compra ilimitada de dívida soberana pelo BCE, em caso de necessidade. Medida que o secretário-geral do PS afirma ter vindo a defender há mais de um ano. Vejam lá e vejam bem! De acordo com o conceituado dirigente socialista, se têm seguido imediatamente o seu sábio conselho, tinha-se evitado toda esta crise, que entretanto alastrou a Espanha, Itália, Bélgica e França. Ele há coisas!
Infelizmente para António José Seguro e para a oposição portuguesa em geral, não consta por estas bandas nem nos meios europeus que alguém tenha defendido a compra ilimitada de dívida soberana antes da recente reunião Hollande/Monti/Rajoy. Quando muito, Seguro terá defendido em tempos a emissão de eurobonds, o que não é bem a mesma coisa.
Em qualquer caso, convém não abusar na área da demagogia e do oportunismo, uma vez que, mesmo com a prometida compra ilimitada pelo BCE de dívida soberana até três anos, não nos vamos ver livres das medidas de austeridade já em vigor e daquelas que inevitavelmente se seguirão, durante os próximos 10/15 anos. Consequência de erros crassos, e até intencionais nalguns casos, não do actual governo, ao contrário do que nos querem fazer crer, mas do anterior. O de José Sócrates, cujos ajudantes no fim de contas não foram só "socratinos". Foram também e sobretudo "socretinos", como mostram à saciedade os sucessivos e onerosos bicos de obra que por aí deixaram. E agora ainda insistem em nos vender a balela do "Há outro caminho?" Ganhem mas é juízo! Pelo andar da carruagem, quando e se vieram a ganhar as legislativas e forem novo governo, é quase certo que terão de implementar medidas de austeridade bem mais gravosas do que as actuais. Vai uma aposta?

Contra os trabalhadores? Ou a favor?

O atento leitor e prezado comentador Leão da Estrela enviou uma citação sobre a Comissão Europeia e a redução da TSU para os patrões que constitui uma boa ocasião para esclarecer uma zona de sombra existente nos meus escritos. Diz a citação (escrevo de cor) que a Comissão Europeia pode recuar na querela da TSU caso o governo português encontre alternativas que produzam os mesmos efeitos. Estamos assim confrontados novamente com o problema da equidade entre contribuintes, que já anteriormente levou os meritíssimos conselheiros do Constitucional a chumbar parcialmente o corte dos 13º e 14º mês aos funcionários, a priori por não se darem conta de estarem a tratar por igual coisas diferentes. O corte dos dois vencimentos aos funcionários e aposentados constitui para o Estado uma redução da despesa, enquanto que a mesma medida, se aplicada aos privados e a favor do Estado, é uma aumento de receita. O que faz toda a diferença, posto que a troika exige ao governo que reduza a despesa, não que aumente a receita, coisa aliás bem difícil nos tempos que correm, a não ser mediante impostos ainda mais confiscatórios. 
Temos por conseguinte mais um quebra-cabeças para Vítor Gaspar, desta vez com uma situação que os manuais de economia não contemplam: o patronato contra a redução dos custos de produção, quando até agora tem sido sempre o contrário. No meu entender, trata-se de tamanha originalidade, que a resultar na anulação total ou parcial da medida proposta, redundará muito provavelmente na vinda a Portugal daquela malta de Harvard, Stanford, Yale ou Berkeley, sempre muito atentos às novas tendências. E que aproveitarão para almoçar com o antigo aluno Belmiro...
Porque uma coisa é certa: que Belmiro de Azevedo se tenha pronunciado frontalmente contra, percebe-se. A SONAE opera sobretudo na área do consumo e o aumento da TSU para os trabalhadores, resultando numa redução do líquido a receber, só pode provocar uma redução do consumo, NUM PRIMEIRO TEMPO, depois compensado pelo aumento do número de consumidores devido à redução do desemprego. Já a posição global do patronato português me parece de todo folclórica, (para não dizer outra coisa) visto que, se não concordam, têm a faca e o queijo na mão -basta-lhes devolver aos seus trabalhadores a taxa confiscada pelo Estado.
Já a "oportuna" notícia segundo a qual vários economistas não identificados concluíram que a redução da TSU vai provocar a supressão de 68 mil empregos, traz água bico e até prova em contrário não passa de um conto da carochinha para pessoal de esquerda. Basta interrogar-se um pouco para assim concluir: Que economistas? Com que parâmetros? Porquê menos 68 mil e não 5, 30, 70 ou 100 mil? Qual a relação coerente entre uma coisa e outra, uma vez que, regra geral, redução de custos de produção = redução de preços = aumento de vendas = aumento de lucros = aumento de produção = criação de novos postos de trabalho = crescimento económico? Os manuais de economia e gestão passaram agora a estar errados? Ou trata-se apenas de mais uma sacanice refinada para entalar o governo, por ser de direita?
Resta um outro caso sobre os trabalhadores coitadinhos, mais precisamente sobre os funcionários da autarquia tomarense. Segundo o mesmo comentador Leão da Estrela, em escrito anterior, assumo por vezes posições contra os citados empregados do Estado pagos por todos nós, apesar de nem todos justificarem o dinheiro que lhes cai cada mês na conta. E aí é que está o busilis. A retoma nabantina, a interrupção da até agora inexorável caminhada para o abismo da insignificância, não se conseguem só com as alterações da TSU. Passa obrigatoriamente pela acentuada redução de emprego público, condição sine qua non para em simultâneo baixar custos e asfixiar o polvo burocrático local, única forma de tornar o concelho de novo atractivo para o investimento. Não se trata portanto de ser a favor ou contra o funcionalismo municipal, que controla a autarquia. (Sem tentáculos não há polvo voraz e empecilhante...) Apenas de ser frontal, realista e consequente. Nunca vi fazer omeletes sem partir ovos e já conheço muito mundo...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Cem mil, relva, TSU e troika


Ia a escrever sobre "Cem mil pessoas no Festival de Estátuas Vivas em Tomar", título no MIRANTE online, para depois rematar com avaliações a "olhómetro", entradas pagas e "Novo relvado no estádio municipal de Tomar só avança com garantias bancárias", também no MIRANTE online, quando caí sobre "Xeque-mate da Economia ao Governo - Só há uma forma de ultrapassar a crise política: o governo deve admitir que errou e recuar na questão da TSU", tudo no blogue de Luís Ferreira e numa linguagem escrita cujo estilo me não parece ser dele. Lembrei-me então de uma notícia de rodapé, ontem na RTP 1, durante o telejornal da noite: "Comissão Europeia já informou Governo Português que, caso recue na reforma prevista para a TSU, a próxima tranche da ajuda externa, no montante de 32 mil milhões de euros, não será desbloqueada."
Uma vez que "contra factos pouco adianta esgrimir argumentos", "manda quem pode, obedece quem deve e "cesse tudo o que a velha musa canta, que outro valor mais alto se alevanta", volta tudo à primeira forma, para usar linguagem militar. É a nossa sina: passamos grande parte da vida a  nadar em copos de iogurte.
Lá perdeu a oposição, liderada pelo Tó Zé Seguro, mais uma excelente ocasião para se manter expectante. E depois ainda têm a distinta lata de vir dizer, alto e bom som, que "O governo não acerta uma". É caso para perguntar: E a oposição, quantas já acertou?!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Estátuas vivas num país de contrastes

Paço Ducal de Vila Viçosa, propriedade da Fundação Casa de Bragança.

Carruagem do regicídio, onde viajava a família real portuguesa, quando foram assassinados a tiro o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro Luís Filipe, no Terreiro do Paço, em Lisboa.

Terminou em Tomar a 3ª edição do Festival de Estátuas Vivas, mais uma vez um incontestável êxito de afluência. Está assim confirmado tratar-se de uma iniciativa a continuar, desde que, penso eu, se passem a acautelar os interesses dos habitantes da parte antiga da urbe, sempre tão abandonados, bem como as finanças municipais, que estão no estado em que se sabe. 
Nos moldes actuais, pode dizer-se que a organização foi excelente, apesar de uma ou outra falha, como sempre acontece. (Aquela dos pendões preto e branco com a cruz de Cristo não lembrava a ninguém mas aconteceu em Tomar, a única terra no país cujos habitantes têm obrigação de saber de cor que as cores da Ordem de Cristo, da qual os seus antepassados foram súbditos, são vermelho e branco.) Acontece porém que o modelo usado é o dos abastados, que convidam para banquetes gratuitos, recebem imensa gente e depois proclamam que foi um sucesso, esquecendo-se sempre de dizer qual foi o seu preço. Confundem simpatia e amizade com mama e oportunismo.
Um simples detalhe? De modo algum. Uma coisa é quem come paga, outra bem diferente pagarem todos e comerem só alguns, por sinal quase sempre os mesmos. Para se ter uma ideia mais precisa, permita-se uma comparação. Este ano os visitantes puderam apreciar mais uma vez, frente aos Paços do Concelho, uma representação viva do Regicídio. À borla. Pois em Vila Viçosa, no Palácio Ducal, propriedade da Fundação da Casa de Bragança, paga-se seis euros de entrada (tal como no Convento de Cristo), mas depois, já dentro do palácio, há que avançar com mais três euros para se poder ver a carruagem na qual se deslocava a família real portuguesa aquando do atentado que custou a vida ao rei D. Carlos e ao príncipe herdeiro D. Luís Filipe. São uns trogloditas os dirigentes da fundação que gere os bens da Casa Real Portuguesa? Olhe que não! O seu presidente é o professor Marcelo Rebelo de Sousa. Estamos é num país de contrastes, onde câmaras falidas continuam a oferecer aos eleitores borlas que custam milhares de contos aos esbulhados contribuintes. E depois ainda há quem se admire que a autarquia tomarense tenha calotes de perto de 8 milhões de contos. Pudera! Com organizações como esta, que custou à roda de 80 mil euros= 16 mil contos...

domingo, 16 de setembro de 2012

Nova versão da cabra e o dinheiro da cabra

A história é antiga. Reza que um agricultor humilde tinha necessidade urgente de conseguir dinheiro, para poder prover ao seu sustento. Vai daí, pensou em vender o único bem com algum valor que ainda  possuía -uma cabra. Já a caminho da feira de gado, reconsiderou: gostava muito do animal, que lhe fazia companhia e lhe fornecia o leite para o pequeno almoço. O ideal, pensou, era conseguir o dinheiro da cabra mas sem a vender. Assim um dois em um: a cabra e o dinheiro da cabra.
Quando se pensava que tudo não passava de uma história da carochinha, eis que nos encontramos confrontados com um situação ao mesmo tempo semelhante e antípoda. Ora façam o favor de ler:

"QUE SE LIXE ?"

"E o povo lá saiu à rua, sob o simpático slogan "Que se lixe a troika - Queremos a nossa vida". Fez bem: gritar alivia e, além disso, o "esbulho fiscal" em curso (Obrigado, CDS) é imperdoável. Mas convinha esclarecer dois pontos sobre o slogan. Para começar, a troika não aterrou em Lisboa por sua vontade. Foi um governo PS quem a chamou, depois de ter falido o país. Sem o dinheiro da troika, o bom povo que ontem se aliviou por aí não teria um pataco no bolso, excepto pela saída do euro, a adopção de uma nova moeda -e de uma nova vida. Que vida? Não, de certeza, a vida de fantasia que o euro permitiu a governos, empresas, autarquias, famílias, etc. Mas vidas de uma austeridade maior do que a actual, embora com melhores perspectivas de crescimento a médio prazo (opinião pessoal). Moral da história?
Simples: O país não pode ter o dinheiro da troika sem a troika, e uma vida de volta que, com troika ou sem ela, jamais voltará."

João Pereira Coutinho, A voz da razão, Correio da Manhã, 16/09/2012, última página.

Conclusão de Tomar a dianteira: Tal como no caso do humilde agricultor, que pretendia em simultâneo a cabra e o dinheiro da cabra,  fará algum sentido gritar alternadamente Venha o dinheiro da troika! Fora com a troika! Venha o dinheiro da troika!Fora com a troika!??? Pois parece ser afinal a posição largamente maioritária dos portugueses. Em que ficamos afinal? Fora com a troika? Venha o dinheiro da troika? 
Há que decidir, antes que o troika acabe por se cansar de ouvir tanto insulto e resolva calçar os patins. Com já sucedeu em Atenas...

Sem saída alternativa

A quem tenha a coragem de enfrentar a realidade -as coisas tal como elas são, sem maquilhagem ideológica- a Europa oferece neste momento um espectáculo desolador, por assim dizer a preto e branco. A branco no norte, a preto no sul. De Lisboa a Atenas e de Nicósia a Bruxelas impera agora um clima de crescente austeridade, de preocupante ausência de outras soluções viáveis e menos dolorosas
A bem dizer, parece estar agora a acontecer nos países do sul algo semelhante ao ocorrido em 1989 com a queda do Muro de Berlim e as sucessivas implosões dos regimes ditos comunistas. Por essa altura, os leninistas ocidentais constataram horrorizados que acabara finalmente o mito da sociedade perfeita: agora todos iam ficar a saber aquilo que antes era um segredo bem guardado entre os sacerdotes do marxismo: o "socialismo real", saído da Revolução de Outubro e a seguir à 2ª guerra exportado pela violência para os países do Pacto de Varsóvia, não passava afinal de um monumental falhanço, de um gigantesco embuste.
Duas décadas mais tarde, os defensores do Estado Social Europeu estão numa situação praticamente homóloga: o Estado Providência está ruir por todo o lado, sob os golpes dos governantes sem recursos financeiros para o alimentar. E ninguém sabe por enquanto quando e onde irá acabar o desmantelamento forçado do proteccionismo social europeu.
Em Portugal, onde tal como nos outros países do sul a palavra é demasiado abundante e a acção cada vez mais rara, cada político procura mobilar o seu obrigatório discurso com os melhores tarecos conseguidos pelos assessores de ideias. Louçã proclama implicitamente que não devemos pagar a dívida; Jerónimo sustenta que as sucessivas e gravosas medidas de austeridade são um roubo; Seguro enfim não se cansa de repetir que "há outro caminho", mas tendo sempre o cuidado de não explicar qual. Quanto ao governo PSD/CDS lá vai procurando, sob a imperativa batuta de Garpar, dar a beber aos portugueses o xarope da troika, cujos resultados finais toda a gente ignora. Mas como também ninguém aponta alternativas realistas...
Enquanto isto, em Tomar continua a haver um executivo camarário legal e uma Assembleia Municipal saída de um sufrágio livre, mas não se encontra um único cidadão (excepto naturalmente e por razões óbvias os senhores eleitos) capaz de explicar para que servem na verdade. A actividade económica local praticamente parou, os investidores foram-se, em busca de melhores paragens, os trabalhadores deram corda aos sapatos, que por aqui não há emprego, os jovens emigram. A autarquia nada diz e um grupo de nabantinos (alguns nascidos, criados e residentes alhures), decidiu organizar um Congresso de Tomar, para o qual -pasme-se- as comunicações deverão ser previamente entregues aos organizadores, que depois as lerão ou não aos espectadores/participantes. Exactamente como nos bons tempos do comunismo russo, quando os camaradas convidados a falar durante os congressos eram praticamente forçados a debitar documentos previamente censurados, mas de regresso aos respectivos países de origem protestavam energicamente contra a censura, com toda a razão de resto...
Pelos vistos, em Tomar, ao contrário do versejado por Camões, mudam-se os tempos, mas não se mudam as vontades. Oxalá, apesar de tudo, surjam comunicações daquelas tipo fecundo e meia hora pelo menos à frente do futuro. Oxalá!