segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Hollywood num arrabalde parisiense

O grande sonho de Luc Besson finalmente inaugurado em Saint-Denis


"Sabe dizer-me onde é a Cidade do cinema? À saída do metro Carrefour Pleyel, em Saint-Denis, às portas de Paris, os dois homens e a senhora de lenço branco respondem, perplexos: Andamos a procurar onde é a Segurança Social... Um pouco mais longe, junto à Torre Siemens, lá está uma indicação, cor de laranja fluorescente. Fica ao fundo de uma rua pedonal, com prédios modernos de escritórios de ambos os lados.
Cá está a imensa construção industrial, que já foi central térmica e que Luc Besson sonhava desde 2000 reconverter em algo "único na Europa", onde se pudessem realizar filmes de A a Z. A inauguração teve finamente lugar no passado dia 21. Na fachada, em grandes letras brancas, os nomes dos dois principais parceiros financeiros deste vasto conjunto, que custou 170 milhões de euros: Caisse des Dépôts [banco] e Vinci [concessionária de auto- estradas e outros equipamentos, presente em 120 países, emprega 183 mil pessoas].
A Cidade do cinema são antes de mais os Estúdios de Paris, num total de nove, com superfícíes entre os 600 e os 2.000 metros quadrados, que podem ser utilizados em conjunto ou à unidade. Mas não só. Há escritórios, um auditório e a Escola Nacional Superior de Cinema Louis Lumière, que se mudou de Noisy le Grand para aqui. Para os que não completaram o 12º ano, Luc Besson, o realizador de Nikita fundou aqui outra escola de cinema, que será frequentada gratuitamente por 60 alunos, sem qualquer exigência de diploma prévio.
Na grande nave, Luc Besson recebe Patrick Braouzec, presidente da comunidade inter-municipal, que aproveita para lamentar a ausência da ministra da cultura. Em estreita colaboração, o conhecido realizador e o ex-comunista renovador, agora na Frente de esquerda, conseguiram ao longo de dez anos vencer dificuldades, obter financiamentos, desbloquear problemas, etc. etc. etc. A obra criou 86 empregos de inserção, mas não se sabe quantos engenheiros-chefes de estaleiro foram entretanto sendo despedidos pelo produtor Luc Besson/EuropaCorp...
O que lá vai, lá vai. O problema agora é outro: Como vão os Estúdios de Paris conseguir atrair as grandes produções, quando estas se deslocalizam, afastando-se de França por causa do Fisco? "Quando fazemos visitas guiadas aos estúdios com os americanos, batem palmas e felicitam-nos. Mas logo a seguir perguntam onde nos situamos no crédito de imposto, em relação à Inglaterra e à Hungria. Com um tecto de 4 milhões de euros de crédito de imposto, a França torna-se ridícula", diz-nos Didier Dias, produtor e gestor dos Estúdios de Paris. Ao seu lado, o presidente do Centro Nacional de Cinema e da imagem animada, Eri Garandeau, concorda: "Estamos a trabalhar num projecto de alargamento ilimitado do crédito de imposto. O Ministério das Finanças só terá a ganhar, numa perspectiva de retoma produtiva. As filmagens americanas na Europa geram anualmente dois mil milhões de euros. Desse total, apenas 2 a 5% ficam em França. A Inglaterra arrecada 50%".
A funcionar desde Junho, os Estúdios de Paris já receberam a equipa de Taken 2, e a segunda parte dos Schtroumpfs, bem como o próximo filme de Luc Besson, Malavita, que ocupa nesta altura o maior dos nove estúdios, mais precisamente o Estúdio 5. Mas o  acesso estava proibido e guardado por seguranças tipo guarda-vestidos, o que nos impediu de encontrar Michèlle Pfeiffer na respectiva cafetaria..."

Clarisse Fabre, Le Monde-Culture, 23/09/2012, página 19

Como estamos em época de crise, com gente em princípio à procura de saídas para o atoleiro nabantino, talvez ajude saber que por toda a parte há cidadãos a esgadanhar-se para governar a vida. Mesmo nos grandes países outrora prósperos... Mas só com blábláblá não vamos lá! De maneira nenhuma. Faltam ideias fecundas. E aceitar de uma vez por todas que não se resolvem problemas novos com receitas velhas. 

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