quinta-feira, 30 de abril de 2009

UM APELO HIGIÉNICO


É já um hábito, uma tradição. Várias vezes ao ano, a massa estudantil do Politécnico arranja pretextos, uns mais patuscos que outros, para invadir a Praça da República, deixando-a sempre em mísero estado. Atenta aos acontecimentos, a autarquia (ou não fosse o anterior presidente um ex-professor do Politécnico) manda sempre pessoal e as máquinas polivalentes de limpeza no fim de cada cortejo académico, ou qualquer coisa do mesmo género. Até aqui tudo bem.
O pior reside no facto de, aparentemente pelo menos, ninguém se ter preocupado com um aspecto, menor é certo, mas muito incomodativo para todos. É o caso que a rapaziada estudantil, muito antes de terminar a licenciatura, já está mais que doutorada em ingestão de líquidos de toda a espécie, excepto água, a não ser ardente. Daqui resulta que bebendo muito...têm de urinar muito, além do resto, por vezes.
Já escaldados de anos anteriores, que o pessoal é de uma educação cívica nitidamente acima da média, se não estamos enganados, os proprietários dos cafés e restaurantes da zona fecham-lhes as suas instalações sanitárias. Como a autarquia faz o mesmo com as velhas sentinas públicas da Calçada de S. Tiago, (ver foto), e os estudantes ainda não se lembraram de invadir os Paços do Concelho ou os SMAS, em busca da sanita perdida, o panorama resultante não é nada bonito, nem higiénico, nem aceitável numa sociedade moderna. Vários comerciantes e moradores se queixaram que há gente a urinar e/ou a defecar, quando não a vomitar, um pouco por todo o lado, às claras e em plena luz do dia, tanto rapazes como raparigas, numa total ausência de recato que a todos revolta.
Para acabar com esse espectáculo tão degradante, não poderia a autarquia mandar abrir as sentinas da Calçada e colocar alguns Wc's químicos em locais adequados, nos dias em que se realizem as costumeiras manifestações pretensamente académicas? A pouca população da cidade antiga, bem como os comerciantes, com tendência para serem cada vez menos, ficariam muito agradecidos.
A julgar pelos antecedentes, os interpelados vão fingir, mais uma vez, que não leram nem sabem de nada. Paciência. Não será por Deus aparentemente não nos ouvir que vamos deixar de orar.

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

Enquanto a imprensa regional nada traz de importante sobre Tomar, triste indício do estado a que a cidade outrora dinâmica já chegou, os dois semanários locais merecem leitura atenta. Fiel ao seu estilo, Cidade de Tomar puxou para manchete "Reformada com 236 euros deixa de receber um reembolso". Já na página três, o leitor fica a saber que, para receber o referido reembolso, a reformada tem de apresentar uma declaração do oftalmologista que a operou, o que este se recusa a fazer. É mais um caso do império da burocracia no nosso país. Mesmo com o tão propalado Simplex...
Na página 2, citando outra publicação, o semanário da Praça da República destaca a intenção de se construir mais um campo de golfe, que será o quarto no concelho. Mesmo tendo em conta que vários obras camarárias deram buraco, quatro campos é demasiado. Só buracos serão no mínimo 72. E água para regar aquilo tudo? Por muita que os políticos possam meter, não vai de certeza chegar.
Igualmente em Cidade de Tomar, algum relevo para a manifestação ordeira dos trabalhadores da IFM/Platex frente aos Paços do Concelho, bem como destaque de primeira página para a intervenção indignada do Arq. José Lebre na reunião camarária, assunto que será desenvolvido mais adiante.
O Templário apareceu esta semana com dois títulos de primeira página bem mais vivos que o habitual. Logo em cima "A revolta dos munícipes". Mais abaixo "Platex "a luta continua"". Nas páginas interiores um texto denso sobre o problema da IFM/Platex, actualmente de portões fechados por falta de matéria-prima, que não há dinheiro para comprar. Mas há encomendas. E gestão à altura das circunstâncias, haverá?
Sobre a anunciada "Revolta dos munícipes", ficamos s saber, após leitura das páginas 6 e 7 que alguns jornalistas são uns exagerados. Porque realmente não há nem houve revolta nenhuma. Nem simples indícios. Apenas alguns munícipes que resolveram expor os seus problemas na habitual reunião pública da edilidade. Mesmo se o fizeram com algum calor, limitaram-se ainda assim a exercer o seu normal direito de cidadania, que inclui, como é óbvio, o direito de reclamar e de se indignar, desde que se saiba manter um tom cordato e educado, como foi o caso.
Cansado de ser desconsiderado e não obtendo resposta às suas reclamações escritas, o arq. Lebre, que já foi ele próprio vereador, queixou-se asperamente de que alguns dos seus projectos não são despachados em tempo útil, sem que se compreenda muito bem porquê. Conhecedor de algumas manhas da casa, do tempo em que foi autarca, pretendeu saber quem é que na realidade manda na Câmara, alguns técnicos ou os eleitos? O presidente Corvêlo de Sousa bem lhe respondeu que são os eleitos, mas na reduzida assistência ninguém parece ter ficado muito convencido.
Este problema da liderança efectiva na área do urbanismo, das obras e do património, já se vem arrastando há anos, tendo surgido como particularmente grave durante os dois mandatos de Pedro Marques. Por essa altura, era óbvio e do conhecimento de todos os interessados que, por motivos fora do âmbito deste tema, outros que não os eleitos punham e dispunham a seu bel-prazer, tendo-se chegado ao cúmulo, em muitos casos, de arranjar dificuldades para depois vender facilidades. Outros tempos? É o que falta esclarecer cabalmente. Porém, de cada vez que aqui falamos de auditoria, curiosamente não há qualquer tipo de reacção. Ninguém parece ter lido. Estranho, não é?
Outro tópico abordado por José Lebre foi a requalificação do chamado "núcleo histórico", em cujas obras foram e estão a ser utilizados materiais estranhos à tradição local, o que contraria frontalmente legislação aprovada tanto pela autarquia como pelo governo nos anos 90 do século passado. Se a autarquia, com tantos e tão exigentes técnicos quando se trata de projectos particulares, não consegue, ou não pode, ou não quer respeitar as suas próprias posturas, estamos a caminhar para onde? É já o salve-se quem puder? O mandato só termina lá mais para o final do ano. Haja calma!

PS/TOMAR CONTINUA A MARCAR PONTOS

Paulatinamente, o PS/Tomar continua a mostrar trabalho e a marcar pontos. Numa altura em que a actual maioria local PSD denuncia algum esgotamento e militantes de peso começam a desertar; numa altura em que os IpT estarão certamente a trabalhar, mas em termos de opinião pública e/ou publicada ninguém sabe em quê; os socialistas locais alardeiam saúde, coesão e capacidade organizativa. Foram os primeiros a escolher o candidato, os primeiros a efectuar visitas ditas de trabalho às freguesias e os únicos a distribuir cravos no 25 de Abril. São agora os primeiros a arrancar com a pré-campanha autárquica em termos de propaganda gráfica.
O anúncio de meia página publicado esta semana no Cidade de Tomar marca o arranque de uma campanha que promete ser renhida e disputada num clima de desalento, de animosidade para com os políticos e de desinteresse pelo voto. Vê-se ser uma peça concebida com profissionais, sobretudo quanto ao texto, em perfeito estilo "bidon". Cabe lá tudo quanto ser quiser lá verter.
"Todos somos tomarenses, Tomar terra de futuro, Orgulho de ser tomarense, Dinâmica da população de Tomar, Acredito que é possível". Haverá alguém que não concorde? Pois! Há aquela do "orgulho de ser tomarense", com algo de estilo bacoco. Mas mesmo assim...
O grande problema reside, como quase sempre acontece quando se recorre à comunicação profissionalizada, no aspecto de generosas generalidades, ou se preferirmos no recurso a linguagem excessivamente inclusiva ou englobante. Quando tiverem de transitar para o concreto, o substantivo, o detalhe (e vão ser forçados a fazê-lo mais cedo ou mais tarde) aparecerão os problemas e a cisões, justamente quando serão menos convenientes.
Há também os costumeiros deslizes, nos quais ninguém reparou, ou julgou serem importantes. Um é aquela cruz templária amarela, que se apercebe em fundo. Trata-se de erro crasso. A cruz templária sempre foi vermelha e, pior ainda, todos sabemos que o amarelo é a cor da fome, o que nesta altura de crise... O outro já aqui foi assinalado há tempos. Se o leram, os responsáveis locais fizeram de conta que não é nada com eles. Seja.
Trata-se da própria imagem do candidato. É certo que trinta e cinco anos após Abril, em Portugal continuamos a não dialogar uns com os outros ao estilo igualitário da Europa do norte. Aqui na Ocidental praia lusitana, regra geral, ou se fala de cima para baixo, com a concomitante arrogância; ou de baixo para cima, ligeiramente curvado e com o chapéu na mão. Assim sendo, está por determinar se será boa ideia promocional apresentar o candidato socialista a olhar de cima para baixo e com um sorriso trocista. Haverá quem goste concerteza, mas a época dos pastores e dos rebanhos está a passar de moda a grande velocidade. Arrogância, sobranceria, ar altaneiro, são coisas caducas. Em Outubro, contados os votos, logo saberemos quem tinha razão. Ainda faltam mais de cinco meses, a divulgação das listas, a apresentação e discussão dos programas eleitorais, tudo num clima de crescente pessimismo e penúria.
Uma última nota. Ao publicar o anúncio unicamente no Cidade de Tomar, o PS está a discriminar a imprensa local, considerando objectivamente que uns são filhos e outros enteados. Está igualmente a contradizer-se porque, afinal, "Todos somos tomarenses" como é dito no anúncio, ou trata-se apenas do tal paleio oco? Seja como for, lapso ou não, ficam agora moralmente obrigados a mandar o anúncio para o Templário e a para o Despertar do Zêzere, em nome da igualdade de todos perante a sociedade e perante a Lei. Como dizem os cristâos, "Somos todos filhos de Deus". E todos precisamos de viver, o que vai sendo cada vez mais difícil...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

HOJE COMO ONTEM



Já aqui foi referido anteriormente, de forma sucinta, mas valerá a pena aprofundar um pouco, pois afinal está em causa o nosso devir colectivo. Refiro-me à pertinência dos investimentos autárquicos ou, mais simplesmente, à questão do essencial e do acessório ou supérfluo.
Quando aqui se criticou ou critica a política de obras seguida por António Paiva, tem-se em vista exclusivamente evitar que tais erros se repitam. Para isso é indispensável, julgamos nós, explicar exemplificando com factos, de forma a não restarem dúvidas de que apenas nos guiamos pelo concreto e não por construções ideológicas.
Mesmo os menos versados em História saberão, sem dúvida, que há dois mil anos havia aqui na Península Ibérica povoados e até municípios integrados numa grande e brilhante civilização -O Império Romano. Essas localidades tinham sempre, de acordo com o que agora sabemos, elaborados sistemas de abastecimento de água e respectiva rede de esgotos. Um dos melhores exemplos do grande esforço feito para assegurar o abastecimento de água é o imponente Aqueduto Romano de Segóvia, que chegou até nós bastante bem conservado, de tal forma que é hoje uma das principais atracções e o orgulho daquela cidade espanhola.
Como qualquer outro império, o romano cresceu, atingiu o apogeu, declinou e desapareceu da península. Séculos mais tarde, em 1160, os templários decidiram instalar a sua sede em Tomar e aqui se mantiveram, após breve interrupação já com o nome de Cavaleiros de Cristo, até 1834.
A chamada Casa da Ordem sempre foi das maiores e mais ricas do país, de tal forma que foi graças aos seus recursos que o Infante D. Henrique, nomeado seu governador e regedor, em 1420, iniciou a empresa dos descobrimentos.
Sucessivamente, tivemos o Castelo e a freguesia de Santa Maria do Castelo, os dois claustros e os Paços do Infante, o Coro Alto, a Casa do Capítulo e os Paços de D. Manuel, o enorme (5 claustros) Convento Novo e os Paços de D. Catarina. Ou seja, 400 anos de construções, tudo na vanguarda das épocas respectivas. E no entanto, aquando das Cortes de Tomar, que aclamaram Filipe II de Espanha, neto de D. Manuel I e sobrinho de Dª Catarina, com rei de Portugal, em 1581, o Convento de Cristo não dispunha de água corrente. Tinha magníficos dormitórios, grandes claustros, dois grandes refeitórios, a obra-prima do manuelino, várias cisternas e poços, mas água canalizada não.
O novo soberano e a sua corte, que oficialmente apenas decidiram fazer cortes em Tomar ao saberem que em Lisboa grassava a peste, terão sofrido tanto com a falta de água, em quantidade e em qualidade, que o rei resolveu mandar fazer um aqueduto para abastecimento do Convento, ainda antes de regressar a Espanha. Encomendada ao italiano Filipo Terzi, a obra que hoje conhecemos viria a ficar concluída em 1613/14.
Temos assim que, mais de dez séculos após o auge do Império Romano, das suas fontes e dos seus balneários, uma das mais ricas e mais poderosas casas do país, habitada por cerca de 200 pessoas de forma permanente, e por mais do dobro em ocasiões especiais, quando aqui se encontrava a corte, ou havia capítulo geral, viveu entre 1160 e 1613 sem água corrente. E foi necessário que um rei estrangeiro aqui tivesse parado acidentalmente para que se conseguissse um sistema de abastecimento permanente de água corrente.
Como claramente resulta do que acabamos de apresentar, a tendência para preferir o vistoso, o grandioso, o monumental, o espalhafatoso ao útil, não é de hoje nem de ontem. Tem séculos e forte probabilidade de fazer parte da nossa herança civilizacional. O Centro Cultural de Belém, a Expo 98, os estádios do Euro, a nova basílica de Fátima, ou o TGV não são meros frutos do acaso. É por isso importante, neste ano de eleições, em que atravessamos uma grave crise cujo fim ainda se não vislumbra, que os tomarenses pensem muito bem antes de decidirem onde colocar a cruz. Em particular nas eleições autárquicas de Outubro próximo. O paleio vai ser, tudo indica, mavioso mas oco, como habitualmente. Os eleitores devem portanto insistir no sentido de que pretendem linguagem concreta, substantiva, simples, entendível por todos, chã; e não programas, discursos ou intervenções cheios de ideias gerais, onde cabe tudo e mais alguma coisa, que são autênticas avenidas rumo ao poder pessoal, sem qualquer hipótese realista de controlo pelos seus pares. Nunca esquecer o que já nos aconteceu, particularmente durante os mandatos dee António Paiva. É mais fácil e vale mais prevenir que remediar.

terça-feira, 28 de abril de 2009

ASSIM SOMOS LEVADOS...

Dias bastante difíceis para o PSD. O de ontem , com a sessão da Assembleia Municipal; o de hoje, dia da habitual reunião do executivo. Na AM, a maioria social-democrata denota cada vez menos coordenação e cada vez mais dificuldade para lidar com uma oposição sempre aguerrida, mas também sempre dividida. Para o comum dos mortais é quase impossível perceber o que separa, em cada caso, o PS dos Ipt, estes da CDU, ou esta do BE, ou este do PS, e assim sucessivamente. Ninguém quererá alguma vez ter em conta as consequências negativas de tal situação, para tentar alterações portadoras de futuro mais risonho?
Na reunião do executivo, vários munícipes foram apresentar as suas queixas e solicitar providências. A mais importante e mais áspera de todas as intervenções foi a do Arq. Lebre, que abordou designadamente a excessiva burocracia municipal, o tempo demasiado longo para despachar processos, a falta de respeito para com os munícipes requerentes e/ou reclamantes, bem como a não conformidade com as normas legais existentes nas actuais obras de responsabilidade camarária no pomposamente denominado "núcleo histórico".
Segundo quem assistiu, nem o Presidente Corvêlo de Sousa, nem os seus colisteiros, estiveram à altura das circunstâncias, sendo eloquente e pesado o silêncio de todos eles perante a maior parte dos problemas apresentados pelos munícipes. Uma outra fonte disse a Tomar a dianteira que se nota perfeitamente o desinteresse da actual maioria quando se trata de defender as opções do anterior presidente, apesar de Corvêlo de Sousa ter afiançado numa entrevista que respeitaria e seguiria as linhas anteriormente traçadas até final deste mandato.
Ainda em relação ao PSD, acentua-se o afastamento voluntário de militantes, ao mesmo tempo que começam a desenhar-se várias tendências entre os que ficam, tendo em vista a "contagem de espingardas", que terá de ocorrer mais tarde ou mais cedo. Tomar a dianteira sabe que pelo menos dois militantes importantes, que chegaram a tentar apresentar uma lista nas últimas eleições internas, mas desistiram perante a liderada por Isabel Miliciano, têm-se reunido com alguma regularidade, apesar de um deles tencionar abandonar o partido.
Tanto os que se mantêm como os demissionários se queixam dos mesmos males -carência de debate interno, vazio ideológico, ausência de programação táctica e/ou estratégica, esgotamento da liderança de Miguel Relvas, desmotivação dos militantes e aderentes.
Fustigados por forte ventania oriunda de todos os quadrantes, os social-democratas estão também perante a hipótese de virem a perder o habitual apoio implícito do semanário Cidade de Tomar. Com efeito, fontes geralmente bem informadas e de confiança absoluta adiantaram-nos, sob anonimato, que as coisas estão longe da normalidade para os lados do mais antigo semanário local. Quebra nas vendas, aumento das assinaturas não liquidadas, queda da publicidade, reclamações de leitores sobre a qualidade do produto final que lhes chega às mãos, excesso de pessoal, estilo redactorial ultrapassado, tudo isto forçou alguns dos sócios da empresa proprietária a procurarem uma saída airosa para tão complexa situação, agravada sobremaneira pela actual crise. Essa saída airosa deverá, de acordo com a orientação actual, passar pela substituição do director, comportando igualmente uma recomposição da redacção e uma redução do pessoal, tudo em condições a definir oportunamente. As mesmas fontes acrescentaram que encontrar uma personalidade para director do semanário tem-se revelado uma tarefa bem mais espinhosa do que o inicialmente esperado. Até agora, todos os sondados indirectamente declinaram o cargo, alegando falta de tempo, idade a mais, saúde precária, ausência de um projecto estruturado e estruturante. O costume em diplomacia doméstica. Formas polidas de dizer que não desejam de modo algum vir a receber o presente envenenado.
Candidatos pouco convincentes, maioria com evidentes dificuldades, militantes e aderentes inquietos, alguma imprensa numa situação bastante complexa, este ano de três eleições promete vir a ser de longe o mais rico em termos de dramas e outras surpresas. É só ir aguardando...

E O ACESSO AO AÇUDE DE PEDRA???






O nosso ministro Mário Lino, um antigo comunista reconvertido, também conhecido por "jamais! jamais!" (deve ler-se jamé!jamé!), inquirido por deputados do Bloco de Esquerda, fez saber que uma empresa que vedou os acessos às arribas da praia de S. Rafael, em Albufeira, colocando blocos de pedra, já foi notificada da ilegalidade de tal acção, e vai ter de pagar a respectiva coima. Muito bem, dizemos nós, em simultâneo com o nosso aplauso. E o tradicional acesso público ao Choupal do Açude de Pedra? Que tenciona fazer a Câmara? E o governo central? O proprietário dos terrenos à ilharga também tentou, por diversas vezes, impedir o acesso, mediante a colocação de blocos de calcáreo, alguns dos quais ainda são visíveis na fotografia. Intimado a retirá-los após protestos de alguns cidadãos, adoptou um outro estratagema. Colocou barras metálicas em aresta no solo, para danificar as suspensões e instalou uma cancela. Tudo com o pretexto de que tal vedação é indispensável por causa de um aparcameto de 100 ovelhas. Tomar a dianteira foi lá diversas vezes e podemos testemunhar que nunca lá vimos uma única ovelha, ou qualquer outro animal de criação. Pelo que parece impôr-se a conhecida exclamação "O que tu queres sei eu!". No caso presente, trata-se visivelmente de agir de modo a que o caminho deixe de ser público, como sempre foi até agora, para depois, mediante testemunhas de circunstância, alegar que adquiriu tudo aquilo, incluindo o choupal que também é público, por usucapião, contando com o silêncio e a ignorância tanto da autarquia como da Fazenda Público. Aqui fica registado o nosso protesto, para o caso de... (Que essa do golfe, do hotel de charme e do "resort", ainda nos parece carecer de muito esclarecimento... A usual operação de lançamento de areia para os olhos não nos atinge porque usamos sempre óculos, daqueles de soldador)

O PRESTÍGIO ESTÁ INTACTO



Numa altura de grave crise, que está longe de ser só económica, faz bem à alma constatar certos factos reconfortantes. Faz bem e ajuda a supoortar e ultrapassar incompreensões, avacalhamentos, abandalhamentos, e assim sucessivamente.
Afinal a fama da nossa célebre Janela, não só como brazão de Tomar mas também de Portugal, ainda é o que era. E o prestígio idem, idem. Na sua página de abertura, o guia turístico "Portugal ", da American Express, a verdadeira bíblia dos turistas não só americanos mas de língua inglesa, escolheu a obra-prima do manuelino como imagem central do nosso país. É certo que o cliché seleccionado está longe de ser o mais feliz. Basta comparar com a outra foto para perceber isso mesmo. Mas ainda assim, aquece-nos o coração. E permite até uma pequena digressão em defesa do património. Se uma simples operação de recorte fotográfico alterou consideravelmente o aspecto da janela que estamos habituados a contemplar, imagine-se o que poderia resultar da infeliz ideia de proceder à limpeza do emblema do Convento. Mesmo a laser! Há coisas que só se conseguem explicar por doentio deslumbramento perante os recursos do progresso. Essa da tal limpeza é uma delas. Oxalá nunca se venha a verificar.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

ABANDALHAR TOMAR



António Rebelo
Dizia Nini Ferreira, com quem nem sempre estive de acordo, que os turistas gostam da cidade mas os tomarenses vêem-na com outros olhos. É precisamente o meu caso. Olho para esta terra com carinho e paixão; sofro quando lhe fazem mal, mesmo que involuntariamente.
Tomar não é, no contexto nacional e internacional, uma terra qualquer. Foi a capital templária e a terra onde se geraram os fundos que permitiram o arranque e desenvolvimento da Empresa dos Descobrimentos, a maior da nossa história. A imensa e sublime Casa da Ordem, que nos fita, aparentemente muda, lá de cima, é indubitavelmente motivo de orgulho, mas impõe-nos também enormes responsabilidades. Se fomos, durante séculos, titulares do segundo banco em cortes. Se, já na época moderna, fomos uma cidade de referência na região centro. Se, desde a radiosa alvorada de Abril, temos vindo a perder protagonismo, algo deve estar errado connosco. É portanto nossa responsabilidade primeira tentar identificar, com coragem e sem fantasias, tudo aquilo que obsta ao nosso desenvolvimento como comunidade que já conheceu muito melhores dias.
Como já tive ocasião de referir em escritos anteriores, um desses obstáculos ao nosso progresso é a nossa evidente falta de hospitalidade. Não que sejamos menos acolhedores que os habitantes de quaisquer outras localidades. O que acontece aqui nas margens do Nabão é que os nossos autarcas nem sempre se têm dado conta das carências em termos de trabalho empenhado para o bem comum. Dão-se opiniões fazem-se críticas, lançam-se sugestões, e eles nada. Não ouviram, não leram, não sabem. E as mazelas vão-se acumulando, em termos de estruturas de acolhimento de quem nos honra com a sua visita. Ruas, caminhos, calçadas, casas de banho, parques de estacionamento, indicações, guias, circuitos, nada disso tem estado ou está, que se saiba, à altura do que é esperado pelos turistas, quando comparado com outras cidades com responsabilidades semelhantes.
Claro que os visitantes raramente se queixam, poucas vezes reclamam, pois não ignoram que a maior parte dos casos, (para não dizer sempre), seria tempo perdido sem qualquer proveito. Não deixam, porém, de difundir junto de amigos e conhecidos que foram mal acolhidos, mal informados, mal guiados, mal servidos... A constatação de que o total anual de visitantes do Convento de Cristo não tem progredido ao mesmo ritmo da entrada de turistas estrangeiros no país, devia ter-nos já levado a analisar cuidadosamente a questão, de forma a poder ultrapassá-la com sucesso, caso os nossos autarcas tivessem veramente como objectivo central servir a causa pública. Em vez disso, o que tem vindo a ocorrer é o progressivo abandalhamento do turismo local, cujo melhor exemplo foi o encerramento injustificado, e inimaginável para alguns, do Parque de Campismo, que ninguém fora de Tomar entendeu. É que já dura desde 2003.
Águas passadas não movem moinhos, dizia o povo e continua a ser verdade. Olhemos então para o presente e para o futuro, no sentido de melhorar o que está mal e quanto antes, numa índiscutível óptica de dedicação à coisa pública, aos interesses reais da comunidade tomarense no seu conjunto. Não basta tratar do açude do Mouchão ou da Agenda Cultural. É urgente reparar as centenárias calçadas de acesso pedonal ao Convento, arranjar estacionamento para autocarros junto à Várzea Pequena. Manter abertas, limpas e vigiadas as diversas casas de banho da cidade e do Convento, proceder à asfaltagem do parque de estacionamento da Cerrada dos Cães, reclamar junto da entidade competente a alteração e adequação dos circuitos e dos horários de visita do Convento, a contratação e/ou formação de pessoal qualificado na área do turismo receptivo, a recuperação e o uso racional do ex-Hospital Militar, fechado e ao abandono há mais de dez anos, servindo ocasionalmente de armazém de espólios de responsabilidade camarária, numa promiscuidade inaceitável, etc. etc
Sobretudo e por favor, deixem de abandalhar Tomar, mesmo que involuntariamente! Sei bem que todos têm o direito ao trabalho. Por isso me abstenho de mencionar casos mais concretos. Mas há coisas que não nos honram de maneira nenhuma. Antes nos envergonham ou nos deviam envergonhar. As duas fotos acima ilustram um desses casos de nítido abandalhamento.
Em termos de promoção, é óbvio que as coisas ou se fazem o melhor que seja possível, ou então está-se a fomentar o contrário daquilo que se pretendia. O Congresso da Sopa, feliz ideia de Manuel Guimarães, prosseguida com paixão tomarense por Manuel Bento Baptista, após o súbito falecimento do seu iniciador, conseguiu alcançar um estatuto de notoriedade e qualidade, ímpares no país. Após anos e anos de desinteressada devoção à causa pública, Manuel Bento resolveu retirar-se, o que se entende perfeitamente. Pois tanto bastou para que já se comece a abandalhar o que estava a um nível bem acima da média. O modo como está a ser publicitado o acontecimento gastronómico deste ano, bem vísivel em qualquer das fotos, despromove-o. Transforma-o em "congressozinho das sopinhas", mesmo que nem seja essa a intenção. Em termos de publicidade, propaganda, marketing, promoção, é como dizia da política o senhor de Santa Comba -o que parece é!
Em nome da minha e da vossa cidade, rogo-vos, de joelhos se for preciso, retirem já essas misérias das ruas! Façam as coisa com honestidade e com dignidade! Se não sabem que chegue, peçam ajuda! Nenhum tomarense digno desse nome ousará recusar-se a colaborar. Porque acima dos partidos e da ideologia de cada cidadão estão os interesses de Tomar!

NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA...





As três ilustrações que resolvemos publicar mostram perfeitamente que no melhor pano cai a nódoa, como é uso popular dizer-se. Na primeira, a contar de cima, recortada d'O MIRANTE, secção CAVALEIRO ANDANTE, fala-se de Rosa do Céu. Ex-presidente da Câmara de Alpiarça, foi nomeado, e depois eleito, presidente da recém-criada Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, a qual integra o concelho de Tomar. Pelos vistos, por aquelas bandas não é uma personalidade assim muito apreciada, como já aqui referimos anteriormente. E parecem ter razão os que o criticam. Se antes ninguém percebeu porque é que lhe atribuiram semelhante responsabilidade, para a qual não tem qualquer perfil, agora com a atribuição à Associação de Turismo de Lisboa da promoção do turismo naquela área, fica-se sem entender porque motivo a jovem entidade regional se chama de Lisboa. Mistérios da política...
A outra ilustração, recortada do Público, tem dois objectivos, um favorável, o outro desfavorável. O favorável pretende mostrar aos senhores autarcas aqui das margens do Nabão como é que as coisas deveriam ser feitas, caso a sua preocupação principal na área do turismo fosse bem receber os turistas, por exemplo em termos de orientação.
O desfavorável consiste em que se julga ser importante mostrar, com um exemplo concreto, como no melhor pano cai a nódoa. Um senhor vereador culto, conceituado jurista, ex-representante do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa, com um gabinete de apoio bem fornecido de recursos humanos bem pagos, afinal desta vez deve-se ter distraído e foi mal servido. Conforme mostra o outro recorte, reproduzido do Dicionário da Língua Portruguesa da Porto Editora, sinalética refere-se a sinais que permitem identificar criminosos. O respeitável vereador e/ou o seu gabinete devem ter querido dizer sinalização, mas a língua pátria pregou-lhes uma partida. Acontece aos melhores, mas em Lisboa e vindo de vereador licenciado e tudo, parece mal.

O CONVENTO DE CRISTO E O DE SANTA IRIA

A Assembleia Municipal reúne-se esta tarde e vai debater, entre outros assuntos, a deliberação do executivo sobre o concurso para a arrematação do antigo Convento de Santa Iria e ex-colégio feminino, ambos destinados à construção de um "hotel de charme". A Câmara pretende arrecadar milhão e meio de euros com a venda. É evidente que a deliberação será aprovada pela AM, visto que o PSD aí dispõe de maioria. Resta saber se, uma vez aprovada a decisão, esta será a melhor ocasião para proceder à alienação. Sendo certo que a autarquia precisa tanto de dinheiro como um esfomeado de pão para a boca, também é verdade que o governo está numa situação proporcionalmente comparável, o que não o impediu de adiar sine die a privatização da TAP, alegando que a actual conjuntura não é a mais propícia para os negócios. Como a oposição PSD acusa o governo de falta de sentido de oportunidade, e uma vez que a Câmara nabantina é do PSD, não lhe ficaria nada mal adiar também a venda do citado conjunto do património local.

Outro assunto candente é a anunciada empreitada que englobará o arranjo do parque de estacionamento da Cerrada dos Cães, o estabelecimento de uma ligação da cidade ao Castelo pela Mata dos Sete Montes, e mais não se sabe bem o quê. O projecto, o rascunho do projecto, ou a ideia de rascunho do projecto, também não se sabe ao certo, terá sido alvo de debate numa recente reunião do executivo, mas nem os jornalistas presentes, nem a maioria PSD, nem a oposição, conseguiram ainda explicar cabalmente aos eleitores o que é que foi debatido realmente e o que é se pretende fazer na verdade. É estranho, mas já é habitual -a população só vem a saber o que é feito depois das obras concluídas. Foi assim com a Corredoura e a Praça. Seguiram-se os pavilhões e parques, a Várzea Pequena, o Mouchão, o Estádio, o Paredão do Flecheiro e o Largo de Santa Maria dos Olivais.

Olhando agora para tudo aquilo, goste-se ou não, esteja bonito ou nem tanto, constata-se que nada era prioritário e que, para usar a linguagem do senhor Presidente Cavaco, em termos de custos benefícios, praticamente só teve custos, pois o retorno é nulo.

Em relação ao projecto para o Convento e para a Mata, a argumentação até agora utilizada é semelhante à que permitiu as obras anteriores. Anunciam-se pomposamente umas coisas e depois fazem-se outras, das quais nem se falou previamente à população. Basta lembrar o que ocorreu coma Ponte do Flecheiro. A oposição argumentou quanto pôde, alegando que a ponte devia ser em S. Lourenço, na Borda da Estrada ou em Carvalhos de Figueiredo, mas afinal, na óptica camarária, tinha de ser mesmo no Flecheiro, porque se tratava de aproveitar para instalar a rede de saneamento, o paredão e a Praça de Santa Maria dos Olivais. É a chamada filosofia do namoro à portuguesa, à moda antiga: Convidava-se a rapariga para ir lá a casa ver umas fotografias, e ela ia, sabendo bem que não era só, nem principalmente, para ver as fotografias.

Na verdade, o que a autarquia pretende que seja feito é o saneamento da ladeira do Convento, da Estrada de Paialvo, da Mata e da Rua da Graça (Av. Cândido Madureira). As alegações sobre o Convento sem ligação à rede de esgotos, e sobre a ligação da Cidade ao Convento, como meio de incrementar o turismo, não passam de argumentos de circunstância, para dourar a pílula, porque 720 mil euros é muito dinheiro para tão pouca coisa.

Resta acrescentar que a pretendida ligação Cidade-Mata-Castelo não virá melhorar o que quer que seja, pois ninguém estará disposto a deixar o carrito cá em baixo, quando o pode estacionar lá em cima, à entrada, mesmo que o parque passe a ser pago. E os autocarros, geralmente em regime de turismo organizado, nem tempo terão para estacionar cá em baixo e ficar a aguardar os passageiros. Se tivesse havido o cuidado de falar previamente com os guias, os motoristas, ou as agências operadoras desses circuitos e/ou excursões, ter-se-ia ficado logo a saber que, para os profissionais, o Convento vale mais ou menos uma hora de paragem, o que dá cerca de meia hora útil de visita. Não está correcto? Pois não. Mas é assim que as coisas são, enquanto nada for tentado para as mudar a nosso favor. Mas não é seguramente com projectos mal alinhavados que vamos conseguir alguma coisa nessa área.

E depois há os finalmentes. Admitindo que os turistas aceitam as nossas propostas de encarneiramento e acedem a vir à cidade. Tirando a visita gratuita da Sinagoga, de S. João, de Santa Iria, de Santa Maria, ou do Museu dos Fósforos, ou que é que há para fazer ou para comprar, que não exista nas outras terras? Porque a triste verdade é que turistas que não deixem dinheiro não fazem cá falta nenhuma, embora não se deva cair nos exageros do ex-presidente Paiva que, por razões ideológicas, confundiu estatuto social, capacidade económica e tipo de turismo praticado. Ainda hoje estamos a pagar essa asneira.

domingo, 26 de abril de 2009

O TEOREMA DA CRISE

Numa altura em dois ou três parcipantes deste blogue, capitaneados por um que escreve sempre em maiúsculas, persistem em confudir eruditos com parlermitas (com o devido respeito pelos que nasceram ou habitam em Palermo, e não são da Máfia), decidimos publicar o que segue. Para os fins tidos por convenientes.
"São tantos os estragos que provoca na economia real, que quase acabamos por perder de vista que, antes de ser uma crise do capitalismo, a crise dos "subprimes" é uma crise da finança. Particularmente dessa finança hipersofisticada e ultramatematizada, que vinha conseguindo, desde há trinta anos, um desenvolvimento exponencial. É agora acusada de, entre as mãos de aprendizes de feiticeiro, ter parido monstros que acabaram por devorar todo o sistema, incluindo os seus própriios criadores.
No actual grande processo, no qual é julgada por crime contra o crescimento económico, a inovação financeira acaba de encontrar um defensor ilustre, na pessoa de Ben Bernanke, patrão da Reserva Federal Americana. Ilustre mas também política e economicamente incorrecto. Apesar de milhões de americanos terem perdido as suas casas, por terem contraído empréstimos com modalidades obscuras; apesar de alguns dos maiores bancos de Wall Street não terem resistido à depreciação dos produtos titularizados que detinham; Ben Bernanke não hesitou em defender tal causa, a priori indefensável. "A inovação financeira, disse ele, melhorou o acesso ao crédito, reduziu os seus custos e aumentou as opções. Penso que não haverá ninguém que queira regressar aos anos 70." "Antes portanto de a matemática ter invadido o mundo da finança; antes também de os banqueiros terem descoberto que equações complexas podiam proporcionar-lhes muito mais lucros que os tradicionais almoços de negócios bem regados. Antes igualmente que muito jovens e brilhantes crânios da matemática, saídos das melhores grandes escolas e universidades, alguns ainda com borbulhas de acne, tenham substituido, sem piedade nem boas maneiras, gestores algo barrigudos, para quem uma boa informação confidencial fazia as vezes de estratégia de investimento.
Até ao início dos anos 70, a finança tinha-se mantido matematicamente subdesenvolvida. Uma tabela de logaritmos era suficiente, segundo o matemático Nicolas Bouleau, autor de Matemática e riscos financeiros. (Éditions Odile Jacob, Économie, 256 pages, 24,50€, em França e em francês). Tudo mudou de repente, com a decisão de pôr as moedas a flutuar. Contratos a termo sobre divisas foram então lançados no mercado de Chicago, seguindo o modelo dos que já aí existiam desde há mais de um século para as matérias-primas. As empresas passaram a ter a partir daí a possibilidade de se protegerem contra as variações do dollar, do yen, do deutchmark, tal como os agricultores contra a descida do preço base do trigo ou do milho.
Mas a valorização destes novos produtos financeiros, ditos produtos derivados, não é nada simples. Por isso, universitários americanos atrelam-se à tarefa e acabam por redescobrir a investigação realizada no início do século passado, pelo francês Louis Bachelier, considerado como o pai da matemática financeira. Bachelier tentou na sua época modelizar as cotações da bolsa, a partir de raciocínios probabilistas baseados nos jogos de azar. Em 1973, Fischer Black e Myron Scholes afinam a sua famosa fórmula sobre os preços das opções. E é a partir daí que toda a finança começa a recorrer às ferramentas matemáticas, as quais, no entanto, tinham sido concebidas para o estudo de outros fenómenos: agitação térmica, filtragem de ruídos, movimento de uma partícula de polen no ar, etc.
Já no fim dos seus dias, o japonês Kiyoshi Ito, considerado o maior probabilista do século XX, foi surpreendido pela notícia de que a integral escolástica, que ele tinha desacoberto , tinha começado a ser usada para os mercados e era utilizada pelos corretores de bolsa do mundo inteiro. Alavancada pelo desenvolvimednto da informática, a finança pôde conhecer durante trinta anos um período de euforia criadora, com a lançamento constante de novos produtos. Cada vez mais complexos e com modos de emprego cada vez mais difíceis de entender. Em princípio, também mais úteis e protectores.
É esta história. Que terminou mal. Porquê? Como é que produtos concebidos como protecção contra os riscos financeiros, levaram a riscos cataclísmicos? Como é que o rigor matemático pode provocar um tal caos?
Os crânios matemáticos da finança são agora acusados de não se terem preocupado o suficiente com a realidade, e de se terem deixado embalar pelos bonus substanciais e, sobretudo, pela bela verdade matemática dos seus modelos. Acusam-nos igualmente de não se terem questionado o suficiente sobre a finalidade moral do seu trabalho -como fizeram os físicos nucleares nos anos 40. Teria, portanto, chegado o tempo de "desmatematizar" a finança. De agir para que a profissão de banqueiro volte a ser, na feliz expressão de Jacques Attali, "modesta e aborrecida".
Absurdo! contestam em coro os acusados, para os quais a finança não constitui excepção. A matemática faculta um melhor entendimento dos factos e as constantes inovações melhoram o seu funcionamento. Absurdo, também, porque a crise dos "subprimes" revela sobretudo carência e não excesso de matemática na finança. Esta apenas enfrentou uma situação de catástrofe, semelhante a uma inundação do século para uma barragem, que os modelos matemáticos existentes ainda não podiam integrar como hipótese. As próximas construções teóricas só podem ser mais sólidas, uma vez que já integrarão a nova possibilidade. Em resumo, a matematização da finança não teve nada a ver com o que acabou de se passar, mas antes com a irracionalidade dos homens, muito mais difícil de modelizar. Exactamente o que já tinha compreendido Isaac Newton, em 1720, quando perdeu muito dinheiro com a falência da South Sea Company: "Sei calcular os movimentos dos corpos pesados mas não a loucura das multidões".

Pierre-Antoine Delhommais, delhommais@lemonde.fr Tradução de A.R.

MESMO AQUI AO LADO...

Do "Diário de Notícias" de hoje, com a devida vénia e sem mais comentários...

E A COLIGAÇÃO?!?! - 2

Na intervenção anterior considerou-se que é praticamente impossível uma ampla coligação de esquerda, pelo que o PSD dispõe de considerável vantagem à partida, visto não ter concorrentes no lado direito do leque político. Disse-se igualmente que, no actual contexto e salvo ocorrência de factos extraordinários, os resultados de Outubro próximo poderão beneficiar a actual maioria autárquica e os seguidores de Pedro Marques.
Trata-se apenas de uma previsão intuitiva, sendo todavia certo que não se antevê, neste momento, qualquer força política local capaz de vir a conseguir uma maioria absoluta. O PSD porque sem Paiva e desgastado por múltiplas trapalhadas e obras onerosas, sem utilidade evidente. Os IpT porque, quase em final de mandato, ainda ninguém percebeu ao que vieram, muito menos o que teriam feito se, por bambúrrio, tivessam ganho as eleições anteriores. O PS porque teima em não aprender com a experiência acumulada, designadamente por ter apresentado a lista que apresentou no escrutínio anterior. E mais não se escreve para não ofender ninguém. A CDU porque, mesmo com Rosa Dias e uma intensa acção de propaganda porta a porta, tasca a tasca, café a café, oficina a oficina, escritório a escritório, nunca conseguiu mais que um vereador -o próprio Rosa Dias, que depois desertou, em condições ainda por esclarecer. O BE, finalmente, porque por estas paragens, tirando os esquerdistas de estimação, nunca virá a conseguir, pelo menos tempos mais próximos, votos suficientes para eleger sequer um vereador.
Nestas condições, afinal pouco importa saber quem conseguirá eleger dois vereadores, sendo certo que a compita terá lugar apenas entre o PSD, os IpT e o PS, dependendo antes de mais de quem conseguir eleger três. O importante é procurar saber antes, ainda durante a pré-campanha ou no mínimo antes da votação, quem fará acordos com quem e sobre quê, pois para poder governar a autarquia tomarense será indispensável essa convergência. E aqui reside o nó da questão. Quer queira quer não, a próxima maioria autárquica vai ter de implementar políticas fortemente impopulares, que poderemos designar genericamente como de aumentro das receitas e compressão das despesas. Aumento das receitas significa aumento de impostos, taxas, preços, licenças, etc. Compressão de despesas é igual a redução de pessoal, de regalias, de horas extraordinárias, de consumíveis, etc. Alguma das formações vencidas aceitará partilhar o carácter odioso de tais medidas, a troco de um ou dois "pratos de lentilhas"? Eis a questão, que aqui fica para meditação, enquanto ainda não é tarde.
Os tradicionais inconscientes, também conhecidos como fantasistas pelos adversários, e por optimistas pelos correlegionários, argumentarão que não será inevitável a tal acção tendente a obter mais receitas e diminuição das despesas. Esperam pelo que aí vem. De acordo com as melhores previsões, só lá para o segundo semestre de 2010 a situação económica começará a melhorar na Europa, sendo Portugal dos últimos países a sair da crise. Nessa altura, o desemprego rondará, no mínimo, os 12% (neste momento é de menos de 8%) e o défice estará en tre os 6 e os 8% do PIB. Com a autarquia atascada em dívidas, com a arrecadação de impostos a diminuir, com menos transferências do poder central, quem ousa sustentar que tudo deve continuar sem grandes e substanciais alterações? Só quem realmente nem sequer perceba o b-a-bá da economia. O mau tempo vem aí. Preparem-se!

sábado, 25 de abril de 2009

E A COLIGAÇÃO?!?!

Chegado o fim de semana, o pessoal fica com a cabeça mais livre, com mais tempo para ocupar, e toca de pensar no que aí vem. Em termos de vida política local, se nada aparecer de bastante diferente em relação ao passado, pode muito bem vir a acontecer que, apesar de tudo, o PSD volte a ganhar a autarquia. Não por mérito próprio, mas por nítida casmurrice dos adversários. Basta fazer contas de merceeiro. Na ausência prática do CDS/PP, a actual maioria autárquica tem todas as hipóteses de recolher os votos do centro e da direita. Em contrapartida, do centro para a esquerda tudo indica neste momento que teremos nada menos que 4 formações: IpT, PS, CDU e BE. É muita variedade para tão poucos eleitores.
Conscientes de que estarão involuntariamente a facilitar a tarefa aos adversários, alguns auto-proclamados líderes locais vão lançando a ideia de uma ampla coligação. Embora não neguem que seria a solução ideal, colaboradores aqui do blogue adiantam que tal acordo nunca será possível, por haver demasiados chefes e poucos índios. Antes de mais, há a costumeira luta de galos, cada qual pouco disposto a ceder o poleiro. Depois, há o problema do peso eleitoral de cada grupo. Finalmente, há os "ódios de estimação", regra geral inultrapassáveis.
Com se tudo isto ainda fosse pouco, há que ter em conta os aspectos legais. A lei não permite, por exemplo, coligação entre um partido e um grupo de independentes. Podendo estes vir a fazer parte da lista daquela apenas a título individual. Da mesma forma, a lei não permite uma coligação entre um partido e outra coligação, de tal maneira que por exemplo a CDU não poderia, enquanto tal, coligar-se nem com o PS, nem com o BE, nem com os IpT.
No meio de toda esta embrulhada, aparece ainda outro problema, de todos o mais espinhoso -a escolha do cabeça de lista. O PS alegará que, sendo o partido mais representativo, deve ter direito a designar o cabeça de lista. Os IpT não concordarão pois tiveram, no escrutínio passado, mais votos que os socialistas. Por sua vez, a CDU aduzirá que tanto socialistas como IpT estão muito desacreditados junto do eleitorado. Aqueles por causa do governo e da fraca prestação a nível local; estes por nunca terem conseguido fazer passar cabalmente as suas mensagens. Finalmente o BE alegará que a hora é do "voto de protesto", pelo que esperam vir a ter um excelente resultado, exigindo por isso pelo menos o 2º lugar.
Caso alguma vez conseguissem ultrapassar tamanho sarilho, o que é muito pouco provável, os intervenientes teriam ainda de elaborar em conjunto um projecto credível para todo o mandato, simultaneamente realista e adaptado ao novo contexto de penúria generalizada. Convenhamos que é demasiada carga para camionetas tão pequenas.
Sendo as coisas o que são, no contexto actual, a nossa previsão seria PSD 3 mandatos, Ipt 2 mandatos, PS 1 mandato, CDU 1 mandato. Possibilidade, por conseguinte de acordo PSD/IpT, ou PSD/PS. Em qualquer dos casos, o representante da CDU, caso seja como tudo indica, Bruno Graça, está confinado ao papel de simples "animador de pista", embora possa vir a ser muito útil para a informação local, caso consiga e queira transmitir o que ocorra nas reuniões, coisa que nenhum vereador ou jornalista logrou fazer até hoje de forma aceitável.
Quanto à eventualidade da tal coligação, o melhor é deixar de pensar nisso, pois na prática deve haver tantas hipóteses de acordo como de ganhar no euromilhões. Essa é que é essa!

OUTRO ABRIL É QUE ERA BARIL!


António Rebelo
É sabido que os eleitores em geral têm a memória curta, salvo quando se trata de vasculhar na vida privada dos políticos e/ou de quem os contradiz. Aí têm-na até demasido comprida e prolixa. Em todo o caso, agora que a crise aperta e obriga a mudar de procedimentos, julgo não ser descabido lembrar que tivemos durante quase trinta anos uma Comissão Regional de Turismo sediada em Tomar. Sucessivamente presidida por Duarte Nuno, Amândio Murta, Madame Chambel, o deputado Relvas e o Neves das Estrelas, nunca ninguém conseguiu apurar para que servia realmente a comissão, ou quais os critérios usados para escolher os citados presidentes. Prova disso mesmo foi o eloquente silêncio aquando da sua relativamente recente extinção.
Julguei eu, e julgaram vários, que perante o evidente fracasso dos organismos regionais de turismo com sede em Tomar (Templários) e Santarém (Ribatejo), o governo PS teria em conta as causas de tais malogros e evitaria repetir as práticas que a eles conduziram. Afinal foi mais uma esperança vã. Logo na definição espacial das competências das novas entidades regionais, ficou a ideia que o turismo era apenas um mero pretexto para arranjar mais uns lugares para gente de confiança. A provar que assim era, quem podia tratou de se amanhar, idealizando áreas territoriais à sua medida. Para não irmos mais longe, Ourém (cuja importância turística é grande por causa de Fátima), resolveu passar-se para a entidade com sede em Leiria, apesar de pertencer ao distrito da Santarém. Decisão logo recompensada com a atribuição da presidência a David Catarino, até então presidente da Câmara de ...Ourém, pois claro!
Aqui em Tomar, apesar de termos alguns tomarenses de nascimento na autarquia, foram como quase sempre os oriundos de outras paragens a tentar determinar o nosso futuro. Resolveram, sabe-se lá com base em que critérios, que passaríamos a fazer parte da nova Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo, decisão estranha numa altura em que Tomar transitou para a Região Centro e outros municípios do distrito para o Alentejo, tudo na mira dos dinheiros europeus. Adiante...
Seguiu-se a negociação política para acomodar e colocar nos lugares dirigentes representantes de Setúbal, Santarém, Tomar e Lisboa. Uma vez mais, ninguém ficou a saber quais os critérios usados, pelo simples motivo que nunca foram enunciados. Certo é que na actual direcção, de prévia nomeação política, a presidência coube ao PS, representado por Rosa do Céu, ex-presidente da Câmara de Alpiarça. A representação de Tomar, negociada com o PSD, foi entregue a Manuel Faria, com o cargo de vice-presidente. Setúbal ficou com outra vice-presidência, desempenhada por um representante da CDU.
Por estranho que possa parecer, a zona da grande Lisboa a norte do Tejo, não está oficialmente na direcção do novo organismo, nem aos nomeados pelo distrito de Santarém alguém reconhece um mínimo de capacidade ou experiência na área do turismo empresarial, afinal aquela que conta e paga impostos.
Cúmulo dos cúmulos, por uma daquelas tortuosas vias que infestam a vida política portuguesa, a sede da Entidade Regional foi fixada em Santarém, com delegações em Setúbal e Tomar. Perante isto, houve logo quem interrogasse -Se era para deixar praticamente tudo na mesma, para que mexeram no que estava?
Os habituais caciques nabantinos de trazer por casa vão alegar que sou movido pela inveja, que se trata apenas de má-língua, que está tudo satisfeito e que Tomar até ficou a ganhar. Pois! O pior é que noutros pontos do distrito a desilusão parece ser ainda maior que a minha, apesar de Santarém ter conseguido, além da já referida sede, uma escola superior de hotelaria e turismo. Com os fluxos turísticos que a capital ribatejana tem tido e terá, está-se mesmo a ver que aquilo vai ser um verdadeiro sucesso. Os futuros alunos já estarão todos colocados ainda antes de acabarem os respectivos cursos. No desemprego, claro!
Na última edição d'O MIRANTE, o seu proprietário JAE subscreve uma crónica que já aqui foi citada na nossa análise da imprensa de ontem. Dado que não é, nem nunca pretendeu ser, alguém com competência académica e/ou profissional em turismo, julgo que não será movido pela inveja ou pela obtenção de qualquer lugar à mesa do orçamento. Escreveu ele: "Até há poucos meses tivemos um político reformado na região de Turismo do Ribatejo que conseguiu parar o tempo durante quase 30 anos. mas o estatuto da anterior região de Turismo é uma brincadeira comparado com este. Lisboa não vai deixar governar Santarém.
É verdade que esta coisa das Regiões de Turismo é uma trapalhada para uns tantos ganharem um ordenado e somarem poder. Mas atenção que com o turismo não se devia brincar. E Santarém é uma cidade bem castigada pela falta de ideias e de investimentos nesta área. Lisboa é a capital e, embora tenha menos turistas por dia do que aqueles que se passeiam nas Ramblas, em Barcelona, é preciso mudar e já devia ter sido ontem." (JAE, O Mirante, 23/04/09, última página, com a devida vénia).
Neste contexto de mar visivelmente encapelado, a delegação de Tomar, retomando velhos hábitos, já iniciou a folclórica fuga para a frente. Anunciou, perante Rosa do Céu e o ministro da cultura, que vai montar um posto de atendimento aos turistas (com 300 metros quadrados!!!), no Convento de Cristo. Há coisas que não se entendem e árvores que não resistem, por manifesta falta de adequação ao terreno. Mais umas tempestados e acabarão com as raízes ao léu. Será mais uma edição nabantina de "E tudo o vento levou". Vai é levar o seu tempo, o que é pena. Mas pouco ou nada se poderá fazer por estas paragens. "O destino marca a hora."

sexta-feira, 24 de abril de 2009

TOMAR, ABRIL, 2009

Junto ao Cine-Teatro este posto anti-incêncios ostenta um relógio de pulso pendurado. Simples esquecimento? Ou maneira subtil de lembrar aos nossos bombeiros que convém chegar sempre a horas quando os chamam? Fica a dúvida, que o relógio já se foi.

Muro de suporte da Calçada dos Cavaleiros, um dos mais frequentes acessos pedonais ao Convento de Cristo. Olhando para isto, os turistas ficam concerteza sem qualquer dúvida de que aqui em Tomar temos muito cuidado com o património e com a limpeza. É como dizia um deles, canadiano, aqui há tempos -Faz-me lembrar a Itália dos anos 50 do século passado.

Outro aspecto da Calçada dos Cavaleiros, no troço mandado calcetar de novo pela autarquia presidida pelo Dr. Amândio Murta, cerca de 1982. Outros tempos. Agora só se cuida de obras dispendiosas, financiadas com dinheiros europeus. Como será quando se acabarem esses fundos, em 2013?


Painel indicativo no parque de estacionamento da Cerrada dos Cães. A maior parte dos turistas nem sequer o chegam a ver, porque não é nada fácil vislumbrá-lo. Quando conseguem, também não lhes serve de grande coisa. Na direcção apontada pela seta não se vê qualquer construção ou acesso. Só os realmente curiosos é que vão até ao murete e acabam por encontrar a escada de acesso às casas de banho, cujo estado de limpeza já foi mostrado anteriormente. Mas temos agora o Convento com um site em três dimensões. Querem melhor?
Faz lembrar aquele indivíduo a quem disseram que tinha as calças rotas e sujas. -Vou já remediar isso, disse ele. Pouco depois apareceu novamente, todo ufano -Já está resolvido. -Mas continua na mesma! -Na mesma não! Agora trago uma gravata de seda natual e de marca; não repararam logo?




ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

A situação complexa da IFM/Platex é o tema importante de toda a imprensa local e regional. "Futuro da fábrica Platex de Tomar dependente de apoios do Estado", publica O Mirante em manchete. "Vivemos em cima de um barril de pólvora", titula Cidade de Tomar, também em manchete e sobre o mesmo tema. Após leitura atenta, lá se consegue perceber a alegoria. Aquilo está em risco de ir tudo ao ar, incluindo os 240 postos de trabalho. Tudo visto e ponderado, se calhar teria sido melhor usar como título algo do género "Estamos atascados em trampa até ao pescoço e já mal aguentamos o cheiro". Podia ser que assim o governo aceitasse mais depressa desembolsar a soma que lhe pedem, a pretexto de acabar com as fossas, em defesa do ambiente.
Outro tema comum aos quatro periódicos é a demissão de Graça Costa, da Assembleia Municipal, da Comissão Política e de militante do PSD, após trinta anos no seio do partido. É a segunda demissão importante em pouco mais de um mês, ambas por alegadas divergências ideológicas com a actual liderança de facto de Miguel Relvas. Sendo certo e sabido que, em termos de ideologia, o PSD é um "albergue espanhol", onde cada um só encontra aquilo que para lá leva, fica-se com a forte impressão de que a real causa dos citados abandonos foi a seriação dos lugares nas listas eleitorais. Na verdade não deve ser nada fácil, após tantos anos de dedicação à causa, ver-se ultrapassada/o por independentes do tipo do César na Gália -"Cheguei, vi e venci".
Ainda no âmbito do lento desmoronar do PSD local, registo para a reacção muito curiosa do actual presidente do PSD/Tomar, Luis Vicente, veiculada pelo Templário: "As pessoas são livres, não tem qualquer problema ... não somos um grupo de carneirinhos". Poderá ter toda a razão deste mundo. Mas da fama já ninguém os livra, a partir do momento em que o actual presidente da Câmara declarou que continuará a cumprir o programa de António Paiva, quando afinal toda a gente sabe que não há programa nenhum. Só o "quero, posso e mando". Neste caso à distância, ou por controle remoto.
Na semana em que se completam 35 anos sobre o 25 de Abril, Cidade de Tomar refere o assunto em duas páginas discretas e uma modesta chamada de primeira página, mesmo assim com um cravo vermelho. Quanto ao Templário, tido como o semanário da esquerda local, nem ai nem ui. Só os alunos da Secundária 3/Santa Maria do Olival é que tratam o tema com algum relevo, numa espécie de jornal escolar de parede, nas páginas 16 e 17. Sem qualquer referência na primeira página. Há coisas que custam a entender. Deve ser da idade...
Ainda no Templário, a habitual colaboração da senhora Fernanda Leitão, antiga directora do periódico nos idos anos 70 do século passado, forçada a fugir para o Canadá (onde ainda reside) para não honrar as numerosas dívidas contraídas e para se escapulir às múltiplas convocatórias dos tribunais, na qualidade de arguida, por múltiplos abusos de liberdade de imprensa. Estamos agora numa democracia ampla e estabilizada, pelo que não se entende de todo quais os objectivos explícitos e implícitos que pretende alcançar com a sua prosa peçonhenta e pouco respeitadora da verdade dos factos, quando isso lhe convém. Certo é que peças dessa senhora como a desta semana, por exemplo, não ajudam nada a prestigiar o jornal. Pelo contrário.
Como habitualmente, os dois semanários regionais, O Mirante e O Ribatejo, quando tratam qualquer assunto, tratam-no como deve ser. Assim acontece esta semana com o 25 de Abril. O Mirante publica uma excelente e oportuna entrevista com o Coronel Carlos Matos Gomes, um dos militares de Abril. Por sua vez, O Ribatejo, além de uma enorme fotografia/recordação na primeira página, fornece aos leitores, num destacável com 8 páginas, a edição fac-similada do relatório da operação 25 de Abril, escrita e assinada por Salgueiro Maia, com apresentação de José Niza. Para quem goste de informação de qualidade.
Ainda n'O MIRANTE, destaque para a habitual secção "Última Página", assinada pelo dono do jornal, esta semana com o título "Rosa do Céu e Vanda Nunes". Destacamos algumas passagens: "As mexidas nas regiões de Turismo já começaram a mostrar como o sistema está podre e caduco e apenas obedece a regras partidárias e a interesses inconfessáveis.
A escolha de Rosa do Céu para presidir à Região de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo já deixava adivinhar esta trapalhada. Rosa do Céu não é um bom político e muito menos será um bom gestor. ... ... ...Rosa do Céu foi para a Região de Turismo... ... ...com todos os defeitos que tinha como presidente da Câmara de Alpiarça: medroso, calculista, ensimesmado, com a paranóia da perseguição. Acima de tudo incapaz e inábil. Só a sua ligação à família de Mário Soares é que lhe poderá ter dado este cargo que ele não merece nem tem estatuto para ocupar." Querem ver que, pelo caminho que as coisas levam, ainda vamos ter Manuel Faria a presidir à nova entidade? Já faltou mais!
Depois de ler os excertos que antecedem, quem é que ainda se admira de que aqui no blogue se goste cada vez mais do que é de fora? Há alguém que não goste do que é bom? Quem é que costuma dizer que a imprensa tem de ser moderada, por causa dos anunciantes? O MIRANTE não precisa de publicidade, tal como os outros? Bem diz o povo -"Os maus dançarinos dizem sempre que é do chão que é torto."

quinta-feira, 23 de abril de 2009

AUTARCAS RELAPSOS









Das piores coisas que podem acontecer a um concelho é ter eleitos relapsos. Daqueles que quando ouvem ou lêem que as coisas não vão bem, em vez de explicarem de maneira franca o que se passa, optam pelas desculpas de mau pagador. "Correu mal, é um caso isolado, estamos a tratar desse assunto, vai ser arranjado, já temos um projecto, aguardamos financiamento, vai ser aberto o concurso..." O rol é demasiado longo e está constantemente a ser ampliado.
Neste momento, e só no que diz respeito à cidade, argumentam os criticados que algumas obras não correram como se esperava, mas são excepções. Nas outras áreas vai tudo bem. Vai mesmo? Dando uma volta pela urbe, qualquer pessoa minimamente atenta verifica que há mazelas evidentes um pouco por todo o lado. Para que não restem quaisquer dúvidas, aqui vão quatro fotografias, que documentam outros tantos casos de gritante desmazelo.
A foto 1 mostra o triste estado de abandono do pequeno jardim à ilharga das Escadinhas da Cascalheira, agora rebatizadas "Escadinhas do capim". E note-se que o dito capim não deve certamente ter crescido de ontem para hoje.
Na foto 2 pode-se apreciar o estado de limpeza e conservação de uma das casas de banho da Cerrada dos Cães, no parque à entrada do Castelo. O mictório em primeiro plano, protegido com um plástico, encontra-se assim há mais de um ano. Será que quando vier um ministro, ou um autarca importante, tiram então aquela protecção, para o ilustre visitante urinar, sem perigo de contágio?
Aparentemente atacada pela varíola, pelas bexigas doidas, ou por qualquer doença de pele, a fachada sul da antiga biblioteca está com o aspecto que a foto 3 evidencia. Estão à espera de quê para procederem à respectiva pintura? Que venham verbas da União Europeia?
Finalmente, o Palácio Alvim, edifício onde funcionou a PSP e que pertence à Câmara oferece a quem passa este triste panorama. Todas as portas de acesso estão como se tivessem sido atingidas por um bombardeamento. Também neste caso, a autarquia está à espera de quê, para proceder às necessários e urgentes reparações, mudando depois para lá vários serviços? É melhor continuar a pagar elevadas rendas pela ocupação de espaços alugados a particulares, como por exemplo o Edifício Escavação?
Os eleitores têm direito a explicações verídicas e detalhadas, nos termos da lei, visto que são os seus impostos que estão em causa. E não deixarão de as solicitar, quando considerarem oportuno, conforme já foi escrito antes.

AS COISAS COMO ELAS SÃO...

Uma vez realizadas as eleições para o Parlamento Europeu, cuja pré-campanha já começou, as diversas formações políticas iniciarão uma longa campanha, visando obter bons resultados, tanto nas legislativas como nas autárquicas. Em ambos os casos, distribuirão pelo eleitorado milhares e milhares de impressos, geralmente muito vistosos e com uma linguagem atractiva. No âmbito autárquico vão até, com toda a certeza, publicar aquilo a que chamarão "programas". Tratar-se-á, na melhor das hipóteses, de meras listagens de (boas) intenções, que supostamente serão executadas durante o mandato, caso ganhem as eleições, caso haja cabimento orçamental, caso a União Europeia subsidie...
No que se refere ao nosso concelho, qualquer dos tais "programas eleitorais", ou de candidatura, deve ser lido e interpretado com todas as cautelas, nunca esquecendo que alinhar argumentos e boas intenções é extremamente fácil. No passar à prática é que aparecem os problemas, em quase todos os casos inultrapassáveis.
O primeiro e enorme obstáculo é o cabal conhecimento da situação da autarquia, condição indispensável para que os redactores dos citados documentos possam produzir trabalhos credíveis. Acontece, todavia, que neste momento ninguém sabe ao certo, nem mesmo a actual maioria PSD que nos governa a nível local, qual é o verdadeiro panorama local em termos de estruturas, eficácia, custos e benefícios dos serviços autárquicos, incluindo os SMAS. Tal "fotografia", ou série de "fotografias", só poderão ser elaboradas após auditoria a todos os serviços. Não uma auditoria do tipo sindicância, visitando apurar responsabilidades, mas uma acção informativa previamente preparada e orientada para a abtenção das respostas que se pretendem. Sem nunca perder de vista que, regra geral, só se encontra aquilo que se procura.
Por motivos que a generalidade dos cidadãos eleitores e pagadores não entendem, basta falar em auditoria para que os responsáveis interessados comecem logo a tentar mudar de assunto, a assobiar para o lado, ou a fingir que não ouviram ou não perceberam nada. Porque será?
É óbvio que tal iniciativa implica gastos relativamente avultados, numa altura em que a situação económica da autarquia pode ser tudo menos brilhante. De qualquer modo, é evidente que sem dados precisos e actuais, qualquer documento eleitoral não passará de mera propaganda, tendo em vista unicamente intrujar os eleitores, apesar de, naturalmente, os seus autores garantirem o contrário, até com as mãos postas, se for preciso.
Perguntarão os leitores, incluindo os autarcas e responsáveis partidários -Mas uma auditoria para apurar o quê? Embora sabendo de antemão que uma vez lido este texto, praticamente todos garantirão que "estava-se mesmo a ver que era assim!", "melhor o gajo estivesse calado!", aqui vão algumas pistas.
Antes de mais, determinar quantos são os funcionários, onde estão colocados, que tarefas desempenham realmente e qual é a cadeia hierárquica, desde quando e porquê. Depois, fazer o rastreio das instalações, serviço a serviço, gabinete a gabinete. A seguir, elencar os edifícios ou parcelas alugadas e respectivas afectações, bem como os imóveis propriedade da autarquia e para que servem concretamente. Finalmente proceder aos cruzamentos necessários para obter custos mensais e anuais, bem como as receitas cobradas. Sem pelo menos isto, nada feito! Subsistirá sempre a desculpa sacramental -"Sabe, nós bem tentámos, mas as dificuldades foram tantas que resolvemos aguardar por melhores dias." Que nunca mais virão, se nada for alterado entretanto. E o progresso não pára, nem os outros concelhos vão ficar à nossa espera...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

ESTRANHA MENTALIDADE...

Na sequência de "Ao Paiva as culpas do Paiva", impõe-se apresentar pelo menos um caso concreto, que permita ver, claramente visto, como experiências pessoais colhidas lá longe proporcionam resultados bem mais proveitosos. Para isso, vamos recuar até aos anos 60 do século passado.
Tomar era então uma cidade onde se vivia bem, para os padrões médios da época. Tinha um comércio florescente, tinha alguma indústria, e era o polo aglutinador da região norte do distrito de Santarém. Além do funcionalismo administrativo e da área da educação, tínhamos então aqui o Quartel General, o Regimento de Infantaria 15, o Hospital Militar, a Messe de Oficiais, o Posto Rádio Militar, a Banda de Música, a Fanfarra, a Cooperativa Militar e a Farmácia Militar. Éramos uma "cidade de guarnição", vivendo sobretudo do aparelho militar.
Enquanto isto, aqui ao lado, o nosso vizinho concelho de Ourém, não tinha qualquer unidade militar, não tinha tribunal, não tinha ensino secundário e dispunha apenas de um modestíssimo hospital, mal equipado. Era por isso um concelho paupérrimo, dos mais atrasados da região centro, e com população inferior ao de Tomar. A situação económica era tão grave que, empurrados pela miséria, milhares de citadinos e rurais, sobretudo rurais, de Espite, Olival, Caxarias, Gondemaria, Freixianda, etc., passaram a fronteira a salto e foram procurar trabalho em França, na Bélgica, na Suiça, na Alemanha ou no Luxemburgo.
Cerca de 45 anos mais tarde, a situação alterou-se completamente nestes dois concelhos. Em Tomar já só resta o Regimento de Infantaria 15, agora reduzido a pouco mais que um batalhão, tendo-se conseguido entretanto boas instalações para um hospital, bem como um Instituto Politécnico, cuja absorção pelo de Santarém ou de Leiria deve ser uma questão de meses. As indústrias tradicionais fecharam na sua maior parte e as novas são raras e modestas.
Em contrapartida, no concelho de Ourém, quase tudo mudou. De tal forma que, segundo os últimos elementos estatísticos, já ultrapassou Tomar em todos os indicadores significativos. Tem mais automóveis, mais telefones, mais telemóveis, mais empresas, paga mais IRS e mais IRC, tem menos desemprego e menos gente a viver do rendimento mínimo. Até já tem mais eleitores que o nosso concelho.
É por causa do Santuário de Fátima, dirão os habituais entendidos. Mas não é bem assim. Claro que Fátima tem a sua importância, até porque se trata de actividades que não estão dependentes do Orçamento de Estado, mas Vilar do Prazeres, Olival, Caxarias, Freixianda e algumas outras, têm em conjunto centenas de micro-empresas florescentes, sobretudo nas áreas da construção civil, do mobiliário e da metalo-mecânica. Tudo isto porque uma parte dos que foram expulsos pela fome e pela miséria, entretanto regressaram, com outra visão do mundo e da vida. Aprenderam a "desenmerdar-se", como eles próprios dizem. A fazerem a sua vida contando com as suas capacidades. Sem estarem à espera que os outros, ou o Estado, ou o Governo, ou a Câmara, ou a Junta, os ajudem, lhes arranjem casa, ou emprego no funcionalismo. Fizeram sua a velha máxima cristã "Ajuda-te e Deus ajudar-te-á". Apenas pedem que os não atrapalhem com burocracias inúteis, com impostos exagerados, ou com exigências ridículas.
Exactamente a mentalidade inversa em relação à maioria dos tomarenses. Aqui cada qual pensa que só tem direitos, que não há obrigações nenhumas para com a comunidade. Julgam por isso ter direito ao alojamento, ao ensino gratuito, à saúde, ao emprego com direitos, à ocupação dos tempos livres, à cultura, às liberdades fundamentais e ao rendimento mínimo garantido. Tudo sem qualquer esforço ou contrapartida. Não interessa quem paga, ou que haja ou não recursos para tanto. São direitos adquiridos e não se fala mais nisso. Por isso Tomar já está como está e vai continuar a decair, se entretanto os tomarenses não mudarem.
Para agravar a situação, conforme já aqui foi escrito anteriormente, o analfabetismo em matéria de noções de economia é confrangedor. Tão acentuado que até impede muitos cidadãos, mesmo entre os eleitos e os militantes, partidários ou não, de perceber que não entendem a situação em que vivem. Daqui resulta que se candidatam ou, nalguns casos, exercem cargos políticos para os quais não têm qualquer capacidade, o que nas actuais circunstâcias pode vir a ser trágico para todos nós. É quase como irmos num autocarro a grande velocidade, com um motorista que não vê grande coisa...
Se ainda havia dúvidas a este respeito, dissiparam-se com uma notícia dada hoje nos jornais televisivos -De acordo com o Eurostat, o organismo europeu da estatística, num inquérito no âmbito dos 15 países que usam o euro, apurou-se que os portugueses são os mais descontentes com a moeda única. 62% dos interrogados, quase dois em cada três, afirmaram que com o escudo estaríamos mais protegidos contra a actual crise económica. Santa ignorância!!! Quando todos os indicadores disponíveis mostram exactamente o contrário, 62 em cada 100 portugueses ainda pensam que com o escudo é que era. Sete anos volvidos sobre a adopção da moeda única! Numa altura em que a Islândia, a Hungria, a Estónia ou a Polónia estão sob perfusão do FMI, com nós estivemos no século passado, precisamente por não fazerem parte da zona euro. Numa conjuntura em que, mesmo na zona euro, fazemos parte do grupo dos países muito doentes, em conjunto com a Irlanda, a Espanha, a Itália e a Grécia...
Não há pior cego que aquele que não quer ver, nem pior surdo que aquele que não quer ouvir. Por isso direi como a fadista -Cantarei até que a voz me doa!

OUTRAS LATITUDES, OUTRAS ATITUDES -BHUTÃO

Foto 1
Foto 2

Foto 3


Foto 4



Alguns leitores deste blogue terão duvidado da afirmação de ontem, segundo a qual no Bhutão há representações fálicas nas fachadas de alguns edifícios de habitação, posto que consideram o pénis com símbolo da criação. Para os que duvidaram, aqui vai um exemplo na foto 4.
Num mosteiro budista, crianças fazem o seu noviciado, para mais tarde serem monges. (foto 1). Na foto 2, outro exemplo iconográfico numa fachada. Na foto 3, uma cena de ternura entre dois monges budistas, no interior de um mosteiro.

terça-feira, 21 de abril de 2009

AO PAIVA AS CULPAS DO PAIVA


António Rebelo

Vou ser directo. Quem quiser ter a humildade de ver a realidade como ela é, verificará sem dificuldade de maior que existem na política local mais recente, dois períodos bem distintos: A) - Uma fase bastante longa em que não participei na vida local, escrevendo na imprensa; B) - Uma fase bem mais curta e recente, que se in1ciou com a minha ida ao jantar da Confraria do Barbo e tem prosseguido até agora, primeiro na imprensa local, depois neste blogue.
Qualquer cidadão dotado de mediana memória se lembrará certamente de que na fase A, em que não participei, as críticas à autarquia e aos autarcas na realidade não existiram. Foi o período em que os eleitos, entre os quais o presidente da Câmara, foram levados a pensar que "tudo como dantes, quartel-general em Abrantes", ou seja, controlando os jornais e as rádios locais ou regionais, os que nos governam beneficiam de uma paz angelical.
Foi por considerar que tal estado de coisas não é próprio de uma democracia adulta, nem saudável para o seu desenvolvimento, que entendi ser meu dever, como obrigação de cidadania, voltar à escrita e à análise serena da realidade local.
Como não tinha nem tenho nada a perder nem a ganhar, ajo com total liberdade e frontalidade. Daqui resultou que, sobretudo no início, fui uma voz solitária. Uma espécie de ave agoirenta cujo grasnar irreverente veio perturbar a bucólica paz tomarense.
Conforme já esperava, pois nasci na primeira metade do século passado, e portanto já vi muito, houve logo gente despachada que lançou a suspeita da praxe, sob forma interrogativa, para não levantar críticas -"O que é que este gajo quer?" Surpresa das surpresas, não quero nada de estritamente material. Nem vantagens, nem facilidades, nem lugares, nem subsídios, nem ajudas. Apenas que as coisas melhorem para a comunidade tomarense. Mas houve outra interrogação implícita e insidiosa -"O que é que o gajo tem contra o Paiva e o PSD?" Absolutamente nada. Nem contra o Paiva, nem contra o PSD, nem contra qualquer outro autarca, nem contra qualquer outro partido ou força política. Sempre me trataram de acordo com as boas regras da cordialidade.
Dito tudo isto, que não é pouco, sinto-me agora na obrigação de esclarecer que António Paiva, que respeito enquanto cidadão e enquanto autarca, embora não concorde com a maior parte do que mandou fazer em Tomar, não é de modo algum o único responsável pelos numerosos erros cometidos, nem pela actual situação de profunda crise. Os seus companheiros de lista, sobretudo, e a oposição, são também responsáveis, embora em partes desiguais.
O que ocorreu na verdade, foi a entrada na política local de uma "ave de arribação de altos vôos", no seio de um grupo local de características homogéneas. A "ave de arribação", formada lá longe num sistema de ensino muito eficiente mas limitado, teve a habilidade de primeiro verificar como agiam os membros do grupo local. De tal forma se saiu bem dessa tarefa que, quando ascendeu à presidência por vitória eleitoral, nunca mais teve dificuldade alguma para implementar as suas ideias. Os seus companheiros de lista nunca lhe negaram os amens e a oposição sempre careceu de fôlego. Daqui resultou a sua forma de governar a autarquia, praticamente ditatorial. O chamado quero, posso, mando e não admito críticas. Como se chegou a tal estado de coisas?
A grande diferença entre António Paiva, por um lado, e todos aqueles que com ele trabalharam, por outro, reside no sistema de ensino que os formou. Enquanto António Paiva foi formado pelo ensino anglo-saxónico, extremamente eficiente, mas que tende a formar "especialistas analfabetos", o que significa especialistas muito competentes mas unicamente na sua área de estudo, os outros são produtos típicos do ensino português. Em qualquer nível de ensino foram treinados para repetirem os ensinamentos do professor. Para se conformarem. Para aderirem ao pensamento único. Para serem "a voz do dono". Daí a incapacidade para se oporem com êxito às opções de António Paiva, mesmo quando era evidente que estavam erradas. Nunca conseguiram argumentar de modo a convencê-lo a mudar, sendo igualmente verdade que ele também nunca foi treinado para negociar as suas opções. Daqui a minha conclusão: António Paiva é culpado, mas os seus companheiros de lista e a oposição também.
Escrevo isto porque, após mais de dez anos de exercício praticamente solitário do poder, António Paiva soube sair a tempo, conseguindo até continuar a governar por entreposta pessoa, situação pouco ortodoxa por estas bandas. Escrevo isto sobretudo porque a oposição parece não ter aprendido nada. Sendo a política "a arte do possível, toda feita de execução", exige um excelente domínio tanto da palavra como da escrita, da argumentação como da conta-argumentação, da oratória como da pragmática. Nestas condições, o que leva cidadãos claramente desprovidos de tais atributos a meterem-se em actividades para as quais não estão nada preparados?
Nas eleições de Outubro, seja qual for o vencedor, quando se tratar de defender os interesses da cidade e do concelho nos areópagos regionais, nos ministérios ou junto de potenciais investidores, como vão conseguir fazê-lo com um mínimo de decência e de eficácia?