quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Continua a mania das farturas...


Numa recente sessão da AM, o senhor presidente Carlos Carrão alardeou despreocupação no que concerne ao passivo da autarquia. Segundo disse, a autarquia arrecadou 34 milhões em receitas e tem um passivo de 32,8 milhões de euros. Além de que as coisas podem muito bem não ser exactamente aquilo que foi apresentado, o CORREIO DA MANHÃ de hoje dá-lhes uma outra dimensão. Que vem a ser esta: a autarquia tomarense está entre as cinquenta que mais aumentaram a dívida entre 2009 e 2010 . Com um aumento superior a 12%, ocupa a pouco honrosa 36ª posição, entre os 308 municípios portugueses. No distrito de Santarém, só mais dois desgraçadinhos a acompanham - Cartaxo, terra de bom tintol, e Santarém que nunca foi bom exemplo para ninguém .
Doravante, a questão passa a ser esta: se em 2010, já em plena crise, os compromissos camarários nabantinos cresceram 12,4%, daí para cá como tem sido? É extremamente fácil elaborar uma listagem de medidas ditas de austeridade, mas extremamente difícil reduzir custos. Sobretudo numa autarquia agora presidida por um autarca que enquanto vereador sempre foi conhecido pelas suas liberalidades, entre as quais as célebres excursões comezaina/tintol/bailarico/palmadas nas costas, o que lhe valeu a alcunha de homem das farturas. 
Uma vez que em 2012 não vai de certeza arrecadar 34 milhões de euros de receitas, nem coisa parecida, como tenciona vir a pagar a cada vez mais volumosa dívida de curto prazo a fornecedores? Com os fundos destinados aos ordenados dos funcionários? Ou com as verbas previstas para assegurar o atempado fornecimento de consumíveis? É tal a fama de caloteira da Câmara de Tomar, que vários fornecedores já "empolam" as facturas, como forma de se ressarcirem dos longos meses de espera. E os contribuintes a desembolsarem. Vamos por um lindo caminho vamos!

O verdadeiro problema

Começa a exasperar ouvir por aí que andam a prejudicar Tomar e a tramar os nabantinos, nomeadamente no caso da reforma do CHMT. Porque a música é velha e relha. Porque só em cabeças pouco e mal artilhadas cabe a ideia segundo a qual, numa democracia ocidental, algum ou alguns políticos resolvem prejudicar intencionalmente uma urbe ou uma região. A realidade é bem diferente e muito desagradável, forçando por isso os pensadores que temos a usarem amiúde o estilo meia bola e força. Chutando com o pé que têm mais à mão, como disse já não me lembro que futebolista. Donde o referido estilo de argumentação redonda, sem ponta por onde se lhe pegue.
O principal problema de Tomar, aquele que por arrastamento provoca todos os outros, são os próprios tomarenses. Mais precisamente a mentalidade dominante na cidade e no concelho. Não de forma deliberada, claro está. Creio que apenas por ignorância, por preguiça e por conformismo se insiste num modelo social que há muito deu o berro por todo o lado. Esse modelo consiste em proteger os incapazes, os incompetentes, os balofos, fazendo simultaneamente todos os possíveis para escorraçar aqueles que pelas suas capacidades poderiam contribuir para mudar a pouco e pouco este pântano político mal cheiroso que é o vale do Nabão. Assim uma espécie de caçada permanente aos inconformistas.
Não é verdade, exclamarão as ratazanas do costume, que vivem bem e nalguns casos até vão engordando à custa do sistema vigente. Pois então vejamos. Desde o 25 de Abril, já vamos no sétimo presidente de câmara. Todos da autodesignada "boa sociedade tomarense" (seja lá isso o que for). Ou seus fiéis serventuários. Olhe-se sem lentes partidárias ou antolhos preconceituosos para a cidade e para o concelho. Estamos melhor do que em 1974? Qual ou quais as obras relevantes de cada um dos sete alcaides citados? Se fosse possível, voltaria a votar em qualquer um deles? Então porque o fez naquela altura? "Lá vamos cantando e rindo, levados, levados sim". Infelizmente.
Ainda restam dúvidas? Seguem dois exemplos concretos. A dada altura, quando se procurava conseguir a construção de um novo hospital em Tomar, após um laborioso convite às duas da manhã em Santarém, consegui trazer a Tomar o então ministro da saúde, o socialista Maldonado Gonelha. Que visitou o hospital velho, concordou com a construção de um novo e até desbloqueou verbas para equipar a clínica que depois veio a ser o anexo de além da ponte. Na altura integrava a bancada do PS na Assembleia Municipal. Cuidam que alguém me agradeceu a iniciativa? Pelo contrário. Liderados pelo então presidente PSD, cujo nome calo porque já não pode exercer o contraditório, os então senhores vogais -um dos quais é hoje senhor deputado municipal e faz parte da Comissão de Saúde- tentaram fazer-me uma espécie de julgamento sumário, alegando que eu não informara da visita ministerial o Exmo. presidente do órgão. O tal conformismo. Politicamente incapazes mas bem comportados e obedientes. Debalde tentei fazer valer como justificação que se tratou de uma visita partidária, pois o ministro era militante PS e eu também. A farsa prolongou-se, aguentei estoicamente, após o que decidi não voltar a sentar-me naquele areópago. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.
Outro exemplo, este sem qualquer implicação da minha parte. Ou quase. Ainda durante a chamada "Primavera Marcelista", aquando da célebre reforma do ensino de Veiga Simão, (ministro socialista após o 25 de Abril), os dois primeiros Institutos Politécnicos criados no país foram o da Covilhã e o de Tomar. No nosso caso porque um dos mentores da reforma era tomarense de nascimento e vivência. Filho de um conhecido causídico, agora até com nome de rua além da ponte.
Quase cinquenta anos mais tarde, o instituto da Covilhã transformou-se na próspera Universidade da Beira Interior, com uma excelente Faculdade de Medicina, entre outras. No extremo oposto, embora apenas a pouco mais de 150 quilómetros da Covilhã e mais próximo de Lisboa, o IPT vai-se arrastando com falta de ar, falta de alunos, falta de professores à altura, falta de qualidade, falta de projecto, falta de originalidade e falta de peso específico. Um cadáver adiado, como já aqui foi escrito. Por culpa de quem? Dos que alegadamente insistem em prejudicar Tomar? Ou apenas mais uma vítima do miserável conformismo nabantino, aliado ao compadrio gritante e esterilizante?

PS - Alguns conterrâneos bem intencionados (e outros nem tanto) vão-me recomendando que não diga mal dos tomarenses. Agradeço os sucessivos reparos. Sucede porém que não tenho nunca a intenção de dizer mal, de caluniar, de mentir ou sequer de dar a entender que. Limito-me a relatar a verdade dos factos, tal como a vejo. Se estou errado, não seria melhor corrigir-me de maneira fundamentada? O tempo do 31 de boca já lá vai e não volta. Como a era das farturas e das vacas gordas. Agora, ou mudam de mentalidade ou mudam de cidade!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

FIXAÇÃO MÓRBIDA

Foto 1
Foto 2
 Foto 3
 Foto 4
Foto 5
O suporte com a planta da cidade, na sua principal entrada, há mais de um ano que está assim como mostra a foto 1. Que se saiba ainda ninguém entre os eleitos se incomodou com tal estado de coisas. Pelo menos por escrito. Logo ao lado, as improvisadas latrinas ciganas ornamentam a margem do Nabão (fotos 3  e 4) e perfumam a atmosfera da zona há mais de 30 anos, sem que os senhores autarcas se mostrem minimamente envergonhados, ou sequer indignados. Quanto aos moradores, já se cansaram de protestar. Os que podiam mudaram-se. Os outros armaram-se da conhecida santa paciência... Afinal estamos em Tomar!
Um pouco mais longe, onde se previa a elegante urbanização "Largo da Estação", a limpeza urbana é o orgulho de todos os tomarenses que por ali passam (foto 3). Em plena área urbana da freguesia de S. João, onde se situam os Paços do Concelho. A partir deste exemplo não é difícil imaginar a situação nas freguesias mais afastadas...
São apenas três casos, das dezenas de encrencas tomarenses, provocadas pelos autarcas que temos tido e agora pela relativa maioria. Cujo líder, mesmo perante tantas desgraças, ainda ousa pensar que "se o trabalho neste ano e meio que falta de mandato for positivo... ...não vejo que a Comissão Política possa pensar noutras opções para candidato a presidente da câmara." Parafraseando um conhecido escritor, é caso para dizer que "comprando este presidente de câmara pelo seu real valor, e vendendo-o depois por aquilo que ele julga valer, ganhava-se um Euromilhões dos mais chorudos."
Apesar de tanta asneira, tanta inépcia e tanta basófia, até agora só os dois vereadores socialistas resolveram afastar-se de facto da relativa maioria, que devia governar mas se limita a ocupar os lugares. A outra componente do executivo, os dois eleitos IpT, continua a denotar uma espécie de fixação mórbida pelos detalhes, em detrimento do fundamental. Contestam, protestam, declaram, exigem, sem contudo tirarem o tapete ao trio liderado por Carrão. Porque será?
Na mesma linha está a Comissão de Saúde, cuja actuação não tem sido até agora a mais saudável para os tomarenses. Pelo contrário. Que um ou outro cidadão mais extremista exija a suspensão imediata e sem condições prévias da reforma hospitalar em curso, entende-se. Desde Maio de 68, data do nascimento oficial do esquerdismo (maoistas, trotskistas, pró-albaneses e titistas) que se tornou corriqueiro ver o Partido Comunista ultrapassado pela esquerda. Contudo, será a primeira vez em Portugal que uma comissão de eleitos com centristas, social-democratas, socialistas, comunistas e bloquistas; com todo o leque político, portanto, se apresenta com tal tipo de reivindicação. Ainda por cima com o apoio implícito de uma corja de aldrabões devidamente industriados para enganar os eleitores, com falácias de todo o tipo. O hospital vai fechar, a Diamecon vai comprar o 6º piso, o BES Saúde e o Mello Saúde estão interessados na privatização, estão a prejudicar Tomar para beneficiar Abrantes e Torres Novas, estas reformas em vez de reduzirem aumentam as despesas, etc. etc.
Quando se procurou sossegar a opinião pública, esclarecendo a situação e informando que em vez da urgência cirúrgica haveria sempre à porta dos hospitais de Tomar e Torres Novas  ambulâncias medicalizadas, esses tais arautos do progresso e da defesa dos trabalhadores enveredaram pela insinuação: não há ambulância nenhuma e se houver é porque uma empresa privada, liderada pelo médico X, as vai alugar ao CHMT. Até indicaram o nome do médico, que por decência agora se omite.
Vai-se a ver, na data prevista, mais coisa menos coisa, aí estão as ambulâncias (Foto 5). Do INEM e com funcionários públicos. Pois nem assim os ânimos se acalmam. Está prevista para quinta-feira uma marcha de luto e de protesto, rumo ao hospital de Tomar, onde serão depositadas flores. Suponho que por alma dos políticos locais que não conseguirem resistir às consequências de mais uma frustração dos eleitores nabantinos. Porque uma coisa parece certa: Há na Comissão de Saúde eleitos conscientes e bem intencionados, que se deixaram levar na onda. Infelizmente também lá há outros que não honram minimamente as funções para que foram eleitos. Não é com calúnias, insinuações, atoardas e meias verdades que se mobiliza uma população para determinada causa. A verdade é como o azeite na água. Depressa aflora à superfície.

Os pontos nos is

Era para escrever sobre o previsto cortejo fúnebre "Uma flor pela saúde em Tomar". Para dizer que não entendo e explicar a minha posição. Já não sei bem como, o pensamento foi indo da inicial incompreensão até uma entrevista lida ontem. O fio condutor foi a constatação de que Tomar está afinal na periferia da periferia da periferia da Europa. Onde as coisas realmente são decididas.

Aqui vai a tradução dos principais excertos da citada entrevista: "Este livro é um grito de raiva, de revolta. Escrevi-o em Outubro, de enfiada. Ditei-o, porque viajo muito. Estava e estou chocadíssimo com a inanidade das intervenções políticas; com a vacuidade do debate.
... ...Falamos dos nossos problemazinhos sem olharmos para o resto do mundo. Acontece que é do exterior que vêm as ameaças mais graves. O capitalismo entrou numa crise profunda, não se prevê por agora qualquer retorno à normalidade. Nada voltará a ser como antes... ... A direita mente quando nos pretende convencer de que trabalhando mais voltaremos a ter crescimento económico. É falso! É sobre este ponto que a esquerda deve despoletar o confronto de ideias. Estamos lançados para anos e anos de fraco crescimento económico; talvez mesmo de recessão. Há que dizê-lo com clareza e começar desde já a pensar um mundo que terá de ser radicalmente novo.
Estou pessimista, pois a crise financeira ainda não foi resolvida. É verdade que a situação é agora ligeiramente melhor na zona euro, mas o nível do endividamento americano é faraónico. Na China, há a expectativa de uma redução dos preços do imobiliário, da ordem dos 50% no mínimo. Sucede que essa bolha é quatro vezes maior que a dos subprimes, que desencadeou a actual crise. Por conseguinte, quando a bolha chinesa rebentar, os estragos vão ser incomensuráveis. Antes de mais, portanto, é urgente o retorno a um pouco de estabilidade.
Julgo ser impossível um crescimento económico sustentado porque não padecemos de uma só, mas de várias crises em simultâneo. Supondo que consigamos enquadrar e regulamentar a finança internacional, serão necessários ainda assim longos anos para desendividar os Estados. E temos também o "pico do petróleo" que faz dobrar os sinos pelo nosso modelo de prosperidade. Acabou a era do petróleo barato. O consumo continua a crescer, enquanto que as reservas disponíveis são cada vez menos. O aumento dos preços é assim tão inevitável como importante. O que vai agravar o poder de compra. A  recessão está aí. O rápido crescimento económico acabou de vez.
... ... Relendo Chateaubriand, Léon Blum, Hannah Arendt, Georges Friedmann, apercebêmo-nos que todos previram o fim do trabalho. E na época respectiva estava-se em situação de pleno emprego. Por conseguinte, a redução do tempo de trabalho não estava ligada ao desemprego. Na verdade, depende exclusivamente da produtividade, que cresce continuamente. Esquecêmo-nos de ser radicais nas nossas maneiras de pensar. O que trava a busca de novas formas de regulação societal.
No futuro teremos sociedades menos mercantis, menos dependentes da competição, menos cúpidas,  organizadas em função de mais tempo livre."... ...


Michel Rocard, Le Monde, 26-27/02/2012, página 4
Michel Rocard, Mes points sur les "i", Odile Jacob, Paris, Fevereiro 2012, 19€

O francês Michel Rocard, 82 anos, enarca, inspector de finanças aposentado, fundou o PSU, aderiu ao PSF, foi presidente de câmara, deputado, ministro e primeiro-ministro. Actualmente é conselheiro do Partido Socialista Francês.

Se depois de terem lido tudo isto ainda tiverem vontade de participar na já referida marcha funerária, que vos faça bom proveito.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Uns são opacos, os outros pouco nítidos

As próximas eleições internas do PSD, nas quais Carlos Carrão joga o seu futuro político, parecem desde já enfermar da crónica maleita tomarense: falta de clareza e de substância. Pelas bandas do simpático João Tenreiro (que um conhecido cidadão alcunhou de "João Tenrinho") sabe-se que a sua candidatura não é contra ninguém e conta como mandatário com um tomarense de reconhecido lastro cultural -Luís Pedrosa Graça. Quanto a linhas de orientação programática, se as havia mesmo no bem redigido comunicado, confesso que me escaparam completamente.
Do lado do agora presidente por sucessão Carlos Carrão (rima e é verdade) também já foi dito que a lista não é contra ninguém. O que, seguindo o mais lógico dos raciocínios, nos leva à conclusão oposta. Se ambos os candidatos se proclamam consensuais, será certamente por existir pelo menos uma embrionária fractura. Caso contrário haveria uma única lista. E nem sequer refeririam esse detalhe. Ou estarei a exagerar? 
Outro ponto em desfavor do candidato Carrão, além da já assumida discordância com algumas posições da actual comissão política, resulta do facto de ter afirmado publicamente que conta com o apoio de Miguel Relvas, sem que todavia este tenha até agora vindo a terreiro autenticar tal asserção. Mau indício, portanto.
Em todo o caso, qualquer que venha a ser o resultado do referido escrutínio interno e o respectivo vencedor, a continuar pelo actual percurso, ainda não será desta vez que os social-democratas nabantinos ficarão artilhados com um projecto-programa à altura da grave conjuntura que atravessamos. A menos que os candidatos se estejam a guardar mais para o fim e venham ainda a brindar os seus companheiros e os tomarenses em geral com um viático promissor para o que vamos todos ter de padecer. Oxalá!

Acabou mal a caçada aos fundos europeus. E agora?!

Tendo em conta o costumeiro mimetismo político ibérico, a actualidade aponta no sentido da concessão de um resgate colectivo aos pupilos do senhor Ruas, ou seja praticamente à totalidade dos municípios portugueses. Em Espanha, o governo Rajoy acaba de ceder nesse sentido aos municípios e às autonomias, de forma que na ocidental praia lusitana a coisa não deve tardar. Até já se ouve por todo o país o suave ruído do esfregar de mãos, tal o contentamento antecipado. O pior é o mais mau. Cometerá um erro monumental o governo PP Coelho, caso ceda sem conseguir obter previamente garantias substantivas de que não se repetirão os erros, as azelhices e as golpadas que conduziram à triste e delicada situação actual. Embora noutra escala, exactamente o mesmo que a tia Merkel e os seus parceiros parcimoniosos, a Holanda e a Finlândia, tentam de forma denodada conseguir dos gregos. E que obtiveram dos portugueses e dos irlandeses -a garantia firme de que jamais voltarão à caça desenfreada aos dinheiros de Bruxelas. Salvo, bem entendido, quando se trate de investimentos rapidamente reprodutivos.
Na Grécia, as coisas estão como todos sabemos. Com tanto banzé, tanta aselhice, tanta golpada e tanto faz de conta, até um ministro da senhora Merkel já declarou à revista semanal Der Spiegel que a melhor solução para a zona euro é subsidiar a Grécia para que ela saia. Apesar do segundo resgate de 130 mil milhões de euros e do perdão de mais 106 mil milhões. Um verdadeiro poço sem fundo, como disse aquele ministro alemão das Finanças, imobilizado das pernas mas não da cabeça.
Em Portugal, as coisas parecem no bom caminho, havendo porém dois obstáculos de muito difícil transposição: a caduca esquerda portuguesa (não é certamente por mero acaso que na Europa Ocidental o partido comunista com mais expressão eleitoral é o português), que não se cansa de reclamar medidas de tipo keinesiano, como se houvesse dinheiro disponível para isso e a situação melhorasse pelo aumento do consumo; e a terrível seita dos presidentes de câmara, todos partidários de reformas estruturais e de mudanças radicais, desde que tudo possa continuar na mesma. Desde que possam continuar o saque a Bruxelas e a Lisboa, entidades canalizadoras dos impostos que todos pagamos, para obras de fachada que apenas a ânsia de protagonismo e a reeleição justificam.
No que concerne a Tomar, não é preciso fazer um desenho nem escrever longas frases. A população já percebeu -julgo eu- que quando se vota sem saber bem em quem nem porquê, depois pagam-se as favas. E de que maneira! Nestas condições e à cautela, uma vez que o senhor Carrão acaba de anunciar a sua entrada em campanha para Outubro de 2013 (ver post anterior), convém enumerar desde já as principais tarefas do futuro executivo, seja ele proveniente de eleições intercalares ou definitivas: 1 - Mudar a mentalidade dos funcionários municipais, de maneira a conseguir que percebam e se comportem em conformidade com uma evidência -são eles que estão ao serviço dos cidadãos, e não o inverso, como agora sucede; 2 - Dizer claramente às chefias de todos os níveis que na autarquia e em todos os domínios quem lidera gere e manda, em primeiro lugar e acima de todos os outros, são os eleitos do executivo; 3 - Acabar definitivamente com as adjudicações do tipo "concepção-execução", por razões que os interessados bem conhecem; 4 - Instruir as chefias superiores no sentido de apresentarem para cada problema que lhes é submetido pelo executivo no mínimo duas soluções distintas; 5 - Adjudicar unicamente empreitadas com detalhado plano de exploração e amortização, salvo excepções por motivos de força maior, devidamente elencados por escrito (acidente, calamidade...).
É óbvio que tudo isto implica a prévia elaboração de um plano a curto, médio e longo prazo, a apresentar aos cidadãos antes ou durante a campanha eleitoral, de forma a que possam votar informados e a que a formação vencedora possa implementar o projecto sufragado sem mais delongas, uma vez que para isso foi eleita. Sem tudo isto, nunca mais saímos da cepa torta.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

OS CÁLCULOS DE CARLOS CARRÃO


Detalhe das obras da Estrada de Coimbra, agora concluídas. Observe-se o cuidado do projectista neste passeio do lado direito de quem sobe. Para obrigar os cidadãos de muletas, canadianas ou cadeira de rodas a fazer um pouco de exercício, previu ali uma árvore que apenas dá uma hipótese aos menos capacitados em matéria de locomoção: descer para a faixa de rodagem, com todos os perigos daí resultantes. Um típico drama tomarense. Com tanto autarca e tanto técnico, não há quem repare nestes óbices, que se vão repetindo de obra para obra. Os cidadãos que se lixem. Paguem e não bufem!

Em declarações à Rádio Hertz, que podem ser consultadas aqui, Carlos Carrão teve esta brilhante tirada: "Se o trabalho neste ano e meio que falta de mandato for positivo e favorável ao concelho, não vejo que a Comissão Política [do PSD/Tomar] possa pensar noutras opções para candidato a presidente da câmara. Se as coisas correrem mal, então serei mesmo eu a julgar que não terei condições para me candidatar." Há nesta  confissão três aspectos que entendo deverem ser relevados. 
Em primeiro lugar, sendo do domínio público que a actual maioria relativa não dispõe de quaisquer planos a curto, médio ou longo prazo, para a cidade ou para o concelho, não se entende de todo como poderá o autarca e candidato a candidato vir a aferir a qualidade do trabalho entretanto realizado. A olho? Por mero palpite?
Em segundo lugar, teria sido oportuno questioná-lo sobre as tarefas por ele realizadas nos últimos 14 anos, particularmente desde 2009. Numa pergunta: Se as eleições fossem a semana que vem, seria cabeça de lista ou não? A resposta dar-nos-ia uma ideia da bitola que tenciona usar para avaliar o seu trabalho e o dos seus vereadores.
Em terceiro lugar, como bem sabem os gestores competentes e os militares capazes, nunca devem existir coisas que correm bem ou mal. Apenas bom ou mau planeamento, liderança eficaz ou ineficaz, execução correcta ou deficiente. O resto é música para lorpas.
Uma vez que, com já foi referido acima, os membros do executivo não dispõem de quaisquer planos capazes, susceptíveis de servir para aferir pelo menos a capacidade de execução, aqui se deixa uma vez mais uma listagem de problemas a aguardar solução há vários anos. Se um mês antes das próximas autárquicas (dando de barato que entretanto não haverá intercalares) a equipa do senhor Carrão tiver encontrado e implementado soluções para pelo menos metade deles, então poderá candidatar-se, com algumas hipóteses de não vir a ser cilindrado pelos opositores. Caso contrário... 
Eis o rol das principais desgraças concelhias: Ciganos do Flecheiro, Elefante Branco da Levada, Hotel de charme no ex-Convento de Santa Iria, Mercado, Mercado abastecedor, Conclusão das obras da envolvente ao Convento, nomeadamente a questão do Alambor templário, Parque Temático prometido há dois mandatos, Golfe dos Pegões, Hotel na Quinta da Granja, ParqT, TUT, Açude de Pedra, Fábrica da Fiação, Bairro 1º de Maio, Ex-esquadra da PSP, Convento de S. Francisco, Estacionamento de autocarros de turismo, Bairro Senhora dos Anjos, Pavilhões da FAI, Avessadas, Limpeza do rio,  Museu do Brinquedo, Parque de Campismo, Hortas ecológicas comunitárias, Conclusão do saneamento básico no Centro Histórico, Fusão de freguesias, Redução de Chefias, Dividas a fornecedores, Ligação cidade/castelo/cidade, Desenvolvimento turístico sustentado. Pouca coisa como se vê. Com o excelente contexto nacional e internacional que temos e teremos até 2013, no mínimo, estou certo que, para usar a linguagem do presidente Carrão, vai tudo correr bem aos autarcas tomarenses. Tanto mais que se prevê uma nova chuva de milhões de euros da UE, no dia de S. Nunca, à tarde...
Há cada maduro na política portuguesa!

Ler o que não está escrito

Em Portugal parece ir-se perdendo a pouco e pouco o hábito saudável de ler nas entrelinhas. Perceber o que, não estando escrito, constitui contudo o essencial da mensagem. São sobretudo os autores de textos humorísticos, irónicos ou satíricos que brilham nessa difícil arte de dar a entender sem todavia mencionar. Há até órgãos de informação especializados nessa área. É o caso do Canard Enchaîné, uma verdadeira instituição nacional francêsa, apesar de se tratar de um antepassado anafado e afastado do Inimigo Público, o suplemento humorístico do jornal Público.
No nosso país temos também alguns autores satíricos de grande qualidade. Para além do referido suplemento humorístico, é sempre um imenso prazer saborear as Cartas Abertas do Comendador Marques de Correia, no EXPRESSO-Revista. Eis a edição de ontem, com particular interesse para os tomarenses que conseguem ver mais longe que o fundo da rua onde moram:


Já leu atentamente? Já intuiu o essencial? Já deduziu o que há a deduzir? Ainda pensa que o melhor para Tomar seja continuar a contestar a reforma hospitalar em curso? Persiste em crer que a destituição da mesa da AMT é o melhor caminho para conseguir a subsequente queda do executivo, seguindo-se eleições intercalares? Não será melhor negociar esse mesmo processo com o presidente que pretendem destituir? Alguma vez aprendeu a jogar à sueca sem fazer batota? Nesse caso, como se explica que agora não saiba minimamente usar os trunfos de que dispõe? Miopia política? Ou cangalhas partidárias?

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Mercado biológico, uma excelente iniciativa a desenvolver



Esteve animado o Mercado biológico, cuja primeira edição ocorreu esta manhã ao fundo da Corredoura. Inicialmente uma ideia do então vereador do turismo e da cultura Luís Ferreira, foi felizmente retomada e agora implementada pela sua sucessora Rosário Simões. Participaram 12 vendedores, praticamente todos de fora do concelho, com legumes, fruta, compotas, azeite, pão, bolos, vinho e ervas medicinais. Tudo cultivado ou feito com produtos ecológicos, sem a utilização de adubos de síntese ou pesticidas.
Em conversa com a troika PSD que dirige a autarquia, foi referido que futuramente haverá em cada banca um certificado de garantia de organismo idóneo, de forma a evitar eventuais abusos. Por seu lado, o presidente Carlos Carrão manifestou o seu interesse em vir a facultar pequenas hortas comunitárias aos munícipes, para que nelas possam praticar agricultura biológica, tanto para consumo próprio como para venda, justamente neste mercado, que terá lugar na manhã do último sábado de cada mês. Se assim vier a acontecer, será mais uma acção a encorajar, tanto mais que os citadinos tomarenses não parecem muito interessados numa actividade manual, que faz calos e suja as botas. Uma vez que ninguém gosta de ser qualificado de borrabotas, logo se verá se há candidatos suficientes para as hortas ecológicas a disponibilizar pelo município. Mas não é fácil...
Sobre o local escolhido para a colocação das bancas -ao fundo da Corredoura, quando durante séculos o mercado se realizou na Praça D. Manuel I, agora Praça da República, a vereadora Rosário Simões referiu ter assim decidido por causa da sol. Já um munícipe tomarense bem conhecido, mas que deseja manter o anonimato, achou muito bem a nova localização e pediu calma. -"Como nunca mais arranjam o outro, já foi muito bom virem até aqui, logo na primeira vez. Agora, com um pouco mais de paciência, ainda veremos outra vez o mercado em frente à câmara. Tem de se ir a pouco e pouco!"

Um silêncio ensurdecedor

712 pessoas visionaram Tomar a dianteira nas últimas 24 horas. Apenas um tal Zorro não sei quantos comentou, queixando-se de censura e hábitos de ditador. O coitado ou coitada não deve ter lido a recente advertência, na qual foi dito que apenas são publicados os comentários devidamente identificados, com nome e foto. Ou, em alternativa, desde que mediante prévio mail para o endereço electrónico indicado no cabeçalho, a administração do blogue fique a saber de quem se trata, apesar de o nome verdadeiro não ser publicado.
Significa isto que passámos à fase das coisas sérias, com a generalidade dos tomarenses que frequentam a blogosfera a entender finalmente que daqui para a frente é mesmo a doer. Quem tem soluções exequíveis, vai ser forçado a avançar; quem apenas tem andado a empatar, será forçado a ir reinar para outro lado. Ou terá de se calar definitivamente, sob pena de vir a cair no ridículo. Formações politicas praticamente unipessoais chegaram ao fim do seu quarto de hora de fama. Doravante, ou fazem, ou abandonam a ribalta a quem saiba e tenha algo a dizer. É de extremo mau gosto tentar usar mortos como pretexto para a acção política, e a contestação anti-reforma hospital passou ao estado terminal, com morte anunciada para o dia em que o tema for debatido, por imposição legal, no plenário da AR. Nestas condições, para que serve insistir, quando não se dispõe de qualquer solução alternativa para o problema em causa?
A política nunca deve ser como no futebol, onde muitas vezes se joga apenas para queimar tempo, entreter a assistência e procurar manter o resultado, conseguido com alguma sorte. Caso contrário, aumentará o descrédito dos eleitos que já é considerável, particularmente em Tomar, onde a generalidade da população não entende o que andam os eleitos locais a fazer e para quê. Aqui fica o reparo. Sobretudo para antigos praticantes do desporto-rei.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Manobras de diversão...

A sessão desta tarde da AMT começou de forma animada. Conforme anunciara previamente, a CDU apresentou uma proposta de destituição da mesa, que nenhuma das outras formações aceitou sequer para discussão e posterior votação. Na verdade, embora tratando-se de uma iniciativa perfeitamente lícita, não deixa de ser curioso que, numa altura em que a contestação anti-reforma do CHMT começa a dar sinais de cansaço, surja mais este expediente, oriundo da mesma bancada que desencadeou de forma encapotada a dita contestação. E que ainda não conseguiu explicar cabalmente as vantagens da pretendida mudança da mesa da AM. Só para entreter o pagode?
Há ainda, é certo, a petição de 7.500 assinaturas ontem entregue na AR, que deverá ser debatida no plenário. É porém evidente, penso eu,  que já todos conhecem o desfecho: chumbo por parte do PSD e do CDS, como é sabido com folgada maioria. A seguir, o quê no Vale do Nabão?
Aparentando ter em conta tudo isto, a actual presidente do PS local, Anabela Freitas, alertou para a estranha realidade política tomarense, clamando que além da problemática do hospital, mantêm-se sem solução todos os outros problemas, que são muitos.  E citou vários, entre os quais o mercado, questionando se há ou não há projectos. As dúvidas da eleita socialista, se outro efeito não tiveram, pelo menos contribuíram para evidenciar mais uma vez que a actual maioria relativa continua a ocupar os cadeirões do executivo, mas ninguém sabe para quê. Nem os restantes vereadores, nem a população em geral. Isto porque, para além de embolsarem os vencimentos e outros réditos, bem como despachar assuntos de lana caprina, pomposamente designados "de gestão corrente", não consta que tenham qualquer projecto ou outra solução, mesmo improvisada, para os seguintes berbicachos: Ciganos, Mercado, Alambor, Levada, Mercado abastecedor, Bairro 1º de Maio, Bairro Senhora dos Anjos, Estalagem de Santa Iria, Desenvolvimento turístico, Gabinete de acolhimento e apoio aos investidores, Bragaparques, TUT, Parques de estacionamento, Parque de Campismo, Limpeza urbana, Conclusão do saneamento no Núcleo histórico, Convento de Santa Iria e Colégio Feminino. Julgo não exagerar considerando que me parece demasiada fruta para três árvores de pequeno porte político. Anabela Freitas bem se esforçou, o que todavia não significa que consiga respostas substantivas a curto prazo. A não ser que se perspectivem eleições intercalares, porquanto nesse caso cada qual terá de apresentar a respectiva mercadoria. Quem não quiser ou não puder, perde de certeza. Tal como na sueca, é agora a altura ideal para cada força política colocar na mesa os trunfos de que dispõe...

SE VIRES AS BARBAS DOS VIZINHOS A ARDER, VAI PONDO AS TUAS DE MOLHO

"TRIPLO A NA EUROPA DO NORTE, TRIPLA RUÍNA NA EUROPA DO SUL"


"Jerez de la Frontera, na Andaluzia, é uma cidade espanhola de 212 mil habitantes, célebre pelos seus vinhos e pelo seu circuito de fórmula 1, onde Ayrton Senna venceu uma vez um Grande Prémio por 14 milésimos de segundo. Pois a cidade tem doravante uma outra especialidade. Está falida.
Os funcionários municipais e os do sector público local não recebem desde Dezembro. Os transportes públicos estão em greve e, por falta de combustível, os que ligam as zonas rurais dos arredores asseguram apenas metade das carreiras. As instalações desportivas do município estão encerradas há um ano, porque lhes cortaram a electricidade, por falta de pagamento. 33% da iluminação pública também já não acende. O prédio da Acção Social, inaugurado há um ano, também já não tem ar condicionado. Os funcionários trabalham graças a um gerador a gasolina e sem aquecimento.
Há várias manifestações  diárias, desde ocupações a reclamações de toda a ordem. Um dia são os polícias municipais, no outro os coveiros dos cemitérios, a seguir as funcionárias da assistência social, na impossibilidade de pagar os subsídios de sobrevivência, porque a câmara não tem dinheiro.
Jerez começou o ano de 2012 sem dinheiro em caixa. Com um orçamento de 222 milhões de euros, tinha no final de 2010 uma dívida global de 958 milhões de euros. Parou então a corrida ao endividamento. "Estrangulada, Jerez agoniza", resumia o El País de domingo 19 de Fevereiro. Em Espanha são às dezenas as cidades arruinadas como Jerez de la Frontera.
Mas o leitor daquele diário espanhol sente-se menos só ao ler as páginas com o noticiário internacional. Segundo o citado jornal, os vizinhos portugueses sofrem "num inferno particular", "vivem troikados". "Troikado" é um neologismo para designar os três países vigiados pela troika, desde que a  Zona Euro forçou a Grécia, a Irlanda e Portugal a pôr em ordem as finanças públicas.
Viver "troikado" é por assim dizer como viver em Jerez, mas tendo como brinde a visita dos funcionários estrangeiros que vêm aconselhar os governos respectivos. "Ali estão eles, na foto do Diário de Notícias, a atravessar o Terreiro do Paço, em Lisboa. Jovens, modernos, sorridentes, fato completo e 
gravata, óculos de sol e computadores portáveis nas pastas pretas", escreve o jornalista do El País. E esta imagem contrasta terrivelmente com a de um país que se esboroa, no qual as ambulâncias já não saem, se fecham escolas porque há menos 10% de professores e as magníficas auto-estradas estão desertas. Como que resignadas perante "esta vida a andar para trás de dia para dia". Apesar disso, os portugueses são mais pacientes que os habitantes de Jerez.
Exactamente o oposto dos gregos, como todos sabemos. Ninguém segue as notícias da Grécia com mais atenção do que os espanhóis. Com uma espécie de curiosidade típica dos presidiários e uma ideiazita reconfortante de que mesmo assim o presídio grego ainda é pior que o espanhol. Em Atenas, ao cair da noite, lê-se no El País, "quando os turistas se vão embora, os sem abrigo começam a concentrar-se nos passeios, nos largos e nos portais, protegidos por cartões, mantas e cobertores. Algumas praças transformam-se em autênticos dormitórios ao ar livre e na Rua Sófocles distribuie-se gratuitamente sopa aos pobres."
É esta a realidade em 2012, a sul da zona euro. A Itália de Mário Monti entrou também em regime de austeridade, mas a vida italiana é diferente. A fuga ao fisco transformou-se no inimigo público nº 1, com um novo tipo de crime. Mais vale trazer a declaração de IRS no porta-luvas do Maserati, pois os controles são frequentes. É mesmo uma das razões pelas quais as medidas de austeridade são mais toleradas em Itália, ou mesmo em Espanha, do que na Grécia: os governantes procuram demonstrar que os sacrifícios não são só para as classes médias e populares.
O primeiro-ministro italiano Mário Monti renunciou os seus vencimentos como presidente do conselho e como ministro da economia, e obrigou a igreja católica a pagar impostos, o que nunca acontecera. Em Espanha, o presidente do governo Mariano Rajoy reduziu o seu salário anual para 78.185 euros ilíquidos, enquanto que o do presidente francês Sarkozy é de quase 240 mil euros.
Os apresentadores de televisão e os gestores públicos "aceitaram" reduções salariais entre 25 e 30%, enquanto que os vencimentos de todos os funcionários públicos espanhóis baixaram 5% em 2011 e estão congelados em 2012. Em contrapartida, como sublinha o economista francês Jean Pisany-Ferry, a Grécia reduziu o salário mínimo para 483 euros, mas não parece incomodar-se  com "a evasão fiscal dos 10% do topo, que se traduz numa perda de 25% das receitas totais do IRS." Tão flagrante injustiça perante os sacrifícios, não é politicamente nem socialmente sustentável.
Outrora dividida entre o Leste e o Oeste, a Europa sofre agora uma nova e gritante divisão: a fractura Norte/Sul. O norte da zona euro é a Europa do triplo A, do crescimento económico, mesmo moderado, dos serviços públicos eficazes e das taxas de desemprego toleráveis. É a Europa terra de acolhimento para imigrantes qualificados.
Ao sul da zona euro fica a Europa da tripla ruína, da recessão e do desemprego, onde o endividamento excessivo conduziu às situações acima descritas. Os jovens e os diplomados fogem desta Europa "troikada", em busca de postos de trabalho, na América do Norte, do Sul ou até em África.
Será possível aguentar tais desigualdades durante muito mais tempo? A pergunta é pertinente, particularmente em França, que é um país-charneira, simultaneamente da Europa do Norte e da Europa do Sul, mas que, em termos de disciplina orçamental e de endividamento público, está mais próxima do sul que do norte. Não é certamente mero acaso se, de acordo com uma recente sondagem do IFOP (Instituto Francês da Opinião Pública), metade da população francesa e 63% dos operários receiam uma crise como a grega em França."


Sylvie Kaufmann, Le Monde, 22/02/2012, página 16

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Temas da imprensa regional


Para os leitores assíduos de Tomar a dianteira, a imprensa regional desta semana praticamente não tem qualquer novidade, salvo uma ou outra questão de detalhe. CIDADE DE TOMAR destaca a aguardada renúncia de Corvêlo de Sousa e a anunciada candidatura de Carlos Carrão à liderança do PSD local. Foca igualmente o caso daquele munícipe que na reunião pública da autarquia  denunciou casos de suborno e aludiu aos fiscais, perante um executivo camarário que não parece ter ficado muito incomodado. Será que o objecto da denúncia já é afinal do conhecimento geral? E não haverá providências a tomar? Já não vale a pena? Estamos na fase do "deixa arder que é na cortiça?"
Também os carnavais concelhios são notícia no semanário de António Madureira, que atribui ao de Tomar uma afluência de 20 mil pessoas. A mim parece-me demasiado, mas enfim. Nestas coisas, o melhor é mesmo estabelecer entradas pagas para todos. Depois é só contar os "canhotos" dos bilhetes vendidos. Ou anotar a contagem dos talões electrónicos. Quanto à questão de ter havido dois carnavais a menos de dez quilómetros  um do outro, conviria ser claro e rigoroso. Se realizados unicamente com fundos privados, nada a obstar. Estamos num país livre onde cada qual pode fazer o que entender, desde que respeite os normativos em vigor. Com a ajuda de fundos públicos, de todos os que pagam impostos, a situação é outra. Numa altura de grande crise, não se compreende que sejam subsidiadas duas realizações concelhias simultâneas e semelhantes. É meu entendimento que para o futuro o presidente da edilidade deve procurar que as duas comissões organizadoras cheguem a acordo, no sentido de haver um único cortejo, a desfilar duas vezes, uma no domingo num dos sítios, outra na terça-feira, no outro. Caso não haja acordo, também não deverá haver subsídio. Quaisquer que venham a ser os argumentos usados.
A gala realizada no Cine-Teatro para homenagear as personalidades do ano tem naturalmente tratamento desenvolvido no MIRANTE, o semanário organizador. Há fotos de todos os galardoados. E por falar em fotos, com o título "Manifestantes tímidos" mostram na secção "Cavaleiro Andante" um grupo de pessoas à porta do cinema "concentradas para apupar o ministro Miguel Relvas devido à reorganização do Centro Hospitalar do Médio Tejo". Acontece que lá estou, bem ao meio da fotografia e, só quem não me conhece mesmo, terá podido imaginar que ali estava para apupar quem quer que seja. Crítico severo e por vezes impiedoso, não nego. Agora mal educado, nunca! Aqui fica a correcção, esperando que o semanário faça outro tanto.
"Matadouro da CITAVES fecha em Março" é a notícia do TEMPLÁRIO que os outros dois jornais não abordam. Perdem-se assim mais 77 empregos, num concelho cada vez mais atingido pela crise, com a consequente perda de postos de trabalho. Infelizmente, o actual executivo não faz a menor ideia de como alterar o panorama local, que desde há anos vem provocando a saída de naturais do concelho rumo a regiões com oportunidades, ao mesmo tempo que desencoraja o investimento com carências básicas ao nível da informação actualizada e exigências exorbitantes, aliadas a prazos que já no século passado, antes do advento da electrónica, eram intoleráveis, quanto mais agora.
Trata-se de algo fulcral. Ou os futuros autarcas mudam totalmente de estilo de actuação (uma vez que estes, os que estão, são já um caso perdido), ou o melhor para os mais novos será começar desde já a preparar as malas, que por aqui nem bom vento nem bom achamento.
Nota final para um caso de bruxaria no Centro histórico de Tomar. Está na página sete e leva-me a pensar que aqui onde estou a escrever, no dito centro histórico, ainda habita gente pré-histórica, que até usa uma pitada de sal "para cortar o efeito" do bruxedo.  Que pelos jeitos deve ser insonso...

AFIGURAÇÕES NABANTINAS...


Uma solene comitiva tomarense, integrando cidadãos que se consideram a vanguarda das forças vivas concelhias, rumou esta manhã a Lisboa., no autocarro do município. Foram entregar na Assembleia da República uma petição com mais de sete mil assinaturas, a favor da suspensão imediata da reestruturação em curso do CHMT. A esta hora estarão decerto convencidos que causaram forte impacto nos deputados presentes, tal é a força da razão tomarense. Pura ilusão, creio eu. Desde logo, porque não terão coligido informação suficiente para enquadrar a nossa real situação no todo nacional e no actual contexto. 
Caso se tivessem dado ao trabalho de efectuar essa útil preparação prévia, evitariam figuras tristes, que traduzem muito claramente a incapacidade de muitos conterrâneos para entenderem cabalmente o mundo em que vivemos. Que já não é o de há dois anos, quanto mais agora o do século passado! Enquanto os arautos da contestação desperdiçam tempo e energias, em acções cuja utilidade é na prática quase nula, outros concelhos vão tratando da vida, preparando o futuro e procurando criar riqueza pela audácia e pela inovação, com os pés bem assentes na terra.
Tal é o caso desta manchete do Jornal de Leiria, noticiando  que o Município de Óbidos reabilita e dá nova afectação a uma igreja da vila. Enquanto isto, em Tomar, o antigo Convento de Santa Iria continua a aguardar o príncipe encantado que o transformará em "Hotel de Charme de pelo menos quatro estrelas e 60 quartos." Mais uma das frequentes afigurações tomarenses...


                                                Tomar a dianteira

Precisamente no caso da reforma hospitalar em curso, o mesmo Jornal de Leiria noticia que os hospitais de Peniche e de Alcobaça vão passar a centros de cuidados continuados,  Caldas da Rainha concentrará os partos e a pediatria de toda a Região Oeste, ficando Torres Vedras com a Ortopedia e a cirurgia, o que implica que a urgência das Caldas passe a básica. Exactamente o mesmo que se está a tentar fazer no CHMT, todavia com diferenças importantes.
Enquanto no caso do Médio Tejo estamos a falar de três hospitais noutros tantos concelhos, cuja população passou de109.573 eleitores inscritos em 2001, para apenas 107.108 em 2011, no que concerne ao Oeste, trata-se de quatro hospitais em quatro concelhos, com 166.793 eleitores inscritos em 2001 e 184.500 em 2011. Ou seja, no Médio Tejo a população diminuiu, mas no Oeste aumentou consideravelmente. O que dá desde logo outra visão dos problemas. Conforme mostra o quadro supra, Caldas da Rainha com 45 mil eleitores não protesta por a sua urgência passar a ser básica, o mesmo acontecendo com Torres Vedras e os seus 66 mil eleitores, que perdem a maternidade. Se fosse em Tomar, havia de ser bonito havia! Mas quê! Enquanto os nossos patrícios da faixa costeira descendem sobretudo dos navegadores de 500, os tomarenses são em geral os herdeiros dos que cá ficaram. O que se nota e de que maneira! Enquanto aqueles ousam, empreendem, lutam pela vida, os nabantinos aguardam serenamente que as coisas lhes venham ter às mãos, como acontecia até 2007. Agora bem podem esperar. Ou mudam ou ficam irremediavelmente para trás.
Só lhes peço um favor, que agradeço por antecipação: Nunca me apareçam à frente a asseverar que ninguém vos avisou atempadamente. O que é demais, parece sempre mal.

Carrão rumo ao calvário

Confrontado com uma situação que nunca imaginou ser possível e para a qual não está nem podia estar, por conseguinte, minimamente preparado, Carlos Carrão tinha, em tão agreste conjuntura, três opções que até lhe foram facultadas de bandeja em post anterior: A - Proceder de modo a provocar eleições intercalares; B - Alhear-se das querelas intestinas no laranjal tomarense e tentar durar até ao final do mandato, procurando passar pelos intervalos da chuva; C - Avançar para a luta interna, procurando dirigir de novo o partido a nível local.
Porque alguém lho exigiu ou por decisão própria, optou pela última. A mais corajosa porque igualmente a mais perigosa e até mortífera. A partir de 16 de Março, data prevista para o escrutínio, se ficará a saber se o actual presidente em exercício conseguiu retomar o leme ou não. Em caso de êxito, nada contudo estará garantido. As divisões internas acentuar-se-ão, sendo praticamente impossível que o actual inquilino dos Paços do Concelho venha a ser o cabeça de lista social-democrata. Mas mesmo que, por improvável bambúrrio, isso viesse a acontecer, seria um candidato derrotado logo à partida. Os eleitores tomarenses já sabem agora qual a real função dos IpT nas eleições autárquicas: roubar eleitorado ao PS para facultar vitórias tangenciais ao PSD. Como em 2009. Nestas condições -julgo eu- só volta a cair no logro quem quiser. O que transforma a eventual manobra em causa numa operação votada ao fracasso para ambas as partes: os mandantes e os mandados. A não ser que os socialistas nabantinos andem a dormir na forma, o que não é costume. Mas pode suceder...
Assim sendo, há no PSD quem continue a encarar a hipótese de eleições intercalares como a saída menos perigosa para todas as partes envolvidas. Desde logo, porque permitiria medir forças, 18 meses antes do embate a nível nacional. Depois, porque constituiria um corte saudável na dolorosa agonia local. Finalmente, porque se os sociais-democratas ainda não estão preparados para eleições e a envolvência nacional é péssima, acontece exactamente o mesmo com todas as outras forças políticas. É precisamente por isso que, salvo melhor interpretação, de acordo com os resultados da sondagem nacional, ontem divulgados pela RTP1, a popularidade do primeiro-ministro está pelas ruas da amargura mas, quando questionados se outro partido/governo faria melhor, 73% dos inquiridos responderam não. É uma percentagem impressionante. Se lhe juntarmos o bom resultado obtido por Vítor Gaspar, que logicamente devia até ser o bode expiatório do governo, temos julgo eu algo assim: O que estão a fazer é extremamente duro e eu não posso concordar, pois estou a ser prejudicado. Mas continuem, porque é indispensável, e no vosso lugar ninguém conseguiria fazer melhor. 
É uma pena ninguém mandar fazer sondagens a nível local. Podia ser que uma vez divulgados os respectivos resultados, os politiquelhos caseiros percebessem finalmente que no caso da reforma hospitalar não passam afinal de rafeirotes armados em galgos, correndo atrás de doninhas com mais de 40 anos de experiência, disfarçadas de lebres para a circunstância. Qual a diferença entre doninhas e lebres? Ao contrário destas, as doninhas são vorazes e carnívoras...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sessão histórica da Assembleia Municipal?

"Assembleia de sexta-feira pode ficar para a história", avança a Rádio Hertz aqui. Baseia-se nas declarações de um até agora desconhecido elemento local da CDU que repentinamente veio a público anunciar a apresentação de uma proposta de exoneração do presidente da Assembleia Municipal de Tomar, Miguel Relvas. O cabeça de lista do PS, Hugo Cristóvão, já lhe respondeu adequadamente no seu blogue. Apesar disso, afigura-se-me útil insistir nos contornos insólitos da dita proposta, difundida por alguém que não tem assento no citado órgão,  visando assim colocar todas as outras formações políticas perante o facto consumado. Ou seja, na sequência da curiosa união local conseguida na Comissão de Saúde, o PCP/PEV = CDU, que conta na AMT com apenas um eleito directo e um presidente de junta, pretende vergar as restantes três dezenas de membros à sua vontade, para tal usando práticas muito em voga durante a clandestinidade, mas agora totalmente despropositadas. Vivemos felizmente numa democracia aberta, consolidada e consensual, onde são respeitados todos os direitos, incluindo o direito à indignação, o que torna ridículas e supérfluas tais atitudes conspirativas.
Mandam as boas maneiras e o bom senso que para afastar alguém ou algum grupo de determinado lugar, se proceda previamente à enumeração fundamentada das causas para tal iniciativa, seguindo-se negociações que permitam indicar potenciais substitutos, se for caso disso, e anunciando também o ou os objectivos visados com o desencadear do processo. Como bem frisou Hugo Cristóvão, nada disso foi feito, eventualmente porque o que sobretudo se pretende nem é o anunciado, mas apenas alardear trabalho e capacidade de antecipação, sem olhar a meios nem a princípios. Assim uma espécie de cabotinismo político.
Se bem conheço os líderes políticos da AMT, julgo que vão enveredar por outra via muito mais profícua para o futuro da cidade e do concelho. Desencadearão decerto conversações tendentes a gerar um consenso que desemboque na renúncia colectiva dos membros das listas para o executivo, seguida da nomeação de uma comissão administrativa e da marcação de eleições intercalares só para a câmara. Se assim vier a suceder, então sim, poder-se-à dizer que a sessão foi histórica, ao iniciar o longo e difícil percurso rumo à recuperação do perdido esplendor tomarense. E ao antecipar a indispensável e urgente mudança de rota, muitos meses antes da data prevista, tendo em conta a confrangedora agonia da cidade e do concelho. A necessitar que apareçam projectos fecundos e líderes capazes. Não de acções aventureiristas de protagonismo bacoco.

Falando com uma amiga...

Minha querida amiga:
Há tanto tempo! Ao ler o teu mail, as lágrimas vieram naturalmente. De alegria. Por saber que estás óptima, no outro lado do mundo. Quase 44 anos passados sobre aquele memorável dia de Maio de 1968. Ali, no amplo anfiteatro da Sorbonne. Compreendo que te sintas feliz na Austrália. Tanto quanto sei é gente despachada, aberta, fraterna, de raciocínio rápido, que vive e deixa viver. O comum entre os anglo-saxónicos, que apenas têm de quando em vez problemas com a cor da pele. Nós aqui continuamos como sempre. Fraternos com todos, mas cada vez mais complicados. E bastante perros, cerebralmente falando...
Tomar vai de mal a pior, num país em crise profunda, com os habitantes ainda convencidos de que o tempo das vacas gordas e outras facilidades vai voltar, não tardará muito. Eu bem vou procurando alertar no blogue, porém sem resultados visíveis.
A relativa maioria autárquica, agora amparada pelos IpT, continua a encanar a perna à rã, à razão de 200 euros por cabeça e por reunião do executivo. 7 x 200 = 1.400 euros = 280 contos. Devem ser os coveiros mais bem pagos do país, uma vez que o trio PSD ainda soma mais 3 x 3.000 = 9.000 euros mensais = 1800 contos + assessores + secretárias+ telemóveis+gasolina+ajudas de custo+despesas de representação. Um verdadeiro maná. Que os dois eleitos socialistas tiveram a coragem de abandonar em protesto, o qual não teve consequência até agora, uma vez que os independentes continuam muito confortáveis à sombra da bananeira, abstendo-se no essencial e protestando publicamente em áreas que não lhes dizem respeito. Como no caso do hospital, por exemplo.
Num processo ainda por esclarecer cabalmente, até os eleitos PSD se juntaram a uma recente Comissão de Saúde, criada na Assembleia Municipal, para atacar a política do governo PSD/CDS. Estranha unanimidade. Desde o início que se esfalfam a exigir a suspensão da reforma hospitalar em curso, sem contudo apresentarem qualquer alternativa. O  que leva a supor que procuram sobretudo emperrar o processo, ao mesmo tempo que constituem uma manobra de diversão, para que os tomarenses, assim entretidos com o hospital, se alheiem da triste situação da cidade e do concelho.
Agora que o problema hospitalar começa a ficar esgotado, políticos com muitas décadas de experiência resolveram lançar outra polémica para distrair o povo, naturalmente por intermédio de um subalterno que ninguém conhece, não vá dar-se o caso de a coisa falhar estrondosamente. Segundo dizem, o grande culpado de todas as desgraças dos tomarenses, incluindo a reforma do hospital, é o agora ministro Relvas, também presidente da Assembleia Municipal. Um malandro, uma peste, dizem alguns esquerdistas agora reformados. Descobriram entretanto, passados meses, que o homem não é ubíquo, pelo que não consegue estar ao mesmo tempo em Lisboa e em Tomar. Que grande novidade!
Mas tem mais. Como está naturalmente a favor da reforma hospitalar em curso, acha o PCP/CDU que deixou de ter dignidade para presidir à AMT. Temos assim que, para os comunistas, unanimidade=dignidade. E eu que estava convencido de que o socialismo real tinha acabado por implosão em 1989...
Cansado de tantas tropelias e indignidades, Relvas continua a dizer que gosta muito de presidir à AM de Tomar, que considera a sua terra, mas que tudo tem um limite. Como eu o compreendo! A  maior parte dos nossos conterrâneos infelizmente continua a agir exactamente como descreveu aquele viajante romano nos primeiros séculos da nossa era: "Não se sabem governar nem deixam que os governem." Até quando?
Caso Miguel Relvas venha a ser destituído da presidência da assembleia, é óbvio que por uma questão de dignidade também renunciará ao mandato. E irá para Lisboa ressentido e magoado com a inóspita atitude de alguns tomarenses. Perderemos assim um excelente embaixador na capital e no governo. Indispensável para abrir certas portas e agilizar determinados procedimentos, tudo coisas sem as quais os projectos, por mais sérios e excelentes que sejam, se perdem nos meandros da labiríntica burocracia lusa. 
Nesse caso, julgo que não valerá sequer a pena apresentar o meu projecto de desenvolvimento multifacetado para Tomar. Já estou demasiado velho para garotices e quem votar favoravelmente a destituição de Relvas, não passará afinal de um reles fedelho político, que não entende minimamente o mundo em que vive. Aqui fica o aviso solene.
Um grande beijo de amizade e desculpa tornar público este desabafo. Há coisas que me entristecem sobremaneira, obrigando-me a partilhá-las com alguém, como forma de alívio.

Abraça-te fraternalmente o "soixante-huitard de toujours",

António Rebelo

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Confirma-se o desnorte

Tal como afirmado no post anterior, o "camarada Martins" é praça desconhecida no regimento nabantino. Assim o confirma aqui o deputado municipal socialista Hugo Cristóvão. O que configura uma situação deveras curiosa. Pela primeira vez neste mandato, um cidadão desconhecido e que não faz parte da AMT, anuncia numa rádio local que vai ser apresentada pela CDU na próxima sessão do referido órgão autárquico, no dia 24 do corrente, "uma proposta de exoneração" do presidente Miguel Relvas. Será que o anunciado "Manuel Martins" falou mesmo em nome da CDU? Em  que qualidade? Militante do PCP? Membro do PEV? Funcionário partidário? Dirigente? Local? Regional?  Seria de toda a conveniência que o PCP, um partido sempre extremamente organizado em tudo o que leva a cabo, resolvesse clarificar uma ocorrência totalmente opaca. De tal forma que até o ex-presidente do PS local, que não tem fama de reaccionário nem coisa parecida, lamenta no seu blogue o sucedido até agora. Com toda  a razão, pois além do insólito da situação avulta igualmente a total incongruência da alegada proposta, uma vez que o presidente da AMT não pode ser exonerado, mas apenas destituído em conjunto com os outros membros da mesa, tudo mediante um determinado número de regras regimentais que o hipotético cidadão Martins parece ignorar totalmente. O que é demasiado estranho, tratando-se de alguém que falou em nome de uma coligação conhecida pela sua excelente organização e grande militância dos seus membros, geralmente com óptima formação política. Estaremos apenas perante um lamentável logro político em época de carnaval? A Rádio Hertz o que tem a dizer a tudo isto? Conhece a pessoa em questão? Certificou-se da veracidade do que afirmou?
Na mesma onda de desnorte, um documento que por aí circula, com anunciada origem no Hospital de Tomar, afinal difunde inverdades e cai em situações incoerentes. Nele se afirma nomeadamente que a reforma hospitalar em curso não diminui a despesa. A ser verdade, posto que o seu objectivo anunciado é exactamente esse, então para que serviria? Apenas para prejudicar os tomarenses e o pessoal que trabalha na unidade de saúde de Tomar? E que tal fundamentar o que se afirma? Seria bom poder ler outras hipotéticas soluções, de preferência comparadas, estruturadas, calendarizadas e quantificadas. Assim, sem alternativas palpáveis, ficam os leitores na dúvida sobre a reais intenções dos dissimulados autores do escrito referido. Situação que se avoluma e de que maneira, ao saber-se que a nova administração tem em curso um inquérito que vai levar a "queixa judicial por burla e desvio de dinheiros públicos" (crime de peculato).
Tudo indica portanto que as principais preocupações dos dinamizadores encapotados das sucessivas manifestações não sejam propriamente os utentes tomarenses e  dos concelhos limítrofes, mas antes certos funcionários e determinadas práticas, que as leis da República não podem continuar a tolerar, sob pena de descrédito. Em democracia que funcione, não há bem que sempre dure, nem mal que não se acabe...ou vice-versa.

EQUIVOCADOS


É tal o avanço civilizacional tomarense que em 2012 ainda há maduros que vêm reivindicar, usando palavras de ordem de 1975! Já passaram 37 anos e ainda não perceberam que afinal não havia nem há ricos que cheguem para pagar a crise. Além de não terem culpa nenhuma das asneiras que os outros fazem. Como dizem os cínicos, "É sempre melhor ser rico e saudável que pobre e doente". "As coisas são o que são, não aquilo que gostaríamos que fossem", segundo o De Gaulle.

Segundo o meu prezado amigo e socialista Luís Ferreira (ver comentário seu, no post "Políticos desnorteados") estou pior que o ex-ministro da propaganda do Iraque. Azar o dele! Já visitei mais de 50 países, mas no Iraque nunca estive. Nem tenciono lá ir, por razões óbvias. Por conseguinte...resta a estapafúrdia comparação. Com uma diferença abissal. Enquanto o dito ministro debitava enormidades por conta de um boçal ditador, eu limito-me a enunciar, num país democrático e com um governo resultante de eleições que ninguém contestou, factos tão simples quanto este: a reforma em curso no CHMT é condição sine qua non para a manutenção das três unidades hospitalares, porque 1 - O stato quo ante é insustentável; 2 - Os contestatários continuam a dizer que tem de haver reforma e a insistir na sua suspensão, mas ainda não apresentaram qualquer modelo alternativo; 3 - Caso a reforma falhe -esta ou qualquer outra que a venha a substituir-como não é possível continuar a suportar o constante aumento do "buraco", terá de haver encerramento de uma ou mais unidades. Tão certo como eu chamar-me António e ter nascido em S. João Baptista. O resto não passa de paleio de circunstância, debitado por funcionários acagaçados ante a perspectiva de perderem benefícios ilegítimos. Até recorrem a atoardas, do tipo "querem privatizar" ou "já falta pouco para encerrar". É feio e condenável abusar da ingenuidade alheia!
Até as senhoras da conversa, que continuo a gostar muito de ouvir, apesar de já começar a notar-se algum excesso de derrapagens, teceram algumas considerações que me deixaram a matutar sobre a fraternidade, a solidariedade, o sentido comunitário, o egocentrismo, o bairrismo bacoco... No fundo sobre algo que me inquieta sobremaneira. Como é sabido, tive a felicidade de viver por dentro o Maio de 68 e o 25 de Abril.  Em ambos os casos, houve milhares e milhares de explosões de alegria e de reivindicações, todas viradas para um futuro mais risonho e justo e fraterno. Muitas ficaram-se pelas intenções? Pois ficaram. Mas ainda hoje beneficiamos de importantes conquistas de então.
Décadas volvidas, já no século seguinte, o que vejo começa a assustar-me. Nos países árabes, no rescaldo de revoluções que carrearam imensas esperanças, assiste-se à irresistível ascensão eleitoral dos partidos islâmicos, tanto moderados como extremistas. Um retrocesso civilizacional de séculos, pois pretendem a adopção da sharia, a lei islâmica tradicional, um sistema de administração da justiça ainda pior que a lúgubre inquisição de má memória. Apedrejamento ou lapidação, membros cortados, morte por enforcamento, língua amputada, a mulher sempre três passos atrás do marido, o repúdio livre pelos homens e coisas assim. Além da automática condenação à morte de qualquer muçulmano que se converta a outra religião.
Claro que por estas bandas não somos árabes nem muçulmanos. Até gostamos bastante de álcool e de carne de porco. Mas lá que temos todos uma costelazita e algumas tradições comuns, disso não há dúvida! Esta por exemplo: um velho ditado português, muito conhecido no feudo nabantino, diz que "a galinha da vizinha parece sempre mais gorda do que a minha". E aqui temos uma bela metáfora da nossa por assim dizer congénita inveja, que o filósofo francês René Girard renomeou com a magnifica expressão "desejo mimético". Não foi certamente por mero acaso que durante séculos a diplomacia se fez sempre em francês.
Pois no mais recente programa das senhoras, uma das intervenientes asseverou não estar surpreendida com o apoio de Abrantes e Torres Novas à reestruturação do CHMT, acrescentando que se lá vivesse também concordaria. Porquê? Infelizmente não esclareceu. Fica para a próxima, quando o Feliciano se sinta mais à vontade para interromper com uma frase geralmente demolidora: Troque-me lá isso por miúdos, s.f.f., que não percebi patavina...
Ainda no mesmo programa, lamentou-se que na passada quinta-feira, nas declarações prestadas à entrada do cine-teatro, Miguel Relvas tenha falado na qualidade de ministro. Ouvi-o no local e tenho outra impressão. Falou simultaneamente como ministro, como eleito local e como cidadão consciente de que todos, a começar pelos governantes, devemos ser solidários e fraternos. Sem nunca enveredar por situações em que se prega o paraíso para nós e o inferno para os outros.
Ser contra a reforma hospitalar, contra a reforma das freguesias, contra a reforma dos concelhos, contra a reforma dos tribunais, contra a reforma das leis do trabalho, contra as medidas da troika, contra o pagamento da dívida, é afinal praticar a política à moda do caranguejo. O que estava é que era bom! Infelizmente o mesmo que os árabes estão a fazer, mas eles por falta de experiência democrática e vítimas de um modo de vida que não vem agora ao caso escalpelizar. Ao contrário, nós, europeus desde há séculos, com as mais velhas fronteiras da Europa, temos a obrigação ética de no mínimo propor alternativas, quando discordamos de algumas mudanças.
Fala-se agora, por exemplo, na hipotética destituição de Miguel Relvas da presidência da AMT. Uma ideia há muito defendida por gente do PCP, do BE, ex-UDP, e até um fundador do MRPP. Com que fundamentos? Quais as vantagens? Com que objectivos? Quais os sucessores possíveis? Por enquanto o silêncio é de oiro... Devem estar à espera que os deputados da AR caiam de cu logo que recebam a petição com 7 mil assinaturas, procedendo imediatamente à votação de uma lei estabelecendo que o CHMT volta à situação brilhante em que se encontrava no final de 2011. Há cada uma!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Políticos desnorteados?

Os tempos não vão fáceis para ninguém. Então para o pessoal de esquerda, do qual julgo ainda fazer parte, nem se fala. Desde sempre partidários da repartição, agora que para dividir só há sacrifícios, muitos começam a desatinar Neste blogue, por exemplo, que no tempo do governo anterior dava gosto ler, agora até já se escreve preto no branco que Vítor Gaspar, alcunhado de "Gasparoika", é um futuro Salazar. Será então Salazaroika? 
A nível local as coisas não vão melhor. Ainda hoje recebi um comunicado (não assinado) de empregados do CHMT/Tomar, onde se insiste naquela palermice, segundo a qual a Euromedic pretende vir a ficar com o hospital de Tomar, quando for privatizado. Só se fossem doidos, foi-me garantido por fonte segura.
Encurralados numa posição insustentável, uma vez que a suspensão da reforma hospitalar em curso é impossível, pois constitui uma condição sine qua non para a sobrevivência das três unidades, vá de fingir que fogem para a frente. Segundo noticia a Rádio Hertz, em nome da CDU, um tal Manuel Martins, que não faço a menor ideia de quem possa ser, declarou que "Não se justifica ter um presidente que é contra a suspensão do processo de reorganização do CHMT", uma vez que os restantes membros votaram a favor. Por isso, acrescenta o referido político, tanto quanto sei, desconhecido por estas bandas, que Miguel Relvas "Não tem mais condições para continuar".
Curioso raciocínio! A demonstrar que há maus hábitos que nunca esquecem. Mesmo decorridos 40 anos. Desde o início das manifestações anti-reestruturação do CHMT que a posição do PCP/PEV, com a etiqueta CDU, não mudou nem uma vírgula. Exige a suspensão da reforma em curso, e pronto! Ignora-se o que poderia vir a seguir. Despeitados pela nítida falta de apoio popular, dado que os tomarenses lá foram percebendo que estavam a ser habilmente ludibriados e vítimas de um logro, inclusivamente recorrendo a meias verdades e a mentiras descomunais, resolveram os dinamizadores da coisa desencadear uma manobra de diversão -a substituição do presidente da AM. Para substituir por quem? Não dizem. Qual ou quais as vantagens da hipotética substituição? Também não dizem.
Limitam-se a afirmar, por meio de um cidadão desconhecido no meio político local, que Miguel Relvas deve ser destituído por não concordar com os restantes elementos da AM. Mas isso é, se não erro, do mais puro estalinismo, as célebres votações por unanimidade, naturalmente de braço levantado, para que ninguém tenha a veleidade de mijar fora do penico. Relvas deixou de ter condições para continuar, diz o senhor Martins. Quer-me parecer que o cidadão Martins é que não tem condições para convencer quem quer seja, fora do PCP, para votar favoravelmente a destituição de Miguel Relvas. Tudo tem um limite e a comissão de saúde da assembleia já foi longe demais, uma vez que legalmente as autarquias não têm qualquer competência na área da saúde. Além de que a envolvência política local, regional, nacional e internacional, não está para aventuras totalitárias. Ia a escrever infantilidades políticas, mas depois resolvi moderar transitoriamente a linguagem. Pode ser que o bom senso ainda venha a imperar neste estranho imbróglio. Tanto mais que os habituais cabeças de cartaz locais já se resguardaram. "O medo é da mesma cor da prudência", disse ao sobrinho há quase cinco séculos o duque de Alba, que por isso não foi vencido em Alcácer Quibir. E entrou em Lisboa conquistada três anos mais tarde.

Carnaval de Tomar: Muita gente, muita parra... e uma raínha lamentável











Muita gente no corso tomarense, o que não é de estranhar. Passeatas, comezainas, divertimentos e bailaricos são sempre muito concorridos. Desde que sejam à custa dos cofres públicos. Como neste caso. Muita parra e pouca uva, pois o cortejo foi bastante pobre em termos de crítica social. Havia é certo alguns raros casos muito bem achados -o hospital moderno, o comboio ou os reis da troika... Achei imensa piada àquele circunspecto "Relvas", muito digno, a pé, conduzindo pela trela o pequeno cão com o capote "Carrão presidente". Mas achei pouco para 15 mil euros = 3 mil contos que também ajudei a pagar. Tomar ainda não é propriamente a Linhaceira (sem qualquer desprimor para os conterrâneos daquela freguesia) e no corso deles houve muito mais alegria, escárnio e maldizer. Como convém na circunstância.
Há também aquela argolada monumental da contratação da cidadã Palhinhas, por 500 contos, para uma tarde sentada. Como bem diz no seu blogue o deputado municipal PS Hugo Cristóvão "Não é esta a imagem que enquanto cidadão desejo para a minha terra." Claro que a iniciativa privada, como é o caso, pode fazer o que entender, desde que respeitando as leis em vigor. E contratar quem lhe der na real gana. Com uma ressalva única mas de peso: Com dinheiro proveniente dos impostos de todos nós -NÃO! Para bandalheira já basta o que vão fazendo alguns políticos locais, com a sua renitência em abandonar a ribalta, quando o espectáculo de cujo elenco faziam parte já há muito que acabou. Não se dão conta, é o que é!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Linhaceira -um carnaval castiço e autêntico











As dez fotos acima mostram outros tantos aspectos do patusco e castiço carnaval da Linhaceira, uma realização artesanal e cheia de garra, sobretudo dos naturais para os naturais. Infelizmente para os seus entusiastas, nesta edição havia bastante menos espectadores que no ano passado. É natural. Se três hospitais separados por 30 quilómetros, numa zona de 200 mil almas, é algo que se entende mal; dois carnavais nessa mesma zona, a dez quilómetros um do outro, só lembra aos tomarenses.
Acresce que algumas piadas carnavalescas permitem deduzir que os linhaceirenses, como bons nabantinos que são, pararam algures outrora. Caso contrário não reivindicariam subsídios quando já não há sequer dinheiro para o essencial (cemitérios, limpeza, recolha do lixo, estradas...). E muito menos culpariam Coelho e Relvas por fornicarem o concelho de Tomar desde que foram para o governo, quando na verdade se limitam a tratar todos os portugueses por igual, como de resto deveria ser sempre.
Claro que tanto um como outro poderão agilizar a aprovação de projectos tomarenses fecundos que lhes sejam apresentados. Não podem porém, nem devem, discriminar-nos positivamente, poupando-nos aos sacrifícios que a todos cabem. Tal como não têm culpa nenhuma da inépcia dos nossos conterrâneos, que regra geral falam muito mas fazem pouco. O tempo das prebendas de Lisboa já lá vai. Agora urge imperativamente encontrar outros meios de criar riqueza, de forma a que a cidade e o concelho possam ir recuperando pouco a pouco o estatuto que já tiveram. Insistir na subsidiação de iniciativas, sejam elas quais forem, parece-me ser tempo perdido. Antes de mais, porque não há nem voltará a haver verbas disponíveis para realizações a fundo perdido. Depois porque, sem criação de riqueza, de valor acrescentado, estamos a empobrecer cada vez mais. Deixamos de ser autónomos para passarmos a viver de esmolas. Pode ser confortável e dar menos trabalho, mas não dignifica ninguém.
Com ou sem cidadãos mais conscientes da crise que atravessamos, creio haver fortes possibilidades de que  em 2013 os subsídios camarários farão greve geral durante todo o ano. Há eleições autárquicas em Outubro e quem antes tenha andado a esbanjar dinheiros públicos, enquanto os eleitores sentem cada vez mais dificuldades de toda a ordem, dificilmente vencerá. Cá conto estar para ver se me enganei.

Desdobramentos...

Ontem foi dia internacional dos doentes de Asperger, uma síndroma cujo principal  sintoma é a dificuldade de relacionamento social. De alguma maneira, a maleita de que sofrem os tomarenses e os residentes em Tomar, desde há longos anos. Vejamos. Na área política atingiu-se um nível de fragmentação só igualado por outro concelho a nível nacional. Houve sete listas concorrentes nas autárquicas de 2009. Ainda hoje temos no vale nabantino dois PSD. O PSD/R que apoia o governo e o PSD/C, que apoia a autarquia, se não estou em erro. Em todo o caso, tem-se manifestado contra o governo na contestação à reforma hospitalar em curso. Há também o PS oficial, liderado por Anabela Freitas e uma espécie de PS bis, que tem por designação oficial IpT e procura vir a ser a charneira entre socialistas e CDU. Por falar em CDU, trata-se de óbvia excepção à regra. Em vez de existir em duplicado, a dual coligação PCP/PEV, em Tomar é uni. Não há PEV. Só PCP/T, que tanto pode ser de Tomar como de tradicionalista. Ou de trabalhadores, vá-se lá saber!
Ainda no campo da política tomarense, além de neste mandato já irmos no segundo presidente de Câmara, a acreditar nos mentideros locais, a liderança autárquica também já passou a ser bicéfala, como a águia da porta de Toledo e do império de Carlos V. Haverá desde há pouco a dirigir a autarquia um PSD/P, em que P desempenha as funções de treinador; e o PSD/C, em que C executa o que P lhe manda fazer. Como dantes. A ser assim, não está nada mal visto, não senhor! Tanto mais que o treinador exerce à borliú. Há porém que ter em conta que ninguém dá nada a ninguém, pelo que, quando a esmola é grande...
Já fora da política (???) é uma beleza. Dois carnavais, dois postos de turismo, dois jornais locais, duas rádios, quatro filarmónicas, duas equipas de hóquei em patins, três escolas de música, três grupos de teatro amador, três escolas básicas 2/3, duas secundárias, três pavilhões municipais, duas piscinas...e dois mercados -um fechado e o outro desmontável. Até parece que estamos numa grande metrópole. Só falta a população. A doença está tão espalhada e é  de tal modo contagiosa que até já atingiu os ciganos. Unidos na estância municipal de férias do Flecheiro desde há mais de 30 anos, quando aqui há meses se falou no seu eventual realojamento na Zona Industrial, um dos patriarcas não foi de intrigas: "Está mali! Adevíamos de ficar separados em três famílias; uma em cada entrada da cidade." Mas porquê?  "-Ciganos, sabe?!?!"
Coitados dos tomarenses! Só lhes faltava mais essa -terem afinal hábitos aciganados. Não há nada que não lhes aconteça!
Façam o favor de se divertir, que para o ano é bem provável que nem um, quanto mais agora dois carnavais, num concelho onde a tragicomédia é permanente e os dramas sociais se multiplicam, como cogumelos após uma boa chuvada.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Velhos hábitos e situações novas


No mesmo dia em que a imprensa internacional noticiou que, de acordo com sondagens recentes, os gregos são maioritariamente favoráveis à continuidade na Zona Euro, mas opostos às medidas da troika, em Tomar, a milhares de quilómetros de Atenas, Miguel Relvas focou uma situação semelhante. Citado pela Rádio Hertz, declarou nomeadamente que "Uma cidade e um concelho não são beneficiados porque um ministro, um deputado ou um secretário de estado, é dessa terra. Já lá vai esse tempo. ... Eu adoro Tomar, mas os cidadãos de Tomar são iguais aos dos outros 307 municípios."
No caso grego estamos perante uma situação comparável à de muitos novos casais: pretendem continuar a viver juntos, mas nenhum quer cumprir aquilo que ambos livremente combinaram. Já em relação ao nosso país e a Tomar, a incoerência é mais velada. Funciona em dois tempos. No primeiro, por razões que falta apurar, todos os cidadãos se dizem democratas, reconhecem que somos iguais perante a lei, que as reformas estruturais são indispensáveis, que não deve haver qualquer espécie de favoritismo, e por aí adiante. Todavia, num segundo tempo, logo que se tenta passar à prática, à implementação das tais reformas indispensáveis, cada um arranja imediatamente um argumento que reputa suficiente para o excluir da antes admitida igualdade perante a lei. Encerrar tribunais? Unir freguesias? Racionalizar hospitais? Fundir municípios? Congelar rendimentos? Aumentar impostos? Totalmente de acordo desde que não me abranja, pensam os portugueses em geral e os tomarenses em particular. Com as mais extravagantes justificações. História, distância, tradição, economia, equilíbrio, desertificação, cambalacho, arranjinho, privatização, tudo serve desde que as coisas possam continuar como dantes. Donde a imediata reivindicação nabantina, desde a primeira manifestação de protesto contra a reforma do CHMT -suspensão imediata do processo. Depois logo se vê.
Temos por conseguinte aquilo que podemos designar por incoerência cívica, para não ofender ninguém, sendo certo que há por aí muitos que, na sua ânsia de torpedear tudo o que for possível, procuram endrominar os menos cautos com posições que relevam claramente da hipocrisia política. Ao mesmo tempo que acusam o governo de todos os males que nos afligem, fazem dos pés e das mãos para impedir que os governantes possam implementar medidas tendentes a corrigir o que não está bem.
A situação é de tal forma estranha que o próprio líder do PS já é acusado pela extrema-esquerda de conluio, por não alinhar com os que acham que um governo legítimo, saído de eleições limpas e com uma confortável maioria no parlamento, anda a roubar o povo. Ao que se chegou! Séculos depois de termos dado novos mundos ao Mundo, alguns portugueses dão agora novos e tristes exemplos políticos à Europa, a braços com a mais grave crise de sempre. E depois queixam-se de que ninguém os leva a sério. Haja bom senso!