i, 13/02/2012, página 26
i, 13/02/12, página 5
Pedro Antunes, Filho da madrugada, i, 13/02/2012, página 13
Tantas são as maleitas de que padece este nosso querido país, que é possível recortar da mesma edição de um diário três referências a outras tantas desgraças crónicas. Neste caso do i de hoje, temos sucessivamente a falta de qualidade profissional, constatada por quem sabe do que fala; o recrutamento de profissionais para empresas estrangeiras e o resultado mais frequente da evidente falta de qualidade que grassa pelo país. Indo por partes.
Excluindo uma minoria, regra geral não temos em Portugal -e muito menos em Tomar- aquilo a que se possa chamar profissionais qualificados ou dirigentes à altura, se tivermos em conta os padrões europeus. Tal carência resulta antes de mais da medíocre qualidade do ensino superior, virado sobretudo para a teoria e para a memorização, mas igualmente da doentia auto-suficiência do indígena lusitano, quase sempre vindo ao mundo já ensinado, poli-competente, que por isso não aceita lições de ninguém. Se até os senhores médicos, após anos e anos de estudos e de prática clínica, garantem sempre que fazem tão bem ou melhor que no estrangeiro...
Sabedores de tais particularidades, as grandes empresas internacionais, como por exemplo a americana Walt Disney, quando são confrontadas com a necessidade de preencher os seus quadros com trabalhadores europeus, já conhecem a melhor via -os chamados países periféricos, onde os níveis salariais são mais baixos e o desemprego mais elevado. Nesses países, incluindo no nosso, orientam-se para o sector específico que mais lhes interessa. No caso noticiado, tratando-se de turismo num parque temático, com acesso directo via metro a partir de Paris, não recorreram a ensino universitário tradicional. Tão pouco ao ensino politécnico, apesar das centenas de cursos que ministra. Orientaram-se imediatamente para a melhor escola profissional de turismo do país, que até envia estagiários para Montreux - Suiça.
Uma vez que os estudos na EHTE são muito exigentes e as vagas muito poucas, não surpreende que os seus diplomados sejam bastante procurados no mercado do trabalho. De tal forma que praticamente não existem antigos alunos no desemprego. Pena é que por um lado não cheguem para as encomendas, e por outro que as dezenas de cursos de turismo ministrados em Portugal sejam tudo menos habilitação profissional de qualidade ou sequer suficiente, num mundo onde cada vez mais saber = saber fazer, coisa a que os universitários portugueses em geral, continuam a ser alérgicos por deformação académica. Preferem quase sempre o saber dizer...
Os resultados nefastos abundam por todo o país, passando geralmente sob silêncio porque escrever dá muito trabalho e não está ao alcance de todos; reclamar é sempre desagradável; a esmagadora maioria não dispõe de acesso com alguma eficácia à comunicação social e, finalmente, porque já estão de tal forma habituados à lusitana bandalheira mais ou menos relativa, que nem notam a miséria reinante. Neste caso, porém, o hotel Tivoli - Lagos teve azar. O novo cliente era um cidadão dispondo de espaço num jornal diário. O resultado é bastante elucidativo: recepção fúnebre, serviço demorado, quarto em mau estado de manutenção, aquecimento deficiente, alergia a reclamações fundamentadas.
Agora imagine o leitor quantos milhares de vezes isto ocorre por esse país fora. Sobretudo com estrangeiros, remetidos ao silêncio pela barreira da língua. Mas que falam pelos cotovelos, uma vez regressados aos países de origem. Já percebeu agora porque é que o turismo está em crise, os turistas estrangeiros são cada vez menos endinheirados e os centros urbanos preteridos em detrimento, por exemplo, de monumentos património da humanidade, como acontece em Tomar? É que, conforme reza o popular adágio, "Gato escaldado, de água fria tem medo". E Tomar tem uma fama desgraçada em toda a comunicação social, com destaque para a RTP. Eles lá sabem porquê! Alguns tomarenses também. Mas é muito mais fácil e consensual queixar-se só da pouca qualidade dos políticos nabantinos, esquecendo tudo o resto. Assim nunca mais nos vamos reerguer. "Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado."
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