sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O NOBEL DE ECONOMIA, A EUROPA, O HOSPITAL E O CONVENTO DE CRISTO

 Paul Krugman. Foto Mike Clarke/AFP

Le Monde, 31/01/12, página 14

Paul Krugman, Nobel de Economia e cronista no New York Times concedeu uma entrevista ao Le Monde, que foi publicada na edição de 31 de Janeiro 2012. Nessas declarações, a que a imprensa portuguesa ainda não fez qualquer referência, Krugman avançou três pontos que chocam com a mentalidade dominante na Europa do Norte, designadamente na Alemanha. Ei-las: A - "A crise não mostra o malogro do modelo social europeu." B - "A inflação não é o problema, mas a solução." C - "Para restabelecer a competitividade na Europa, os salários terão de baixar nos países europeus menos competitivos, de 20% em relação à Alemanha. Com alguma inflação, esse ajustamento é mais facilmente realizável." [deixando aumentar os preços sem aumentar os salários].
-Então e onde é que ele falou do Hospital e do Convento de Cristo?, perguntará quem já leu até aqui. Em lado nenhum. Trata-se de um título para espicaçar os leitores de Tomar a dianteira (que ontem foram 511 e 638 no dia anterior) e de deduções minhas, como passo a explicar. 
A tia Merkel, escaldada por muitos anos de vida na Alemanha comunista e pela tragédia de Weimar, que levou Hitler ao poder, não acredita mesmo nada nos aludidos benefícios da inflação, mesmo que eles sejam proclamados por um prémio Nobel. Assim, é muito pouco provável que o tal ajustamento indispensável venha a ter lugar por essa via. A líder alemã acha que deverá ser pela redução dos custos de produção e esta pelo emagrecimento da despesa pública e a diminuição dos impostos e encargos sociais.
Uma vez que a actual tendência das economias europeias é para a estagnação e que o grupo Alemanha-Holanda-Áustria se opõe a que o BCE inunde a Europa de liquidez, tal como vem fazendo a Reserva Federal nos Estados Unidos (sem grandes resultados, diga-se...), vamos sentir grandes dificuldades em Portugal, com o inevitável agravamento das medidas de austeridade, o aumento do desemprego, a insegurança, a agitação social e o acentuar da recessão.
Se, como tudo indica neste momento, vier a ser esta a evolução económica, ou mais propriamente a involução, num arco de 3/4 anos -qualquer que venha a ser o resultado final da reforma em curso- o governo vai ser forçado a manter abertos apenas dois hospitais no distrito de Santarém. Um a sul (o de Santarém) e outro a norte. Se a decisão vier a ser exclusivamente política, manter-se-à qualquer um dos três. Se for técnica ou tendencialmente técnica, manter-se-à a funcionar apenas o de Tomar. Não por favoritismo. Porque é ao mesmo tempo o maior e aquele que tem (ou tinha) melhores equipamentos. Torres Novas é demasiado pequeno para todo o Médio Tejo e Abrantes está obsoleto, necessitando de grandes obras de actualização, nomeadamente blocos operatórios, rede eléctrica, rede de esgotos, rede de aquecimento, ascensores, etc. etc.
Havendo necessidade absoluta de encerrar dois hospitais a norte do distrito, não é aceitável em termos de gestão racional que o Convento de Cristo (150 mil visitantes registados por ano) possa continuar com um efectivo de 37 funcionários, apesar de nem sequer proporcionar visitas guiadas à maioria dos visitantes, que pagam 6 euros/pessoa à entrada. Assim sendo, haverá que encarar com urgência nova solução de gestão e exploração turística que respeite a norma europeia da subsidariedade, a qual consiste em privilegiar sempre a gestão autónoma de proximidade, em detrimento da organização piramidal existente, demasiado onerosa e com péssima relação custo/beneficio. Refiro-me a Alcobaça, Batalha, Tomar, Sintra, Jerónimos...
No caso tomarense, tal implica o aparecimento de nova entidade que, fiscalizada pelo órgão autárquico, tenha condições para gerir em conjunto o Convento, os monumentos da cidade e a respectiva promoção, tudo numa óptica de estreita união, a qual deverá passar pela adequada, cómoda, rápida e proveitosa ligação cidade-convento-cidade em novos moldes. Mas isto já é música para públicos mais especializados. As crises são sempre excelentes ocasiões para reformar, explorando novas oportunidades. 

10 comentários:

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Todos sabemos que o autor do Tomar a Dianteira é mestre em Língua Francesa, e tem mesmo presenteado os seus leitores com traduções de excelentes textos.

Mas não vale distorcer os conteúdos para dar uma mensagem errada do que propõe o prémio nobel Paul Krugman para defender a política dos farsolas no governo.

O que diz verdadeiramente Paul Krugman nesse artigo, é o que consta no excerto do Le Monde, que passo a citar (em francês, obviamente) - a parte que se refere aos cortes de 20% está a negrito:
-----------
"La BCE devrait-elle agir comme le fait la Réserve fédérale (Fed), qui achète massivement de la dette américaine ?

Si on met de côté les blocages politiques, oui, l'Europe a besoin d'une politique monétaire très agressive. Plus agressive encore que celle des Etats-Unis. Il n'y a pas d'autre moyen de faire les ajustements nécessaires. La BCE devrait racheter plus de dettes d'Etat mais aussi favoriser davantage l'expansion monétaire.

Cela ne risque-t-il pas de faire déraper les prix ?

L'inflation n'est pas le problème, c'est la solution.

Que voulez-vous dire ?

Pour restaurer la compétitivité en Europe, il faudrait que, disons d'ici les cinq prochaines années, les salaires baissent, dans les pays européens moins compétitifs, de 20 % par rapport à l'Allemagne. Avec un peu d'inflation, cet ajustement est plus facile à réaliser (en laissant filer les prix sans faire grimper les salaires en conséquence).

Le problème de compétitivité viendrait donc de salaires trop élevés en Europe du Sud par rapport à l'Allemagne ?


CONTINUA......

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

......CONTINUAÇÃO

Au final, le problème est celui d'un déséquilibre des balances des paiements. Mais, si on prend l'exemple de l'Espagne, les salaires espagnols n'ont pas toujours été au-dessus de la moyenne. C'est un phénomène récent. Après la création de l'euro, il y a eu des afflux massifs de capitaux dans les pays dits à la périphérie de l'Europe qui ont provoqué une bulle du crédit.

L'Allemagne a-t-elle une mauvaise influence sur l'Europe ?

L'Allemagne croit que la rectitude et la discipline budgétaires sont la solution. Elle a tort. Leur histoire les pousse à proposer un mauvais remède. Les Allemands étaient en mauvaise posture à la fin des années 1990. Alors ils regardent ce qu'ils ont fait, comment ils sont parvenus à redresser leur économie et transformer des déficits en excédents commerciaux. Ils pensent appliquer leurs solutions à la zone euro. Mais, si tel était le cas, il faudrait trouver une autre planète pour exporter les produits de l'Europe!"


Portanto, existem pressupostos para esses cortes de 20 por cento e várias implicações curiosas com a política alemã.

A tradução desse ponto (dos 20%...) deixou cair alguns bocaditos porventura essenciais.
-------
PS: Não traduzo porque não é a minha especialidade. O meu francês é muito caseiro, quiça muito técnico... relacionado com a profissão que tive.

Além disso não me sujeito a eventuais correções do dono da casa, perito na matéria.

Se ele fizer o favor de traduzir...

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

Todos sabemos que o autor do Tomar a Dianteira é mestre em Língua Francesa, e tem mesmo presenteado os seus leitores com traduções de excelentes textos.

Mas não vale distorcer os conteúdos para dar uma mensagem errada do que propõe o prémio nobel Paul Krugman para defender a política dos farsolas no governo.

O que diz verdadeiramente Paul Krugman nesse artigo, é o que consta no excerto do Le Monde, que passo a citar (em francês, obviamente) - a parte que se refere aos cortes de 20% está a negrito:
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"La BCE devrait-elle agir comme le fait la Réserve fédérale (Fed), qui achète massivement de la dette américaine ?

Si on met de côté les blocages politiques, oui, l'Europe a besoin d'une politique monétaire très agressive. Plus agressive encore que celle des Etats-Unis. Il n'y a pas d'autre moyen de faire les ajustements nécessaires. La BCE devrait racheter plus de dettes d'Etat mais aussi favoriser davantage l'expansion monétaire.

Cela ne risque-t-il pas de faire déraper les prix ?

L'inflation n'est pas le problème, c'est la solution.

Que voulez-vous dire ?

Pour restaurer la compétitivité en Europe, il faudrait que, disons d'ici les cinq prochaines années, les salaires baissent, dans les pays européens moins compétitifs, de 20 % par rapport à l'Allemagne. Avec un peu d'inflation, cet ajustement est plus facile à réaliser (en laissant filer les prix sans faire grimper les salaires en conséquence).

Le problème de compétitivité viendrait donc de salaires trop élevés en Europe du Sud par rapport à l'Allemagne ?


CONTINUA......

Anónimo disse...

Sempre procurei habituar os leitores de Tomar a dianteira ao rigor e à honestidade de propósitos. Seria portanto incapaz de atraiçoar agora esses princípios, "ajeitando" uma tradução segundo as minhas conveniências. As suspeitas de Cantoneiro da Borda da Estrada são totalmente infundadas e despropositadas. Diria até ofensivas. Só não publiquei a tradução de toda a entrevista por ser demasiado longa (15 perguntas, seguidas de respostas complexas). Com o que acrescentei da minha lavra, teria dado cá um "pastelão" que poucos ou nenhuns teriam a coragem de consumir...
De qualquer forma, ainda estou para perceber qual a diferença entre o que traduzi e aquilo que o Cantoneiro inclui no seu comentário. Ele sim comete uma incorrecção. Na resposta à pergunta "Que voulez-vous dire?", a parte final, a partir de "en laissant filer les prix..." não é de Krugman mas dos jornalistas do Le Monde, conforme indica o facto de estar em itálico.
Errar é humano. Prevaricar também. Mas há quem o faça deliberadamente para daí retirar proveitos.

alexandre leal disse...

Professor

Tem toda a razão.

O amigo Cantoneiro sofre de uma perturbação comum aos "politicos" da cidade- o "fenómeno do espelho "em que projectam nos outros aquilo que os próprios fariam se pudessem.

Estas questões de caracter e personalidade em adultos são definitivas.


Cumprimentos

Luis Ferreira disse...

Vai ver, prof. Rebelo, que ainda vamos concluir que a criação de uma empresa Municipal de turismo e cultura, que hoje já Nao é possível, era uma boa solução?

Curiosamente esse é um dos caminhos apontados no programa do PS em 2009 e por mim defendido, em 2010, enquanto responsável pelo turismo e pela cultura...

Esse caminho é tão obvio, que parece impossível que em Tomar, numa terra onde existem monumentos, casas de espectáculos, colérica visitáveis, associações e empresas na área da animação turística e uma escola superior que faz formação na área, nada se faça. Ou melhor: nada se faça agora!

Saudações,...

templario disse...

DE: Cantoneiro da Borda da Estrada

UM PEDIDO SINCERO DE DESCULPAS AO DR. ANTÓNIO REBELO.

Cumpre-me corrigir os termos do reparo que fiz à tradução do Dr. Rebelo.

"Para restabelecer a competitividade na Europa, os salários terão de baixar nos países europeus menos competitivos, de 20% em relação à Alemanha. Com alguma inflação, esse ajustamento é mais facilmente realizável."

Esta a tradução que o Dr. Rebelo fez, a negrito, imediatamente seguida de, já sem negrito,
"[deixando aumentar os preços sem aumentar os salários]" - "(en laissant filer les prix sans faire grimper les salaires en conséquence)" - esclarecimento do jornalista. Não prestei atenção a esta parte, quiça por não estar a negrito.

Fui ligeiro na interpretação, sem dúvida, porque o que pretendia realçar era o facto de esta política ser "aplicada nos próximos cinco anos" e PK não defender o corte de 20% no valor nominal dos salários. Em boa verdade não é isso que ele defende, antes um ajustamento para aquele corte através da inflação nesse período. O que faz uma grande diferença, pois evitaria a destruição do nosso tecido económico, quiça o seu desenvolvimento, nomeadamante através do aumento das exportações. Esteja ou não esteja eu de acordo.

Fui ainda, lamentavelmente, influenciado por um texto que li no "Negócios online" (30/1/12) da jornalista Eva Gaspar que usou este título:

"Krugman recomenda corte de 20% nos salários da periferia do euro"

e no artigo traduz assim aquele parágrafo:

"Para restaurar a competitividade na Europa ter-se-ia de fazer com que, daqui a cinco anos, os salários baixassem nos países menos competitivos 20% em relação à Alemanha". E fá-lo citando P.K., sem mais considerandos.

É fácil ver que aquela jornalista não usou da honestidade que o Dr. Rebelo usou.

A minha falta de atenção e rigor são condenáveis, mas espero que o Dr. Rebelo aceite o meu sincero pedido de desculpas. Pedido de desculpas extensivo aos leitores deste blogue.

Anónimo disse...

Fica descansado Fernando, que eu nunca fui nem sou de ressentimentos. Estás desculpado, absolvido, ilibado, e mais o que quiseres.

Um abraço fraterno e tomarense.

Anónimo disse...

Prezado conterrâneo Luis Ferreira:

Tens razão. Terá de se avançar por aí. Com determinação e humildade. Mas sem empresa mista. Sejam quais forem os futuros vencedores. Sob pena de cairmos na miséria.

Cordialmente

alexandre leal disse...

Também as minhas desculpas ao Amigo Cantoneiro pela péssima avaliação e comparação efectuadas.

Com os meus cumprimentos