Carlos Carvalheiro Foto Rádio Hertz
Rui Sant'Ovaia, um dos raros docentes que publicam na imprensa local, subscreve n'O TEMPLÁRIO um texto denso, cujo título já é todo um programa. Com efeito, seguindo o seu raciocínio, o turismo como âncora económica, embora possa parecer, não é seguramente a última ilusão tomarense. Apenas a mais recente e mais uma da longa série de quimeras nabantinas.
Embora não concordando com o teor geral do escrito, nem com a sua conclusão, que me parece irremediavelmente sem esperança, tenho de reconhecer que o autor revela coragem ao abordar tema tão complexo e espinhoso na conturbada política local. Onde os principais protagonistas -os membros da maioria relativa- são percepcionados por alguma opinião pública mais informada numa de duas posturas desesperadas. Ora parecem náufragos tão ansiosamente agarrados aos destroços do que resta do executivo, que não lhes sobra disponibilidade para mais nada. Ora se assemelham àqueles motoristas TIR, que de repente ficam sem travões nem direcção assistida, mas que em vez de saltarem em andamento buscam debalde uma rampa de socorro, como aquelas das auto-estradas europeias.
Afirma o autor citado que "Se o turismo pretende ser uma alternativa à indústria, tem que movimentar um volume de negócios equivalente; isso desde logo reduz tal "indústria" ao turismo de massas e ao turismo de elites." Trata-se, na minha óptica, de um duplo axioma falso. Por um lado, que se entende por volume de negócios? Qualidade? Quantidade? Valor monetário? Por outro lado, não é inevitável que tudo se reduza desde logo a massas/elites. No caso de Fátima, por exemplo, trata-se de turismo de massas? De elites? De ambas?
O problema do desenvolvimento tomarense e do turismo nabantino é afinal idêntico ao de todos os outros sectores. Uma questão de mentalidade, de atitude e de mercadologia. De mentalidade, porque desde sempre os tomarenses se habituaram a aguardar que alguém lhes resolva os seus problemas, seja lá quem for, seja lá quando for, seja como for. De atitude, porque a sua postura é praticamente idêntica à daquelas meninas do Bairro Vermelho de Amsterdam, que se colocam na montra e vão esperando pelos clientes. De mercadologia, porque ainda assim as meninas de Amsterdam, de Bangkok ou de qualquer outra zona de comércio de encantos, se arranjam para atrair os clientes. Aliás, já no século XIV, há portanto mais de 600 anos, um Doge de Veneza constatou um anormal incremento da homossexualidade masculina, tendo logo mandado implementar uma providência correctiva. Determinou que as rameiras venezianas passassem a mostrar-se à porta ou à janela, com as tetas ao léu. A Ponte delle tette (ver mapa) é hoje uma atracção turística, a lembrar essa acção de mercadologia ou de marketing. Que não foi a primeira. Longe disso. Segundo o imperador Marco António, já Cleópatra, há mais de 20 séculos, sabia valorizar a "mercadoria".
Regressando ao texto de Sant'Ovaia, salvo melhor opinião, é meu entendimento que o problema do turismo em Tomar resulta da antes citada atitude de permanente imobilismo em relação a todos os sectores, agravada pela evidente aversão dos eleitos por qualquer inovação.
Não basta ter recursos naturais, património construído ou boa vontade, para singrar na indústria turística. Há que trabalhar arduamente, ter ideias, ousar, fugir da sombra da bananeira pública, que está a secar rapidamente. A situação tomarense é de tal modo grave que mesmo na área do turismo, onde até há uma instituição de ensino superior que em princípio forma, entre outros, profissionais de animação de tempos livres, o único produto tomarense actualmente no mercado -e logo num catálogo prestigiado (ver ilustrações)- é afinal obra de um tomarense devotado ao teatro e que nunca estudou turismo, se calhar porque prefere praticá-lo. Estou a mencionar Carlos Carvalheiro, a alma do Fatias de Cá. Que quiçá por ser engenheiro parece ter adoptado desde há muito a divisa latina Res non verba = Actos e não palavras! De outro modo não vamos lá!
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