"No drama grego a que assistimos, todos parecem ter razão. O povo que se revolta contra a austeridade em que é o principal atingido, não tem outro meio para mostrar a sua frustração. Quando o salário mínimo nacional passa de 780 para 586 euros mensais, apenas restam os olhos para chorar. O desemprego ronda já os 20% da população activa e três anos de sacrifícios atingiram em cheio os serviços públicos, devastando o nível de vida das classes médias e populares.
Os deputados, que votaram maciçamente, na noite de12 para 13 de Fevereiro, o plano de austeridade orçamental, enquanto o bairro do parlamento era pasto do fogo posto pelos manifestantes, também não tinham escolha. A classe política está desacreditada, o governo foi entregue a um tecnocrata, assessorado por 45 especialistas europeus, enviados por Bruxelas, para o ajudar a implementar as reformas indispensáveis. O sistema político encontra-se em plena decomposição. Resta a esperança de que as eleições antecipadas, anunciadas para Abril, sejam um primeiro passo para a reestruturação da política grega.
A União Europeia, que mantém o governo grego sob forte pressão, procurando conseguir as reformas estruturais indispensáveis para sanear as contas públicas, também não tem outra escolha possível. O facilitismo orçamental foi tolerado durante demasiado tempo. Na Grécia, esse facilitismo foi até à falsificação dos números do défice que Atenas enviava para Bruxelas. A confiança desapareceu. Não se podem acusar os parceiros europeus da Grécia de exagerar na exigência de garantias, como contrapartida de um novo resgate externo de 130 mil milhões de euros, que a troika terá de desbloquear, para permitir ao governo grego escapar uma vez mais à bancarrota na data-limite de 20 de Março. Tanto mais que dois outros países da zona euro, Irlanda e Portugal, igualmente assistidos pela troika, implementam as reformas exigidas sem recorrer à "chantagem da bancarrota", como costuma fazer a Grécia.
Há contudo limites para aquilo que se pode impor a um país. E também há limites para os resultados que se podem esperar de uma tal cura de austeridade, conforme mostra a análise publicada nas nossas páginas internacionais de 14 de Fevereiro. A ajuda europeia vai permitir à Grécia ultrapassar um obstáculo importante, mas apenas fará muito dificilmente passar o défice público grego de 160 para 120% do PIB. Está-se muito longe da cura.
Perante tal constatação, o debate sobre a oportunidade da permanência da Grécia na zona euro voltou a reacender-se. Os ministros das finanças dos 17 países do eurogrupo vão reunir-se quarta-feira próxima e voltarão a interrogar-se. Há, no entanto, uma outra opção. Ter a coragem de ir até ao fim daquilo que já foi iniciado pelos credores privados do estado grego: pronunciar o horrível vocábulo reestruturação. Elimina-se a dívida e os gregos escolhem livremente. Ou ficam no euro ou saem."
Le Monde, Editorial, 15/02/2012, primeira página
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