sábado, 4 de fevereiro de 2012

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Le Monde, 31/01/12, página 15

Para o Cantoneiro da Borda da
Estrada, que apesar de tomarense dos quatro costados, 
tem a humildade de reconhecer os seus erros,
pedindo desculpa. Se todos fôssemos assim...

"Apesar dos esforços em curso, Portugal poderá vir a necessitar de novo resgate externo"

"Os investidores receiam vir a ser forçados a perder uma parte dos seus créditos a Lisboa"

"Uns são acusados de batota e de deixa andar, os outros louvados pela sua disciplina e boa vontade. Aqueles são gregos, estes portugueses. Apesar das diferenças, os investidores parecem pensar que estes dois países endividados e atascados na recessão poderão vir a sofrer o mesmo destino: a bancarrota parcial.
Desde há vários dias, apesar da acalmia geral nos mercados europeus, as taxas de juro que o governo de Lisboa tem de satisfazer subiram em flecha (mais de 14% para a dívida a 10 anos). E os CDS, os prémios de seguro contra a bancarrota, atingiram um novo record.
Sob assistência financeira da troika desde Maio de 2011, Portugal não tem neste momento necessidade de se financiar nos mercados. Trata-se porém de um mau sinal para o futuro. "Os investidores pensam que não vão conseguir o reembolso integral da dívida pública portuguesa", esclarece a partir dos Estados Unidos Marc Chandler, de Brown Brothers Harriman. Na sua opinião, Portugal vai precisar de nova ajuda da troika em 2013. Ou até mesmo de uma reestruturação da sua dívida, como está a acontecer agora com a Grécia. "Não terá necessidade de anular uma percentagem tão elevada como a Grécia", acrescenta, "mas terá de o fazer mesmo assim".
Raciocínio "absurdo", contrapõe Diogo Teixeira, de Optimize - Lisboa. Lembra que a dívida soberana portuguesa deverá atingir este ano 101,7% do PIB. Ou seja, muito menos que os 120% previstos para a Grécia em 2020, após a reestruturação da sua dívida. Segundo o mesmo analista, solicitar aos detentores de dívida soberana portuguesa que aceitem perdas seria mesmo contraproducente: "Os bancos portugueses detêm perto de 40 mil milhões de dívidas (dos 180 mil calculados pelo FMI, no final de 2011), segundo a sua estimativa. Penalizá-los poderia asfixiá-los, forçando o Estado a  socorrê-los."
Também é verdade que Portugal fez esforços notáveis. O déficit baixou de 9,8% do PIB, em 2010, para 4% no final de 2011. Melhor que o objectivo de 5,9% fixado pela troika. Foi feita uma importante reforma do mercado de trabalho e as exportações portuguesas aumentaram em 2011.
No entanto, apesar de Diogo Teixeira excluir qualquer reestruturação da dívida portuguesa, como de resto muitos outros economistas, subsistem dúvidas sobre a possibilidade do regresso aos mercados em 2013, como previsto. Para isso será preciso que entretanto a confiança dos investidores seja restabelecida. A degradação imposta pela Standard & Poor's, em Janeiro, que atirou a dívida portuguesa para "lixo", não contribui mesmo nada para acalmar os mercados.
É sobretudo o agravamento da situação económica que coloca Portugal numa postura delicada: prevê-se uma recessão de -3% este ano, mais grave portanto que a indicada pela troika, na primavera de 2011. A exportações para Espanha, França e Alemanha, que representam 50% do total, vão ser certamente penalizadas pelas crescentes dificuldades da zona euro.
Neste contexto, a redução do défice terá muita dificuldade em atingir os objectivos fixados. "Ganharíamos tempo, prolongando desde já a ajuda a Portugal até ao fim de 2014", pensa Gilles Moëc, da Deutsche Bank. Esta nova ajuda seria da ordem dos 29 mil milhões de euros, segundo o mesmo analista. Uma soma "razoável" para poder honrar os reembolsos durante esse período. "Não devemos desperdiçar as perspectivas que permitam a Portugal ultrapassar a crise", insistiu a mesma fonte."

Claire Gatinois, Le Monde, 31/01/12, página 15


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