sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Alambor, Assembleia Municipal e Funerais políticos






Começo pelas boas notícias, aquelas que vão reforçando a vontade de continuar. A petição pró-alambor já ultrapassa os 2100 signatários. O signatário 2105 - Raul Fernandes Berenguel, que não tenho o gosto de conhecer, é claro e conciso: "Uma aberração inacreditável. Vi e testemunho o que se passa em Tomar."
Esta manhã, por volta das 11 horas, estive uma vez mais no local, tendo constatado duas coisas: 1 - As obras  estão paradas, como mostram as fotos. Há apenas actividade por parte de um subempreiteiro na edificação da futura cafetaria, na Cerrada dos Cães. Mas só até quinta-feira próxima, caso não venha mais dinheiro. 2 - São grandes os embaraços, tanto para os turistas como para os motoristas, como também se vê nas fotos, apesar de já não estarmos na época alta.
Feito assim o "trabalho de casa", pouco antes das três fui até aos Paços do Concelho para assistir à reunião da Assembleia Municipal, conforme tinha prometido no post "É uma vergonha e não me posso calar". Na sequência da sua leitura, deputados municipais contactaram-me a título pessoal, no sentido de saberem qual era a minha posição na questão do alambor. Dê-lhes o documento abaixo, que veio a servir de matriz para a moção que subscreveram e apresentaram na mesa da Assembleia.


Logo a abrir a sessão, à qual não compareceu o presidente, retido em Lisboa por urgentes assuntos governamentais, o secretário José Pereira (PS) foi claro e agreste. Após ter admitido algum nervosismo ambiente, na enumeração das propostas, quando chegou à H, distraiu-se e deixou escapar uma curiosa frase: "Proposta H, sobre o famigerado alambor." Os socialistas, obrigados pela coligação alimentar ou ganha-pão, iam portanto votar contra. E assim sucedeu. Chegado o momento, os coligados PSD/PS votaram contra e todos os outros a favor, sendo a moção rejeitada. Ou seja, com ou sem declarações de voto, José Vitorino, Luís Ferreira, Anabela Freitas e tuti quanti, são a favor daquela monstruosidade que estão a fazer lá em cima junto ao Convento e ao Castelo, e cuja acção de protesto já mobiliza mais de dois milhares de cidadãos a nível nacional.
Transitórios e aparentes vencedores, nem se dão conta do buraco onde se acabam de enfiar. Porque afinal, o melhor para todos era mesmo o voto favorável da moção. Uma vez que a relativa maioria laranja nem sequer cumpre as leis do país, quando tal lhe dá jeito (tenho provas disso, que posso apresentar onde convier), também não ia cumprir o determinado na moção. E assim teriam ficado todos muito felizes na fotografia. Não quiseram, por evidente casmurrice, agora não se queixem. Mas é muito provável que -mesmo sem querer- quase todos tenham assinado a sua própria certidão de óbito político, a partir das autárquicas de 2013. A nova realidade não perdoa aselhices crassas. Como veremos no próximo texto. Até lá!

FREGUESIAS: mudar qualquer coisinha

Ilustração O TEMPLÁRIO (modificada)

Viu bem o Giovani di Lampedusa, quando escreveu que tem de se ir mudando qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma. De alguma maneira, uma versão moderna do medieval "Chassez le naturel, il reviendra au galop". A anunciada reforma administrativa imposta pela troika ainda nem começou, e já vamos por esse caminho. Primeiro foi o ministro Relvas, afirmando que por agora câmaras não, contrariando assim o ditame do trio. Agora, que se anunciou a inevitável supressão de freguesias por fusão, só aqui em Tomar já apareceram publicamente três discordantes.
Luís Ferreira acha que se deve rever o critério dos mil habitantes, como mínimo para a manutenção das freguesias rurais, dado que, diz ele, por exemplo a Sabacheira, arrisca-se a desaparecer por uma diferença de 44 habitantes. Mais afoito por necessidade, o presidente da Pedreira, Gabriel Honrado, não foi de meias palavras  -O limite ideal mínimo seria, segundo disse, 500 habitantes, o que permitiria manter aquela freguesia. Nem lhe terá passado pela cabeça que, a manter-se a Pedreira, que por acaso é a mais pequena do concelho em termos populacionais, então não desapareceria nenhuma e continuaríamos com as 16... Ah ganda Lampedusa!
Até o mordomo da Festa Grande, como aqui antes referido, já foi deitando a sua pitadinha de sal. Se houver supressão de freguesias, isso vai prejudicar a festa, disse ele. Assim à vista desarmada não se vê bem como, tanto mais que os Tabuleiros estão como o resto -ou mudam ou morrem- mas o João Victal é bom rapaz e lá saberá o que diz e porque o diz. Quem sabe da tenda é o tendeiro.
Cá por mim, se me chamasse Miguel e tivesse por assim dizer a faca e o queijo na mão -sobretudo no caso tomarense- não estaria com meias medidas. Aproveitaria para mostrar ao país com que lenha se aquecem os herdeiros dos templários e dos cavaleiros de Cristo -cortaria a direito e cerce, tendo como critérios centrais a geografia, a história e ...quanto menos freguesias melhor, que mais barato fica!
Conforme mostra a ilustração, constituiria apenas duas freguesias, tendo como linha de separação o curso do rio. Teríamos assim, de um lado, Além da Ribeira, Alviobeira, Casais, Junceira, Olalhas, S. Pedro, Santa Maria e Serra; do outro, Asseiceira, Beselga, Carregueiros, Madalena, Paialvo, Pedreira, Sabacheira e S. João. Uma futura freguesia em cada margem do Nabão, com oito antigas nos dois casos e, respectivamente, 23.092 habitantes além-rio e 17.770 aquém-rio. Há no país freguesias com bastante mais população.
A não ser assim, entrar-se-á inevitavelmente em quezílias sem fim, com A a querer juntar-se a D e esta a preferir H, que por sua vez só aceita B, mas sem E... Um inferno nabantino.
Nomes para as novas entidades? Os da história local, meus senhores -Santa Maria dos Olivais para uma; Santa Maria do Castelo, para outra. Ou Santa Maria de Tomar, para os Olivais, e da Charola, para o castelo, dado que a igreja de Santa Maria do Castelo foi demolida.
Padroeira de Santa Maria dos Olivais ou de Tomar: a manuelina Virgem do Leite, que está no altar-mor de Santa Maria. Padroeira de Santa Maria do Castelo ou da Charola -a Virgem, que está no portal manuelino homónimo. A história tem sempre respostas. Para quem a saiba ler, como é evidente.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Principais temas da actualidade local



Quando a petição nacional  para a defesa e restauro do alambor templário vai já nas 2087 assinaturas, a imprensa local nem sequer refere o assunto. Resta aguardar como vai decorrer a Assembleia Municipal de amanhã, a partir da 15 horas, à qual os tomarenses se vão abster de assistir, conforme é tradição, que tão bons resultados nos tem dado.
O principal tópico da semana nos dois semanários é a anunciada reforma administrativa do concelho, que vai implicar a supressão de pelo menos metade das freguesias. Dada a complexidade e melindre do assunto, fica para o post de amanhã de manhã, altura mais propícia para digestões difíceis.
No CIDADE DE TOMAR, António Freitas assina variada colaboração, toda sobre temas já aqui antes abordados. Na página 3, relata-se a intervenção de Américo Costa, do Grupo Aqua, na última reunião do executivo, protestando contra o corte das árvores junto aos lagares da Levada e a tarifa de contador, cobrada pelos SMAS.
O vereador Carlos Carrão afirma que "o encerramento das extensões de saúde não pode ser decidido à revelia das autarquias e que qualquer alteração deve ter em conta o benefício das populações." Está cheio de razão. Porém, infelizmente para ele e para todos nós, doravante a realidade é outra, com outras exigências. Devido aos nossos erros anteriores, agora e daqui para a frente, qualquer alteração deve ter em conta, por esta ordem,  as imposições da troika, as disponibilidades orçamentais, a indispensável redução de custos, e só depois o benefício das populações. É no que deram as farturas...
São quatro os tópicos importantes n'O TEMPLÁRIO: As eleições da Misericórdia, A Festa dos Tabuleiros e o Turismo de Portugal, Os Lagares da Levada e uma crónica de Carlos Carvalheiro. Posto que os últimos são os primeiros (pelo menos a contar do fim), vamos à crónica do líder incontestado da troupe (no sentido nobre do termo) FATIAS DE CÁ.
Numa excelente prosa, como sempre solta mas substantiva, Carlos Carvalheiro alardeia uma vez mais décadas de tarimba política, a demonstrar a conveniência de começar sempre pela militância básica. Infelizmente, em Tomar e ao longo dos anos, tivemos direito a vários autarcas que entraram na acção política pelo sótão. Os resultados estão à vista de todos, pelo que não carecem de outra fundamentação.
Com extrema habilidade, Carvalheiro leva a água ao seu moínho, ao mesmo tempo que insinua uma candidatura provável para 2013, na lista laranja. Não dele, claro! Mas o melhor será ler a sua crónica com a atenção que ela merece.  Candeia que vai à frente...
O diferendo da Festa dos Tabuleiros com o Turismo de Portugal ainda vai dar muito que falar, como aliás é hábito por estas paragens. Quando as pessoas com responsabilidades consideram inimigos todos aqueles que têm opiniões diferentes e ousam exprimi-las, é praticamente impossível chegar a consensos. E sem consensos... No caso presente, tudo radica nos argumentos do Turismo de Portugal para recusar desta vez o habitual e chorudo subsídio a fundo perdido (100 mil euros em 2007 = 20 mil contos). O principal desses argumentos é uma evidência primária nos mercados turísticos internacionais, que a Comissão da Festa dos Tabuleiros se recusa a aceitar: Em termos de turismo internacional, afinal aquele que mais interessa ao Turismo de Portugal, qualquer evento que não seja anual e em data certa, tem reduzido interesse em termos de turismo organizado. Há anos e anos que venho repetindo isto mesmo, mas pelos vistos nunca quiseram ouvir. Até que a crise...
Não se fique a pensar que por concordar com a argumentação supra, sou um inimigo da Festa Grande. Pelo contrário. Parece-me é uma enorme heresia gastar centenas de milhares de euros sem retorno, num evento (neste ou noutro qualquer) que poderia facultar lucros substantivos, caso houvesse coragem e elasticidade mental suficientes para implementar outro modelo de organização. Se agora já ninguém faz, por exemplo, jornais como no século passado, por alma de que santo é que a festa tem de manter o mesmo figurino organizativo, ao ponto de João Victal  até afirmar que a prevista supressão de freguesias vai prejudicá-la?
Resta a agitação na Irmandade da Misericórdia, com o provedor a tentar reparar um erro crasso antes cometido, quando rejeitaram a admissão do padre Borga e do Dr. Luís Pedrosa Graça. Trata-se de uma forma de procurar garantir a sua continuidade no cargo para mais um mandato, ao arrepio do disposto no compromisso daquela santa casa. Visto que não faço, nem tenciono vir a fazer parte daquela agremiação filantrópica, limito-me a publicitar a minha opinião enquanto cidadão de Tomar. Como demonstra o caso da Madeira, quaisquer que possam ser os méritos do eleito, ninguém deve eternizar-se no cargo, nem a ele se agarrar, porque não há homens providenciais nem insubstituíveis. E o exercício do poder desgasta...

Dado que o céu está cada vez mais nublado...

É do conhecimento geral que o actual executivo municipal tomarense inclui dois juristas e um contabilista, presumo que Técnico Oficial de Contas. Tem igualmente quatro funcionários públicos, tudo cidadãos habituados a consultar o Diário da República, por assim dizer a versão portuguesa da Bíblia, tantas são as determinações de índole moral e ética nele contidas. Ainda assim, em período de vagas alterosas, nunca fez mal a ninguém uma pequena e eventual actualização de conhecimentos, vulgarmente designada por reciclagem. Para que não insistam uma vez mais em acusar-me de má língua, vou limitar-me a transcrever, sem qualquer comentário suplementar, uma Lei da Assembleia da República, em vigor há mais de quatro anos.
De acordo com as melhores práticas, nas democracias pluralistas os eleitos que reiteradamente não cumprem leis fundamentais, para daí sacarem benefícios materiais ou outros, devem ser investigados, demitidos e eventualmente julgados., tudo pelos órgãos adequados.
Dito isto, seguem-se os extractos da citada lei. Boa leitura, sobretudo para os senhores eleitos todos.

Lei 2/2007 -Lei as Finanças Locais- de 15 de Janeiro de 2007

Artigo 48º
  • 1 - As contas anuais dos municípios...devem ser verificadas por auditor externo.
  • 2 - O auditor externo é nomeado por deliberação da Assembleia Municipal. sob proposta da Câmara, de entre revisores oficiais de contas ou sociedades de revisores oficiais de contas.
  • 3 - Compete ao auditor externo que proceder anualmente à revisão legal de contas:
               d) - Remeter semestralmente ao órgão deliberativo [Assembleia Municipal] do Município... informação sobre a respectiva situação económica e financeira.
                       e) - Emitir parecer sobre as contas do exercício...
Artigo 49º
  • 1 - Os municípios devem disponibilizar, quer em formato papel, em local visível, nos edifícios da câmara e da assembleia municipal, quer no respectivo sítio na Internet:
                       f) - O montante total das dívidas, desagregado por rubricas e individualizando os empréstimos bancários.


A cor azul é de Tomar a dianteira.                  

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

E os próximos alvos são...

Numa das problemáticas que mais preocupa os tomarenses, a da transferência e/ou encerramento de serviços públicos na cidade e no concelho, enquanto a autarquia se vai calando ou, pelo contrário, tomando decisões sem qualquer fundamentação, um autarca da região resolveu vir dar lições aos tomarenses. Em declarações à Rádio Hertz, António Rodrigues, presidente da Câmara de Torres Novas e da Comunidade do Médio Tejo, afirmou que a ideia de reduzir as urgências hospitalares partiu de Tomar. Disse igualmente que nessa matéria há gente a falar em excesso e que o melhor é manter um prudente silêncio sobre o assunto.
Estranha posição esta, de um autarca eleito e dirigente intermunicipal igualmente sufragado, que ousa vir para um concelho vizinho dar conselhos, ainda por cima no sentido de levar os cidadãos eleitores a não abrirem o bico. Como se estivéssemos ainda antes do 25 de Abril.
Por muito que custe ao senhor autarca, que não hesita em usar de práticas manhosas para não cumprir as leis em vigor, quando tal lhe não convém, há liberdade de expressão e direito à informação. O que permite dizer aos tomarenses quais são nesta altura as instituições públicas locais ameaçadas de encerramento a longo prazo e porquê.

  1. O Instituto Politécnico de Tomar, ou muda muito rapidamente, ou morre, conforme já aqui foi dito o ano passado. Nem sei mesmo se o tempo de mudar ainda existe. Lanterna vermelha na primeira fase de candidaturas, com floreados de circunstância no sentido de enfeitar a realidade, sem corpo docente que se recomende pelos graus académicos, recrutamento opaco de docentes, clima interno extremamente problemático e formações que não primam pelo trinómio originalidade/qualidade/empregabilidade, está praticamente condenado. Passará primeiro a ser um apêndice de Santarém ou de Leiria, para depois desaparecer, vítima das suas práticas, da modernidade e do ensino à distância.
  2. Hospital de Tomar: dada a sua atribulada história e a cada vez mais acentuada decadência económica e populacional de Tomar, já largamente ultrapassada por Ourém, irá perdendo valências até se transformar num local de cuidados paliativos e para a terceira idade. Falta agora determinar apenas para onde passarão a ser conduzidas as urgências do concelho de Tomar. Para já, Abrantes; depois, Santarém ou Leiria? Com a conclusão do IC9, a capital do Lis tem vantagem. Fica mais perto. As novas vias servem para trazer, mas também para levar gente...
  3. Regimento de Infantaria 15. Tomar já foi uma verdadeira cidade de guarnição, com comando de região militar e tudo. Após o 25 de Abril foram-se sucessivamente o quartel general, a banda de música, a fanfarra, a farmácia, o hospital militar, a messe de oficiais e a infantaria tradicional, substituída pelos paraquedistas, entretanto transferidos para o exército e rebaptizados como infantaria aerotransportada. Infantaria 15 é agora, em termos de efectivos, uma sombra daquilo que em tempos foi. Com a crise agravar-se, aumentam as medidas tendentes a reduzir despesas. Constatando que o quartel tem coberturas de amianto, material proibido na União Europeia desde o final dos anos oitenta, e não havendo dinheiro para substituir tudo aquilo, já se fala nos meios castrenses em fechá-lo, concentrando as tropas da zona no Campo Militar de Santa Margarida...
Claro que tudo isto é nefasto, doloroso e mal aceite pela população. Julgo, porém, que não é com silêncio,   paninhos quentes e paleio de circunstância que vamos conseguir recuperar de tais traumas. Sendo cada vez mais evidente que o futuro se parece cada vez menos com o passado, urge arejar mentalidades e não esperar que as coisas aconteçam, mas fazê-las acontecer. Como? Pois aí é que reside o problema. Todos conseguimos improvisar, mas só os realmente dotados é que logram triunfar improvisando. Os outros apenas vão deixando um rasto de esterco, embora lhes pareça o contrário. É como dizia o ex-primeiro-ministro Sócrates: "Se soubessem o trabalho que me deu preparar este improviso e ter sorte com ele..."

    Últimas do alambor






    Certamente nauseados com tanta bimbalhada, que só nos envergonha aos olhos dos estrangeiros que nos visitam, cidadãos manifestaram-se, grafitando o horrível paredão. As suas mensagens dispensam comentários, numa altura em que a petição nacional já vai nas 2059 assinaturas em 30 dias. A provar que em Portugal ainda há  muitos cidadãos decentes, que não se deixaram contaminar pelos dinheiros de Bruxelas.


    Entretanto pararam as obras do paredão. Há duas versões sobre as causas da suspensão dos trabalhos. Uma dá a entender que vieram ordens de algures em Lisboa, no sentido de parar com a edificação de um muro que de qualquer maneira é para demolir, mais cedo ou mais tarde. Em nome do bom senso, do bom gosto, do respeito pelo nosso passado e pelos fundadores de Tomar. É a que se me afigura mais plausível. 
    A outra versão reza que o subempreiteiro do paredão discutiu com o adjudicatário da obra, reclamando-lhe a liquidação da factura, uma vez que a Câmara já pagou. Dado que o adjudicatário não quis meter a mão ao bolso...
    ...o subempreiteiro chamou-lhe nomes, carregou todo o material, levou as máquinas e o pessoal, jurando que nunca mais voltava a vir trabalhar para estas paragens.
    Logo adiante, na Cerrada dos Cães, pessoal de outro subempreiteiro continua a edificação da futura cafetaria com casas de banho subterrâneas, como as existentes 15 metros a nascente e agora encerradas. A fartura dá nisto. Em vez de reparar as existentes, fazem-se novas. A Ordem é rica e os frades são poucos. O pior é a troika!

    RUMO AO ABISMO

    A vida nabantina continua amorfa, pelo menos à superfície, como se nada houvesse susceptível de perturbar a dormência usual da esmagadora maioria da população. E no entanto...
    Graças ao vereador Luís Ferreira, que tem sido e continua a ser o único eleito a fornecer aos eleitores informações úteis, adequadas e atempadas, fica-se a saber, como de resto já há muito aqui se previu, que a autarquia se encontra em estado de "desequilíbrio financeiro conjuntural". Ou que significa, em palavras simples, que está como a Madeira , Portugal ou a Grécia, embora não com a mesma gravidade. Ainda assim, necessita quanto antes de reestruturar a sua dívida global, que naturalmente se vai agravando, conforme determina a Lei das Finanças Locais e o Decreto-Lei 38/2008. Já ultrapassou os limites legais em dois dos quatro parâmetros considerados, não devendo tardar muito a ultrapassar também os outros. Isto porque, ao invés de se focarem na poupança, vulgo redução de despesas, os senhores eleitos da maioria relativa, continuam irresistivelmente atraídos pelas despesas tendentes a facilitar uma futura reeleição (obras sem articulação entre si, subsídios, festivais, festas e festarolas, excursões-tintol, consultoria externa e out sourcing, etc. etc.) Vamos ter por conseguinte dois anos terríveis, durante os quais quase tudo pode vir a acontecer.
    Neste momento, é meu entendimento que a relativa maioria não pode nem quer solicitar o tal plano de saneamento financeiro, designadamente pelas razões seguintes: 
    1- Não pode, pois o nº 1 do artigo 40º da Lei das Finanças Locais e o nº 1 do artigo 3º do Decreto-lei 38/2008 estabelecem que de tal operação não podem resultar encargos líquidos superiores à situação anterior, o que aconteceria nas actuais condições de mercado. Basta recordar que a câmara aprovou recentemente a contratação de mais dois empréstimos, de valor global superior a um milhão de euros (que a Assembleia Municipal vai discutir e votar na próxima sexta-feira, a partir da 15 horas), com encargos superiores a 9% ao ano (spreads de 7 e 7,5 + taxa básica + despesas várias).
    2 - Solicitar um plano de saneamento equivaleria, à escala municipal, ao actual memorando de entendimento com a troika, a nível nacional. Seria por conseguinte admitir oficialmente a falência do modelo de gestão encetado pelo PSD na autarquia tomarense, que em tempo oportuno foi pomposamente baptizado "No rumo certo".
    3 - Implicaria uma prévia e séria auditoria externa às contas municipais, coisa de que os senhores autarcas fogem como o diabo da cruz, vá-se lá saber porquê!
    4 - Obrigaria a entregar à Assembleia Municipal, para debate e votação, diagnósticos semestrais do andamento do plano, o que sendo as coisas aquilo que sempre têm sido, representaria no subconsciente dos senhores edis do executivo a queda na lama da tribo executiva.
    Nestas condições, que o futuro só pode vir a agravar de forma singularmente rápida, como temos eleitos que continuam a não entender nem a natureza da crise nem a sua gravidade, chegará o momento em que a carripana municipal nem poderá continuar estacionada, porque empata o trânsito, nem poderá andar, por falta de pneus, de motor e de combustível. Brilhante perspectiva!

    terça-feira, 27 de setembro de 2011

    "QUE DEUS GUARDE A SENHORA MERKEL"

    "Quanto mais se olha para a realidade portuguesa, de ontem e de hoje, mais se admira a chanceler alemã. É verdade que existe a pátria, os nove séculos de histórias e historietas, D. Afonso Henriques, Camões, Pessoa, os Descobrimentos, barões, baronesas, condes, condessas, duques, duquesas, pais da ditadura, com Salazar, do Serviço Nacional de Saúde, como Arnaut, da democracia, como Mário Soares, e por aí adiante.
    Também é bom não esquecer intelectuais de todas as categorias, escritores, poetas, pintores, escultures, filósofos e, claro, doutores, muitos, para todos os gostos e feitios, e académicos de grande gabarito. Ficaria mal não falar dos brilhantes economistas da praça, arquitectos premiados, e engenheiros das muitas obras feitas aquém e além-mar. A pátria é muito rica, tem imenso património e tem um mar extenso que agora está na moda e faz parte dos escritos de qualquer político de esperança e optimista no futuro do país. A pátria, com todo este espólio humano e material, acabou na falência e agora anda de mão estendida por essa Europa fora, garbosa como sempre. Nas horas de desgraça, é costume descobrirem-se algumas verdades e não há nada como lavar a roupa da família em público, para passar o tempo a fingir que nada, a partir de agora, será como dantes.. A triste Madeira está no topo das atenções, as dívidas acumuladas andam a ser auditadas e o esperado e prometido relatório irá mostrar como Jardim andou a ganhar eleições à custa de dinheiro alheio. Mas os que andam a partir os telhados do presidente da ilha deviam primeiro olhar para as telhas das suas casas, para terem a certeza de que não há nenhuma partida. E o mais natural é que não haja titular de cargo político, antigo e actual, que não tenha telhados de vidro. A prática madeirense não é um exclusivo de João Jardim. É uma escola tão velha como a democracia. Do poder central ao local, passando pelo regional, todos gastam acima das possibilidades e fazem tudo o que está ao seu alcance para esconderem as dívidas o melhor que podem. Bem podem andar por aí uns freis Tomás de trazer por casa a dizer que não e a prometerem amanhãs de contas certas. Santos da casa não fazem mesmo milagres. É preciso que venha alguém de fora, com a autoridade de um credor, pôr ordem na casa. É verdade que já cá está a troika. Mas talvez não chegue. É por isso que a senhora Merkel, odiada por tantos, avançou com a ideia de os incumpridores perderem ainda mais soberania, para serem obrigados a andar na linha. Portugal, como a Grécia, a Irlanda e todos os países do euro de uma maneira geral, já perderam uma parte significativa da sua soberania económica e financeira. O passo seguinte será, obviamente, a soberania política. Dito de outra forma, é natural que a Alemanha venha a propor mudanças nos tratados europeus para salvar o euro e a União Europeia. Mudanças que podem ir ao ponto de um país soberano, uma nação valente, como Portugal, se transformar rapidamente num protectorado. Algumas almas vão rasgar as vestes. A maioria dos portugueses vai agradecer a Deus por existir uma senhora Merkel."


    António Ribeiro Ferreira, editorial, jornal i, 27/09/2011
    As mudanças de cor são de Tomar a dianteira

    Somos campeões distritais!


    Em relação ao post de ontem, "Ultrapassar a crise com gente assim?", alguns leitores não terão ficado assim muito convencidos. O costume. Em aditamente, aqui vai este recorte da página 11 do CORREIO DA MANHÃ de hoje. Nele se pode constatar que não conseguimos classificar-nos a nível nacional, entre os dez supermercados mais baratos. Só Torres Novas é que obteve um quinto lugar. Terra de pobretanas, está-se mesmo a ver! Felizmente que a nível distrital o real valor tomarense acabou por vir ao de cima. Temos o supermercado mais caro do distrito de Santarém! Eu sempre disse que podemos não habitar numa rica terra, mas moramos de certeza numa terra  rica. Ou pelo menos temos a mania disso! Os nossos autarcas jardinistas que o digam!

    Jardinismo 1 - Tomarensismo 0

    Único acesso ao Convento de Cristo - Património Mundial, para os visitantes vindos de automóvel  de autocarro, ou pela Mata. Há mais de 6 meses. E as obras não há meio de acabarem, numa clara demonstração de que o projecto inicial... As protecções de madeira do lado esquerdo da foto só foram acrescentadas aquando da estranha visita do senhor Secretário de Estado de Estado da Cultura. Que passou por ali, mas deve ter achado tudo muito natural, uma vez que declarou à imprensa não ter qualquer razão para duvidar dos responsáveis locais. Nem mais, nem menos. Com governantes assim, bem pode a cúpula governamental ir-se esforçando em prol do bem comum. Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é o nosso fado.


    Após ter sido forçado a solicitar a ajuda externa -neste caso dos cubanos do contenente- para começar a pagar a gigantesca dívida, o patusco Alberto João começou a sua campanha eleitoral como sempre vem fazendo há mais de 30 anos -inaugurando. Desfeito o encanto do homem uma vez conhecido o gigantesco buraco e as ridículos justificações apresentadas, os jornalistas cubanos lá arranjaram coragem para escrever o óbvio: o cacique funchalense nunca teve, nem tem, nem sequer imagina o que seja um programa de governo.
    Infelizmente para os madeirenses, na sua esmagadora maioria analfabetos políticos, o que os leva a nele continuarem a votar, e sobretudo para nós, que vamos ter de pagar, sem termos culpa alguma, o ilustre governante, que conseguiu licenciar-se em direito no contenente, ao cabo de mais de 8 anos -por antiguidade, portanto- sempre adoptou na sua vida política o velho lema salazarento "a minha política é o trabalho". No caso devidamente adaptado para "o meu programa político são as obras". Aí está o magnífico resultado!
    Em Tomar, para mal dos nossos pecados enquanto contribuintes, todos os presidentes de câmara eleitos em democracia entram na política ou pelo sótão, ou pelas janelas dos últimos andares. Foram directamente para a presidência, portanto sem qualquer prévia "tarimba política",Luís Bonet, Amândio Murta, Jerónimo Graça e Pedro Marques. Transitaram antes pela vereação António Paiva e Corvêlo de Sousa, estando Carlos Carrão na calha. Magníficos resultados igualmente à vista: uma dívida a fornecedores que até assusta, encargos bancários de arrepiar, trapalhadas com os empreiteiros e total ausência de ideias portadoras de futuro. É o jardinismo tomarense em todo o seu esplendor: O nosso programa são as obras. E que obras! Excepto as estradas, o saneamento e a ponte do Flecheiro, as outras ainda ninguém conseguiu descobrir para que servem, ou de que projecto estratégico fazem parte. Jardinismo 1 - Tomarensismo 0.

    segunda-feira, 26 de setembro de 2011

    Ultrapassar a crise com gente assim?


    Desculpem a confissão: esta tarde estive quase a chorar. Por constatar uma vez mais que esta desgraçada terra, apesar de possuir inúmeros trunfos, dificilmente conseguirá alguma vez reencontrar a senda do progresso. Há demasiados factos convergentes, apontando no sentido da nossa inaptidão para viver neste mundo em permanente mudança, cada vez mais exigente.
    Logo pela manhã li n'O TEMPLÁRIO ON LINE que os super e hipermercados tomarenses são bastante mais caros do que por exemplo em Torres Novas. Mais15% em média para o cabaz completo, mais 44% em média para a fruta e legumes, mais 24% em média para o peixe.
    Pouco depois abri e li o mail do jornalista António Freitas, no qual lamenta ter visto 30 turistas galegos nos Casais, sem qualquer acompanhamento profissional, à espera do autocarro da autarquia para o regresso ao ponto de partida, na Porta de S. Tiago. E remata: "Não basta ter as ideias [de organizar uma caminhada de 13 quilómetros pelo troço tomarense do Caminho de Compostela]. É preciso articulação e sensibilização e limpeza e manutenção do Caminho, e sinalizá-lo..."
    Tentando levantar o astral, consultei a Petição a favor da protecção do alambor e fiquei mais animado. 2020 pessoas já subscreveram, em menos de um mês. Foi porém sol de pouca dura. Puz-me a contar os subscritores tomarenses e acabei por perder novamente o élan.
    Para desanuviar o espírito, fui dar uma volta nesta terra de que tanto gosto. Tive pouca sorte. Um amigo com quem falei lamentou amargamente que os responsáveis pelo Convento de Cristo tenham proibido os fotógrafos profissionais de tirar fotografias a noivos naquele monumento. Pior ainda, como se tal prepotência não fosse já suficientemente grave e um claro abuso de poder, deu-me a saber que um profissional de Torres Novas, que no início deste mês fotografava um par de recém-casados no jardim do castelo e no terraço de acesso ao Portal da Igreja, foi asperamente repreendido e intimado a sair. Com que direito? O Convento de Cristo e o Castelo dos Templários não são património do Estado? O respectivo acesso não é inteiramente livre, apenas condicionado pelo horário de funcionamento e, eventualmente pelo custo do bilhete de entrada? Os funcionários do defunto IGESPAR julgam-se donos daquele conjunto monumental? A autarquia e a Assembleia Municipal nada têm a dizer perante tais atentados às liberdades fundamentais dos cidadãos, nomeadamente à liberdade de circulação e ao livre exercício da sua profissão, no respeito pelas leis em vigor?
    Com tudo isto no mesmo dia, os leitores já compreenderão agora porque estive quase a verter lágrimas, que não seriam de modo algum de crocodilo. Podem crer.
    Termino com a interrogação inicial: Ultrapassar a crise numa terra assim, com gente assim? Era bom era! Mas será extremamente difícil, senão mesmo impossível. Infelizmente!

    Um atribulado caminho rumo ao final do reinado


    Em vez de comemorar o Dia Europeu do Património com uma visita ao Alambor Templário, (conforme sugerido por Hugo Cristóvão), onde francamente assumiria a destruição involuntária e mostraria sincero arrependimento, proclamando estar ali para ouvir os tomarenses e reparar o erro na medida do possível, resolveu a autarquia mostrar o estado das obras no futuro Elefante Branco da Levada. Além do já aqui escrito, tal evento acabou por constituir igualmente um bom retrato da actual situação política local, partindo do conhecido axioma "em política o que parece é" para escrutinar quem esteve e quem brilhou pela ausência.
    Da comunicação social profissional apenas estiveram a Rádio Hertz e O Templário, que se pisgaram "para ir trabalhar" quando a senhora arqueóloga se começou a alongar em considerações. O que significa, para além do evidente desinteresse, uma eventual abordagem em 2ª mão, nos outros órgãos que não julgaram útil ou oportuno comparecer. A Assembleia Municipal parece ter estado representada por João Victal, conhecido "carregador de pianos" por conta do município. Os quadros superiores da autarquia contavam com uma dupla representação -o chefe de divisão de obras municipais e a de cultura e turismo (se é esta a designação oficial). Estranhou-se a ausência do director de departamento de obras municipais, além disso influente militante do PSD local, cujas listas integrou nas últimas autárquicas, numa confusão de papéis que não se recomenda. 
    Do executivo vieram apenas três edis: o presidente, a vereadora do turismo, educação e acção social e o da defesa civil. Este devidamente equipado com o casaco oficial da função, a mostrar que já está em óbvia  pré-campanha eleitoral. Só faltou o capacete, o ipod e o rádio de serviço. Faltaram, por conseguinte, o vice-presidente, que também não julgou necessário fazer-se representar; o vereador-arquitecto do urbanismo, o que parece muito significativo; e os dois eleitos dos IpT, que contudo estiveram representados por um deputado municipal, sempre atento e neste caso muito oportuno nos seus contactos e diálogos.
    Outra ausência muito notada foi a do oficialmente adjunto do presidente para a museologia, de jure tutelado pelo vereador da cultura, que tem sido até ao presente o vice-presidente, embora conste na urbe ter havido recentes e agitadas modificações nessa área. Aguardemos, pois os esclarecimentos via vox populi não tardarão.
    Deste rol de presenças e ausências se podem e devem tirar várias conclusões. A principal é que apesar de ainda só estarmos a meio mandato, há já indícios de fim de reinado por todo o lado. Ou será mero acaso o facto de neste evento comemorativo não ter estado ninguém filiado no PSD local? Claro que todos irão apresentar excelentes desculpas. Mas o facto aí está. Corvêlo é independente e parece estar de saída, Rosário Simões idem, estando por saber se aceitará continuar, com Carrão na presidência. Trata-se assim de um indício claro de que os filiados laranjas já estão a apostar no "cavalo" seguinte. Indício inadvertidamente confirmado pelos jornalistas que não vieram. Terão tido entretanto conhecimento de algo que ainda não é do domínio público? É muito provável.
    Quanto à fase seguinte, que meios geralmente bem colocados garantem estar para breve, sem contudo porem as mãos no fogo, não vá o diabo tecê-las, como já ocorreu antes por mais de uma vez, a esperança numa regeneração parece ser pouca. 
    Miguel Relvas disse, no programa "À mesa do café", em resposta a uma pergunta sobre a eventual substituição, a meio do mandato, de Corvêlo de Sousa por Carlos Carrão, que o actual vice-presidente "está preparado". Entretanto, porém, a evolução económica e política tem sido de tal forma vertiginosa, a todos os níveis, que aquela afirmação deve agora ser entendida como "estava preparado para a realidade anterior". A das vacas gordas, da lata e da calma plácida. Estilo Alberto João, que em tempos Carrão convidou a visitar Tomar.
    Com o apertar da crise local, regional, nacional, europeia e mundial, outros valores mais altos se levantam. Já não se trata, agora e doravante, sobretudo de arranjar maneira de gastar, mas pelo contrário de investir, de engendrar fontes de mais-valia, de valor acrescentado,  de riqueza, pois é daí que poderão surgir mais empregos e algum desafogo. O Estado como patrão e pai generoso de todos é cada vez mais coisa do passado. Estará Carlos Carrão preparado para essa nova realidade? Sem desprimor para o homem, conterrâneo e cidadão, não me parece. E passo a explicar porquê.
    O evangelho segundo S. Paiva, que até aqui tem servido de viático à relativa maioria, esgotou as suas virtualidades. Santa Iria encalhou, a 3ª fase do Flecheiro despistou-se no problema do realojamento dos ciganos, a Várzea Grande e o estacionamento urbano transitaram da ParqT para a câmara, com um porta-chaves da ordem de sete milhões de euros,  "uma coisinha de nada" em "madeirês" do Funchal, o Açude de Pedra, ainda está muito verde, só outros cães o poderão vir a tragar; a reabilitação urbana, enfim, enquadrada por uma SRU a fundar, naufragou na crise e na proibição legislativa de criar mais empresas municipais. O que quer dizer que o tosco documento prospectivo "Tomar 2015" deu o berro quatro anos antes do previsto. E agora?
    Sem querer arrastado para águas profundas, saberá Carlos Carrão nadar o suficiente para se aguentar à superfície sem bóias, num mar cada vez mais encapelado? Não me parece. Falta-lhe mundo, falta-lhe vivência, faltam-lhe livros. Faltam-lhe muitos anos a virar frangos. Ou estarei enganado e a exagerar? Dentro de pouco tempo já o saberemos. Infelizmente, penso eu.

    domingo, 25 de setembro de 2011

    Às avessas

    O agravamento da crise está a tornar mais evidente um aspecto da maneira de ser tomarense, do qual sempre suspeitei, sem todavia ter provas para o demonstrar, pois estas só agora se estão a avolumar. Refiro-me ao posicionamento geral em relação ao senso comum. Em palavras chãs: temos tendência para agir às avessas, contrariando sistematicamente aquilo que seria razoável e racional. Exemplos não faltam.
    Na área do turismo, onde Tomar continua a ser, apesar de tudo, um centro importante em termos de património natural e construído, não há guias profissionais credenciados. Apesar dos mais de 500 funcionários municipais e dos quase 40 do Convento de Cristo. Para já não falar do Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. Em contrapartida, há na função pública local engenheiros e outros licenciados a mais. Que com o agravar da crise...
    O recente festival de estátuas vivas, que foi considerado um sucesso em termos de organização e de afluência, redundou afinal numa oportunidade perdida e até numa situação absurda. Oportunidade perdida, posto que em época de grave crise económica, em vez de aproveitarem o ensejo para realizar valor acrescentado, gastaram mais cerca de 90 mil euros = 18 mil contos. Situação absurda, dado que em período normal não há transporte colectivo para o Convento de Cristo, e paga-se 6 euros por pessoa para entrar no monumento, quando por ocasião da referida festança havia transporte colectivo à borla e a entrada era também gratuita. Em vez de aproveitarem o aumento da afluência para realizar receita, agiram mais uma vez às avessas. Não perderam o ensejo para desperdiçar mais umas dezenas de milhares de euros, tanto nos custos do transporte como nos milhares de bilhetes não cobrados à entrada do Convento. 
    Outro tanto acontece com as obras da autarquia. Em vez de aproveitarem as verbas europeias para investir em realizações susceptíveis de vir a proporcionar valor acrescentado, têm feito tudo às avessas. Todas as obras concluídas ou ainda em curso representam novos e elevados encargos monetários para o município. quanto mais não seja em manutenção. Como pensam poder vir a enfrentá-los, com as receias a diminuirem drasticamente, é para mim um verdadeiro mistério.
    Com todos estes casos, e outros que nos vão atascando cada vez mais na indigência e na irrelevância, outras populações já teriam reagido, visto que se trata de acções em muitos casos reversíveis, com vantagens certas para todos, excepto para os empreiteiros. É, nomeadamente, o caso das obras da Levada, mais baratas se interrompidas já; daquela loucura dos paredões junto ao Convento, que seria mais barato não concluir, uma vez que são para demolir; das obras do turismo, que não fazem falta nenhuma, etc. etc. etc. Pois não senhor. As impropriamente chamadas "forças vivas locais" continuam a achar que, se não vai tudo bem, para lá caminha, não sendo possível conseguir melhor.
    Inversamente, ao arrepio do senso comum, aparece agora um movimento local de protesto larvar contra o eventual encerramento da urgência no hospital de Tomar, decisão que a verificar-se será praticamente irreversível, porque tornada indispensável no quadro das medidas de austeridade impostas pela troika. É incontestável que um centro hospitalar com um buraco de 47 milhões de euros, segundo a imprensa de ontem, carece de medidas urgentes de rigorosa poupança. E suponho que, quando mais cedo que tarde, a autarquia for forçada pelas circunstâncias a aumentar consideravelmente o preço dos TUT, ou mesmo a acabar com os ditos cujos, haverá também um relativamente vasto clamor de protesto.
    Os tomarenses são assim. Pensam e agem às avessas. Até cuidam que, por termos um passado glorioso, isso conta para alguma coisa na política actual, quando afinal o governo é forçado a agir em função do presente e do futuro previsível. Exactamente quando estamos em decadência cada vez mais acelerada. É pena, mas que se lhe há-de fazer? Não há piores cegos do que aqueles que não querem ver, nem piores surdos do que os que não querem ouvir. Ou ler.

    Indo mais acima

    De Gaulle dizia com alguma frequência que, intelectualmente, quanto mais subimos, menos trânsito encontramos. Foi partindo daqui que resolvi iniciar hoje uma série de traduções sobre os mais variados assuntos que, na sua versão original, poucas ou nenhumas hipóteses teriam de chegar aos habituais leitores de Tomar a dianteira. Julgo ser uma boa maneira de comparar com o que publica a comunicação social portuguesa.
    Começo com um tema que está agora muito na berra: o ensino. Sobretudo o ensino superior e o caso do IPT, o "lanterna vermelha" das candidaturas da primeira fase. Que uma semana mais tarde informou, nas colunas de CIDADE DE TOMAR de 23/09/2011, ter entretanto admitido mais 540 novos alunos, quando na citada primeira fase apenas conseguiu pouco mais de 200. Nestas condições, só posso seguir o senso comum: Acredito na informação, mas peço para verificar. Ver para crer, proclamou S. Tomé.

    Aulas tradicionais? Ou jogos sérios?

    "Até há pouco tempo, a capacidade de se concentrar na leitura foi uma das chaves do nosso sistema educativo, para qualquer aprendizagem. Vindas ao mundo com os jogos electrónicos e a Internet, as jovens gerações já não têm, seja para ler, seja para escutar uma aula, a mesma concentração dos seus pais. O uso das novas tecnologias "induz a fragmentação da informação, a debicagem de ideias e a permanência de tarefas múltiplas" entre os diferentes écrans e janelas, afirmam Cyril Rimbaud e Maud Serpin, num estudo sobre a "crise de atenção", em todos os níveis de ensino.
    Em vez de se lamentarem, como numerosos professores, ou o ensaísta americano Nicholas Carr (autor do livro "A internet estupidifica?", a ser publicado em francês no próximo mês, nas Editions Robert Laffont), sobre o défice de atenção dos novos alunos, os referidos investigadores aconselham "a integração sã e reflectida das práticas digitais no processo de ensino-aprendizagem". ["O meu Zézito afinal sempre tinha razão com o Magalhães!", vai exclamar o amigo Cantoneiro. Mas não é exactamente disso que se trata).
    Pois tal é precisamente o objectivo visado pelos "jogos sérios" (serious games), um sector em plena expansão, cujo nível mundial de negócios, neste momento avaliado em 1,5 mil milhões de dólares, cresce ao ritmo anual de 47%, segundo a Idate, uma sociedade especializada em estudos de mercado. Baseados na "imersão em situação", tais jogos são basicamente simuladores com vocação pedagógica, tal como os simuladores de voo para os aprendizes de pilotagem. Pulse! um jogo doravante usado tanto por enfermeiros como por médicos, nos hospitais americanos, reproduz precisamente os gestos operatórios e as reacções fisiológicas dos pacientes, colocando assim, como todos os outros jogos sérios, o aluno no centro de uma pedagogia activa.
    Professor convidado, em 2008, na Universidade do Arkansas (USA), Imed Boughzala, ligado à escola de gestão do Institut Telecom, imaginou, a partir de Second Life e dos seus avatares, um jogo sério para ensinar sistemas de informação. Quando a Universidade do Arkansas foi obrigada e encerrar, em 2009, por causa da epidemia de gripe aviária, esse jogo foi usado para manter o contacto pedagógico com os alunos. Paralelamente, o MIT, em Boston, tem vindo a desenvolver esse tipo de jogos pedagógicos, comercializados depois por sociedades privadas, editoras de programas informáticos, ao mesmo tempo que outras universidades os vão adoptando.
    Existe todavia um enorme travão ao desenvolvimento desses jogos ad hoc. A sua concepção pode custar de 3 mil euros, para um jogo simples, como o Faisgaffe.com (Atenção!), destinado a sensibilizar os alunos de BTP (Construção civil e obras públicas) para os riscos inerentes à sua futura profissão, até 7 mil milhões de dólares para o supra mencionado Pulse!
    Consequência principal de tal carestia ["só uma coisinha", diria o nosso patusco Alberto João, na sua usual modéstia], em França até agora só metade das principais empresas do índice bolsista CAC 40 se equiparam com tais jogos, tanto para recrutamento como para reciclagem. Quanto a estabelecimentos de ensino superior, só os mais caros e ricos têm seguido o exemplo das empresas, nomeadamente HEC e INSEAD de Fontainebleau.
    "Entre o estudante e o professor, nada pode substituir o cara a cara", afirma Boughzala. O que não impede que os chamados jogos sérios venham a conhecer um enorme incremento, enquanto ferramentas preciosas: frente ao écran o estudante reencontra a noção de prazer que sente nos seus jogos de cônsola, quando é rapidamente gratificado. Pode assim formar-se quando quer e à distância.
    Um painel que integra o professor Bougzala foi já constituido pela Câmara de Comércio e Indústria de Paris, tendo por missão atribuir um selo de qualidade aos jogos a comercializar, em função da respectiva qualidade pedagógica."

    Martine Jacot, LE MONDE, suplemento GÉO & POLITIQUE, 25/09/2011, página 2
    Tradução e notas intercalares de António Rebelo

    LEVADA: UMA TRISTE AVENTURA QUE SÓ PODE ACABAR MAL

    Lagares da Levada nos finais do século XIX. Foto Silva Magalhães.
    Vimos no post anterior que a visita guiada às obras da Levada não foi propriamente uma maravilha. Claro que terá havido gente muito satisfeita. Há sempre. Os madeirenses estão muito satisfeitos com o Alberto João. Pelo menos até que venham a saber o que os espera... Coisas que acontecem quando os senhores eleitos enveredam por peculiares percursos mentais.
    Em Tomar, por exemplo, para tratar dos dentes vão ao dentista, para consertar os sapatos ao sapateiro, para comprar carne ao talho, para doenças ao médico e para comunicação aos especialistas dessa área. Para as visitas guiadas, porém, acham que qualquer um serve. Apesar de haver no país mais de dois milhares de guias  habilitados com a respectiva carteira profissional... Mistérios da democracia portuguesa.
    Ainda assim, foi possível colher factos importantes -fundamentais mesmo- para prever a evolução (autant que faire se peut) do anunciado "Museu da Levada". De forma polida e muito diplomática, numa curta mas substantiva intervenção, o autor do projecto, arquitecto Chuva Gomes, mencionou os múltiplos e muito complexos constrangimentos do mesmo. Assinalou a inadequação de todas aquelas edificações para visitas guiadas, à luz  das normas nacionais, das normas europeias e das normas de segurança. Posteriormente, em conversa privada, da qual Tomar a dianteira teve conhecimento, lastimou-se por ter tentado, desde o tempo de António Paiva, mas até agora debalde, que a câmara lhe faculte uma ideia englobante, uma directriz estratégica, um texto estruturante ou, como também se usa agora, um normativo portador de futuro, onde "encaixar" o projecto da Levada.  Acessoriamente -como simples turista- assumiu que discordava do que está a ser feito junto ao Convento, pois o estacionamento deve ser sempre cá em baixo, fazendo os visitantes o restante percurso a pé, ou em transporte específico. Nunca de automóvel ou autocarro.
    De tudo isto resulta -parece-me- que o projecto da Levada vai terminar como uma triste aventura, sem proveito para ninguém. Como quase sempre nas tragédias, por agora vai tudo muito bem. Trata-se apenas de demolir, picar, fazer as coberturas. O pior vem a seguir, com as diferentes redes de abastecimento, as especialidades, a compartimentação, os acabamentos e, finalmente, o calvário: os equipamentos e o recheio. Só para dar uma ideia: Visto  que as escavações arqueológicas não foram feitas em tempo oportuno (porque não havia verba para esse efeito), agora que apareceram os restos do lagar, exactamente no local previsto para a recepção aos visitantes e respectivas serviços técnicos e de apoio, QUE FAZER?
    Outros óbices e de todo o tamanho: Na fundição, na central eléctrica e nas moagens, onde há máquinas em movimento e/ou actividades perigosas para visitantes desprotegidos, que dispositivos instalar, de forma a cumprir a exigentes normas de segurança em recintos abertos ao público? Na Moagem Nova, com os seus 5 pisos, como arranjar percursos de evacuação, imperativamente protegidos por portas corta-fogo? E escadas assaz largas, ou ascensores com suficiente capacidade, para grupos mínimos de cinco pessoas (4 visitantes+guia?) E corredores de visita sem se correr o risco de acidentes? Resolvido tudo isto, onde e como contratar especialistas de manutenção, administradores, guias e outro pessoal de apoio? E as dotações orçamentais para esse efeito?
    Já se diz por aí ser desejável voltar a contratar alguns ex-trabalhadores da fundição-serralharia, por exemplo, para irem fazendo artefactos para venda. Não será melhor procurar saber antes quais as causas do encerramento da Fundição Tomarense? O tempo das vacas gordas já lá vai e não volta mais.
    Sonhar é fácil. Todavia, do sonho à realidade... Por isso, parem enquanto é tempo. E pensem um bocadinho. O país e a cidade já não estão em estado de suportar mais aventureirismos, sem danos graves e irreversíveis. Quem vos avisa, vosso amigo é.

    sábado, 24 de setembro de 2011

    Obras da Levada: Iniciativa útil, apesar de tudo

     Aspecto da assistência durante a perlenga da senhora arqueóloga.

     A maqueta do arranjo arquitectónico, quando ainda se pensava que haveria dinheiro para uma ponte coberta, estilo japonês, para ligar ao parque de estacionamento na margem nascente.

    O vereador Luís Ferreira, sempre preparado para a batalha contra os incêndios, as inundações, os tornados ou que vier a acontecer  no âmbito do seu pelouro.

    Outro aspecto da assistência, enquanto falava a senhora arqueóloga.

    O presidente Corvelo de Sousa e o arquitecto Chuva Gomes, autor do projecto de requalificação.

    Aspecto das escavações no antigo lagar situado entre a actual central eléctrica e o ex-refeitório da Mendes Godinho.

    Interessado em ver de perto as atribuladas obras da Levada, falei com o presidente Corvêlo de Sousa, que me indicou a visita organizada para comemorar o Dia Europeu do Património. Vi o programa, pareceu-me adequado, inscrevi-me.  Pensei para comigo -10H30/Meio-dia é bastante equilibrado. 10/15 minutos para a apresentação, 5/10 minutos para o percurso, 15 minutos para as escavações, 30 minutos para o restante mais o percurso até às moagens, 30 minutos para estas, incluindo a subida ao terraço, conforme anunciado. Como diria certo treinador de futebol -"São muitos anos a virar frangos!"
    Infelizmente, cedo verifiquei que a senhora encarregada de guiar a visita, sendo decerto uma excelente arqueóloga e dotada de grande facilidade de expressão, parece ser outrossim um puro produto da área de letras e ciências sociais  das universidades portuguesas. Gosta de se ouvir falar, sabendo tanto de visitas guiadas como eu de regência de orquestras. Só após mais de meia hora de conversa é que lá resolveu  finalmente começar pelo princípio, para citar o senhor de Lapalisse. Explicou a maqueta.
    Entretanto já um ou outro ouvinte tinha calçado os patins.
    Seguimos então para os lagares, tendo começado por aquele onde agora se fazem escavações. Segundo o arquitecto responsável pelo projecto, estas deveriam ter sido feitas previamente e em toda a área, mas a autarquia alegou não ter dinheiro para esse efeito. Visivelmente encantada com o "achado", que na sua opinião tem uma importância não só nacional como internacional, a senhora arqueóloga foi dissertando, tal como se estivesse numa aula universitária falando para os seus alunos. Olhei para o relógio. Era meio-dia e dez e ainda não tínhamos passado primeiro lagar. Por este caminho, nem às duas da tarde estamos despachados, pensei eu. Decidi Abandonar o ilustre grupo. Quando passava próximo de Corvêlo de Sousa, perguntou-me se me ia embora. Não lhe respondi à minha vontade, pois teria sido menos agradável e neste caso ele não tinha culpa. Fora apenas mais uma oportunidade perdida. Ou estou redondamente enganado ou o pretenso "Museu da Levada" vai conhecer as mesmas trapalhadas do "Hotel de charme de pelo menos quatro estrelas e 60 quartos". Na próxima crónica tenciono explicar em que me baseio para fazer tal afirmação. Até lá!

    Não esperar que as coisas aconteçam. Fazê-las acontecer!


    Numa altura em que infelizmente o Politécnico de Tomar tem os dias contados, pelo menos no seu figurino actual, uma vez que até já há no governo quem lhe comece a rezar por alma, o melhor será tentar ajudar na medida do possível. Tarefa difícil, pois como é bem sabido, não há pior cego...
     Escrevi aqui há um ano que o IPT me parecia um cadáver adiado. Até fundamentei a minha convicção. Pois não senhor! Era só má lingua, inveja, má vontade... Exactamente a mesma reacção dos senhores autarcas, sobretudo os do executivo, a quem falta (salvo uma ou outra excepção) em capacidade política, aquilo que lhes sobra em basófia. Tanto para uns como para outros, primeiro que nada o mais útil será ver isto com toda a atenção.
    Quanto aos senhores do IPT, a maior parte dos quais tem andado a brincar com o seu futuro e o do outros, não se dando conta de que os fracos reis fazem fraca a forte gente, quando tiverem tempo e disposição, não perdem nada em abordar outra maneira de ver as coisas, numa escola superior pública cada vez mais jovem e na ponta do progresso, apesar de fundada em 1794...por um padre. 
    Não se assustem por estar tudo escrito em francês, uma língua muito exigente, quando comparada com o inglês, por exemplo. Se virem com mais calma, também há versões em inglês/americano, alemão...e chinês. É só clicar na respectiva bandeirinha. Além do habitual tradutor automático do Google, que fornece imediatamente a versão brasileira.
    Entre 450 formações profissionais de 60 sectores de actividade, vão encontrar de certeza muito para meditar. Só na área do turismo (ver ilustrações supra) são dez formações diferentes. Da licenciatura profissionalizante (correspondente a liceu + 3 anos) ao doutoramento de estado, só para profissionais, = a liceu + 8 anos. 
    Pode ser que depois da leitura atenta e da subsequente madura reflexão se convençam enfim de que nunca devemos esperar que as coisas aconteçam, mas sim fazê-las acontecer. Digo eu... que sou má língua.

    sexta-feira, 23 de setembro de 2011

    Dúvidas metódicas e angustiantes


    Num colóquio com tantos patrocínios ilustres e tantos oradores de topo, surge uma dúvida metódica e angustiante: A que escavações arqueológicas se refere o texto? Às documentadas nas fotos? Nesse caso, não seria mais adequado o vocábulo "escavacações"? Outra dúvida metódica, embora menos angustiante: "à luz das recentes escavações arqueológicas"? Não será antes à luz do alambor destruído?
    Por muito tolerante que se seja, tudo tem um limite. E não há nada mais irritante que as moscas. Sobretudo as conhecidas moscas do coche. São ainda piores que abutres, não respeitando nada nem ninguém, pelo menos em termos de ética e de dignidade académica.

    Gastar cera com defuntos

    Relata a Rádio Hertz que na reunião de ontem o executivo camarário debateu acaloradamente a anunciada supressão da urgência no Hospital de Tomar. Houve, naturalmente, unanimidade na indignação. E sobretudo no facto de semelhante afronta ter sido decidida -vejam bem!- sem prévia audição ao executivo e à Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, uma coisa alojada alí no Convento de S. Francisco, sem pagar renda, mas com uma secretária executiva a ganhar mais que o presidente da câmara. Há secretárias com muita sorte. E populações cheias de azar. É a vida!, diria o filósofo Guterres, que apesar de tudo nunca foi estudar filosofia para Paris nem aí pagou almoços de milhares de euros. Em Portugal a política continua a ser uma actividade muito frutuosa. Para alguns, claro!
    Voltando à problemática hospitalar tomarense. Debateram então o propalado encerramento da urgência no hospital de Tomar, sentindo-se manifestamente ultrajados pelo facto de alhures terem ousado tomar decisões gravosas, sem antes consultarem a ilustre tribo dos eleitos. Trata-se, quanto a mim que sou má-língua, de uma reacção imprópria posto que, como diz o povo, "só é respeitado quem se dá ao respeito". E os autarcas da zona, sobretudo os de Tomar...
    Após tão importante debate, o que ficou em termos de argumentação substantiva? O fecho das urgências é prejudicial para as populações; os eleitos deviam ter sido consultados; vão ser solicitadas audiências às entidades responsáveis; os autarcas tomarenses são unânimes na manifestação de repúdio ante semelhante decisão. Ora aí está! Sete representantes do povo, lautamente pagos em vencimentos, mordomias e/ou senhas de presença, não conseguiram parir mais do que isto. Miséria! A tal ponto que até Corvêlo de Sousa se sentiu agastado, desabafando que "Há concelhos que estão muito pior que Tomar, designadamente Abrantes, que neste momento tem muitas pessoas de idade sem acesso a centros de saúde." Graça Costa não gostou e aconselhou o senhor alcaide a defender mais os tomarenses, deixando que os outros tratem de si (deles, bem entendido...).
    Nem sequer terá aflorado as mentes de tão brilhantes criaturas uma série de factos convergentes que, infelizmente, já condenaram o concelho de Tomar à irrelevância. Para além da já antes assinalada e manifesta falta de credibilidade do actual elenco camarário, pelas razões de todos conhecidas, Ourém tem neste momento mais eleitores (43.907, contra 38.724 em Tomar), mais alunos, mais telefones fixos, mais telemóveis, mais automóveis, mais indústrias, mais comércios, mais edifícios e menos desempregados. Paga mais IRC, mais IRS, mais IMT, mais IMI e mais Imposto automóvel. Mas não tem hospital com urgência, não tem quartel, não tem caminho de ferro na cidade, não tem divisão da PSP, não tem comando da GNR, nem tem politécnico. E estas coisas, que dão muito nas vistas, sabem-se em Lisboa, nos centros do Poder. O que provocará, mais tarde ou mais cedo, mudanças significativas. Ninguém gosta de viver numa cidade cada vez mais cemitério...
    Nestas condições, em vez de gastar cera com defuntos adiados, não seria melhor ir para um debate susceptível de apurar enfim as causas próximas e remotas da nossa gritante decadência? É que nunca tive conhecimento de que médicos tenham curado uma maleita grave sem prévio, profundo e adequado diagnóstico, logo seguido de correcta terapêutica. Mas se calhar os senhores autarcas tomarenses continuam convencidos de que, como estamos próximos de Fátima...Se assim é, tratem de olhar para os oureenses quanto antes. Têm o santuário no concelho, mas seguem o velho preceito cristão "Ajuda-te e Deus ajudar-te-á!" Dá muito trabalho, não é?

    quinta-feira, 22 de setembro de 2011

    Principais temas da actualidade local



    A compra da falida Freitas Lopes pela Madeca é notícia de primeira página no TEMPLÁRIO, constituindo uma excelente ilustração da inversão de tendência que está a ocorrer de forma bastante acelerada na economia regional. Na segundo metade do século passado, enquanto em Tomar se vivia bem, sobretudo graças à considerável população militar, Vila Nova de Ourém era pouco mais que o  far west. Ainda havia gente a dormir no meio da palha, junto com os animais, almoçando-se muitas vezes pão de milho com cheiro a toucinho.
    A extrema miséria forçou milhares a procurar na emigração dias mais felizes. A maior parte para França e a salto, que é como quem diz sem passaporte e passando a fronteira clandestinamente. 60 anos mais tarde, as diferenças são gritantes. Tomar definha a olhos vistos, idos que foram os militares de antanho. Ourém, pelo contrário, cresce a olhos vistos, sendo já em termos populacionais o 2º concelho do distrito, enquanto que na área económica, apesar da crise, em Caxarias, por exemplo, não há desemprego. A França facultou aos emigrantes todos, mesmo aos que regressaram, uma outra visão da vida. Ensinou-lhes que cada qual deve cuidar de si, em vez de aguardar o empregozinho na função pública ou a ajuda do Estado. Por isso foi a Madeca a comprar a Freitas Lopes falida, e não o inverso.
    Na sua habitual e percutante colaboração em CIDADE DE TOMAR, António Freitas aponta desta vez os "bate-palmas" da Festa dos Tabuleiros, os turistas à brocha para chegar ao Convento, a pedra pintada pelas Estradas de Portugal na ponte de Alviobeira, as obras do IC3 e...as ervas no alambor do Castelo dos Templários, porque parece só haver dinheiro para limpar a Janela do Capítulo, uma parvoíce que nos cobre de ridículo por essa Europa fora.
    Destaque também para as crónicas de Jorge Franco e António Alexandre, ambos de regresso à política activa a nível local. O antigo vereador confessa-se céptico em relação às hipóteses dos socialistas tomarenses, nomeadamente devido à evidente dificuldade para abandonar velhas práticas que já há muito mostraram os seus limites. Sendo certo que o próximo executivo -qualquer que ele seja- terá forçosamente de olhar de outro modo para as freguesias; de estar genuinamente ao serviço dos eleitores e dos potenciais investidores e deixar-se de megalomanias, há que reconhecer desde já que tal não é suficiente para atrair pessoas e actividades. Para isso é indispensável reduzir taxas e preços, simplificar burocracias e descer à terra, deixando de considerar os outros como uns pobres labregos ignorantes, quando afinal... É  evidente que a arrogância  nos vai matando pouco a pouco, porque já ninguém está para aturar as nossas pancadas, de ex-ricos à custa do Estado, que entretanto está com extrema falta de ar. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...o Camões era zarolho mas via bem longe!

    É uma vergonha e não me posso calar!



    Apesar do fracasso numérico da concentração junto ao alambor, a petição pública para a sua salvaguarda e requalificação já ultrapassa as 1.900 assinaturas, conforme podem confirmar aqui. É uma vergonha para todos nós, os que vivemos à sombra do castelo templário, que tenham de ser os que vivem longe a defender o que é nosso, sem a nossa participação. Nem para nos defendermos servimos! Por isso, não me posso calar!
    Apareceu o alambor, destruíram-lhe uma parte, houve uma modesta concentração, há uma petição com perto de duas mil assinaturas, mas apesar de tudo isso, as obras continuam tal como estava previsto. Há apenas aquele troço de paredão que (por enquanto?) ainda não foi levantado.
    Inversamente, contrariando o princípio segundo o qual coisas iguais devem ter tratamento igual, como bem notou o autarca Hugo Cristóvão, apareceram equipamentos vários, pertencentes aos antigos lagares, no lugar onde se previa a recepção e serviços técnicos, o que provocou imediatamente, e bem! a paragem das obras e a revisão do projecto. Porquê? Não se trata de património histórico em ambos os casos? O achado dos lagares é mais importante que o alambor templário? Então basearam-se em quê, para continuar a edificar o paredão? Deixaram aquele espaço e prometem requalificar o alambor, só para ver se as pessoas se calam?
    Na próxima sexta-feira, dia 30, há Assembleia Municipal, a partir da 15 horas, nos Paços do Concelho. Da ordem de trabalhos publicitada, não consta qualquer ponto reservado à intervenção dos cidadãos. Ainda assim lá estarei, bem acompanhado ou sozinho, mas em paz com a minha consciência, para solicitar que aquele órgão vote uma recomendação ao executivo, da qual conste o abandono do paredão já concluído, a sua demolição imediata e o ligeiro afastamento da estrada para norte, mediante prévia alteração do projecto, naturalmente submetida à discussão pública.
    Quem concordar com estes objectivos, fará o favor de comparecer para me apoiar, se assim o entender. De qualquer maneira, tenciono intervir, com ou sem apoio, nomeadamente porque, como sempre, mais vale só que mal acompanhado. Todos os habituais ausentes destas coisas têm uma excelente desculpa: "estava a trabalhar". O que deve entender-se como "estava no emprego sem fazer nenhum, mas faltou-me a coragem e a frontalidade". Não me venham é dizer depois, com aquele característico ar seráfico, que ninguém avisou.
    Se deseja mesmo apoiar esta minha iniciativa em prol do património tomarense e universal, mande um mail para a.frrebelo@gmail.com, dizendo "Estarei presente com muito gosto, porque Tomar merece gente com dignidade". Obrigado!

    Correm turvas as aguas deste rio...

    É de Luís de Camões, que era zarolho e poetou há mais de 400 anos, o título desta crónica. Escreveu ele: "Correm turvas as águas deste rio/Que as do céu e as do monte as enturbaram/Os campos florescidos se secaram/Intratável se fez o vale, e frio."
    "Passou o Verão, passou o ardente Estio/Umas coisas por outras se trocaram/Os fementidos Fados já deixaram/Do mundo, o regimento ou desvario."
    Pois é exactamente o que acaba de acontecer ali pelas bandas dos Lagares da Ordem de Cristo. Outra vez Camões: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/Tomando sempre novas qualidades."
    Houve necessidade de abater algumas árvores, cujas raízes já danificaram gravemente as paredes dos lagares. Como habitualmente, a operação foi mal preparada, mal comunicada à população, mal orientada e mal fiscalizada. Resultado: os cidadãos estão chocados, porque acham que foram cortadas árvores a mais. Segundo a Rádio Hertz o assunto vai causar alguma polémica, pois elementos do Grupo Ambientalista Aqua tencionam comparecer hoje na reunião do executivo, para protestar contra o abate indiscriminado, a destruição de ovos e de um ninho de cegonha preta. Uma espécie protegida, tão rara no país e no Vale do Nabão como os autarcas competentes.
    Esta reacção dos defensores do ambiente e da população em geral parece indiciar que o usual elo de confiança entre eleitores e eleitos foi quebrado de forma irremediável por um executivo cada vez mais a funcionar em circuito fechado, à revelia de quem os elegeu e da nova realidade envolvente. A continuarem assim -e todos os indícios apontam para nesse sentido- aquando das próximas autárquicas dificilmente surgirá quem seja realmente competente para liderar o concelho. Estaremos uma vez mais limitados à escolha entre vários oportunistas, apenas interessados pelas benesses dos cargos aos quais se candidatam. Infelizmente.

    quarta-feira, 21 de setembro de 2011

    Antever o pior para o evitar

    Com o astuto e conservador Alberto João armado em anarquista e PP Coelho admitindo a hipótese de solicitar um segundo plano de resgate, talvez o melhor para os nervos de todos nós seja estarmos preparados para o pior, embora fazendo votos para que tal não aconteça.
    Ex-conselheiro económico e de prospectiva de Mitterand, igualmente presidente de uma comissão nomeada por Sarkozy para elaborar propostas para a inovação em França, Jacques Attali mostra-se algo pessimista em relação ao futuro dos europeus. Excelente razão para facultar aos leitores de Tomar a dianteira a mais recente visão estratégica de um dos melhores especialistas europeus nessa matéria.

    "Em França vai sendo tempo de se preparar para o duplo choque da crise bancária e da crise das finanças públicas. Vem aí. Não tardará a chegar. E ninguém se debruça com profundidade sobre a hipótese do pior. Como se bastasse não pensar no assunto para evitar que aconteça.
    Eis qual poderá vir a ser o seu desenvolvimento, em dez etapas:

    1. Sem meios para financiar os seus défices, a Grécia deixa de pagar aos credores, de liquidar algumas pensões e de pagar uma parte dos vencimentos dos funcionários. Todos os bancos que lhe emprestaram e todas as empresas que lhe venderam armas e outros produtos de primeira necessidade sofrem prejuízos consideráveis. Mas nem assim a Grécia sai da zona euro, porque nenhum tratado a isso a obriga, nem sequer permite a sua exclusão. Além disso, ninguém pode obrigar os gregos a converter os seus euros em dracmas de valor inferior.
    2. Para recuperar o país, a zona euro recusa-se então a utilizar os limitados recursos do Fundo Europeu de Estabilização Financeira ou a criar os "eurobonds", que só fazem sentido com impostos europeus, para os reembolsar, e um controle europeu dos défices dos orçamentos nacionais, para evitar que deles se faça mau uso.
    3. Na ausência de instrumentos financeiros comunitários suficientes, os outros países da União abandonam a Grécia  à sua triste sorte.
    4. Os mercados, ou seja, essencialmente os credores asiáticos e do médio oriente, ficam nervosos com tal abandono, obrigando Portugal, Espanha e Itália a pagar cada vez mais caros os seus empréstimos.
    5. A crise alastra à França, quando se dão conta de que a situação financeira gaulesa nem sequer é tão boa como a da Itália (em Roma, o orçamento primário [sem o serviço da dívida] é excedentário, ao contrário do que acontece em Paris) e compreendem que os bancos e as companhias de seguros detêm uma percentagem importante da dívida pública dos países periféricos, bem como grande quantidade de activos tóxicos, agora sem qualquer valor no mercado.
    6. Para evitar a falência desses bancos, procuram-se accionistas, públicos ou privados. Debalde. Só para os bancos franceses há que encontrar capitais equivalentes a 7% do PIB gaulês.
    7. Em pânico, o Banco Central Europeu concede então financiamentos maciços a esses bancos, solucionando uma vez mais um problema de solvência mediante o fornecimento de liquidez.
    8. Horrorizada perante tal laxismo, a Alemanha decide então abandonar o euro e criar um "euro +", de acordo com um plano bem preparado que, segundo um banco suiço, custa a cada cidadão alemão entre 6 mil e 8 mil euros no primeiro ano e depois 3500 a 4500 euros anuais.
    9. A explosão do euro revela então aos mercados que afinal os bancos anglo-saxónicos também não estão nada bem, porque também não se livraram atempadamente dos produtos tóxicos e porque a bolha imobiliária já não existe, como recurso para iludir a clientela e os especialistas.
    10. Dá-se então a derrocada do sistema financeiro ocidental, uma grande depressão, desemprego generalizado e,  a médio prazo, mesmo a democracia é posta em causa.
    Não se consegue exorcizar uma tal tragédia com a recusa de nela pensar. E, uma vez que os governos não parecem preparados para agir com determinação para a evitar, porque não solicitar ao Parlamento Europeu que se reúna em sessão extraordinária, que se declare "Assembleia Constituinte", e vote a implementação de um verdadeiro federalismo orçamental, do qual depende a sobrevivência de tudo o que construímos desde que a Europa renunciou à barbárie, ainda não há muito tempo?"


    Jacques Attali, L'EXPRESS, 14/09/2011, página 82
    Tradução e adaptação de António Rebelo