Este ano tive ocasião de veranear pelo norte de Itália (Milão, Turim, Bolonha, Ravena, Ferrara, Génova), pela Bélgica (Bruxeleas, Antuérpia, Gand, Bruges, Malines, Lovaina) e Alemanha (Colónia e Vale do Reno). Enquanto em Itália havia cinema gratuito ao ar livre na praça principal de cada cidade, na Bélgica e na Alemanha nicles. Apenas alguns espectáculos musicais na Grand Place de Bruxelas. E na Alemanha nem isso.Em contrapartida havia seis estátuas vivas à saída da missa na Catedral de Colónia, cada uma com o chapéu no solo, virado para cima... Para quem ainda não entendeu, trata-se de mais um exemplo da evidente fractura entre a Europa do Norte e a Europa do Sul. Num caso, aqueles que em geral pagam; no outro os que apenas recebem.
Lembrei-me do observado durante as deslocações por essa Europa fora, quando ouvi e li as recentes declarações peremptórias de representantes da Europa pagante, garantido que ou a Grécia implementa quanto antes as reformas que lhe foram exigidas pela troika, ou não receberá a próxima tranche prevista no plano de resgate. A bagatela de uns milhares de milhões de euros. O representante do governo minoritário holandês foi até mais incisivo e frontal: "Quem não consegue ou não quer cumprir as regras do euro, deve abandonar a moeda única."
Pela mesma ocasião, Mário Soares, do alto dos seus 87 saudáveis e jovens anos, avançou a sua opinião: O acordo com a troika não é nenhuma bíblia e o dinheiro aparece sempre, pelo que devem ser implementadas medidas de relançamento da economia portuguesa. Não se deu ainda conta o fundador do PS, que de resto sempre teve grandes dificuldades com os números, da mudança de paradigma entretanto ocorrida, que torna a sua afirmação de que "o dinheiro aparece sempre" uma frase anacrónica. Na verdade, em tempos idos e que deixaram saudades, o dinheiro aparecia sempre. Por isso estamos como estamos, pensamos como pensamos e agimos como agimos. Mas a época é agora outra e os representantes da troika estão aí, "metendo o nariz" por todos os lados. Nestas condições, não o si bem o que pensar de eventos muito vistosos, bem organizados e que atraem muita gente, sem todavia gerarem valor acrescentado. Num concelho falido...
O escritor português Rentes de Carvalho, radicado na Holanda há mais de 50 anos, comentou há pouco para um jornal português uma curiosa iniciativa que vai ser desenvolvida algures no país das túlipas. Nada mais, nada menos, que uma montanha artificial, com dois mil metros de altitude, numa nação plana, cuja maior elevação é agora de 300 metros. Declarando-se português de feitio, apesar da sua longa estada por aquelas bandas, Rentes de Carvalho foi peremptório. Se fosse ele a dirigir a dita iniciativa, certamente que daria prejuízo; tratando-se de holandeses -acrescentou- não tenho dúvida nenhuma de que vai gerar montanhas de lucros. Os holandeses são assim, concluiu. E estão a ficar fartos de pagar as farturas dos países do sul, cujo principal problema são as contas públicas e a dívida soberana, ao contrário da Irlanda, vitima da megalomania do seu sistema bancário.
Os tomarenses espertalhuços, que se têm na conta de inteligentes, quando afinal são apenas manhosos quanto baste, não perderiam nada em reler este texto com muita atenção...digo eu.
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