segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Um atribulado caminho rumo ao final do reinado


Em vez de comemorar o Dia Europeu do Património com uma visita ao Alambor Templário, (conforme sugerido por Hugo Cristóvão), onde francamente assumiria a destruição involuntária e mostraria sincero arrependimento, proclamando estar ali para ouvir os tomarenses e reparar o erro na medida do possível, resolveu a autarquia mostrar o estado das obras no futuro Elefante Branco da Levada. Além do já aqui escrito, tal evento acabou por constituir igualmente um bom retrato da actual situação política local, partindo do conhecido axioma "em política o que parece é" para escrutinar quem esteve e quem brilhou pela ausência.
Da comunicação social profissional apenas estiveram a Rádio Hertz e O Templário, que se pisgaram "para ir trabalhar" quando a senhora arqueóloga se começou a alongar em considerações. O que significa, para além do evidente desinteresse, uma eventual abordagem em 2ª mão, nos outros órgãos que não julgaram útil ou oportuno comparecer. A Assembleia Municipal parece ter estado representada por João Victal, conhecido "carregador de pianos" por conta do município. Os quadros superiores da autarquia contavam com uma dupla representação -o chefe de divisão de obras municipais e a de cultura e turismo (se é esta a designação oficial). Estranhou-se a ausência do director de departamento de obras municipais, além disso influente militante do PSD local, cujas listas integrou nas últimas autárquicas, numa confusão de papéis que não se recomenda. 
Do executivo vieram apenas três edis: o presidente, a vereadora do turismo, educação e acção social e o da defesa civil. Este devidamente equipado com o casaco oficial da função, a mostrar que já está em óbvia  pré-campanha eleitoral. Só faltou o capacete, o ipod e o rádio de serviço. Faltaram, por conseguinte, o vice-presidente, que também não julgou necessário fazer-se representar; o vereador-arquitecto do urbanismo, o que parece muito significativo; e os dois eleitos dos IpT, que contudo estiveram representados por um deputado municipal, sempre atento e neste caso muito oportuno nos seus contactos e diálogos.
Outra ausência muito notada foi a do oficialmente adjunto do presidente para a museologia, de jure tutelado pelo vereador da cultura, que tem sido até ao presente o vice-presidente, embora conste na urbe ter havido recentes e agitadas modificações nessa área. Aguardemos, pois os esclarecimentos via vox populi não tardarão.
Deste rol de presenças e ausências se podem e devem tirar várias conclusões. A principal é que apesar de ainda só estarmos a meio mandato, há já indícios de fim de reinado por todo o lado. Ou será mero acaso o facto de neste evento comemorativo não ter estado ninguém filiado no PSD local? Claro que todos irão apresentar excelentes desculpas. Mas o facto aí está. Corvêlo é independente e parece estar de saída, Rosário Simões idem, estando por saber se aceitará continuar, com Carrão na presidência. Trata-se assim de um indício claro de que os filiados laranjas já estão a apostar no "cavalo" seguinte. Indício inadvertidamente confirmado pelos jornalistas que não vieram. Terão tido entretanto conhecimento de algo que ainda não é do domínio público? É muito provável.
Quanto à fase seguinte, que meios geralmente bem colocados garantem estar para breve, sem contudo porem as mãos no fogo, não vá o diabo tecê-las, como já ocorreu antes por mais de uma vez, a esperança numa regeneração parece ser pouca. 
Miguel Relvas disse, no programa "À mesa do café", em resposta a uma pergunta sobre a eventual substituição, a meio do mandato, de Corvêlo de Sousa por Carlos Carrão, que o actual vice-presidente "está preparado". Entretanto, porém, a evolução económica e política tem sido de tal forma vertiginosa, a todos os níveis, que aquela afirmação deve agora ser entendida como "estava preparado para a realidade anterior". A das vacas gordas, da lata e da calma plácida. Estilo Alberto João, que em tempos Carrão convidou a visitar Tomar.
Com o apertar da crise local, regional, nacional, europeia e mundial, outros valores mais altos se levantam. Já não se trata, agora e doravante, sobretudo de arranjar maneira de gastar, mas pelo contrário de investir, de engendrar fontes de mais-valia, de valor acrescentado,  de riqueza, pois é daí que poderão surgir mais empregos e algum desafogo. O Estado como patrão e pai generoso de todos é cada vez mais coisa do passado. Estará Carlos Carrão preparado para essa nova realidade? Sem desprimor para o homem, conterrâneo e cidadão, não me parece. E passo a explicar porquê.
O evangelho segundo S. Paiva, que até aqui tem servido de viático à relativa maioria, esgotou as suas virtualidades. Santa Iria encalhou, a 3ª fase do Flecheiro despistou-se no problema do realojamento dos ciganos, a Várzea Grande e o estacionamento urbano transitaram da ParqT para a câmara, com um porta-chaves da ordem de sete milhões de euros,  "uma coisinha de nada" em "madeirês" do Funchal, o Açude de Pedra, ainda está muito verde, só outros cães o poderão vir a tragar; a reabilitação urbana, enfim, enquadrada por uma SRU a fundar, naufragou na crise e na proibição legislativa de criar mais empresas municipais. O que quer dizer que o tosco documento prospectivo "Tomar 2015" deu o berro quatro anos antes do previsto. E agora?
Sem querer arrastado para águas profundas, saberá Carlos Carrão nadar o suficiente para se aguentar à superfície sem bóias, num mar cada vez mais encapelado? Não me parece. Falta-lhe mundo, falta-lhe vivência, faltam-lhe livros. Faltam-lhe muitos anos a virar frangos. Ou estarei enganado e a exagerar? Dentro de pouco tempo já o saberemos. Infelizmente, penso eu.

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