sábado, 3 de setembro de 2011

Uma explicação para tanta aselhice?


Peter Villax, vice-presidente e herdeiro da Hovione, uma multinacional com sede em Portugal,  que factura mais de 100 milhões de euros anualmente, não tem papas na língua. Em tempos irritou Sócrates, quando no final de uma conferência em que o então primeiro-ministro acabara de usar da palavra, se levantou e lhe disse: "Tenho um problema essencial consigo. Os seus actos não correspondem às suas palavras."
Agora concedeu uma entrevista ao jornal i, publicada na edição de 02/09/2011, da qual reproduzimos as seguintes passagens, com a devida vénia e os nossos agradecimentos. "Nós, por questões religiosas, não gostamos de trabalho. O trabalho foi o castigo por Adão e Eva terem cometido o pecado original. Hoje, o discurso extremou-se e o castigo tem de ser redimido com direitos e regalias sociais. Mas existe numa grande parte da nossa sociedade a ideia de que trabalhar -o menos possível!"... ... ...
"Temos torpedeado o ensino em Portugal nos últimos vinte anos. O nosso sistema de ensino -o ensino público- é o meio mais importante para enriquecer o país. Mas nós temos dito ao povo e aos seus filhos -"Não se preocupem com os exames, que nós passamo-los por vocês. O resultado está à vista."... ... ...
"Tem seis filhos, com idades entre os 11 e os 26 anos, que lhe permitem comparar o ensino português com o estrangeiro. Que comparação faz?" -"Desfavorável para o ensino português, que privilegia a resposta correcta e não o raciocínio. Não há raciocínio livre; não há desenvolvimento do raciocínio. Os exames portugueses do 12º ano são uma dezena de perguntas, em que cada uma vale X pontos. O exame do baccalauréat francês [que equivale ao nosso 12º ano] consta de uma pergunta, a escolher entre três, com quatro horas para responder. O que é muito mais desafiante para o aluno e para o professor, que vai ter de classificar um trabalho de seis páginas, em que avalia o aluno não pela correcção da resposta, mas pela originalidade, pela capacidade de raciocínio, pela capacidade de citar autores e pela cultura geral..."
"Com o ensino superior é diferente? -Todos os meus filhos foram e irão para as universidades portuguesas. O ensino superior português é de elevadíssima qualidade. As nossas escolas de engenharia são das melhores do mundo. O Instituto Superior Técnico é uma das melhores escolas de engenharia do mundo. E eu sei, porque temos na Hovione engenheiros vindos das melhores escolas do mundo."
De maneira que, na óptica de Villax, somos bons no ensino superior, sobretudo nas escolas de engenheiros, bem como a dar respostas correctas. Mas quanto a raciocínio...esperem aí um bocadinho que já volto. Eis uma eventual explicação pertinente para tanta aselhice, tanta teimosia, tanta incapacidade de adaptação ao mundo novo, tanta falta de políticos com coluna vertebral...e de cidadãos à altura da designação genérica. Pode ser que um dia consigamos começar a mudar. Mas por enquanto...

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