O agravamento da crise está a tornar mais evidente um aspecto da maneira de ser tomarense, do qual sempre suspeitei, sem todavia ter provas para o demonstrar, pois estas só agora se estão a avolumar. Refiro-me ao posicionamento geral em relação ao senso comum. Em palavras chãs: temos tendência para agir às avessas, contrariando sistematicamente aquilo que seria razoável e racional. Exemplos não faltam.
Na área do turismo, onde Tomar continua a ser, apesar de tudo, um centro importante em termos de património natural e construído, não há guias profissionais credenciados. Apesar dos mais de 500 funcionários municipais e dos quase 40 do Convento de Cristo. Para já não falar do Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. Em contrapartida, há na função pública local engenheiros e outros licenciados a mais. Que com o agravar da crise...
O recente festival de estátuas vivas, que foi considerado um sucesso em termos de organização e de afluência, redundou afinal numa oportunidade perdida e até numa situação absurda. Oportunidade perdida, posto que em época de grave crise económica, em vez de aproveitarem o ensejo para realizar valor acrescentado, gastaram mais cerca de 90 mil euros = 18 mil contos. Situação absurda, dado que em período normal não há transporte colectivo para o Convento de Cristo, e paga-se 6 euros por pessoa para entrar no monumento, quando por ocasião da referida festança havia transporte colectivo à borla e a entrada era também gratuita. Em vez de aproveitarem o aumento da afluência para realizar receita, agiram mais uma vez às avessas. Não perderam o ensejo para desperdiçar mais umas dezenas de milhares de euros, tanto nos custos do transporte como nos milhares de bilhetes não cobrados à entrada do Convento.
Outro tanto acontece com as obras da autarquia. Em vez de aproveitarem as verbas europeias para investir em realizações susceptíveis de vir a proporcionar valor acrescentado, têm feito tudo às avessas. Todas as obras concluídas ou ainda em curso representam novos e elevados encargos monetários para o município. quanto mais não seja em manutenção. Como pensam poder vir a enfrentá-los, com as receias a diminuirem drasticamente, é para mim um verdadeiro mistério.
Com todos estes casos, e outros que nos vão atascando cada vez mais na indigência e na irrelevância, outras populações já teriam reagido, visto que se trata de acções em muitos casos reversíveis, com vantagens certas para todos, excepto para os empreiteiros. É, nomeadamente, o caso das obras da Levada, mais baratas se interrompidas já; daquela loucura dos paredões junto ao Convento, que seria mais barato não concluir, uma vez que são para demolir; das obras do turismo, que não fazem falta nenhuma, etc. etc. etc. Pois não senhor. As impropriamente chamadas "forças vivas locais" continuam a achar que, se não vai tudo bem, para lá caminha, não sendo possível conseguir melhor.
Inversamente, ao arrepio do senso comum, aparece agora um movimento local de protesto larvar contra o eventual encerramento da urgência no hospital de Tomar, decisão que a verificar-se será praticamente irreversível, porque tornada indispensável no quadro das medidas de austeridade impostas pela troika. É incontestável que um centro hospitalar com um buraco de 47 milhões de euros, segundo a imprensa de ontem, carece de medidas urgentes de rigorosa poupança. E suponho que, quando mais cedo que tarde, a autarquia for forçada pelas circunstâncias a aumentar consideravelmente o preço dos TUT, ou mesmo a acabar com os ditos cujos, haverá também um relativamente vasto clamor de protesto.
Os tomarenses são assim. Pensam e agem às avessas. Até cuidam que, por termos um passado glorioso, isso conta para alguma coisa na política actual, quando afinal o governo é forçado a agir em função do presente e do futuro previsível. Exactamente quando estamos em decadência cada vez mais acelerada. É pena, mas que se lhe há-de fazer? Não há piores cegos do que aqueles que não querem ver, nem piores surdos do que os que não querem ouvir. Ou ler.
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