sexta-feira, 9 de setembro de 2011

DEMOCRACIA DE FACHADA


O principal problema da nossa jovem democracia é a sua evidente falta de conteúdo, de substância. Consequência directa de nos ter sido servida de bandeja nos idos de Abril de 74. Com a notável excepção do PCP clandestino e de alguns outros (poucos) oposicionistas, dos quais se destaca Mário Soares, estamos em relação às liberdades como em relação ao dinheiro. Em ambos os casos, quando resultam de dura luta e labuta, temos tendência a estimar, a proteger. Quando, pelo contrário, provêm do mero acaso ou quase, espatifamos à vontade. Há até um velho anexim a esse propósito: "Dinheiro mal ganho, o diabo o dá, o diabo o leva." O mesmo se poderá dizer da democracia portuguesa, cada vez mais uma bela fachada, com umas eleições condicionadas de quando em vez, sobretudo para cumprir calendário.
Em Tomar então, o melhor é não falar muito no tema, para evitar tristezas. Há no entanto momentos em que tem de ser, quer nos agrade ou não. Três casos recentes ilustram o triste estado a que chegámos nas terras nabantinas. São eles, as obras do caminho pedonal da Mata, o recorte supra e as obras junto ao Castelo/Convento.
Quanto àquelas, celebrou-se a dada altura uma parceria Câmara de Tomar/Instituto de Conservação da Natureza/IGESPAR, essencialmente para sacar verbas europeias. Tratava-se de requalificar uma via já existente, remodelar as instalações sanitárias e requalificar para fins de visita a ex-casa do guarda. Custo total da coisa, 190 mil euros = 38 mil contos + IVA. Obtida a aprovação, a autarquia ficou isolada, pois as duas outras entidades retiraram-se, alegando falta de verbas. Tiveram então os tomarenses direito a um espectáculo insólito: Sem folga orçamental para cumprir algumas das suas atribuições, a edilidade adjudicou e mais tarde pagou obras de prioridade muito discutível, num local que não lhe pertence. Alegaram então os arautos PSD local que se tratava sobretudo de ligar os esgotos do Convento à rede de saneamento urbano, como forma de evitar que continuassem a correr a céu aberto para a Mata.
Dois anos mais tarde, a casa requalificada continua fechada, e constata-se que o emissário de efluentes domésticos foi realmente instalado, mas tendo o IGESPAR roído a corda, a ligação ao Convento continua por fazer. E o esgoto continua a céu aberto em plena Mata. Muito democrático, não é?
Outro exemplo. Leia-se o recorte acima. Falta um bocado ao texto, mas isso também faz parte do jornalismo local, desde sempre atormentado pela penúria, nos seus vários sectores. Temos um problema qualquer, os IpT votam  a favor mas declaram contra, ameaçando até com raios e coriscos. O costume. De que se trata afinal? Quem? O quê? Quando? Onde? Como? Porquê? Mistério... Estamos como nas antigas missas em latim, em que  praticamente só o celebrante percebia o que ia murmurando. Neste caso, só a casta dos eleitos e a tribo dos funcionários bem instalados é que sabe mesmo do que se trata. Mas não dizem, claro! Ali pelas bandas da autarquia, o segredo continua a ser a alma do negócio. Muito democrático, não é?
E chegamos novamente à vaca fria, que é como quem diz à destruição do alambor templário, do século XII. Embora sejam os próprios autarcas os primeiros a dizer que a má-língua provém de Tomar a dianteira, abstendo-se sempre de fundamentar, de apresentar provas daquilo que dizem, mas dificultando ao máximo a recolha de elementos informativos para este blogue, a verdade é que até os jornalistas profissionais se viram forçados a requerer visitas guiadas às obras do Convento e do Elefante Branco da Levada, justificando o pedido com as dificuldades sentidas para trabalhar nos dois casos, nomeadamente para fotografar. Muito democrático, não é?
Dado que habitamos numa espécie de República das Bananas e vivemos numa terra de bananas, alguns dias depois, os representantes da imprensa local e regional tiveram direito a uma visita guiada às obras junto ao Castelo/Convento, acompanhados por Corvêlo de Sousa e pela Director do Departamento de Obras Municipais, Rui Monteiro. Para explicarem tudo? Que não! Quem guiou a visita foi a directora interina do Convento, a trabalhar em Tomar há meia dúzia de meses, tendo sido transferida da Fortaleza de Sagres, para substituir temporariamente a anterior directora, Iria Caetano, que se aposentou. Agora imaginem os leitores a situação. Uma autarquia com dezenas de adjuntos, assessores, licenciados em turismo cultural  e técnicos disto e mais daquilo -todos tomarenses e por conseguinte omnicompetentes- viu-se forçada a recorrer aos préstimos de uma arqueóloga turista (que uns dias antes me declarou não estar autorizada por Lisboa a prestar declarações sobre a problemática do alambor) para guiar uma visita a obras da responsabilidade do Município.
Constrangida, a ilustre senhora lá debitou o que sabia, incluindo uma ou outra afirmação sem pés nem cabeça, como já referido no texto anterior, acabando por misturar a limpeza da Janela do Capítulo com o alambor, bem como as pedras com os líquenes devoradores. O mais grave porém, é que, na presença de Corvêlo de Sousa, na sua qualidade de representante legítimo de todos os tomarenses, disse em relação ao alambor agora posto a descoberto, segundo refere CIDADE DE TOMAR, "Vai ser escavado mais um metro. O resto fica para o futuro." Como quem cala consente e o senhor alcaide de nós todos nada acrescentou, supõe-se que a autarquia concorda, embora nada tenha perguntado aos restantes membros, muito menos aos tomarenses. Vamos ter assim direito a mais uma situação extremamente curiosa: a Janela e o Coro Manuelino poderão vir  ser lavados, o que é perfeitamente dispensável e até nefasto, mas para pôr o alambor à vista, não deve haver verba para mais de um metro. Muito democrático, não é? Enquanto não começarem por limpar o próprio IGESPAR, um verdadeiro armazém de funcionários bem pagos...

1 comentário:

FUNICULIN disse...

A dita "Patroa" do Convento de Cristo foi responsável pela Fortaleza de Sagres? Perguntem em Sagres da Freguesia da Vila do Bispo o que então foi tapado naquela Fortaleza. Pelos vistos também por lá deixou o seu carimbo de "competência". São estes licenciados da treta, para não dizer da trampa, que querem ser tratados por dr. É a merda que temos.