Prezado amigo Cantoneiro:
Tens grande mérito. Mesmo a viver fora daqui, continuas a procurar afanosamente um rumo profícuo para esta nossa desgraçada terra. Numa urbe de gente instalada, o caso é assaz raro para ser realçado. Concordo inteiramente contigo, quando escreves que Tomar precisa de um projecto mobilizador e que sem ele não conseguirá ir a lado algum. Como de resto está bem à vista de quem queira tirar os óculos bairristas e/ou partidários, acrescento eu. Ainda assim, não acredito que uma candidatura a Capital Europeia da Cultura - 2020 pudesse ser uma hipótese ganhadora. Por duas razões principais, entre muitas outras que poderia alinhar: 1 - Não temos dimensão física, humana, económica ou intelectual que nos permitisse postular a semelhante evento com alguma chance de conseguir vencer; 2 - Ninguém se quer disso dar conta. Contudo, as condições gerais que permitiram os grandes eventos culturais, financiados sobretudo pelos orçamentos públicos, deixaram de existir e nunca mais vão voltar. Quanto mais cedo aceitarmos esta verdade insofismável, melhor será para todos.
Acresce que tal tipo de eventos era e é praticamente um exclusivo dos países da Europa do sul. Debalde se procurará uma cidade escandinava que tenha enveredado por semelhante caminho. Porque a triste realidade pode ser condensada na resposta sucinta e honesta a uma pergunta rasa -Após quase 40 anos e dezenas de milhões gastos em cultura, o país está mais culto?
Conforme já referi múltiplas vezes, não será por falta de projecto adequado e mobilizador que Tomar deixará de encetar um novo caminho, rumo a realidades mais consistentes e prometedoras. Esse projecto existe. O grande problema é que -como bem sabem todos os nossos conterrâneos que convivem com gentes de outras regiões- os tomarenses são na sua esmagadora maioria criaturas instaladas, acomodadas, sempre a olhar para o passado, na esperança de que surja um salvador a distribuir notas de 500 euros, sem que haja sequer necessidade de levantar o cu da cadeira. E com semelhante mentalidade nunca mais vamos conseguir dobrar o Cabo das Tormentas.
No fundo e em resumo, o dilema nabantino continua o mesmo de sempre: Sem os tomarenses não se pode desenvolver Tomar, mas com eles também não. Há no país dois grandes grupos sociais -os conquistadores e os herdeiros. Uns fazem-se à vida, dão o corpo à curva ou o peito às balas, quando é preciso. São empreendedores e auto-suficientes. Consideram que quanto menos Estado melhor. Não pedem subsídios, empregos ou outras facilidades; apenas que não lhes arranjem entraves administrativos. Os outros, como o próprio nome indica, acham que tudo lhes é devido, que só têm direitos, que o trabalho e a iniciativa são enormes maçadas. Que o passado é que era bom. E vão contribuindo com a sua idiossincrasia para esbanjar e arruinar a herança, incluindo a parte que não lhes pertence. A sua frase preferida foi há pouco pronunciada por Mário Soares: "O dinheiro aparece sempre". Infelizmente, o verbo está agora mal conjugado. Em vez de aparece, deve-se doravante ler e pensar APARECIA. A Europa do norte cansou-se de nos financiar as moengas.
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