sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Gastar cera com defuntos

Relata a Rádio Hertz que na reunião de ontem o executivo camarário debateu acaloradamente a anunciada supressão da urgência no Hospital de Tomar. Houve, naturalmente, unanimidade na indignação. E sobretudo no facto de semelhante afronta ter sido decidida -vejam bem!- sem prévia audição ao executivo e à Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, uma coisa alojada alí no Convento de S. Francisco, sem pagar renda, mas com uma secretária executiva a ganhar mais que o presidente da câmara. Há secretárias com muita sorte. E populações cheias de azar. É a vida!, diria o filósofo Guterres, que apesar de tudo nunca foi estudar filosofia para Paris nem aí pagou almoços de milhares de euros. Em Portugal a política continua a ser uma actividade muito frutuosa. Para alguns, claro!
Voltando à problemática hospitalar tomarense. Debateram então o propalado encerramento da urgência no hospital de Tomar, sentindo-se manifestamente ultrajados pelo facto de alhures terem ousado tomar decisões gravosas, sem antes consultarem a ilustre tribo dos eleitos. Trata-se, quanto a mim que sou má-língua, de uma reacção imprópria posto que, como diz o povo, "só é respeitado quem se dá ao respeito". E os autarcas da zona, sobretudo os de Tomar...
Após tão importante debate, o que ficou em termos de argumentação substantiva? O fecho das urgências é prejudicial para as populações; os eleitos deviam ter sido consultados; vão ser solicitadas audiências às entidades responsáveis; os autarcas tomarenses são unânimes na manifestação de repúdio ante semelhante decisão. Ora aí está! Sete representantes do povo, lautamente pagos em vencimentos, mordomias e/ou senhas de presença, não conseguiram parir mais do que isto. Miséria! A tal ponto que até Corvêlo de Sousa se sentiu agastado, desabafando que "Há concelhos que estão muito pior que Tomar, designadamente Abrantes, que neste momento tem muitas pessoas de idade sem acesso a centros de saúde." Graça Costa não gostou e aconselhou o senhor alcaide a defender mais os tomarenses, deixando que os outros tratem de si (deles, bem entendido...).
Nem sequer terá aflorado as mentes de tão brilhantes criaturas uma série de factos convergentes que, infelizmente, já condenaram o concelho de Tomar à irrelevância. Para além da já antes assinalada e manifesta falta de credibilidade do actual elenco camarário, pelas razões de todos conhecidas, Ourém tem neste momento mais eleitores (43.907, contra 38.724 em Tomar), mais alunos, mais telefones fixos, mais telemóveis, mais automóveis, mais indústrias, mais comércios, mais edifícios e menos desempregados. Paga mais IRC, mais IRS, mais IMT, mais IMI e mais Imposto automóvel. Mas não tem hospital com urgência, não tem quartel, não tem caminho de ferro na cidade, não tem divisão da PSP, não tem comando da GNR, nem tem politécnico. E estas coisas, que dão muito nas vistas, sabem-se em Lisboa, nos centros do Poder. O que provocará, mais tarde ou mais cedo, mudanças significativas. Ninguém gosta de viver numa cidade cada vez mais cemitério...
Nestas condições, em vez de gastar cera com defuntos adiados, não seria melhor ir para um debate susceptível de apurar enfim as causas próximas e remotas da nossa gritante decadência? É que nunca tive conhecimento de que médicos tenham curado uma maleita grave sem prévio, profundo e adequado diagnóstico, logo seguido de correcta terapêutica. Mas se calhar os senhores autarcas tomarenses continuam convencidos de que, como estamos próximos de Fátima...Se assim é, tratem de olhar para os oureenses quanto antes. Têm o santuário no concelho, mas seguem o velho preceito cristão "Ajuda-te e Deus ajudar-te-á!" Dá muito trabalho, não é?

1 comentário:

Virgílio Lopes disse...

Notícia do "CORREIO DA MANHÃ" de hoje :


"Inspecção pede saída dos administradores do Médio Tejo

Má gestão causa buraco de 47 M €

A gestão ruinosa do Centro Hospitalar do Médio Tejo – que integra as unidades de Abrantes, Tomar e Torres Novas – causou um "buraco" financeiro de mais de 47 milhões de euros em 2009 e em 2010, revela uma auditoria da Inspecção-Geral das Finanças (IGF).
1h00
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Por:Cristina Serra








A situação económica e financeira é tão grave que a inspecção recomendou a substituição "urgente" do actual conselho de administração, cujo mandato terminou em Dezembro de 2009, mas encontra-se ainda em funções.

O défice do centro hospitalar quase duplicou, passando dos 13 milhões de euros em 2008 para os 23,2 milhões de euros em 2009, continuando a subir para os 24,1 milhões em 2010.

Segundo a auditoria, esses resultados devem-se à má gestão que teve "fraca preocupação com a redução de custos", apesar da exigência dos ministérios das Finanças e da Saúde na apresentação de um plano de redução de despesas e de custos operacionais em 15 por cento.

Para o descalabro nas contas contou o facto de a "administração nunca ter funcionado como equipa", situação que contribuiu para não haver capacidade de gerir eficazmente o centro hospitalar.

O CM tentou obter esclarecimentos, mas sem sucesso.

GANHAM 75 EUROS AO ALMOÇO

A Inspecção-Geral das Finanças (IGF) afirma que o número de cirurgias feitas no Centro Hospitalar do Médio Tejo tem vindo a diminuir nos últimos anos e a produção é fraca, quando comparada com os recursos existentes. Segundo o relatório da auditoria da IGF, alguns serviços do centro hospitalar mantêm-se em funcionamento em mais de uma unidade, designadamente a urgência e a consulta externa, "situação que impede a optimização dos recursos disponíveis", com produção reduzida em relação aos custos de estrutura. O controlo da assiduidade revela também deficiências, apesar do registo biométrico. A inspecção afirma que "os médicos contratados a empresas que trabalham nas Urgências não estão sob o controlo das chefias médicas do centro hospitalar, o que constitui um risco e falha no controlo interno". Os médicos contratados "recebem por cada hora, incluindo o período da refeição, entre 30 euros e 75 euros, o que se revela oneroso".



SOLUÇÃO :

Corrigir e punir os responsáveis !

E não punir as populações com o FECHO,como pretende a cáfila neo-liberal que tomou conta do pais.