segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

QUE FAZER A FAVOR DE TOMAR?

Várias pessoas nos têm questionado, procurando saber o que se pode fazer para ajudar a ultrapassar a nossa recorrente situação de desalento. Dado que ninguém põe em causa a legitimidade dos autarcas que temos, nem teria argumentos legais para o fazer, resta procurar compreender a natureza e as causas dos problemas que nos afligem, bem como aguardar com paciência a próxima oportunidade eleitoral.
Para início de análise, convém ter em conta que o problema tomarense não é de partidos ou outras formações políticas. É de pessoas, de cidadãos como nós. Que das duas uma, ou presumiram que seriam capazes de gerir capazmente a autarquia, mesmo não dispondo de qualquer projecto adequado às circunstâncias; ou estavam conscientes da sua incapacidade, mas pensaram que os comparsas estariam mais artilhados. Em qualquer caso, basófia, fé na sorte ou pura inconsciência, agora é demasiado tarde para emendar. Sem perspectivas fecundas, a maioria relativa PSD continuará a agravar o défice autárquico com a sua lista de obras que poderão ser tudo menos oportunas ou rentáveis, enquanto que os dois elementos do PS continuarão a desempenhar o infeliz papel de "moscas do coche municipal". Os IpT, por seu lado,  insistirão na animação da pista municipal, com declarações de voto, perguntas e recomendações. Tudo praticamente em vão, como se tem vsto.
Aos munícipes resta por conseguinte ir ouvindo, lendo e assistindo, com a possível paciência, aos sucessivos e cada vez mais frequentes acidentes de percurso. Ao mesmo tempo, os mais afoitos e capazes em termos políticos podem e devem ir procurando ou mesmo preparando alternativas para 2013. Se o não fizerem atempadamente, correm sérios riscos de não virem a ter grande escolha na futura consulta eleitoral. Porque se a actual maioria relativa faz e continuará a fazer de "homem morto", isso deve-se tanto à ajuda interesseira dos eleitos do PS, como à evidente  carência de alternativas por parte destes e dos IpT. Isto para não falar das outras forças políticas, que apenas lograram representação na Assembleia Municipal, onde deram um pífio espectáculo aquando da sessão extraordinária sobre a crise no concelho, que até o próprio presidente Miguel Relvas já lamentou publicamente, aos microfones da Rádio Hertz.
Sendo agora incontroverso que as coisas nunca mais voltarão a ser como já foram; que nunca mais voltaremos à época das vacas gordas e das plantações de "girassídio"; se os tomarenses continuarem sebastianistas, não se precatando atempadamente em relação aos habituais e inevitáveis oportunismos políticos em 2013, então o único caminho será mesmo o da migração interna, rumo a novas paragens mais clementes, com gente mais activa e comprometida com o devir colectivo. Ninguém consegue salvar vítimas semi-enterradas num lamaçal contra a vontade delas. A presente crise é geral no nosso país, sendo porém muito mais grave em Tomar, por falta de horizontes novos. Enquanto assim for...

VER, PERCEBER E AGIR EM CONSEQUÊNCIA

Começo por saudar com alegria a participação nos comentários deste blogue do colega e prezado amigo José Rogério, uma das "boas cabeças" locais. O facto de o poder contar entre os leitores de Tomar a dianteira dá-me ainda mais alento para prosseguir nesta tarefa de cidadania.
Por falar em cidadania, o norte-americano Paul Krugman, Nobel de Economia em 2008, citado pelo Le Monde, escreveu no seu blogue alojado no site do New York Times o seguinte: "A verdade é que a França é um pais que tem o mesmo nível de tecnologia e de produtividade que os Estados Unidos, mas cuja sociedade fez escolhas diferentes nas reformas e nos tempos livres" E daí? perguntarão os habituais génios nabantinos de trazer por casa. E daí, a afirmação do conhecido economista americano confirma que as coisas não são bem como os liberais gostariam que fossem. Há no capitalismo vários modelos empíricos, sendo que o nosso está mais próximo do francês. O que significa que temos uma estrutura económica com significativa interferência do governo, em nome do Estado.
Os economistas liberais, designadamente os da escola de Chicago, cujo arauto português é João César das Neves, não se cansam de proclamar que "quanto menos estado melhor, porque não há almoços grátis". Todos temos de pagar tudo, de uma maneira ou de outra. A comparação acima citada do Nobel Krugman coloca em evidência que afinal é bem capaz de não ser bem assim. Há muito mais estado no modelo económico francês, quando comparado com o dos Estados Unidos, o que não penaliza sobremaneira os gauleses. Sendo certo que ambas as nações enfrentam graves problemas económicos e financeiros, o défice abissal dos norte americanos é incomensuravelmente maior do que o do governo de Paris. Apesar de terem um governo mais pequeno, mais ligeiro e mais ausente das estruturas económicas, como propõem os liberais.
Significa o que antecede estarem os americanos equivocados e os franceses na via mais adequada em termos de política conómica? De modo algum. Indica apenas que, sendo o capitalismo um modo de produção exclusivamente pragmático, vai gerando diferentes formas de funcionamento, consoante as latitudes, as longitudes e as mentalidades. Na Europa, por exemplo, o chamado "modelo económico alemão" e o seu homólogo escandinavo, passaram pela recente crise com muito menos sobressaltos do que os modelos mediterrânicos, estando já novamente em plena ascensão, após alguns pesados sacrifícios no que concerne aos alemães.
No nosso país e na nossa terra, afinal o que mais nos interessa, a crise prolonga-se e ainda ninguém vislumbra uma ultrapassagem honrosa, sobretudo devido à lógica perversa do capitalismo financeiro, em permanente confronto com a mentalidade das "cigarras mediterrânicas". Por um lado, herdeiros de tradições seculares, os tomarenses e os portugueses em geral preferem o saque à actividade produtiva, muito mais cansativa, lenta e mal remunerada. Vai daí, procuram encostar-se ao Estado o mais possível, dos grandes empresários aos políticos e aos altos funcionários, até aos dependentes do RSI. Donde resulta uma dívida pública estatal, empresarial ou municipal, cada vez mais volumosa. É aqui que entra a tal lógica perversa do capitalismo financeiro, que leva os seus mentores e gestores a aumentar as taxas de juro a cobrar em função dos recursos  do cliente. Quanto menos este pode pagar, menos garantias oferece, e quanto menos garantias oferece, mais alta terá de ser a taxa de juro. É perverso, é aberrante, mas é assim. São "os mercados"! E "eles" é que mandam.
Neste contexto, a chacelerina alemã Ângela Merkel, com a "tarimba" de dezenas de anos a viver num regime dito comunista mas de partido único, e com a experiência da reunificação do seu país, teve a coragem de dizer alto o que os seus compatriotas pensavam e pensam baixinho -Não é justo nem aceitável que os cidadadãos alemães façam sacrifícios, trabalhem com afinco,  paguem os seus impostos e se reformem aos 67 anos (69 dentro de 3 anos), para que outros, a Sul, vivam à larga graças ao crédito, fujam aos impostos, trabalhem o menos possível e se reformem antes dos 65 anos (aos 55, no caso dos gregos). Nestas condições, ajudas alemãs e europeias, de acordo. Mas só para quem implementar medidas drásticas, tendentes a reduzir e depois a acabar com os défices de uma vez por todas.
No nosso entender, conviria que os senhores autarcas tomarenses, com as despesas municipais a inchar e a economia concelhia a encolher, (em manifesta recessão, que tende a agrava-se), se deixassem de floreados,  renunciassem à "política do homem morto" e passassem rapidamente às coisasa sérias. Quanto mais tarde o vierem a fazer, pior será para eles e para nós todos. Infelizmente.

domingo, 30 de janeiro de 2011

OS GOVERNOS "AUSTERITÁRIOS" VÃO SOBREVIVER?

O primeiro-ministro inglês durante a sua intervenção  na "Fórum mundial de Davos (Suiça) - Foto Johannes Eisele/AFP/Le Monde
Nota prévia
Ouvindo ou lendo a comunicação social portuguesa, bem como entrevistando os políticos locais, fica-se com a impressão de que os portugueses em geral, incluindo os políticos locais, continuam persuadidos de que a actual situação de austeridade é uma coisa transitória. Que as vacas gordas já vêm outra vez a caminho. Dos quatro responsáveis políticos nabantinos que tive o gosto de entrevistar até agora, no programa À mesa do café, transmitido em directo pela Rádio Hertz, ao sábado, das 11 ao meio-dia, só Miguel Relvas mostrou estar preparado para a inadiável mudança, tornada indispensável pelo que aí vêm. Com ou sem FMI; com ou sem BCE; com ou sem vontade. O que tem de ser, tem muita força.
Embora neste país e nesta terra se fale o menos possível de tão melindroso assunto, a triste verdade é que nos esperam dois desafios cruciais incontornáveis, tanto a nível nacional como local: 1 - Reduzir o défice para menos de 3% do PIB até 2013/14; 2 - Gerir o país e cada uma das autarquias de maneira a que o défice não volte a subir, sob pena de severas penalizações. Em termos singelos, se já é difícil conseguir reduzir tanto o nosso nível de vida em tão curto espaço temporal, agora imagine-se o que vai ser mantê-lo tão reduzido, em virtude de sermos forçados a viver unicamente com aquilo que ganhamos, sem crédito mais ou menos fácil. Eis o problema! Tão delicado que até os dirigentes mundiais já se interrogam -Conseguirão os regimes democráticos sobreviver a tão duras medidas restritivas na área económica?

"Em Davos, houve debate sobre o "handicap" das democracias perante as suas dívida públicas.
Participantes oriundos de economias "emergidas" suscitaram a questão: Terão os Estados  Unidos, o Japão e a Europa  capacidade política suficiente para implementar todas a medidas impopulares necessárias?"

"Será que as democracias liberais têm condições para enfrentar um dos principais desafios económicos futuros -acabar com o endividamento de uma vez por todas? Foi este o problema dominante em muitos debates, entre 26 e 30 de Janeiro, no Fórum Mundial de Davos, na Suiça. Jogando à defesa, a Europa, os Estados Unidos e o Japão foram de forma cortês desafiados pelos participantes oriundos das economias "emergidas" (já não se diz emergentes, que lhes parece mal) a acabar com a dívidas públicas, consideradas como uma das mais graves ameaças ao crescimento económico mundial.
Essa admoestação dissimulava também, quase sempre, uma segunda interrogação, mais política, apenas sugerida, mas apesar de tudo audível à medida que iam decorrendo as sessões de debate: Será que as democracias liberais estão em evidente desvantagem,  em relação aos regimes autoritários, para implementar medidas tão impopulares como o aumento dos impostos ou a redução das despesas públicas?
A reunião anual nesta pequena localidade dos Alpes Suiços, de mais de 2.500 "decisores económicos" mundiais é sem dúvida um dos raros encontros em que governos, universitários, especialistas, empresários , sindicalistas e representantes de ONG (Organismos Não Governamentais) podem debater abertamente tais problemas.
Em 2009 e 2010, Davos festejou o regresso de Estado à economia, tanto na América como na Europa, na qualidade de insubstituível actor de uma saída de crise que não se transformou em depressão, mas apenas em recessão. Em 2011, a música é outra. Tanto a Europa como os Estados Unidos surgiram atormentados porque sobre-endividados, por conseguinte sem grande margem de manobra. O Secretário do Tesouro americano (equivalente do nosso Ministro das Finanças), Timothy Geithner, o Presidente da República francesa, Nicolas Sarkozy, o Primeiro-ministro britânico, David Cameron e a Chancelerina alemã Ângela Merkel foram unânimes: a redução do défice é a prioridade das prioridades para os próximos anos.
Desta vez Davos parecia dividida em dois campos. De um lado, as economias emergentes, lideradas pela China, equilibrando as suas contas públicas e acumulando montanhas de poupanças e de reservas em divisas. Do outro lado os sacos rotos da Europa, do Japão e dos Estados Unidos, com os orçamentos no vermelho e vergados sob o peso das dívidas. "A nossa situação orçamental é insustentável a longo prazo", reconheceu na sexta-feira, 28 de Janeiro, o Secretário Geithner, para logo acrescentar que terá de ser liquidada entre cinco e dez anos. Também admitiu que há uma grande dificuldade para conseguir reunir no Congresso dos Estados Unidos uma maioria, obrigatoriamente bipartidária, capaz de se comprometer para um tal espaço de tempo, "enquanto que os chineses têm uma admirável capacidade para fixar objectivos a longo prazo".
Procurando enfrentar o cepticismo de alguns sobre a eficácia das democracias liberais na presente conjuntura, Geithner formulou uma pergunta e deu-lhe logo resposta: "Será o sistema americano capaz de responder a este tipo de desafio e as todos os desafios do futuro? Quase sempre com grande confusão, mas não tenho qualquer dúvida. A resposta é sim! O sistema político americano sempre foi capaz de se elevar à altura dos desafios a vencer."
E para acalmar os espíritos mais inquietos expressou a sua convicção de que os europeus também vão conseguir resolver as actuais dificuldades da eurozona: "Não tenho qualquer dúvida a esse respeito, pois já adoptaram medidas tendentes a fornecer oxigénio aos países com mais falta de ar da união monetária". 
A mensagem foi clara: Nada de duvidar das capacidades das democracias liberais. David Cameron, o primeiro-minsitro conservador inglês, aproveitou para reforçar a posição do governante americano: "Duvidam dos nossos valores? Ousam vir-nos falar da eficácia dos regimes autoritários? Pois estão enganados. Pelo contrário, devemos realçar os nossos valores, nós os Europeus. De onde vêm as inovações, os novos produtos, as boas ideias? Das sociedades abertas e livres."
Não era bem uma resposta à pergunta feita, a da capacidade das democracias para tomar medidas duras, mas dita no palco  da maior sala de reunião de Davos, num tom de quase desafio, reconheça-se que tal profissão de fé impressionou pelo seu "panache".

Alain Frachon, Davos, Suiça, Le Monde, Economie, 30/01/11, página 13

Nota final
Depois não me venham dizer que ninguém vos preveniu a tempo e a horas!

IMAGENS TOMARENSES DE FIM DE SEMANA

É o sinal de estacionamento proibido que está a mais? Ou são os tomarenses que não ligam aos ditames da autarquia?
Tomar sempre foi e continua a ser muito hospitaleira para as aves de arribação. Sobretudo as de asa negra, vindas dos lados do bacalhau de "asa branca". Nesta foto um corvo marinho, ou #cormoran" terrível predador dos peixes pequenos, pois aos outros nem os caça por não lhes poder "dar a volta" para os ingurgitar.
Outra ave de arribação -uma garça real ou pernalta- já perfeitamente adaptada aos hábitos nabantinos. Tal como muitos tomarenses,  consegue dormir sempre bem e em qualquer lado.
Jardim da Várzea Pequena, dois meses após o tornado. Não é nada desmazelo!!! Não sejam más-línguas!!! É o pessoal camarário que tem excesso de trabalho. E como andam a procurar reduzir as horas extraordinárias, por causa do governo "austeritário" de José Sócrates...
Vista geral da antiga Capela de S. Gregório, com portal em manuelino tosco, da primeira metade do século XVI, agora popularmente conhecida como "Hotel S. Gregório" ou "Hotel das retretes". No primeiro plano, plantas ornamentais já mortas, agora em processo de mumificação, trabalho de um dos hóspedes do citado hotel. No segundo plano, do lado esquerdo, um cipreste a tentar imitar a conhecidíssima Torre de Pisa, mas que se desiquilibrou. Está assim há mais de duas semanas, devdo ao aludido excesso de trabalho dos funcionários da autarquia. Mais uma consequência das medidas de austeridade.
Ornamentação artesanal do átrio do Hotel S. Gregório, elaborada por um dos hóspedes, por sinal o mais antigo. No letreiro está escrito "Foot  y  boys". E esta hein?!

Outra aspecto da ornamentação artesanal, neste caso com outro jogo de palavras: "conta cu rente".

O fundo é muito bonito. O primeiro plano é que nem por isso. Sempre a maldita falta de tempo. Por excesso de trabalho, claro está! Alguém duvida?

sábado, 29 de janeiro de 2011

RÁDIO HERTTZ/TOMAR A DIANTEIRA - À MESA DO CAFÉ - 4

Foto Rádio Hertz
O convidado desta semana, Pedro Marques, ex-presidente da edilidade durante dois mandatos,  actual vereador na oposição e líder do movimento IpT - Independentes por Tomar, apresentou-se calmo, bem disposto e seguro de si, naquele estilo "nunca me engano e raramente tenho dúvidas". Questionado sobre a actual situação da maioria coligada, referiu que o acordo PSD/PS é mesmo um problema para o concelho, pois não funciona, acrescentando noutra ocasião que o chamado "incidente Luís Ferreira", que culminou com a retirada de alguns pelouros, se acontecesse com os IpT, provocava o fim imediato da coligação.
Referindo a posição de Miguel Relvas, quando declarou que o executivo carece de uma estratégia, responsabilizou-o por tal situação, acrescentando que os dois vereadores da oposição não servirão de bengala a ninguém.
Sobre os seus dois mandatos como presidente, manifestou-se contente com o respectivo desempenho, que comparou com o que agora está a acontecer. Disse que no seu tempo os eleitos gostavam mais de Tomar do que dos respectivos partidos. "Ninguém ficava de fora". Agora, pelo contrário, segundo referiu, há assuntos que vêm às reuniões e voltam para trás, por evidente falta de preparação prévia, de concertação prévia entre os membros do executivo.
Ao ser-lhe assinalado que a experiência eleitoral mais recente parece demonstrar que nem o PS nem os IpT têm condições para ganhar a autarquia, devido à divisão do eleitorado comum às duas formações, lembrou que sempre esteve e continua aberto a conversações seja com quem for, embora assinalando que as coisas não são bem assim. Nas eleições imediatamente a seguir ao seu segundo mandato, acrescentou Pedro Marques, o candidato socialista era um vereador seu (António Alexandre), ainda não havia IpT, o que não obstou a que o PSD ganhasse com maioria absoluta.
Continuando a referir-se ao Partido Socialista, disse saber muito bem que só não voltou a ser candidato pelo PS devido às manobras de Luís Ferreira "que antes queria perder a Câmara do que ter uma autarquia "Pedro Marques".
Manifestou igualmente a sua preocupação em relação ao Mercado, à 3ª fase do Flecheiro e ao empreendimento da Levada, a propósito do qual referiu já ter alertado a actual maioria relativa para a necessidade de procurar parcerias, junto do BES/Ricardo Salgado, anterior proprietário dos imóveis, e da EDP, no que diz respeito à central eléctrica, das mais antigas do país.
Sendo-lhe perguntado se os IpT têm alguma estratégia para Tomar, respondeu que sim, embora a sequência da sua intervenção não nos tenha permitido entender de forma clara quais as linhas directoras do referido caminho a percorrer. Convém notar, todavia, que indicou a dado passo caber à actual maioria relativa -e não à oposição- fixar o rumo a seguir, bem como os indispensáveis objectivos estratégicos, o que nos pareceu uma justificação pertinente, sabido como é que quem ganha é que deve governar. Refira-se, a concluir, que Pedro Marques já antes dissera que os membros da actual coligação dão a ideia de apenas procurarem durar, manter-se nos lugares, fazendo o menos possível. Maldita crise!

INICIATIVA CONJUNTA RÁDIO HERTZ/TOMAR A DIANTEIRA - PROGRAMA SEMANAL "À MESA DO CAFÉ" - 4


Hoje, das 11 ao meio dia, a partir do Café Santa Iria, mais uma edição da iniciativa conjunta Rádio Hertz/Tomar a dianteira "À mesa do café". Desta vez, o convidado para cerca de uma hora de conversa serena é Pedro Marques, ex-presidente da Câmara de Tomar durante dois mandatos, eleito em listas do PS, actualmente vereador na oposição e líder do movimento IpT - Independentes por Tomar.
Haverá um microfone à disposição para eventuais perguntas da assistência, consoante a disponibilidade de tempo e a oportunidade.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

NA IMPRENSA INTERNACIONAL DE REFERÊNCIA

A TUNÍSIA,  E A SEGUIR?

Muitos palpitavam que haveria uma revolução na Tunísia, mas ninguém sabia quando. Com efeito, todos sabemos que desde há pelo menos vinte anos a democracia avança no mundo inteiro. Não por artes da política, mas graças à economia de mercado. Pelo menos teoricamente, estamos conscientes disso desde a análise da economia inglesa feita por Karl Marx, de acordo com a qual o mercado  cria as condições para o aparecimento da democracia. Porque possibilita o aparecimento de uma burguesia que sente a necessidade de segurança jurídica e de liberdade para inovar. Sobre este aspecto como sobre vários outros, a teoria do autor do Capital revelou-se correcta. Primeiro na Europa, a Oeste, depois a Leste, na Rússia e na América do Sul, finalmente em África e na Ásia.
Uma grande parte destes dois últimos continentes e a quase totalidade do mundo árabe continuavam até agora privados das bases da democracia. Alguns pseudo-especialistas, traumatizados pela falsa revolução iraniana, o massacre de Tiananmen e as dificuldades da Birmânia, chegaram até a afirmar que o futuro pertencia às ditaduras. E que a democracia não tardaria a recuar em toda a parte, nomeadamente face ao fundamentalismo religioso.
O que acaba de ocorrer na Tunísia prova pelo contrário que a demonstração feita por Marx continua válida: a Tunísia, uma vez alcançada a economia de mercado, só podia transformar-se numa democraca. E após a Tunísia, vai acontecer algo semelhante no Egipto, no Vietnam, na China, na África subsahariana e bastante mais tarde, porque aí a economia de mercado ainda é bastante incipiente, na Argélia e na Síria. Todavia, Marx não podia prever nem o momento nem a táctica. Mesmo tendo analisado, a partir do caso da Comuna de Paris, as circunstâncias em que uma revolução pode abortar ou derrapar para uma ditadura.
A França encontra-se assaz implicada neste debate, pois muitos destes países instáveis são antigas colónias suas, que continuam francófonas. Antes de mais, deve avaliar as condições necessárias para o sucesso de uma revolução que se possa transformar numa verdadeira democracia. Que são cinco, a saber: 1 - Uma forte burguesia educada; 2 - Umas forças armadas laicas; 3 - Uma juventude que não tenha nada a perder; 4 - Inexistência de um líder populista carismático; 5 - Um contexto internacional favorável.
Quando o êxito é possível, a França tem a obrigação de saber acompanhar as mudanças. Para isso, deve proclamar bem alto  que a democracia é o único sistema tolerável, pelo que um leader, seja ele quem for, não pode manter-se no poder durante vinte anos, nem deixar o seu filho como sucessor. Deve também afirmar que é amiga de uma nação e não de um presidente, mesmo que isso possa prejudicar, de forma transitória, alguns interesses das nossas empresas.
Finalmente, para entender cabalmente o que está em jogo em cada um destes países, a França deve servir-se das formidáveis redes constituídas pelas comunidades de imigrantes, que sabem bem mais do que os diplomatas franceses sobre aquilo que se passa nos respectivos países. Da mesma forma, no estrangeiro, convirá contactar com as comunidades francesas aí residentes, geralmente muito bem informadas sobre cada país, graças à sua convivência diária com as respectivas populações.
Tenhamos esperança que estas recomendações não sejam esquecidas até à próxima revolução. Das buganvílias ou dos juncos..."

Jacques Attali, L'Express, 19/01/11, página 82

Nota Final

Assim à primeira vista, esta crónica do politólogo Jacques Attali não tem grande interesse para os portugueses, nem para os tomarenses. Todavia, pensando um pouco mais, temos o caso do Alberto João, no poder há mais de 30 anos, a burguesia tomarense que já houve (?), os resultados do PC, da CDU e do BE, para já não falar de Angola, Moçambique, Cabo Verde...
Regra geral, a história nunca perdoa aos ignorantes. Basta ter paciência e dar tempo ao tempo...

QUALIDADE/PREÇO -UMA RELAÇÃO DEGRADADA

Foto 1
Foto 2
Foto 3
Quem realmente tenta analisar, de forma detalhada e tanto quanto possível isenta, a realidade local, já há muito terá chegado à mesma conclusão que nós. O nosso principal problema é a notória falta de qualidade, em todos os sectores e níveis. Mais precisamente, uma relação degradada no binómio qualidade/preço, que idealmente deve ser tanto quanto possível equilibrado.As coisas chegaram a tal ponto que até nas recentes eleições presidenciais muitos eleitores inscritos se recusaram a ir à urnas, por considerarem que não havia nenhum candidato cuja qualidade justificasse a deslocação. 
Outro tanto sucede em Tomar, onde não só os cidadãos se queixam da qualidade da actual e transitória maioria autárquica, como até os signatários da estranha coligação que nos devia governar acham agora que ela não tem qualidade tal como tem funcionado. Isto para não referir o que pensam os dirigentes laranjas do actual presidente do executivo.
No domínio da economia então nem é bom falar, pois os mal entendido é grave, permanente e à primeira vista insolúvel. Na área do turismo, por exemplo, é moda gargarejar-se com "turismo de qualidade" ou "turismo cultural" = visitantes com elevado poder de compra. Nem parece passar pela cabeça de tais arautos que qualidade não deve ser sinónimo de carestia ou de alto nível, mas sim uma honesta e equilibrada relação entre o preço apresentado e a qualidade oferecida. Há excelentes ou péssimas refeições a 5, 10, 20, 50, 100 ou mais euros, consoante a qualidade objectiva do que se comeu em cada nível de preços.
Na área política passa-se exactamente o mesmo. Neste momento em Tomar, muitos eleitores sentem-se defraudados, enganados, nas suas expectativas em relação ao desempenho daqueles que elegeram. Acham que prometeram muito e agora não cumprem nada. O melhor será apresentar dois exemplos concretos, que são afinal consequência de autarcas que presumiram e presumem demasiado em relação às suas reais capacidades de gestão política da urbe.
Graças à recente reformulação da facturação dos SMAS (que com alegria se saúda, pois só peca por tardia), é agora muito mais fácil compreender cada documento mensal. Temos por exemplo a família A, duas pessoas a morar no núcleo histórico. Gastam mensalmente uma média de 15 metros cúbicos. Pagam de água 17 euros, de saneamento 11 e de resíduos sólidos 4, num total de 34 euros, incluindo o IVA.
O primeiro reparo é que apesar dos 15 euros = 3 contos mensais, cobrados pelos SMAS pelo saneamento e pelos resíduos sólidos, os abundantes "pastéis de cão" nunca foram nem são removidos. Ao contrário do que acontece por essa Europa fora, por estas bandas nabantinas continuam a contar com os rodados dos carros e com as solas dos sapatos dos cidadãos-peões para tal saneamento. É pena.
A tal família acima referida, habituada a fazer contas, calculou que só para os ditos resíduos sólidos, vulgo recolha do lixo doméstico, paga por ano 48 euros = 9.600 escudos. Além dos 132 euros = 26.400 escudos para saneamento, que por essa Europa fora já inclui os resídos sólidos. Mas adiante, que estamos na ponta do continente e as periferias têm sempre os seus custos.
Um dia destes, a dita família mandou podar duas fruteiras de médio porte, que tem no quintal: um limoeiro e um diospireiro. Naturalmente, os ramos cortados, dois feixes, foram colocados na rua, frente à fachada da habitação em causa, após o que telefonaram aos serviços competentes da autarquia, no sentido de virem recolher os referidos resíduos sólidos, tal como têm feito todos os anos. Vieram, mas destas vez o resultado foi o documentado na foto um. 
Para que não nos acusem outra vez de má vontade contra os funcionários da autarquia,m que estão (ou deviam estar) ao serviço dos cidadãos, limitamo-nos a uma interrogação: Acham que prestaram um serviço de qualidade?
As fotos 2 e 3 mostram outro caso de falta de qualidade, mas de enorme criatividade mal orientada. Realmente não está ao alcance de qualquer cérebro conceber que uma instalação sanitária horizontal fica muito mais barata a um empreiteiro. Não gasta água, nem luz, nem mão de obra para a limpeza ou instalação, nem papel, nem despesas de saneamento. E quando aparecer a respectiva fiscalização -se aparecer e não tiver falta de óculos, ao contrário do que já vai sendo habitual- basta dizer que se estava mesmo para mudar o sanitário para um pouco mais adiante, devido ao avanço do estaleiro. Não são assaz inovadoras as empresas portuguesas? Depende dos sectores, das empresas e dos objectivos! E quem se lixa são sempre os mesmos -os da mó de baixo!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA




Esta semana, primazia mais uma vez para O MIRANTE, que publica muito material sobre Tomar. Desde logo a manchete, uma autêntica medalha...de mau comportamento. Temos depois, na página 5, a actuação da Protecção Civil contra as cheias, com uma grande fotografia a cores. Na página seguinte, o furo jornalistico da semana: a nova roda do Mouchão está a ser feita nos pavilhões da FAI, devendo estar a funcionar em Maio, para o Congresso da Sopa. Há duas semanas um autarca tinha garantido a Tomar a dianteira que a citada roda estava a ser construída...na Venda Nova. É caso para dizer que parece haver sérias dificuldades de comunicação, na Câmara. Além de outras já conhecidas. 
Há também duas magníficas piadas sobre os nossos autarcas, uma na Mirante Cor de Rosa, outra no Cavaleiro Andante, que reproduzimos, com a devida vénia e os nossos agradecimentos. Na do Cavaleiro Andante, com a mesma foto da página 5, escreve-se que "...Luís Ferreira merecia também que lhe oferecessem um pelouro da Informação e Propaganda. Esse sim, assentava-lhe que nem uma luva."
Na outra, a do Mirante Cor de Rosa, anuncia-se que a nova roda do Mouchão, com cadeirinhas, será inaugurada a 13 de Maio, com uma viagem de Corvêlo de Sousa. Hábil maneira de o mandar ir dar uma volta... à roda nova, em vez de "ao bilhar grande".
Quem sabe, nunca esquece.

O TEMPLÁRIO, fiel à sua linha editorial, faz manchete com um julgamento e com a Festa dos Tabuleiros, que já esgotou a hotelaria local para a ocasião...sobretudo a mais cara. Crise? Onde?
Na página 4, noticia-se o post de Hugo Cristóvão sobre a autarquia, já amplamente comentado neste blogue. Os vinhos da Quinta do Cavalinho ocupam as páginas 8 e 9, enquanto na 10 são apresentados os resultados eleitorais concelhios.
O Marceneiro Augusto Duarte tem direito à página 16, vindo a usual Carta do Canadá na 18. Seguem-se duas páginas com os 100 anos do Café Paraíso, graças ao qual, os tomarenses que pretendem ir para o Paraíso, só têm de subir a Corredoura e entrar.
Destaque igualmente para a crónica de Sérgio Martins, na página 28, percutante com é seu hábito.


O assinatura do protocolo de fundação do "Centro de Estudos Superiores da Música e das Artes do Espectáculo" faz a manchete de CIDADE DE TOMAR, vindo a respectiva notícia na última página. Após leitura atenta, fica-se com a impressão de que a nova instituição vai ter certamente um futuro muito atribulado, nomeadamente na área do financiamento. Os quatro organismos fundadores -Câmara de Tomar, Instituto Politécnico, Turismo de Lisboa e Vale do Tejo e Sociedade Banda Gualdim Pais- dependem, directa ou indirectamente, do erário público, que como se sabe está exausto... E sem fundos públicos...
Nas páginas interiores, destaque para o "incidente Hugo Cristóvão", na página 7, onde também se pode ler a crónica de António Freitas, sobre as sequelas do tornado e a acção caritativa do padre Mário.

O DEBATE DESCAMBOU

Como já referimos, num curto e corajoso comentário, o responsável do PS/Tomar e deputado municipal, Hugo Cristóvão, foi contundente e, quanto a nós, certeiro. Ousou dizer por escrito aquilo que somos muitos a pensar: Não temos uma câmara, mas uma cambada de 5 mais dois assistentes. Numa terra habituada ao marasmo e à paz podre dos pântanos, tais declarações proferidas por um responsável político e eleito municipal, soaram como um autêntico sacrilégio. 
Percebe-se, porquanto cambada = bando de pessoas desprezíveis, de má nota; súcia, canalha, malta, rancho, pândega, patuscada. Percebe-se ainda melhor num meio social onde se ouve de tempos a tempos que "quem não se sente, não é filho de boa gente", ficando sempre por especificar o que é, nos dias que correm, "boa gente". O mesmo que "gente de bem"? "Meninos bem"? "Homens bons"? "Senhoras respeitáveis"? "gente de boas famílias"? Porquê boas? Como se constata, o assunto não é nada fácil.
Para complicar ainda mais, a natural e louvável liberdade de palavra da juventude de Hugo Cristóvão não teve em conta o conhecido paradoxo do escritor/orador. Dado que, por um lado, os factos são sagrados; mas que, por outro lado, a sua interpretação é livre; uma vez conhecida a mensagem, o seu emissor é sempre responsável por aquilo que dela resultar em termos de interpretação, não podendo contudo controlar esta. O discurso deixa, portanto, de pertencer ao seu autor" que não obstante continua como causador. É o caso do vocábulo "cambada" e, mormente, do texto onde está inserido. Alérgicos à crítica, sobretudo quando certeira, os senhores autarcas nabantinos costumam retorquir com termos tão elegantes como "apóstolos da desgraça", "má-língua", "pessimistas encartados", "iluminados", "doidos", "palhaços" e outros que tais. Só que agora não podem usar nenhum de tais epítetos, uma vez que o horrível prevaricador é um autarca eleito. Um dos deles!  Coisa rara e nunca vista!
Pressionado no sentido de dar o dito por não dito, ou pelo menos de atenuar a alegada ofensa grave, Cristóvão foi corajoso. Confirmou e acentuou o que pretendera dizer na primeira mensagem: "Lamento que faça assim tanta confusão... ...mas doa a quem doer, a realidade enfrenta-se de caras. E este é mesmo o retrato da Câmara que temos. E mais que isso, sabemos que temos. Dito de outra forma, só tendo a noção da realidade se pode agir sobre ela. Ninguém pode viver permanentemente na ilusão, e quando o faz por tempo demasiado, acordar tende a ser um processo mais duro e mais abrupto." (H. Cristóvão, alguresaqui.blogspot.com 26/01/11).
Perante isto, resta-nos clamar: Força Cristóvão! O debate descambou, mas ainda bem! Acabe-se com a cambada, que o mesmo é dizer com a coligação! Quanto antes! Ontem já era tarde!  

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

CONTRA A FESTA, EU?!

Foto Carlos Garcia

Para o bem e para o mal, pertenço ao pequeno grupo de tomarenses que ficam com as lágrimas nos olhos, de emocionada alegria,  ao verem os tabuleiros a sair da velha Cerca do Convento. O que não implica, bem entendido, que tenha de concordar com tudo e com todos, logo que se trate da nossa Festa Grande. Há mais de trinta anos que mantenho tal posição, que apesar disso ainda não terá sido entendida por todos os meus conterrâneos. Ainda hoje me constou, uma vez mais, haver quem considere que sou contra a realização da Festa dos Tabuleiros. Sou, portanto constrangido a explicar de novo o que penso sobre tal evento.
É sobejamente conhecido o tradicionalismo tomarense. Bom mesmo é o que já foi e está. Nunca o que virá.  Avessos à mudança, os nabantinos procuram por todos os meios evitar que ela aconteça, baseados num equívoco -o de que, não havendo mudanças atempadas e substantivas, tudo poderá continuar na mesma. Como se ainda estivéssemos na época das carroças, da grafonola, da máquina a vapor, do daguerreótipo ou do ferrador-dentista.
Com o evidente e cada vez mais rápido agravamento da crise tomarense, ampliada pela crise nacional, parece-me um aberrante contra-senso gastar-se uma pipa de massa numa festa lindíssima, mas cujos objectivos reais carecem de nova e urgente definição. A  agravar a situação, haverá como habitualmente um peditório de porta em porta. Muitos tomarenses, entre os quais me incluo, pagam assim duas vezes para a sua festa: nos seus impostos e por ocasião do peditório. Não será um exagero, quando há por aí conterrâneos com fome?
Se considerasse não haver outra solução, nem sequer me daria ao trabalho de escrever este texto. Acontece, todavia, que há um outro modelo estrutural para a festa, o qual, sem a adulterar, possibilitaria arrecadar uma boa receita, quando com o modelo actual quase só há despesas. É aqui e só aqui que reside a minha discordância sem acrimónia. Não concordo, sem contudo estar zangado ou irritado. Limito-me a pensar de modo diferente. Noutros termos, não me refiro nem critico o "operariado da festa" (cesteiros, latoeiros, floristas, armadores, padeiros, portadoras, ajudantes, aguadeiros, etc), nem os quadros intermédios (membros das comissões, presidentes de junta, mordomo). Apenas lamento que a "superestrutura pensante" tarde em cumprir a sua obrigação, actualizando a festa pela modificação do seu modelo organizativo. Tal é inevitável e quanto mais tardar, pior será para a cidade. Bem sei que é um atavismo no nosso país. Conforme referiu esta semana António Barreto, fazemos o que tem de ser feito sempre tarde, a más horas e de modo atabalhoado. Sempre.
Por não estarem em causa liberdades fundamentais, acedi não escrever ou falar mais sobre a Festa dos Tabuleiros até a realização da mesma. Cumprirei o que prometi. Mas logo a seguir vão ter me aturar. Procurando conseguir que, ao menos uma vez, os tomarenses liderem, em vez de andarem sempre a reboque dos acontecimentos. Ou nos adaptamos ou desapareceremos como comunidade.

TENTAR DURAR É DESPERDIÇAR UM TEMPO PREECIOSO


Traduzo apenas a parte que mais nos diz respeito no texto supra. Para que os leitores possam perceber a profundida do buraco onde nos meteram. Todos.
... ... ...
"Em 2010 o choque das dívidas públicas na Europa colocou em evidência a ligação fatal que une doravante os Estados e os bancos: a falência destes pode provocar a implosão financeira de um país, como mostraram as crises islandesa e irlandesa. Inversamente, a bancarrota de um Estado provocaria a falência dos estabelecimentos bancários e das seguradoras, cuja exposição aos riscos gregos, irlandeses, portugueses e espanhóis atinge 2.300 biliões de euros.
A Europa está em estado crítico. Portugal, em recessão, coloca dívida pública a 6,7% para financiar um défice que representa 86% do PIB, o que equivale a uma bancarrota inevitável. A Espanha vai usando contabilidade criativa para camuflar à volta de 250 mil milhões de euros de prejuízos nos balanços bancários ligados ao imobiliário. A incerteza política é cada vez mais grave na Bélgica, sem governo desde há sete meses, assim como em Itália. As tensões agravam-se em relação à liquidez dos bancos, obrigados a refinanciar-se até 750 mil milhões de euros em 2011, num ambiente de concorrência crescente com os governos, tentando atrair poupanças cada vez mais raras, devido ao envelhecimento da população e ao aumento do consumo nos países emergentes." ... ... ...

Nicolas Baverez, economista e historiador, Le Monde - Économie, 25/01/11, página 1

Enquanto isto, que vemos em Lisboa e em Tomar? Governantes e autarcas que trabalham, que procuram implementar planos susceptíveis de nos levarem a sair do buraco? Não! Apenas eleitos que procuram manter-se, durar, fazendo o menos possível, adiando sistematicamente. Ocupando o lugar do morto. 
Em relação a Lisboa e ao governo Sócrates, o texto acima não deixa quaisquer dúvidas: mais hoje ou mais amanhã, vamos ter o casal FMI/BCE a tomar conta desta horta à beira-mar. Vão ser tempos difíceis como nunca tivemos até agora, a dar razão ao velho adágio "Quanto mais o carneiro recua, maior vai ser a marradela".
Aqui nas margens do Nabão, agora até pelo menos um dos ocasionais ajudantes dos coveiros que nos têm estado a enterrar há mais de 12 anos se fartou, ao ponto de gritar em público -"Aquilo não é uma câmara; é uma cambada," sem dúvida alguma a frase do ano.
Em ambos os casos, tanto na capital como aqui na urbe, não é grave que os actores sejam independentes ou do partido A, B ou C. Mas é lamentável que com o seu feitio de lampreias alapadas nos vão roubando um tempo precioso, que tão necessário vai ser para a indispensável mudança de rumo. Resumindo: procurar manter-se é roubar-nos tempo. E como para os ingleses "time is money", trata-se de um comportamento desonesto. Conforme diz o povo, "ou coisam ou saem de cima". Assim é que não! Nos tempos que correm, já não basta dormir com a história; é preciso engravidá-la!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

NA IMPRENSA INTERNACIONAL DE REFERÊNCIA


O declínio do turismo leva a Espanha a interrogar-se sobre o seu modelo "sol e praia"

A Espanha é agora apenas o 4º destino turístico mundial, depois da França, dos Estados-Unidos e da China

A Espanha já é apenas o quarto destino turístico mundial. Ultrapassada pelos Estados Unidos em 2009, deixou-se atrasar também em relação à China o ano passado, de acordo com os dados da Organização Mundial de Turismo, que continua a colocar a França em primeiro lugar.
Em 2010, o país de Cervantes recebeu 53 milhões de turistas, o que representa um ligeiro aumento de 1,4% em relação a 2009, mas longe dos 59,2 milhões de 2007. Situação grave, pois o turismo é um dos pilares da economia espanhola, representando cerca de 10% do PIB.
Em termos de volume de despesas efectuadas pelos turistas, Espanha continua a situar-se logo após os Estados Unidos, com 49 mil milhões de euros gastos (mais 2,5% em relação a 2009), mas vai levar ainda algum tempo para recuperar de uma crise que lhe custou mais de 6 milhões de visitantes estrangeiros e mais de 180 mil empregos, de acordo com o estudo do Conselho Mundial do Turismo - WTTC.
 "Ainda que haja já indicadores positivos para 2011, a prudência é de rigor" disse-nos o ministro espanhol da indústria, do turismo e do comércio, Miguel Sebastian. Para alguns economistas, é evidente que para além dos problemas de conjuntura é o modelo "sol e praia" que terá de ser repensado. Não só porque se atingiu a saturação, mas também devido à concorrência de países mais baratos da orla mediterrânica, como a Turquia, ou os do Norte de África, mais próximos.
Só a região da Andaluzia perdeu 700 mil turistas em 2010. As outras regiões viram-se forçadas a reajustar fortemente os preços, reduzir o pessoal e orientar-se para a clientela russa, norte americana ou holandesa, para compensar as perdas de visitantes nacionais, alemães e britânicos.
Segundo a organização patronal do sector, a Exceltur, as receitas aumentaram ainda assim 1%, "o que não nos vai permitir criar empregos", declarou o seu presidente, Sebastian Escarrer, convencido de que o fraco crescimento de 2010 vai continuar em 2011.
"O turismo de massas mostra sinais de esgotamento", constata o economista Alfonso Novales. "O sector poderá contribuir para o cescimento do país, desde que haja coragem para implementar fórmulas de qualidade, de longa duração, nas zonas que ainda não estão saturadas."
Mais optimista, António Lopez de Ávila, director do "Executive Master in Tourism Management", da IE Business School de Madrid, concorda que "o sector turístico necessita de uma renovação, mas como qualquer outro ramo de negócio", uma vez que o objectivo principal consiste em atrair clientes de elevado poder de compra. "A empresa comum acabada de criar por Marriot e AC Hoteles, ou a instalação do grupo de luxo Mandarim Oriental em Barcelona, são exemplos de esforços em curso nesse sentido, afirma Lopez de Ávila, que acrescenta ser "o turismo o sector que menos sofreu com a crise e o primeiro a recuperar o crescimento."
Por ocasião do Salão Internacional do Turismo - FITUR, que teve lugar em Madrid de 19 a 23 deste mês, Espanha mostrou a sua vontade de vencer os novos desafios, tendo inaugurado nomeadamente um pavilhão inédito destinado ao turismo homossexual.
"Temos de tentar abrir os olhos do sector mais tradicional para segmentos particularmente rentáveis, que atraem milhões de turistas e muito dinheiro", frisou Lopez de Ávila.

Sandrine Morel, Le Monde, Madrid, 25/01/11, página 14
Negrito e azul da responsabilidade de Tomar a dianteira

COMEÇOU A TEMPESTADE NO PÂNTANO NABANTINO???


Ultrapassadas as presidenciais, com Cavaco vencedor em todas as freguesias do concelho, os leitores de Tomar a dianteira regressam aos seus hábitos sagrados. Uns vão insultando, provavelmente porque não saberão fazer outra coisa, ou ainda por terem aprendido com a mãe da outra, que tinha muita "tarimba", para não dizer quilómetros e quilómetros de tarimba: "Chama-lhe puta, minha filha! Chama-lhe puta! Antes que ela te chame a ti!"
Outros, mais cordatos mas ainda assim sarrafeiros, voltam a debitar os desejos fantasmáticos de sempre, entre os quais avulta a  ansiada "união de esquerda". Desta vez, ao que nos assevera um dos comentadores de hoje, uma coligação PS+IpT+CDU+BE+CDS (só!!!) conseguiria vencer as futuras autárquicas, recolhendo no mínimo 11.500 votos. Desde que não fosse encabeçada por uma série de cidadãos como Pedro Marques, Luís Ferreira, Hugo Cristóvão, Carlos Trincão, António Rebelo, o clã Serraventoso, etc., segundo o mesmo especialista em futurologia, baseado ninguém sabe bem em quê.
É caso para exarar apenas mais quatro frases: 1 - Ena tanto voto virtual! 2 - Com tantos políticos de altíssimo gabarito que por aí há, o melhor será realmente começar por excluir todos os nossos ódios de estimação. 3 - Pode ser que assim se consigam lugares livres para os novos pretendentes , os arautos da união de esquerda, pois claro! 4 - Pobre terra!
Entretanto, apesar destes devaneios, parece ter começado a tempestade final no pântano político nabantino. O texto supra, reproduzido do blogue Alguresaqui, de Hugo Cristóvão, presidente do PS-Tomar e co-signatário da coligação camarária, poderá ser tudo; meigo não é de certeza. Como irão responder os dirigentes do PSD e os independentes parceiros da coligação? Como irão responder os IpT? É que desta vez Hugo Cristóvão resolveu malhar forte e feio: "São cinco pessoas (mais duas a assistir), cada um a fazer a gestão corrente do seu quintal. Isto não é uma Câmara, é uma cambada."
O citado dirigente local do PS bem foi avisando, durante o recente programa "À mesa do café" que, caso nada mude, "2011 pode vir a ser o ano da ruptura da coligação". A julgar por este texto de hoje, que temos todo o gosto em reproduzir, até é bem capaz de acontecer "mais cedo do que tarde", para usar uma expressão do próprio Cristóvão.
Aguardemos as cenas dos próximos episódios, e os episódios das próximas cenas, que a telenovela continuará a ser a mesma: "A angústia dos sete falidos sentados à mesma mesa".

ENFRENTAR A REALIDADE

É recorrente. Após cada eleição, abundam os "especialistas de generalidades", a garantir que se tivesse sido assim ou assado é que era; mas que nas próximas não falha...se a esquerda for unida para o combate eleitoral. Até já houve aqui no blogue quem advogasse uma ampla união da esquerda nabantina para as autárquicas, mas numa lista que não poderia ser encabeçada nem por fulano, nem beltrano, nem por cicrano, nem por milhano... Cristo terá dito "Abençoados os simples de espírito, pois deles será o Reino dos Céus." O dos Céus certamente, já que foi dito. O da Nabância nem pensar, como mostram os resultados concretos, que devemos ter a coragem de olhar de frente, para depois passarmos a agir em consequência. Sem o que tarde ou nunca conseguiremos sair do buraco cada vez mais fundo onde vamos tentando viver.
Os elementos infra são oficiais. Foram recolhidos no portal do governo. 

Freguesias   2009              2011              2006           2011

A. Ribeira  46,26%          27,10%          41,82%       50,13%
Alviobeira  35,62%          16,80%          63,14%       61,30%
Asseiceira  36,47%          26,20%          41,74%       46,70%
Beselga     39,34%          28,10%          49,60%       48,80%
Carregue   21,30%          20,50%           53,49%       59,85%
Casais       25,92%          18,00%           61,93%       65,81%
Junceira     12,26%          12,80%           76,35%       71,93%
Madalena  46,55%          29,60%           44,01%       46,14%
Olalhas      24,32%          08,10%           84,01%       78,84%
Paialvo      37,84%          31,70%           40,32%       46,04%
Pedreira    33,58%          19,50%           57,18%       62,70%
Sabachei   49,40%          27,90%           49,40%       53,83%
Serra         19,98%          10,40%            81,89%       76,29%
S. Maria    30,54%          21,40%            53,85%       55,60%
S. João      25,95%          23,20%            53,95%       56,52%
S. Pedro    35,00%          21,50%            53,63%       56,80%

A primeira coluna, 2009, indica a percentagem global obtida nas autárquicas pela "união de sequerda" PS+CDU+BE. A segunda coluna, 2011, indica a percentagem global da mesma "união de esquerda" nas presidenciais (Manuel Alegre+Francisco Lopes). A terceira coluna, 2006, o resultado de Cavaco em 2006.
A quarta e última, o resultado de Cavaco em 2011.
Contra factos não há argumentos que nos possam valer. Haverá certamente uma solução salvadora para o concelho. Não será, como se pode constatar, a recorrente "união de esquerda", tão desejada por alguns arautos. 
E será conveniente não esquecer que o candidato Coelho, que todos consideravam um palhaço, tipo Tiririca a saber ler e escrever, afinal obteve 4,5%, dos quais 39% na Madeira, sua terra, onde ficou logo atrás de Cavaco, e até ganhou nas três freguesia mais importantes da ilha. Conseguiu a nível nacional um total equivalente a 65% dos votos de Francisco Lopes, apesar de não ter contado com o apoio do imponente e eficaz aparelho eleitoral do PCP, onde em tempos militou. Ganhou inclusivé o prémio de "melhor vendedor nacional do Avante", que lhe valeu uma viagem à então União Soviética. O PCP sempre foi uma excelente escola de ciência política (Pina Moura, Zita Seabra, Vital Moreira, Mário Lino "Jamé", José Magalhães, etc.etc.) E esta hein?!              

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"O NÓ CEGO"

"O Presidente eleito não vai ter surpresas. Já sabe que país tem e o estado em que se encontra. O Governo e os partidos também não. Sabem o que têm e o que fizeram. E sobretudo o que adiaram. Surpresas, a breve prazo, talvez as tenham os cidadãos.
O nó cego na vida política portuguesa e o impasse na actividade económica e na situação financeira  exigem acção. Depois de cinco anos de adiamento e de agravamento, após quase dois anos de supensão e de azedume, já não é mais possível fazer de conta, protestar de modo impotente ou olhar para o lado. O que se segue a esta eleição de calendário não é previsível. Grande remodelação? Coligação tardia? Demissão do Governo? Dissolução do Parlamento? Iniciativa presidencial? Novas eleições? Novos pacotes de austeridade? Chegada do FMI e do Fundo Europeu? Nova intervenção política da Alemanha e da União Europeia? Tudo pode acontecer. Os dirigentes políticos nacionais já quase não são mestres da sua decisão. As grandes instituições nacionais parecem cercadas e incapazes... ...
A falta de previsibilidade é má conselheira. Pior: revela a miopia dos responsáveis políticos, reféns de interesses particulares e de instâncias internacionais. Tudo o que podia ter sido feito há anos... ...foi adiado de modo incompreensível, por causa da incompetência, da ignorância, da cobardia e da cupidez dos agentes políticos. Tudo terá de ser feito em piores condições e em mais terríveis circunstâncias. Há três ou quatro décadas que a história do nosso país é uma frustre sucessão de adiamentos. O fim da guerra, a democracia, a liquidação das "conquistas" de 1975, a abertura da economia, a revisão da Constituição, a reforma da Administração Pública e da justica: eis, por defeito, uma breve lista do que fizemos tarde e mal, quando podíamos ter feito cedo e bem.
No rescaldo das eleições presidenciais de 1996, detectavam-se facilmente os problemas políticos mais importantes, para os quais uma resolução era necessária e um esforço urgente: a justica e a corrupção. Nestes cinco anos, essas dificuldades agravaram-se. Justiça deficiente e corrupção alimentam-se reciprocamente e combinam à perfeição com um sistema de partidos e de governo que as tornou indispensáveis à sua manutenção. A Administração Pública submeteu-se ainda mais à voracidade partidária. Alguns interesses económicos, os que mais dependem do Estado e os que menos escrúpulos têm, souberam capturar as instituições públicas e a decisão governamental. Certos interesses profissionais e corporativos conseguiram também, por outras vias, fazer o Estado refém e organizar, a seu proveito, os grandes serviços públicos e sociais. Assim, o Estado perdeu a sua liberdade, a sua isenção e a sua capacidade técncica e científica. É o administrador dos interesses de algumas corporações e de alguns grupos económicos. Por esse serviço, o Estado cobra, para os partidos, uma gabela ou um tributo. A corrupção em Portugal, não é apenas o pagamento ilegal feito para obter vantagens públicas. É um sistema, frequentemente legal, de cruzamento de interesses e de favores, de benefícios e vantagens, ao qual ninguém, nos superiores órgãos de poder político, parece querer realmente colocar um travão. Fora dos órgãos de poder político, só a justiça poderia ser, em teoria, um freio e um antídodo a este sistema. Acontece que a justiça se transformou também em parte integrante deste sistema. ... ...
O Governo, refém interna e externamente, administra a democracia como quem preside ao saque do Estado: na economia satisfaz, para além das exigências do país, os interesses económicos; na sociedade distribui, mesmo sem os recursos necessários, a protecção social. Enquanto houve recursos económicos, rendimentos e crédito externo, o Governo e os seus partidos alimentaram a democracia com aquela distribuição, compatibilizando assim as mais absurdas, socialistas e sectárias políticas sociais de saúde, educação e segurança social, com as mais predadoras e vorazes iniciativas capitalistas. Este mundo improvável acabou. Os recursos financeiros esgotaram. O crescimento económico estagnou. O crédito evaporou-se. Pela primeira vez, em trinta anos, a democracia portuguesa está em perigo, porque perdeu os seus instrumentos favoritos. A nossa democracia ligou-se perigosamente aos favores concedidos e à demagogia providencial. Sem esquecer o facto de que a confiança nas instituições políticas, públicas  judiciárias, essencial à liberdade, estiola. ... ...
Criar riqueza e favorecer o investimento é essencial, mas tal não se fará sem um novo enquadramento geral. Decretos e truques de cartola nada resolvem, sem a confiança dos cidadãos e dos agentes económicos. Sem certeza e estabilidade, as intenções e as oportunidades são miragens... Impõe-se uma paz partidária, nem que seja apenas entre alguns partidos. E é necessária uma trégua social honesta e equilibrada. Sem abdicar da sua autonomia, patrões e sindicatos precisam de encontrar um ponto de entendimento sem intervenção dos partidos". ... ... ...

António Barreto, PÚBLICO, 24/01/11, página 10

INICIATIVA CONJUNTA RÁDIO HERTZ/TOMAR A DIANTEIRA - PROGRAMA SEMANAL "À MESA DO CAFÉ"


A terceira edição do programa "À mesa do café" teve duas novidades - foi a primeira vez que ouvimos um político em part-time, e também a primeira vez que tivemos um convidado da nova geração, a daqueles que ainda não eram nascidos aquando do 25 de Abril. Foi por isso com satisfação que se constatou ser a idiossincrasia de Hugo Cristóvão algo diferente da dos seus antecessores. Basicamente, menos respeito pelo passado que não conheceu directamente e ausência de angústia existencial em relação ao futuro. Igualmente uma ausência de afirmação machista, bem como uma evidente predisposição para o diálogo e para o debate franco, no respeito pelas ideias do contraditor, embora delas continuando a discordar. Como sempre deveria ser, em suma.
Sobre a situação política local -afinal o principal motivo do programa- Hugo Cristóvao foi claro, já no final da emissão. Afirmou que se não houver da parte dos ocasionais parceiros políticos mudanças comportamentais de fundo, "então 2011 será o ano da ruptura da coligação". Referia-se, bem entendido, às relações entre as partes coligadas e às políticas a seguir por ambas. 
Dado que, por um lado, nem a maioria relativa PSD, nem os seus parceiros PS, têm por agora qualquer projecto coerente para Tomar, conforme de resto Cristóvão admitiu em relação aos socialistas, o que só lhe fica bem; e, por outro lado, que os dirigentes locais dos laranjas não apoiam o actual elenco autárquico, não se vislumbra de onde possam vir a surgir as tais mudanças referidas pelo dirigente local dos socialistas. 
O que nos pareceu bastante significativo e grave foi o facto de Hugo Cristóvão, logo após ter admitido que o PS não dispõe de qualquer projecto global para Tomar, ter acrescentado com ar convicto "Nem acredito que alguém tenha..." Noutras circunstância, ter-lhe-ia respondido imediatamente, desmentindo-o e tentando fazer-lhe ver que tal afirmação mais não será, no fundo, que uma manifestação de descrença nos seus concidadãos e de desesperança em relação ao devir colectivo. Tratando-se, porém, de um programa que se pretende seja de conversa amena, optou-se pelo silêncio, apesar de termos realmente o dito plano, pronto para o debate de aperfeiçoamento, nos locais e  com as pessoas adequadas. Tanto mais que as futuras eleições são só em 2013, apesar de poder haver intercalares antes.
Quanto aos restantes temas, o convidado praticamente nada acresentou ao que já antes era do domínio público. Os ciganos devem ser realojados separadamente, de forma a respeitar os clãs existentes; são contra a obras "a martelo" só para sacar fundos europeus; têm muitas dúvidas em relação ao futuro Elefante Branco da Levada, não concordam com o actual orçamento, nem com a nova estrutura funcional de 3 departamentos e 15 divisões; pensam que o actual mercado deve ser mantido, embora se possa discutir a questão da sua arquitectura. Resumindo: é mais aquilo em que discordam do que aquilo em que estão de acordo. Aqui chegado, o leitor perguntará para os seus botões: Mas então porque é que continuam coligados, com o PS a abster-se em vez de votar contra, sempre que está em causa a sobrevivência da actual maioria? A resposta é simples, caro conterrâneo: A vida é cada vez mais dura e custa a ganhar a todos, pelo que quem está a ser bem remunerado fará sempre tudo para não mudar, enquanto tal for possível. Afinal somos todos humanos, uns mais do que outros.

domingo, 23 de janeiro de 2011

ANDANDO POR AÍ AO DOMINGO...

Enquanto a autarquia não manda proceder às obras do anunciado parque de estacionamento para autocarros de turismo, o que já  foi o viçoso jardim da Messe dos Oficiais oferece este aspecto desolador. Ao fundo o Convento de S. Francisco, cuja parte norte voltou à posse da irmandade do mesmo nome, que não tem dinheiro para a mandar reparar. Foi o governo que há pouco tempo providenciou um telhado novo. Contradições de uma república em teoria laica.

Na Rua da Graça, Cândido Madureira em termos oficiais, este estranho objecto aqui jaz há meses, esquecido que deve ter sido durante uma das fases das atribuladas obras da rotunda. Se calhar já estará a marcar lugar para a execução da inevitável e próxima requalificação da dita.

Outro mono, este ao fundo da Rua dos Arcos e bem mais antigo no seu posto. Está aqui muito sossegado desde as anteriores obras da rotunda, há uns bons anos. Com os alemães cada vez mais desejosos de regressar ao marco, é bem capaz de ser boa altura para lhes vender este.

Na Rotunda do Padrão, aqui temos mais um dos tais dispositivos "pró-cão", naturalmente sem saquinhos de plástico desde que houve mudança de vereador, em 2009. Quando o distribuidor estava devidamente abastecido, tínhamos uma curiosa realidade: Deste lado a autarquia até oferecia saquinhos para recolher os "pastéis de cão"; do lado oposto da avenida,  os ciganos nem instalações sanitárias têm. E isso sabe-se pelo cheiro nauseabundo, sobretudo no verão.Coisas tomarenses.

Aqui funcionou uma das petisqueiras do Mercado Municipal. Começou com pouca coisa, foi ampliando as instalações, até que veio a ASAE e mandou fechar, por falta de condições sanitárias,  muito antes de o Mercado ter tido a mesma sorte. Passam os anos e lá se vai mantendo como arrecadação municipal, apesar de ser propriedade privada.

O Noite e Sol, café e cervejaria, esteve encerrado durante anos. Reabriu há poucos meses, com ar triunfal, mas foi sol de pouca dura. Voltou a noite escura do encerramento, por falta de rentabilidade, que a crise não está para aventuras.

A misteriosa casinhota do Mouchão soma e segue. Nem o pai morre, nem a gente almoça. Neste caso, nem desaparece dali,  nem a câmara julga necessário explicar aos contribuintes para que vai servir. Mais um exemplo das úteis obras de António Paiva, graças aos fundos europeus.

Logo ao lado uma outra curiosidade local. Suprimidas as instalações sanitárias e a ponte artesanal de madeira, porque eram inestéticas, instalaram uma ponte modernaça, cujos acessos são maiores do que a própria ponte. De tal forma que houve necessidade de plantar uma sebe de canas da India, para camuflar a asneira. Está muito estético, não está?

Para terminar com algo de positivo, eis aqui uma porta pouco conhecida. É agora a entrada principal do turismo municipal. As cantarias renascença, da primeira metade do século XVI, foram trazidas do Edifício dos Cubos, antigo celeiro da Ordem de Cristo, nos nossos dias conhecido como "Casa dos Cubos". A porta em madeira data de 1935 e foi feita nas oficinas Sousa Braga.

UMA TERRA CADA VEZ MAIS ABANDALHADA


Os habitantes que realmente amam a sua terra notam; mas os visitantes ainda mais. Tomar, que já foi uma cidade airosa, limpa, cuidada, acolhedora, está a transformar-se em capital regional do desmazelo. As duas fotos supra ilustram aspectos de todos os dias -buracos nas calçadas que assim ficam durante meses e meses. Como se a autarquia não tivesse calceteiros privativos, exactamente para estas coisas.
Outro exemplo de evidente deixa andar. A sinalização turística existente é pouca e de evidente má qualidade.  Alguma da que existe apresenta este triste aspecto. Há mais de dois mandatos que esta indicação junto ao turismo municipal aguarda quem se ocupa de urgente substituição. Ou então tirem o painel. Como está é uma vergonha e denota falta de respeito pelos turistas. Que não são propriamente cães vadios. Mesmo os "caracóis".
Outro exemplo flagrante, este ao fundo da principal rua da urbe antiga, a tão falada Corredoura "um autêntico centro comercial". A dada altura, alguém se lembrou na autarquia que seria muito útil colocar pequenos servidores de sacos de plástico para recolher "pastéis de cão", nos locais mais movimentados da cidade. Foi a iniciativa municipal "Pró-cão". Entretanto o vereador responsável pela ideia (salvo erro Ivo Santos) deixou de fazer parte do executivo, e nunca mais houve sacos. Mas há pastéis de cão com fartura. E os distribuidores estão vazios e tal como o da fotografia acima...
Outro evidente sinal de desmazelo e, neste caso, até de insegurança. Topa-se logo que a máquina distribuidora foi vandalizada e assaltada. Segundo o proprietário do café ao lado, que a explorava, aconteceu há mais de três anos e apresentou queixa contra o autor "que eles até sabem quem foi". Aguarda desde então. E os serviços competentes da autarquia também ainda não tiveram tempo para lhe comunicar que a respectiva licença de ocupação da via pública (se é que a máquina alguma vez deu azo ao pagamento de tal coisa...), é para uma máquina distribuidora e não para os destroços da dita.
Finalmente, uma placa sinalizadora bem à imagem da entidade sinalizada. Tanto uma como outra estão em mau estado, são pouco agradáveis à vista e devemser substituídas quanto antes. Legalmente, claro!

sábado, 22 de janeiro de 2011

RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE GLÓRIA...

Nos anos 70 do século passado, Tomar vivia uma época áurea. Era dos principais centros militares do país. Tinha o RI15 (único que ainda resta), o Quartel General da Região Militar Centro, o Hospital Militar, a Farmácia Militar, a Banda Militar e a Fanfarra, a Messe de sargentos e a Messe de oficiais. Após as refeições e aos fins de semana, o Café Paraíso era a verdadeira sede do poder local, então tutelado por Lisboa.
A foto acima mostra um detalhe do antigo Quartel de S. Francisco, do RI 15, onde mais tarde, já depois do 25 de Abril, funcionou o Tribunal Militar, entretanto extinto.
Eis o que resta da outrora sumptuosa Messe de Oficiais, onde Lobo Antunes aboletou antes de partir para Angola e onde, segundo disse numa recente entrevista, concebeu uma filha.
Segundo informação recente de Corvêlo de Sousa, no terreno agora vago vai a Câmara instalar um parque de estacionamento para autocarros de turismo.
Do antigo Quartel General, instalado do Palácio Alvaiázere, onde agora funcionam os registos e o Tribunal de Trabalho,  resta a antiga casa da guarda, agora neste estado calamitoso, apesar de Património do Estado...
Mesmo ao lado, a antiga garagem para as viaturas ao serviço do senhor general comandante da Região Militar, entretanto transformada em armazém, oficialmente chamado "Arquivo das Finanças de Tomar"

Vão longe os tempos em que até houve verbas disponíveis para instalar uma rede subterrânea de comunicações militares, entre as novas instalações do Regimento de Infantaria 15, o quartel General e o Hospital Militar. Com o encerramento destas duas últimas unidades, ficou-nos a rede, com as caixas de visita ostentando o emblema das transmissões militares, que actualmente não serve rigorosamente para nada.
O que Tomar já foi, o que é, e no que se está a transformar...