terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O NOSSO PROBLEMA É O DESLEIXO...

As obras da rotunda trouxeram mais uma vez para a ribalta da actualidade local a nossa triste situação de facto -somos geograficamente europeus mas  indiossincraticamente norte-africanos. Aceito que não seja nada confortável, mas as coisas são o que são. Vejamos de forma detalhada.
O que choca nas caríssimas obras da nova Rotunda do muro-mijatório é afinal, se repararmos bem, comum a todas as empreitadas públicas, pelo menos aqui em Tomar, e que pode ser resumido numa expressão -um rosário de erros e carências. Em geral, o problema começa logo na ideia inicial ou fundadora. Mal alinhavada, pouco trabalhada, nunca confrontada com o debate de ideias, descamba quase sempre em soluções coxas ou empenadas. Neste caso rotundeiro ainda ninguém percebeu, por exemplo, qual a justificação para a demolição do anterior tanque central, uma vez que acabaram por fazer um praticamente igual no mesmo sítio.
Segue-se o projecto, logo na origem ferido de asa, porque passado ao papel tendo em conta as referidas soluções deficientes. Foi assim que ficámos com a inútil barraquinha do Mouchão, as retretes com recepção da Mata, ou a ribanceira sem acesso ao Mercado, no Flecheiro.
Uma vez que regra geral, salvo quando são da especialidade, os senhores autarcas não sabem ler desenhos técnicos, mas também não ousam informar-se com gente habilitada, para não exporem as suas carências, vem a seguir a aprovação de planos que os eleitos não sabem de forma detalhada a que correspondem, ou sequer se são exequíveis. Exemplos: o muro mijatório, o ex-estádio sem bancadas nem balneários, a ponte do Mouchão - Campo de treinos, o pobre caminho pedonal cidade - castelo pela Mata...ou o lamentável paredão do Flecheiro.
Já na fase da adjudicação, entram em jogo outros factores, que têm a ver com "palavrinhas", cunhas, financiamentos partidários, "lubrificações" diversas e acordos por baixo da mesa. Tudo isto, ou parte, torna depois extremamente complicada a execução da obra, pois além dos compromissos assumidos é igualmente imperativo conseguir lucros leoninos. Apesar de o preço oferecido ter sido a maior parte das vezes calculado às três pancadas. Com aliás o valor global da obra posta a concurso. Por vezes acontece até que o valor publicitado constitui uma ofensa ao bom senso. Há obras tomarenses, para ficarmos na zona, cujo preço final foi superior a outras semelhantes edificadas em grandes capitais europeias, com mão de obra muito mais cara.
Se disserem a um holandês ou a um alemão que aquela Rotunda custou aos cofres europeus e aos contribuintes portugueses 515 mil euros = 103 mil contos, perguntarão logo onde é que colocaram o revestimento em ouro.
Em virtude dos compromissos diversos anteriormente assumidos por ambas as partes, uma vez a empreitada concluída, o "dono da obra", representado pelo triângulo políticos-técnicos-fiscalização, não está nada motivado para exigir o estrito cumprimento do caderno de encargos, sobretudo na parte dos acabamentos. E isso nota-se em todas as obras públicas ou privadas.
E assim temos uma geral e evidente falta de qualidade, que nos torna a todos, aos olhos dos cidadãos (visitantes ou não) com mais mundo, mais parecidos com os norte-africanos do que com os europeus. E tal problema não se resume infelizmente às obras; é geral. Falta limpeza urbana, manutenção, conservação, bom gosto, brio profissional. Em vez disso, temos desleixo, desmazelo, deixa andar, tá bom assim, pró quié bacalhau basta, vai dar ó mesmo. É só andar por essa cidade fora, ou pelos arrabaldes das cidades médias portuguesas...
Temos até uma terrível sentença, para a qual nunca encontrámos equivalente por essa Europa fora: "O patrão paga mal, mas também se lixa que é mal servido!" Comentários para quê? A frase é eloquente e auto-suficiente. Não temos, na esmagadora maioria dos casos, trabalhadores qualificados, briosos e motivados, nem vontade de os vir a ter. Daria muito trabalho e custaria somas consideráveis. E no entanto é por aí que teremos de ir. Quando houver coragem. Quando a situação crítica a isso nos forçar. Como aconteceu nomeadamente na AutoEuropa.
Um exemplo flagrante, a concluir. Não nos foi contado. Aconteceu connosco. Num daqueles restaurantes a mais de 40 euros por cliente, com ementa portuguesa recheada de terminologia estrangeira, -sobretudo francesa- e empregados de mesa tipo "sapato engraxado, calça preta de vinco, camisa branca, nó "papillon" e casaco branco impecável". Consultado o cardápio, cada conviva faz a sua encomenda. Chegada a nossa vez,  pedimos um cado verde e um "tournedos aux champignons", de acordo com o anunciado na ementa. Interpelação pronta e enérgica do empregado de mesa, do alto dos seus quarenta e tantos anos -"VOCÊ sabe o que é um "turnedó" ? Gargalhada geral à mesa, e nós a tentarmos remediar -Realmente não, mas O SENHOR  vai-nos explicar, não vai? Então faça lá esse favor! Sorrisos contidos...e adiante que a fome aperta...
É por estas e por outras que os turistas estrangeiros (e até muitos portugueses...),  preferem os países do terceiro mundo. A qualidade é sensivelmente a mesma, mas os preços são bem mais convidativos.

10 comentários:

Anónimo disse...

Os turistas estrangeiros preferem os países do terceiro mundo porque lá não os tratam por você ?

Unknown disse...

Efectivamente, se usarem o inglês como língua veicular...
A diferença é, porém, outra: Tratam os turistas com deferência, com cortesia, com boa educação e boas maneiras. Com subserviência, como dizem os "especialistas de generalidades", bastante abundantes em Tomar.

Funiculin disse...

Por cá temos outro tipo de turistas: os que são forçados a irem turistar. São 15, os que dignamente trabalham na limpeza das ruas e que vão para o olho da rua sem nunca terem sido promovidos, sendo substituídos por outros 15 do fundo do desemprego.
Após a reformulação dos serviços camarários, os políticos ficam mais uma vez muito mal na fotografia.

Anónimo disse...

Excelentísssimo Professor:
Tem razão no que diz nos comentários Tá porreira a obra, pá!!!, Em Tomar analisar não é nada fácil nem pacífico… e O nosso problema é o desleixo…
Mas o Professor teve oportunidade de debater com o Senhor Presidente da Câmara Municipal na entrevista de sábado à Mesa do Café todas as situações que refere nestes três comentários. Que futuro para o Mercado Municipal? Quando terminam as obras no Estádio Municipal? Quem fiscaliza as obras que se fazem em Tomar? O Pavilhão Municipal junto ao Estádio justifica o investimento? Para que serve um estrado colocado junto ao Parque Infantil no jardim onde antigamente existiu um Parque de Merendas com bancos e mesas? Qual a utilização dos campos de ténis e quanto custa a sua manutenção? Muitas perguntas ficaram por fazer e muitas resposta por dar pelo Senhor Presidente da Câmara. Quanto ao resto, não se preocupe. Há um conhecido provérbio bom para o Professor utilizar. Deixe-os falar...
João Poças

Anónimo disse...

E para juntar ao rol de problemas/confusões/indemnizações, soube há pouco que a empreitada do núcleo museológico da Levada é mais uma a engrossar a lista.
Digam lá que o Miguel Relvas anda distraído... O homem já sabia era que está tudo embrulhado e obra nos lagares, por hora pelo menos, não haverá...
Mas mau mesmo é que isso não resulte de uma decisão pensada e tomada pelos responsáveis políticos mas antes por mais uma falah grave daquele que Relvas considera ter o perfil para presidente de câmara... e que perfil...
De facto, se com Corvelo o PSD não anda nem desanda, com Carrão e/ou Rosário será sempre a desandar. É que são mesmo maus... Venha então o António Lourenço dos Santos para se ver se é de laranja que se dá a volta a isto porque com a actual equipa a única coisa que pode acontecer é piorar e para pior já basta assim.

Anónimo disse...

A cobardia do que morde e foge sem poder levar troco é mesmo rasca.

Anónimo disse...

"Venha então o António Lourenço dos Santos para se ver se é de laranja que se dá a volta a isto porque com a actual equipa a única coisa que pode acontecer é piorar e para pior já basta assim."

Venha quem?

Anónimo disse...

UM EX-SECRETÁRIOD E ESTADO NÃO QUER VIR A SER PRESIDENTE DE CAMARA

VENHA É O AMÉRICO DA JUDITE e vão ver como se trabalha.

Viram o Concerto?

Anónimo disse...

O Américo quem?

Anónimo disse...

Infelizmente o nosso problema não se resume ao DESLEIXO.

É bem mais grave e profundo.

Só será superado com uma educação em CASA e na ESCOLA que substitua os valores dos actuais poderes, dominados por arrivistas e oportunistas de várias côres,sobretudo ROSAS e LARANJAS :


facilitismo »»»»»»»»»»» EXIGÊNCIA

vulgaridade »»»»»»»»»»» EXCELÊNCIA

moleza »»»»»»»»»»»»»»»» DUREZA

golpada »»»»»»»»»»»»»»» SERIEDADE

videirismo »»»»»»»»»»»» HONRA

ignorância »»»»»»»»»»» CONHECIMENTO

mandriice »»»»»»»»»»»»» TRABALHO

falsidade »»»»»»»»»»»»» LEALDADE

aldrabice »»»»»»»»»»»»» HONESTIDADE

cunha »»»»»»»»»»»»»»»»» COMPETÊNCIA

favorecimento »»»»»»» TRANSPARÊNCIA

compadrio »»»»»»»»»» IMPARCIALIDADE

arbítrio e impunidade »»»» JUSTIÇA


Enquanto formos dirigidos,dominados,sugados e governados pelas "qualidades" escritas em letra minúscula,estamos LIXADOS com F.

Só percorrendo o caminho das setas conseguiremos livrar-nos de todos os "FERREIRAS" e seus apaniguados que minam a sociedade e arruínam PORTUGAL e a DEMOCRACIA.

Quantas vezes ocultados,escondidos ou a coberto de respeitosas organizações.

É vê-los,quotidianamente,PRATICANDO exactamente O CONTRÁRIO do que APREGOAM.

Esta situação encaminhou o concelho e o país para o estado de PODRIDÃO E MISÉRIA moral e material em que se encontra.

A MEDÍOCRIDADE TOMOU O PODER !!!