segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

"O NÓ CEGO"

"O Presidente eleito não vai ter surpresas. Já sabe que país tem e o estado em que se encontra. O Governo e os partidos também não. Sabem o que têm e o que fizeram. E sobretudo o que adiaram. Surpresas, a breve prazo, talvez as tenham os cidadãos.
O nó cego na vida política portuguesa e o impasse na actividade económica e na situação financeira  exigem acção. Depois de cinco anos de adiamento e de agravamento, após quase dois anos de supensão e de azedume, já não é mais possível fazer de conta, protestar de modo impotente ou olhar para o lado. O que se segue a esta eleição de calendário não é previsível. Grande remodelação? Coligação tardia? Demissão do Governo? Dissolução do Parlamento? Iniciativa presidencial? Novas eleições? Novos pacotes de austeridade? Chegada do FMI e do Fundo Europeu? Nova intervenção política da Alemanha e da União Europeia? Tudo pode acontecer. Os dirigentes políticos nacionais já quase não são mestres da sua decisão. As grandes instituições nacionais parecem cercadas e incapazes... ...
A falta de previsibilidade é má conselheira. Pior: revela a miopia dos responsáveis políticos, reféns de interesses particulares e de instâncias internacionais. Tudo o que podia ter sido feito há anos... ...foi adiado de modo incompreensível, por causa da incompetência, da ignorância, da cobardia e da cupidez dos agentes políticos. Tudo terá de ser feito em piores condições e em mais terríveis circunstâncias. Há três ou quatro décadas que a história do nosso país é uma frustre sucessão de adiamentos. O fim da guerra, a democracia, a liquidação das "conquistas" de 1975, a abertura da economia, a revisão da Constituição, a reforma da Administração Pública e da justica: eis, por defeito, uma breve lista do que fizemos tarde e mal, quando podíamos ter feito cedo e bem.
No rescaldo das eleições presidenciais de 1996, detectavam-se facilmente os problemas políticos mais importantes, para os quais uma resolução era necessária e um esforço urgente: a justica e a corrupção. Nestes cinco anos, essas dificuldades agravaram-se. Justiça deficiente e corrupção alimentam-se reciprocamente e combinam à perfeição com um sistema de partidos e de governo que as tornou indispensáveis à sua manutenção. A Administração Pública submeteu-se ainda mais à voracidade partidária. Alguns interesses económicos, os que mais dependem do Estado e os que menos escrúpulos têm, souberam capturar as instituições públicas e a decisão governamental. Certos interesses profissionais e corporativos conseguiram também, por outras vias, fazer o Estado refém e organizar, a seu proveito, os grandes serviços públicos e sociais. Assim, o Estado perdeu a sua liberdade, a sua isenção e a sua capacidade técncica e científica. É o administrador dos interesses de algumas corporações e de alguns grupos económicos. Por esse serviço, o Estado cobra, para os partidos, uma gabela ou um tributo. A corrupção em Portugal, não é apenas o pagamento ilegal feito para obter vantagens públicas. É um sistema, frequentemente legal, de cruzamento de interesses e de favores, de benefícios e vantagens, ao qual ninguém, nos superiores órgãos de poder político, parece querer realmente colocar um travão. Fora dos órgãos de poder político, só a justiça poderia ser, em teoria, um freio e um antídodo a este sistema. Acontece que a justiça se transformou também em parte integrante deste sistema. ... ...
O Governo, refém interna e externamente, administra a democracia como quem preside ao saque do Estado: na economia satisfaz, para além das exigências do país, os interesses económicos; na sociedade distribui, mesmo sem os recursos necessários, a protecção social. Enquanto houve recursos económicos, rendimentos e crédito externo, o Governo e os seus partidos alimentaram a democracia com aquela distribuição, compatibilizando assim as mais absurdas, socialistas e sectárias políticas sociais de saúde, educação e segurança social, com as mais predadoras e vorazes iniciativas capitalistas. Este mundo improvável acabou. Os recursos financeiros esgotaram. O crescimento económico estagnou. O crédito evaporou-se. Pela primeira vez, em trinta anos, a democracia portuguesa está em perigo, porque perdeu os seus instrumentos favoritos. A nossa democracia ligou-se perigosamente aos favores concedidos e à demagogia providencial. Sem esquecer o facto de que a confiança nas instituições políticas, públicas  judiciárias, essencial à liberdade, estiola. ... ...
Criar riqueza e favorecer o investimento é essencial, mas tal não se fará sem um novo enquadramento geral. Decretos e truques de cartola nada resolvem, sem a confiança dos cidadãos e dos agentes económicos. Sem certeza e estabilidade, as intenções e as oportunidades são miragens... Impõe-se uma paz partidária, nem que seja apenas entre alguns partidos. E é necessária uma trégua social honesta e equilibrada. Sem abdicar da sua autonomia, patrões e sindicatos precisam de encontrar um ponto de entendimento sem intervenção dos partidos". ... ... ...

António Barreto, PÚBLICO, 24/01/11, página 10

4 comentários:

Anónimo disse...

Prendam esses incompetentes todos!
Vão roubar a avó deles!
CHULOS!

Anónimo disse...

Prendam-nos a todos! Justiça isabelina já!
Se são incompetentes vão trabalhar para outro lado, há muitos desempregados que gostariam de poder trabalhar bem em áreas que esses idiotas incompetentes trabalham mal.
Deviam colocar todos os politicos na cadeia porque não sabem servir o cidadão mas sim servirem-se vilmente do próximo. aliás são totalmente incompetentes porque não conhecem não honram não respeitam nem fazem cumprir a Constituição da República portuguesa.
CHULOS, VÃO ROUBAR A VOSSA AVÓ!
VÃO TRABALHAR CARAGO!

Anónimo disse...

O exercício do poder, nos dias que correm, é uma verdadeira orgia para a classe política. É vê-los, quais dingos australianos ou babecos africanos, a cumprimentarem-se efusivamente, acompanhando essas manifestações de espírito de grupo com esbracejar de braços e meneios de cabeça holliwoodescos, e falsas expressões de felicidade radiante à vista dos seus homónimos. Tudo isto sem se conhecerem e muito menos se compreenderem, como é o exemplo de Angela Merkel, um monolito produzido na antiga RDA, que para além da sua língua mater apenas consegue balbuciar umas quantas expressões em inglês macarrónico que não lhe permitem sequer manter uma conversação. Para culminar estas encenações teatralizadas referem-se uns aos outros, nos breves, previsíveis e hilariantes discursos à imprensa tratando-se pelo primeiro nome. Lembram-se quando o Tratado de Lisboa foi assinado em Portugal e a senhora chanceler alemã se referiu ao primeiro-ministro português como o “jôzê”? O exultante primeiro-ministro italiano acolhe nos seus braços, num cálido abraço latino o vaidoso Sarkozy acompanhado dum troante “Nicolas, caro mio!”, etc, etc.

A política deixou de ser coisa séria (e pelos vistos para ser levada a sério) para ser agora um espaço de confraternização duns quantos facínoras disfarçados de provedores do mundo que, a coberto dum conceito inventado por Platão, saqueiam e sugam as vidas de centenas de milhões de pessoas que formigam para sobreviver e lhes alimentam a voracidade pela riqueza, e ao mesmo tempo, num assomo da mais cínica autocracia, lhes moldam o viver, o sentir, e até o morrer.
Exemplos de abuso de poder acompanhado do respectivo saque (entenda-se roubo na sua expressão mais literal) dos dinheiros públicos abundam por todo o lado. O caso mais recente tornado público aconteceu na Tunísia onde a primeira-dama, esposa do democrata-ditador Ben Ali, mandou “retirar” dos cofres públicos cerca tonelada e meia de ouro que levou consigo para o exílio dourado a que foram promovidos os saqueadores do Estado tunisino, mercê da revolta popular que tem abalado o país. O toque de alarme soou noutros países da região onde os governantes manifestaram preocupação com o efeito de rastilho, sinal de que as consciências não andarão muito limpas também por aí. Noutras paragens, nos países ocidentais, em que o saque público se tornou mais refinado, as oligarquias instituídas pela classe política, refinadas na sua configuração ao longo de décadas, tornam quase impossível combater este estado de coisas, tal o emaranhado e jogos de influências e cumplicidades, sobretudo quando se consegue manietar as polícias e o poder judicial, anulando dessa forma qualquer policiamento. Atente-se no que se passa em Portugal, onde os crimes de colarinho branco têm quase sempre o mesmo desfecho: a prescrição e a respectiva absolvição dos implicados.

A democracia começa e acaba no acto eleitoral. Esgota-se “per si” nesse mesmo instante, porque os actores reclamam para si a sua posse e uso a bel-prazer, em vez de se constituirem como seus agentes e promoverem a sua aplicação para um justo equilíbrio da sociedade.
A democracia produziu também um enorme contingente de parasitas, arrebanhados dos fundos das pautas escolares, gente sem futuro, nem querer…nem saber, aglomerados desde tenras idades em quadrilhas legitimadas nos tempos modernos com o nome de partidos políticos, que se perfilam na busca do paraíso na Terra. Tomar produziu um que de cá partiu mas que de certa forma cá continua. Tido como um dos piores alunos do CNA na sua época, ele aí está pronto para fazer parte dos “sábios” que um dia destes governará esta espécie de ainda país cada vez menos independente, cada vez menos nosso, cada vez mais pasto dessa trupe de “robertos” que todos os dias vemos nos telejornais debitando retórica incongruente, alienada e distante do país real em que somos forçados a sobreviver.

Anónimo disse...

Para o Anónimo da 10:21,

APOIADO !!!!!!!!!!!!!

BRAVO!!!!!!!!!!!!!!!!