terça-feira, 18 de janeiro de 2011

UM ROL DE OPORTUNIDADES PERDIDAS

         Ana Rita Guerra, jornal I, 18/01711, pág. 21
Alguns anos após o 25 de Abril, escrevi no Cidade de Tomar que esta terra se parecia muito com uma herdeira rica, incapaz de se governar, ou de encontrar pretendentes à altura. Quase quarenta anos depois, é com imensa e profunda tristeza que constato nada se ter alterado nesse aspecto.Em cada eleição aparecem pretendentes com fartura, mas apenas para auferirem as benesses dos cargos, como tem estado e está à vista de todos.
Ao longo de todos estes anos em que estive afastado da política activa, aguardando esperançado que as coisas mudassem substancialmente, a carência de eleitos à altura do legado tomarense tem originado, além do mais, um longo rol de oportunidades perdidas. Não sendo a hora nem o local para enumerar essas oportunidades, que outros souberam aproveitar, destaco apenas duas: os fundos europeus e o ensino profissionalizante de nível superior.
Após terem sido gastos no concelho, sobretudo na cidade, dezenas de milhões de euros em projectos e obras, até agora que lucraram com isso os tomarenses? Têm mais empregos? Melhor qualidade de vida? Mais alojamentos sociais? Mais animação cultural? Mais instalações desportivas? Mais perspectivas concretas de futuro? Uma cidade mais limpa e mais cuidada? Mais hipóteses de negócio? Uma oferta laboral realmente mais qualificada?  O leitor fará o favor de responder. Certo, mesmo certo, é que temos às costas uma dívida global da autarquia da ordem dos 32 milhões de euros = 6,4 milhões de contos. Para que serviram? Como os vamos pagar, sem fundos europeus, que acabam em 2013? Quais os novos caminhos a trilhar? Para alcançar que objectivos?
Na área do ensino superior, perdeu-se uma ocasião soberana aquando do período das vacas gordas e da criação do curso de turismo cultural. Em vez de terem começado por plantar meia dúzia de árvores de grande porte no novo terreno conseguido, optaram como sempre pelos pequenos arbustos, sabedores de que as árvores de grande porte são muito bonitas, mas têm o inconveniente de fazer sombra à restante vegetação rasteira.
Em vez de uma formação profissionalizante de grande nível, capaz de concitar a confiança do mercado laboral numa área de futuro promissor, apenas conseguiram congeminar mais um curso quase só de papel e lápis, na errónea convicção de que ninguém daria por nada, bastando um título académico pomposo para prosternar os patrões do cada vez mais exigente mercado turístico. Dado que as mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos, aí temos agora as conseqências. Acabaram as vacas gordas, estão-se a acabar os fundos de Bruxelas, e continuamos sem profissionais motivados e à altura na área do turismo. Além de que a instituição local de ensino superior já conheceu dias bem melhores...
É o problema de sempre: Para um passador é indispensável que tenha buracos no fundo. Tratando-se de um tacho, é um grave problema, a exigir reparação urgente, sob pena de o recipiente em questão não servir para cozinhar. O tempo, esse juiz implacável!

3 comentários:

Anónimo disse...

Um à-parte: Porque razão o município não publicita no site as ordens de trabalho das reuniões do executivo? Porque razão não estão publicadas as actas 27, 29 e 31 de 2010? São todas segredo? Foram todas sobre o processo Parque T?

Anónimo disse...

Sr. Rebelo, considerando que o seu blogue tem também uma função didáctica onde necessariamente se inclui a defesa da correcta escrita da língua portuguesa, entendo que o administrador do blogue devia ter acesso à edição dos textos apresentados pelos intervenientes para corrigir erros crassos como os que surgem no comentário de 19 de Janeiro de 2011 00:57.

"à-parte"? Não será "àparte"?

"Porque razão"? Não será "por que razão"?

É que jã não basta a nossa língua ter sido esquartejada pelo acordo ortográfico segundo o qual todos os documentos oficiais e/ou quaisquer outros emanados de repartições públicas e escolas devem ser escritos, ainda temos de "alombar" com erros de terceira classe de gente que supostamente não os deveria dar.

Obrigado

Este texto foi escrito de acordo com a antiga ortografia.

Anónimo disse...

Tenho apenas a 4ª classe mas pelo menos consego verificar que, intencionalmente ou não, os senhores doutores não conseguem dar pela falta de 3 actas do executivo municipal.
Desvie lá as atenções para os erros ortográficos que nem sabe corrigir: aparte ou à parte mas nunca àparte.