sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

RESULTADO FINAL DA CONSULTA SOBRE AS SILHUETAS PARA A ROTUNDA


Após 14 dias de votos, terminou a nossa consulta, tendo em vista auscultar a opinião dos leitores sobre as caríssimas silhuetas mandadas executar para ornamentar o tanque central da rotunda, uma virada para cada ponto cardeal = Ponte Nova (Nascente), Levada (Norte), Rua da Graça/Av. Cândido Madureira/ (Poente), R. Torres Pinheiro (Sul) e que acabaram armazenadas nos pavilhões municipais da FAI.
Conseguiram-se 56 votos, assim distribuídos: Hipótese A -Devem ser colocadas definitivamente, 39 votos = 69%; Hipótese B -  Devem ser colocadas provisoriamente e aguardar a opinião maioritária dos tomarenses, 9 votos = 16%; Hipótese C - Devem ficar armazenadas para sempre, 7 votos = 12%; Hipótese D - Deve-se aguardar pela próxima câmara, para tomar uma decisão, 1 voto = 1%
Verifica-se portanto uma folgada maioria a favor da colocação a título definitivo, que é realmente a hipótese mais sensata, uma vez que já estão feitas e pagas. Um resultado curioso é o dos 7 votos favoráveis ao armazenamento definitivo, quiçá dos respeitáveis 7 membros do executivo, que aprovaram o projecto e as silhuetas, mas depois, por razões nunca cabalmente esclarecidas, se arrependeram, mudando de opinião como quem muda de camisa. Sem explicações a quem os elegeu. Exactamente o ocorrido com o muro-mijatório, também filho enjeitado dos mesmos comparsas, cuja paternidade agora ninguém quer assumir. Somos realmente uma terra e um país de gente muito frontal. Salvo erro!
Qualquer que venha a ser a decisão final da autarquia, cujos membros dirão -como é que costume- que o resultado da nossa consulta não tem qualquer significado, pois só houve 56 votos, dando assim a entender que a posição deles resulta de muito mais opiniões, embora nada tenham perguntado aos eleitores, a nossa opinião é que,  mais cedo ou mais tarde, o aspecto da rotunda terá de ser alterado, sobretudo por questões de poupança. Assim, os espaços relvados e com aquelas plantações de pincéis para a barba acabarão integralmnete calcetados e, por conseguinte, isentos de manutenção. A rotunda propriamente dita será integralmente coberta de terra, de maneira a ficar com a forma de um cone bastante achatado. No sítio do actual tanque será feita uma base sólida sobre a qual serão colocadas as quatro silhuetas, uma virada para cada rua, faltando determinar se à volta do pedestal ou ao meio, formando um pequeno quadrado. O cone da rotunda será igualmente calcetado, eventualmente com motivos a preto, tal como nos canteiros cuircundantes. E adeus manutenção dos numerosos projectores e dos repuxos. Poupança a poupança, enche o poupado a pança.

COM A VERDADE NOS VÃO ENGANANDO...




Numa daquelas publicações dúbias, assim algures entre a informação e a promoção paga a peso de euros, Tomar brilha mais uma vez. Na mais recente edição dos "Dossiês Especiais - Expresso - Só informação", dedicado ao Ribatejo, a relativa maioria encabeçada por Corvêlo de Sousa não esteve com meias medidas: Das 21 autarquias do distrito, só 6 julgaram útil figurar no referido fasciculo. Destas, só Tomar se portou à rica, como aliás é costume. Tem direito a três páginas a cores, enquanto que Abrantes, Alpiarça, Entroncamento e Sardoal se contentam com duas e Benavente com uma, tal como o governo civil. Quando se nada em dinheiro (dos outros), nas margens nabantinas é assim! Tudo à grande, que a ordem é rica e os frades são poucos!
Indo ao concreto, o que choca é que Corvêlo de Sousa, dizendo embora a verdade, como é seu timbre, está objectiamente a enganar os tomarenses. (E a tentar enganar-se a si próprio?) A começar logo pelo título da reportagem, bem paga pela autarquia, mais próprio do recém-falecido Josué -em tempos excelente vendedor de cobertores e outros artigos, de feira em feira. Isto porque, como é óbvio, a anunciada operação em curso entre a cidade e o convento não vai ligar coisa nenhuma. Apenas eventualmente melhorar alguns aspectos daquilo que já existe. E daí não resultará automaticamente nenhum benefício para a cidade, que de resto nada tem a ver com o Convento de Cristo, uma espécie de armazém de funcionários, mal geridos a partir de ordens vindas do IGESPAR, bem instalado no Palácio da Ajuda, em Lisboa. A 140 quilómetros, quando a câmara de Tomar fica a escassos cem metros a vôo de pássaro.
Outro tanto acontece com as apregoadas ligações via IC3 e IC9, com o futuro complexo elefante-branco da Levada e tutti quanti. Sem uma directriz definidora, sem um rumo, sem um corpus de ideias estruturadas, pertinentes, adequadas e em constante remodelação, não vamos conseguir sair da cepa torta. Que o mesmo é dizer do buraco onde nos vamos enterrando, a um ritmo cada vez mais assustador. Não sendo o momento nem o local para avançar nesta senda, o melhor será providenciar no sentido de tentar anular por antecipação as habituais considerações da confederação dos medíocres, para quem tudo o que saia um bocadinho da banalidade não passa de maledicência, inveja, pessimismo crónico, tonteria... Pois antes de irem por aí, façam o favor de ler com atenção (de cabeça fria e sem óculos partidários, se não é pedir demasiado) a fotocópia infra, que é como quem diz mais abaixo:

Este autor também é maledicente, invejoso, pessimista crónico ou tonto? Trata-se do ex-ministro da cultura e ex-embaixador de Portugal na UNESCO, o professor catedrático oriundo da SORBONNE - Paris, Manuel Maria Carrilho.


OUTRO CASO CONCRETO


Aproveitando a embalagem, aqui vai outro caso bem recente e concreto. Com o apoio dos IpT, mas sem o do PS, a relativa maioria fez aprovar a nova orgânica da autarquia, com um total de 15 divisões. O que implica, como é evidente, outros tantos chefes das ditas, com vencimentos entre 3 e 4 mil euros mensais, mais alcavalas. Globalmente, a reestruturação aprovada implica um aumento anual de despesa com pessoal na ordem dos 485 mil euros. Mesmo considerando que não é grande coisa, numa autarquia rica e opulenta como a de Tomar (ou pelo menos com autarcas que têm a mania disso...), os eleitos socialistas apresentaram uma proposta que reduzia as divisões para 10, conseguindo uma poupança anual de 250 mil euros, que foi rejeitada. 
O mais curioso desta situação reside no facto de a relativa maioria mais os IpT aprovarem implicitamente um previsivel aumento de despesa da ordem do meio milhão de euros, ao mesmo tempo que recusam (ou vão protelando) as justas promoções dos funcionários que a elas têm direito estatutário, numa despesa global anual da ordem dos 370 mil euros. Vivemos realmente numa terra cada vez mais estranha... Ou também será só maledicência, etc. etc. etc.?

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ANÁLISE DA IMPRENSA REGIONAL DESTA SEMANA

A principal novidade n'O MIRANTE desta semana é que não traz nada sobre sobre o vereador Luís Ferreira. Ao cabo de várias semanas, lá devem ter concluído que afinal estavam a promovê-lo, dado que por estes lados o pessoal tem bastante admiração pelos mártires. Basta pensar na nossa Santa Iria.
A destacar, a habitual crónica "Última página", desta vez sobre patifes. E o que o autor, JAE, sabe sobre os mesmos!
Na habitual secção humorística Cavaleiro Andante, demonstra-se que a Entidade de Turismo da nossa região (ver post Afinal não estamos assim tão mal...) enviou o mesmo press-release para todos os jornais da região: Mas como o seu presidente não está em odor de santidade pelas bandas d'O Mirante, toma lá que é para saberes!

Outra farpa bem esgalhada é esta galinha, que traz água no bico, na secção O Mirante Cor-de-rosa. Dada a complexidade da questão, fica a aguardar análise mais detalhada. À alemã: só se deve rir depois de ter considerado todos os contornos da anedota.

O TEMPLÁRIO faz manchete com a curiosa ocorrência de um cidadão-condutor que morreu num despiste contra o muro do cemitério da Asseiceira. Igualmente na primeira página, o falecimento de Josué Bernardino, conhecido empresário da noite tomarense, que morreu sufocado pela própria dentadura. Foi a enterrar no dia seguinte, "acompanhado pelas suas três últimas esposas e pelos cinco filhos." Que descanse em paz! Na página 8 a história de Manuel dos Santos, cheio de vida com os seus 105 anos. Nas páginas 24 e 25, comerciantes do centro histórico de Tomar lastimam-se que as vendas de Natal foram fracas, mas continuam a não aceitar que sem preços, qualidade, variedade e atendimento, não há nada a fazer. E o tempo bendito das larguezas, farturas e vacas gordas já passou e nunca mais voltará. Referência também para o desaparecimento de Alberto Ribeiro dos Santos, cuja nota necrológica, subscrita por Luís Pedrosa Graça está na página 4.


CIDADE DE TOMAR abre com quase quatro páginas de votos de diversas personalidades da vida local  para 2011. Seguem-se, na página 7, dados sobre a violência doméstica em Tomar, entre Janeiro e Novembro deste ano. As capas das 52 edições de 2010 ocupam as quatro páginas seguintes. Na página 15 o padre Mário Duarte propõe maior colaboração entre a câmara e a paróquia na área social. Na última página escreve-se sobre a próxima Festa dos Tabuleiros, em relação à qual parece começar a haver algumas dúvidas, dado a cada vez mais evidente colapso da economia local , enquanto o director do jornal, António Madureira, diz de sua justiça. Não sendo propriamente um revolucionário nem mesmo um contestatário ou crítico usual, as suas posições assumemn especial importância, porque provenientes de um moderado. E que diz ele? Que nem tudo está bem, que temos o problema do mercado, a incógnita do muro-mijatório, a falta de verdade e de sinceridade, a protecção da zona histórica e a liberdade de crítica. Se até os mais moderados já não conseguem ficar calados perante tantas mazelas de toda a ordem, isso significa que estamos mesmo mal e vamos para pior.
Altura para os nossos autarcas começarem a considerar que quando se está enfiado num buraco, a primeira coisa a fazer para preparar a saída é deixar de cavar. No caso em apreço, perder a mania das obras faraónicas de utilidade duvidosa e rendimento nulo. Caso contrário, quanto mais fazem mais se enterram.

AFINAL NEM ESTAMOS ASSIM TÃO MAL COMO PARECE...




Com a devida vénia e os nossos agradecimentos ao amigo Joaquim Ribeiro, (que contra ventos e marés teima em imprimir publicações em Tomar, assegurando vários postos de trabalho), aqui temos duas reportagens importantes para animar a malta. Causticados com impostos cada vez mais pesados, serviços cada vez mais "leves" e cortes nas remunerações sempre alegra saber que tivemos a honra da visita de "Miss Barcelona". Se fosse a "Miss Valgamito", teria decerto agradado mais ao presidente Jaime, mas temos de reconhecer que não seria a mesma coisa.
Outro sinal de esperança e de optimismo foi a festa de Natal dos funcionários da Entidade de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. Meteu visita guiada ao Convento de Cristo, animação com artistas vindos de Coimbra e do Porto, distribuição de prendas e ceia, servida pelo Hotel dos Templários. Assim é que é! O amigo Joaquim Rosa do Céu, deve ter-se sentido mesmo no dito. E o nabantino De Faria, nem se fala! E escusam os nossos estimados leitores de barafustar contra os eleitos. Nenhum dos convidados pertence a essa categoria. Foram todos escolhidos a dedo. No caso de Tomar, pelo actual secretário geral do PSD, e presidente da Assembleia Municipal, Dr. Miguel Relvas. Obrigado Dr. Relvas, por tamanho conforto!

Post scriptum
Já nos ia a escapar um detalhe bem importante: Graças à reportagem sobre "miss Barcelona" ficámos a saber que há um castelo templário em Constância. Há mais de meio século a viver aqui em Tomar e nunca tínhamos dado por semelhante coisa! Mea culpa! Mea culpa! Mea culpa!

ESTAMOS MESMO TRAMADOS?

O meu prezado amigo Luís Ferreira, vereador, não a terá certamente escrito com essa intenção. Há porém uma frase sua, num comentário certeiro ao post "Um livro a ler quanto antes", que me deixou assaz preocupado ante o futuro que, julgo eu, nos espera e está muito longe de ser risonho. A frase é esta: "Animem-se! Já só faltam 34 meses para terminar o meu mandato como vereador..."
Dado não haver qualquer razão imperiosa para que seja o PSD a acabar com a coligação, deduz-se da frase citada que vamos ter executivo até às autárquicas de 2013. A ser assim, estamos tramados e bem tramados, conquanto não se trate de algo de inevitável. Assim os tomarenses queiram. Mas isso é já outra música. Vamos aos detalhes.
1 - Da extrema-esquerda local, salvo tornado eleitoral, nada podemos esperar, para além da já usual e simpática "animação de pista". PCP e BE recusam-se a funcionar em conjunto. Os três mais conhecidos políticos locais do velho partido dos trabalhadores ou já faleceram (Fernando Nobre), ou estão doentes (Fernando Oliveira) ou retirados (Rosa Dias, após ter conseguido pavilhão e sede para o SCT), enquanto os bloquistas são uma agremiação simpática mas sem perspectivas. (Sei do que falo. Estive na fundação da secção francesa da 4ª internacional, com Krivine, Chisserey, Figué e Weber, a partir da célula "Sorbonne-Lettres" do PCF, em 1964, em Censier. Os antepassados de Besancenet e do NPA).
2 - PS e IpT estorvam-se mutuamente em termos de eleitores, afinal o que lhes interessa. De tal forma que, pelo menos enquanto se apresentarem sem programa vertebrado e pertinente, conforme tem ocorrido até agora, estarão a priori arredados da vitória e portanto confinados -na melhor das hipóteses- a um papel de apêndice incómodo, como está a acontecer agora com os socialistas.
Além de que -excepto se alterarem profundamente a composição das listas, escolhendo outros "cabeças"- vão apresentar-se como co-causadores da desgraça que assola o concelho. O que significa que o PSD, apesar de principal responsável pelo descalabro local, e por isso "queimado" até ao tutano, está condenado a ganhar, no mínimo com maioria relativa.
3 - Ao PSD, que integra gente com muita e boa experiência política, bastará portanto ir aguentando o barco, (como de resto tem vindo e está a fazer), elaborar as listas como habitualmente, com um ou outro reforço inesperado, para "refrescar"; e aguardar que "a fruta" lhe volte a cair no regaço. Embora depois voltem a não saber o que fazer com o poder, além de receberem as respectivas remunerações e gozarem das habituais mordomias. Afinal, os "laranjas" até são aquele partido cujo programa...
4 - Resta a direita civilizada nabantina como única hipótese de resposta consequente e com possibilidades de vitória, naturalmente agrupada sob a sigla CDS. Acontece, todavia, que seria necessário reunir uma série de condições prévias: programa, meios, tempo, ideias, pessoas, etc. Tudo coisas muito problemáticas por estas bandas, onde quanto mais o Mundo muda, mais estamos na mesma. De tal forma que Tomar deverá ser das poucas cidades, senão mesmo a única, onde a história se está sempre a repetir. De tempos a tempos baralham e voltam a dar, mas o jogo e o baralho não mudam. Com os funestos resultados que se conhecem.
Convenhamos que nada disto nos augura um futuro muito brilhante. Mas é capaz de ser só uma tosca análise demasiado pessimista. Oxalá!

Tomar a dianteira deseja a todos os seus leitores um 2011 o menos mau possível. E com menos quezílias entre portugueses, que essa de tentar impugnar os cortes nas remunerações não lembraria ao diabo. E mostra bem quão solidários e patriotas somos, enquanto não começarem a meter a mão nos nossos bolsos!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

"OPORTUNIDADE HISTÓRICA"

Do Diário de Notícias, com a devida vénia e os nossos agradecimentos:

"Os homens crescem mais nas tormentas que na bonança. Por isso vivemos hoje uma ímpar oportunidade histórica: podemos finalmente dar o salto que falta para nos confirmar no ritmo do futuro.
Depois de ser líder cultural no Renascimento, lançando e conduzindo a gesta da globalização marítima, o pequeno Portugal deu-se mal na época civilizacional seguinte. Não foi por os ideiais iluministas terem chegado tarde ou demorado a estabelecer-se. A penetração começou em meados de setecentos com o Marquês de Pombal e, após dura guerra civil, estavam definitiva e triunfantemente implantados a partir de 1834. A maioria dos países europeus sofreu um reaccionarismo mais longo, demorando a adquirir estavelmente um regime aberto.
Ao contrário do que se diz, o problema nunca esteve no atraso da modernização. Aliás, o país antecipou várias ideias que a Europa viria a aplicar, como a abolição da pena de morte ou a criação do banco central. O mal sempre foi a qualidade dos nossos modernistas. A podridão do Liberalismo e a canalhice da República mostram bem o fiasco da variante lusitana  de progresso. O mais irónico é que os nossos intelectuais costumam desprezar o povo e a cultura nacional, quando o único grande defeito do   País está na mediocridade das elites.
A inversão deste fiasco  deu-se porque comparativamente os fascistas portugueses foram melhores que as alternativas. Ao contrário dos outros regimes autoritários europeus (e das tentativas democráticas nacionais), o resultado do salazarismo foi um país seguro, estável e progressivo. Assim, a revolução  de 74 pôde trazer a grande oportunidade para Portugal, finalmente, conseguir um regime aberto, pacífico, dinâmico.
E correu muito bem! O nosso país ocupou enfim uma posição digna e respeitável junto das nações avançadas. Mas, após vinte anos de sucesso, surgiu há quinze a terrível tentação da facilidade. A Europa afinal não era um desafio, mas um hipermercado que fornecia fartura em doze suaves prestações mensais. A sociedade pensou que a prosperidade estava em promoção. Promessas, direitos adquiridos, justas reivindicações, garantias, exigências e obras públicas faziam o país acreditar que o bem-estar era rápido e barato. A dívida crescente foi o truque que suportou a ilusão.
Hoje somos um país europeu, livre e desenvolvido, que enfrenta o último desafio -dominar a tentação oportunista. Se aprendermos que o sucesso nunca está adquirido e exige sempre esforço, seriedade e criatividade, ultrapassaremos o obstáculo e chegaremos ao grupo de países na frente do progresso. Nas últimas décadas aprendemos muito e conquistámos posições. Falta apenas dominar a última falácia para chegar ao destino. Vencendo a ilusão, atingiremos enfim a condição de país próspero. Os próximos anos determinarão se conseguimos ou não.
O obstáculo  não são só os suspeitos do costume: corrupção dos políticos, defeitos da administração, da educação, da justiça e da cultura. O obstáculo está também nos que bramam contra os suspeitos do costume. O inimigo que temos de vencer são as raivas, os insultos, as lamúrias, os resmungos e as imprecações ociosas. É preciso deixarmo-nos de tretas, apertar o cinto e trabalhar mais e melhor. Cada um no seu sítio tem de procurar a solução para a migalha da crise que lhe compete, sem desculpas, zangas ou teorias. Simplesmente subir ao nível europeu a pulso, carregando aos ombros a mochila dos disparates recentes. No cimo do penhasco está a modernidade. A distância já não é longa.
Temos a democracia e a economia. Precisamos apenas de realismo, serenidade, imaginação. Há que vencer as fraudes e boçalidades dos dirigentes, mas também os extremismos e os insultos dos que desconfiam dos dirigentes. Tal como a mentira da facilidade que levou à crise foi a mesma que apodreceu o império em meados do século XVI, também o inimigo actual é a mesma tolice intelectual que paralisou o liberalismo de oitocentos. A nossa geração tem à vista a realidade de um novo Portugal, moderado, inteligente, capaz. Esse pode vencer a crise.

João César das Neves, Diário de Notícias, 27/12/10
Os negritos são da responsabilidade de Tomar a dianteira e assinalam, como é costume, as passagens que melhor se aplicam à situação tomarense.

UM LIVRO A LER QUANTO ANTES


A INQUISIÇÃO - O reino do medo, Toby Green, tradução de Saúl Barata, Editorial Presença, Lisboa, 2010, 406 páginas, vastíssima bibliografia classificada por capítulos, duas breves referências a Tomar, 22 euros, na FNAC.
Para perceber como e porque é que caímos outra vez no esterco, do qual só vamos saír se conseguirmos antes mudar de idiossincrasia. Não vai ser nada fácil. Digo eu, que destas coisas pouco ou nada sei.

LE MONDE - EDITORIAL

PARTIDO COMUNISTA FRANCÊS - UM NONAGENÁRIO SEM FUTURO

Na noite de 29 para 30 de Dezembro de 1920, nascia o Partido Comunista Francês. Ao cabo de muitos e acalorados debates, o voto decisivo do Congresso de Tours foi sem apelo nem agravo: 3.208 delegados aprovaram a adesão à Internacional Comunista, criada por Lénine, em Moscovo, um ano antes; 1022 outros delegados preferiram, com Léon Blum, manter a "velha casa" socialista.
Embora mereça o respeito devido a qualquer nonagenário, manda a verdade dizer que o PCF já conheceu aniversários mais gloriosos. E não podia ser de outra maneira. Após ter dominado a esquerda francesa durante quase meio século, entre os anos 30 e 1970; após ter constituído um pólo maior da vida política nacional, o PCF definha inexoravelmente desde então. Como reconhecia abertamente L'Humanité (jornal do partido), anunciando os dois dias de comemorações discretas, organizadas a 11 e 12 de Dezembro: "o Partido Comunista Francês já desde há muito que deixou de pretender incarnar uma vanguarda  autoproclamada do movimento operário".
O oposto é que seria surpreendente. Primeiro partido de França logo após a guerra (28,6% de votos nas eleições de Novembro de 1946), continuou a merecer a confiança de um em cada cinco eleitores, nos anos 70, mas vem sofrendo desde então uma longa e constante derrocada eleitoral. Que bateu no fundo na eleição presidencial de 2007: Marie-George Buffet, então secretária-geral, apenas conseguiu 700 mil votos, 1,9% dos entrados nas urnas, muito abaixo do candidato trotskista, Olivier Besancenot.
Nestes últimos trinta anos, o PCF perdeu também três quartos dos seus aderentes (oficialmente 100 mil, dos quais 60 mil com a cotização em dia) e a maior parte dos seus deputados (apenas 17 eleitos em 2007).
Incapaz de assimilar as transformações profundas da sociedade francesa, o partido tem cada vez menos base social de apoio e até perdeu ligações essenciais, que durante muito tempo o tornaram forte. O "partido da classe operária" deixou de o ser: só 4% dos operários apoiaram a senhora Buffet em 2007. Até a central sindical CGT, antiga "correia de transmissão" sindical, se vem afastando desde há dez anos Quanto às cidades e aos "arrabaldes vermelhos" do comunismo municipal, restam apenas sobreviventes. O PCF dirige agora apenas 28 cidades de mais de 30 mil habitantes, contra 72 em 1980.
Enfim, privado de modelo de referência desde o desaparecimento da União Soviética, no início dos anos 90, o partido carece igualmente de estratégia. As evidentes hesitações à medida que se aproximam as presidenciais de 2012 são disso a prova. Ou se limita a ser uma força de apoio ao Partido Socialista, na esperança de assim poder salvar pelo menos os seus últimos bastiões. Ou aceita a OPA que Jean-Luc Mélenchon pretende lançar  sobre as suas últimas forças, o que corresponde a entregar o seu destino às mãos de um tribuno vindo do PS.
Em qualquer das hipóteses, não se vê muito bem de que modo o PCF poderá ser capaz de "aceitar o repto de um novo século de emancipação", como propunha recentemente o novo secretário-geral, Pierre Laurent. Alternativa sombria. Para não dizer impasse total."

Le Monde, Editorial, 1ª página, 28/12/10
Tradução de António Rebelo 

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A FORMA O FUNDO E OS RESULTADOS


Há duas grandes categorias de comentários que chegam aqui a Tomar a dianteira - os publicáveis e o lixo. Estes últimos, contrariando o que pretendem e propalam os seus autores, não são censurados porque há administradores neste blogue que são sádicos, ou afilhados de, ou com um passado duvidoso, ou, ou, ou. Nenhuma destas balelas, geralmente com mais de 30 anos, tal como as ideias de quem as garatuja, encaixa minimamente na realidade. Tais arrazoados apenas têm o destino que merecem: o lixo porque não passam de sujidade; a sanita, porque são isso mesmo que está a pensar. Aqui fica o esclarecimento, para todos o fins tidos por convenientes.
Estes dois que acima se reproduzem integram a categoria dos publicáveis, um porque usa uma linguagem aceitável, conquanto aqui e ali pouco convencional; o outro porque é formalmente correctíssimo, como aliás tem sido sempre timbre do seu autor. Foi decidido, a titulo excepcional, responder-lhes aqui, por três razões principais: A - Constituem excelentes exemplos daquilo que pretendemos demonstrar; B - Ambos os autores parecem sinceros e de boa fé; C - No blogue, o espaço não é limitado pela google, ao contrário do que ocorre nos comentários.
Esclareça-se à cabeça que nenhum dos autores é conhecido, pelo que não se trata de forma alguma de atacar pessoas. Apenas de debater ideias de forma serena, venham elas de onde vierem, e sejam quais forem, desde que nos limites das liberdades garantidas pela lei fundamental.
Abre-se a questão central com uma metáfora. Vamos supôr que se assiste a uma competição de tiro ao alvo, com armas, munições, alvos e distâncias iguais. A dada altura restam em prova, para o desempate final, apenas dois atiradores. Terminada a prova do primeiro, o segundo competidor, inesperadamente, vira a arma para ele e abate-o. A assistência fica estupefacta e horrorizada. Apupam, gritam, assobiam, vem a polícia e a ambulância....
O leitor acha uma coisa assim, um bocado estranha, forçada, algo irrealista, não é verdade? Pois tem toda a razão. Não lembraria a ninguém minimamente equilibrado tentar abater um adversário durante uma competição. De tiro, ou de qualquer outro desporto.
É no entanto o que tentam fazer -quiçá sem disso se aperceberem cabalmente- os dois comentadores acima citados. E não estão sós. De cada vez que aqui reproduzimos opiniões de qualquer personalidade, por muito técnicas que sejam, e reputado o seu autor ou autores, aparecem logo os comentários do tipo "e onde é que ele estava nessa altura? quantas reformas é que tem? o que é que fez na sua época? porque é que só agora é vem largar postas de pescada?" Ou então a pergunta sacramental, que os seus usuários julgam mortal : "O que é que esse gajo já fez por Tomar?" 
Por outras palavras, se de um lado chove, do outro cai água. Se fez é porque valia mais estar quieto. Se não conseguiu governar a sua vida é um palerma. Se conseguiu é um oportunista. Se nada fez, valia mais estar calado. Na verdade, o que tudo isto denota é uma confrangedora herança, que nos vem dos muçulmanos, da idade média e da Santa Inquisição  - a intolerância em todo o seu esplendor. Todos são culpados, até prova do contrário. 
O Santo Tribunal foi até hoje, infelizmente, a única instituição portuguesa totalmente eficaz. Sem saberem em concreto de que eram acusados, sem conhecerem os seus acusadores, submetidos à tortura, todos os desgraçados que lá caíram, ou confessaram e foram condenados por heresia; ou não confessaram, apesar da tortura, e foram condenados como relapsos. Já foi há muito tempo? Foi sim senhor. Mas deixou marcas profundas e fortemente nefastas. Que estão bem presentes nos nossos dias. Basta pensar e procurar um bocadinho...
Nos países árabes, mesmo aqui ao lado, ainda hoje se ouve dizer, com a maior das naturalidades, "bate na tua mulher todos os dias; mesmo que não saibas porquê, ela sabe!" Infame, não é verdade?
Pois é exactamente aquilo que fazem os nossos comentadores supracitados. Consideram todos os autores do que lêem  como culpados de tudo e mais alguma coisa. Vai daí, em vez de se limitarem a emitir opinião fundamentada sobre o que leram, fazem como o atirador da metáfora -Atiram-se ao respectivo autor como gatos a bofe. Por vezes até com pouco ou nenhum nexo da causalidade, e sem possibilidade de correcção. Por exemplo, neste caso de João Salgueiro, atacaram logo porque foi candidato na Figueira da Foz, porque foi presidente da Associação Portuguesa de Bancos, porque tem não se sabe quantas reformas, porque algumas devem ser douradas, etc etc. Como se tais factos constituissem outros tantos crimes! Triste sina Severina! Caso para dizer, como o poeta, mas com sentido oposto, "Não se nasce impunemente em Portugal!"
Já anteriormente ocorreu exactamente o mesmo, tanto com os autores reproduzidos -os mais recentes dos quais foram João César das Neves e Moita Flores- como com quem escreve estas singelas linhas. Quando é que passaremos a adoptar figurinos da sociedade ocidental? A debater com calma textos e ideias, em vez de atirar logo a matar sobre os autores, sejam eles quem forem?  Acham que é assim que vamos saír da merda em que estamos atascados? Ou desejam o regresso da Idade Média e da Santa Inquisição?

DAS PÁGINAS DA IMPRENSA DIÁRIA

Com conterrâneos a dormir ao relento e/ou com fome, enquanto outros celebram Natal no refeitório do Convento, com distribuição de prendas, tudo pago pelos contribuintes, faz bem saber que, apesar dos cada vez mais pesados impostos, ainda há cidadãos tão felizes que até têm dinheiro para comprar calçado para o cão. Abençoado país!

Por falar em país abençoado, em jantares à conta e em contribuintes cada vez mais esfolados vivos, lendo esta citação do famoso Marques Pentes fica-se na dúvida: Temos de o emagrecer a quem ? Ao português que trabalha, para evitar que venha a tornar-se obeso? Ou ao Estado, dado a estado a que isto chegou?

É capaz de ter razão, o amigo Alberoni. E o problema não é só italiano. Ali para as bandas do Politécnico, é bem provável que se os senhores professores doutores (???) da ESG e da EST resolvessem "sujar as mãos" no concreto, na realidade profissional para a qual proclamam preparar os seus alunos, é bem provável, dizíamos, que o IPT tivesse muito menos problemas. E um futuro menos sombrio. De teóricos de cátedra e de café está o país cheio e farto!

ROUBAR TEMPO TAMBÉM PREJUDICA...


Nota prévia
João Salgueiro, economista, ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Ministro de Estado, das Finanças e do Plano, no VIII governo constitucional, continua a ser um observador arguto e atento da realidade portuguesa. Na sua mais recente entrevista, conduzida por Cristina Ferreira e difundida no PÚBLICO de ontem, foi ao cerne das questões, tanto em termos técnicos como políticos, numa linguagem acessível e sem papas na língua. Prosseguindo a nossa política de usar fontes estranhas a Tomar a dianteira para fundamentar as nossas decisões e tentar obstar a desculpas de maus pagadores, a seguir publicamos, com os nossos agradecimentos àquele diário e à jornalista, os excertos das referidas declarações que nos parecem mais importantes e úteis para a comunidade tomarense. As passagens que, no nosso modesto entendimento, podem ser aplicadas à realidade nabantina (naturalmente com as necessárias adaptações nalguns casos) vão a negrito. Por questões de espaço, omitimos as perguntas da jornalista.

"É uma época esperançosa, pois finalmente os portugueses perceberam que existe um grande problema. ... ...E perceberam que a falta de racionalidade na organização da economia vai ter custos. E portanto vai haver um maior empenho em encontrar um rumo. A primeira coisa que se precisa quando se quer mudar, é de ter vontade.
Esta questão está clara para uma grande parte da classe política. Mas quando a ideologia e o oportunismo são os condutores, pode haver um obstáculo.
... ... ...O primeiro-ministro continua com fantasias, a querer convencer-se a si próprio de que estamos a ter um bom desempenho. Mas estamos a ter um péssimo desempenho.
Os portugueses perceberam que estão num grande sarilho. E também importa que percebam como é que aqui chegaram. O desmazelo tem várias características. Uma delas é terem pouca ambição. Outra  é a tolerância para com os maus resultados. O governo compara-nos com os piores para dizer que estamos bem. Mas a comparação deve ser feita com os melhores.
Os portugueses deviam indignar-se. Quando nos dizem que a Irlanda, a Grécia e a Espanha também estão mal, achamos que isso é uma resposta. As pessoas ainda hoje pensam que estamos assim devido à crise internacional. Obviamente que não é por essa razão. Não tivemos os problemas na banca que a Irlanda teve, nem tivemos a despesa pública descontrolada dos gregos. Mas sabemos que temos o pior resultado da zona euro em termos de crescimento do produto (PIB). Já viu alguma reacção contra isto?
O primeiro protesto dos portugueses seria não aceitarem como boas a justificações que lhes são dadas. Este governo não foi reeleito depois de quatro anos de confusão? Os portugueses aceitaram durante muitos anos soluções de facilidade. E depois são desmazelados, porque aceitam que as instituições funcionem mal. Em Portugal as pessoas indignam-se se virem alguém ser maltratado, mas não se indignam se virem alguém a roubar. E elegeram vários autarcas que estavam sob investigação. ... ... ...
Temos bloqueios, disso não há dúvida. Gastamos mais do que produzimos, quer o Estado, quer os particulares. A consequência é o endividamento. Enquanto tínhamos direito ao crédito e tínhamos coisas para vender, fomos vendendo. Privatizou-se e o dinheiro foi gasto em despesa corrente.
Se queremos criar empregos e se achamos que temos de melhorar de vida, então temos de ter maior investimento em actividades directamente produtivas. Não há maneira de reduzir o desemprego, de melhorar o PIB,  as condições de vida e também, é claro, de reduzir a dívida, sem produzir mais. Mas quem é que vai produzir mais? O estado já não pode endividar-se mais. Têm que ser as empresas e elas têm que ter condições. ... ... ...
Temos excesso de despesa pública e falta de condições para as empresas privadas, portuguesas ou estrangeiras, trabalharem em Portugal. Já se percebeu que este problema não se resolve num só ano? Que vamos ter um problema grande durante vários anos? Precisamos de ter a mesma atitude que tiveram os franceses, os alemães e os ingleses a seguir à guerra, quando precisaram de reconstruir os países. Hoje estamos perante uma guerra que é a da sobrevivência. Será que os portugueses perceberam isso? Na Alemanha chegaram a destruir casas para recuperar os materiais, à mão. E conseguiram.
E a solução não passa pela redução do nosso nível de vida. Passa por produzirmos melhor.
... ... ...A Irlanda neste momento é um dos países mais desenvolvidos da Europa e há 20 anos estava ao nosso nível. Antes da fase da especulação financeira, criaram um sistema atractivo para o investimento produtivo, e nós não. Em termos sectoriais apenas criámos esse clima favorável no turismo, que é o único sector onde, em regra, os estrangeiros estão interessados em investir em Portugal.
... ... ...Temos de disciplinar a despesa pública. A existência de descontrolos por todo o lado só vai agravar o custo da nossa dívida. Quando começamos a abrir excepções em relação a empresas públicas, parcerias público-privadas (PPP), empresas estaduais, regiões autónomas e autarquias, estamos a enterrar-nos mais.
Há que reduzir a burocracia e não fizemos praticamente nada para acabar com ela. O Simplex permite fazer uma empresa rapidamente. Mas depois toda a burocracia das autorizações e das relações com os ministérios mantém-se. ... ... ... Há que limpar a administração pública de decisões arbitrárias."

Nota final
No que concerne ao nosso cantinho tomarense, está fora de causa pôr em dúvida a honestidade estrito senso da actual e estranha maioria autárquica. Há a certeza, entre os que os elegeram, de que são incapazes de "meter a mão no cofre" (em sentido próprio e figurado), para se apropriarem do que não lhes pertence. Valha-nos isso! Mas há roubo e roubo, honestidade e honestidade. Agarrar-se ao poder quando não se tem qualquer ideia de como melhorar as coisas, não é honesto e constitui objectivamente um roubo de tempo útil, uma vez que, quanto mais tempo se mantiverem, mais difícil será depois recuperar, pois a situação terá piorado e de que maneira. Estão portanto a prejudicar deliberadamente toda a população, incluindo os que os elegeram. Têm por isso legitimidade para continuar até ao limite de validade, em 2013. Mas deixaram de ter razão, e isso vai notar-se cada vez mais!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

AS ILUSÕES RUINOSAS DO IMPÉRIO DOS SENTADOS



É recorrente que membros do "Império dos Sentados à Mesa do Orçamento", bem como alguns dos seus apaniguados, qualifiquem tudo quanto aqui se escreve como "crítica doentia", "pura maledicência", "pessismismo crónico" "opiniões dos apóstolos da degraça" "aves agoirentas" e outros mimos do mais alto gabarito filosófico, que não podem deixar de honrar quem os profere. Procurando, na medida do possível, responder de forma fundamentada a tais desculpas balofas, tem-se procurado e continuará a procurar-se usar fontes alheias a Tomar a dianteira e à realidade nabantina, que logicamente estão acima de qualquer suspeita de parcialidade
Desta vez temos o grato prazer de reproduzir declarações do autarca Fernado Ruas, presidente da Câmara de Viseu e da Associação Nacional dee Municípios ao jornal i de hoje. Que diz ele, como autarca muito experiente? Duas coisas de peso: 1 - "Os bancos nem sequer respondem às candidaturas de crédito [das autarquias]"; 2 - ...se isto continuar, vamos ter de devolver dinheiro a Bruxelas, que nos faria muita falta." 
Vindas do primeiro entre os autarcas, estas duas curtas afirmações mostram claramente o drama que se aproxima para muitos executivos autárquicos, entre os quais o de Tomar. Sem outros projectos que não sejam obras e mais obras, mesmo sem grande utilidade ou qualquer retorno a curto, médio ou longo prazo, agora que vão ficar imobilizadas nessa área, o que vão fazer? Continuar a ludibriar os eleitores, fazendo-lhes crer que a autarquia tomarense continua a poder obter crédito, sem o qual adeus museu-elefante branco da Levada, adeus envolvente ao Convento de Cristo, adeus 3ª fase do Flecheiro? E quem acreditará nisso? Com uma dívida global à roda de 33 milhões de euros = 6,6 milhões de contos e receitas a caír de mês para mês, que banqueiros ou bancários arriscarão confiar no actual executivo minoritário? O PS apoiaria mais empréstimos?
Contestarão os eternos optimistas que o Município dispõe de um património avaliado em 110 milhões de euros = 22 milhões de contos, como garantia. Haja tino! Haja decência! Haja respeito pela realidade! Antes de mais, o Município tem, possui, mas não dispõe. Quem põe e dispõe são os eleitores tomarenses, através da Assembleia Municipal, o que poderia vir a revelar-se complicado. Além disso, avultam outros óbices: A - Quem avaliou o dito partimónio devem ter sido os mesmos que avaliam os projectos a financiar pelos fundos europeus, geralmente mais caros, em igualdade de circunstâncias, do que os Nápoles, como se sabe berço e centro da Honorabile Societá; B - Uma grande parte do referido património é inegociável na prática. Quem quereria comprar os Paços do Concelho, os pavilhões da FAI, a abegoaria, o Bairro 1º de Maio ou o ex-estádio, actual  e rudimentar campo de treinos, por exemplo? C - Nas actuais condições de mercado, que de acordo com os especialistas se vão prolongar durante pelo menos mais cinco anos, o património municipal não vale nem 10 milhões de euros = 2 milhões de contos, quanto mais agora os apregoados 110 milhões! Pelo que, segundo tudo indica, mais crédito bancário nem pensar!
De resto, o próprio Fernado Ruas, um dos grandes "tarimbeiros" da política autárquica, vai directo ao assunto -se isto assim continuar... temos de devolver dinheiro que nos faria muita falta: para bom entendedor = "Ó sr. presidente! Ó sr. primeiro-ministro! Dêem lá os toques necessários para amaciar os bancos, que sem isso estamos perdidos e vamos perder as eleições!"
Lá bem visto está, mas o respeitável autarca, deslumbrado pelo dinheiro fácil, não se terá ainda dado conta de que os bancos, inteiramente dependentes do BCE, se estão nas tintas para o que lhes possam recomendar os governantes. Mesmo (e sobretudo?) a Caixa Geral de Depósitos, a quem a Moodys baixou a notação a semana passada. Os mercados estão atentos e são implacáveis! E a crise não vai, de certeza, acabar por decreto.
Tolhidos pela crise, sem programas alternativos, nem meios disponíveis para assegurar de forma eficaz a indispensável manutenção dos equipamentos existentes, constrangidos a reduzir despesas em todos os sectores, os membros da maioria relativa e respectivos associados ousarão, ainda assim, obstinar-se até ao fim do seu prazo de validade, arrastando-nos ainda mais para a evidente ruína?
Digam o que disserem, façam o que fizerem, a melhor imagem para definir a actual maioria de circunstância é a da um veículo com cada vez menos combustível, com os quatro pneus furados e cujos condutores não sabem para onde vão, nem dispõem de qualquer mapa credível. Ou sequer de quem o saiba fazer. Pior ainda. Em vez de pararem para pensar e para remendar os furos, continuam a tentar encher os pneus furados e depois a rolar novamente, sem saber para onde... Rumo à  Nossa Senhora da Asneira? Ou será só para continuar a ter acesso às gavetas orçamentais?

LENITIVOS...

É um dos truísmos deste tempo: estamos infinitamente mais informados sobre as degraças do mundo. A comunicação social traz-nos quotidianamente a nossa casa, à cozinha, à sala de estar, ao quarto, ao coração, horror, miséria, tortura, abandono, pobreza, cólera colectiva, indignações, revoltas, repressões...
Em Túlipa (Edições Gallimard, 1946), Romain Gary escreveu que o mais aterrador na história do genocídio nazi, não foi Auschwitz mas "a aldeia vizinha" -onde, sob o fumo dos cadáveres, as pessoas continuavam tanquilamente a governar a sua vida. O problema é que agora vivemos todos na "aldeia vizinha".
Não podemos senão ir governando a nossa vida enquanto ao nosso lado (e o que é que agora não é ao nosso lado?) seres humanos sofrem, de forma escandalosa, inadmissível. Volens nolens (quer se queira, quer não), cantámos todos durante a ocupação alemã, dançámos ao lado do goulag, divertimo-nos durante a deportação dos escravos, fornicámos ao lado de Abou Ghraïb.
Nos nossos dias, cada qual escolhe aquilo que deseja saber, aquilo que suporta saber, ou aquilo que julga mais cómodo saber. As duas escolhas extremas são a santidade (está-se em permanente estado de indignação e de fúria, obstinado-se a tentar endireitar o que está torto e a melhorar o mundo, ouve-se a rádio enquanto se navega na Internet, ou com a televisão ligada) e o nihilismo (para quê fazer o que quer que seja? A humanidade é grotesca, o mundo é uma imensa pândega e o amor uma ilusão, destinada a impedir-nos de encarar a verdade atroz: vamos todos morrer). Estes dois extremos juntam-se aliás no absolutismo: num caso, a política é tudo; no outro, nada. O nosso cérebro parece ter uma inclinação para o tudo ou nada; adora usá-lo para tudo!
Quais são os problemas que devemos considerar que nos dizem respeito? Unicamente os que, de forma directa e evidente nos tocam? A nós ou aos que nos são próximos? Mas então que "proximidade" devemos valorizar? A nacionalidade, a classe social, o sexo masculino ou feminino, a cor da pele, a religião, a etnia...? Porquê então  houve tantas lágrimas nos lares franceses, aquando do resgate dos mineiros chilenos ou do terramoto no Haiti? Li um dia destes o testemunho de uma israelita que, como vive junto à fronteira libanesa, afirma pensar continuamente num drama ocorrido em 1976: "terroristas árabes" surgindo na noite escura, penetrando em casa de uma família judia e massacrando todos eles. Concentrar-se de forma tão absoluta nessa tragédia antiga evita-lhe aparentemente ter de pensar nas que aconteceram na região desde essa data, no Líbano, em Gaza ou alhures.
Nestes coisas, qual seria a boa distância, a mais conveniente, a mais cómoda? Noutros termos, como salvaguardar a nossa necessidade de felicidade, sem por outro lado cair na política da avestruz? Numa recente mesa-redonda, ouvi o dramaturgo Jean-Claude Grumberg avançar duas opiniões diferentes sobre este assunto. A primeira contra os nihilistas: "Todos temos necessidade de gostar de viver." A outra contra as avestruzes: "Ninguém tem o direito de pretender ignorar que o mundo é o que é." Embora concordando com ambas as opiniões, não consigo vislumbrar como conciliá-las. Ninguém consegue encarar toda a realidade sem pestanejar e, de tanto ser atingido pela realidade dos outros, esquece-se tudo o que se pode fazer para embelezar a nossa.
Num livro tão minúsculo quanto denso, editado em 1952, o autor sueco Stig Dagerman explica-nos porque é que "O nosso desejo de lenitivo" não pode ser inteiramente satisfeito. Gostei outrora do livro; agora acho-o orgulhoso e imaturo (palavras se calhar sinónimas). É o livro de um jovem que sofre absolutamente, desespera absolutamente e se proclama absolutamente só. Simplificando, o importante para ele é que tudo, na alma, tenha a intensidade do absoluto. Nada tenho contra o suicídio mas tenho a certeza de que se Dagerman não tivesse escolhido a morte aos 31 anos, a vida teria tido tempo de o surpreender. O acaso fez com que, pouco tempo após a releitura de Dagerman, descobrisse outro texto sobre lenitivos. Trata-se de uma notícia redigida pela escritora e cantora do Québec, Suzanne Jacob, para acompanhar a reedição do seu CD "Uma humana ambulante". Evocando as suas tournés nos anos 70, escreve: "Penso agora que cantei unicamente para consolar alguém inconsolável. Inconsolável de quê? De uma injustiça. Cada um de nós sofre de uma injustiça que lhe é própria e para a qual não há lenitivo possível."
O lenitivo ao qual aspirava Dagerman, como todos os crentes -o grande, o imenso, o definitivo, o absoluto, aquele que compensaria definitivamente a obrigação de morrer -não se consegue encontrar, tenho a certeza. Em contrapartida, existem mil pequenos lenitivos pontuais, que têm a vantagem de não ser nem tudo nem nada. Falamo-nos, ajudamo-nos a ultrapassar um luto, escrevemo-nos cartas, escutamos o riso sonoro de uma criança, convidamo-nos para um passeio, admiramos uma paisagem, dançamos um samba, partilhamos uma refeição, trocamos novidades... é a vida humana, colorida, múltipla, imprevisível, matizada, instável, impossível de resumir.
Para que a nossa empatia seja algo mais que uma pose social, parece-me que não deveria ser atributo unicamente dos que são parecidos connosco (porque nesse caso não temos qualquer mérito), nem da espécie humana no seu conjunto (porque então viramos santos ou nihilistas), mas algo entre os dois. Admitamos, por conseguinte, que somos obrigados a negociar e a procurar constantemente nesta matéria, porque afinal ninguém escreveu a peça da qual faz parte o papel que estamos a representar.
E desconfiemos sempre dos absolutos!"

Nancy Huston, Le Monde, 26/12/10
Escritora e Jornalista, Nancy Huston nasceu no Canadá e foi educada nos Estados-Unidos. Desde 1973 vive em França. Escreve tanto em inglês como em francês. Publicou "A espécie efabuladora", 2008; "A rainha Jocasta", 2009 e "Infravermelho", 2010.

domingo, 26 de dezembro de 2010

EDIFÍCIO DOS CUBOS NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS

Foto 1
Foto 2
Foto 3
Não é todos os dias que Tomar tem direito a página inteira, a cores, na imprensa de referência. Mas foi o que aconteceu hoje, no Diário de Notícias, na página Artes - Projectos: Os melhores de 2010 - Nacional (Foto 1). No texto que acompanha a fotografia, pode ler-se uma justificação assaz curiosa para a designação "Casa dos Cubos": "Aliás, a denominação do edifício deve-se às antigas medidas de capacidade -o alqueire e o almude- à época correntemente designados como cubos."
Dado que tal não corresponde à verdade histórica que está documentada, os senhores arquitectos já foram informados de que: A - Cubo é uma medida de capacidade para líquidos, grãos ou outros sólidos, equivalente a alqueire e meio, sendo o alqueire = a entre 13 e 22 litros, segundo as regiões; B - Almude é uma medida de capacidade para líquidos, geralmente metálica e de secção circular, equivalente a 20 litros na região de Tomar = 12 canadas ou 48 quartilhos; C - O nome do edifício provém dos antigos reservatórios em alvenaria, destruídos no primeiro quartel do século XX, dos quais restam apenas os disticos em pedra com a capacidade de cada cubo, guardados no museu lapidar do Claustro da Lavagem, no Convento de Cristo.
Quanto ao aspecto geral, convém referir a anterior e evidente harmonia da margem, contrastando com o paredão actual, que dá a tudo aquilo um ar de "bunker". Feliz foi a jornalista autora  da notícia ao escolher o título. Na verdade é exactamente  um problema de tensão que aflige os tomarenses de há alguns anos para cá. Sobretudo os autarcas da oposição, tanto no executivo como na Assembleia Municipal. Mais precisamente uma questão de falta de tensão, que o povo rural, no seu vernáculo corrente, apelida de "falta de tomates". Verdadeira ou caluniosa, tal afirmação é geralmente rematada com "Triste fado tomarense". Trocando a ordem das vogais ao dito, compreende-se onde pretendem chegar...
No fim de contas, os eleitores acabam por ter sempre razão, embora a maior parte das vezes já fora de tempo útil, uma vez que, segundo o conhecido provérbio, "O que já não tem remédio, remediado está!"

PATRIMÓNIO E QUIMERAS



Estes são os Pegões Altos, o sector mais vistoso do aqueduto de 6 quilómetros que fornecia água corrente ao Convento de Cristo. Mandado construir pelos Filipes, os reis espanhóis, ao arquitecto italiano Filippo Terzi, foi inaugurado em 1614. A sua construção resultou do facto de Filipe II, o herdeiro legítimo do trono, em virtude da morte de D. Sebastião, ter ficado horrorizado por não haver água corrente no Convento, aquando da sua aclamação como rei de Portugal, nas Cortes de Tomar de 1581.

Fala-se muito ultimamente num plano de pormenor para os terrenos limítrofes, coisa para mais de cem hectares, 1140 camas em aldeamento, 240 camas num hotel, campo de golfe de 18 buracos, e o mais que depois se verá. Tudo obra de privados. Oxalá avance e depressa, que assim à primeira vista não passa de mais uma quimera para ir mobilando a paupérrima cena política local e entretendo os eleitores. Como o célebre Parque Temático, o Hotel de Charme de 60 quartos, a Urbanização da Quinta da Granja, o Hotel no Largo do Pelourinho ou o Parque da Cidade. Pois se um outro projecto semelhante, ali para os lados de Vila Nova, na freguesia da Serra, há mais de 18 anos que anda pela Câmara, de serviço em serviço, a aguardar pareceres de entidades locais, regionais, nacionais e comunitárias...


Entretanto, o que nos vai valendo é termos uma população muito educada, muito consciente, muito respeitadora dos seus deveres cívicos, corajosa defensora do ambiente e, bem entendido, muito ciosa da limpeza dos locais classificados, como mostra a fotografia supra. Eram lá capazes de ir despejar lixo junto de um monumento nacional com perto de 400 anos!


E também são extremamente honestos. Nunca roubam nada que lhes pertença, salvo  material dos monumentos que são de todos, como estas lajes de cobertura, certamente por ignorância. O mesmo aconteceu aos 4 piramidões que ornavam os ângulos superiores da casa da água. Onde é que eles já estarão!


Entretanto, os senhores dirigentes do IGESPAR, embora proclamando que o Aqueduto faz parte do Convento, continuam muito descansados nos seus gabinetes do Palácio da Ajuda, enquanto o monumento se vai degradando. A fotografia mostra uma parte da cúpula da casa da água mais a nascente, já quase sem vestígios da pintura original, com infiltrações por todo o lado e o reboco que começa a cair. Um dia destes vai obedecer à lei da gravidade. Depois dirão, como é costume, que ninguém podia prever uma coisa assim.

Aspecto da parede nascente da mesma casa da água, vendo-se uma pequena parte da pintura que a ornava. Como isto já foi e ao que agora chegou! As outras casas da água estão no mesmo estado. A dos Brasões, mais ampla e imponente, até já tem árvores na cúpula, que aprentemente não incomodam ninguém. Nem o IGESPAR, cujos técnicos provavelmente nem sabem, porque nunca lá foram -que aquilo fica muito fora de mão e é de acesso difícil- nem a câmara, pelas mesmas razões. É mais fácil e mais útil para a campanha eleitoral ir arranjando e adjudicando obras faraónicas, mesmo sem grande utilidade, desde que, como diziam alguns construtores do século passado "volumudas". De milhões de euros, em linguagem actual. Está-se mesmo a ver porquê. Assim vamos longe, não haja dúvidas! Mas vamos andando, lá isso vamos!

sábado, 25 de dezembro de 2010

PLANEAMENTO E "DESENRASCANÇO"

Este é um dos mais vistosos e prestigiados palácios de Paris, na Praça da Concórdia, praticamente entre a embaixada americana e o palácio do Eliseu, sede da presidência da república. Em frente, do outro lado do Sena, o Palácio Bourbon, sede da Assembleia Nacional. Edificado no século XVIII, pelo arquitecto Gabriel, com a escadaria nobre de Soufflot (que até tem nome de rua em Paris), são cerca de 22 mil metros quadrados de superfície útil. Inicialmente usado como guarda-móveis, adereços e jóias, no reinado de Luis XV, foi poupado pela revolução, sendo actualmente a sede do ministério da marinha, que lhe empresta a designação francesa oficial -"Hôtel de la Marine".
Pois imaginem os leitores -sobretudo os defensores do património- que o Estado Francês, com cada vez mais dificuldades orçamentais para conseguir assegurar a conservação e restauro dos monumentos, resolveu entregar este emblema de Paris a um "operador privado", em regime de "enfiteuse", algo assim como um aluguer de longa duração, com um pagamento elevado à cabeça e sucessivas rendas mensais, cujos valores ainda estão por determinar.
No outrora guarda-móveis real estão previstos, no piso térreo, 7 ateliers, 30 lojas diversas  e uma piscina de 20 metros. Nos ateliers trabalharão artesãos cristaleiros, joalheiros, "plumasseiros", bordadores, tecelões, "boteiros" e entalhadores-marceneiros. Mais acima, nos andares, estão previstos 18 "apartamentos de mecenas" e 74 suites de luxo, categoria "palace". Por falar em mecenas, a empresa privada Bouygues (construção civil, obras públicas, telemóveis...e o primeiro canal da televisão francesa, que comprou ao estado), que em 2006 pagou 6,3 milhões de euros para o restauro de alguns salões e da fachada, já declarou aos jornais que teve muito prazer em ajudar a República mas que se soubesse que o palácio iria ser cedido a privados...
Porém, para os nossos leitores, o mais curioso será decerto que o ministério da marinha só abandonará o palácio no segundo semestre de...2014! É o planeamento senhores!
Em contraponto, por estas bandas nabantinas, eis as ruínas do ex-Convento de Santa Iria, destinadas a um "hotel de charme de 60 quartos e pelo menos 4 estrelas", pela módica quantia de milhão e meio de euros. Mas, segundo fontes bem informadas e mais recentes, afinal até poderá ser cedido gratuitamente, caso apareça alguém "com pulmões" para assegurar o empreendimento. E Corvêlo de Sousa, que foi dizendo e repetindo que já havia interessados, tem de admitir que, contas feitas,  o Grupo Pestana (um dos tais interessados, o outro era um conhecido duo de políticos locais, um dos quais já retirado das lides) concluiu que não era rentável e desandou sem mais delongas.
Se no vale as coisas não correm de feição, cá em cima também não. Devoluto há mais de 10 anos, o ex-hospital militar  continua fechado e sem serventia, apesar de já ter sido devolvido ao IGESPAR. Mais à direita, a fachada norte do Claustro da Hospedaria, o antigo hotel conventual, anterior à extinção da ordem, em 1834. Uma instalação hoteleira no Convento? Nem pensar, bradam alguns tomarenses. O que não surpreende. Já Cartaxo da Fonseca dizia que, estando dois tomarenses a discutir, o melhor é ir andando. Por isso estamos como estamos. Vamos andando!

MAIS "BURACOS" TOMARENSES...

Julgamos que ainda ninguém se tinha lembrado de semelhante coisa, mas está bem visto, sim senhor! Como esperteza saloia é difícil fazer melhor: A passagem para peões da Ponte Paiva, que dá acesso ao mercado, foi reparada com asfalto. É mais rápido e muito mais barato, não há dúvida! Mas então porque motivo lá puzeram a calçada? Se era para ficar tudo alcatroado e da mesma cor... não valia a pena ter tanto trabalho!


Se alguém está convencido de que aquela vergonha da Rotunda do Muro-Mijatório, com  o piso a abater  todos os dias, seguindo-se reparações de faz de conta, é apenas uma obra que correu mal, desengane-se. O piso abate em todas as obras pagas com fundos europeus, porque são feitas à pressa, com pouca ou nenhuma fiscalização, em todo o caso sempre confortada pela natural e conveniente simpatia dos empreiteiros. As três fotos supra, tiradas na esplanada do horrível paredão paivino, demonstram isso mesmo. E quanto mais tempo passar pior, visto que aquilo devia ter sido compactado capazmente. Devia! Mas dava muito trabalho e assim o dinheiro vei na mesma!
Como é do conhecimento geral, o governo grego levou um valente puxão de orelhas da União  Europeia, quando se descobriu em Bruxelas que os malandros tinham maquilhado as contas, para tudo bater certo. Infelizmente para os tomarenses, tudo indica que os nossos dignos e honrados autarcas fazem mais ou menos o mesmo. Se apresentar um orçamento com 68 milhões de receitas previstas, quando todos sabem que não vão conseguir nem metade, não é contabilidade criativa, maquilhagem portanto,  então é o quê?
Na mesma senda, meter-se a fazer obras numa Mata Nacional que, como a própria designação indica, nem sequer lhes pertence nem administram; candidatar o projecto como se a pobre e recente casa do guarda alguma vez tivesse feito parte da envolvente ao Convento de Cristo; se não é uma vigarice para sacar fundos europeus, então é o quê?
Fortemente fustigada pelo recente tornado, a Mata dos Sete Montes continua na mesma, 15 dias após a tempestade. Há centenas de árvores derrubadas, muitas a impedir o normal trânsito de peões. Compreende-se, portanto, que a velha Cerca do Convento esteja fechada ao público, conforme indica o aviso. Só não se aceita é que a máquina administrativa necessite de semanas e meses para resolver questões simples como esta.
Em todo o caso, o aviso deu-nos uma ideia: A exemplo da Mata, não seria possível encerrar a câmara ao público, por razões de poupança, durante alguns meses ou alguns anos? Só o que se poupava em energia e outros consumíveis dava para pôr todos os invisuais do país a tocar acordeão... E os cidadãos ficavam com a vida muito mais facilitada!
Em matéria de maquilhagem, o pessoal a mando do IGESPAR ainda sabe mais do que os nossos autarcas. O que não admira, pois trabalham em Lisboa e, como se sabe, o resto é só paisagem. Neste painel, que é obrigatório nos termos das directivas europeias, devia figurar informação suficiente para que qualquer cidadão fique a saber o que se vai fazer. Realmente devia. Mas não fica. Apenas consta que vão ser gastos quase 13 milhões de euros = 2,6 milhões de contos, entre 2009 e 2011, no Convento, na Batalha e em Alcobaça. Para fazer o quê? como? para quê? por quem? porquê? quando? onde? Mistério.... Mal empregados milhões!
Entretanto, a dois passos dali, no caminho pedonal entre a saída do monumento e o parque de estacionamento da Cerrada dos Cães, a escada artesanal está neste estado. Para tropeçar, torcer um pé ou partir uma perna, ainda ninguém conseguiu inventar melhor. Se fosse obra para pelo menos umas centenas de milhares de euros, já estaria decerto reparada. Assim, como só custaria uma verdadeira ninharia, vão lá tropeçando, caindo, torcendo pés ou partido pernas, que o IGESPAR e a autarquia têm mais que fazer.
Que rico país o nosso! Ainda o que nos vai valendo é o clima. Mas se isto um dia chega a aquecer, há por aí cada vez mais gente que se vai queimar. Ai vai vai! Oxalá que não! Haja paz!

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

OUTRAS FOTOS DO TORNADO...E UMA INSÓLITA

O recente tornado provocou infelizmente estragos dolorosos e avultados, mas também tornou possível este panorama da cidade antiga e do castelo, que antes era impossível, por causa das copas das árvores.
Com a escadaria neste estado, é quase certo que a Comissão da Capela não terá meios para custear a reconstrução. Caberá à autarquia apelar aos mecenas privados (mas quais?), ou ao governo, que verdade seja...
Ao cimo da escadaria, o aspecto é este, uma vez cortadas e retiradas as árvores que a intempérie derrubou.
A escada de acesso ao adro da capela ficou neste estado.
Este aspecto do terreno situado a poente das escadinhas mostra bem a força do tornado.
De regresso das escadinhas, algo de insólito, que constitui uma agradável surpresa. No jardim da Várzea Pequena, uma palmeira torta, tipo Torre de Pisa. Coisa realmente rara, a demonstrar que em Tomar anda mesmo tudo torto. E ninguém sabe ainda se algum dia voltará a endireitar-se....

MANIFESTO DE NATAL E ANO NOVO


Conquanto muitos leitores insistam em não acreditar, Tomar a dianteira nasceu e existe sobretudo para  vir a constituir no futuro uma memória do tempo que passa e daquilo que arrasta. Não é, portanto, nem local de propaganda, nem plataforma ideológica, nem alavanca para qualquer candidatura, embora possa quem o lê considerar o que entender, uma vez que "a interpretação é livre, mas os factos são sagrados".
Nesta época de Natal e Ano Novo, poderia contentar-me com os clássicos e corriqueiros votos de Boas Festas. Ficaria bem na fotografia, praticamente sem esforço. Poderia igualmente, num gesto algo vingativo, videirinho e por isso muito tomarense, desejar às leitoras e aos leitores -sobretudo aos que se esfalfam, procurando ajavardar a saudável troca de pontos de vista através dos comentários- que o futuro lhes dê a dobrar tudo aquilo que decerto almejaram e desejam para mim. Não o farei, porém, que Tomar e o concelho precisam é de tolerância, concórdia, vontade de trabalhar e entreajuda. Assim, permitam-me que, para os crentes, apele a Deus, nas suas múltiplas designações; ao futuro e à providência, para os não crentes, no sentido de facultar a todos entendimento e tolerância para compreender e aceitar que: 1-O regabofe, o saque orçamental, o dolce fare niente, os subsídios para iniciativas de má qualidade, as mordomias injustificadas, os direitos adquiridos (salvo os fundamentais, garantidos constitucionalmente) e as obras ornamentais, sobretudo para eleitor ver,  têm de acabar quanto antes; 2-Somos todos inteligentes mas há alguns, infelizmente poucos, que são mais inteligentes do que os outros; 3- Devem prioritariamente ser escolhidos para submeter ao voto do eleitorado os mais capazes, não os mais bonitos, os mais simpáticos, os mais conhecidos, os de melhores famílias, os mais novos, ou os mais velhos; 4-Para haver riqueza a distribuir, primeiro é necessário produzi-la, caso contrário estaremos a roubá-la aos nossos semelhantes; 5-No futuro teremos de trabalhar mais, poupar mais, gerir melhor e consumir menos; 6-A salvação de Tomar será feita pelos tomarenses, ou nunca acontecerá e chegaremos um dia a ter uma "cidade morta"; 7-Tal como Kennedy nos anos 60, "não pergunte o que Tomar pode fazer por si; tente antes saber o que  pode fazer por Tomar e pelos Tomarenses"; 8-Não basta proclamar grandes princípios ou anunciar grandes obras; é indispensável agir e edificar em consonância com aquilo que se diz; 9-Não há, nem nunca haverá, projectos milagrosos "chave na mão", prontos a usar; todos exigem tempo, trabalho, meios e capacidades; 9-É natural que cada um procure, antes de mais, defender os seus interesses, mas é condenável continuar a sacrificar uma comunidade inteira só para manter vantagens pessoais; 10-Apelo bem do fundo do coração a todos os meus conterrâneos, pelo nascimento ou por opção consciente, para que abandonem  com urgência a sua tradicional atitude, semelhante à daquele desgraçado que morreu de sede, sentado ao lado de uma fonte, só para não ter a maçada de se levantar e ir beber à bica. 
ÁMEN!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

OBRAS DA ROTUNDA DO MURO-MIJATÓRIO - CONTINUAÇÃO...

Uma vez que se trata infelizmente de assentamentos, assentem lá aí, SFF. Louve-se, antes mais, a pronta acção da autarquia, que resultou em mais uma reparação só para tomarense ver. Ainda o esfalto não arrefeceu totalmente (ainda deitava fumo quando se tirou a fotografia) e já abateu novamente. Dificilmente aguentará até amanhã.

Na faixa mais próxima da Casa dos Cubos, que também já foi reparada hoje, o buraco já é maior que ontem. Bastou passar um camião carregado para demonstrar que aquele malandro do Lavoisier, vejam lá, já há mais de dois séculos que tem razão: " As mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos". Na circunstância, como o piso nunca foi devidamente compactado, tanto faz pôr mais asfalto como não. Cada camião pesado, cada buraco.


E já agora que, por assim dizer, "estamos com as mãos na massa", se pudessem dar um saltito à parte de cima da Rua Aurora Macedo, os moradores agradeciam. Verdade, verdadinha, neste caso a autarquia não tem culpa. Não se trata de qualquer obra financiada por fundos europeus. Apenas de um velho esgoto com quase 500 anos, que começa a dar sinais de que precisa de urgente substituição. Enquanto isso não acontece... Mas não se limitem a encher com "tout venant", que no dia seguinte estará na mesma, como já aconteceu o ano passado, se bem se recordam.