quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

LE MONDE - EDITORIAL

PARTIDO COMUNISTA FRANCÊS - UM NONAGENÁRIO SEM FUTURO

Na noite de 29 para 30 de Dezembro de 1920, nascia o Partido Comunista Francês. Ao cabo de muitos e acalorados debates, o voto decisivo do Congresso de Tours foi sem apelo nem agravo: 3.208 delegados aprovaram a adesão à Internacional Comunista, criada por Lénine, em Moscovo, um ano antes; 1022 outros delegados preferiram, com Léon Blum, manter a "velha casa" socialista.
Embora mereça o respeito devido a qualquer nonagenário, manda a verdade dizer que o PCF já conheceu aniversários mais gloriosos. E não podia ser de outra maneira. Após ter dominado a esquerda francesa durante quase meio século, entre os anos 30 e 1970; após ter constituído um pólo maior da vida política nacional, o PCF definha inexoravelmente desde então. Como reconhecia abertamente L'Humanité (jornal do partido), anunciando os dois dias de comemorações discretas, organizadas a 11 e 12 de Dezembro: "o Partido Comunista Francês já desde há muito que deixou de pretender incarnar uma vanguarda  autoproclamada do movimento operário".
O oposto é que seria surpreendente. Primeiro partido de França logo após a guerra (28,6% de votos nas eleições de Novembro de 1946), continuou a merecer a confiança de um em cada cinco eleitores, nos anos 70, mas vem sofrendo desde então uma longa e constante derrocada eleitoral. Que bateu no fundo na eleição presidencial de 2007: Marie-George Buffet, então secretária-geral, apenas conseguiu 700 mil votos, 1,9% dos entrados nas urnas, muito abaixo do candidato trotskista, Olivier Besancenot.
Nestes últimos trinta anos, o PCF perdeu também três quartos dos seus aderentes (oficialmente 100 mil, dos quais 60 mil com a cotização em dia) e a maior parte dos seus deputados (apenas 17 eleitos em 2007).
Incapaz de assimilar as transformações profundas da sociedade francesa, o partido tem cada vez menos base social de apoio e até perdeu ligações essenciais, que durante muito tempo o tornaram forte. O "partido da classe operária" deixou de o ser: só 4% dos operários apoiaram a senhora Buffet em 2007. Até a central sindical CGT, antiga "correia de transmissão" sindical, se vem afastando desde há dez anos Quanto às cidades e aos "arrabaldes vermelhos" do comunismo municipal, restam apenas sobreviventes. O PCF dirige agora apenas 28 cidades de mais de 30 mil habitantes, contra 72 em 1980.
Enfim, privado de modelo de referência desde o desaparecimento da União Soviética, no início dos anos 90, o partido carece igualmente de estratégia. As evidentes hesitações à medida que se aproximam as presidenciais de 2012 são disso a prova. Ou se limita a ser uma força de apoio ao Partido Socialista, na esperança de assim poder salvar pelo menos os seus últimos bastiões. Ou aceita a OPA que Jean-Luc Mélenchon pretende lançar  sobre as suas últimas forças, o que corresponde a entregar o seu destino às mãos de um tribuno vindo do PS.
Em qualquer das hipóteses, não se vê muito bem de que modo o PCF poderá ser capaz de "aceitar o repto de um novo século de emancipação", como propunha recentemente o novo secretário-geral, Pierre Laurent. Alternativa sombria. Para não dizer impasse total."

Le Monde, Editorial, 1ª página, 28/12/10
Tradução de António Rebelo 

1 comentário:

Anónimo disse...

Análise muito superficial e redutora de um tema que devia ser abordado com seriedade e profundidade.

A evolução do PCF - do nascimento ao ocaso - é matéria a merecer a análise factual e histórica dos estudiosos do fenómeno político.

Talvez encontremos muitas explicações e respostas para os impasses e bloqueios políticos das esquerdas em Portugal,na Europa e no Mundo.

O "Le Monde" não devia publicar um editorial tão pobre...digo eu.